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Autoria
Jardiel de Moura Gomes - jardielmmoura@gmail.com
Prog de Pós-Grad em Admin/Dep de Ciênc Administrativas/Cent de Ciênc Soc Aplic – PROPAD/DCA/CCSA -
Universidade Federal de Pernambuco
Outro - Outra
Resumo
Este estudo visa compreender os significados emergentes da ação empreendedora digital
vivenciada por produtores independentes de jogos eletrônicos (games). A abordagem teórica
da ação empreendedora aqui desenvolvida considera como dimensões centrais da discussão
o estilo criativo, a expertise e a interação social. O estudo é qualitativa e conta com quatro
entrevistas semiestruturadas em aplicadas junto a dirigentes de quatro estúdios de jogos
independentes situados nas cidades de São Paulo (SP), Curitiba (PR), Recife (PE) e João
Pessoa (PB). A análise dos dados foi realizada por meio da técnica de análise de conteúdo
temática. Os resultados revelam que a ação empreendedora dos produtores de jogos indie no
âmbito do empreendedorismo digital evidencia a existência de aspectos estruturantes da
relação entre o produtor independente e o Publisher, isso no que tange a artefatos
tecnológicos, plataformas e infraestruturas digitais. Os processos de identificação e os modos
de operação evidenciados no universo dos games são típicos da ação empreendedora que
emerge nesse segmento econômico, o que revela o modus operandi de produção indie
voltado para evitar sujeições e acessar recursos escassos.
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Resumo
1 Introdução
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elaborado por algum desenvolvedor indie, sendo responsável pela fabricação, marketing e
busca do financiamento destinado ao desenvolvimento do game (Johns, 2006; Fleury,
Nakano, Cordeiro, 2014; Xavier Filho, 2017).
A natureza dos negócios transforma a maneira como os empreendedores digitais
lidam com as incertezas nos mercados livres de plataformas virtuais (Dong, 2019), a
considerar que nesse tipo de modelo empresarial faltam incentivos para que o
desenvolvedor indie obtenha o financiamento satisfatório a ponto de viabilizar a efetivação
de seus projetos. Isso faz com que sejam procuradas formas diversificadas de capitalização,
a exemplo da utilização de recursos próprios, aportes financeiros provenientes de
familiares, crédito pessoal e crowdfunding.
Os produtores indie atuam no formato de rede organizacional para potencializar
sua produção e realizar atividades de distribuição e comercialização do game demandadas
pelo publishers (Fisher, 2015). Assim, a formatação produtiva do game pode ser dividida
em etapas especializadas, tais como: design do jogo, programação do jogo, adaptação às
plataformas de lançamento, criação de fases e níveis do jogo (levels), sonoplastia, criação
da mídia (cartuchos, DVD e plataformas práticas) e divulgação (Negrão & Toaldo, 2013).
Esse empreendedor faz uso de três elementos essenciais à efetivação da prática
empreendedora vivencial em contextos virtuais que são os artefatos, as plataformas e as
estruturas digitais (Manbisan, 2017). Um artefato digital pode ser definido como
componente digital, aplicativo ou conteúdo de mídia que ofereça funcionalidade ou valor
específico para o usuário final. Logo, tais artefatos estão presentes em smartphones,
relógios inteligentes eletrodomésticos, brinquedos, artigos do vestuário, videogames e
automóveis (Kallinikos; Aaltonen; Marton, 2013).
A plataforma digital compreende o conjunto compartilhado de serviços comuns e
sua arquitetura serve para hospedar ofertas de serviços, inclusive seus artefatos digitais.
Como exemplos, temos a plataforma do iOS da Apple e a plataforma Android do Google,
que são aplicativos executados em seus respectivos smartphones (Parker; Van Alstyne;
Choudary, 2016). Portanto, as novas plataformas digitais oferecem oportunidades para os
empreendedores indie desenvolverem suas atividades produtivas e esforços técnicos de
atuação no mercado, uma vez que permitem e potencializam a criação, comercialização e
distribuição dos jogos indie (Zahra & Nambisan, 2011; Manbisan, 2017).
A infraestrutura digital diz respeito ao sistema de comunicação colaborativa
entre artefatos cibernéticos, como a computação em nuvem, comunidades online, redes
sociais, mídia e impressão em 3D (Choudary, 2016). Assim, essas estruturas levam à
democratização da ação empreendedora, permitindo o engajamento de pessoas nas etapas
do processo de construção do negócio em que opera o empreendedor indie.
Os avanços tecnológicos dos componentes digitais, a exemplo da capacidade de
processamento, armazenamento, tamanho, capacidade gráfica, evolução dos smartphones e
plataformas de distribuições, criam novas possibilidades de negócios do lado de fora do
modelo de produção tradicional da indústria de jogos (Fleury, Nakano, Cordeiro, 2014;
Silva, 2015). Essas novas formas de atuação indicam que os jogos disponíveis na internet
ou em plataformas de distribuição digital têm conquistado potencial de disseminação e,
assim, vêm criando possibilidades de incremento da receita para sustentação do
empreendimento com atividades como publicidade, venda de acessórios virtuais e formas
de comercialização dos games (Ayibnapis; Wuryaningsih; Gora, 2021)
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3 Procedimentos Metodológicos
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A identidade se projeta numa luta pela própria produção do jogo em si, o que
reflete as características subjetivas desses desenvolvedores indie. Não obstante, o ato de
produzir o jogo em si protagoniza a figura do Publisher como agente-chave, reconhecido
pelo desenvolvedor indie como aquele que limita a sua criatividade e restringe sua
diferenciação, inibindo o estilo criativo e o processo de identificação, sendo essa uma
discussão central no relacionamento entre desenvolvedor e Publisher (Prystupa-Rzadca;
Starostka, 2015). O debate em torno da rivalidade por elementos simbólicos entre os dois
atores se revela também nos resultados também alcançados por Xavier Filho (2017) e Chen
(2013, 2018), indicando que o relacionamento entre desenvolvedor e publisher é
problemático, uma vez que este exige do desenvolvedor um esforço adicional para dar
forma comercial ao produto, interferindo em aspectos centrais do game, como narrativas,
cenários e arquétipos.
A autonomia está associada a comportamentos independentes que buscam a
realização dos projetos com liberdade. Assim, essa categoria é compreendida como sendo a
aptidão ou competência conduzida para gerir sua própria vida, valendo-se de seus próprios
meios, vontades e princípios, ou seja, habilidade de ser autodirigido na busca de
oportunidades e no desejo de se libertar das restrições ao potencial criativo e burocrático da
produção comercial.
A principal dificuldade do produtor independente é a luta por sua
autonomia essa é uma luta constante para produzir aquilo que lhe
representa de alguma maneira. A criatividade na produção junto do
Publisher é embaraçada, o prazo é quase que impraticável e o resultado
tem que ser rápido, nessas condições a maioria das produções é frustrante
(E2, Linha 83).
4.2 Expertise
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5. Considerações Finais
produção.
A produção indie se materializa como artefato digital por meio dos aplicativos para
smartphones e mídias digitais, que são o principal meio de distribuição e comercialização
do jogo. As plataformas permitem a hospedagem dos jogos e a inovação nesses
dispositivos, possibilitando liberdade, autonomia e capilaridade para o desenvolvedor. Já as
infraestruturas digitais, como a computação em nuvem e a comunicação colaborativa,
levam à democratização da ação empreendedora indie, aumentado o engajamento dos
usuários e produtores em todas as etapas do processo do jogo eletrônico.
A dimensão de destaque é a interação social, cuja ocorrência se expressa pela
necessidade de articulação entre atores nas redes sociais e o compartilhamento de
ferramentas uteis à produção do game, o que permite ao empreendedor suprir a necessidade
de recursos materiais escassos e propagar sua reputação criativa junto aos públicos de
produtores, mediadores e consumidores dos jogos. Um dos marcadores da ação política e
social está projetado na capacidade de esse setor obter recursos produtivos por meio da
administração pública. A crítica dos desenvolvedores indie se fundamenta inicialmente pelo
baixo número de editais lançados e se coaduna com critérios técnicos e sofisticados,
solicitados pelos editais, como, por exemplo, o portfólio contendo títulos publicados em
grandes canais, formalização em juntas comerciais e produção com alto rigor técnico.
O debate no estudo levanta novas inquietações que merecem aprofundamento e
indicações para futuras pesquisas, como a emergência da cena digital na condição de
oportunidade estratégica para incentivo à prática empreendedora em atividades intensivas
em tecnologia ou de ações que envolvem o desenvolvimento de commodities como
artefatos tecnológicos de entretenimento que potencializam atividades empreendedoras.
O debate no estudo levanta novas inquietações que merecem aprofundamento e
indicações para futuras pesquisas, como o crescimento dos novos negócios mediados por
tecnologia e o empreendedorismo digital na produção de games como artefato cultural e
tecnológico que potencializam as atividades empreendedoras.
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