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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ

CAMPUS CLÓVIS MOURA

NOME: AMANDA IAMARA DE SOUSA DA SILVA

GEOGRAFIA BLOCO – II PROFESSOR: JOÃO PAULO CENTELHAS

DISCIPLINA: ECONOMIA APLICADA A GEOGRAFIA

RESENHA

GROEBER, David. Dívida: Os Primeiros 5.000 anos. São Paulo: Três Estrelas,
2016.

WRAY. L. Randall. Trabalho e Moeda Hoje: A chave para o pleno emprego e a


estabilidade dos preços. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/ Contraponto Editora, 2003.

Dívida, trabalho e moeda. Três palavras que no cotidiano são interdependentes se


levado em conta que o sinônimo de moeda de forma genérica se refira a dinheiro,
associa-se que onde há trabalho, o fruto deste se transforma em dinheiro, ou seja,
há moeda e, esta com suas diversas formas de utilização, tem o seu emprego, para
a grande maioria das pessoas, para o quitamento de dívidas.

E é nas obras de David Groeber e Randall L. Wray: “Dívida: os primeiros 5.000


anos” e “Trabalho e Moeda Hoje”, respectivamente, ambos os autores traz a tona
essa relação e a presença, principalmente da moeda e da dívida na vida da
humanidade bem como, o fato dessa relação ser mediada não somente pelos
homens, mas também por agentes que tem como função a organização uma
sociedade como o Estado um fato longínquo acompanhando os homens desde as
origens de suas organizações sociais. Induzindo assim, a uma reflexão de maneira
diferenciada, para alem da consolidada historia e pensamento econômico, a respeito
desses elementos que se fazem essenciais de certa forma, para a manutenção da
vida econômica dos homens ao longo dos séculos.
Com a proposta de colocar o homem e suas movimentações econômicas, bem
como, as origens e os desdobramentos destas, que as respectivas obras irão propor
uma análise crítica a respeito da historia econômica da vida dos homens que
Groeber e Randall L. Wray irão desenvolver suas narrativas ao longo dos capítulos a
respeito do da dívida, da moeda e do trabalho.

As obras e os capítulos analisados para compor esta resenha equivalem,


simultaneamente, ao “capítulo 2 – O Mito do Escambo” da obra “Dívida: Os
Primeiros 5.000 anos” e o “capítulo 3 - Uma introdução à história da moeda” da
obra “Trabalho e Moeda Hoje” de Groeber e L. Wray, respectivamente, compostos
no total de 25 paginas e 34 paginas.

Na obra de Groeber Dívida: Os Primeiros 5.000 anos, no capítulo 2 intitulado como


O Mito do Escambo , tem se a proposta de discutir em como se deu as relações
econômicas na vida do homem ao longo dos séculos, bem como as diferentes
formas que o dinheiro protagonizara ao longo dos séculos desse modo confrontando
o pensamento já solidificado principalmente na ciencia econômica, sobretudo pelo
pensamento Smithano de que todas as relações econômicas se originaram da
necessidade de permutar objetos, inicialmente impulsionada pelo escambo. Logo
após o dinheiro vem, e posteriormente o crédito como uma forma mais sofisticada
das relações econômicas.

Uma sequência lógica e histórica onde também se constrói a discrepância, pois


segundo o autor que cita fatos arqueológicos em que se contem provas de que o
endividamento antecede ao uso do dinheiro, este, em sua nomenclatura e sentido
segundo Adam Smith, que ao tornar distante a historia do dinheiro e das relações
socioeconômicas estabelece um universo imaginário para solidificar sua então teoria
do escambo, teoria esta que se destoa, segundo o autor, ao imaginarmos a teoria do
escambo no mundo real e complexo, onde esta por sua vez poderá fazer com que
as transações comerciais nem sempre se concretize por haver sempre o fator da
dupla coincidência dos desejos, sendo assim, muita coincidência em que as pessoas
que fosse permutar algo, tivessem ambas naquele dado momento o objeto em troca
que a outra pessoa teria como necessidade, já que a troca e a permuta têm como
motores a necessidade dos indivíduos.
Partindo do fato de que nem sempre as pessoas tem em mãos aquilo o que terceiros
necessitam em um determinado momento, que a teoria do escambo cairia por terra
e entra assim a historia de algo que pudesse viabilizar as transações desde as mais
simples do cotidiano, ate as mais complexas como as transações comerciais
principalmente entre pessoas de outras cidades, onde teriam apenas o contato no
momento exato da transação, ou seja, uma forma facilitadora das relações
econômicas seria a criações de uma forma que trouxesse noções de devedores e
credores, ou no senso-comum, a noção de quem está devendo a quem para a
facilitação do comercio, pois as trocas não se limitariam a apenas um objeto ou um
momento.

Diante disso, a necessidade de um instrumento que se facilitasse e mediassem as


trocas em termos econômicos e este teria que ser de necessidade comum a aquele
determinado meio social.

Pois, quanto ao escambo este ainda assim poderia ser posto em pratica, no entanto,
em pequenas escalas. Porem á medida em que a escala de participação de agentes
nas trocas/permutas aumentassem, maior era a complexidade de se existir e se
manter o sistema escambista.

Já, partindo do pressuposto da existência de um sistema escambista onde a troca se


movia pelas necessidades dos homens, estes passariam a estocar coisas em que
seria necessidade comum a todos.

Porem, ainda que este objeto estocado fosse aceito, ainda assim haveria a escassez
deste, fazendo com que no exercício da permuta de objetos essenciais entraria
então no cenário o crédito/débito, onde, novamente, devido à escassez do objeto de
troca, ou o devedor que no momento não teria acesso a moeda local, ficaria
debitado em valor equivalente ao objeto/serviço permutado sendo este pago tanto
em serviços ou objetos como, moeda universal legitimadas em acordos.

Observa-se também que na época das grandes navegações onde se teve a


“descoberta” de novos mundos observou-se que em nenhum deles por mais
“primitivos” que fossem a relação escambista era comum a concepção de Adam
Smith, e ademais, onde se observou algum sistema semelhante, este distava do
imaginário consolidado onde as trocas se davam por relações de parentesco,
citando o exemplo de tribos indígenas onde a troca só era de fato utilizada com
inimigos ou estrangeiros.

No entanto, o fato da existência do crédito e da dívida existirem para a viabilização


dessas relações econômicas antemão a criação do dinheiro é algo que segundo
Groeber escandaliza os economistas justamente por em suas definições já
solidificadas o dinheiro ter funções pré-definidas: como moeda de troca em sua
função primária, unidade de contas e reserva de valor, e também no que se refere à
noção de crédito ser, no âmbito econômico, sinônimo de empréstimos em um
sistema econômico bem desenvolvido. “Sem dinheiro, a única alternativa para se
manter relações econômicas seria via escambo.”

É perceptível que Smith ao levar em conta a palavra e a função do dinheiro se refere


a este apenas em sua forma de moeda cunhada contendo esta, metais preciosos
como ouro, prata e cobre, sendo somente assim possível obter um valor em sua
utilização e diante disso, facilitar as trocas já que o seu valor seria considerado
universal, apenas sofrendo algumas alterações de acordo com a quantidade local.

O ponto crítico se contorna no que Smith se referencia ao dinheiro apenas como


moeda cunhada de material valioso e os outros objetos utilizados em outras
sociedades á apenas como instrumentos de troca, isso faz com que ignore as
relações comerciais anteriores a cunhagem da moeda e a utilização de metais
preciosos para a sua confecção, ignorando possíveis moedas correntes de outros
tipos de materiais, como também outro possível panorama da historia do dinheiro e
da vida econômica dos homens.

Para complementar a hipótese de que o escambo não seja uma teoria totalmente
correta a respeito da gênese e desenvolvimento da vida econômica da humanidade,
na obra de Randall L. Wray -“Trabalho e Moeda Hoje”- no capítulo 3 com o titulo
Uma Introdução à História da Moeda, seguindo a mesma linha de raciocínio da obra
anterior, a problemática será a de que das suposições feitas para construir a teoria
do escambo não possuir uma sólida base histórica.

A primeira problemática se da na construção da narrativa escambista, que segundo


Wray, o comercio desde os tempos mais primitivos era realizado a base de creditos
e débitos na falta de uma moeda circular. Como prova a essa afirmação, é
apresentado o sistema de talhas e tabuletas de argila em diferentes sociedades em
diferentes tempos em que tinham como função guiar os acordos comerciais entre as
pessoas até o saldo devedor ser quitado, sendo esta prática tão comum, que havia
feiras para a compensação de créditos e débitos mútuos. Que após esta pratica se
consolidar as pessoas aproveitavam e renovavam creditos e débitos “trocando”
objetos, no chamado varejo, originando as feiras que hoje se conhece.

Após isso, é mostrado também que no feudalismo, para alem da existência de


moedas, estas cunhadas, eram também de diversos tipos sendo necessária a
regulamentação do estado para organizar estas em circulação a exemplo de Carlos
Magno, no império carolíngio pondo fim nas diversas moedas a serem usadas,
colocando a narrativa de que havia um consenso sobre qual moeda a se usar não
mais válida, e também a aplicação do uso de uma legislação para haver um
consenso.

Vê-se também que o papel do Estado ou de uma legislação não fica limitada a
apenas definir qual moeda será a oficial, mas também de determinar o seu valor
para além da necessidade deste terem suas moedas para a quitação de dividas do
Estado, assim também usando o poder coercitivo para definir qual a moeda usada,
usando-se de leis.

Desse modo, Wray constrói a sua narrativa a respeito da origem da moeda sendo
esta diferindo da história do dinheiro, sendo que a, consolidada ao causa uma
confusão ao denotar que a moeda só tem o seu valor quando passa a ter a forma de
metais preciosos, excluindo as diferentes funções que a moeda exerceu ao longo do
tempo bem como unidade de contas, valor nominal e unidade monetária, e estas
nem sempre tendo o formato de metais que agregassem valor, também deixando
passar as diferentes sociedades que se utilizavam da moeda, mesmo esta não
possuindo uma casa da moeda ao se referir a todas estas como primitivas.

De acordo com os textos aqui analisados chega-se a conclusão de que a teoria do


escambo de Adam Smith não pode ser afirmada ao modelo da teoria original. Sabe-
se que houve diferentes tipos de moedas e sistemas econômicos em sociedades
diversas, no entanto todos distando do modelo idealizado e consolidado. Para isso
mostra-se como exemplo fatos arqueológicos e históricos expondo as trocas e os
meios que facilitavam as trocas bem como estas se organizavam através de agentes
como o estado, tanto para fins organizacionais, bem como a fins de beneficio próprio
como a quitação de suas dividas. Vê-se também que como alternativa ao sistema de
escambo havia as dividas sendo estas organizadas no sistema de débitos e créditos.

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