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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH


CURSO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: MODERNA II

PROF: Renato de Ulhôa Canto Reis


ALUNO: Antônio Charles Andrade da Silva

Pensando o surgimento do capitalismo

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e


suas causas [1776]. In: Coleção Os Economistas, Livro I, Cap. I e Cap. II.
p. 65-76 e Cap. VIII. 117-135

Adam Smith é considerado precursor do liberalismo econômico especialmente


no contexto que predominava o mercantilismo, diante disso e partir da leitura e
discussões foi possível compreender como o capitalismo vai se firmando como sistema
econômico reinante em detrimento do mercantilismo. O livro foi publicado em 1776 e
irá influenciar muitos filósofos posteriormente, em especial Karl Marx que será
analisado também. O primeiro capítulo titulado de “A divisão do trabalho”, pelo título
já é possível notar qual será a reflexão, Smith defende a importância da divisão do
trabalho seja em pequenas manufaturas quanto em grandes, para elucidar essa ideia ele
expõe o exemplo de uma pequena indústria de alfinetes, o autor compara um operário
da pequena indústria sem treinamento e nem maquinário fabricará, por exemplo, vinte
alfinetes em um único dia de trabalho, fazendo uso de seu máximo empenho. Já com a
divisão por setores, cada operário executa apenas parte do processo, podendo assim, se
especializar nele, aumentar a velocidade da produção e também a quantidade produzida.
O autor defende no segundo e terceiro capitulo a importância de ter comércio
aberto com outros países para que possa ser feita a troca de produtos e serviços,
permitindo a extensão do mercado. Smith explica que a origem do dinheiro é fruto da
troca de produtos e o preço de uma mercadoria é definido pela quantidade de trabalho
necessário para produzi-lo. Ainda discute sobre os salários vindos do trabalho é um
valor mínimo – lembre-se do salário mínimo, que um trabalhador dever receber por seus
serviços, detalhe esse valor tem que ser o suficiente para manter o trabalhador “vivo”.
Adam ainda defende que os trabalhadores assalariados são mais lucrativos do que um
escravo e que possam desfrutar do descanso aos finais de semanas para que trabalhar
melhor. Entre muitas outras questões que foram apontadas nessa obra, nos interessa
apreender que Adam Smith nos evidencia a trilha do capitalismo desde suas defensas
por divisão de trabalho a fim de aumentar a produtividade, perpassando por questões
que passam a ser pilares do capitalismo e do liberalismo que são o trabalho, dinheiro e
livre mercado. O capitalismo aqui é nos apresentado como uma forma superável dos
antigos modos de produção escravista e feudal.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política [1867]. São Paulo:


Boi Tempo, 2011. Livro I, Cap. 24 (A assim chamada acumulação
primitiva de capital), p. 959-1014.
Seguindo nossa discussão sobre a origem do capitalismo, iremos nos debruçar
uma obra clássica das ciências humanas, O capital de Karl Marx, publicado em 1867,
portanto posterior ao livro de Adam Smith, na qual criticará sua obra. Na minha
perspectiva esse livro nos ajuda a compreender melhor a gênese do capitalismo do que a
obra de Smith, haja vista que capítulo apresenta o nascimento do capitalismo com seus
fundamentos primários que lhe sustentam até dias atuais como produção hegemônico,
Marx apresenta que “a estrutura econômica da sociedade capitalista nasceu da estrutura
da sociedade feudal. A decomposição desta liberou elementos para a formação daquela”
(MARX, 2011, p. 828). Outrora os servos ou vassalos eram explorados pelo rei, no
capitalismo o homem passou a ser explorado pela elite burguesa.
O autor defende a ideia de acumulação primitiva, na minha compreensão
consiste no processo histórico de separação entre produtor/trabalhadores e a propriedade
dos meios de produção pelos quais realizam o trabalho. Transformando em capital
(lucro) os meios de subsistência e os de produção e convergindo em assalariado os
trabalhadores, outrora detentores do oficio. É considerada primitiva porque constitui a
pré-história do capital e do modo de produção capitalista. Marx critica a ideia de
acumulação idílica, caracterizada por uma elite que acumula riquezas e emprega,
enquanto os trabalhadores são explorados e que nada ficam a não ser com sua força de
trabalho. Para ele essa ideia não existe, pois há alguma acumulação primitiva é fruto do
processo histórico e social extremamente complexo e violento, como saque da
colonização na América e África, escravidão, ou seja, os métodos de acumulação
primitiva podem ser qualquer coisa, menos idílicos, portanto, afetuoso, mas sim
violento e marcado pela expropriação.
A partir dessa obra podemos compreender o processo de formação do sistema
capitalista e apreender que o capitalismo é fruto da violência como parteira da História,
portanto marcado com as mãos cheia de sangue, sofrimento, lágrimas, saque de muitos
homens, mulheres, latinos, africanos e dentre outros povos. É importante dizer que o
capitalismo sempre precisou e precisa de uma grande massa externa para colonizar,
explorar e expropriar, logo, verificamos até hoje maciça massa de trabalhadores que
precisam vender sua força de trabalho para sobreviver, colocando os trabalhadores em
condições precárias de trabalho e sem garantias de direitos fundamentais, como
podemos citar por exemplo os trabalhadores por aplicativos que constitui o que
chamamos de Uberização.

POLANYI, Karl. O moinho satânico. In: POLANYI, Karl. A grande


transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
Segunda Parte, p. 51-98.

O terceiro texto dessa série de leitura e discussões é aquele que irá nos
apresentar uma perspectiva sobre a crueldade intrínseca do Capitalismo. Polanyi titula o
capítulo analisado de “O moinho satânico”, essa referência ao moinho que aqui é
interpretado como mecanismo de moer, triturar, desestruturar a pessoa humana, atrelado
ao satânico, diabólico e desumano, juntos o moinho satânico configura o processo na
qual o capitalismo perpetra nas vidas das pessoas comuns transformando-os em massa.

Polanyi analisa as transformações sociais, políticas e econômicas na Inglaterra


do séc. XVIII, berço da Revolução Industrial, e posteriormente expandiu-se para o
mundo e que impacta a vida das pessoas até dias atuais. Ou seja, o autor irá defender
que a Revolução Industrial foi a responsável pela formação desse moinho satânico.
Posto que a sociedade feudal, os camponeses compravam e vendiam o produto da terra
– lembre-se da ideia de Marx de acumulação primitiva da retirada dos meios de
produção dos trabalhadores, com a Revolução Industrial verifica-se a inserção do
maquinário que aumenta produtividade, mas para sua existência necessita de matéria-
prima e mão-de-obra sempre disponível, assim os donos das maquinas passa a comprar
a matéria prima e o trabalho necessários a fim de manter a produção, diante disso o
capitalismo se consolida nessa premissa de busca por lucro em detrimento da
subsistência. Polanyi corrobora com a ideia de Adam Smith de que o lucro é fruto da
troca de produtos e que esse processo constitui no que ele chama de economia com
mercado e a economia de mercado, oriundo desse moinho satânico.

Compreenda economia com mercado, como sistema regulado, lugar de trocas e


economia de mercado, como sistema autorregulado, seguindo a lógica/preços do
mercado. O entendimento disso leva-nos a refletir sobre o surgimento do capitalismo, na
medida que o autor defende que estabelecimento do capitalismo não ocorreu de forma
espontânea, mas com interferência do Estado, posto isso, a economia com mercado já
existia e estava subordinado a sistema que o regulava, mas depois verificamos a
transformação cruel em uma economia de mercado, dessa forma, o funcionamento do
mercado estava subordinado a auto-regulação, exigindo que todos sigam a lógica do
mercado. Portanto, toda a produção deve estar voltada para a venda no mercado,
inclusive e especialmente o trabalho, a terra e o dinheiro devem ter um preço no
mercado sendo seus preços chamados, respectivamente, salários, aluguel e juros.

ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. São Paulo:


Brasiliense, 2004. p. 15-57.
O último livro foi publicado em 1974 e propõe um estudo sobre a formação dos
Estados Absolutista. Perry Anderson irá discordar da visão de Marx, Engels e outros
pensadores e defenderá que o surgimento do Estado Absolutista é resultado da crise do
feudalismo. Trilhando a passagens da Antiguidade ao Feudalismo, para chegar o estudo
principal, transição do feudalismo para um Estado burguês. Para explicar que a
formação do Estado Absolutista, ele analisa as obras de Marx e concluir que o mesmo
considerava o Estado absolutista como um equilíbrio entre a burguesa e nobreza, ora um
Estado burguês, ora um Estado “bonapartista”, posto que acreditava que a nobreza
estava em decadência e a burguesia em ascensão, com influências e privilégios.
Contudo, Perry Anderson observa a formação do Estado Absolutista como uma reação
da nobreza frente ao medo da perda de controle dos povos, camponeses, principalmente
após o desaparecimento da servidão. Para ele a burguesia por sua vez não desfrutava de
todos esses privilégios e que a nobreza sim ainda detinha de forte influência. Sua
ascensão é fruto da gradual penetração burguês no aparelho do Estado, na medida que
comprava cargos, títulos, financiando o exército, lembrando que o exército nesse
contexto não era ainda nacional, mas formado por mercenários que era tido com uma
profissão, diferentemente de hoje, lutar pelo seu país passou-se uma obrigação. Nessa
lógica, o fim do poder repartido, ou seja, diversos setores da sociedade como o Estado,
nobreza, igreja tinham poderes, com a constituição do poder centralizado configura
como Estado Absolutista, na qual o Estado burguês consegue se infiltrar no Estado e
inserir a lógica do capitalismo, de compra e venda e assim passou a dar continuidade ao
poder Aristocrático. Essa lógica fica mais evidente quando o autor analisa os exércitos,
sistema fiscal e burocrático, impostos nacionais, comércio e diplomacia caracterizando a
gênese do capitalismo, por exemplo quando os camponeses e burgueses pagavam
imposto ao senhor feudal e para o Estado, mostrando-nos a sustentação do Estado
burguês com base na exploração do povo.

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