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Por Direito Financeiro designa-se o conjunto de normas jurídicas que regulam a actividade
económica do Estado ou outro ente público com vista à afectação de bens para a satisfação de
necessidades sociais, isto é, as normas que regulam a obtenção, a gestão e o dispêndio dos meios
financeiros públicos ou, ainda, o ramo do Direito que disciplina juridicamente a actividade do
Estado.
O Direito Financeiro projecta-se para além de normas internas de organização, para as garantias
dos particulares e para os princípios da autorização, legalidade, controlo e intervenção judicial. A
actividade financeira concretiza-se em receitas e despesas que dão origem a complexas arbitragens
de intervenção nas relações entre os particulares e o Estado que, num Estado de Direito, têm que
submeter-se a normas jurídicas, e a uma organização em razão dos fins públicos.
Qualquer que seja o critério perfilhado – o do interesse, o da posição relativa dos sujeitos ou da
qualidade em que intervêm na relação jurídica – é pacífica a qualificação do Direito Financeiro
como um ramo do Direito Público.
É certo, pelo que temos vindo a estudar, que este ramo – o Direito Financeiro – prossegue a
realização de interesses colectivos, com um dos sujeitos – o Estado – investido de garantias e
poderes próprios.
A existência de receitas patrimoniais em regra disciplinadas pelo Direito Privado não retira a
homogeneidade deste Direito tão pouco as características já enunciadas que o enquadram no
Direito Público.
O Direito Financeiro, tal como qualquer ramo de Direito, caracteriza-se por ter uma função própria
de que decorrem conteúdos e normativos próprios e regimes específicos, autónomos, coerentes,
axiológica e normativamente unidos, e por ter instituições e vida próprias. Estas características
delimitam-no como um ramo de Direito com uma relativa e convencional autonomia.
Entende-se, pois, que o Direito Financeiro não é estanque, aceitando normas subsidiárias de
tratamento das matérias no seu âmbito desde que não se confrontem com os princípios próprios do
mesmo.
O Direito Financeiro tem mais afinidades com os seguintes ramos, de que recebe importantes
contributos:
1.4.1 Direito Constitucional
Esta relação é compreensível partindo do pressuposto de que a Constituição é a lei mãe. Dentro do
Direito Constitucional, encontramos algumas normas do Direito Financeiro (arts. 100, 127 e 130
da C.R.M).
O Direito Financeiro busca no Direito Penal, os contributos sobre as normas punitivas relativas à
violação dos seus preceitos.
Há aspectos da actividade do Estado que são regulados pelo Direito Privado, tal é o caso, por
exemplo, dos empréstimos públicos.
Do Direito Tributário destaca-se o Direito Fiscal que é relativo ao mais importante sector das
receitas coercivas, de carácter unilateral, que são os impostos.
A lei é o processo de formação ou criação do Direito que se traduz numa declaração solene e
directa da norma jurídica por meio de um órgão competente.
A palavra lei pode ter, para além da aceitação de Direito, os seguintes sentidos:
O Costume constitui outro processo de formação do Direito distinto da lei. Define-se e consiste
numa prática social constante, acompanhada do sentimento da obrigatoriedade da norma
correspondente.
A jurisprudência é outra fonte de Direito. Este termo tanto se usa para significar a orientação
geral seguida pelos tribunais no julgamento dos diversos casos concretos da vida real, como para
significar o próprio conjunto das decisões, despachos, sentenças, acórdãos e assentos.
Das tradicionais fontes de Direito apenas a lei é que pode ser apontada como a fonte intencional
imediata por excelência, justificando-se o estudo das suas diversas manifestações:
1.6.3.1 Constituição
1.6.3.3 Decretos
1.6.3.4 Regulamentos
Não só porque os decretos remetem certa regulamentação ao Ministro mas também porque
órgãos infraestaduais. como as Autarquias Locais podem no âmbito do exercício do poder
descentralizado disciplinar certas matérias com relevância financeira, podíamos incluir o
Regulamento como fonte de Direito Financeiro. A Regulamento pode apresentar-se revestido de
Postura, Resolução, Circular, Diploma Ministerial. O certo é que não poderá disciplinar matéria
exclusivamente reservada pela Constituição à lei, por esta reservada aos Decretos, nem pode
contrariar o que nelas se estatui.
A eficácia das normas financeiras no tempo recomenda a uma determinação e resolução de quatro
questões, nomeadamente, o início da sua vigência; a sua cessação; a sua sucessão; e o seu espaço
de aplicação.
A lei só ganha eficácia com a sua publicação no Boletim da República que é o nosso jornal oficial1.
Feita a publicação da norma, o início da sua vigência poderá ser o da data da sua publicação (casos
em que, geralmente escreve-se imediatamente em vigor) ou da data ou prazo nela fixada.
Fora destes casos, de início da vigência expresso, pode acontecer que o início da vigência seja
omisso.
Neste caso, observar-se-ão, em primeiro lugar, as regras em vigor no código civil sobre a vacatio
legis.
A aplicação das leis financeiras no tempo deve seguir as regras dos artigos 12 e 13 do código civil
(Retroactividade ou não das leis).
1
N° 1 do Artigo 5 do Código Civil
1.9 Finanças Públicas
Por finanças públicas designa-se a realidade económica de um ente público, ou com funções
públicas, tendente a afectar bens à satisfação de necessidades que lhe estão confiadas ou, dito
doutro modo, e aproximadamente, as finanças públicas referem-se à aquisição e utilização de
meios financeiros pelas entidades públicas que incluem o Estado, as autarquias e entidades
paraestaduais.
É uma clara sobrevalorização da actividade financeira do Estado, ou seja, dos aspectos ligados à
manipulação dos meios necessários, em detrimento das demais actividades que o sector público é
susceptível de desenvolver.
O objectivo das Finanças Públicas abrange o estudo de todos os aspectos que envolvem a
utilização, pelo sector público, de recursos económicos, tendo em vista alcançar adequados níveis
de emprego, crescimento, desenvolvimento e de distribuição do rendimento, através de bens ou da
prestação de serviços.
a) Sentido Orgânico
Neste sentido orgânico, Finanças Públicas designa Órgãos do Estado ou de outro ente público
competentes para gerir os recursos económicos com vista à satisfação de certas necessidades
sociais (ex: Ministério do Plano e Finanças, Conselho Municipal).
b) Sentido objectivo
Objectivamente, Finanças Públicas significa a actividade através da qual o Estado ou outro ente
público afecta bens económicos à satisfação de certas necessidades sociais.
c) Sentido subjectivo
Neste sentido a expressão Finanças Públicas é usada para identificar a Disciplina Científica que
estuda os princípios e leis que regem a actividade do Estado com o fim de satisfazer necessidades
sociais.
O Estado tem necessidades a satisfazer tanto quanto os particulares, não obstante haja diferenças
entre as características de actividade financeira desenvolvida por uns e outros, particularmente nos
modos de financiamento.
Os meios de financiamento usados pelos particulares, incluídas aqui também as empresas privadas,
são de natureza contratual, havendo sempre uma relação de troca que tem o preço como a
expressão da contraprestação.
Não que o Estado não possa recorrer a este tipo de financiamento, mas é certo que esta receita não
é significativa. As mais significativas receitas não provêem de um exercício que implique
contraprestação do Estado ao cidadão, decorrendo do exercício do seu imperium.
O facto de o Estado dispor de impostos seria, pois, a primeira diferença a registar entre Finanças
Públicas e finanças privadas.
A outra, que deve ser entendida habilmente, reside no facto de os privados determinarem as
despesas em função das suas receitas efectivas enquanto que o Estado através de vários meios, o
mais poderoso dos quais é o imposto, não subordina estritamente as suas despesas às receitas.
Por fim, enquanto o fim último das finanças privadas é produzir o lucro, conseguido pela produção
de bens ou serviços com despesas mínimas e sua venda pela receita máxima, o Estado não tem
como fim contabilizar receitas superiores às despesas, preordenando-se à satisfação de
necessidades colectivas.
2. Actividade financeira do Estado
Portanto, onde há utilização de meios económicos por entidades públicas, há actividade financeira.
Considere-se uma hipotética produção de material escolar por uma empresa. Esta empresa pratica
um determinado nível de preços, traduzindo as condições de produção e os custos dos diferentes
factores de produção. O Estado, verificando que, aos preços praticados, 90% dos alunos -
correspondendo a famílias de baixos rendimentos – não tem acesso àquele material escolar, e face
ao interesse de que se reveste a utilização daquele produto para os seus objectivos na área da
educação, o Estado decide adquirir o material escolar à empresa e proceder à sua posterior venda
aos alunos a preços diferenciados, quiçá bonificados, consoante o rendimento do respectivo
agregado familiar. O Estado afectou, assim, parte das suas receitas à subvenção de material escolar
que colocou à disposição de um grupo – alvo pré-estabelecido.
2.1.2 Distribuição adequada de rendimentos
A aplicação das receitas obtidas pelo Estado organiza fluxos para as famílias e para as empresas,
determinando a redistribuição do Rendimento Nacional.
O Estado está privilegiadamente colocado para regular o fluxo circular do produto nacional e do
rendimento nacional, e neste contexto adoptar os meios para anular possíveis e indesejadas
flutuações.
Num contexto inflacionista o Estado deve intervir, retirando poder de compra, reduzindo as
pressões sobre a procura e o nível geral dos preços. O Estado actuaria no sentido inverso perante
expectativa de uma redução significativa da procura, evitando crises de sobreprodução e de
capacidade produtiva ociosa.
O crescimento económico, que em termos reais é avaliado pelo crescimento real do produto interno
bruto a um ritmo maior que o crescimento populacional, deverá ser um dos objectivos da política
económica dos governos e da actividade financeira do Estado.
3. Necessidades Públicas
A actividade financeira do Estado, é o objecto das Finanças Públicas, e justifica-se pela obrigação
que o Estado tem de satisfazer necessidades públicas ou colectivas não satisfeitas através da
actividade económica privada, por para elas se exigirem bens de consumo passivo, isto é, que não
exigem nenhuma actividade do consumidor, bastando, para a sua utilização, que existam.
Exactamente porque as necessidades públicas são de satisfação passiva, não exigindo nenhuma
actividade do consumidor, os bens aptos a satisfazê-las são de consumo inexcluível, irrival e
indivisível.
4. Bibliografia:
Sousa, F. A. (1997). Finanças Públicas e Direito Financeiro, 4.a Edição, Coimbra Editora,