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Quem é o autor? Clóvis Veríssimo do Couto e Silva nasceu em Porto Alegre no dia 6 de maio
de 1930. Formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
em 1953, onde passou a lecionar à partir de 1966. Coordenava o Curso de Pós-Graduação de
Direito da UFRGS quando faleceu em 21 de maio de 1992. A obra foi resultado de uma
candidatura à cátedra de direito civil da Faculdade de Direito da UFRGS em 1964.
Capítulo 1: Os princípios
A boa-fé surge como um critério hermenêutico para a atuação dos juízes, mas,
segundo o autor, a aplicação do princípio não pode ocorrer arbitrariamente, porque o
magistrado está limitado aos demais princípios jurídicos. Então, a boa-fé é um critério para a
valoração do caso, mas não a solução prévia, pelo que “com a aplicação do princípio da boa-
fé, outros princípios havidos como absolutos serão relativizados, flexibilizados, ao contato
com a regra ética” (p. 42). Também na mesma página, o autor traz a seguinte reflexão:
O terceiro princípio geral trazido pelo autor é o princípio da separação entre a fase do
nascimento e desenvolvimento dos deveres e a fase do adimplemento. Entende que (p. 43-44):
O autor inicia o capítulo falando sobre a crise na teoria das fontes, que é definida pelo
autor nos seguintes termos: “A crise da teoria das fontes resulta da admissão de princípios
tradicionalmente considerados metajurídicos no campo da ciência do direito, aluindo-se,
assim, o rigor lógico do sistema com fundamento no puro raciocínio dedutivo” (p. 65).
Assim, “A crise decorre da concepção de que um código por mais amplo que seja não esgota
o corpus iuris vigente, o qual se manifesta através de princípios, máximas, usos, diretivas,
não apenas na interpretação judicial, como também na doutrinária” (p. 65).
Para contextualizar a crise das fontes, o autor começa explicando a teoria da
subsunção, segundo a qual “a norma pode ser decomposta como toda e qualquer proposição:
sujeito, predicado e imputação do predicado ao sujeito. Em se tratando de proposição
jurídica, o suporte fático corresponde ao sujeito da proposição e o efeito jurídico ao
predicado” (p. 66). Acontece que, também para o autor, “O pensamento lógico-formal é
necessário à compreensão do sistema jurídico. O direito, todavia, não se esgota com o mero
exercício dos axiomas lógico-formais. Daí, por que, em determinado momento histórico, o
direito sempre apresenta lacunas que a interpretação vai preenchendo, sem nunca chegar ao
ideal de desvendar in totum o corpus iuris vigente, atingindo, assim, as suas últimas
fronteiras” (p. 68). Em uma nova ótica, contudo, a lógica formal, fundada no modelo da
subsunção, começa a ter muito menos valor do que o atribuído no século precedente. Na
sistemática atual, abre-se as portas para que se possa pensar casuisticamente, do que pode
resultar a descoberta de novos princípios e a formação de novos institutos. Isso se dá, por
exemplo, mediante a técnica da cláusula geral.
Superado esse ponto, o autor analisa o tratamento analítico dado à fonte das
obrigações. No direito romano clássico, as obrigações eram divididas por Gaio conforme as
suas origens, sendo ex contractu e ex delictu. Com as institutas de Justiniano, surgem ainda as
classificações quase ex contractu e quase ex delictu. O Código Napoleônico difundiu essa
classificação entre os modernos, sendo posteriormente incluída a lei como fonte de
obrigações. Posteriormente, explica o autor, a classificação foi sintetizada de modo a
consagrar como fonte das obrigações, apenas, o contrato e a lei. “Com esse procedimento,
elevou-se a vontade à categoria de lei” (p. 72). A diferença entre as fontes negociais e
normadas é ainda relevante, segundo o autor, porque “embora em ambas as hipóteses o
processo obrigacional seja polarizado pelo adimplemento, quando se verificar fonte
normada, o desenvolvimento da relação se dá conforme o programa traçado pela lei” (p. 81).
Após tratar da fonte das obrigações, o autor passa a tratar da estrutura e intensidade do
processo obrigacional. No início, existia a responsabilidade pessoal pelo pagamento da dívida.
Com o tempo, surge a possibilidade de liberação pelo pagamento. A obrigação, como
resultado desse desenvolvimento, passa ter dois elementos: débito e responsabilidade. A
prestação, a que corresponde o débito, denomina-se, hoje, prestação primária; e secundária a
que corresponde à responsabilidade. Mas alerta o autor: “É preciso, porém, ter presente que a
responsabilidade é elemento da obrigação e coexiste com o débito. Não é totalmente correto
afirmar que a responsabilidade surge, apenas, quando se manifesta adimplemento
insatisfatório ou recusa em adimplir. Em tal caso, pode o credor prejudicado pôr em
atividade um dos dois elementos que formam a obrigação perfeita: débito e
responsabilidade” (p. 83). A obrigação perfeita é, assim, para o autor, aquela que corresponde
à possibilidade de o credor exigir o adimplemento ou perdas e danos. Por outro lado, haveria a
obrigação imperfeita quando se tem apenas um dos dois elementos, ou seja, quando existe o
débito, mas falta a responsabilidade, vice-versa (p. 84):