Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo:
Este artigo tem como objetivo construir considerações críticas primeiras sobre a
plataformização do trabalho projetual digital, a precarização e a proletarização do designer em
plataformas freelancers. Para tal, iniciamos pela definição do que constitui o processo de
plataformização do trabalho, levando em conta os termos utilizados na Sociologia do Trabalho.
Em seguida, discutimos o que significa o processo de precarização do trabalho digital freelancer
em plataformas para, depois, exemplificar como ocorre o processo de proletarização do designer
digital através de análise dos planos de negócio das plataformas 99Freelas e Freelancer.com.
Palavras-chave: Campo do Design Digital, crítica, plataformização freelancer, precarização,
proletarização.
Abstract:
This article aims to build first critical considerations about the platformization of Digital Design
work, and the precarization and proletarianization of the designer in freelance platforms. Thus,
we initially define what constitutes the process of work platformization, by taking into account
terms used in the Sociology of Labour. Next, we discuss what the process of precarization of
digital freelance work on platforms means so as to later on exemplify how the process of
proletarianization of the digital designer occurs by analyzing the business plans of the platforms
99Freelas and Freelancer.com.
Keywords: Digital Design Field, critique, freelance platformization, precarization,
proletarianization.
1. INTRODUÇÃO
O mundo do trabalho passa por mais uma ofensiva do capital, desta vez pelas
mãos do capital financeiro que, juntamente da crise sanitária do COVID-19,
aprofundaram e aceleraram transformações em andamento, obliterando relações
trabalhistas através da plataformização do trabalho. Essa nova forma de trabalho tem
sido fundamental para driblar o assalariamento: não obstante tendo todos os indicativos
de uma relação trabalhista, as plataformas são apresentadas ideologicamente e
judicialmente como simples prestadoras de serviço, como mediadoras entre quem
oferece e quem quer contratar um trabalhador. Ao serem apresentadas como isentas de
interferência na relação laboral, argumenta-se que seus clientes (que podem ser tanto
quem presta quanto quem contrata o serviço) são "livres" para criar seus próprios fluxos
de trabalho.
1
Brasil de fato: Greves de entregadores contra apps de delivery se espalham e já duram dias, disponível em
<https://www.brasildefato.com.br/2021/10/11/greves-de-entregadores-contra-apps-de-delivery-se-esp
alham-e-ja-duram-dias>, acesso em: 20 de fev. de 2022.
de produção, não mais se reconhece plenamente no produto de seu trabalho, ou seja, não
se reconhece como produtor. No caso do Campo do Design, como essas novas
configurações de trabalho influenciam a atividade projetual digital? Como determinam
formas de criar, projetar, organizar, produzir, ou seja, de trabalhar?
2
Repórter Brasil: Gig, a uberização do trabalho, disponível em <https://reporterbrasil.org.br/gig/>, acesso
em: 03 de fev. de 2022.
também a realização e entrega desse trabalho, que pode ser realizado e entregue de
qualquer parte do mundo (AWAR; GRAHAM, 2020, p. 50); b) a intensificação da
flexibilização das relações de contrato de trabalho (GROHMANN, 2020, p. 100); c) a
dependência de trabalhadores e consumidores dessas plataformas, com lógica
algorítmica, dataficada e financeirizada (ID, 2020, p. 100) e d) atividades de trabalhos
que são mediadas, organizadas e governadas por meio de plataformas digitais (ID, 2020,
p. 100). Assim, conforme Grohmann (2021, p. 15), a plataformização é, ao mesmo tempo,
materialização e consequência de um processo histórico, que mistura capitalismo
rentista, ideologia do Vale do Silício, extração contínua de dados e gestão neoliberal. Por
ser um evento tão novo é que buscamos averiguar como esses fenômenos ocorrem na
produção do Campo do Design Digital, recortando nas plataformas freelancers.
3.1. 99freelas
3
Disponível em: <https://www.99freelas.com.br>, acesso em 21 de fevereiro de 2022.
Imagem 2 – Lista de trabalhadores
Fonte: Print site 99freelas.com
Podemos afirmar que ambas as plataformas são muito parecidas, não havendo
fator determinante que requeira uma análise mais diminuta da Freelancer.com4. Logo, na
home da Freelancer.com (Imagem 10) é possível visualizar propagandas que anunciam a
possibilidade de buscar ou de oferecer trabalho. A ferramenta de busca também resulta
em uma lista de serviços ou trabalhadores que pode ser filtrada por preço do orçamento
(fixo ou por projeto), por preço máximo ou mínimo e por hora (hora mínima ou
máxima).
A duração do trabalho pode ser filtrada por menos de uma semana, de uma a
quatro semanas, de um a três meses, e mais de seis meses com prosseguimento
continuado ou não especificado (Imagem 11). Há ainda um filtro de "concurso", também
definido por preços mínimos ou máximos. A partir da busca e das seleções, obtém-se
uma lista de trabalhos e trabalhadores disponíveis para execução ou contratação, nos
mesmos moldes da 99Freelas.
4
Disponível em: <https://www.br.freelancer.com>, acesso em 21 de fevereiro de 2022.
Imagem 11 – Lista de trabalhos
Fonte: Print do site freelancer.com
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fenômeno da plataformização do trabalho vem sendo observado, estudado e
certamente é um dos debates de nosso tempo. Ele vem alterando em muitos aspectos as
relações de trabalho e de assalariamento. Através dele, observamos que as classes do
trabalho intelectual — diante do movimento do capital financeirizado, tal como os
trabalhadores de serviços e, no caso deste estudo, os designers digitais freelancers —
passam também por um processo de proletarização, sendo cada vez mais participativos
no processo de valorização do capital (ANTUNES, 2020, p. 57) , porém mais precarizados
em termos laborais, econômicos e subjetivos.
Logo, o Campo do Design não pode se dar ao luxo de ser apenas mais uma
ferramenta de ampliação de mais-valor de mercadorias e plataformas digitais: é
necessário que o Campo volte suas teorias, suas prospecções e preocupações de um
“futuro melhor" — tema deste Colóquio —, para a análise crítica das condições de
trabalho daqueles que, tecnicamente, produzem o amanhã, propondo melhorias
concretas e subjetivas para as suas existências laborativas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Ricardo (org.). Uberização, trabalho digital e Indústria 4.0.- 1. ed. - São Paulo:
Boitempo, 2020.
COSTA, Alda Cristina Silva da; MENDES, Ana Maria Pires; LOUREIRO, Ari de Souza; PALHETA,
Arlene Nazaré Amaral Alves. Indústria Cultural: Revisando Adorno e Horkheimer, Movendo
Idéias, Belém, v8, n.13, p.(13) - (22), jun 2003?
FORTY, Adrian. Objetos de desejo: Design e sociedade desde 1750. Tradução Pedro Soares,
Cosac Naify, 2007
GRESPAN, Jorge. Marx: uma introdução. - 1. ed. - São Paulo: Boitempo, 2021.
Greves de entregadores contra apps de delivery se espalham e já duram dias, Brasil de Fato, 11
de Outubro de 2021 às 16:46. Disponível em
<https://www.brasildefato.com.br/2021/10/11/greves-de-entregadores-contra-apps-de-deliv
ery-se-espalham-e-ja-duram-dias>, acesso em: 20 de fev. de 2022
MATIAS, Iraldo Alberto Alves. Projeto e Revolução: do fetichismo à gestão, uma crítica à
teoria do Design. Tese de Doutorado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade
Estadual de Campinas. Campinas, 2014.