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DIREITO TRIBUTÁRIO | PONTO 2

Limitações constitucionais ao poder de


tributar. Princípios. Imunidades

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CURSO MEGE

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Celular / Whatsapp: (99) 982622200 (Tim)
Turma: Clube da Magistratura 2022
Material: Ponto 2 (Direito Tributário)
Professor: Raul Cabús

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MATERIAL DE APOIO
(Ponto 2)
SUMÁRIO

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA ...................................................................... 4

DIREITO TRIBUTÁRIO ........................................................................................................ 5

1. DOUTRINA (RESUMO)................................................................................................... 6

1.1. LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR....................................................................... 6

1.2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS ........................................................... 7

1.3. IMUNIDADE E ISENÇÃO ........................................................................................... 32

1.4. ISENÇÕES ................................................................................................................. 35

1.5. IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS ..................................................................................... 38

2. JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................ 53

3. QUESTÕES ................................................................................................................... 60

4. GABARITO COMENTADO ............................................................................................ 62


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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA
(Conforme Edital Mege)

DIREITO TRIBUTÁRIO – Professor Raul Cabús


Limitações constitucionais ao poder de tributar. Princípios. Imunidades. (Ponto 2)

4
DIREITO TRIBUTÁRIO (conteúdo atualizado em 28-07-2023)

APRESENTAÇÃO

Neste ponto do Edital do Mege, trataremos sobre as limitações ao poder de


tributar. Esse assunto é bastante importante, pois dispõe acerca dos limites ao poder
do Estado de entrar na seara individual do contribuinte. A Constituição Federal traz
importantes normas para assegurar que o Estado não extrapole seu poder de império
e, com isso, busca uma segurança jurídica maior ao contribuinte. Cabe à LC, também,
regular essas limitações ao poder de tributar, conforme vimos no ponto 01. Desse
modo, trataremos sobre as normas constitucionais que envolvem a matéria e, ainda,
sobre as disposições infraconstitucionais. Além disso, abordaremos conceituações e
classificações doutrinárias pertinentes ao tema. Espero que vocês consigam entender a
sistemática apresentada e obtenham uma maior compreensão sobre Direito Tributário
como um todo.
Bons estudos!
Professor Raul Cabús.

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1. DOUTRINA (RESUMO)
1.1. LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR

A relação jurídico-tributária entre o Estado e o contribuinte se perfaz em uma


relação de poder, sem deixar, contudo, de ser uma relação jurídica. Desse modo, está
pautada por delimitações à atuação estatal. Esses limites estão dispostos na
Constituição, limitando o poder do Estado tributante.
A CF/88 traz uma seção a respeito das limitações ao poder de tributar (arts.
150 a 152), todavia, não se consubstancia em rol exaustivo. Pode-se vislumbrar outras
limitações ao poder de tributar, explícita ou implicitamente, em toda CF.
Os limites constitucionais ao poder de tributar podem ser positivos ou
negativos, bem como formais ou materiais.
Limite Positivo é aquele que limita o poder propriamente dito, dizendo até
que ponto vai a competência; delimita, em verdade, o que pode ser objeto da relação
jurídico-tributária. Pode-se, assim, dizer que o limite positivo define a competência
tributária.
Limite Negativo é delimitado por exclusão ao limite positivo ou por negação
da competência pela norma; assim, o que a norma constitucional exclui da incidência
tributária positiva ou, ainda, na situação de a norma constitucional, expressamente,
excluir alguma hipótese, encontra-se o limite negativo, ou seja, o que não é
competência. 6
ATENÇÃO! Dissemos no ponto 01 do Edital do Mege que a competência tributária
advém da CF para o ente político (União, Estados-membros, DF e Municípios) emanar
leis que, abstratamente, instituam tributos (competência legislativa plena – art. 6º do
CTN).
Só é possível um ente político criar um tributo dentro da sua esfera de competência
tributária, respeitando os limites positivos e negativos ao poder de tributar.
Vê-se, com isso, que a junção de ambos os limites acima forma a competência
tributária.

Limite Formal independe do limite do conteúdo da norma. Não importa o que


a norma dispõe ou impõe, o que se observa é o seu aspecto formal. Por exemplo:
Princípio da irretroatividade tributária; independe qual é o conteúdo da norma, o que
se observará é a sua não aplicação a fatos geradores anteriores.
Limite Material é relacionado ao conteúdo da norma. Há um limite quanto à
substância normativa. Por exemplo: Princípio do não-confisco; o que se observará é se
o conteúdo normativo está confiscando ou não o bem.

ATENÇÃO! O art. 150, I, CF, é um exemplo de limite formal e material ao mesmo


tempo:
Formal: exigência de “lei” (espécie normativa específica);
Material: “exigir ou aumentar tributo”; tem-se que saber o que é necessário para
existir um tributo, quais seus elementos necessários. Tudo isso tem a ver com o
conteúdo da norma.

Os limites ao poder de tributar podem ser imutáveis, quando tratarem das


cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, CF). Todavia, essa imutabilidade apenas condiz na
proibição de mudanças tendentes a abolir o que se encontra enumerado como tal.
Assim, é possível criar novas regras que restrinjam o direito protegido como
cláusula pétrea, como já afirmou o STF (ADI 939-2, j. 15.12.93 – no tocante ao princípio
da anterioridade – art. 150, III, “b”, CF).
Por outro lado, afirma-se que se houvesse inserções, no ordenamento
jurídico, de diversas exceções às cláusulas pétreas, tendentes a abolir a própria regra
protegida, haveria uma inconstitucionalidade.
Naquele julgado da ADI 939-2 do STF, ficou consignado que não só os direitos
exatamente enumerados no art. 60, § 4º, CF, seriam protegidos, mas outros dele
decorrentes também, como a imunidade tributária recíproca (que protege o princípio
federativo), a imunidade de templos de qualquer culto (que protege a liberdade
religiosa), a imunidade de livros, jornais, periódicos e papel destinado a sua impressão, 7
assim como a proteção das instituições cujas atividades são protegidas por outras
garantias constitucionais (liberdade sindical, filiação a partido político etc.).

ATENÇÃO! O CESPE, no concurso de procurador municipal de Fortaleza/CE em 2017,


considerou correta: “A imunidade tributária recíproca que veda à União, aos
Estados, ao DF e aos Municípios instituir impostos sobre o patrimônio, renda ou
serviços uns dos outros é cláusula pétrea”.

Convém destacar que esses limites constitucionais ao poder de tributar


podem ser observados nos princípios tributários e nas imunidades contidas na CF.

1.2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS

Os princípios constitucionais tributários são: legalidade tributária, isonomia


tributária, capacidade contributiva, irretroatividade, anterioridade (geral e
nonagesimal), vedação ao confisco e liberdade de tráfego.

1.2.1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE


O princípio da legalidade tributária se encontra expresso no art. 150, I, CF:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

A principal importância desse dispositivo é a segurança jurídica, pois o


contribuinte não é pego de surpresa, já que sabe por qual instrumento será instituído
o tributo (lei) e qual o procedimento que este instrumento possui (processo
legislativo).
Há de se observar o conteúdo normativo constante nessa limitação ao poder
de tributar, contido no princípio da legalidade tributária do art. 150, I, da CF:

a) exigir: deve-se entender por instituir, pois, por força do


dispositivo, só se pode exigir tributo por meio de lei, não faria
sentido instituir por qualquer outro meio;
b) aumentar: só pode ser aumentado o tributo se for majorado
o aspecto quantitativo (base de cálculo ou alíquota);
c) lei: é uma espécie normativa prevista na Constituição; 8
quando a CF falar em “lei”, sem especificar qual delas,
geralmente, se trata de lei ordinária; a regra geral, portanto, é
que o tributo seja instituído por lei ordinária, ressalvados os
casos indicados na própria CF (exemplo: empréstimos
compulsórios, que são instituídos por Lc).

ATENÇÃO!
Regra geral: Lei ordinária (Lo);
Exceções: Lei complementar (Lc) (empréstimos compulsórios – art. 148; imposto
sobre grandes fortunas – art. 153, VII; impostos residuais – art. 154, I; contribuições
previdenciárias residuais – art. 195, § 4º c/c art. 154, I).

Como o tributo é instituído por lei, só poderá sofrer majoração ou redução


também por lei, em decorrência do princípio do paralelismo das formas. Conforme
esse princípio, um instituto jurídico criado por uma determinada espécie normativa, só
poderá ser alterado ou extinto por ato de igual forma.

ATENÇÃO! A necessidade de a majoração de tributos ocorrer apenas por meio de lei,


além de ser consequência do princípio da legalidade tributária, respalda uma
garantia individual do contribuinte.
Por outro lado, a obrigatoriedade de a redução de tributos também ser por meio de
lei decorre do princípio da indisponibilidade do interesse público, pois, ao se diminuir
a tributação, haverá, em tese, uma redução das receitas derivadas do Estado.

Além da instituição e redução dos tributos respeitarem o princípio da


legalidade tributária, há igual condicionamento às multas tributárias. Isso porque, por
gerar uma obrigação ao infrator, somente podem ser instituídas e aplicadas se existir
previsão em lei (princípio da legalidade geral - art. 5º, II, CF).
Impende destacar que alguns autores diferenciam o princípio da legalidade e
o da reserva legal, apontando ser esse último mais restritivo que aquele. Outros
autores não fazem diferenciação alguma a respeito.
No tocante à legalidade em matéria tributária, exige-se a lei em sentido
formal, advinda do processo legislativo constitucionalmente atribuído.
Nessa linha, o CTN apresenta um rol de matérias submetidas ao princípio da
legalidade tributária (ou reserva legal), in verbis:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:


I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;
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II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o
disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
III - a definição do fato gerador da obrigação tributária
principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52,
e do seu sujeito passivo;
IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo,
ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões
contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela
definidas;
VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos
tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades.
§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua
base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso.
§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do
disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor
monetário da respectiva base de cálculo.

O STF entende que as matérias fora dos casos acima não estão abarcadas pelo
princípio da legalidade tributária. Portanto, a atualização monetária da base de
cálculo do tributo e a fixação de prazo para recolhimento do tributo não necessitam
de lei para tanto (RE 172394; RE 195218).

ATENÇÃO! Embora não seja exigível lei para atualização monetária, deve existir uma
lei indicando qual índice de correção monetária será utilizado pelo ente.

Quanto à fixação de prazo para recolhimento, o STF já decidiu ser possível a


determinação através de decreto.
O STF entende que os entes federados, em função da competência legiferante
concorrente sobre direito financeiro (art. 24, I, CF), podem se utilizar de índices locais
para a correção de seus tributos.
O STJ, de outro modo, possui o seguinte entendimento sumulado:

Súmula 160. É defeso, ao município, atualizar o IPTU, mediante


decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção
monetária.

O entendimento sumulado acima procede, pois a atualização monetária da


base de cálculo não aumenta o tributo, mas apenas atualiza a perda inflacionária que 10
sofreu. Caso essa atualização seja além do índice oficial, em tese, estaria ultrapassando
o limite da mera perda inflacionária e, assim, aumentando, de fato, o valor do tributo.
Nesse caso, haveria a necessidade de lei específica para majorar a base de cálculo (art.
150, § 6º, CF).
Sobre a legalidade, ainda é possível a instituição de tributo por lei delegada,
uma vez que se trata de uma lei e há previsão constitucional para tal espécie
normativa (art. 68, § 1º, CF), bastando atender seus requisitos. Frisa-se que a lei
delegada não pode ser utilizada para instituir ou majorar tributos sujeitos à Lc,
conforme parte final do § 1º do art. 68 da CF, in verbis:

Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da


República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso
Nacional.
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência
exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa
da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria
reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:

Outro ponto se refere à complementação de conceitos jurídicos pelo


Executivo quando o legislador atribua tal incumbência. O STF (RE 343446, j.
20.03.2003) entendeu possível tal disciplina. De todo modo, a lei deve conter todos os
requisitos para instituição do tributo (fato gerador, sujeitos ativo e passivo, alíquota e
base de cálculo), cabendo ao decreto regulamentar apenas elucidar certos conceitos
jurídicos indeterminados contidos na lei.
Sobre esse aspecto, o STF, em sede de repercussão geral, também considerou
não violar a legalidade tributária na situação de uma lei prescrever um teto para a
cobrança de uma taxa e delegar que ato normativo infralegal fixe o valor. Observe a
tese firmada:

Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o


teto, possibilita o ato normativo infralegal fixar o valor de
taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal,
valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio
conselho de fiscalização em percentual superior aos índices de
correção monetária legalmente previstos. (STF – RE 838284,
repercussão geral, j. 19.10.2016)

OBSERVAÇÃO: Deslegalização em matéria tributária: trata-se de situação na qual o


Poder Legislativo delega, através da lei, que outro ente/entidade disponha sobre
conceitos jurídicos indeterminados contidos na lei. De regra, essa forma de
normatização é adotada em casos de um maior conhecimento técnico sobre a
matéria.
Com esse julgado de repercussão geral acima transposto, observa-se que o STF 11
aceita essa forma de produção normativa em matéria tributária!

A MP também pode ser utilizada para a instituição de tributo, salvo os que


necessitem de Lc, por força do art. 62, § 1º, III, CF. Todavia, ressalvados o II, IE, IPI, IOF
e os impostos extraordinários de guerra, a MP que implique majoração de IMPOSTOS
só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se for convertida em lei até o
último dia daquele em que foi editada (art. 62, § 2º, CF).

ATENÇÃO! Essa ressalva decorre do fato de esses impostos serem exceção ao


princípio da anterioridade ordinária, passando a vigorar com a publicação da MP.
Contudo, no caso do IPI, como não faz parte do rol de exceção ao princípio da
anterioridade nonagesimal, terá que esperar 90 dias para entrar em vigor a
majoração, contados da publicação da MP.

Com isso, tem-se que nas demais espécies tributárias, os princípios da


anterioridade (ordinária e nonagesimal) devem ser observados desde a publicação da
MP e não da sua conversão em lei.
Veja o esquema a seguir:
1.2.1.1. Exceções ao princípio da legalidade tributária

Destaque-se, de início, que as exceções à legalidade tributária apenas se


referem às ALÍQUOTAS. Inexiste exceção a esse princípio para instituir o tributo ou
para alterar as respectivas bases de cálculo.
Observe os dispositivos constitucionais que tratam do tema: 12
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
§ 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e
os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos
impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.
Art. 177. (...)
§ 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio
econômico relativa às atividades de importação ou
comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e
seus derivados e álcool combustível deverá atender aos
seguintes requisitos:
I - a alíquota da contribuição poderá ser:
b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se
lhe aplicando o disposto no art. 150, III, b;
Art. 155. (...)
§ 4º (...)
IV - as alíquotas do imposto serão definidas mediante
deliberação dos Estados e Distrito Federal, nos termos do § 2º,
XII, g, observando-se o seguinte:
a) serão uniformes em todo o território nacional, podendo ser
diferenciadas por produto;
b) poderão ser específicas, por unidade de medida adotada, ou
ad valorem, incidindo sobre o valor da operação ou sobre o
preço que o produto ou seu similar alcançaria em uma venda
em condições de livre concorrência;
c) poderão ser reduzidas e restabelecidas, não se lhes
aplicando o disposto no art. 150, III, b.

Tem-se, destarte, três situações que excepcionam a legalidade tributária.


Primeira, contida no art. 153, § 1º, CF, excepciona a alteração das alíquotas do I.I., I.E.,
IPI e IOF pelo Executivo, desde que dentro do limite da lei. A lei que institui tais
tributos pode especificar uma margem de alíquota possível.
Exemplo: a lei aponta a possibilidade de um produto tributado pelo IPI
possuir alíquotas entre 0% e 3%. Nesse caso, o Executivo pode, através de decreto,
fazer aumento da referida alíquota dentro desse limite estipulado na lei sem afrontar
o princípio da legalidade tributária.
Segunda, dispõe o art. 177, § 4º, I, b, CF, a respeito da CIDE-Combustíveis,
podendo o Executivo reduzir e restabelecer as alíquotas, por meio de decreto. Esse
caso é diverso do anterior. Na CIDE-combustíveis, o Executivo, ao restabelecer a
alíquota, não pode ultrapassar o percentual anterior a uma redução porventura
realizada.
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Exemplo: o Executivo reduziu uma alíquota que estava em 2% para 0%;
posteriormente, resolve aumentá-la para 3% através de decreto. Nesse caso, não
poderia o Executivo realizar esse aumento, já que a exceção apenas se consubstancia
para a redução e o restabelecimento da alíquota. Assim, somente poderia ter
aumentado até o limite de 2% (percentual anterior à redução).
Terceira, a CF, em seu art. 155, § 4º, IV, trouxe exceção à legalidade tributária
para o ICMS-monofásico. Trata-se de uma exceção peculiar em relação às demais. A CF
permite que os Estados e DF, por meio de convênio do CONFAZ, definam as alíquotas
do ICMS-monofásico incidente sobre combustíveis definidos em Lc.
Perceba-se que a alíquota é fixada pelo convênio, de forma que a redução e o
aumento dessa alíquota também poderá ser feita pelo mesmo instituto.
Há, entretanto, uma ressalva no dispositivo citado. Se o aumento da alíquota
for acima do percentual antes fixado, deverá ser respeitado o princípio da
anterioridade. Se, porém, as alíquotas forem apenas reduzidas ou restabelecidas, não
será necessária a observância da anterioridade ordinária (art. 150, III, “b”, CF).

1.2.1.2. Legalidade tributária e obrigações acessórias

Conforme o art. 113 do CTN, a obrigação de pagar sempre tem que ser por
meio de lei. Já as obrigações acessórias decorrem da legislação tributária e se
perfazem em obrigações de fazer e não fazer (art. 113, § 2º, CTN).
A obrigação acessória tributária independe da principal. Por exemplo:
obrigação acessória de escrituração de receitas e de despesas em livros revestidos de
formalidades capazes de assegurar sua exatidão (artigo 14, III, do CTN).

1.2.2. PRINCÍPIO DA ISONOMIA

Deve-se tratar as pessoas situadas na mesma situação (acepção horizontal) de


igual modo. Por outro lado, há de se tratar desigualmente as pessoas que se
encontram em posições diferentes (acepção vertical).
O STF, por diversas situações, se posicionou dentre essas acepções do
princípio da isonomia.
No caso da tributação dos aposentados e pensionistas da União, dos Estados,
DF e Municípios, a Ec nº 41/2003 trouxe percentuais diferenciados, sendo os da União
com tributação para a remuneração que excedesse 60% do RGPS e para os outros
sobre a parcela que excedesse 50%. O STF julgou inconstitucional por ferir o princípio
da isonomia (ADI 3105).
Outra situação de inconstitucionalidade por ferir a isonomia, o STF entendeu
que não poderia haver isenção de IPTU, exclusivamente, em decorrência de o
contribuinte ser servidor público (AI 157871-AgR). Isso em razão da parte final do art.
150, II, CF:
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II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se
encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
distinção em razão de ocupação profissional ou função por
eles exercida, independentemente da denominação jurídica
dos rendimentos, títulos ou direitos;

No caso da COFINS e a CSLL, em que, na primeira, há tributação das empresas


lucrativas ou não, já que incide sobre a receita ou faturamento, e, na segunda, só
incide sobre as empresas lucrativas, pois a hipótese de incidência se perfaz sobre o
lucro, o STF entendeu que a Lei nº 9.718/98, que concedeu a possibilidade de
abatimento de até 1/3 da COFINS com a CSLL, não feria a isonomia. Veja o julgado:

EMENTA: TRIBUTÁRIO. COFINS. ART. 8.º E § 1.º DA LEI N.º


9.718/98. ALÍQUOTA MAJORADA DE 2% PARA 3%.
COMPENSAÇÃO DE ATÉ UM TERÇO COM A CONTRIBUIÇÃO
SOBRE O LUCRO LÍQUIDO - CSLL, QUANDO O CONTRIBUINTE
REGISTRAR LUCRO NO EXERCÍCIO. ALEGADA OFENSA AO
PRINCÍPIO DA ISONOMIA. Por efeito da referida norma, o
contribuinte sujeito a ambas as contribuições foi contemplado
com uma bonificação representada pelo direito a ver abatido,
no pagamento da segunda (COFINS), até um terço do quantum
devido, atenuando-se, por esse modo, a carga tributária
resultante da dupla tributação. Diversidade entre tal situação e
a do contribuinte tributado unicamente pela COFINS, a qual se
revela suficiente para justificar o tratamento diferenciado,
não havendo que falar, pois, de ofensa ao princípio da
isonomia. Não-conhecimento do recurso.
(STF - RE 336134, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal
Pleno, julgado em 20/11/2002, DJ 16-05-2003 PP-00093 EMENT
VOL-02110-04 PP-00655)

Quanto ao Simples Nacional, o STF entendeu possível sua aplicação para


possibilitar a ME e a EPP uma maior competição no mercado.

1.2.3. PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

Diretamente ligado ao princípio anterior é o da capacidade contributiva que,


segundo o STF, pode ser aplicado, sempre que possível, a outras espécies tributárias,
além dos impostos. A progressividade das alíquotas do IR demonstra, exatamente, a
observância desses dois princípios.
Veja o que determina o art. 145, § 1º, CF:

15
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos:
§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e
serão graduados segundo a capacidade econômica do
contribuinte, facultado à administração tributária,
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos,
identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da
lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas
do contribuinte.

Por fim, impende destacar que, com o fito de ajudar a aplicação do princípio
da capacidade contributiva nos tributos de natureza real, tem-se dois princípios
conexos a ele:

a) Princípio da progressividade: este se contrapõe a


proporcionalidade; à medida que a base de cálculo aumenta a
alíquota aumenta; por exemplo: IR e IPTU.

PROGRESSIVO ≠ PROPORCIONAL
↑ Base de Cálculo ↑ Alíquota ↑ Base de Cálculo ↓ Alíquota

b) Princípio da seletividade: aqui, há a diferenciação nas


alíquotas; em regra, as dos produtos mais consumidos pela
população mais pobre são menores do que dos produtos
consumidos pelas pessoas mais ricas; por exemplo: feijão tem
alíquota menor; caviar tem alíquota maior.

1.2.4. PRINCÍPIO DA NÃO-SURPRESA

Esse princípio tem como fundamento evitar que o contribuinte seja pego
desprevenido com aumento da carga tributária. Tem ligação direta com o princípio da
segurança jurídica e, ainda, com os princípios da legalidade, da irretroatividade, da
anterioridade e da noventena.

1.2.5. PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE TRIBUTÁRIA

Em regra, a irretroatividade é relativa, mas a CF traz situações de


irretroatividade absoluta: art. 5º, XXXVI e XXXIX; e art. 150, III, “a”, todos da CF. 16
No tocante à incidência tributária e imposição de obrigação, a
irretroatividade é absoluta. Fatos ocorridos no passado não podem ser abrangidos
pela nova lei (art. 150, III, “a”, CF). O marco temporal para a verificação desse princípio
é a data da vigência da lei nova.
Contudo, deve-se observar a controvérsia doutrinária sobre os conceitos de
fatos geradores periódicos ou instantâneos.
Os instantâneos ocorrem num momento preciso de tempo, dando
surgimento a cada fato uma nova ocorrência, como no caso do imposto de importação
(I.I.).
Os periódicos, por sua vez, se prolongam no tempo, verificando-se a
ocorrência no exato momento em que a lei determinou. A cada período concluído gera
uma nova obrigação tributária.
Esses periódicos se subdividem em simples e compostos (complexivos). Os
simples tomam por base um único evento. Por exemplo: IPTU que possui fato único
em 1º de janeiro, geralmente. Os compostos ou complexivos se compõem de diversos
eventos, considerados de maneira global, dentro de um tempo determinado pela lei.
Por exemplo: IR incide durante todo o ano; os fatos se juntam para, no dia 31 de
dezembro, incidir o fato gerador.
De qualquer forma, esses fatos periódicos, como a lei estipula o exato
instante em que ocorrem, acabam por serem visualizados como instantâneos.
Por isso, o STF entende que, no caso de tributos considerados periódicos, o
princípio da irretroatividade tributária deve ser verificado na data em que a lei aponte
como ocorrência do fato gerador.
Veja o esquema abaixo:

Atente ao julgado referente à CSLL (Contribuição social sobre o lucro líquido),


em que o Tribunal considerou válida a incidência em todo o período do ano em que foi
majorada sua alíquota, uma vez que a data do fato gerador estipulada pela lei seria dia 17
31 de dezembro, in verbis:

“Se o fato gerador da obrigação tributária relativa à


contribuição social reputa-se ocorrido em 31 de dezembro,
conforme a orientação do STF, a lei que esteja em vigor nessa
data é aplicável imediatamente, sem contrariedade ao art. 5º,
XXXVI, da Constituição." (STF - AI 333209 AgR-ED / PR –
PARANÁ, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, 1ª T., j.
02.03.2007).

Quanto ao IR, que está sujeito ao princípio da anterioridade ordinária


tributária, o STF editou a seguinte súmula:

Súmula 584. Ao imposto de renda calculado sobre os


rendimentos do ano-base, aplica se a lei vigente no exercício
financeiro em que deve ser apresentada a declaração.

Todavia, em decisão proferida no RE 159.180/MG, disponibilizada no dia


22/06/2020, o Plenário da Suprema Corte cancelou a referida súmula (decisão
veiculada no Informativo de Jurisprudência 987).
Entendeu o STF que a referida súmula é incompatível com os princípios da
irretroatividade e da anterioridade. Ou seja, o imposto de renda, como regra, está
estruturado pelo dualismo: ano base (1º de janeiro a 31 de dezembro) e ano da
declaração. Assim, visando à satisfação do princípio da anterioridade, é necessário que
a lei de regência do imposto de renda seja a vigente em 31 de dezembro do ano
anterior ao ano-base, pois teriam os contribuintes a prévia informação do quadro legal
que regularia as suas atividades tributárias, entendimento que não condizia com a
Súmula 584 do STF, hoje superada.

1.2.5.1. Exceções ao princípio da irretroatividade tributária

A CF não prevê exceção ao princípio da irretroatividade tributária. Apenas o


CTN que traz as seguintes exceções (art. 106, CTN):

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:


I - em qualquer caso, quando seja expressamente
interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração
dos dispositivos interpretados;
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:
a) quando deixe de defini-lo como infração;
18
b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer
exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido
fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento do
tributo;
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista
na lei vigente ao tempo de sua prática.

A lei pode ser considerada interpretativa quando apenas esclarece o


conteúdo de outra norma, não criando novas relações jurídicas. Isso, pois, tem caráter
declaratório, não podendo, por outro lado, se aplicar penalidades em virtude do
conteúdo normativo interpretado.
A outra hipótese legislativa concerne aos casos de infração tributária. Nesse
ponto, não pode ter havido o julgamento definitivo. O STJ possui o entendimento de
que pode ser aplicada a retroatividade benéfica até que seja definitivamente julgada
a execução, com a garantia total do débito.
Atente que, no âmbito da execução fiscal, a definitividade do julgado se dará
com a extinção da execução, após a arrematação, adjudicação ou remição.
Nas palavras do STJ: “Considera-se encerrada a Execução Fiscal após a
arrematação, adjudicação ou remição, sendo irrelevante a existência ou não de
Embargos à Execução, procedente ou não.” (STJ - REsp 1121230/SC, Rel. Ministro
Humberto Martins, 2ª T., j. 18.02.2010).
Assim, não basta apenas penhorar bens suficientes. Perfaz-se necessário a
extinção da execução fiscal.
Por esse motivo, a mera penhora (suficiente ou insuficiente) na execução
fiscal, por exemplo, não será considerada como definitivamente julgada e, assim,
aplicar-se-á a retroatividade benéfica.

ATENÇÃO! Não se retroage lei que se refira ao TRIBUTO, ainda que a alteração
traga benefícios ao contribuinte, como, por exemplo, a diminuição das alíquotas.

ATENÇÃO! Em síntese:
Lei interpretativa – qualquer caso; apenas não se aplica a penalidade à infração dos
dispositivos interpretados;
Retroatividade benigna – só se aplica à penalidade tributária, desde que não tenha
sido definitivamente julgado.

1.2.6. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ORDINÁRIA (OU DO EXERCÍCIO FINANCEIRO)

19
É um princípio que veio para se agregar ao princípio da irretroatividade
tributária, assegurando, ainda mais, a segurança jurídica tributária. O marco temporal
para sua verificação é a data da publicação da nova lei, ou seja, a lei nova só produzirá
efeitos no exercício financeiro posterior ao da publicação.
Observe como se dispõe o princípio na CF:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
III - cobrar tributos: (...)
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a
lei que os instituiu ou aumentou;

OBSERVAÇÃO: EXERCÍCIO FINANCEIRO consiste no período que se prevê, na lei


orçamentária anual (LOA), as receitas e despesas da Administração. Esse período
compreende o dia 1º de janeiro a 31 de dezembro, pois coincide com o ano civil (art.
34, Lei nº 4.320/64).

Como a CF exige Lc para alterar fatos sobre direito financeiro, esse período só
poderia ser modificado por este tipo de norma.
ATENÇÃO! Princípio da anualidade: esse princípio surgiu na CF/67, mas hoje não
existe mais para o Direito Tributário, abolido com a Ec nº 01/1969. Antes, era exigido
que a cobrança de tributos fosse autorizada pela LOA de cada ano.

O STF entende que, do mesmo modo que no princípio da legalidade, a


correção monetária do valor do tributo ou sua BC, bem como a alteração do prazo
para pagamento do tributo, não se aplicam ao princípio da anterioridade.
Nesse sentido, observe o entendimento do STF exposto em súmula
vinculante:

Súmula Vinculante 50 - Norma legal que altera o prazo de


recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao
princípio da anterioridade.

Outra questão se encontra na disposição do art. 104, III, do CTN, que prevê a
aplicação do princípio da anterioridade ordinária, no caso de extinção ou redução de
isenções. Veja o texto da lei:
20
Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte
àquele em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei,
referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda:
III - que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser
de maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o
disposto no artigo 178.

Havia um entendimento consolidado no STF de que as isenções não-


condicionadas ou sem prazo definido poderiam ser revogadas a qualquer tempo,
sem necessidade de observância do princípio da anterioridade.
Contudo, a 1ª Turma do STF, em 2014, proferiu julgamento no sentido de se
aplicar os princípios da anterioridade ordinária e nonagesimal para o caso de
revogação do benefício fiscal. Em 2018, essa turma reafirmou tal entendimento.
Transcreve-se trecho das ementas:

ICMS por meio da revogação de benefício fiscal, surge o dever


de observância ao princípio da anterioridade, geral e
nonagesimal, constante das alíneas “b” e “c” do inciso III do
artigo 150, da Carta. (RE 564225 AgR, Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 02/09/2014)
DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. INCENTIVO FISCAL. REVOGAÇÃO.
MAJORAÇÃO INDIRETA. ANTERIORIDADE. 1. A jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal concebe que não apenas a
majoração direta de tributos atrai a eficácia da anterioridade
nonagesimal, mas também a majoração indireta decorrente
de revogação de benefícios fiscais. Precedentes. 2. Agravo
interno a que se nega provimento, com aplicação da multa
prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015. (STF - RE 1053254
AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma,
julgado em 26/10/2018)

ATENÇÃO! Nesse julgado de 2014, acima transcrito, o Min. Roberto Barroso afirmou:
“Deve ser entendida como majoração do tributo toda alteração ocorrida nos
critérios quantitativos do consequente da regra-matriz de incidência. Sob tal
perspectiva, um aumento de alíquota ou uma redução de benefício relacionada a
base econômica apontam para o mesmo resultado: agravamento do encargo”.

Seguindo essa linha, a 2ª Turma proferiu o seguinte julgamento:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 21


DIREITO TRIBUTÁRIO. REINTEGRA. REVOGAÇÃO DE BENEFÍCIO
FISCAL. ANTERIORIDADE NONAGESIMAL. 1. A alteração no
programa fiscal REINTEGRA, por acarretar indiretamente a
majoração de tributos, deve respeitar o princípio da
anterioridade nonagesimal. Precedentes. (...) (RE 1091378
AgR, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado
em 31/08/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-189 DIVULG 10-
09-2018 PUBLIC 11-09-2018)

Portanto, para as duas turmas, caso seja revogado o benefício fiscal da


isenção, aplica-se a anterioridade (ordinária e nonagesimal).
Cumpre destacar que, recentemente, o pleno do STF, não obstante ter
tratado da anterioridade nonagesimal, reafirmou essa linha de entendimento quanto
ao PIS/COFINS, firmando a seguinte tese de repercussão geral:

As modificações promovidas pelos Decretos 9.101/2017 e


9.112/2017, ao minorarem os coeficientes de redução das
alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS
incidentes sobre a importação e comercialização de
combustíveis, ainda que nos limites autorizados por lei,
implicaram verdadeira majoração indireta da carga tributária
e devem observar a regra da anterioridade nonagesimal,
prevista no art. 195, § 6º, da Constituição Federal. (STF - RE
1390517 RG, Relator(a): MINISTRA PRESIDENTE, Tribunal Pleno,
julgado em 12/04/2023, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-078 DIVULG 14-04-2023 PUBLIC 17-04-
2023)

Por fim, frisa-se, ainda, que o IMPOSTO instituído ou majorado por MP só


poderá ser exigido no exercício financeiro seguinte se for convertido em lei no mesmo
exercício financeiro de sua edição, salvo o II, IE, IPI, IOF e impostos extraordinários de
guerra (art. 62, § 2º, CF).

1.2.6.1. Exceções ao princípio da anterioridade ordinária

Há de se apontar, ainda, as exceções ao princípio da anterioridade: II, IE, IPI,


IOF, impostos extraordinários de guerra, empréstimos compulsórios de guerra ou
calamidade pública, contribuições para financiamento da seguridade social, ICMS-
monofásico e CIDE-combustível.
Observe os artigos da Constituição correspondentes a essas exceções:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
22
e aos Municípios:
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos
previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação
do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148,
I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos
impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I.
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior;
§ 4º Na hipótese do inciso XII, h, observar-se-á o seguinte:
IV - as alíquotas do imposto serão definidas mediante
deliberação dos Estados e Distrito Federal, nos termos do § 2º,
XII, g, observando-se o seguinte:
c) poderão ser reduzidas e restabelecidas, não se lhes
aplicando o disposto no art. 150, III, b.
Art. 177. Constituem monopólio da União:
§ 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio
econômico relativa às atividades de importação ou
comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e
seus derivados e álcool combustível deverá atender aos
seguintes requisitos:
I - a alíquota da contribuição poderá ser:
b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se
lhe aplicando o disposto no art. 150,III, b;
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais:
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só
poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da
publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não
se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".

1.2.7. PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL OU NOVENTENA

O princípio consiste na impossibilidade de cobrança de tributo que tenha


sido instituído ou aumentado antes de decorridos 90 dias da publicação da lei que o
instituiu ou aumentou. 23
Esse princípio insculpido no art. 150, III, “c”, da CF, se configura o mesmo que
o previsto no art. 195, § 6º, CF. Transcreve-se:

Art. 150, III, “c” - antes de decorridos noventa dias da data em


que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
observado o disposto na alínea b;
Art. 195, § 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo
só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data
da publicação da lei que as houver instituído ou modificado,
não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".

Embora o disposto no § 6º do art. 195 da CF preveja a palavra “modificado” e


o art. 150, III, “c”, da CF, possua a palavra “aumentou”, o STF já tinha o entendimento
de que a anterioridade nonagesimal existe para proteger o contribuinte contra
mudanças que venham repercutir no seu patrimônio, portanto, só aplicável no caso de
instituição ou majoração.
Desse modo, ambos os princípios (anterioridade nonagesimal e noventena)
significam a mesma coisa (necessidade de se aguardar 90 dias da instituição ou
majoração).
A diferença se vislumbra quanto à cumulatividade com o princípio da
anterioridade ordinária. No caso das contribuições previdenciárias, só se aplica o
princípio da noventena (isoladamente – art. 195, § 6º, CF). Por outro lado, observa-se a
anterioridade nonagesimal cumulativamente com a anterioridade ordinária, de regra.
O emprego desse prazo de 90 dias quando a instituição ou o aumento do
tributo for mediante MP será, conforme STF (RE 169.740):

- Antes da EC 32/2001 – será contado da edição da primeira


MP, se não houvesse modificação substancial entre elas ou
após sua conversão em lei; caso houvesse essa modificação
substancial, a contagem seria da publicação da conversão em
lei.
- Após a EC 32/2001 (atualmente) – se houver mudança
substancial na conversão em lei, conta-se da publicação da lei
que a converteu; se não houver, conta-se da edição da MP; se
a MP, por outro lado, perder a eficácia por decurso do prazo de
120 dias ou for rejeitada, o tributo ou a majoração deixa
imediatamente de ser cobrado.

1.2.7.1. Exceções ao princípio da anterioridade nonagesimal

As exceções à noventena são: II, IE, IOF, imposto extraordinário de guerra,


empréstimo compulsório de guerra ou de calamidade pública, IR, base de cálculo (BC) 24
do IPTU e base de cálculo (BC) do IPVA.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos
previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação
do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts.
148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de
cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I.

ATENÇÃO! As exceções da anterioridade nonagesimal, referentes às BC do IPTU e do


IPVA, consistem nas únicas exceções que dizem respeito à BC. Note que as demais
exceções sempre se aplicam às alíquotas.
Essas exceções das BC são importantes porque ambos os impostos incidem sobre o
valor do bem e o melhor momento para as fazendas públicas verificarem as revisões
deles é no fim de cada exercício. Assim, como os respectivos fatos geradores
ocorrem, geralmente, no dia 1º de janeiro, seria impossível essa revisão se não fosse
exceção à noventena. Isso, pois, uma vez revisada no fim do ano, só valeria após 90
dias, ultrapassando a incidência do fato gerador, portanto, inócua seria tal revisão.
Diante de tantas exceções aos princípios da legalidade, da anterioridade e da
noventena, anteriormente expostas, além de serem objeto de perguntas em provas da
magistratura estadual, convém sintetizá-las no seguinte quadro:

ANTERIORIDADE ANTERIORIDADE
LEGALIDADE
ORDINÁRIA NONAGESIMAL

II II II

IE IE IE

IPI IPI IR

IOF IOF IOF

Imposto Extraordinário de Imposto Extraordinário de


Guerra Guerra

Empréstimo Compulsório
de Guerra ou de
Empréstimo Compulsório
de Guerra ou de
25
Calamidade Calamidade

CIDE-Combustível CIDE-Combustível IPTU (alteração da BC)

ICMS-Monofásico ICMS-Monofásico IPVA (alteração da BC)

Contribuições para
Seguridade Social

1.2.8. PRINCÍPIO DO NÃO-CONFISCO

A CF assim dispõe:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;
A ideia desse princípio é proibir que o legislador institua carga tributária
desarrazoada ou imoderada que impeça o contribuinte de exercer suas atividades
lícitas ou dificultem o suprimento de suas necessidades vitais básicas ou, ainda,
comprometa seu direito a uma existência digna.
O conceito de confisco é indeterminado, cabendo ao juiz, no caso concreto,
verificar sua ocorrência.
Contudo, o STF definiu alguns parâmetros:

a) deve ser feita em função da totalidade da carga tributária,


mediante verificação da capacidade de que dispõe o
contribuinte, considerado o montante de sua riqueza (renda e
capital);
b) a incidência de todos os tributos que ele deverá pagar,
dentro de determinado período, à mesma pessoa política que
os houver instituído (exemplo: União; IPI, IR, etc.); e
c) condicionar o grau de insuportabilidade econômico-
financeira, à observância, pelo legislador, de padrões de
razoabilidade destinados a neutralizar excessos de ordem
fiscal eventualmente praticados pelo Poder Público.

Nas palavras da Corte (ADC-mc 8/DF, j. 13.10.1999, Pleno): “Resulta 26


configurado o caráter confiscatório de determinado tributo, sempre que o efeito
cumulativo – resultante de múltiplas incidências tributárias estabelecidas pela
mesma entidade estatal – afetar, substancialmente, de maneira irrazoável, o
patrimônio e/ou os rendimentos do contribuinte”.
Diante dessa análise da carga tributária global, a doutrina, ainda, aponta duas
formas de se observar a tributação patrimonial. Primeiro, sob a forma estática, que
leva em conta apenas o patrimônio em si, sem encargos adicionais. Segundo, a visão
do parâmetro dinâmico, desta feita, leva-se em conta os acréscimos patrimoniais
incidentes sobre os bens.
Outro ponto que merece destaque, é que não se deve confundir a pena de
perdimento (art. 5º, XLVI, “b”, CF), que possui caráter punitivo (sanção por ato ilícito),
com o confisco.
O confisco também pode ser observado nas taxas, comparando-se o custo da
atividade com o valor cobrado. Se houver uma onerosidade excessiva entre esses
fatores, configurar-se-á o confisco (STF – ADI-MC 2551/MG, Pleno, j. 02.04.2003).
Da mesma forma, pode-se vislumbrar efeito confiscatório na multa tributária,
esbarrando no art. 150, IV, da CF. O STF já assim considerou para o caso de multa
equivalente a 2X o montante do tributo não pago e de 5X o montante do tributo
sonegado (ADI 551).
O STF, em sede de repercussão geral, ainda atribuiu outro parâmetro para a
multa moratória, no percentual de 20%. Observe trecho do julgado:
A aplicação da multa moratória tem o objetivo de sancionar o
contribuinte que não cumpre suas obrigações tributárias,
prestigiando a conduta daqueles que pagam em dia seus
tributos aos cofres públicos. Assim, para que a multa moratória
cumpra sua função de desencorajar a elisão fiscal, de um lado
não pode ser pífia, mas, de outro, não pode ter um importe
que lhe confira característica confiscatória, inviabilizando
inclusive o recolhimento de futuros tributos. O acórdão
recorrido encontra amparo na jurisprudência desta Suprema
Corte, segundo a qual não é confiscatória a multa moratória
no importe de 20% (vinte por cento) (STF - RE 582461 / SP, Rel.
Min. GILMAR MENDES, j. 18/05/2011 – repercussão geral)

Não obstante esse julgado, a 1ª Turma do STF entendeu que o teto para a
multa de ofício seria o próprio valor da obrigação principal, isto é, 100%. Vislumbre o
trecho da ementa a seguir:

O valor da obrigação principal deve funcionar como limitador


da norma sancionatória, de modo que a abusividade se revela
nas multas arbitradas acima do montante de 100%. (AI 838302
AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma,
julgado em 25/02/2014) 27
Com esses dois julgados acima, observa-se que há dois limites percentuais
indicados pelo STF às multas. Nesse diapasão, necessário diferenciar a multa moratória
da multa de ofício.
A multa moratória decorre do atraso no pagamento do tributo.
Já a multa de ofício é a chamada multa punitiva, decorrente de infrações.
Pense no seguinte exemplo: o contribuinte atrasa, por esquecimento, apenas
2 dias no pagamento do tributo e, por conta desse atraso, vai pagar uma mora no
percentual de 100%. Abusivo e confiscatório, não é? Por isso, o STF fixou em 20% o
teto para multa moratória.
Então, para o caso da multa moratória, o percentual é menor, qual seja, 20%.
Agora, pense em um contribuinte que sonega um fato para se livrar da
tributação, cometendo, nesse caso, um crime contra a ordem tributária. Seria
confiscatório uma punição de 100% sobre o valor do crédito tributário, que o
contribuinte, dolosamente, sonegou? O STF entendeu que não, por ser uma conduta
mais grave.
Assim, para o caso de multa punitiva (de ofício), o percentual é maior, qual
seja, 100%.
ATENÇÃO! Conclusão:
Confisco deve ser analisado na totalidade da carga tributária; dentro de determinado
período, à mesma pessoa política; e o legislador deve observar o condicionamento
do grau de insuportabilidade econômico-financeira aos padrões de razoabilidade
destinados a neutralizar excessos de ordem fiscal;
Confisco difere da pena de perdimento;
Pode ser analisado nas taxas e nas multas tributárias (limite máximo de 20% - multa
moratória – e de 100% - multa de ofício).

1.2.9. PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGO

A CF assim dispõe:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por
meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada
a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo 28
Poder Público;

A exceção é do ICMS estadual, uma vez que foi instituído pela própria CF, não
havendo que se falar em inconstitucionalidade.
Quanto à ressalva do próprio inciso, afirmamos, no item 01 do edital do
Mege, que o STF firmou o entendimento de que o pedágio possui a mesma natureza
jurídica do preço público. Conforme decisão do STF, o pedágio somente seria
arrecadado se, quando e cada vez que houvesse efetivo uso da rodovia, não sendo
cobrado compulsoriamente de quem não utilizar a via (ADI 800/RS, rel. Min. Teori
Zavascki, 11.6.2014).

1.2.10. PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA DA TRIBUTAÇÃO; PRINCÍPIO DA


UNIFORMIDADE DA TRIBUTAÇÃO DA RENDA; E PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO A ISENÇÕES
HETERÔNOMAS (HETEROTÓPICAS).

Esses princípios são aplicáveis à União, visando a proteger o pacto federativo,


de modo que constituem cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, I, CF). Encontram-se previstos
nos incisos do art. 151 da CF, in verbis:

Art. 151. É vedado à União:


I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território
nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a
Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de
outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a
promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico
entre as diferentes regiões do País;
II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a
remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos,
em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para
seus agentes;
III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados,
do Distrito Federal ou dos Municípios.

O princípio da uniformidade geográfica da tributação é trazido pelo art. 151,


I, da CF. A parte final está em perfeita consonância com o art. 3º, III, da CF, que aponta
como um dos fundamentos do Estado brasileiro erradicar a pobreza e a marginalização
e reduzir as desigualdades sociais e regionais.
O STF, inclusive, entende que a concessão de isenção é de natureza
discricionária do ente político, obedecendo à conveniência e à oportunidade, não
cabendo ao Judiciário substituir o legislador para estabelecer isenções a pretexto da
isonomia (RE 3442221, 1ª T, j. 11.02.2003). 29

ATENÇÃO! Embora esse princípio da uniformidade geográfica seja direcionado à


União, entende-se aplicável aos Estados, DF e Municípios por simetria. Além do
princípio federativo, há o disposto no art. 19, III, da CF, para embasar tal assertiva,
uma vez que essa norma veda que os entes políticos criem preferências entre si.
Contudo, deve-se ter atenção ao que se está cobrando na questão. Caso venha
apenas como reprodução do art. 151 da CF, tem-se que adotar como um princípio
aplicável apenas à União.

Já o princípio da uniformidade da tributação da renda se encontra no inciso II


do art. 151, acima transcrito. Visa a evitar que a União utilize o IR como um meio de
concorrer deslealmente no mercado de títulos da dívida pública e seleção de
servidores públicos. No primeiro caso, tenta-se impedir que a renda obtida por títulos
da dívida dos Estados, DF ou Municípios tenha tributação diversa da obtida com títulos
da União. No segundo caso, visa-se a inibir a captação dos servidores para a União, em
decorrência de uma possível tributação mais branda na renda desses servidores.
E, no tocante ao princípio da vedação às isenções heterônomas ou
heterotópicas, que se insere no inciso III antes transcrito, se deve ao fato de que o
poder de isentar é proveniente do poder de tributar. Assim, como esse último decorre
da competência atribuída pela CF, a isenção do tributo só poderá advir, em regra, do
próprio ente político competente para a instituição do tributo. Essa vedação, por
simetria, aplica-se aos Estados com relação aos Municípios.

ATENÇÃO! As isenções são formas de exclusão do crédito tributário e só podem ser


concedidas por lei específica (art. 150, § 6º, CF).

A CF aponta duas exceções ao princípio da vedação às isenções heterônomas.


A primeira exceção trazida pela própria CF se refere à exportação. Há dois dispositivos
constitucionais que merecem a transcrição para análise em comento:

Art. 155. (...), §2º. (...) XII - cabe à lei complementar:


e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o
exterior, serviços e outros produtos além dos mencionados no
inciso X, "a";
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as 30
prestações se iniciem no exterior;
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
X - não incidirá:
a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior,
nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior,
assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do
imposto cobrado nas operações e prestações anteriores.

No primeiro caso, a União pode conceder, por Lc, isenção heterônoma de


ICMS incidente nas operações com serviços e outros produtos destinados ao exterior,
além dos mencionados no art. 155, § 2º, X, “a”, CF.
Todavia, com essa nova redação do art. 155, § 2º, X, “a”, CF, dada pela Ec
42/2003, essa isenção heterônoma deixou de ser aplicável, já que o dispositivo traz
uma imunidade do ICMS a todos os produtos exportados.
A segunda exceção se encontra na isenção heterônoma do ISS na exportação
de serviços, conforme art. 156, § 3º, II, CF:

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:


III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art.
155, II, definidos em lei complementar;
§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste
artigo, cabe à lei complementar:
II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o
exterior;

Uma terceira exceção apresentada pela doutrina e pelo STF, mas não prevista
na CF, refere-se à possibilidade de o tratado internacional conceder isenções de
tributos estaduais e municipais. Isso é possível porque o Presidente da República, ao
celebrar tratados, age como Chefe de Estado, em nome da República Federativa do
Brasil, e não em nome da União (ente político interno).

ATENÇÃO! As imunidades são sempre heterônomas, uma vez que são concedidas
diretamente pelo texto constitucional, não havendo autonomia do ente competente
para cobrança do tributo estabelecê-las.
Nesse sentido, CESPE (procurador INSS 1999 – CORRETA): A imunidade é “uma
limitação heterônoma constitucional ao poder de tributar”.

No que concerne às custas processuais (taxas de serviço), o STJ possui a


seguinte súmula:
31
Súmula 178. O INSS não goza de isenção do pagamento de
custas e emolumentos, nas ações acidentárias e de benefícios,
propostas na Justiça Estadual.

O STJ, ainda, entende que a União apenas estará isenta das custas na Justiça
Estadual se houver lei estadual nesse sentido ou convênio entre esses entes.
Sobre o tema, o STF considerou inconstitucional Lc Estadual que isentava
membros do MP das custas e emolumentos, sob argumento de ferir o princípio da
isonomia. Veja:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO


271 DA LEI ORGÂNICA E ESTATUTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - LEI COMPLEMENTAR
N. 141/96. ISENÇÃO CONCEDIDA AOS MEMBROS DO
MINISTÉRIO PÚBLICO, INCLUSIVE OS INATIVOS, DO
PAGAMENTO DE CUSTAS JUDICIAIS, NOTARIAIS,
CARTORÁRIAS E QUAISQUER TAXAS OU EMOLUMENTOS.
QUEBRA DA IGUALDADE DE TRATAMENTO AOS
CONTRIBUINTES. AFRONTA AO DISPOSTO NO ARTIGO 150,
INCISO II, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. A lei complementar
estadual que isenta os membros do Ministério Público do
pagamento de custas judiciais, notariais, cartorárias e
quaisquer taxas ou emolumentos fere o disposto no artigo
150, inciso II, da Constituição do Brasil. 2. O texto
constitucional consagra o princípio da igualdade de tratamento
aos contribuintes. Precedentes. 3. Ação direta julgada
procedente para declarar a inconstitucionalidade do artigo 271
da Lei Orgânica e Estatuto do Ministério Público do Estado do
Rio Grande do Norte - Lei Complementar n. 141/96.
(ADI 3260, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado
em 29/03/2007, DJe-047 DIVULG 28-06-2007 PUBLIC 29-06-
2007 DJ 29-06-2007 PP-00021 EMENT VOL-02282-03 PP-00518
RDDT n. 144, 2007, p. 202-203 RDDT n. 145, 2007, p. 222
LEXSTF v. 29, n. 344, 2007, p. 12-18)

1.2.11. PRINCÍPIO DA NÃO-DISCRIMINAÇÃO BASEADA EM PROCEDÊNCIA OU


DESTINO

O art. 152 da CF assim dispõe:

Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos


Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e 32
serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência
ou destino.

Esse dispositivo aplica-se, exclusivamente, aos Estados, ao Distrito Federal e


aos Municípios, protegendo o pacto federativo. Apenas à União é lícito estipular
tratamento tributário diferenciado entre os Estados da federação para diminuir as
desigualdades socioeconômicas.
Do mesmo modo, a União pode, na posição de representante do Estado
Brasileiro, escolher os parceiros comerciais e Estados estrangeiros com os quais
firmará acordos ou tratados internacionais. Assim, não se aplica o princípio em
epígrafe às relações internacionais.
Esse dispositivo proíbe, de igual modo, a diferenciação de tributação de
produtos importados quando ingressados no território brasileiro. A norma é ratificada
pelo GATT, que traz a cláusula de tratamento nacional, com a equivalência entre os
produtos nacionais e importados quando esses últimos já se encontram no território
nacional.

1.3. IMUNIDADE E ISENÇÃO

A imunidade difere da isenção, pois a primeira se atém à competência


tributária, enquanto a segunda se consubstancia na dispensa legal do pagamento do
tributo. A isenção, desse modo, se encontra dentro do âmbito do exercício da
competência, enquanto a imunidade define a competência.
Outra diferença, decorrente do que dissemos no parágrafo acima, entre a
imunidade e a isenção, é que a primeira é constitucional e a segunda é legal
(infraconstitucional).

ATENÇÃO! Observe a assertiva considerada correta no concurso para juiz de direito


do TJSC de 2019: “A imunidade está no plano constitucional e proíbe a própria
instituição do tributo relativamente às situações e pessoas imunizadas”.
As imunidades, como visto, advêm da própria CF, como forma de delimitação da
competência tributária do ente político, e não estão contidas em Lc ou qualquer
outra norma infraconstitucional.

Souto Maior Borges classifica a imunidade como hipótese de não incidência


constitucionalmente qualificada e a isenção como hipótese de não incidência
legalmente qualificada.
Todavia, a CF expõe o termo “isenção”, em alguns casos, mas, mesmo que
assim o mencione, sempre será caso de imunidade tributária, e não de isenção.
Isso ocorre, por exemplo, no caso de imunidade para o pagamento de custas
na ação popular, contida no art. 5º, LXXIII, CF:
33
Art. 5º. (...) LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para
propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Do mesmo modo, ocorre se uma lei contiver a palavra “imunidade” e, no


caso, será isenção. Todavia, se a lei estiver regulamentando uma imunidade
constitucional será sempre imunidade, visto que estará prevista na CF.
A grande questão se consubstancia na alteração ou supressão das
imunidades. Já que estão na CF, só poderá ocorrer por Ec, uma vez que não se pode
olvidar que uma norma infraconstitucional excepcione a regra constitucional.
Entretanto, muitas imunidades são concedidas na CF para defenderem certas
garantias e direitos individuais, e, como estes são cláusulas pétreas, algumas não
podem ser retiradas. Diferentemente, ocorre nas isenções que podem ser alteradas
por lei.
A interpretação das imunidades deve ser ampla (extensiva), para atingir
realmente o bem jurídico tutelado pela norma. Já na isenção, a interpretação deve ser
restritiva, literal (art. 111, CTN).
A doutrina apresenta várias classificações a respeito das imunidades:
subjetiva, objetiva e mista; ontológicas e políticas; gerais e específicas; explícitas e
implícitas; e incondicionadas e condicionadas.
Dentre essas classificações, merece destaque a que se refere às imunidades,
subjetivas, objetivas e mistas.
Subjetiva: é uma imunidade concedida em razão da pessoa (jurídica). Por
exemplo: imunidade entre a União, Estados, DF e Municípios – imunidade recíproca.
Objetiva: se configura por recair sobre o objeto (coisa protegida). Por
exemplo: livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. Pode, ainda,
ser em razão da situação objetiva, ou seja, em face da situação da coisa protegida. Por
exemplo: exportação – exportar uma caneta para um amigo no exterior.
Mista: há imunidade em razão da pessoa e do objeto. Por exemplo:
imunidade do ITR sobre pequenas glebas rurais, assim definidas em lei, (aspecto
objetivo); quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel (aspecto
subjetivo).
Outra questão da imunidade se refere à necessidade de a pessoa protegida
por ela continuar a reter o tributo em que se configura como responsável, conforme
designado pela lei. A imunidade, portanto, não lhe retira o caráter de responsável
tributário pelo recolhimento do tributo retido.
Há imunidades previstas no art. 150, VI, CF, e outras espalhadas pela
Constituição.
34
No tocante à imunidade do art. 150, VI, CF, apenas se aplica aos IMPOSTOS,
conforme entendimento do STF. Assim, fica excluída a extensão dessa imunidade às
taxas e às contribuições.
Esse dispositivo assim dispõe:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b) templos de qualquer culto;
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos,
inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
trabalhadores, das instituições de educação e de assistência
social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua
impressão.
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no
Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores
brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas
brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais
que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de
mídias ópticas de leitura a laser.

A doutrina classifica essas imunidades em: imunidade recíproca; imunidade


dos templos de qualquer culto; imunidade dos partidos políticos, entidades sindicais
dos trabalhadores e instituições de educação e/ou assistência social sem fins
lucrativos; imunidade cultural; imunidade dos fonogramas e videofonogramas
musicais; e outras imunidades.

1.4. ISENÇÕES

Não obstante as discussões doutrinárias a respeito, a maioria entende ser a


isenção uma dispensa legal do pagamento do tributo devido. Por isso, ocorrido o fato
gerador, surge a obrigação tributária, mas não haverá constituição do crédito pela
dispensa legal de pagar o tributo.
Há diversas classificações doutrinárias a respeito das isenções, não fazendo
objetivo deste ponto esgotá-las. De todo modo, apresenta-se, de forma direta,
algumas delas no seguinte quadro:

Quanto à forma de concessão i) absoluta ou geral: concedida por lei; 35


ii) solene ou individual: prevista em lei e
concedida por despacho da autoridade;

Quanto à natureza i) onerosa ou condicionada: com ônus para o


beneficiário;
ii) gratuita ou incondicionada: sem ônus;

Quanto à capacidade i) técnica: o beneficiário não possui capacidade


contributiva contributiva; busca trazer isonomia;
ii) política: há capacidade contributiva, mas é
concedida por política fiscal;

Quanto à abrangência i) ampla: todo o território do ente;


ii) restrita: parte do território;
iii) setorial: apenas a alguns segmentos
econômicos;

Quanto aos elementos i) objetiva: em função do fato gerador do objeto;


ii) subjetiva: em função do sujeito passivo;
iii) mista: em função do objeto e do sujeito.

Quanto à revogação da isenção i) revogável:


ii) irrevogável.

Em razão da indisponibilidade do interesse público, a dispensa do pagamento


do tributo deve ser mediante lei específica, razão do motivo da exigência contida no
art. 150, § 6º, da CF:

§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,


concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos
a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido
mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que
regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o
correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do
disposto no art. 155, § 2º, XII, g.

ATENÇÃO! Atente que essa exceção do art. 155, § 2º, XII, “g”, CF, refere-se aos casos,
permitidos por Lc, em que os Estados e o DF concederão e revogarão isenções,
incentivos e benefícios fiscais sem ser por meio de lei específica.
36

Atente que a lei é específica, isto é, ou trata apenas do benefício ou


corresponde ao tributo que se está concedendo o benefício fiscal.
Exemplo: a lei que contemple um programa de financiamento agropecuário
ou incremento à construção de casas populares pode contemplar a atividade com
determinado benefício fiscal, por estar relacionado com o objetivo da lei.

ATENÇÃO! Quando a CF exige lei específica, a concessão do benefício fiscal deve


respeitar os tipos legislativos de mesma hierarquia correspondente para instituir o
tributo. A competência para conceder benefícios fiscais decorre da competência para
instituir tributo. Assim, não há sentido em a CF exigir Lc para instituir tributo e ser
possível conceder uma isenção por LO.
Outra questão se refere à exigência constitucional (art. 113 da ADCT) sobre a lei que
crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita. Conforme a norma
constitucional, nesses casos, deverá ser acompanhada da estimativa do seu impacto
orçamentário e financeiro.
O STF fixou a tese de que caso a lei conceda o benefício fiscal sem prever o impacto
orçamentário e financeiro estará eivada de vício de constitucionalidade. Veja: “É
inconstitucional lei estadual que concede benefício fiscal sem a prévia estimativa de
impacto orçamentário e financeiro exigida pelo art. 113 do ADCT”.
STF. Plenário. ADI 6303/RR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/3/2022 (Info
1046).

Outro ponto se refere ao entendimento do STF de que a concessão de


isenção é de natureza discricionária do ente político, obedecendo à conveniência e à
oportunidade, não cabendo ao Judiciário substituir o legislador para estabelecer
isenções a pretexto da isonomia (RE 3442221, 1ª T, j. 11.02.2003).
Importante, ainda, o assunto das isenções do ICMS. Essa se configura a única
hipótese constitucional em que não se exige lei específica para a concessão de
isenções, cuja norma constitucional possui o seguinte teor:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir


impostos sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior;
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
XII - cabe à lei complementar: 37
g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e
do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais
serão concedidos e revogados.

A matéria foi regulada pela Lc nº 24/1975. Conforme essa Lc, há a


necessidade de decisão unânime dos Estados representados no conselho para a
concessão de benefícios fiscais do ICMS; e a sua revogação total ou parcial dependerá
de aprovação de quatro quintos, pelo menos, dos representantes presentes (art. 2º, §
2º, Lc nº 24/1975).
Importa destacar que o descumprimento das normas constitucionais para a
concessão de isenção do ICMS por um dos Estados da federação não legitima a atitude
de outros entes federados de procederem isenções de tal imposto sem a observância
das mesmas normas. A doutrina aponta que não se pode legitimar a compensação de
atos inconstitucionais.
Por outro lado, embora se faça necessário a realização de convênio de isenção
para evitar a guerra fiscal entre os Estados, caso não haja a possibilidade de haver tal
“guerra fiscal”, o STF entendeu ser desnecessária a elaboração de convênio do
CONFAZ:

ICMS - SERVIÇOS PÚBLICOS ESTADUAIS PRÓPRIOS,


DELEGADOS, TERCEIRIZADOS OU PRIVATIZADOS DE ÁGUA, LUZ,
TELEFONE E GÁS - IGREJAS E TEMPLOS DE QUALQUER CRENÇA
- CONTAS - AFASTAMENTO – “GUERRA FISCAL” - AUSÊNCIA DE
CONFIGURAÇÃO. Longe fica de exigir consenso dos Estados a
outorga de benefício a igrejas e templos de qualquer crença
para excluir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços nas contas de serviços públicos de água, luz, telefone
e gás.
(ADI 3421, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, j.
05/05/2010)

1.5. IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS

As imunidades tratam de situações que não podem ser atingidas pela


tributação, deixando-as de fora da instituição de tributos, isto é, são hipóteses de não
incidência tributária.

ATENÇÃO! Por que “não incidência tributária”? Porque a norma tributária não
incidirá em determinados fatos e, com isso, não haverá tributação.

38
Podem, também, ser definidas como limites negativos à competência
tributária, observados quando a norma constitucional exclui, expressamente, da
incidência tributária positiva ou, ainda, na situação de deixar de fora uma hipótese não
prevista na competência positiva.
A doutrina classifica essas hipóteses de não incidência como: não incidência
pura; não incidência pura e simples; e imunidade propriamente dita.

1.5.1. NÃO INCIDÊNCIA PURA (PRODUTOS OU BENS NÃO TRIBUTADOS – NT)

Configura-se quando o fato não estiver previsto na hipótese de incidência,


isto é, o ente tributante, podendo fazê-lo, deixa de definir determinada situação como
hipótese de incidência tributária. O ente (União, Estado, DF ou Município) ESCOLHE
não tributar determinado fato.

ATENÇÃO!
Exemplo: IR; há várias hipóteses de incidência que estão previstas na lei. Basta que
ocorra o fato gerador para ensejar o dever de pagar o tributo. Agora, se ocorrer um
fato que não estiver previsto nas hipóteses de incidência, este será considerado um
fato não tributado - NT.
Exemplos: tripas de porco; esponjas naturais de origem animal; ceras vegetais são
exemplos de produtos não tributados do IPI.
A União, nesses casos, poderia tributar esses produtos, mas escolheu não tributar.
Chama-se, então, de produtos não tributados ou simplesmente NT.

1.5.2. NÃO INCIDÊNCIA PURA E SIMPLES

O ente tributante não dispõe de competência para definir determinada


situação como hipótese de incidência tributária, pois a competência tributária disposta
na CF não abrange tal fato.
Note que, aqui, há uma situação diversa. O ente não escolhe não tributar; não
tributa o fato porque não possui competência para isso.

ATENÇÃO! Exemplo: não se pode tributar uma bicicleta pelo IPVA, uma vez que não
se trata de veículo automotor (aquele que se locomove com seus próprios meios).
Se o Estado quisesse tributar as bicicletas com o IPVA não poderia, pois não detém
competência tributária para tributar esse veículo, já que não é considerado
automotor.

39
1.5.3. IMUNIDADE PROPRIAMENTE DITA

Nesse caso, é a CF que delimita a competência do ente federado, impedindo-


o de definir determinadas situações como hipóteses de incidência do tributo.
Trata-se da chamada competência negativa: a CF delimita a competência e
retira da hipótese de incidência o fato abrangido pela norma.
Exemplo: a União tem um imóvel em um Município X; embora esteja na
competência desse Município cobrar IPTU dos imóveis urbanos em sua circunscrição,
não pode tributar o imóvel da União porque a CF retirou essa hipótese ao instituir a
imunidade recíproca, em preservação ao pacto federativo.
Apenas para deixar consignado, nos dois primeiros casos de não incidência
(produto NT e não incidência pura e simples), a doutrina denomina de não incidência
tout court (ou seja, simplesmente não incide). Já no terceiro caso (imunidade
propriamente dita), a doutrina aponta como não incidência constitucionalmente
qualificada (ou seja, a verdadeira imunidade, por definição).

1.5.4. ALÍQUOTA-ZERO

No caso da alíquota-zero, não se trata de imunidade ou isenção. Aqui, o ente


tributante competente para a criação do tributo fixa a alíquota zero (0%) a incidir
sobre a BC. Destarte, mesmo que ocorra o fato gerador da obrigação tributária, não
haverá pagamento de nenhum tributo, porque a multiplicação da alíquota 0% sobre
qualquer que seja o valor da BC sempre terá como resultado o número 0 (zero).
Geralmente, essa atribuição de alíquota-zero ocorre nos tributos de caráter
extrafiscal (II, IE, IPI, IOF), através de ato do Executivo, desde que, é claro, esteja essa
alíquota dentre o limite estipulado por lei.

1.5.5. IMUNIDADE RECÍPROCA – ART. 150, VI, “A”, CF

Essa imunidade veda a tributação de impostos sobre o patrimônio, renda ou


serviços entre entes federados. Tem por finalidade proteger o princípio federativo,
impedindo que os tributos sejam usados como formas de pressões políticas.
Os entes políticos são autônomos (art. 18 da CF) e, assim, inexiste uma
relação de subordinação entre eles. Por isso, a imunidade em questão constitui
cláusula pétrea (ADI 939).
Por outro lado, não obstante essa impossibilidade de instituição de
obrigações relacionadas aos impostos, o STF entendeu que NÃO há vedação de
imposição de obrigações acessórias, as quais, inclusive, podem ser instituídas por atos
infralegais (Info 980, ACO 1098, j. 11.05.2020). Nesse mesmo julgado, o STF se
declarou originalmente competente para analisar causas que envolvam interpretação
de normas relativas à imunidade recíproca, ante o potencial abalo ao pacto federativo. 40
Estende-se a imunidade recíproca às autarquias e às fundações públicas, mas
apenas no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços vinculados às suas
finalidades essenciais ou às delas decorrentes (imunidade tributária extensiva),
conforme o § 2º do art. 150 da CF:

Art. 150.
§ 2º A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se
refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas
finalidades essenciais ou às delas decorrentes.

ATENÇÃO! Essa restrição de a imunidade recíproca apenas atingir patrimônio, a


renda e os serviços vinculados às suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes
não se aplica aos entes políticos (União, Estados, DF e Municípios).

Conforme entendimento do STF, essa imunidade tributária extensiva


também se estende às empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras
de serviços públicos. Desse modo, necessária a afetação do patrimônio, renda e
serviços vinculados às suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.
ATENÇÃO! O STF decidiu que a sociedade de economia mista que possua ações
negociadas na bolsa de valores e voltada para a remuneração de capital de seus
controladores ou acionistas NÃO está sujeita à imunidade recíproca, ainda que tenha
por objeto a prestação de serviços públicos.
Conforme tese de repercussão geral proposta: “Sociedade de economia mista, cuja
participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que, inequivocamente,
está voltada à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está
abrangida pela regra de imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da
Constituição, unicamente em razão das atividades desempenhadas.” (STF - RE
600867, Relator(a): JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/ Acórdão: LUIZ FUX, Tribunal
Pleno, julgado em 29/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-239 DIVULG 29-09-2020 PUBLIC 30-09-2020)

Há diversos julgados do STF a respeito do tema, cujas decisões se expõe em


síntese:

a) os valores investidos pelos entes federados, bem como a


renda auferida estão imunes ao IOF e ao IR (STF - AI AgR
174808, j. 11.03.1996);
b) bens que integram patrimônio de ente federado são imunes,
mesmo que estejam ocupados pela empresa delegatária de 41
serviços públicos (STF - RE 253394, j. 26.11.2002);
c) a empresa privada que presta serviços de iluminação pública
e remunerada pelo Município não é beneficiada pela
imunidade, visto que paga ICMS à Fazenda Estadual e o inclui
no preço do serviço disponibilizado ao usuário (STF - AC-MC
457, j. 26.10.2004);
d) o serviço notarial e de registro é uma atividade estatal
delegada, mas, por ser exercido em caráter privado, não é
imune à incidência do ISS (STF - ADI 3089, j. 13.02.2008);
e) Incide a imunidade prevista no artigo 150, inciso VI, alínea
“a”, da Constituição Federal, em se tratando de contrato de
alienação fiduciária em que pessoa jurídica de direito público
surge como devedora. (RE 727851, Relator(a): MARCO
AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 22/06/2020).

Também não se aplica a imunidade recíproca quando o Estado atua


diretamente na economia. Primeiro porque não pode gozar de privilégios fiscais não
extensivos às do setor privado (art. 173, § 2º, CF) e, segundo, em virtude do § 3º do
art. 150:
§ 3º As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não
se aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados
com exploração de atividades econômicas regidas pelas
normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que
haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo
usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação
de pagar imposto relativamente ao bem imóvel.

Sobre essa última parte, convém transcrever a súmula 583 do STF:


“Promitente comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é
contribuinte do imposto predial territorial urbano”.
Exemplo: uma empresa realiza contrato de promessa de compra e venda de
um imóvel pertencente a um Estado. Esse bem apenas deixará de ser propriedade do
Estado após o registro da escritura no cartório de imóveis. Assim, caso não fosse o
disposto no § 3º do art. 150 da CF e o entendimento sumulado do STF, o promitente
comprador não teria obrigação de efetuar o pagamento de impostos concernentes ao
imóvel e, com isso, furtar-se-ia da tributação até a efetivação do respectivo registro.
Por fim, embora tenha sido mencionado acima, importante frisar que, em se
tratando de imunidade recíproca dos entes políticos (União, Estados, DF e Municípios),
a CF não faz nenhuma ressalva, ou seja, aplica-se a imunidade plenamente a todo e
qualquer patrimônio, renda e serviços por eles prestados.
42
1.5.6. IMUNIDADE DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO – ART. 150, VI, “B”, CF

Essa imunidade visa a proteger o culto das religiões. Para que se considere
templo, é preciso que exista uma pessoa jurídica organizada e que pratique atividades
com fins religiosos. Essa imunidade só se refere ao patrimônio, renda e serviços
relacionados à sua finalidade essencial (§ 4º, art. 150, VI, CF).

Art. 150.
VI - instituir impostos sobre:
b) templos de qualquer culto;
§ 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas “b” e “c”,
compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços,
relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas
mencionadas.

Diante disso, o STF entende que se o imóvel da entidade religiosa for alugado
a terceiros, aquele continua imune, tendo que ser comprovado apenas se o fruto do
aluguel se reverte às finalidades essenciais da instituição.
OBSERVAÇÃO: Conforme consolidou o STF: “não cabe à entidade religiosa
demonstrar que utiliza o bem de acordo com suas finalidades institucionais. Ao
contrário, compete à administração tributária demonstrar a eventual tredestinação
do bem gravado pela imunidade.” (ARE 800.395 AgR, rel. min. Roberto Barroso, j.
28.10.2014)

Cumpre destacar, também, que a Ec nº 116/2022 estendeu a imunidade


religiosa aos casos em que a entidade abrangida pela imunidade seja locatária do bem
imóvel. Transcreve-se:

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:


I - propriedade predial e territorial urbana;
§ 1º-A O imposto previsto no inciso I do caput deste artigo não
incide sobre templos de qualquer culto, ainda que as
entidades abrangidas pela imunidade de que trata a alínea "b"
do inciso VI do caput do art. 150 desta Constituição sejam
apenas locatárias do bem imóvel. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 116, de 2022)

O STF também entendeu (RE 578562 – 2008) que os cemitérios que


43
funcionem como extensão da entidade religiosa, que não tenham fins lucrativos e se
dediquem exclusivamente à realização de serviços religiosos e funerários são imunes.

ATENÇÃO! Não se aplica a imunidade aos cemitérios instituídos por particulares com
manifesta finalidade lucrativa.

1.5.7. IMUNIDADE DOS PARTIDOS POLÍTICOS, ENTIDADES SINDICAIS DOS


TRABALHADORES, INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO E/OU ASSISTÊNCIA SOCIAL SEM FINS
LUCRATIVOS (ART. 150, VI, “C”, CF)

São hipóteses de imunidade subjetiva e direcionadas a pessoas jurídicas de


direito privado, bem como às suas funções. O bem jurídico protegido é a liberdade
partidária - pluralismo político (art. 1º, V, CF). Também só se refere às suas finalidades
essenciais (art. 150, VI, § 4º, CF), não podendo ultrapassar seus estatutos. Para o gozo
de tal imunidade, os partidos políticos têm que obedecer tanto aos ditames
constitucionais para sua criação (art. 17 da CF) quanto aos legais (art. 14 do CTN).
No tocante à imunidade das entidades sindicais, só pode ser dos empregados,
por causa de sua hipossuficiência. A imunidade em comento não abrange o sindicato
dos empregadores.
Quanto à imunidade prevista para as instituições de educação e/ou
assistência social sem fins lucrativos, impende destacar, desde logo, que não obsta que
a entidade tenha lucro, desde que esta não seja sua finalidade.
Significa que não pode haver divisão de renda nem patrimônio entre os
associados. Todo superávit deve ser reinvestido na própria entidade.

ATENÇÃO! O CESPE, no concurso para auditor do TCE-PA em 2016, considerou


errada a seguinte assertiva: “A imunidade das entidades de assistência social sem
fins lucrativos abrange seu patrimônio, sua renda e seus serviços. Assim, não incide o
imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana sobre imóvel de sua
propriedade alugado a terceiros, ainda que os aluguéis não sejam revertidos a sua
finalidade essencial”.

Outro ponto é a necessidade de se atender aos requisitos legais para que se


obtenha a imunidade. A lei apenas torna possível a imunidade prevista, mas não a
transforma em mera isenção.
Frisa-se que, embora o dispositivo constitucional não tenha exigido LC, é
devido esse tipo de instrumento normativo em face do inciso II do art. 146 da CF.
Atualmente, é o art. 14 do CTN que disciplina a matéria:
44
Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é
subordinado à observância dos seguintes requisitos pelas
entidades nele referidas:
I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de
suas rendas, a qualquer título;
II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na
manutenção dos seus objetivos institucionais;
III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em
livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua
exatidão.
§ 1º Na falta de cumprimento do disposto neste artigo, ou no
§ 1º do artigo 9º, a autoridade competente pode suspender a
aplicação do benefício.
§ 2º Os serviços a que se refere a alínea c do inciso IV do artigo
9º são exclusivamente, os diretamente relacionados com os
objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo,
previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivos.

ATENÇÃO! A Lei nº 9.532/97, em seu art. 12, traz alguns requisitos da aplicação da
imunidade em comento às instituições de educação ou de assistência social.
Dentre eles, como regra, impede a remuneração de seus dirigentes pelos serviços
prestados.
Como exceção, apresenta três:
i) associações, fundações ou organizações da sociedade civil, sem fins lucrativos, cujos
dirigentes poderão ser remunerados, desde que atuem efetivamente na gestão
executiva e desde que cumpridos os requisitos previstos nos arts. 3o e 16 da Lei
no 9.790, de 23 de março de 1999;
ii) remuneração aos diretores não estatutários que tenham vínculo empregatício (ou
seja, contratados pela CLT); e
iii) a remuneração aos dirigentes estatutários, desde que recebam remuneração
inferior, em seu valor bruto, a 70% (setenta por cento) do limite estabelecido para a
remuneração de servidores do Poder Executivo federal.
Importante mencionar que essa Lei nº 9.532/97 realiza diversas alterações na
legislação federal, isto é, trata de vários dispositivos normativos de temas distintos.
Por essa razão, recomenda-se a leitura completa de tal art. 12.

O STF entende como protegidas por essa imunidade as escolas


profissionalizantes, como SENAC e SENAI (RE 235.737). Em relação às entidades
religiosas, da mesma forma, o STF entende que, se a entidade sem fins lucrativos
utilizar seu patrimônio em atividade que lhe gere renda, não perderá a imunidade se
reverter os recursos às suas atividades essenciais. 45
Sobre o tema, observe-se o entendimento vinculante do STF:

Súmula Vinculante 52. Ainda quando alugado a terceiros,


permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das
entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição, desde
que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais
de tais entidades.

ATENÇÃO! A respeito dessa linha de raciocínio da súmula, no tocante à aplicação das


receitas às atividades essenciais, a União defendeu a tese de que o IOF estaria fora
dessa imunidade, sob o argumento de que esse imposto incide sobre as “operações
financeiras”, e não sobre o patrimônio, a renda ou os serviços das instituições.
Todavia, o STF, em recente julgado, entendeu que a vinculação às atividades
essenciais é presumida, em razão da vedação de distribuição de qualquer parcela de
seu patrimônio ou de suas rendas. Assim, essa vinculação às atividades essenciais não
pode ser confundida com a afetação direta e exclusiva a tais finalidades.
Destarte, um sindicato, por exemplo, pode realizar aplicações financeiras sobre suas
receitas, com o intuito de não deixar que esse patrimônio seja corroido pela inflação.
Nessa situação, não incidirá o IOF sobre esssa operações financeiras.
Nessa linha, decidiu: “A imunidade assegurada pelo art. 150, VI, ‘c’, da Constituição
da República aos partidos políticos, inclusive suas fundações, às entidades sindicais
dos trabalhadores e às instituições de educação e de assistência social, sem fins
lucrativos, que atendam aos requisitos da lei, alcança o IOF, inclusive o incidente
sobre aplicações financeiras.” (STF - RE 611510, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal
Pleno, julgado em 13/04/2021)

Essa imunidade também se estende à venda de bens da entidade imune no


tocante ao ICMS (RE 186175). No que se refere às entidades de previdência
complementar, apenas se aplica às entidades fechadas.
A Corte Suprema entende que as entidades de previdência complementar
fechadas, apenas estão dentro dessa imunidade, se os beneficiários não
contribuírem para ela e sim, apenas, os empregadores (patrocinadores).
Nesse sentido, o STF já possui entendimento sumulado:

Súmula 730. A imunidade tributária conferida a instituições de


assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, “c”, da
Constituição, somente alcança as entidades fechadas de
previdência social privada se não houver contribuição dos
beneficiários.

Diante disso e do disposto no art. 202, § 3º, da CF, os entes políticos e suas
46
entidades não podem ser beneficiados da imunidade das entidades assistenciais, visto
que tal norma impede que eles contribuam sozinhos para uma previdência
complementar de seus servidores.

1.5.8. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA CULTURAL – ART. 150, VI, “D”, CF

Essa imunidade visa a garantir a liberdade de informações, expressão etc. Não


tem por objetivo principal o baixo preço. Evita que, por meio de tributo, possa haver
uma intervenção na liberdade de expressão. É a única imunidade puramente objetiva,
das previstas do art. 150, VI.
Os objetos dessa imunidade são: livros, jornais, periódicos e do papel
destinado à sua impressão.
Por ser uma imunidade puramente objetiva, não se aplica às livrarias, às
editoras, aos autores, às empresas jornalistas etc. (RE-ED 206774). Pelo mesmo
motivo e em razão de a CF não ter feito qualquer restrição, não cabe ao intérprete
fazer juízo de valor do conteúdo do objeto cultural, conforme STF (RE 221239, j.
25.05.2004).

OBSERVAÇÃO: O livro, revista ou periódico, independentemente do conteúdo, possui


a imunidade cultural em comento, portanto, seja uma revista científica, seja uma de
conteúdo pornográfico, ensejará a hipótese de não incidência constitucionalmente
qualificada (imunidade).

As apostilas também são protegidas pela imunidade, por veicular transmissão


de cultura de modo simplificado (STF - RE 183403, j. 07.11.2000). O STF também
decidiu que os anúncios nas listas telefônicas e os que ficam no corpo dos jornais,
sendo deles inseparáveis, não retira a imunidade deles. Apenas se a propaganda vier
em encarte separado não será imune, por possuir finalidade exclusivamente comercial.
No tocante aos componentes do papel, o STF decidiu que maquinário não é
imune, mas a tinta é imune. Veja o julgado a seguir:

A imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “d”, da


Constituição Federal, não abarca o maquinário utilizado no
processo de produção de livros, jornais e periódicos.
A imunidade tributária visa à garantia e efetivação da livre
manifestação do pensamento, da cultura e da produção
cultural, científica e artística. Assim, é extensível a qualquer
material assimilável a papel utilizado no processo de impressão
e à própria tinta especial para jornal, mas não é aplicável aos
equipamentos do parque gráfico, que não são assimiláveis ao
47
papel de impressão, por não guardarem relação direta com a
finalidade constitucional do art. 150, VI, “d”, da CF/88. (STF. 1ª
Turma. ARE 1100204/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 29/5/2018 - Info
904).

Veja, ainda, a súmula 657 do STF: “A imunidade prevista no art. 150, VI, "d",
da Constituição Federal abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à
publicação de jornais e periódicos”.
O STF também entendeu serem imunes os filmes destinados à produção de
capas de livros (RE 392221, j. 18.05.2004).

ATENÇÃO! O STF decidiu, em sede de repercussão geral, que a presente imunidade


tributária se aplica ao livro eletrônico (“e-book”), inclusive aos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-lo. Segundo o STF, a imunidade também alcança
componentes eletrônicos destinados, exclusivamente, a integrar unidade didática
com fascículos (INFO 856 – STF – repercussão geral – j. 08.03.2017).
Dessa decisão, ensejou a edição da Súmula Vinculante 57 do STF: “A imunidade
tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88, aplica-se à importação e
comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-
readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias”.
Impende destacar que, embora outros dispositivos como “smartphones”, “tablets”,
“laptops”, computadores de mesa etc., possam ler livros, tal função não se perfaz a
principal; portanto, não são suportes utilizados exclusivamente para leitura de livros,
de modo que não se amoldam na teleologia da imunidade cultural ora tratada.
Como se observa na redação da SV 57, a imunidade se aplica ao “livro eletrônico (e-
book) e dos suportes exclusivamente utilizados para fixá-los”; e, no seu final, ao
incluir os “e-readers”, tal verbete sumular reforça “ainda que possuam
funcionalidades acessórias”.
Destarte, incabível a imunidade para suportes que não tenham como finalidade
principal a leitura de livros.
Por outro lado, por exemplo, se o livro estiver contido em um DVD ou áudio e-book,
estar-se-á diante de uma imunidade cultural, pois são suportes cujos livros podem
ser fixados.

1.5.9. Fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras


musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas
por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os
contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a
laser.
48
Essa imunidade, trazida pela Ec nº 75/2013, foi inserida com o intuito de
diminuir o custo de venda dos CDs e DVDs musicais e, com isso, tentar minimizar a
pirataria.
Destaque-se que a norma em comento apenas imuniza a produção dessas
obras, mas a etapa de replicação das mídias continua a ser tributada.
Atente, ainda, que a imunidade se refere apenas a IMPOSTOS!
Por último, observe o esquema abaixo que sistematiza a norma imunizante
em análise:
1.5.10. OUTRAS IMUNIDADES
49
Exportações: a ideia é dispensar os produtos nacionais para serem mais
competitivos no exterior. Só haverá essas imunidades se o produto for realmente
exportado.
Há vários dispositivos constitucionais concedendo essa imunidade:

Contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico


Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir
contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e
de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como
instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do
previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que
alude o dispositivo.
§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio
econômico de que trata o caput deste artigo:
I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação
IPI
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
IV - produtos industrializados;
§ 3º O imposto previsto no inciso IV:
III - não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao
exterior.
ICMS
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior;
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
X - não incidirá:
a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior,
nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior,
assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do
imposto cobrado nas operações e prestações anteriores;
ISS
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art.
155, II, definidos em lei complementar. 50
§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste
artigo, cabe à lei complementar:
II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o
exterior.

Há, ainda, outras imunidades previstas ao longo da CF:

ITR
Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:
VI - propriedade territorial rural;
§ 4º O imposto previsto no inciso VI do caput:
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei,
quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel;
Outras imunidades
Art. 5º
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do
pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para
defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse
pessoal;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou
de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na
forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data,
e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da
cidadania.
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso,
de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos
reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de
direitos a sua aquisição; 51
§ 2º O imposto previsto no inciso II:
I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos
incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização
de capital, nem sobre a transmissão de bens ou direitos
decorrente de fusão, incorporação, cisão ou extinção de
pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade
preponderante do adquirente for a compra e venda desses
bens ou direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento
mercantil;
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social,
para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja
cumprindo sua função social, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de
preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização
será definida em lei.
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as
operações de transferência de imóveis desapropriados para
fins de reforma agrária.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais:
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência
social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo
com o valor do salário de contribuição, não incidindo
contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo
Regime Geral de Previdência Social; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019);
§ 7º São isentas de contribuição para a seguridade social as
entidades beneficentes de assistência social que atendam às
exigências estabelecidas em lei.
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção
do Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.

52
2. JURISPRUDÊNCIA

SÚMULAS DO STF

Súmula Vinculante 58 - Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à


entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não
contraria o princípio da não cumulatividade.
Súmula Vinculante 57 - A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88
aplica-se à importação e comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-
book) e dos suportes exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros
eletrônicos (e-readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias.
Súmula Vinculante 52 - Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU
o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da
Constituição Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para
as quais tais entidades foram constituídas.
Súmula Vinculante 50 - Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação
tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.
Súmula 730 - A imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem
fins lucrativos pelo art. 150, VI, c, da Constituição, somente alcança as entidades
fechadas de previdência social privada se não houver contribuição dos beneficiários.
Súmula 657 - A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da Constituição Federal abrange
53
os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos.
Súmula 591 - A imunidade ou a isenção tributária do comprador não se estende ao
produtor, contribuinte do imposto sobre produtos industrializados.
Súmula 575 - À mercadoria importada de país signatário do GATT, ou membro da
ALALC, estende-se a isenção do imposto de circulação de mercadorias concedida a
similar nacional.
Súmula 544 - Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem ser
livremente suprimidas.

SÚMULAS DO STJ

Súmula 640 - O benefício fiscal que trata do Regime Especial de Reintegração de


Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (REINTEGRA) alcança as operações
de venda de mercadorias de origem nacional para a Zona Franca de Manaus, para
consumo, industrialização ou reexportação para o estrangeiro.
Súmula 612 - O certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS), no
prazo de sua validade, possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo
seus efeitos à data em que demonstrado o cumprimento dos requisitos estabelecidos
por lei complementar para a fruição da imunidade.
Súmula 508 - A isenção da Cofins concedida pelo art. 6º, II, da LC n. 70/1991 às
sociedades civis de prestação de serviços profissionais foi revogada pelo art. 56 da Lei
n. 9.430/1996.
Súmula 352 - A obtenção ou a renovação do Certificado de Entidade Beneficente de
Assistência Social (Cebas) não exime a entidade do cumprimento dos requisitos legais
supervenientes.

JULGADOS DO STF

- A Caixa de Assistência dos Advogados de Minas Gerais encontra-se tutelada pela


imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, “a”, do Texto Constitucional, tendo em
vista a impossibilidade de se conceder tratamento tributário diferenciado a órgãos da
OAB, de acordo com as finalidades que lhe são atribuídas por lei. (STF, RE 405267/MG,
rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 6.9.2018 – Info 914)

- Os bens e direitos que integram o patrimônio do fundo vinculado ao Programa de


Arrendamento Residencial (PAR), criado pela Lei 10.188/2001, beneficiam-se da
imunidade tributária prevista no art. 150, VI, a, (1) da Constituição Federal (CF). (STF,
RE 928902/SP, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 17.10.2018 – Info 920)

- A imunidade recíproca, prevista no art. 150, VI, a, da Constituição não se estende a


54
empresa privada arrendatária de imóvel público, quando seja ela exploradora de
atividade econômica com fins lucrativos. Nessa hipótese é constitucional a cobrança
do IPTU pelo Município. (STF - RE 594015, repercussão geral, j. 06.04.2017)

- Incide o IPTU, considerado imóvel de pessoa jurídica de direito público cedido a


pessoa jurídica de direito privado, devedora do tributo. (STF - RE 601720, repercussão
geral, j. 06.04.2017)

- A imunidade tributária recíproca reconhecida à Empresa Brasileira de Correios e


Telégrafos — ECT alcança o IPTU incidente sobre imóveis de sua propriedade e por
ela utilizados, não se podendo estabelecer, a priori, nenhuma distinção entre os
imóveis afetados ao serviço postal e aqueles afetados à atividade econômica. (STF – RE
773992, repercussão geral, j. 15.10.2014)

ATENÇÃO! Nesse julgado, o STF apenas informou que os imóveis dos correios se
encontram presumidamente afetados ao serviço. Caberá à Administração Tributária
afastar essa imunidade com prova em contrário.
- IPTU. Lote vago. Não incidência. 4. A imunidade tributária, prevista no art. 150, VI, c,
da CF/88, aplica-se aos bens imóveis, temporariamente ociosos, de propriedade das
instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos que atendam os
requisitos legais. (STF - RE 767332 RG, repercussão geral, j. 31.10.2013)

- Os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar previstos em lei complementar.


(STF - RE 566622, repercussão geral, j. 23.02.2017)

- Não incide o ICMS sobre o serviço de transporte de encomendas realizado pela


Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, tendo em vista a imunidade
recíproca prevista no art. 150, VI, a, da Constituição Federal. (STF - RE 627051,
repercussão geral, j. 12.11.2014)

- A vedação à instituição de impostos sobre o patrimônio e a renda das entidades


reconhecidamente de assistência social que estejam vinculados às suas finalidades
essenciais é uma garantia constitucional. Por seu turno, existe a presunção de que o
imóvel da entidade assistencial esteja afetado a destinação compatível com seus
objetivos e finalidades institucionais. 2. O afastamento da imunidade só pode ocorrer
mediante a constituição de prova em contrário produzida pela administração
tributária. (STF - I 746263 AgR-ED / MG, 1ª Turma, Min. Dias Toffoli, j. 12/11/2013)
55
- Uma empresa estatal cedeu seu imóvel à empresa particular para exploração de sua
atividade. O STF afirmou que, nesse caso, incide o IPTU sobre o imóvel cedido, pois
não se poderia aplicar a imunidade tributária recíproca se o bem estivesse
desvinculado de finalidade estatal. (STF. Plenário. RE 434251/RJ, j. 19/4/2017 – Info
861).

- Os terrenos dos cemitérios das instituições religiosas gozam de imunidade. EMENTA:


RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. IPTU.
ARTIGO 150, VI, “B”, CB/88. CEMITÉRIO. EXTENSÃO DE ENTIDADE DE CUNHO
RELIGIOSO. 1. Os cemitérios que consubstanciam extensões de entidades de cunho
religioso estão abrangidos pela garantia contemplada no artigo 150 da Constituição
do Brasil. Impossibilidade da incidência de IPTU em relação a eles. 2. A imunidade aos
tributos de que gozam os templos de qualquer culto é projetada a partir da
interpretação da totalidade que o texto da Constituição é, sobretudo do disposto nos
artigos 5º, VI, 19, I e 150, VI, “b”. 3. As áreas da incidência e da imunidade tributária
são antípodas. Recurso extraordinário provido. (RE 578562, Relator(a): Min. EROS
GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 21/05/2008)

- Não é possível condicionar a concessão de imunidade tributária para as instituições


de educação e assistência social sem fins lucrativos à apresentação de certificado, na
hipótese em que demonstrado o preenchimento dos requisitos para incidência da
norma imunizante, ainda mais, quando comprovado por meio de perícia contábil.
- A imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus beneficiários na posição de
contribuinte de direito, mas não na de simples contribuinte de fato, sendo irrelevante,
para a verificação da existência do beneplácito constitucional, a repercussão
econômica do tributo envolvido. (INFO 855 – STF - 2017)

ATENÇÃO!
Se a entidade imune for contribuinte de direito: incide a imunidade subjetiva.
Se a entidade imune for contribuinte de fato: não incide a imunidade subjetiva.

- Os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar previstos em lei complementar.


(INFO 855 – STF - 2017)

ATENÇÃO! Entendimento ANTERIOR (2013/2014): Entidade de assistência social


goza de imunidade quanto ao PIS, a lei que o artigo 195, § 7º, da CF exige é uma
ordinária.

56
- A imunidade tributária constante do art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal (CF),
aplica-se ao livro eletrônico (“e-book”), inclusive aos suportes exclusivamente
utilizados para fixá-lo. (INFO 856 – STF – repercussão geral – j. 08.03.2017)

- A imunidade da alínea “d” do inciso VI do art. 150 da CF/88 alcança componentes


eletrônicos destinados, exclusivamente, a integrar unidade didática com fascículos.
(INFO 856 – STF - 2017)

- Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato
normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da
atuação estatal, valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de
fiscalização em percentual superior aos índices de correção monetária legalmente
previstos. (STF – RE 838284, repercussão geral, j. 19.10.2016)

- É inconstitucional, por ofensa ao princípio da legalidade tributária, lei que delega aos
conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas a competência de fixar ou
majorar, sem parâmetro legal, o valor das contribuições de interesse das categorias
profissionais e econômicas, usualmente cobradas sob o título de anuidades, vedada,
ademais, a atualização desse valor pelos conselhos em percentual superior aos índices
legalmente previstos. (STF - RE 704292 – repercussão geral - 2016)
- O art. 150, VI, “c” da CF/88 prevê que as instituições de educação e de assistência
social, sem fins lucrativos, gozam de imunidade tributária quanto aos impostos, desde
que atendidos os requisitos previstos na lei. A imunidade somente incide sobre o
patrimônio, a renda e os serviços da instituição de ensino que estejam relacionados
com as suas finalidades essenciais (art. 150, § 4º da CF/88). As entidades do chamado
“Sistema S”, tais como SESI, SENAI, SENAC e SEBRAE, também gozam de imunidade
porque promovem cursos para a inserção de profissionais no mercado de trabalho,
sendo consideradas instituições de educação e assistência social. Se o SENAC adquire
um terreno para a construção de sua sede, já havendo inclusive um projeto nesse
sentido, deverá incidir a imunidade nesse caso considerando que o imóvel será
destinado às suas finalidades essenciais. STF. 1ª Turma. RE 470520/SP, rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 17/9/2013 (Informativo 720).

- Constituição estadual não pode prever imunidade tributária para tributos estaduais e
municipais incidente sobre os veículos de radiodifusão. STF. Plenário. ADI 773/RJ, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/8/2014 (Informativo 755).

- A CF/88 determina, em seu art. 146, III, “c”, que a Lei Complementar estabeleça
adequado tratamento tributário ao ato cooperativo. Isso, contudo, não significa que
esteja sendo dada imunidade tributária às sociedades cooperativas. STF. 2ª Turma. AI
740269 AgR/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/9/2012
57
- A entidade que goza de imunidade tributária tem o dever de cumprir as obrigações
acessórias, dentre elas a de manter os livros fiscais. STF. 1ª Turma. RE 250844/SP, rel.
Min. Marco Aurélio, 29/5/2012.

- A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que a


distribuição de periódicos, revistas, publicações, jornais e livros não está abrangida
pela imunidade tributária da alínea “d” do inciso VI do art. 150 da CF/88. STF. 2ª
Turma. RE 630462 AgR, Rel. Min. Ayres Britto, julgado em 07/02/2012.

- Concessão de isenção à operação de aquisição de automóveis por oficiais de justiça


estaduais. (...) A isonomia tributária (CF, art. 150, II) torna inválidas as distinções entre
contribuintes ‘em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida’, máxime
nas hipóteses nas quais, sem qualquer base axiológica no postulado da razoabilidade,
engendra-se tratamento discriminatório em benefício da categoria dos oficiais de
justiça estaduais.” (ADI 4.276, rel. min. Luiz Fux, julgamento em 20-8-2014, Plenário,
DJE de 18-9-2014)

- A lei complementar estadual que isenta os membros do Ministério Público do


pagamento de custas judiciais, notariais, cartorárias e quaisquer taxas ou
emolumentos fere o disposto no art. 150, II, da Constituição do Brasil. O texto
constitucional consagra o princípio da igualdade de tratamento aos contribuintes.
Precedentes. Ação direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do
art. 271 da Lei Orgânica e Estatuto do Ministério Público do Estado do Rio Grande do
Norte – LC 141/1996. (ADI 3.260, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 29-3-2007,
Plenário, DJ de 29-6-2007.) No mesmo sentido: ADI 3.334, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 17-3-2011, Plenário, DJE de 5-4-2011.

- Lei que restringe os contribuintes da Cosip aos consumidores de energia elétrica do


município não ofende o princípio da isonomia, ante a impossibilidade de se identificar
e tributar todos os beneficiários do serviço de iluminação pública. A progressividade da
alíquota, que resulta do rateio do custo da iluminação pública entre os consumidores
de energia elétrica, não afronta o princípio da capacidade contributiva. Tributo de
caráter sui generis, que não se confunde com um imposto, porque sua receita se
destina a finalidade específica, nem com uma taxa, por não exigir a contraprestação
individualizada de um serviço ao contribuinte. Exação que, ademais, se amolda aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. (RE 573.675, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 25-3-2009, Plenário, DJE de 22-5- 2009, com
repercussão geral.) No mesmo sentido: RE 642.938-AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento
em 29-5-2012, Primeira Turma, DJE de 21-6-2012; AC 3.087-MC-QO, Rel. Min. Ayres
Britto, julgamento em 27-3-2012, Segunda Turma, DJE de 21-6-2012; RE 635.001, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, decisão monocrática, julgamento em 23-3-2012, DJE de 3-4-
2012.

58
- A obrigação acessória decorre da legislação tributária (art. 113, § 2º, do Código
Tributário Nacional). Esse termo não engloba apenas as leis, mas também “os tratados
e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem,
no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes” (art. 96 do
Código Tributário Nacional). 3. A imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, a, da
Constituição) impede que os entes públicos criem uns para os outros obrigações
relacionadas à cobrança de impostos, mas não veda a imposição de obrigações
acessórias. (STF - ACO 1098, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado
em 11/05/2020)

- A imunidade assegurada pelo art. 150, VI, ‘c’, da Constituição da República aos
partidos políticos, inclusive suas fundações, às entidades sindicais dos trabalhadores e
às instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, que atendam
aos requisitos da lei, alcança o IOF, inclusive o incidente sobre aplicações financeiras.
(STF - RE 611510, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 13/04/2021)

- As empresas públicas e as sociedades de economia mista delegatárias de serviços


públicos essenciais, que não distribuam lucros a acionistas privados nem ofereçam
risco ao equilíbrio concorrencial, são beneficiárias da imunidade tributária recíproca
prevista no artigo 150, VI, a, da Constituição Federal, independentemente de cobrança
de tarifa como contraprestação do serviço. (STF. Plenário. RE 1320054 RG, Rel.
Ministro Luiz Fux, julgado em 06/05/2021 - Repercussão Geral – Tema 1140)
- As entidades religiosas podem se caracterizar como instituições de assistência social a
fim de se beneficiarem da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, ‘c’, da
Constituição, que abrangerá não só os impostos sobre o seu patrimônio, renda e
serviços, mas também os impostos sobre a importação de bens a serem utilizados na
consecução de seus objetivos estatutários. (STF. Plenário. RE 630790/SP, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 18/3/2022 (Repercussão Geral – Tema 336 - Info 1047).

- Não incide a contribuição para o PIS e a COFINS sobre as receitas auferidas pelo
operador de transporte com o serviço de frete contratado por trading companies.
(STF. Plenário. RE 1367071 AgR-EDv/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, redator do
acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/02/2023 - Info 1083).

- As modificações promovidas pelos Decretos 9.101/2017 e 9.112/2017, ao minorarem


os coeficientes de redução das alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS
incidentes sobre a importação e comercialização de combustíveis, ainda que nos
limites autorizados por lei, implicaram verdadeira majoração indireta da carga
tributária e devem observar a regra da anterioridade nonagesimal, prevista no art.
195, § 6º, da Constituição Federal. (STF - RE 1390517 RG, Relator(a): MINISTRA
PRESIDENTE, Tribunal Pleno, julgado em 12/04/2023, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-078 DIVULG 14-04-2023 PUBLIC 17-04-2023)
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JULGADOS DO STJ

- Antes de a jurisprudência definir se as empresas públicas possuíam imunidade


recíproca, os Correios eram tributados de ISS por alguns municípios. No Info 602 o STJ
decidiu que há uma presunção de que os Correios não repassaram o custo do ISS nas
tarifas postais cobradas dos tomadores dos serviços. Isso porque a empresa pública
sempre entendeu e defendeu que não estava sujeita ao pagamento desse imposto.
Não havendo repasse do custo do ISS ao consumidor final, os Correios podem pleitear
a restituição sem necessidade de autorização do tomador dos serviços. STJ. 2ª Turma.
REsp 1.642.250-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/3/2017 (Info 602).
3. QUESTÕES

1. (TJSP/JUIZ DE DIREITO/2021) No que tange ao princípio da anterioridade,


podemos afirmar:
a) é admissível invocar a supremacia do interesse público pra justificar a exigência
fiscal e postergar a repetição do indébito tributário.
b) o princípio da anterioridade nonagesimal não é de observância obrigatória na
hipótese de incidência de tributo por retirada de benefícios fiscais.
c) não se sujeitam ao princípio da anterioridade o imposto sobre importação de
produtos estrangeiros; o imposto sobre exportação, para o exterior, de produtos
nacionais ou nacionalizados; o IPI; o imposto sobre operações de crédito, câmbio e
seguro, ou relativos a títulos e valores mobiliários; os impostos lançados por motivo de
guerra; os empréstimos compulsórios para atender despesas extraordinárias
decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência.
d) considerada a redação dada ao artigo 150, § 1º, da CF pela EC 42/2003, tem
respaldo jurídico a tese de que lei que vier a majorar o IR pode entrar em vigor no dia
31 de dezembro e ser aplicada aos fatos ocorridos a partir de 1º de janeiro do mesmo
exercício financeiro, não configurando “retroatividade in pejus”.

2. (FGV/TJSC/JUIZ DE DIREITO/2022) A Santa Casa de Misericórdia do Município X,


atendendo às exigências estabelecidas em lei, foi devidamente certificada na área de 60
saúde como entidade beneficente de assistência social. Contudo, em 01/06/2022, o
Fisco Federal lavrou contra ela auto de infração para pagamento de CSLL, PIS e
COFINS, entendendo que teria desvirtuado seu caráter beneficente ao passar a
remunerar, em R$ 20.000,00 mensais, um médico contratado pela CLT para cumprir a
função de dirigente não estatutário da entidade.
Diante desse cenário:
a) tal entidade faria jus apenas à imunidade de impostos;
b) tal entidade faria jus apenas a isenções, por ausência de previsão na CF/1988 de
imunidades em favor de entidade beneficente atuante na área da saúde;
c) a remuneração ao médico que atua como dirigente não estatutário não
descaracterizaria sua condição de entidade imune;
d) competiria à Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil cancelar a certificação
de entidade imune desta Santa Casa;
e) a cobrança de eventual dívida tributária contra tal entidade não poderia ser feita
por meio de execução fiscal.

3. (FGV/TJMA/JUIZ DE DIREITO/2022) Em relação ao exercício do poder de tributar, a


Constituição Federal de 1988 veda
a) à União instituir isenções de taxas que sejam de competência dos municípios.
b) à União tributar a renda das obrigações da dívida pública dos estados e do Distrito
Federal.
c) aos municípios estabelecer diferença tributária entre serviços de qualquer natureza
em razão da capacidade econômica dos contribuintes.
d) à União tributar a remuneração e os proventos dos agentes públicos municipais.
e) aos estados estabelecer diferença tributária entre bens de qualquer natureza em
razão de seu valor.

4. (VUNESP/TJSP/JUIZ DE DIREITO/2023) Com relação às imunidades tributárias,


pode-se afirmar que são:
a) espécie qualificada de isenção, em que lei complementar federal estabelece a
redução ou a dispensa de cobrança de tributos de competência de qualquer das
pessoas políticas.
b) similares às isenções, e com elas muitas vezes se confundem, porque em ambos os
casos não haverá cobrança ou haverá redução parcial do valor de tributos.
c) situações expressamente previstas no texto da Constituição Federal de
impossibilidade de que qualquer pessoa política venha a legislar, instituindo ou
modificando a tributação.
d) fixadas por lei ordinária, de competência da pessoa política titular da capacidade
tributária ativa, de acordo com suas orientações de política fiscal.
61
5. (FGV/TJAP/JUIZ DE DIREITO/2022) A instituição de assistência social ZZ, sem fins
lucrativos, adquiriu, junto à sociedade empresária XX, diversos equipamentos que
seriam integrados ao seu ativo permanente, visando ao pleno desenvolvimento de
suas atividades regulares. Para surpresa dos seus diretores, constatou-se que, na
nota fiscal emitida por XX, constava o imposto sobre circulação de mercadorias e
sobre prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
comunicação (ICMS) devido pela operação de venda, na qual ZZ figurava como
adquirente. Nas circunstâncias indicadas, a incidência do ICMS é:
a) incorreta, pois a imunidade tributária subjetiva de ZZ incide nas hipóteses em que
figure como contribuinte de direito e de fato;
b) incorreta, desde que ZZ demonstre que arcou com o ônus financeiro do respectivo
tributo, por se tratar de imposto indireto;
c) correta, pois a imunidade tributária subjetiva de ZZ somente incide quando figure
como contribuinte de direito, não de fato;
d) incorreta, desde que ZZ demonstre que o montante correspondente à desoneração
tributária será aplicado em sua atividade fim;
e) correta, pois a imunidade tributária subjetiva de ZZ não é aplicada em se tratando
de impostos que incidam sobre a circulação de riquezas.
4. GABARITO COMENTADO

1) C
CF
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153,
I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos
arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos
previstos nos arts. 155, III, e 156, I.

2) C
A Constituição Federal de 1988 garante imunidade tributária em relação aos impostos
para diversos entes, dentre os quais estão as instituições de educação e de assistência
social, sem fins lucrativos, desde que atendidos os requisitos da lei (art. 150, inciso VI,
alínea “c”, da CF/88).
A Lei nº 9.532/97 estabeleceu, em seu art. 12, alguns requisitos a que se refere a
Constituição para as instituições de educação ou de assistência social.
Como regra, o art. 12, § 2º, “a”, dessa lei, impede a remuneração dos dirigentes da 62
entidade pelos serviços prestados, trazendo, por outro lado, algumas exceções.
Dentre as exceções, o art. 12, § 4º, I, dispõe:
“§ 4º A exigência a que se refere a alínea “a” do § 2º não impede: (Incluído pela Lei nº
12.868, de 2013)
I - a remuneração aos diretores não estatutários que tenham vínculo empregatício;”
A questão traz a contratação de um médico pela CLT para cumprir a função de
dirigente não estatutário da entidade. Desse modo, esse profissional possui um vínculo
empregatício, já que contratado pela CLT, e exercerá a função de diretor não
estatutário.
Assim, tal contratação, nos moldes da questão, não pode descaracterizar a condição
de imunidade da entidade, de modo que a resposta correta é a letra “C”.

3) A
O princípio da vedação às isenções heterônomas ou heterotópicas se deve ao fato de
que o poder de isentar é proveniente do poder de tributar.
“Art. 151. É vedado à União:
III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou
dos Municípios.”
Portanto, correta a letra “A”.
4) C
A imunidade se atém à competência tributária, definindo a competência. Conforme
Souto Maior Borges, a imunidade se configura como uma hipótese de não incidência
constitucionalmente qualificada. Por se tratar de uma hipótese contida na CF, a
alteração ou supressão das imunidades só pode ocorrer através de Ec, ressalvadas as
estipuladas pelo constituinte para proteger garantias e direitos individuais, caso em
que não se admite supressão por constituírem cláusulas pétreas.

5) C
A questão trata de Imunidade Tributária Subjetiva prevista na CF, em virtude de que
certas pessoas não poderão sofrer a incidência de tributos.
O ICMS é um tributo indireto que permite a transferência do seu encargo econômico
para uma pessoa diferente daquela definida em lei como sujeito passivo, ou seja,
existe a figura do contribuinte de fato e do contribuinte de direito.
A questão espelha o entendimento do STF proferido em sede de Repercussão Geral:
“A imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus beneficiários na posição de
contribuinte de direito, mas não na de simples contribuinte de fato, sendo
irrelevante, para a verificação da existência do beneplácito constitucional, a
repercussão econômica do tributo envolvido”.
STF. Plenário. RE 608872/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22 e 23/2/2017
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(repercussão geral) (Info 855).
Portanto, correta a letra “c”.

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