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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ

CAMPUS CLÓVIS MOURA

NOME: AMANDA IAMARA DE SOUSA DA SILVA

GEOGRAFIA BLOCO – II PROFESSOR: JOÃO PAULO CENTELHAS

DISCIPLINA: ECONOMIA APLICADA A GEOGRAFIA

RESENHA

BRAUDEL, Fernand. A Dinâmica do Capitalismo. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

Escrito no ano de 1987 por Fernand Braudel, A Dinâmica do Capitalismo, é uma


obra que trata para além do viés eurocêntrico, o capitalismo ocidental, não somente
em sua essência e transformações de forma imediata, mas também desde suas
origens, na vida primitiva dos homens abordando também a sua ascensão e
declínios em diferentes épocas e comparando o seu exercício em diferentes
sociedades.

Para atingir seu objetivo, o autor irá dispor para além de conceitos puramente
econômicos, se estruturando na formação das sociedades bem como seus histórico
econômico e social como também, as suas relações com outras sociedades.

A obra analisada é composta por 94 páginas. Estas divididas em três capítulos,


sendo estes, subdividos em tópicos para uma melhor assimilação do conteúdo.

Ao começar pelo primeiro capitulo, de título: Repensando a vida material, o autor


começará abordando a história da vida econômica para antes adentrar, de fato, ao
modo de vida, e também a construção do sistema capitalista, pois segundo Braudel,
“estamos em águas muito antigas, no meio de uma história que de algum modo, não
teria idade”. Esta história contínua, que não existe em si mesma.
Para isso, o autor irá referir-se a chamada vida material. Esta, sendo a vida
cotidiana, rotineira dos homens. A princípio tão enfadonha, porém tão essencial à
vida humana, pois é através dela que os seres humanos, através de suas praticas
sociais, irá satisfazer as suas necessidades primárias tal como alimentação, bebida,
vestimentas, etc. O autor nos guiará através de exemplos didáticos ao o exercício da
vida material nas vivências, na rotina e nos hábitos dos homens, onde residirá a
maior ferramenta de sobrevivência humana: a capacidade inventiva e também de
aperfeiçoamento de técnicas.

Para nos convencer a importância disto, em seguida é nos demonstrada o exemplo


do primeiro capitulo de outra obra – primeira do autor - onde a principal problemática
,e também o titulo, é a respeito do Número de Homens. Este, segundo o autor que é
direcionado naturalmente para o equilíbrio, uma espécie de determinismo, porém
este dificilmente atingido por conta de longas penúrias a exemplo de doenças e
guerras que, agravadas por conta de outros fatores intrinsecamente ligados a este,
como também outros que atingiram e ainda atinge a raça humana ao longo de sua
trajetória.

No entanto, é durante esses embates que a raça humana evolui. É nestes


embates onde a raça humana, mesmo tão frágil, através do aperfeiçoamento de
suas técnicas os cenários que ira mudar o transcorrer do fluxo de sua história.
Diante disso, autor começa partindo, como dito anteriormente, partindo do exemplo
da vida material para começar a abordar a vida econômica, Braudel nos reforça
através da afirmativa:

Constatações análogas impõem-se a respeito das técnicas. História


maravilhosa, na verdade, que acompanha de perto o trabalho dos homens e
seus progressos muito lentos na luta cotidiana contra o meio exterior e
contra eles próprios. Tudo e técnica desde sempre, o esforço violento, mas
também o esforço paciente e monótono dos homens, modelando uma
pedra, um pedaço de madeira ou de ferro, para fazer disso uma ferramenta
ou uma arma. (BRAUDEL, 1987, p.18).

Diante disso, o autor nos guiará ao raciocínio mediante a disponibilidade de


técnicas, pois os humanos como seres sociais, dispostos e grupos, e a esse dado
grupo, um determinado território. Evidentemente neste território, as técnicas desses
grupos dificilmente se assemelhem as técnicas de um terceiro grupo.
Partindo desse pressuposto, o autor nos conduz a perceber que, é pelo domínio de
determinadas técnicas que irá se traçar um poder efetivo, levando a crer que quem
tem o domínio de técnicas distintas será, de certa forma, o “dominante”. ao
mencionar que “as grandes concentrações econômicas pedem as concentrações de
meios técnicos e o desenvolvimento da tecnologia”. Nos leva a perceber também
que esse dado exemplo da vida material se assemelha em muito ao modo capitalista
que “soma de artifícios, de hábitos e performances”.

Logo após, nos é introduzido os termos: economia de troca que é situada entre a
produção e o consumo direcionada principalmente ao autoconsumo geralmente para
sanar as necessidades primárias, e, a economia de mercado que liga as cidades, os
burgos, e que também já começa a organizar o consumo das pessoas através do
que é posto no mercado, definição de valores de uso e de mercado.

A princípio imperfeitas, assim como, os primórdios das técnicas humanas, fora


necessário tempo e prática para estas se consolidarem na história econômica e se
incorporassem a vida humana.

Para que a “vida econômica” ou, a “vida de troca” desse lugar a “vida material” e
se desenvolvesse ao patamar que se tornara nos dias atuais, onde , para o seu
desenvolvimento foram indispensáveis desde o camponês que passa a
comercializar ele próprio em troca de moedas, o pequeno feirante, os mascates que
percorrem o interior oferecendo produtos tão necessários porem do mesmo modo
de difícil acesso a determinadas regiões na como “agentes elementares da troca”,
como também os “agentes elementares de mercado” compostos pelos lojistas,
mercadores, os negociantes que por sua vez desempenham um papel superior por
vender em grande quantidade e oferecer variedades de venda e credito.

Ao expor seu raciocínio, o autor nos leva a reconhecer a evolução do ocidente no


transcurso dos séculos, desde a época dos apogeus em beneficio das grandes e
principais cidades em diferentes épocas, com diferentes locais e alternâncias de
poder em relação às cidades que passariam a ser do interior com esses
movimentos.

A exemplo é citada a dominação dos Genoveses, a ampliação da economia devido


a descoberta das Américas através da navegação do Atlântico principalmente por
conta da descoberta de metais preciosos, o declínio de feiras famosas por seus
produtos passarem a não ser os mais cobiçados pelo alto capital, ou se limitarem a
apenas produtos primários, bolsas de Amsterdã e Londres, Paris, o papel do crédito
e assim ,começando a se desenhar o sistema capitalista assim como o é conhecido.

Para isso também é apresentado ao decorrer do texto a situação das chamadas


pelo autor, “sociedades esboçadas” como a África Negra, ou as Américas e,
também,as sociedades Orientais como a Ásia , Islãs, Indianas que possuíam os
mecanismos e os instrumentos do estagio superior da troca , como também,
sociedades onde por conta de seu sistema muito fechado, a ideia do que viria a ser
chamado capitalismo, como China por conta do seu controle estatal que muito
limitava. Isso tudo para desconstruir o eurocentrismo.

Assim, fica ao decorrer da leitura exposto as condições para que a economia de


mercado se sobrepusesse a economia de troca e passasse aos posteriores estágios
superiores em seus mais diversos graus, podendo se destacar o papel de
hierarquias de poder onde quem possuía o domínio de técnicas para aprimorar suas
trocas, creditos e rentabilidades, dominava o comercio de modo eficiente, desse
modo construindo ao longo destas transformações e movimentos o sistema
econômico capitalista. A troca e a economia de mercado sendo assim vitais para o
sistema capitalista.

No segundo capitulo intitulado: Os Jogos da Troca, o autor aborda a economia de


mercado sendo como o papel de ligação entre a produção e o consumo, a primeira
vista um elemento inofensivo, porém que toma conta da vida cotidiana através do
movimento de preços do mercado, bem como, o seu controle e o controle de certa
forma da vida material dos indivíduos que dificilmente percebem isto.

Porém o que se vê, é um verdadeiro sistema mundial onde as economias se


apoiam umas sobres as outras, mesmos que estas fossem os centros ou as
periferias comerciais que movimentavam o mundo inteiro na Europa, China (através
de comerciantes viajantes Turcos), América através da exploração de seus metais
preciosos, todos fazendo parte da economia de mercado.

Partindo desse pressuposto, no entanto, o autor nos mostra que este mesmo
modelo econômico tem seus movimentos norteados não apenas pelo seu equilíbrio
natural, ou Deus benevolente ao citar Adam Smith, mas também as práticas dos
controladores desta economia, os que estão à frente a seus passos como a pratica
monopolista ou falseando preços.

Daí se passa a utilizar efetivamente a palavra capitalismo para a explicação destas


praticas, ao passo que o capitalismo com seus atores principais – o capital e o
capitalista – passam a fazer parte, também de modo efetivo, a fazer parte do
panorama praticado. Estes se devendo principalmente ao aperfeiçoamento das
técnicas comerciais, bem como as novidades trazidas da forma de credito e
pagamento ao longo do tempo decorrente de exploração e dominação de algumas
economias sobre sociedades primitivas ou sociedades interioranas.

Para ficar mais claro, o autor define duas formas de economias de mercado sendo
como (A) economias locais, de distâncias não muito longínquas, praticam
econômicas feitas de modo popular, por pequenos produtores que praticam o
comercio de forma transparente.

E a outra forma como sendo (B), dos intermediários atravessadores, de contato


distante com o consumidor, geralmente cobrando lucro acima de lucro (o que não
anula o fato de que em (A) não exista esse modo de mercado, porem este sendo
mais difícil).

Assim entrando em cenário, as trocas desiguais, o comercio a distancia, e a


maximização do lucro de forma geral, havendo assim uma própria distinção para
além da massa de consumo, mas também da massa de comerciantes, pois nem
todos que praticam A podem praticar B, e, quem pratica B, não a trocaria por A. A
suposição é constatada no decorrer da obra pelo próprio autor onde menciona que

Não é por acaso que, em todos os países do mundo, um grupo de grandes


negociantes se destaca nitidamente da massa dos comerciantes, e que
esse grupo e, por uma parte, muito reduzido e, por outra, está sempre
ligado – entre outras atividades – ao comércio à distância. (BRAUDEL,
1987, p. 49)

Também é visto que esta prática se confirma em outros domínios para alem do
Ocidente, pois à medida que vai se expandindo, se configura uma espécie de
divisão internacional do trabalho que também é originado por conta da pratica
mencionada originando também uma hierarquia de capitalistas, de ofícios, de
consumidores e territórios, o que acaba por subtender-se de que o capitalismo seja
movido pelas economias, ofícios, consumidores e territórios que lhe são
subservientes favorecidos mediante as hierarquias que o mesmo cria, em detrimento
da maximização do lucro.

Diante a afirmação anterior e também no decorrer das paginas, o autor discorre a


respeito do capitalismo e a sua presença na sociedade que é determinado pelos
praticas e ligações conjuntas que podem favorecê-lo ou prejudicá-lo conforme as
práticas dos dominantes das sociedades, o que faz denotar que para uma sociedade
ser essencialmente ter o capitalismo desenvolvido em si com sucesso, necessita
que o capitalismo se harmonize em si, como defendido na obra que

Assim, o Estado moderno, que não fez o capitalismo, mas o herdou, ora o
favorece, ora o desfavorece; ora o deixa estender-se, ora lhe quebra as
molas. O capitalismo só triunfa quando se identifica com o Estado, quando
ele e o Estado. Em sua primeira grande fase, nas cidades-estados da Itália,
em Veneza, em Gênova, em Florença, e a elite do dinheiro quem detém o
poder. Na Holanda, no século XVII, a aristocracia dos Regentes governa no
interesse e inclusive de acordo com as diretrizes traçadas pelos homens de
negócios, negociantes e administradores de fundos. (...) Assim, o Estado e
favorável ou hostil ao mundo do dinheiro segundo o seu próprio equilíbrio e
a sua própria força de resistência. (BRAUDEL, 1987, p.55)

Diante disso, também se discorrerá a respeito do capitalismo em seus vários


núcleos de poder correlacionando-os com hierarquias sendo estas permitidas pelas
sociedades(dominantes, mais alta posição social que decide) a exemplo de Florença
no final do século XIV e também de sociedades onde o capitalismo não se
desenvolveu por conta das sociedades não admitirem as hierarquias necessárias
para o desenvolvimento do capitalismo a exemplo da China.

Isso também ira evidenciar o fato de que o sucesso de indivíduos capitalistas em


hierarquias que por consequente irá criar uma “espinha dorsal” com uma rede de
privilégios que passa desses indivíduos a suas famílias e essas famílias se
perpetuando ao passo de que estas e suas relações de poder se mantém as
mesmas durante os anos vigorando uma espécie de parasitismo que se perpetuará
ao longo dos séculos, independente dos territórios essas observações se tornará
válida, pois sempre haverá a massa dominante(que explora e detém o capital), e a
massa explorada, esta, quase sempre a mercê dos mandos e desmandos dos
dominantes, onde a exemplo, o autor irá citar territórios ocidentais e orientais onde
essa ligação se fez presente ou não.
No terceiro capítulo,intitulado: O Tempo do Mundo, fará uma recapitulação dos
assuntos abordados anteriormente correlacionando aos tempos recentes( da época
em que a obra fora escrita), descrevendo o fato de sociedades em que já
consolidaram o capitalismo e sociedades que tentam implanta-lo em si,
mencionando a respeito da primeira Revolução Industrial, em que o senso-comum
crê sendo como um evento único em que uma técnica fora aperfeiçoada a exemplo
das invenções das industrias têxteis.

Por conta disso, durante o decorrer do capitulo será colocado que esta visão é
empobrecedora e fadada ao fracasso. Que as sociedades em que se permeiam o
modelo capitalista de sucesso, fora produtos de uma longa trajetória desde políticas
internas como externas, que privilegiam a si fazendo com que haja uma divisão no
mundo onde sempre haverá dominantes e dominados, pois percebe-se ao decorrer
da leitura que o capitalismo é um sistema de desigualdade em essência, pois se
aproveita da exploração de terceiros para privilégios de primeiros e que também por
conta de esse modelo já estar enraizado em hierarquias pré-estabelecidas como
famílias tradicionais e mercados tradicionais.

Para isso é citado as economias europeias e orientais desde os séculos


passados , correlacionando ás nações que protagonizam o capitalismo dos tempos
modernos como a Inglaterra, enfatizando que senão através de um longo processo,
este dependendo de relações políticas, hierarquias e do tipo de capital circulante,
bem como o aperfeiçoamento desses métodos para que as nações sejam de fato
capitalistas, pois é devido a esse aperfeiçoamento que o capitalismo perdurou
durante os anos sendo este atingindo de forma exploradora, ou explorada ao longo
dos séculos.

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