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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Faculdade Nacional de Direito


Disciplina: Direito Comercial
Semestre Letivo: xx
Prof.: xx

Aluno: abc

Fichamento sobre artigo “O conceito de valor mobiliário”

Face às complexidades características à matéria e na tentativa de definir ao


menos a divisão de competências, o legislador brasileiro seguiu lição norte-americana
e definiu valor mobiliário de forma exemplificativa. Doutrinariamente, no entanto, não
foram dispensados esforços em trilhar a mesma via seguida pela tradição europeia,
buscando-se incessantemente precisar o conceito de valor mobiliário, visto que,
conforme o autor do texto eloquentemente expressa, “a imaginação humana é mais
ágil e anárquica do que o ordenamento legislativo”.

Inicialmente, através de uma análise histórica do surgimento do valor


mobiliário, o autor busca esclarecer as razões que impulsionaram a utilização de
papéis representativos de crédito na sociedade europeia. A evolução do uso de
moedas para os papéis de crédito surgiu a partir de uma forma de contornar as
dificuldades enfrentadas pelo entesouramento estatal de moedas preciosas, ato que
causava dificuldades às transações que envolviam suntuosas somas monetárias. Por
outro lado, o transporte de títulos de crédito se dava de forma mais simples e, por
consequência, mais segura do que bolsas carregadas por moedas compostas por
densos metais preciosos. A ampliação das operações envolvendo crédito, por fim,
culmina no surgimento da cambial.
Com o fim de deslindar o emaranhado conceitual referente aos valores
mobiliários, especialmente no que se refere ao entendimento pátrio, o artigo aborda o
processo de desenvolvimento teórico e prático das tentativas de se encapsular tal
ideia, de maneira não apenas que se possibilitasse o entendimento da matéria, mas,
também, que delimitasse o escopo da atuação dos órgãos do poder executivo federal.
Um ponto chave para a delimitação, ao menos no contexto prático, do conceito de
valores mobiliários surgiu em 1965, com a lei que criou a Comissão de Valores
Mobiliários, órgão responsável pelo controle dos valores mobiliários emitidos pelas
sociedades anônimas e ofertados ao público.
Visto que no sistema legal brasileiro inexiste o conceito de valor mobiliário, os
doutrinadores buscaram designar esta ideia dentro do universo teórico mais próximo:
o dos títulos de crédito. Não surge sem óbice, no entanto, esta tentativa teórica de
relacionar ambos os conceitos. Isto, pois, os valores mobiliários ora surgem como
títulos de crédito propriamente ditos, ora como títulos de crédito impróprios.
Ao autor, tal embaraço teórico torna imperioso o confronto conceitual entre
título de crédito e valor mobiliários, visando construir um sistema distintamente
brasileiro, o qual absorve conceitos doutrinários italianos, a prática norte-americana e
as características unicamente brasileiras.
Seguindo esta linha, o artigo define os títulos de crédito como a materialização
documental do direito obrigacional creditício nele inscrito, sendo caracterizado pela
integralidade da obrigação e pela independência entre o direito do portador do título
de crédito e a relação entre o credor anterior e o devedor. Ultrapassada esta etapa
conceitual, adentra-se no campo da abrangência dos títulos de crédito, onde se
destaca a importância do doutrinador italiano Cesare Vivante, que dividiu os títulos de
crédito, de forma geral, dentro de quatro categorias, firmando a letra de câmbio como
o ponto chave desta teoria.
Fugindo da ótica exposta pela teoria de Vivante, o artigo expõe as
características apontadas por diversos doutrinadores contemporâneos que buscam
elucidar o ponto que distingue os títulos de crédito, tais quais o volume de títulos
emitidos para alguns, o prazo entre a emissão e resgate dos títulos para outros e,
ainda, em terceira hipótese, a condição de fungibilidade dos valores mobiliários,
situação não encontrada entre os títulos de crédito. Através desta terceira hipótese, os
títulos de crédito seriam aqueles que, mesmo emitidos em grande quantidade,
possuem caráter não-fungível.
Todo este apanhado teórico apresenta importância prática quanto à proteção
cabível ao investidor, que, diferentemente do administrador, não possui todas as
informações do negócio ao qual aporta seu capital e nem detém controle sobre as
atividades que serão exercidas. Cabe ao Estado, portanto, fornecer ao investidor a
proteção do registro prévio, o fornecimento de informações detalhadas e a fiscalização
de contas e dos atos exercidos pelo ente que emite valor mobiliário no mercado.

Sobrepujadas as definições de títulos de crédito, Ary Mattos Filho passa a


delimitar, em seu texto, um conceito para valor mobiliário. Para tanto, o autor elucida
a raison d’être da Comissão de Valores Mobiliários e o papel que a esta cabe.
Conforme pontua o autor, caso não existisse órgão regulador, o acesso ao mercado de
capitais seria indiferente à existência ou não de conceito de valor mobiliário. A
contínua busca por tal conceito, então, surge em função de sua funcionalidade, através
da qual o Estado intervém na realidade econômica.
Abordando, através de um apanhado histórico estadunidense, os motivos pelos
quais seria de interesse social a intervenção estatal no mercado econômico, o texto
passa a definir quais são as características que definem o valor mobiliário, quais sejam:
contribuição para o investimento; empreendimento comum; expectativa de lucro;
caracterização do empreendimento; contrato de risco; controle do empreendimento;
materialização do valor mobiliário; e falta de especialização.
Dessarte, suscintamente conclui o autor que o “valor mobiliário é o
investimento oferecido ao público, sobre o qual o investidor não tem controle direto e
cuja aplicação é feita em dinheiro, bens ou serviços, na expectativa de lucro, não
sendo necessária a emissão do título para a materialização da relação obrigacional.”

Por meio da análise dos elementos expostos, pode-se intuir que determinados
títulos de crédito, em certas circunstâncias, são considerados valor mobiliário,
enquanto em outras, não há essa correlação. Isto depende não apenas das qualidades
constitutivas daquilo que se analisa, mas também da intenção do investidor. O
resultado destas análises é, portanto, que, enquanto aos títulos de crédito vale a
forma jurídica rígida, literalidade e autonomia, ao valor mobiliário se aplica uma
definição mais elástica, valendo a realidade econômica que motiva o ato.

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