Você está na página 1de 13

UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

Tema: Autonomia e natureza jurídica do Direito Financeiro

Albino Jorge

Código

Nampula, aos 14 de Agosto de 2022 1


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

Tema: Autonomia e natureza jurídica do Direito Financeiro

Trabalho de campo de Direito


Financeiro a ser submetido na
coordenação do curso de Direito na
UnIsced do 1º ano

Código

Nampula, aos 14 de Agosto de 2022

2
Índice

Introdução..........................................................................................................................4

1. Autonomia e natureza jurídica do direito financeiro.....................................................5

1.1. Natureza do Direito Financeiro..................................................................................5

1.2. Autonomia jurídica.....................................................................................................5

2. Autonomia financeira no Direito Financeiro.................................................................7

3. Autonomia financeira como ponto de descentralização económica..............................9

4. Relação do direito financeiro com outros ramos de direito.........................................10

Conclusão........................................................................................................................12

Bibliografia......................................................................................................................13

3
Introdução

É de domínio comum que a actividade financeira envolve complexas arbitragens de


interesses e uma estrutura institucional, articulada em razão de fins públicos e do
exercício do poder politico ou da autoridade pública, dai que deve ser regida por normas
jurídicas que determinam a existência de instituições, situações e relações jurídicas.

Neste trabalho queremos discutir exatamente essas normas jurídicas que oferecem a
autonomia, assim como uma natureza jurídica. Para tal, pautaremos em separar em duas
partes na abordagem, primeiramente iremos discutir a questão da autonomia jurídica do
direito financeiro e depois falaremos da natureza do mesmo.

O trabalho fez uma abordagem teórica, examinando formas, modelos, paradigmas e a


constitucionalidade do direito financeiro.

A metodologia utilizada para alcançar os objetivos especificados neste trabalho, foi a


analise da literatura referente ao tema específico e relacionada a outros que o
tangenciam, pautando-se na análise transdisciplinar entre Direito e Finança. Foram
explorados autores nacional e internacional para substanciarem o debate aqui trazido. O
método utilizado foi o dedutivo.

4
1. Autonomia e natureza jurídica do direito financeiro

Assim como afirmamos na introdução, a actividade financeira do Estado consubstancia-


se por ser “o conjunto de acções que o Estado desempenha com o objectivo de obter
recursos económico-financeiros necessários para sua sustentabilidade, visando a
realização das receitas, dos gastos e despesas (previstas) para a concretização das
necessidades colectivas/públicas” (Carlos, 2000, p. 52).

Sendo assim, o Estado deverá munir-se de um conjunto de normas jurídicas que


disciplinam a sua actividade financeira e dos demais entes públicos, direito financeiro,
de modo que o exercício seja eficaz.

Neste sentido, entende José (2011), deparamo-nos com a existência de um conjunto de


princípios ou de regras que regulam a actividade financeira do Estado que se estenderá
em dois planos: Natureza e Autonomia jurídica.

1.1. Natureza do Direito Financeiro

Quando falamos da natureza do direito financeiro mananceia o critério do interesse,


quer o da posição dos sujeitos, quer ainda o da qualidade em que estes intervêm na
relação jurídica, é pacifico entre os doutrinários de que o Direito Financeiro é um ramo
do Direito Público não só por se destinar à realização de interesse colectivo, mas
também pelo facto de nele o sujeito activo aparecer na sua veste de ente publico,
investido de poderes e garantias de que não desfruta um sujeito passivo.

Sendo assim, podemos deduzir em concordância com Celso (1995, p. 73), que “as
normas de Direito Financeiro, possuem o Poder de conceder as entidades publicas a
possibilidade de terem orçamentos próprios, e de os gerir de acordo com as respectivas
despesas e receitas, decidindo apenas sobre elas, natureza orçamental”.

1.2. Autonomia jurídica

A questão de autonomia jurídica é precisamente procurar saber se estamos ou não


perante um conjunto de normas referentes a uma matéria ou área institucionalizada da
vida social, susceptível de construir um subconjunto normativo organizado em torno de
princípio comuns e técnicas regulamentares.

5
Até hoje, ainda há muita discussão quanto a questão da autonomia do Direito
Financeiro, não existe posições homogéneas, na medida em que há autores que
consideram que “o Direito Financeiro não é um ramo de direito autónomo por incluir
normas de direito privado como por exemplo nas receitas patrimoniais, pois a obtenção
destas receitas é disciplinada por direito privado tais como direito das obrigações”
(Teodoro, 2011, p. 56).

Enquanto isso, outros autores partilham a ideia de que o Direito Financeiro goza de
plena autonomia perante o Direito Administrativo, devido às feições da actividade
financeira, ao conteúdo próprio das normas e do seu método.

A autonomia de qualquer ramo de conhecimento pode nos levar a pensar numa ideia de
isolamento, de independência, relativamente a qualquer outro ramo, só que tal
isolamento tal independência não, não pode ser levado ao extremo ou seja tida em
termos absolutos porque não existe ramos de direito que prescindem dos conhecimentos
ou ligações e dependências, porque o Direito é uno e incidível, pelo que autonomia de
qualquer dos seus ramos será sempre relativa e um tanto convencional se não teórica.

No entender de Brito (2011), a autonomia de uma disciplina jurídica não se pretende


significar se não que os conceitos por ela elaborados são independentes das concepções
particulares de outras disciplinas quer para integração de lacunas quer para
interpretação.

É nesse ponto que a sua função própria, decorrem conteúdos normativos próprios e
regimes específicos de Direito Financeiro e conjunto de regras e princípios do Estado
moderno, constitucional, Liberal e democrático, não há dúvidas de que o Direito
Financeiro é autónomo, porque tem leis próprias e um sistema de fontes próprias, é uma
disciplina científica no plano curricular dos estudos e tem alguns dos seus regimes
importantes, por exemplo, a vigência anual dos orçamentos de receita e de despesa; o
carácter da legalidade da despesa; inexistência de privilégio de execução prévia; a
decisão parlamentar sobre as receitas e despesas o sistema de controlo e fiscalização.

Nessa ordem de ideia, concordando com Timbe (2014), terá uma autonomia legislativa
por conta dessas leis próprias; uma autonomia didática e científica por conta de ser uma
disciplina nas universidades. Na medida em que, algumas entidades públicas poderão
decidir sobre as suas próprias receitas, autonomia de receitas, e do seu património,

6
autonomia patrimonial, que consistirá no poder das entidades públicas possuirem o seu
património, e deterem poderes de gestão sobre o mesmo.

Quanto a Autonomia Creditícia, versará ou consistirá na faculdade que determinada


entidade pública possui para recorrer ao crédito, assumindo as correspondentes
responsabilidades. Por fim, e quanto ao poder de gerir automaticamente os recursos
monetários próprios em execução ou não do orçamento, consistirá na Autonomia de
Tesouraria.

Ao preceituado sobre Autonomia de Tesouraria, surge o conceito de Desorçamentação,


ou seja, uma actividade orçamental paralela ao orçamento do Estado, que deverá ser
feita em conformidade e de acordo com a lei.

2. Autonomia financeira no Direito Financeiro

O termo autonomia “tem origem grega e remete à ideia de auto governo ou


emancipação” (António, 2010, p. 53). Omesmo termo foi inicialmente empregado no
seio da democracia grega para indicar as formas de governo (a polis), (Carlos, 2000), ou
seja, a noção de autonomia estava circunscrita à forma de governo.

Na prespectiva grega, ter autonomia era o poder de governar a sociedade (que era
composta apenas dos cidadãos, conforme concebidos à época, excluídos, por exemplo,
escravose mulheres) segundo as leis de regência. Pode-se perceber também autonomia
como a “capacidade que um ser tem para deliberar, istoé, calcular os meios necessários
para atingir um fim, e para escolher” (Ricardo, 2004, p. 72).

Em outras palavras, é autónomo,aquele que é “capaz de agir livremente, de deliberar


sobre seusobjectivos pessoais e de agir na direcção desta deliberação”(Brito, 2016, p.
48). Não se deve confundir Autonomia da Independência. De acordo com Brito (2016,
p. 52) conceitua estes dois termos na seguinte maneira:

A Autonomia significa o exercício do auto governo, auto-regulação,


livre-escolha, privacidade, liberdade individual e independência moral
deexperienciar os eventos de vida com harmonia com os próprios
sentimentos enecessidades e Independência é a capacidade funcional, isto
é a capacidade derealizar as actividades básicas do nosso dia-a-dia
(alimentar-se, fazer a higiene pessoal, ir ao toalete, tomar banho, vestir-
7
se, se locomover, etc.) e actividadesinstrumentais da vida diária (fazer
compras, pagar as contas, usar meio detransporte, preparar uma refeição,
cozinhar, cuidar da própria saúde, manter sua própria segurança) a ponto
de sobreviver sem ajuda para o autocuidado e omanejo instrumental da
vida.

Sendo assim, podemos tomar o exemplo das autarquias, que em função da legislação
autárquica moçambicana, o que foi concedido aos municípios é mesmo autonomia, o
que faculta-lhes elaborar, aprovar e executar os respectivos planos de actividadese
orçamentos dentro dos limites que a lei lhes atribui.

Porém, não são independentes aos órgãos centrais do Estado, visto que, ainda que
elaborado e aprovado localmente, os orçamentos,devem ser ractificados pelo ministério
de tutela, nos termos do artigo 11 da Lei nº 1/2008, de 16 de Janeiro. Os actos
administrativos das autarquias locais estão também sujeitos averificação da legalidade
nos termos da lei, conforme estabelece o nº 2 do artigo 277 da Constituição da
República de Moçambique.

Obviamente que este termo “Autonomia”, em seu significado mais sucinto e objectivo,
podeser aplicado a qualquer instituto ou instituição com relativa autonomia. Nos nossos
dias, o conceito de autonomia passa, a aplicar-se às instituições com atribuições legais
para gerar receitas e delas aplicar ou financiar actividades próprias ou de interesse, isto
é, “agir livremente de acordo com um plano escolhido por ele mesmo, da mesma forma
que umgoverno independente administra seu território e define suas políticas” (Celso,
1995, p. 110).

É neste entendimento que as autarquias locais, são pessoas colectivas de direito público
com autonomia, entre outras, a financeira. Pelo que, elas escolhem as suas actividades,
estabelecem as respectivas receitas e aplicam nas despesas que julgam pertinentes, em
observância aos preceitos legais que a lei lhes impõe. Este poder de estabelecer receitas
subentende-se como sendo o ponto fulcral da autonomia financeira que se concretiza na
sua aplicação em serviços demandados pelos munícipes.Atendendo que as autarquias
sobrevivem de receitas provenientes de suas cobranças através de taxas e tarifas, então a
exigibilidade e eficiência de seus serviços devem ser ofertados com a devida qualidade.

8
3. Autonomia financeira como ponto de descentralização económica

O pressuposto da autonomia financeira é o calcanhar duma autonomia plena, o contrário


é uma utopia. Só se pode ser autónomo se as autarquias tiverem capacidade de se auto
sustentar, isto é, colectar receitas próprias suficientes para satisfazer as necessidades
locais. Legalmente, não há dúvidas que as autarquias são autónomas, mas não basta que
elas sejam somente autónomas, precisa que tal autonomia seja garantida com as
condições objectivas locais disponíveis para sustentar suas obrigações. Daí que Pereira
(2005) considera que:

Um dos grandes desafios para que a descentralização seja realmente


efectiva, éque as autarquias locais disponham de recursos que lhes
permitam desenvolvero seu programa de actividades em boas condições.
Em outros termos, se asautarquias locais não dispusessem de recursos
suficientes, a sua existência seriaapenas uma ficção (Pereira, 2005, p.28).

Portanto, não há que se falar em autonomia local plena sem recursos financeiros
apropriados. A autonomia financeira é a que advém fundamentalmente de receitas
fiscais próprias que possibilitam uma menor dependência das verbas da Administração
Central. Entretanto, esta dependência não se mostra ser em menor escala, visto que, ela
é quase total na maioria dos municípios do país, exceptuando os de nível A e B, que
conseguem pagar salários de funcionários, remunerações dos Titulares e Membros dos
Órgãos das Autarquias Locais dentro dos limites fixados por lei e ainda financiar seus
programas.

O termo autonomia fica sufocado quando o grau de dependência é extremamente


excessivo. Autonomia financeira pode ser entendida como a capacidade conferida ao
ente para arrecadar e dispor dos recursos que lhe são atribuídos pelo legislador (Brito,
2016, p.70). E para Paulo Trigo Pereira, significa

a capacidade de gestão e aplicação dos recursos destinados a prover


asactividades e serviços do órgão titular da dotação. Essa autonomia
pressupõe aexistência de dotações que possam ser livremente

9
administradas, aplicadas eremanejadas pela unidade orçamentária a que
forem destinadas (Pereira, 2005, p. 63).

António (2010), a descentralização como um todo, é eficiente se as autarquias locais


dominarem, verdadeiramente, as suas finanças. Em sentido contrário, a descentralização
émeramente aparente se as autarquias locais não beneficiarem de uma
autonomiafinanceira real ainda que possuam, além disso, largas competências.

Um dos paradoxos que se vive no nosso país a nível das autarquias são as colectas que
não cobrem nem um terço das necessidades orçamentadas para um dado exercício, outro
paradoxo reside na iniciativa decriação de impostos (receitas fiscais), quer gerais, quer
autárquicos, só a lei se reserva ao Parlamento, conforme consta da Constituição.

4. Relação do direito financeiro com outros ramos de direito

De acordo com Tembe (2014), há uma relaçao nítida com as outras areas do Direito,
razao pela qual apresenta a relaçao que a baixo transcrevemos. Para este autor, a ordem
jurídica é um todo unitário e não existem compartimentos estaques, mas uma
interdependência, quer de princípios e soluções dogmáticas, assim, o Direito Financeiro
tem influencia com os seguintes ramos de Direito:

Direito Constitucional – Partindo do pressuposto de que a Constituição é a Lei mãe,


onde se estabelece as competências e atribuições dos vários órgãos e define os
princípios fundamentais em que assenta a vida da política financeira. Para efeito é de
referir as disposições constitucionais dos artigos 126 e seguintes; artigo 179, alinea m),
o)p); artigo 206 nº1 alinea a) 228 e seguintes

Direito Administrativo – O Direito Financeiro mantém com Direito Administrativo


relações importante por conta de que a actividade financeira implica o funcionamento
de órgãos da Administração Pública

Direito Penal – é onde o Direito Financeiro vai buscar contributo sobre normas
punitivas relativo à violação das leis financeiras em especial as tributárias.

Direito Processual – é onde vai buscar contributo para o processo através do qual se
aplicam as sanções por violação as leis financeiras e se realiza a cobrança coerciva das

10
dividas do Estado bem como os mecanismos de o contribuinte opor-se validamente aos
actos ilegais da Administração Financeira do Estado.

Direito Internacional – Não obstante o Direito Financeiro se circunscrever à ordem


juridica interna, existem situações de relacionamento com o Direito Internacional,
concretamente no dominio de tributação onde temos convenções bilaterais ou
multilaterais para eliminar as situações de evasão fiscal ou dupla tributação. Por outro
lado temos a situação de cooperação entre os Estado em que mutuamente se concedem
emprestimos ou por via de Organizações Internacionais.

11
Conclusão

Diante o exposto, podemos compreender que a natureza e a autonomia financeira sao


elementos fundamentais na compreensao do Direito financeiro. No que diz respeito a
autonomia financeira, nao se pode confundir de jeito nenhum com a independencia
economica, por isso durane a explanaçao tomamos o exemplo dos municípios para fazer
jus a esta problemática.

Igualmente, a intervenção do Estado nas finanças locais nao deve ameaçar a liberdade
dos municipios se desdobrarem, mas devem estimular o seu crescimento e auto
sustentabilidade. Portanto, o Estado passa a atuar em prol da justiça social por meio de
uma distribuição justa de renda, e finalmente, passa a atuar na actividade econômica
como empresárial, tendo como intuito conseguir mais prontamente metas que
demandariam maior tempo pelos particulares.

Contudo, tal atuação deve acontecer apenas dentro das limitadas hipóteses
constitucional. De tal modo, o Estado só atua nas situações em que há interesse coletivo
relevante ou pela manutenção da soberania nacional.

12
Bibliografia

António, S. F. (2010). Finanças Públicas e Direito Financeiro, Volume I e II. (4ª ed.).
Coimbra: Editora Almedina.

Brito, L. Castelo-Branco, C. et all. (2016). Desafios para moçambique. Maputo: iese.

Celso, R. B. (1995). Curso de Direito Financeiro e do Direito Tributário. Lisboa:


Editora Saraiva.

Perreira, P. T. (2005). Economia e Finança Pública. Lisboa: editora escolar

José, J. T. R. (2011). Lições de Finanças Públicas. (5ª ed.). Combra: Coimbra Editora.

Ricardo, L. T. (2004). Curso do Direito Financeiro e Tributário. (3ª ed.). Lisboa:


Edição Renovar.

Carlos R. M. (2000). Manual de Direito Financeiro e Finanças. (2ª. Ed.). Brasília:


Jurídica.

Tembe, R. A. (2014). Manual do Curso de Licenciatura em Direito: Direito Financeiro


– 2⁰ ano. Beira: ISCED.

Teodoro A. W. (2011). Direito Financeiro e Finanças Publicas. Maputo: W&W


Editora.

13

Você também pode gostar