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MAMEDE, Gladston.

Titulos de Crédito: de acordo com o novo Código


Civil, Lei nº10-1-2002. São Paulo .Atlas , 2003.

Citaçoes 1° capitulo.

1 Evolução histórica dos Titulos de Crédito

1.1 Crédito e Moéda na História

“O crédito é um desses artifícios que atestam a inventividade humana.


Inexistente na realidade física e concreta, os seres humanos, ao longo de sua
evolução histórica, estabeleceram o conceito de crédito e sua prática social,
percebendo não apenas a necessidade de solucionar problemas relativos à
circulação de recursos, mas ainda a oportunidade de otimizar essa circulação.”
(MAMED, 2003. p.21.)

Foi deixado assim o estado de natureza, no qual impera a força física, a


conquista, para ingressar em estagios mais afetos ao Direito; nesse novo
período, os seres humanos, individual ou coletivamente, aproximaram-se na
confiança do contrato, cada qual trazendo o que tinha em excesso e
postulando o que nescessitava. ( , 2003. p.21.)

O escambo, que é essa troca de bens e, eventualmente, de serviços por bens


foi um dos otimizadores do desenvolvimento material humano e, com ele, seu
desenvolvimento intelectual. (MAMED, 2003. p.21.)

O escambo, porém, limita a circulação do recurso, pois implica em uma


conexão de nescessidades que nem sempre ocorre: quem tem óleo e precisa
de sal pode não consegui-lo, pois quem tem sal não quer óleo. (MAMED, 2003.
p.22.)

A inventividade humana atuou uma vez mais, percebendo que alguns produtos,
como o próprio sal eram de comercialização mais fácil e, portanto, aceitá-los,
mesmo deles não precisando, era garantir uma futura troca pelo que se
nescessitasse. (MAMED, 2003. p.22.)

A fundição dos metais e a descoberta de sua ampla utilidade para as


sociedades, bem como a possibilidade de emprego estético de alguns, criaram
um novo valor comunitário de trocas, já que se percebera a possibilidade de,
em todos os lugares, estabelecer um preço que se mensurava com um peso
em ouro, prata, cobre ou bronze. (MAMED, 2003. p.22.)

A moeda foi o coroamento desse processo evolutivo;Estado encarregava-se do


trabalho de pesar unidades padrões de metal, de cuidar da qualidade da liga
empregada, atestando com uma cunhagem específica, lembrando em muito os
sinetes reais que eram usados nos documentos[...].(MAMED, 2003. p.22.)

Em sua forma mais primitiva, as relações humanas negociais tendem a ser


imediatas, as partes estabelecem suas obriagações, expressando sua vontade
vinculativa e dando origem ao contrato, mas executam-no no mesmo momento:
cada qual cumpre o que lhe é devido e a relação cumpre-se num mesmo
momento. (MAMED, 2003. p.22.)

Faz- se nescessário haver confiança para que um dos contratantes conclua


sua parte no negócio e aceite que a outra conclua a sua num outro
momento[...](MAMED, 2003. p.22.)

O crédito nada mais é do que isso: a afirmação de uma faculdade jurídica,


sendo que seu lado oposto, isto é, seu anverso, é obrigação. (MAMED, 2003.
p.22.)

Fundamentalmente, o título de crédito é a expressão literal de uma obrigação,


pois oque não está no título não está no mundo (quod non est in cambio non
est in mundo). Literal, portanto, no sentido que a obrigação, em todo o seu
contorno, está ali expressa, por escrito (litteris). (MAMED, 2003. p.40.)

A abstração é uma característica do título de crédito que serve a sua


autonomia, traduzindo, como princípio (ainda que não absoluto, se verá), a
necessidade de abstrair o negocio que deu origem à cártula como forma de
garantir-lhe autonomia. A abstração do negócio originário permite a autonomia,
pois rompe os laços históricos da relação entre os dois fatos jurídicos,
permitindo ao mercado considerar apenas o segundo, ou seja, considerar
apenas o título que afirma a existência do crédito, representando-o por uma
cártula necessária a seu conteúdo. (MAMED, 2003. p.40.)

MARTINS, Fran. Titulos de crédito. Rio de Janeiro. Forense. 2013.


O crédito, ou seja, a confiança que uma pessoa inspira a outra de cumprir, no
futuro, obrigação atualmente assumida, veio facilitar grandemente as
operações comerciais, marcando um passo avantajado para o desenvolvimento
das mesmas. (MARTINS.2013.p.03)

[...]sendo a utilização do crédito a assunção de uma obrigação, deveria esta,


em tempos passados, ser cumprida apenas pela própria pessoa obrigada.
(MARTINS.2013.p.04)

Surgiram os títulos de crédito, com algumas das características que hoje


possuem, na Idade Média, e esse fato foi mais o fruto de necessidades
momentâneas de caráter mercantil do que um procedimento visando
especialmente à solução de um problema jurídico. (MARTINS.2013.p.04)

O Código Comercial brasileiro regulou as letras de câmbio no Título XVI- Das


letras, notas promissórias e créditos mercantis- Cap. I, arts. 354 e 424. O art.
425 integrante do Cap. II, desse mesmo titulo tratava das “letras de terra”, que
eram “em tudo iguais às letras de câmbio com a única diferença de serem
passadas e aceitas na mesma província”. (MARTINS.2013.p.36)

No Brasil a nota promissória não teve, no Código Comercial uma regulação


especial”. (MARTINS.2013, p.266)

A primeira referência que se tem sobre o uso do cheque no Brasil é a constante


do regulamento do banco da província da Bahia, aprovado pelo Decreto nº 438,
de 13 de novembro de 1845.Nesse Regulamento se dispunha que o banco
receberia “gratuitamente dinheiros de quaisquer pessoas”, cabendo-lhe,
igualmente, “ verificar os respectivos pagamentos e transferências, por meio de
cautelas cortadas dos talões, que devem existir no Banco com a assinatura do
proprietário da tarja, “contando que tais cautelas não sejam de quantia menor
que cem mil réis”. (MARTINS.2013, p.284)

Em 1922, principalmente em virtude de haver a Lei n°4.230, de 31 de


dezembro, instituindo o imposto sobre os lucros líquidos da indústria, o I
Congresso das Associações Comerciais do Brasil, Reunido no Rio de Janeiro
em 18 de janeiro daquele ano, sugeriu ao governo, através de um bem
elaborado anteprojeto, a criação de um titulo referente às vendas mercantis a
prazo, no qual seria fixado um selo pelo vendedor, devendo tal documento ser
assinado pelo comprador e posteriormente devolvido ao vendedor [...] nascia,
com esse anteprojeto, a ideia de duplicata de fatura. (MARTINS, 2013, p.423)

É, assim, o título um perfeito instrumento para circulação dos direitos de


crédito, facilitando, grandemente, as atividades econômicas e mobilizando o
crédito de modo a possibilitar seu uso por um grande numero de pessoas. Isso,
entretanto, só foi possível com a admissão de certos princípios que se
incorporam à natureza dos mesmos e que, por tal razão, hoje os caracterizam.
(MARTINS, 2013, p.09)

Sendo o titulo de credito um documento necessário para o exercício de direitos,


é indispensável que em dito documento estejam expressos esses direitos. Mas
o princípio da literalidade vai mais além: significa que tudo que está escrito no
título tem valor e, consequentemente, o que nele não está escrito não pode ser
alegado. (MARTINS, 2013, p.09)

Significa a autonomia o fato de não estar o cumprimento das obrigações


assumidas por alguém no título vinculado a outra obrigação qualquer, mesmo
ao negócio que deu ligar ao nascimento do título. (MARTINS, 2013, p.10)

A abstração do direito emergente do título significa que esse direito ao ser


formalizado o título, se desprende de sua causa, dela ficando literalmente
separado. Se o titulo é um documento, portanto concreto, real, o direito que ele
encera é considerado abstrato, tendo validade, assim, independentemente de
sua causa. (MARTINS, 2013, p.09)

ALMEIDA, Amador Paes. Teoria e prática dos títulos de crédito. 30ª ed.
São Paulo. Saraiva. 2014.

Originalmente adotou-se como instrumento de trocas os produtos de uso


comum, como o gado e o sal. Num processo evolutivo passou-se à fase
metálica e, posteriormente, à fase financeira, surgindo em conseguencia o
papel-moeda, também chamada de moeda fiduciária. É a circulação das notas
de papel moeda, fundada na confiança do Estado-emissor ou do
estabelecimento a que o Poder Público incumbe a emissão[...]
(ALMEIDA.2014.p.20)

Assim, da chamada economia natural ( troca in natura) passou-se a fase


monetária, caracterizada já pela moeda como instrumento de troca ou
denominador comum de valores. (ALMEIDA.2014.p.20)

Finalmente, da economia monetária chegou-se à economia creditória,


ampliando-se, como se vê, O conceito de troca. (ALMEIDA.2014.p.20)

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. 4ª ed.


Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014.

Desde que o homem deixou de produzir bens apenas para a sua própria
subsistência, podemos verificar, ao longo da história, um lento e gradual
processo de criação de instrumentos comerciais que tornaram as trocas mais
rápidas e mais seguras. O título de crédito é um desses instrumentos.
(RAMOS,2014.p.400)

O primeiro deles é o período italiano, que vai até o ano de 1650. Nesse período
inicial, possuem destaque as cidades marítimas italianas onde se realizavam
as feiras medievais que atraíam os grandes mercadores da época. Outra
característica importante desse período é o desenvolvimento das operações de
câmbio, em razão da diversidade de moedas entre as várias cidades
medievais. Surge o câmbio trajetício, pelo qual o transporte da moeda em um
determinado trajeto ficava por conta e risco de um banqueiro. Esse câmbio
trajetício se instrumentalizava por meio de dois documentos: a cautio, apontada
como origem da nota promissória, por envolver uma promessa de pagamento
(o banqueiro reconhecia a dívida e prometia pagá-la no prazo, lugar e moeda
convencionados), e a littera cambii, apontada como origem da letra de câmbio,
por se referir a uma ordem de pagamento (o banqueiro ordenava ao seu
correspondente que pagasse a quantia nela fixada). (RAMOS,2014.p.401)

O período francês, que vai de 1650 a 1848. Merece destaque, nessa fase do
direito cambiário, o surgimento da cláusula à ordem, na França, o que
acarretou, consequentemente, a criação do instituto cambiário do endosso, que
permitia ao Beneficiário da letra de câmbio transferi-la independentemente de
autorização do sacador. (RAMOS,2014.p.401)
De 1848 a 1930, o direito cambiário viveu a terceira fase de sua evolução
histórica. Trata-se do período alemão, que se inicia com a edição, em 1848, da
Ordenação Geral do Direito Cambiário, uma codificação que continha normas
especiais sobre letras de câmbio, diferentes das normas do direito comum. O
período alemão é bastante destacado pelos doutrinadores por ter consolidado
a letra de câmbio, especificamente – e os títulos de crédito, de uma forma geral
– como instrumento de crédito viabilizador da circulação de direitos.
(RAMOS,2014.p.401)

Por fim, a quarta e última fase da evolução histórica do direito cambiário


corresponde ao chamado período uniforme, que se iniciou em 1930, com a
realização da Convenção de Genebra sobre títulos de crédito e a consequente
aprovação, no mesmo ano, da Lei Uniforme das Cambiais, aplicável às letras
de câmbio e às notas promissórias. No ano seguinte, foi aprovada a Lei
Uniforme do Cheque. Cabe ressaltar que as leis uniformes genebrinas
receberam forte influência da já mencionada Ordenação Geral Alemã de 1848.
(RAMOS,2014.p.401)

O conceito de título de crédito unanimemente aceito pelos doutrinadores é o


que foi dado por Cesare Vivante. O grande jurista italiano definiu título de
crédito como o documento necessário ao exercício do direito, literal e
autônomo, nele mencionado. (VIVANTE,2006 apud, RAMOS, 2014)

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial: Direito da Empresa.


23 ed. São Paulo Saraiva 2011.

Os títulos de crédito são documentos representativos de obrigações


pecuniárias. Não se confundem com a própria obrigação, mas se distinguem
dela na exata medida em que a representam.(COELHO,2011,p.265)

Negrão, Ricardo Direito empresarial : estudo unificado. 5ª. ed. São Paulo :
Saraiva, 2014.

Direito Cambiário brasileiro as leis nacionais e a Convenção de Genebra para a


uniformização das letras de câmbio e notas promissórias. Em regra, a lei
posterior (Lei Uniforme de Genebra) prevalece. Entretanto, quando ocorre
colidência entre a LUG e as leis nacionais, deve-se verificar a existência de
reserva do legislador pátrio. Quanto às letras e notas promissórias, o Brasil fez
expressa reserva dos arts. 2º, 3º, 5º, 6º, 7º, 9º, 10, 13, 15, 16, 17, 19 e 20 do
Anexo II[...] (NEGRÂO, 2014, p.145)
A cartularidade ou incorporação invoca a necessidade ou indispensabilidade,
isto é, sem o documento não se exerce o direito de crédito nele mencionado. A
pessoa detentora do título – de boa-fé – é reconhecida como credora da
prestação nele incorporada e, inversamente, sem a apresentação do título não
há como obrigar o devedor a cumprir a obrigação inscrita no título. (NEGRÂO,
2014, p.144)

FÜHRER, Maximilianus Claudio Américo. Como Aplicar as Leis Uniformes


de Genebra. Revista Justitia: MPSP A revista do Ministério Público de
Estado de São Paulo, São Paulo, v. 41, p.123-125, abr. 1979.

A lei Uniforme das letras de e promissórias, e a lei uniforme do cheque, foram


elaboradas por convenções internacionais, realizadas em Genebra, em 1930 e
1931. Estas convenções foram aprovadas pelo Decreto n.57.59, de 7 de janeiro
de 1966 (cheques)e pelo Decreto de n.57.663 de 24 de janeiro de 1966 (letras
e promissórias). (FÜHRER.1979.p.123)

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Títulos de crédito e contratos


mercantis.7ª. ed. – São Paulo : Saraiva, 2011.

Dessa forma, quando determinada obrigação gera a emissão de um título,


verifica-se que, enquanto o documento ou cártula corporifica o direito a um
crédito[...] (GONÇALVES,2011, p.11)

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