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Design da informação nos jogos digitais

Information design in digital games

André Neves, Fábio Campos, Ian V. Benicio, Marisardo Filho, Solange G. Coutinho,
Valeska F. Martins

jogos digitais; design da informação; design da interação; interface; user experience

Com o desenvolvimento da indústria de jogos digitais, e o aumento da complexidade dos projetos


envolvidos, novos paradigmas passam a permear a sua produção. Surge então a necessidade de criar,
cada vez mais, jogos melhores, que sejam intuitivos na sua interação, através de uma interface amigável,
proporcionando assim a experiência adequada. Desta forma, é importante perceber que o fluxo de
informações está em evidência a cada momento, já que os jogos digitais, com todos os seus elementos,
também podem ser classificados como sistemas de informação. Assim, o design da informação se
encontra como um dos principais elementos na estrutura dos jogos digitais, devendo ser levado em
consideração como forma de se elaborar um melhor projeto, que facilite o desenvolvimento de produtos
com o devido entendimento e legibilidade nas suas informações. Esta pesquisa se refere à análise da
relação entre os jogos digitais e o design da informação, considerando que entre estes existem vários
outros fatores, interligados por aspectos como experiência do usuário, interação e interface. Como
resultado da análise, percebe-se uma forte influência da forma como a informação se relaciona com os
jogos digitais e a experiência do usuário, através de canais estabelecidos pelo design de interação e de
interface.

digital games; information design; interaction design; interface; user experience

With the development of the digital games industry, and the increasing complexity of the projects involved,
new paradigms have begun to permeate its production. Therefore, an increasing need has emerged to
improve the quality of games, which should be intuitive in their interaction, through a user-friendly
interface, thus providing an appropriate experience. Consequently, it is important to perceive that the flow
of information is evident at every moment, since digital games, with all their elements, may also be
classified as information systems. Hence, information design has become one of the main elements in the
structure of digital games, and should be taken into account as a way of developing a better project, which
facilitates the development of products so as to ensure the correct understanding and legibility of
information. This study refers to an analysis of the relationship between digital games and information
design, in which several other factors are involved, interconnected by aspects such as user experience,
interaction and interface. As a result of this analysis, a strong influence has been perceived in the manner
in which information is related to digital games and user experience, through the established channels by
interaction and interface design.

1 Introdução

Os jogos digitais vêm se firmando, cada vez mais, como um forte atuante no mercado de
entretenimento. À medida que isso acontece, estes passam a ter uma maior importância para a
sociedade. Segundo Sujdik (2011), desde 2003, o mercado de jogos superou o de cinema,
tendo se tornado a maior indústria de entretenimento do mundo. À medida que esse
desenvolvimento acontece, surgem pesquisas na área de jogos digitais, que permitem, dentre
outras coisas, entender e aprimorar os processos envolvidos, como também maximizar a
qualidade do produto final.
Para Shell (2011), o game designer (profissional responsável pelas regras e processos
relacionados à interação dos jogos, dentre outras coisas) deve, em primeira mão, criar uma
experiência ideal para o usuário. Esta experiência seria influenciada por elementos como o
processo de interação, que por sua vez se utiliza da interface como meio de atuação.

Anais do Proceedings of the


6º Congresso Internacional de Design da Informação 6th Information Design International Conference
5º InfoDesign Brasil 5thInfoDesign Brazil
6ºCongic 6thCongic
Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.) Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.)
Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI
Recife | Brasil | 2013 Recife | Brazil | 2013
ISBN ISBN
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Considerando que os jogos digitais são compostos por diversas informações, como narrativa e
vários outros conteúdos, é perceptível que o jogador é constantemente informado e atualizado
sobre o estado do jogo.
Neste contexto, é possível visualizar a relação que o design da informação tem com temas
como experiência do usuário, interação, interface e, consequentemente, jogos digitais. Sendo
assim, o presente artigo analisa a relação entre o design da informação e os jogos digitais,
assim como a influência que a experiência do usuário, interação e interface exercem neste
relacionamento.

2 Jogos Digitais

Um jogo digital interativo (popularmente conhecido como game) pode ser descrito como uma
atividade lúdica composta por várias ações e decisões, limitado pelas regras e universo do
jogo, até ser alcançado um desfecho. Essas regras e universo são controlados por meios
eletrônicos e existem para criar uma estrutura e um contexto para o jogador. A riqueza de
contexto, o desafio, a emoção e a diversão que o jogador sente durante a sua jornada é o que
determina o sucesso do jogo (Schuytema, 2008). Já Schell (2011: 37) explica que ‘Um jogo é
uma atividade de solução de problemas, encarada de forma lúdica’.
Atualmente, o mercado de games vem expandindo, devido a vários fatores, como o alcance
da idade adulta de gerações que cresceram com vídeo games, o ‘boom’ dos jogos casuais e a
aplicação de técnicas de design que passaram a facilitar a produção de jogos com foco no
usuário. Com isso, o interesse e a variedade do público alvo vêm ampliando exponencialmente,
ilustrando um poderoso mercado, e exigindo, cada vez mais, dos desenvolvedores, um produto
de melhor qualidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca da metade do público consome
jogos digitais, esses se estabelecendo como a opção de diversão do século XXI (Novak, 2010).
Nesse contexto, é importante salientar que a racionalização do desenvolvimento de jogos,
por meio do processo de documentação, pode ser de grande valia. Uma etapa bastante
decisiva, e que não deve ser esquecida, é a criação do documento do projeto do jogo (também
conhecido como Game Design Document). Esse documento representa a culminação dos
esforços criativos de diversas equipes envolvidas no desenvolvimento do game. Ele detalha
todo o escopo do jogo, por escrito. O Game Design Document (GDD) deve descrever todas as
peças que devem se juntar para formar o jogo. Um dos principais objetivos desse documento é
deixar claro o funcionamento das mecânicas do jogo (Rhodes, 2008).
Através do emprego de ferramentas específicas para a criação de jogos utilizadas de
maneira que possam aperfeiçoar o seu processo e maximizar as chances de sucesso (como a
utilização correta da documentação), é possível estabelecer conexões entre a experiência que
se deseja que o jogador tenha, e o jogo em questão. A própria maneira como a informação é
gerenciada pelo sistema exerce forte influência na experiência vivida pelo jogador, pois é por
meio desta que ele entende os seus limites, e o seu atual estado, dentro do contexto dos
elementos do jogo, como mecânicas e narrativas (Shell, 2011).

3 Design de Interação e Interface

A visão clássica de interatividade é definida por Jenkins (2008: 182-183, apud Braga, 2010:
29): ‘A interatividade refere-se ao modo como as novas tecnologias foram planejadas para
responder ao feedback do consumidor’. Já para Preece et al. (2005) design de interação pode
ser definido como o projeto de produtos interativos que devem dar suporte às atividades
cotidianas das pessoas, no ambiente caseiro ou profissional, criando experiências que
melhoram e expandem a maneira como as pessoas trabalham, se comunicam e interagem.
Preece et al. (2005: 24) também destaca que a principal preocupação do design de
interação é ‘desenvolver produtos interativos que sejam utilizáveis, o que genericamente
significa produtos fáceis de aprender, eficazes no uso, que proporcionem ao usuário uma
experiência agradável’. Sobre essa perspectiva é possível perceber que o design de interação
é que faz a ponte entre o funcionamento do produto e a forma como o usuário interage com o
mesmo. Outro importante aspecto é citado por Ferreira & Nunes (2011) quando argumentam

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que existem pesquisas recentes, na área de Interação Humano-Computador (HCI – Human
Computer Interaction), que ilustraram para os profissionais de software a necessidade da
comunicação em interfaces de duas vias, isto é, os usuários tanto enviam mensagens para as
máquinas quanto recebem respostas destas (feedback).
Em se tratando de jogos digitais, podemos especificar feedback sob a perspectiva dos
controles, como também do sistema do jogo. O feedback do controle é a informação de retorno
dos controles e ações que estão tentando ser executadas através deste. Já o feedback do jogo
é composto pelas informações relacionadas ao estado do sistema do jogo e as tarefas que o
jogador possui neste (Rabin, 2012).
Porém, para exercer controle sobre algum determinado sistema, por meio do processo de
interação, é necessária a existência de uma interface, que permita a utilização de um produto
específico, por parte do usuário. A interface com o usuário pode ser caracterizada como a
forma pela qual o usuário se comunica com o sistema para ter acesso as suas funcionalidades.
Alguns exemplos dessas interfaces seriam os monitores e teclados de computador (Ferreira &
Nunes, 2011).
Em se tratando de jogos digitais, a interface pode ser entendida como um conjunto de
componentes que permitem ao jogador interagir com o mundo do jogo, formando assim um
sistema de comunicação que, por um lado envia informações do jogador para o jogo, e por
outro envia informações do jogo para o jogador. Sendo assim, todas as informações que
precisam ser transmitidas pelo jogador ou para o jogador ocorrem através desse sistema, e
toda ação que o jogador pretender executar deverá ser realizada através desse sistema (Rabin,
2012).
Desta forma é possível verificar que a interação é um fator muito importante para a
experiência do usuário. Porém, para que essa se mostre satisfatória, também é necessária a
presença de interfaces que funcionem adequadamente, dando suporte aos processos
relacionados à interação. Por sua vez, a interface é responsável pela transmissão das
informações, fazendo um canal entre o jogo e o jogador, permitindo assim o devido
entendimento e interação.

4 Design da Informação

Para um melhor entendimento sobre a relação proposta neste artigo entre design da
informação e jogos digitais, é necessário apresentar sua conceituação, em busca das
aproximações e integrações, como funciona a interação com os usuários e por que esta área
tão importante ainda é tão pouco explorada no meio dos jogos digitais.
Inicialmente, precisamos compreender o que se entende por informação. Abordaremos
neste artigo as conceituações que foram avaliadas mais adequadas para o propósito de
relacionar design da informação e jogos digitais. Borko (1968: 3) afirma que ciência da
informação é a ‘disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as
forças que gerenciam o fluxo de informação, e os meios de processamento da informação de
forma a otimizar a acessibilidade e a usabilidade’1. Borko (1968) ainda complementa afirmando
que o design da informação é uma ciência interdisciplinar e que há uma preocupação na
originação, organização, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação.
Por sua vez, o significado de informação é vasto se apresenta com definições diferentes,
dependendo do campo em que está sendo analisado. Segundo Coelho (2008), a informação
como uma espécie de comunicação, teria ligação com quantificação de dados sobre um
objeto/coisa, voltando-se assim ao julgamento matemático de comunicação. Já no conceito de
sociedade informacional, estaria ligada à tecnologia computacional e seria uma ‘coleção de
fatos ou dados fornecidos a um sistema com o objetivo de processá-los’ (Coelho, 2008: 71). Na
perspectiva do design, entretanto, o autor parte da premissa de que produtos, seja qual for,
possuem informação e, que a mesma, por meio do feedback dos usuários, responde pela
performance e aparência do produto. Desta forma, todos os produtos, inclusive os jogos
digitais, contêm informações e estas precisam encontrar-se, de tal forma otimizadas, para se
tornarem acessíveis e utilizáveis por seus usuários. Esta é a compreensão do conceito de

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Tradução nossa.

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informação à luz deste trabalho.
Já o design da informação, na visão de Rune Pettersson (2002), envolve pesquisa, análise,
planejamento, apresentação e compreensão do conteúdo, linguagem e forma de uma
mensagem. Desta maneira, o autor indica que há a necessidade de pesquisa e de um prévio
planejamento antes de apresentar a informação, para que o seu conteúdo seja devidamente
compreendido. Passos (2012), por sua vez, argumenta que as empresas devem investir em
inovação, desenvolvendo um novo produto ou novo processo tecnológico, mas que antes é
necessário planejamentos e metodologias pré-estabelecidos, pois com um projeto bem
planejado, há maior efetividade na gestão da informação.
David Sless (1995) comenta sobre o principal objetivo do design da informação, que é o de
tornar qualquer tipo de informação acessível e usável por seus usuários. Podemos unir esta
definição à de Pettersson, pois ambas abordam a questão da compreensão da informação,
contudo Sless assinala fortemente a importância da acessibilidade e usabilidade, de forma
análoga àquela mencionada por Borko (1968) na sua definição de ciência de informação.
Robert Jacobson (1999) fala sobre veículos e canais de comunicação e que o propósito do
design da informação é a organização e uso sistemático destes, com o objetivo de melhorar o
entendimento dos seus participantes. Na perspectiva dos veículos e canais de comunicação
comentada por Jacobson, podemos incluir os jogos digitais, como um canal de comunicação
que pode melhorar o entendimento de uma determinada mensagem por seus participantes.
Horn (1999), no capítulo 2, do livro editado por Jacobson, apresenta uma conceituação que
atende às necessidades do debate proposto neste artigo:
‘O design da informação é definido como a arte e a ciência de preparar a informação para que possa
ser usada pelos seres humanos com eficiência e eficácia, e seus principais objetivos são:

 Desenvolver documentos compreensíveis, de recuperação fácil e com precisão, e que possam ser


facilmente traduzidos em ações efetivas;
Projetar interações com equipamentos da forma mais fácil, natural e agradável possível. Isso


implica em resolver vários problemas no design de interface humano-computador;
Possibilitar que as pessoas encontrem seus caminhos no espaço tridimensional com conforto e
facilidade, especialmente no espaço urbano, mas também, devido a desenvolvimentos recentes,
no plano virtual’.2 (Horn in Jacobson, 1999: 15).

Desse ponto de vista podemos observar que o design da informação se relaciona


diretamente com design da interação, design de interface e jogos digitais. Jogos contem
informações, que são importantes para a sua devida compreensão pelo usuário, e necessitam
serem exibidas, atualizadas, organizadas e realimentadas. Durante o desenvolvimento do jogo
e a busca por informações, ‘encontram-se os usuários finais do sistema que podem aproveitar
seu próprio conhecimento e experiências para trazer perspectivas ao projeto e
desenvolvimento dos produtos que eles e outros irão utilizar’ (Passos, 2012: 40). Podemos
inferir que o design da informação está envolvido neste processo de interpretação e feedback
do usuário, assim como no processo de construção de uma interface interativa eficaz e
eficiente.
Embora seja claro que o design da informação é uma área importante e necessária para o
desenvolvimento de jogos digitais, esta relação não é explícita tampouco é estudada pelos
atores envolvidos. Após buscas em artigos dos principais eventos de jogos, como o SBGames3,
podemos notar que, apesar do aumento do número de pesquisas na área de jogos nos últimos
anos, ainda existe uma lacuna de estudos e pesquisas relacionados ao design da informação e
sua relação com jogos digitais, da mesma forma nos parece despercebido pela indústria de
jogos (para fins deste este artigo, foi analisado o mercado nacional).
De acordo com a pesquisa de Passos (2012), sobre fluxo de informação nos jogos
eletrônicos, conduzida nas cidades de Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, a
produção de jogos conta com profissionais de áreas distintas (artistas, game designers e
programadores). A autora constatou que a pluralidade de atores demonstra que o grau de
importância, a frequência de uso ou até não uso, as barreiras e motivações na busca por
informação, são por sua vez também distintas. Somando a este fato, houve a constatação de

2
Tradução nossa.
3
http://www.sbgames2012.com.br/

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que as empresas ainda investem muito pouco em serviços de informação internos (prospecção,
coleta de dados, dentre outros) e não existe um setor responsável por esta área. Nas
entrevistas, inclusive, os profissionais apontaram a falta de tempo disponível para a busca e
organização das informações, e se houvesse gestão da informação, o fluxo informacional do
processo de criação dos jogos seria mais dinâmico e eficiente. Nesta pesquisa, a busca por
informações na produção de jogos se mostrou importante tanto para começar os projetos,
quanto para solucionar problemas encontrados e com uma boa gestão no fluxo de informação,
é possível melhorar tanto qualidade do processo de criação dos jogos digitais, assim como uma
melhoria da prestação de serviços das próprias empresas (Passos, 2012).
Observações recentes do Arranjo produtivo local de Pernambuco (APL-PE) de jogos digitais
verificam que, em paralelo ao desenvolvimento da indústria, o Departamento de Design e o
Centro de Informática da UFPE vêm incentivando o conhecimento em concepção e
implementação de jogos nos cursos de graduação e pós-graduação, aumentando
consideravelmente o número de trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e
teses de doutorado na área. Muitos destes autores já estão inseridos na indústria, começando
a trazer algumas mudanças no campo de métodos (Neves et al, 2010). Ainda assim, não foram
encontrados indícios de profissionais voltados ao design da informação presentes no processo
de produção dos jogos, ao menos em investigações no mercado local de Pernambuco. Desta
forma, ainda há uma necessidade tanto de um maior uso de métodos e técnicas de design,
visando organizar os processos internos de produção, quanto de um maior cuidado quanto
àqueles inerentes ao design da informação. Uma solução para estas lacunas mencionadas e o
uso adequado da informação poderia gerar ganhos na agilidade de trabalho e uma maior
qualidade do produto final, resultando numa maior competitividade (Passos, 2012).
Na conceituação de informação e design da informação, foram anotadas algumas palavras-
chave como informação, organização, acessibilidade, usabilidade, entendimento e
compreensão da mensagem. Ao observar os jogos digitais, percebemos o quanto eles
precisam de uma ação de design da informação, pois há mensagens que precisam ser
organizadas, simbolizadas, configuradas e transmitidas para seus usuários e, eles necessitam
compreender, da melhor forma possível, para que possam usar o produto de maneira
adequada. Podemos aliar isto ao design da interação, usando a ideia de Preece (2005), que
menciona que a maior preocupação do design de interação reside no desenvolvimento de
produtos utilizáveis, eficazes e que proporcionem uma boa experiência aos seus usuários.
Assim sendo, corelacionamos as ideias de Preece às de Horn (1999) citada neste tópico, sobre
a relação do design da informação com a interface humano-computador, fazendo com que a
interação seja algo natural e agradável, tornando a experiência do jogador cada vez mais ativa.

5 Experiência do Usuário

Como mencionado anteriormente, os jogos digitais vem crescendo em popularidade bem como
economicamente, é um artefato tecnológico que influencia a indústria criativa e, em
consequência, a cultura contemporânea.
De forma geral, as tecnologias são desenvolvidas para prover valor à sociedade (positivo ou
negativo) e ampliar nossas capacidades cognitivas. Os jogos digitais, como uma forma de
tecnologia, apresentam valores lúdicos, nos cercando de lugares paradisíacos, atividades
sociais, histórias e fantasias, proporcionando uma experiência única, que apenas eles são
capazes de acomodar. Desta forma, a razão para se utilizar um jogo digital, ou qualquer outra
atividade de entretenimento, são as experiências provocadas, onde essas experiências são um
fator vital para o sucesso ou fracasso desta atividade (Takatalo et al, 2008).
Jogar videogame, como definido inicialmente, é uma atividade completamente voluntária,
isto é, nada obriga um jogador a iniciar ou continuar jogando. De acordo com Schell (2011)
pode ser elencado um conjunto de qualidades existentes em um jogo: (1) as pessoas jogam
voluntariamente; (2) jogos têm metas; (3) jogos têm conflitos; (4) jogos têm regras; (5) jogos
podem ter vencedores e perdedores; (6) jogos são interativos; (7) jogos têm desafios; (8) jogos
podem criar seu próprio valor interno; (9) jogos motivam seus jogadores; (10) jogos são
sistemas formais fechados.
Desta forma, percebe-se então que a experiência proporcionada por um jogo digital pode
influenciar no seu sucesso ou fracasso. Por meio do design da informação, organizamos,

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simbolizamos e configuramos os dados ou mensagens, em uma dada interface, a serem
transmitidos e, por meio da interação do usuário sobre essa interface surge à experiência
(Preece et al, 2005). Uma definição mais detalhada sobre UX ou experiência do usuário, se faz
necessária para compreender a relação de importância com os jogos digitais e o processo de
interação com o usuário ou jogador.
O termo UX foi criado por Don Norman, que tentava proporcionar um lado mais ‘humano’ ao
campo do IHC (Interação Homem Máquina). Norman (2004) defende que um produto interage
com o ser humano em três níveis cognitivos e emocionais. O primeiro, visceral, onde nós
reagimos imediatamente em nível de processamento, com o produto, através de nossos
sentidos (audição, paladar, tato, olfato e visão). O segundo, comportamental, que sofre
influência do nível visceral, pois pesquisas demonstraram que o usuário considera interfaces
visualmente mais atrativas mais fáceis de utilizar. Esse nível se caracteriza pela interpretação
do modelo mental do usuário em relação à interação com o produto e suas características. E o
último nível, reflexivo, trata da reflexão sobre experiências do passado. Mesmo sem ter
influência no nível visceral, este nível pode influenciar o nível comportamental, pois
dependendo de experiências emocionais no passado, se boas ou ruins, o usuário pode mudar
o ponto de vista sobre um produto.
Enquanto para Shedroff (2001), na perspectiva de design da informação, postula que a
experiência é um processo de criação de significado, em que, durante o processo de
compreensão das informações, estas passam a ter um significado, e durante essa transição os
dados são acrescidos de contexto valiosos, gerando assim o conhecimento.
Nacke et al. (2010), ponderam que na indústria de jogos, a UX pode aparecer com o termo
game experience, que se refere ao processo interação entre o jogador e o jogo, buscando
proporcionar uma experiência valiosa e divertida para o jogador.
Além das definições e pontos de vistas abordados pelos autores citados, pode-se encontrar
outras acepções e abordagens relativas à UX. No entanto, restringimo-nos apenas aos objetivo
de deste artigo que é o de demonstrar como o design da informação pode contribuir nos
processos que envolvem a experiência do usuário nos jogos digitais.

6 Definição de jogo como sistema de informação

Com o intuito de entender a estrutura de um jogo digital, apresentamos uma definição de jogo
como sistema de informação, que se relaciona com os jogadores por meio de interações que
geram experiência.
Jogos digitais podem ser classificados como sistemas de processamento de sinais ou,
sistemas de informação, fazendo parte da matemática estatística, que lida com sistemas de
comunicação, transmissão de dados, teoria do ruído, compressão de dados, entre outras
áreas. Esta se aplica a canais de comunicação (Shannon & Weaver, 1963).
Os jogos digitais podem ser considerados uma categoria de Software, então quando se diz
que um jogo pode ser interpretado como um sistema de informação, não fica clara a intenção
de revelar uma aproximação com o design da informação em relação à ‘informação’, pois
qualquer programa de computador pode ser descrito usando os formalismos matemáticos da
teoria da informação (Holland, 2000). Assim, esta visão da transmissão de informação na
condição códigos/algoritmos não interessa ao presente debate, mas como a informação ocorre
ou se processa entre o jogo e o jogador de forma cíclica, gerando experiência. Neste sentido,
podemos afirmar que feedback de informações, sinais visuais, entre outros tipos de dados, são
dados como opções de interação para o jogador. Shannon & Weaver (1963) afirmam, neste
sentido, que a liberdade de escolha na seleção de uma mensagem é característica de seu
conceito de informação. Então, podemos nos apropriar deste pensamento, já que para nós,
humanos, a escolha é um ato de processamento cognitivo e com base em algumas definições
de jogos já citadas, o fator escolha significativa é uma de suas principais características.

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7 Design da informação e jogos digitais

Ao analisar uma série de elementos, previamente explicitados nesse trabalho, foi possível
perceber a forma como estes se inter-relacionam, criando um contexto que ajuda a entender a
integração dos jogos digitais com o design da informação. Desta forma uma série de
comportamentos, envolvendo a relação entre dois elementos, são percebidos:
1. Jogos Digitais > Design da Informação: Jogos digitais contêm informações,
importantes para a sua devida compreensão, que necessitam serem exibidas,
atualizadas, organizadas, configuradas e realimentadas frequentemente;
2. Jogos Digitais > Design de Interface: Jogos digitais precisam de uma interface de
entrada e uma de saída, para que suas informações sejam exibidas e que haja o
devido processo de interação;
3. Jogos Digitais > Design de Interação: Jogos digitais utilizam do design de interação
para garantir que a utilização de suas mecânicas e regras seja realizada da melhor
maneira possível, mantendo assim uma experiência de interação agradável;
4. Jogos Digitais > Experiência do Usuário: Jogos digitais devem focar na experiência
do usuário (Shell, 2011);
5. Design da Informação > Design de Interface: É exibido para o usuário através de
uma interface da saída;
6. Design de Interface > Design da Informação: A interface de entrada acaba por
alimentar o jogo com mais informações, vindas do jogador, provenientes do processo
de interação;
7. Design de Interface > Design de Interação: A interface exibe as informações
necessárias à interação do usuário;
8. Design de Interação > Design de Interface: A interação do usuário é limitada e
realizada através da interface;
9. Design de Interação > Experiência do Usuário: O processo de interação mais
natural e fácil de assimilar ajuda a tornar a experiência em algo mais agradável;
10. Experiência do Usuário > Design de Interação: O resultado da experiência do
usuário pode refletir nas formas em que ele interage.

Assim, a figura 1 ilustra o esquema em que em que o design da informação se relaciona


com os jogos digitais, e como outros elementos também se envolvem nesse processo.

Figura 1: Relacionamento entre Design da Informação e Jogos Digitais (Fonte: autores, 2013).

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8 Considerações finais

Os jogos digitais vêm se mostrando cada vez mais influentes na cultura e tecnologia, e ainda
existem relativamente poucas pesquisas envolvendo temas como design de interação e
interface, que acompanhem o crescimento deste setor. Desta forma, analisando diversos
elementos envolvidos, pôde-se perceber um forte laço entre o design da informação e os jogos
digitais, onde o fluxo de informação corre por vários atores, como a experiência do usuário e o
design de interação, formando assim uma cadeia de troca de ações, entre os elementos
envolvidos. Assim, pôde ser verificada a influência que esses relacionamentos exercem dentro
do sistema de informação que é o jogo digital.

Espera-se com este estudo demonstrar a existência e importância do design da informação


nos jogos digitais, tanto no seu processo interno de criação, quanto na forma de se relacionar
com seus usuários, por meio da interação com suas interfaces, e com isto incentivar mais
pesquisas na área e alertar a indústria sobre este fator. O trabalho aqui apresentado também
tem o objetivo de apresentar um modelo esquemático que possa facilitar o entendimento entre
a relação dos jogos digitais com o design da informação, apresentando também diversos outros
elementos envolvidos.

Referências

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Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação | 5ºInfoDesign Brasil | 6ºCongic


Proceedings of the 6th Information Design International Conference | 5thInfoDesign Brazil | 6thCongic
A. Neves; F. Campos; I.V. Benicio; Marisardo Filho; S.G. Coutinho; V.F. Martins|Design da Informação nos jogos digitais
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TAKATALO, J. et al. 2008. User Experience in Digital Games, Human Computer Interaction,
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Sobre o(a/s) autor(a/es)


André Neves, PhD, UFPE, Brasil <andremneves@gmail.com>
Fábio Campos, PhD, UFPE, Brasil <fc2005@gmail.com>
Ian V. Benicio, Mestrando, UFPE, Brasil <ian.fleps@gmail.com>
Marisardo Filho, Mestrando, UFPE, Brasil <marisardo@gmail.com>
Solange G. Coutinho, PhD, UFPE, Brasil <solangecoutinho@globo.com>
Valeska F. Martins, Mestranda, UFPE, Brasil <valeskamartins@gmail.com>

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