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1 FICHAMENTO (POPP, Carlyle.

Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa


Humana e a liberdade negocial – a proteção contratual no direito brasileiro.)

Carlyle Popp, no artigo que aqui se apresenta em fichamento, analisa o Princípio


Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana e a liberdade negocial, e de que forma a proteção
contratual deve se operar no direito brasileiro.
De início, percorre o contexto histórico e a mudança de perspectiva da visão
constitucional fundamentada no Estado Liberal e seus ideais de liberdade, igualdade e
fraternidade, entendidos sob o manto da mínima intervenção estatal, que trouxeram consigo um
modelo jurídico e econômico de resultado insatisfatório até chegar na mudança de paradigma que
reconhece o homem como o ator principal da sociedade, de modo que a visão constitucional
passa a orbitar em torno do homem – é nesse sentido que a dignidade da pessoa humana ganha
especial relevo e passa a orientar as Constituições.
Dessa forma, o ordenamento jurídico passa a se justificar baseada na Justiça Social e nos
princípios de dignidade e boa-fé. Implica dizer que a mudança de paradigma aqui relatada
também altera, conforme entendimento de Carlyle Popp, o próprio sentido das normas
constitucionais, bem como o seu alcance. Nesse ponto, utiliza-se do pensamento de Hesse para
afirmar que o Direito Constitucional sinaliza qual seria a vontade da Constituição e de que forma
é possível alcançar a máxima efetividade para as suas normas, posto que nada seria mais perigoso
que permitir o surgimento de ilusões sobre questões fundamentais do Estado.
Adiante, no item 2.2, assinala que o papel da constituição passa de instrumento de limite
e regulação da ação do Estado, em que se assenta limite e distinção entre o Direito Público e o
Direito Privado. Portanto, a evolução da sociedade faz deixar de ser o centro das ações a relação
de subordinação entre público e o particular para dar lugar a uma regra constitucional suprema de
conduta destinada a todos, inclusive ao Poder Público. Assim, o ser humano é justificativa única
para a existência do comando constitucional.
Quanto à eficácia jurídica das normas civis constitucionais, os princípios, afirma Popp
que a definição constante no dicionário que aponta princípio como causa primária, como base,
deve ser emprestada ao Direito. Contudo, também afirma que os princípios, que compõem o
ordenamento jurídico com as normas ordinárias, possuem aplicação não obrigatória e caráter

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mais difuso. Igualmente, traz entendimento de Alexy e Gianformaggio para dizer que os
princípios não incompatíveis, mas apenas concorrentes. Popp defende que deve haver uma
harmonização entre os princípios de Direito Privado e as normas constitucionais, de modo a entre
eles existir uma troca, uma via de mão-dupla, de forma que um represente o outro dentro do
ordenamento jurídico.
Avança em sua fundamentação, e, em 2.4, Popp fundamenta a dignidade da pessoa
humana como valor constitucional supremo, e assim o é na Constituição brasileira, art. 1º, III, em
que é disposto como princípio fundamental. Ainda, aponta que o respeito ao ser humano,
consubstanciado no personalismo ético e dignidade não são molas propulsoras somente do
Direito Civil, mas de todo o ordenamento. O personalismo ético afirma que a pessoa humana
resume em si toda a razão de existência da sociedade.
A livre iniciativa como direito fundamental, nesse ponto, deve dialogar, convergir e
harmonizar-se com o princípio da dignidade da pessoa humana e da proteção social econômica
que a Constituição oferece.
Sob esses fundamentos, Popp apresenta o nascimento de um novo princípio, o da justiça
contratual, em que as partes ficam sujeitos aos deveres laterais ou anexos de conduta: informação,
boa-fé, dever de clareza, dever de guarda, dever de restituição, dever de lealdade, dever de
proteção e dever de conservação.
Dessa forma, Carlyle Popp alicerça o entendimento da capacidade do Direito Civil
Constitucional atingir todo o sistema jurídico, em harmonia com as normas constitucionais e em
um movimento de redemocratização do sistema contratual.

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