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São Cristóvão
2023
RAFAEL ALMEIDA DIAS ALVES
São Cristóvão
2023
Introdução
Teresa Negreiros principia a sua obra com uma discussão sobre a variabilidade
semântica que permeia o discurso humano. Enxerga essa mutabilidade na variação
dos significados de categorias jurídicas como “autonomia privada e “liberdade
contratual”, mudança essa disposta pela troca dos modos, fatores econômicos, meios
tecnológicos etc. Logo após, critica a noção fechada de um Direito Civil que
“absolutiza” um indivíduo abstrato que não existe, como se esse fosse o centro e fim
de todo o sistema normativo. Aduz que essa lógica individualista não pode se ajustar
à pluralidade de problemas que existem no seio da sociedade. Por isso, devem ser
revistos os limites da autonomia privada, de tal modo que essa possa se harmonizar
com os demais princípios que garantem que o direito contratual faça sentido segundo
as demandas sociais.
A autora busca, com seu trabalho, sustentar um novo sentido do Direito Civil
que, à luz da Constituição Federal de 1988, seja capaz de articular várias
transformações legais ao longo dos tempos, de tal modo que se tenha por bem posta
a devida coerência valorativa. Busca-se uma “politização” do Direito Civil em um
movimento que substitua o seu centro valorativo do indivíduo para a pessoa, da
liberdade individual para a solidariedade social.
Após um apanhado histórico, segue a autora a criticar veementemente a noção
de um Código Civil como “autobiografia” do indivíduo burguês, bem como a confrontar
a concepção de um indivíduo absoluto a suceder um Estado absoluto. Defendendo a
solidariedade e a responsabilidade mútua (de direitos e de deveres) em oposição à
mentalidade liberal-individualista, revela a autora que esses princípios são pilares para
a efetivação da dignidade da pessoa humana. Decerto, para a emergência do
chamado paradigma da essencialidade (a servir para a distinção dos contratos
segundo o grau de imprescindibilidade do bem contratado), são fundamentais os
signos da primazia das situações existenciais e a observância dos deveres impostos
pelo princípio da solidariedade social.
Em nova exposição histórica, anota a autora que a vontade passa a ser o cerne
do contrato (e este, o cerne do Direito) no contexto do Código Civil Brasileiro de 1916.
O cenário de fundo é a modernidade filosófica, de procedência liberal e iluminista. Era
muito difícil intervir no conteúdo do pacto já realizado, uma vez que a autonomia da
vontade possuía um “caráter” absolutizante.
A autora postula que a promulgação da Lei nº 8.079/90 (Código de Defesa do
Consumidor constituiu o marco de uma mudança da mentalidade no que diz respeito
ao direito contratual contemporâneo.
No presente, aduz, o que se revela é um momento em que os velhos e novos
princípios apresentam a sua força de forma simultânea. É a “hipercomplexidade”.
Cabe analisar, em cada caso concreto, a forma pela qual incidirão os princípios, velhos
e/ou novos.
Após discorrer sobre a noção de “necessidade” à luz de dispositivos civis, trata
da classificação dos bens segundo o prisma da “utilidade”. No polo da necessidade,
tece algumas considerações prévias sobre o bem de família.
Dando fim à Introdução da obra, a autora apresenta a distribuição dos assuntos
a serem tratados e renova a sua disposição em tratar o direito contratual à luz de um
novo paradigma, calcado na dignidade humana.
Capítulo I
A Perspectiva civil-constitucional: Origens, efeitos e dilemas
Capítulo II
Novos princípios do contrato: Boa-fé, equilíbrio econômico e função social
Capítulo III
Fragmentação da teoria contratual: Formulação de novos critérios de
classificação do contrato
Capítulo IV
As necessidades humanas, a classificação dos bens e o paradigma da
essencialidade no direito dos contratos.
Em novo momento teórico, a autora começa por indagar sobre a importância
da caracterização do bem contratado como bem essencial para a pesquisa acerca do
adequado regime contratual a ser aplicado. Para ela, o paradigma da essencialidade
deve ser um critério relevante, juridicamente falando, para o exame das questões
contratuais.
Sugere que deve ser analisada a relação dos bens para com a pessoa que
deles carecem, isso no que diz respeito ao seu vínculo de acessoriedade.
Assim, passa a discorrer sobre a utilidade como um parâmetro para a
classificação econômica dos bens. Após uma análise da relação entre Economia e
Direito à luz do Constitucionalismo contemporâneo, ela reconhece uma certa
similaridade na classificação econômica e jurídica dos bens (observando, claro, as
diferenças). Aduz que a classificação dos bens em essenciais, úteis e supérfluos já é
hoje aceita e tem a sua legitimidade proveniente dos princípios constitucionais
comentados.
A autora, então, reconhece na Constituição nacional de 88 os fundamentos
para a tutela de um mínimo existencial: tanto em dispositivos específicos, como
“diluídos” no corpo do texto constitucional, os fundamentos marcam toda a Carta
Magna. Também reconhece que, no ramo do Direito Tributário, toda a principiologia
relativa ao paradigma da essencialidade é de grande relevância prática.
Pois bem. Passa a tratar dos efeitos do mínimo existencial sobre o direito
contratual. Começa a analisar o “Welfarism” e as possíveis relações entre o Estado e
o direito à liberdade contratual e à autonomia privada. Busca-se um modelo
intermediário entre o intervencionista (qualquer que seja a sua versão) e o liberal.
Reconhece esse modelo “do meio” na sistemática constitucional do Brasil moderno.
Posto isso, se dirige à classificação dos bens, principalmente no que se refere
à importância da destinação dos mesmos. O Código Civil, pontua, classifica os bens
em si mesmos; uns em relação aos outros; segundo o titular, em sua natureza;
segundo a chamada “negociabilidade”. Ulteriores classificações também são
dispostas pela autora em seu capítulo (como aquela que parte da mobilidade dos bens
- móveis e imóveis).
Após, elabora algumas considerações a respeito do bem de família, inspirado
pelo chamado “homestead” dos EUA. Mostra como a disciplina legislativa de tal bem
evoluiu no direito pátrio e comenta um certo número de inovações que a Lei nº
8.009/90 introduziu, a exemplo da forma pela qual o instituto pode ser posto em
prática, quem dele pode ser beneficiado etc.
Em sequência a nova promoção do paradigma da essencialidade, pontuando
várias de suas possíveis aplicações e colocando-o em sua esfera própria de
competência (vez que não pode mudar todo o panorama social, apenas aumentar a
consciência das situações concretas à luz dos princípios), a autora se dirige à
conclusão de sua obra.
Conclusão
Teresa Negreiros conclui o seu estudo com uma síntese do mesmo, do que
buscou alcançar e do que buscou alertar para que outros alcançassem. O paradigma
da essencialidade, para ela, servirá como um ponto de partida para estudos e
aplicações futuras, isso porque a realidade jurídico-social o clama.
Traz uma nova noção chamada de paradigma da diversidade (da qual fez uso
de forma implícita): constitui-se em um único paradigma que é abordado de forma
diferenciada em tantos outros quanto forem as espécies de contratos. Decerto, não
se buscou suplantar qualquer perspectiva em detrimento de outra, mas analisar várias
reflexões possíveis de uma mesma luz.
Assim, como pensadora individual, não pôde contribuir senão com aquilo que
coube em seu próprio horizonte teorético. Agora, reconhece a autora, o trabalho deve
ser por outros dilatado e difundido.
REFERÊNCIA: