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AULA 1 – INTRODUÇAO AO DIREITO FINANCEIRO

A Constituição Federal de 1988 previu um a série de obrigações/deveres a cada um dos entes da federação
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios). É preciso saber quais são as regras e princípios que norteiam as
receitas e despesas públicas, buscando entender como funcionam o orçamento e o endividamento públicos. Sem a
atividade financeira do Estado, não seria possível realizar todas as atribuições em um Estado Democrático e Social de
Direito, como pretende ser a República Federativa do Brasil.

ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

Atividade instrumental que busca recursos financeiros e a sua aplicação (gastos e financiamento) para a
realização das atividades destinadas à consecução das necessidades públicas ou bem comum.

A atividade instrumental mencionada permite verificar que o direito financeiro é uma atividade meio e não
fim, pois não é a finalidade do Estado obter receitas ou realizar despesas, mas ser um meio para que o Estado possa
atingir o seu fim, qual seja: consecução das necessidades públicas ou bem comum (conceitos abstratos que variam
no tempo e no espaço – mudam com o tempo).

A atividade financeira refere-se, também, a um Poder Financeiro, compreendido como uma parcela do
poder estatal (que decorre da sua soberania) que se divide verticalmente entre os entes da federação (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios) e horizontalmente entre os poderes financeiros (administrar, julgar e
legislar).

Hoje, os fins da atividade financeira são vários, como proporcionar policiamento, transporte público, água,
justiça etc. Tudo isso depende de recursos públicos, pois não existem direitos gratuitos; todos demandam recursos
públicos, sendo necessário ter receita para fazer frente a essas despesas.

DIREITO FINANCEIRO

Ramo do direito que estuda o ordenamento jurídico das finanças do Estado e as relações jurídicas
decorrentes de sua atividade financeira que se estabelecem entre o Estado e o particular. Assim, o direito
financeiro busca legitimar essa atividade financeira do estado, buscando no ordenamento a legitimação para
obtenção de receitas e realização de despesas. Ademais, o direito financeiro buscará, também, limitar o poder
financeiro.

DIREITO FINANCEIRO = LEGITIMAÇÃO + LIMITAÇÃO

ASPECTOS DE ESTUDO: Despesa pública, Receita pública, Orçamento público e Crédito Público.

DIREITO FINANCEIRO E A RELAÇÃO COM OUTROS RAMOS DO DIREITO

Embora o direito seja uno e indivisível, é importante tratar o direito financeiro como um ramo autônomo do
direito, dada a sua importância e peculiaridades.
1. Direito Constitucional

Por ser constitucionalizado, onde a CF/88 reserva vários dispositivos para tratar do direito financeiro. É o direito
constitucional que permite o entendimento ao direito financeiro, até porque a repartição de poderes entre os
entes da federação e poderes da República está contida a constituição ou outras normas delegadas pela Carta
Maior.

2. Direito Administrativo

É a Administração Púbica que executa e gere as receitas e despesas públicas.

3. Direito Tributário

Basicamente, o direito tributário é fruto do direito financeiro, visto que o tributo é a principal receita dos
estados modernos, tendo ganhado tamanha importância, principalmente nos últimos 70 anos, passando a exigir
estudos aprofundados. Assim, conseguiu de desvencilhar do direito financeiro e se tornar um ramo autônomo
do direito. Porém, é sempre necessário relacionar os referidos ramos, pois a separação ocorrida é meramente
didática. Ademais, o estudo isolado traz prejuízos à compreensão do direito no Brasil.

4. Direito Privado: civil, comercial, etc.

Fundamentais por haver, no Brasil, o sistema civil law. Ademais, o Estado, muitas vezes se relaciona com o
particular, como se particular fosse, alugando bens, utilizando recursos, etc.

5. Direito Internacional

O relacionamento do Estado brasileiro com organismos internacionais permite a obtenção de recursos e


financiamentos

6. Direito Previdenciário

A seguridade pública é uma das principais despesas do Estado, atingindo diretamente milhões de pessoas que
dependem dos benefícios concedidos.

7. Direito comparado

É necessário conhecer o direito financeiro de outros Estados, entendendo como são resolvidos e solucionados
os problemas, buscando aplicar no direito brasileiro.

DIREITO FINANCEIRO E A RELAÇÃO COM OUTOS SABERES FORA DO DIREITO

1. Ciência Política

Estudar quais as escolhas relacionadas a receitas e despesas, verificar se a tendência é mais de esquerda ou de
direita, etc. Tudo como forma de examinar qual o tipo de organização financeira se tem.
2. Filosofia

Ajuda a entender, ao logo da história, o pensamento da formação do Estado.

3. Sociologia

Visa entender como as pessoas reagem aos incentivos relacionados a receitas ou despesas.

FEDERALISMO FISCAL

Compreendido como estudo da relação entre diferentes entes da federação, conhecendo a divisão de
atribuições, deveres e poderes, bem como repartição de receitas e despesas. No Brasil, a concentração de receita
pela União é de 67% (considerada grande) e o que explica é que o poder no país já nasceu concentrado, onde foi,
paulatinamente, descentralizado para as demais unidades.

PROBLEMA DA CODIFICAÇÃO

Diferente de outros ramos do direito, o direito financeiro não é codificado. Há regras, mas elas estão
esparsas.

FONTES DO DIREITO FINANCEIRO

1. Constituição Federal

Ricardo Lobo Torres vai adiante, denominando-a de “Constituição Financeira”.

1.1 O problema da competência comum

O art. 24 é considerado um importante dispositivo que trata sobre o tema, onde dispõe acerca da competência
dos entes em legislar sobre direito financeiro e orçamento. Observa-se aqui um problema, pois pode haver
normas que entrem em conflito. Assim, é importante atentar que:

a) A União tem competência para tratar de normas gerais e os Estados-membros vão legislar de forma
suplementar sobre o que não foi legislado pela União;

b) Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados-membros legislam sobre normas gerais de forma
plena;

c) Não tendo a União tratado de normas gerias e, como consequência, os Estados-membros tenham legislado
sobre a matéria, havendo, supervenientemente, pela União, a edição de normas gerais e essas venham a
conflitar com as normas editadas pelos Estados-membros, haverá a suspensão da eficácia dessa última, no
que lhe for contrário. Importante esclarecer que a União não tem o condão de revogar norma estadual.
Somente o Estado poderá editar e revogá-la. Aqui, o que se discute não é o plano da validade e da
legalidade, mas sim, da suspensão da norma, pois a lei federal irá se sobrepor, sendo aplicada em
detrimento da norma estadual.
1.2 Normas gerais

Termo abstrato que não há definição. A CF/88 trata de forma meramente exemplificativa o que deve ser feito a
título de normas gerais. Assim, é importante entender que a sua edição ficará a cabo da União e a espécie
normativa cabível é a Lei Complementar, que conforme preceitua o art. 165/CF, disporá sobre:

a) exercício financeiro, vigência, prazos, elaboração e organização do PPA, da LDO e da LOA;


b) normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta, bem como condições para a
instituição e funcionamento de fundos;
c) critérios para a execução equitativa, além de procedimentos que serão adotados quando houver
impedimentos legais e técnicos, cumprimento de restos a pagar e limitação das programações de caráter
obrigatório, para a realização do disposto nos §§ 11 e 12 do art. 166/CF.

Dessa forma, o disposto acima refere-se a temas que são considerados normas gerais e devem ser tratados em
lei complementar. Alguns diplomas trataram sobre normais legais, quais sejam:

a) Lei nº 4.320/1964 (lei ordinária – atentar a explicação no próximo tópico);


Orçamento programa; Classificação das receitas e despesas; Positivação de princípios; Contabilidade
pública: regime de caixa para as receitas e de competência para as despesas; Etapas da execução
orçamentária; Conceito de restos a pagar; Regime Jurídico dos créditos adicionais (suplementares, especiais
e extraordinários); Funcionamento dos fundos especiais e Previsão de balanços obrigatórios.

b) Lei Complementar nº 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal.


Responsabilidade na gestão fiscal

LEI ORDINÁRIA X LEI COMPLEMENTAR

O ponto principal está em saber se uma matéria esta reservada ou não a uma LC.

Lei Ordinária que trata de matéria reservada a Lei Complementar: inconstitucional, por invadir o que é
reservado a LC.

Lei Complementar que trata de matéria reservada a Lei Ordinária: é permitido.

Lei Complementar que trata de matéria não reservada a ela: atentar ao disposto abaixo.

Uma parte importante da doutrina entende que existe uma hierarquia constitucional entre Lei
Complementar e Lei Ordinária. Para eles, LC é superior hierarquicamente a LO. Se LC é superior a LO, mesmo que a
LC trate de matéria de LO, não pode LO posterior revogar os dispositivos que seriam de LO porque teria havido uma
elevação de status dessa matéria, visto que foi tratada por LC.

O STF entende que não existe hierarquia entre LO e LC; o que há é uma questão de reserva e essa é a
palavra-chave: reserva constitucional, de modo que a CF reserva determinada matéria à LC, enquanto toda matéria
que não é reservada a ela pode ser tratada por LO. Assim, como não há hierarquia, matéria de LC só pode ser
editada, revogada ou modificada por LC. Porém, se uma LC trata de LO nada obsta que uma LO posterior revogue
tais dispositivos.

A Lei ordinária 4.320/1964 pôde legislar acerca das matérias reservadas a lei complementar, porque àquela
época não existia a espécie normativa lei complementar. Esse ponto prova a questão da recepção constitucional.
Assim, não se pode dizer que uma norma anterior à Constituição seja constitucional ou não. Nesse caso, tem-se uma
análise material de compatibilidade da matéria/conteúdo da norma com a constituição; não há análise formal.
Portanto, o que fez a Lei Ordinária 4.320/1964 ter sido recepcionada pela CF/88 foi a compatibilidade de
conteúdo, por tratar de matéria de lei complementar e, embora seja uma lei ordinária, o seu conteúdo só pode ser
alterado por LC.

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