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DESCRIÇÃO

A atuação do engenheiro de segurança do trabalho em perícias e laudos técnicos e sua relação com o
perito do juízo e o assistente técnico.

PROPÓSITO
O propósito deste conteúdo é o estudo da relação técnica entre os peritos e os assistentes em um
processo trabalhista, já que os peritos, nomeados pelo juízo, e os assistentes técnicos, que assistem as
partes envolvidas no processo ou na reclamação trabalhista, conduzirão de forma técnica os diversos
temas relacionados ao ambiente do trabalho, devendo apresentar seus laudos para que, ao fim, sirvam
de convencimento do juiz em sua decisão.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Reconhecer as atividades do perito judicial

MÓDULO 2

Identificar a relação entre o perito judicial e os assistentes técnicos

INTRODUÇÃO
OS PROFISSIONAIS DA ENGENHARIA DE
SEGURANÇA E SUAS ATIVIDADES TÉCNICAS
PERICIAIS.

MÓDULO 1

 Reconhecer as atividades do perito judicial

LIGANDO OS PONTOS
Muitas reclamações trabalhistas demandam perícias técnicas em função de seu contexto muito
específico. Nesse sentido, dois profissionais são fundamentais: o perito nomeado pelo juízo e os
assistentes das partes envolvidas no processo, sejam reclamantes sejam reclamadas.

Veja o case a seguir.

Durante uma audiência de conciliação, as partes envolvidas no processo não chegaram a um acordo.
Uma delas argumentou ao juiz que, para que o processo tivesse seu curso correto, era fundamental a
realização da prova pericial. O juiz deferiu o pedido da prova e nomeou um perito judicial de sua
confiança que já havia atuado em outras reclamações trabalhistas, em processos contra a mesma
reclamada.

Na presente lide (discussão judicial), o reclamante alegava que, durante todo o período em que atuou
para a reclamada, esteve exposto a “muito barulho” e jamais recebeu o adicional de insalubridade a que
acreditava ter direito, tendo solicitado em grau máximo em sua peça inicial.

Por sua vez, a reclamada alegou que nunca houve ruído acima dos limites de tolerância estabelecidos
pela Norma Regulamentadora NR 15 no ambiente e, como prova disso, anexou seu Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) com as medições de ruído no ambiente de trabalho da autora.

Após a leitura do case , é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos?

3. O PERITO DO JUÍZO AVALIOU TECNICAMENTE O POSTO


DE TRABALHO DO RECLAMANTE E, COM O AUXÍLIO DE UM
PARADIGMA, OU SEJA, PROFISSIONAL QUE REALIZA, NO
MOMENTO DA DILIGÊNCIA, AS MESMAS ATIVIDADES QUE
O RECLAMANTE REALIZAVA À ÉPOCA DA OCORRÊNCIA,
CONCLUIU QUE ELE ESTEVE EXPOSTO A RUÍDO
OCUPACIONAL DE 85DB (A) POR 2 HORAS DIÁRIAS.
VERIFICOU AINDA QUE, NAS DEMAIS ATIVIDADES
REALIZADAS PELO RECLAMANTE, ELE ESTEVE EXPOSTO
A RUÍDO DE 68DB (A). DIANTE DESSE CENÁRIO E DE
ACORDO COM SUAS AVALIAÇÕES QUANTITATIVAS, QUAL
SERÁ A CONCLUSÃO DO LAUDO PERICIAL?

RESPOSTA

Criteriosamente, o perito do juízo avaliou tecnicamente o ambiente de trabalho onde o reclamante laborou
para a reclamada, utilizando-se de um paradigma para suas análises quantitativas e com auxílio de
equipamentos de medições, chegando à conclusão de que, das 8 horas de trabalho, apenas durante 2 havia
exposição a 85dB (A). Ao comparar esses resultados com os níveis estabelecidos pelo Quadro I da Norma
Regulamentadora 15, que trata de insalubridade, concluiu, de forma inequívoca, que o reclamante não fazia
jus a nenhum adicional. A norma estabelece que, para um ruído ocupacional de 85dB (A), o trabalhador terá
direito a adicional de insalubridade se estiver exposto durante 8 horas diárias de trabalho. No caso em
questão, a exposição era de apenas 2 horas diárias.
O PERITO JUDICIAL FRENTE ÀS DEMANDAS
TRABALHISTAS.

ENGENHEIRO DE SEGURANÇA DO TRABALHO


A SERVIÇO DA JUSTIÇA
O Brasil é um país que se caracteriza por uma grande quantidade de reclamações trabalhistas perante o
poder judiciário. Muitas dessas reclamações estão relacionadas às condições do ambiente de trabalho,
em que o reclamante ou autor alega que, durante o período em que trabalhou para a reclamada, ou para
o réu, esteve exposto a condições nocivas que, em seu entendimento, garantiriam a ele um adicional de
insalubridade, que pode variar em 10%, 20% ou 40% do salário-base.
Outro questionamento judicial, mas com pedido de 30% incidentes sobre o salário-base, é o de
periculosidade, em que determinado autor requer esse adicional alegando ter atuado em atividades ou
operações com líquidos inflamáveis, explosivos ou, ainda, eletricidade.

EM AMBOS OS CASOS, EXISTE UM CONTEXTO


NORMATIVO NO QUAL A INSALUBRIDADE
ENCONTRA AMPARO NA NORMA
REGULAMENTADORA NR 15, E A PERICULOSIDADE,
NA NORMA REGULAMENTADORA NR 16, CONFORME
ESTABELECE A PORTARIA NO 3.214 DE 08 DE
JUNHO DE 1978 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E
EMPREGO (À ÉPOCA), ATUAL MINISTÉRIO DA
ECONOMIA.

Observe que, nesses casos, existem alegações entre as partes, logo, o reclamante alega que esteve
exposto e requer seu adicional. Já a parte reclamada, por sua vez, afirma que as condições oferecidas
durante todo o período trabalhado eram seguras e dentro dos limites de tolerância estabelecidos pelas
normas, ou, ainda, que proporcionou ao trabalhador a redução dos riscos por meio de equipamentos
coletivos ou individuais. O juiz, ouvindo as alegações das partes, necessitará de informações técnicas
sobre o ambiente de trabalho para proferir sua sentença. Isso quer dizer que, para que tenha certeza de
sua decisão, precisará de informações técnicas que o convençam de forma inequívoca. Logo, o juiz
deve recorrer a um profissional com formação técnica bem específica para que, em determinado
processo trabalhista, realize um laudo que lhe sirva de base seu entendimento.

O profissional em questão é o perito judicial, que é o engenheiro de segurança do trabalho, devidamente


cadastrado no sistema do judiciário e nomeado pelo juiz, mas que não mantém vínculo empregatício
com a justiça do trabalho. Ele será nomeado conforme as demandas e, encerrado o processo, sua
relação com a justiça será finalizada automaticamente, podendo recomeçar em outra reclamação
trabalhista, caso o juiz queira o renomear novamente.

É importante notar que o engenheiro de segurança do trabalho é o profissional mais solicitado nas
nomeações por parte do judiciário, no caso de perícias judiciais que envolvam insalubridade ou
periculosidade, mas que o médico do trabalho também é um profissional habilitado às mesmas
nomeações. Porém, verificamos de forma muito clara que os juízes preferem nomear os médicos do
trabalho em demandas que envolvem doenças ocupacionais, que são temas exclusivos desse
profissional, e não do engenheiro.

Quando recorremos ao latim, o termo peritus, formado pelo verbo perior, que quer dizer “experimentar”,
“saber por experiência”, refere-se ao sujeito ativo da perícia, matéria em que é versado ou prático. Logo,
o perito é a pessoa que, pelas suas qualidades especiais, supre as insuficiências do juiz no que tange à
verificação ou apreciação daqueles fatos da causa que exijam conhecimentos especiais ou técnicos.

NÃO ESTAMOS AFIRMANDO QUE O JUIZ NÃO TEM


CONHECIMENTO TÉCNICO SOBRE O TEMA, MAS
APENAS QUE ELE NÃO POSSUI CONDIÇÕES DE IR
AO AMBIENTE A SER PERICIADO PARA REALIZAR
AS AVALIAÇÕES QUANTITATIVAS OU QUALITATIVAS
SOBRE O TEMA; NO CASO EM QUESTÃO, A
INSALUBRIDADE OU A PERICULOSIDADE.

O perito não substitui o juiz, ao contrário, ele o auxilia em seus trabalhos a fim de lhe fornecer
informações consistentes para seu convencimento e sua decisão. Seu trabalho é meramente técnico e
informativo, então, seu laudo pericial não tem a pretensão de substituir a sentença do magistrado. O juiz,
inclusive, pode ou não seguir o trabalho técnico desse profissional.

FUNÇÕES DO PERITO
Veja o que estabelece o CPC em seu artigo 139 sobre as funções do Perito: “São auxiliares do juízo,
além de outros, cujas atribuições são determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão,
o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador e o intérprete”. Ainda segundo o Código de
Processo Civil, nos artigos 145 a 147, as funções do perito do juízo são disciplinadas nos seguintes
textos legais.

ART. 145
“Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito,
segundo o disposto no art. 421”.

§ 1º: Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no
órgão de classe competente, respeitado o disposto no Capítulo VI, Seção VII, deste Código (a partir do
art. 420).

§ 2º: Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão opinar, mediante certidão
do órgão profissional em que estiverem inscritos.

§ 3º: Nas localidades onde não houver profissionais qualificados que preencham os requisitos dos
parágrafos anteriores, a indicação dos peritos será de livre escolha do juiz.

ART. 146
“O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que lhe assina a lei, empregando toda a sua
diligência; pode, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo”.
Parágrafo único: A escusa será apresentada, dentro de cinco dias, contados da intimação ou do
impedimento superveniente, sob pena de se reputar renunciado o direito a alegá-la (art. 423).

ART. 147
“O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, responderá pelos prejuízos que causar
à parte, ficará inabilitado, por 2 (dois) anos, a funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção que a
lei penal estabelecer”.

Os artigos do Código Civil citados, apesar de apresentarem uma característica de natureza geral, ou
seja, não se referirem exclusivamente às demandas trabalhistas, mas a toda e qualquer abordagem
judicial, deixam muito clara a responsabilidade do perito judicial quando nomeado pela justiça para
desenvolver seus trabalhos técnicos, e com isso, dar subsídios técnicos para que as decisões sejam,
acima de tudo, justas para as partes envolvidas.

Ao ser nomeado e aceitar seus encargos, o perito deverá:

Cumprir seu ofício de forma ética e direcionada exclusivamente às abordagens do processo.


Atender ao juiz, entregando o laudo dentro do prazo estabelecido, sob pena de, caso não o cumpra,
causar prejuízos ao fluxo do processo.

Apresentar seus honorários de maneira justa e criteriosa.


Agendar suas diligências de campo, de comum acordo entre as partes, dando-lhes ciência previamente.

Apresentar seu laudo com base técnica, respondendo aos quesitos apresentados pelas partes, podendo
apresentar laudos complementares, caso assim seja necessário.
Nas provas periciais que envolvam as avaliações técnicas quantitativas, o perito deverá fazer uso de
equipamentos de medições, apresentando os respectivos certificados e calibrações anexados a seu
laudo.

Sempre que possível, o perito do juízo deverá se valer de um paradigma que o acompanhe durante a
diligência.
O perito deverá sempre analisar todos os documentos que possam auxiliar seu trabalho, tais como:
programa de prevenção de riscos ambientais, programa de controle médico e saúde ocupacional, perfil
profissiográfico previdenciário, fichas de informações de segurança dos produtos químicos, análise
preliminar de riscos, fichas dos equipamentos de proteção individual, treinamentos e demais registros
importantes.

Caso o perito nomeado pelo juízo tenha alguma relação de proximidade com alguma das partes
envolvidas no processo, deverá, imediatamente, informar ao juiz e solicitar sua substituição, sob pena de
seu trabalho técnico receber uma suspeição e ser desconsiderado.

Em casos de suspeição, com laudos técnicos chamados “viciados”, ou seja, que não retratam a
veracidade dos fatos e tendem a favorecer uma das partes envolvidas, o perito poderá ficar até dois
anos sem ser nomeado por qualquer Vara do Trabalho. Ainda, dependendo da gravidade dessa
suspeição e do prejuízo para uma das partes, o perito poderá ser totalmente descartado das demandas
judiciais, além de sofrer processos por danos.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Identificar a relação entre o perito judicial e os assistentes técnicos


LIGANDO OS PONTOS

Muitas reclamações trabalhistas necessitam de perícias técnicas em função de seu contexto muito
específico e, nesse sentido, dois profissionais são fundamentais: o perito nomeado pelo juízo e os
assistentes das partes envolvidas no processo, sejam reclamantes sejam reclamadas.

Veja o case a seguir.

Durante uma audiência de conciliação, as partes envolvidas no processo não chegaram a um acordo e
uma delas alegou ao juiz que, para que o processo tivesse seu curso correto, seria fundamental a
realização da prova pericial. O juiz deferiu o pedido da prova e nomeou um perito judicial de sua
confiança, o qual já havia atuado em outras reclamações trabalhistas em processos contra a mesma
reclamada.

Na presente lide (discussão judicial), o reclamante alegava que, durante todo o período em que atuou
para a reclamada, esteve exposto a “muito barulho” e jamais recebeu o adicional de insalubridade que
entendia ser devido a ele, tendo solicitado os valores em grau máximo em sua peça inicial.

Por sua vez, a reclamada alegou que nunca houve ruído acima dos limites de tolerância estabelecidos
pela Norma Regulamentadora 15 no ambiente e, como prova disso, anexou seu Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) com as medições de ruído no ambiente de trabalho da autora.

Após a leitura do case , é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos?
3. NESSA RECLAMAÇÃO TRABALHISTA, APÓS A
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E, OBVIAMENTE, NÃO
OCORRENDO ACORDO ENTRE AS PARTES E A
DETERMINAÇÃO DA PERÍCIA JUDICIAL, AS PARTES
APRESENTARÃO SEUS ASSISTENTES TÉCNICOS E SEUS
RESPECTIVOS QUESITOS DENTRO DOS PRAZOS
ESTABELECIDOS. NESSE CONTEXTO, APRESENTE CINCO
QUESITOS QUE O ASSISTENTE TÉCNICO DA RECLAMADA
DEVERIA ELABORAR PARA SEREM RESPONDIDOS PELO
PERITO EM SEU LAUDO OFICIAL.

RESPOSTA

O assistente técnico da reclamada poderá, nesse caso, apresentar os seguintes quesitos para serem
respondidos pelo perito judicial durante sua diligência, entre outros: a) queira o ilustre perito do juízo avaliar
tecnicamente o posto de trabalho da reclamada, utilizando-se de um paradigma, apresentando os níveis de
exposição a ruído durante oito horas diários de trabalho; b) queira verificar se o reclamante, durante sua
jornada laboral para a reclamada, fazia uso de equipamentos de proteção individual, especificando-os,
informando seus registros e certificados de aprovação, bem como sua eficácia para a redução do ruído
ocupacional; c) queira informar, de forma complementar, os níveis de ruído informados nos programas
ocupacionais da reclamada, comparando-os, especialmente o PPRA, com os dados obtidos em campo; d)
queira informar se, de acordo com suas avaliações técnicas no posto de trabalho do reclamante, durante o
período imprescrito em que este laborou para a reclamada, o tempo de exposição ao ruído ocupacional
ultrapassou os limites de tolerância estabelecidos pelo Quadro I da Norma Regulamentadora 15; e) queira,
por fim, concluir seu laudo técnico, informando se a reclamada agiu corretamente em não aplicar o adicional
de insalubridade para o reclamante durante seu pacto laboral.
A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES TÉCNICOS
DURANTE AS DILIGÊNCIAS.

ARTIGO 421 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


Como já dito, muitos processos trabalhistas necessitam das chamadas “provas periciais” e, por esse
motivo, o juiz nomeia um perito judicial, ou expert do juízo, para auxiliá-lo nas avaliações e responder a
algumas questões, especialmente aquelas referentes à insalubridade e à periculosidade. Ocorre que, da
mesma maneira, as partes envolvidas, reclamante e reclamada, podem indicar profissionais para assisti-
las no processo e atuarem juntamente com o perito do juízo para acompanhamento das provas periciais,
de suas diligências e das demais atividades de natureza técnica.
Notem que o juiz nomeia o perito, e as partes indicam seus assistentes.

Esses profissionais, com a mesma formação e especialização dos peritos, atuam para as partes que os
contrataram da mesma forma que os peritos, ou seja, por demanda, nas reclamações trabalhistas, o que
não lhes garante nenhum tipo de vínculo trabalhista que possam querer requerer no futuro.

Podemos afirmar, então, que os assistentes técnicos são os peritos que representam as partes que os
contrataram, devendo atuar, assim como os peritos, de forma ética e zelosa perante as demandas ou
lides trabalhistas. No Código de Processo Civil, a figura do assistente técnico está prevista e encontra
amparo em diversos artigos, como o artigo 421, que nos deixa claro que a distinção entre perito e
assistente técnico está na nomenclatura e emerge do sujeito processual que o nomeia: aquele é
nomeado pelo juiz, é o perito; aquele que é indicado pelas partes, é o assistente técnicos (CPC, art. 421,
§ 1°, I).

Os assistentes técnicos não se sujeitam às restrições do art. 138 do CPC ou às sanções do art. 424, §
único, tendo, ainda, prazo diverso para apresentação de seus pareceres — CPC, art. 433, parágrafo
único. O assistente técnico atua como consultor da parte e seu parecer equivale ao de uma perícia
extrajudicial e se assemelha àquele emitido por jurisconsulto sobre questões jurídicas discutidas no
processo. Ainda, os assistentes técnicos não se sujeitam às restrições do art. 138 do CPC ou às
sanções do art. 424, parágrafo único, tendo, ainda, prazo diverso para apresentação de seus pareceres
(CPC, art. 433, parágrafo único).

 ATENÇÃO
Uma consideração importante é que as partes têm o direito de apresentar seus assistentes técnicos,
mas, caso não o façam, não haverá prejuízo à prova pericial. Logo, é plenamente possível que uma
diligência ocorra apenas com o perito nomeado pelo juízo, sem que as partes tenham indicado seus
assistentes técnicos em processo.

Do mesmo modo, pode ocorrer — sendo bem comum — que apenas uma das partes indique seu
respectivo assistente técnico. Isso decorre do fato de uma das partes não ter condições de arcar
financeiramente com a contratação de um profissional especializado na área de segurança do trabalho
para assisti-la.

Podemos apresentar um número expressivo de reclamações trabalhistas em que, logo após a


nomeação do perito judicial, a reclamada, ou seja, a empresa empregadora do reclamante, apresenta a
indicação do profissional assistente que irá atuar no processo, porém a parte reclamada em geral não
indica quem irá garantir seu suporte técnico. Normalmente, o reclamante, recém-demitido, utiliza os
recursos de sua rescisão contratual, bem como os demais recursos decorrentes do chamado “auxílio-
desemprego” para seu sustento e o de sua família. Assim, a perícia ocorre com o expert nomeado e um
assistente da reclamada. Esse fato não significa que o reclamante será prejudicado, pois caberá ao
perito garantir a isonomia do processo e a integridade na condução em sua diligência pericial.

O fato é que uma perícia técnica terá melhores resultados se peritos e assistentes trabalharem em
conjunto, estabelecendo uma correta metodologia de trabalho para as avaliações de campo durante
suas diligências e realizando reuniões prévias e de encerramento para os corretos alinhamentos e
entendimentos, inclusive, nas demandas que necessitarem do uso de equipamentos de medição para os
riscos que forem objeto do processo.

Vamos conhecer as diferenças entre o perito especialista e o assistente técnico:

Perito especialista
Sendo o perito especialista em determinada área, sua função é auxiliar o juízo, realizando a prova
pericial, a qual terá como objeto o laudo pericial que deve responder a quesitos e apresentar raciocínios
e conclusões com base em coisas e pessoas, seguindo métodos técnicos e científicos. Essa função
abrange a percepção comum dos fatos adicionando a percepção técnica do profissional para emitir um
juízo, uma conclusão. Não cabe a opinião jurídica com leis e doutrinas, mas, sim, a competência e a
lealdade e cumprir seus prazos estabelecidos, sob pena de substituição e/ou consequências de acordo
com o código penal.


Assistente técnico

O assistente técnico, embora também seja especialista em determinada área, tem a função de auxiliar a
parte mediante um parecer técnico com críticas e raciocínios, discordando ou concordando com o laudo
pericial e ajudando na elaboração de quesitos que direcionem o perito no momento da perícia. Apesar
da descrição parcial do assistente técnico, é preciso cautela e ponderação, pois sua opinião técnica
estará totalmente exposta nos autos, permitindo que sua reputação e seu profissionalismo sejam
publicamente visualizados.

Ao perito, é dada a possibilidade de recusa dentro de determinado prazo, podendo-se alegar um motivo
justo de impedimento ou suspeição. Caso o juiz creia que a perícia será complexa, pode nomear dois
peritos, dando condições para que as partes indiquem mais de um assistente técnico.

TANTO O PERITO TRABALHISTA COMO O


ASSISTENTE TÉCNICO DEVERÃO VALER-SE DE
MÉTODOS E AVALIAÇÕES QUALITATIVAS E
QUANTITATIVAS QUE GARANTAM O RESULTADO DE
SEU TRABALHO, COM O OBJETIVO DE AVALIAR SE
EFETIVAMENTE UM TRABALHADOR, NO CASO O
RECLAMANTE, ESTEVE EXPOSTO A CONDIÇÕES
INSALUBRES OU PERICULOSAS DURANTE SUA
JORNADA LABORAL PARA A RECLAMADA.
O uso de equipamentos de medição para as avaliações da intensidade dos riscos físicos ou da
concentração dos químicos, comparando-os com os limites de exposição (ou tolerância) estabelecidos
pela Norma Regulamentadora 15, no caso da insalubridade, é decisivo para o entendimento do
processo e sua demanda. Da mesma maneira, as avaliações qualitativas para os riscos biológicos,
enquadrando-os de acordo com o Anexo 14 da NR-15, darão ampla transparência e exatidão à lide. O
uso da figura jurídica do paradigma, um trabalhador que ainda esteja na empresa, que atue na mesma
função do reclamante e que, de preferência, tenha atuado com ele, poderá ser de fundamental
importância.

O ASSISTENTE TÉCNICO
Os assistentes técnicos, após a nomeação do perito judicial, seguindo o fluxo do processo trabalhista,
terão o prazo máximo de dez dias para a apresentação dos chamados “quesitos técnicos”, os quais
serão inseridos no processo para que o perito inclua em seu laudo as respostas, após as avaliações
durante sua diligência. Esse prazo ocorre logo após a audiência de conciliação, caso não ocorra
“acordo” entre as partes e a prova pericial passe a ser condicionante fundamental para a continuidade
do processo trabalhista. Assim, os quesitos são essenciais para a conclusão do laudo e o
convencimento do juiz para deferir sua sentença. Muitas vezes, as respostas aos quesitos nortearão o
próprio laudo pericial.

Vamos exemplificar a elaboração dos quesitos por parte do assistente técnico no seguinte cenário
trabalhista:

 EXEMPLO

Uma reclamante atuou para uma clínica oncológica sempre na função de recepcionista durante oito
anos. Ela solicitou a prova pericial, visto que, em todo o “pacto laboral”, jamais recebeu o adicional de
insalubridade a que, segundo ela, teria direito em função dos riscos biológicos. Assim, o assistente
técnico indicado pela reclamada, ou seja, pela clínica oncológica, apresentou os seguintes quesitos
técnicos referentes aos cinco últimos anos trabalhados pela reclamante, visto que, na Justiça do
Trabalho, as provas superiores a esse período são chamadas de prescritas e, por isso, não serão
consideradas no processo trabalhista.

Vejamos os quesitos elaborados pelo assistente técnico da reclamada:


Queira o ilustre perito do juízo avaliar as atividades da reclamante, durante o período imprescrito em que
esta laborou para a reclamada na função de recepcionista. Nesse item, deve-se explicar o ambiente e
suas características físicas, bem como a rotina diária de trabalho da reclamante.

Queira informar as atividades econômicas da reclamada, as características dos pacientes que realizam
os tratamentos e as demais informações que considerar relevantes.
Queira o ilustre perito informar se os pacientes que realizam suas terapias e seus procedimentos
oncológicos são portadores de doenças infectocontagiosas.

A reclamante fazia uso de equipamentos de proteção individual no atendimento aos pacientes e seus
familiares na recepção da clínica ou os equipamentos eram desnecessários?
Tendo em vista que as atividades da reclamante eram de recepcionista, em posto de trabalho específico,
era possível o seu acesso aos ambientes em que os pacientes estavam em tratamento?

Caso a resposta à pergunta anterior seja positiva, com que frequência ocorriam esses acessos? É
possível estabelecer um tempo médio diário de permanência nesses ambientes?
Queira o expert, ainda, realizar uma criteriosa análise técnica dos documentos ocupacionais da
reclamante, especialmente o PPRA, o PCMSO e o PPP da reclamada, e apresentar suas
considerações.

É correto afirmar, seguindo os parâmetros estabelecidos pelo Anexo 14 da NR-15, que a reclamante,
durante sua jornada para a reclamada, não esteve exposta a nenhum agente nocivo que lhe desse
direito a adicional de insalubridade?
Queira o ilustre perito do juízo apresentar suas considerações complementares e conclusão do seu
laudo pericial.

Observe que o assistente técnico da reclamada, para elaborar seus quesitos técnicos, teve que
“estudar” as peças do processo, especialmente a inicial (reclamante) e a contestação (reclamada), bem
como os documentos de segurança do trabalho e saúde ocupacional para o pleno entendimento da
demanda e a respectiva elaboração, até para que não houvesse conflitos entre seu entendimento e a
parte que o contratou.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As funções dos peritos judiciais e dos assistentes técnicos são fundamentais para que o juiz tenha
convencimento técnico para a definição de sua sentença. Assim, esses profissionais, devidamente
especializados no seguimento da segurança do trabalho, deverão atuar de forma ética e dentro dos
parâmetros normativos, especialmente quanto à NR-15, que trata da insalubridade, e à NR-16, que
aborda a periculosidade.

O perito judicial é o profissional nomeado pelo juiz que será seus “olhos” na prova pericial, enquanto os
assistentes técnicos, tanto os da reclamante como os da reclamada, deverão atuar conforme os
entendimentos e as necessidades das partes que os contrataram. Porém, é fundamental deixar
registrado que a perícia que apresenta melhores resultados é aquela produzida em conjunto e harmonia
entre os profissionais.

 PODCAST
Agora, o especialista Marcio Jorge Gomes Vicente fará um resumo sobre o conteúdo abordado.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-lei no 5.452, de 10 de novembro de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do


Trabalho. Consultado na internet em: 29 set. 2021.

BRASIL. Lei no 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Consultado na internet
em: 29 set. 2021.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 15 – Atividades e Operações Insalubres. Brasília:


Ministério do Trabalho e Emprego, 1978. p. 238-319. Consultado na internet em: 29 set. 2021.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 16 – Atividades e Operações Perigosas. Brasília:


Ministério do Trabalho e Emprego, 1978. p. 238-319. Consultado na internet em: 29 set. 2021.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria no 3.214, de 08 de junho de 1978. Consultado na


internet em: 29 set. 2021.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Diretrizes sobre Sistemas de Gestão de
Segurança e Saúde no Trabalho. Genebra; Brasília: Santa Clara, 2002.

EXPLORE+
Para aprimorar os seus conhecimentos no assunto estudado:

Assista ao vídeo Quando precisa de perícia no processo de trabalho, disponível no canal do


Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, no YouTube, e entenda as atividades dos peritos
judiciais e dos assistentes técnicos nas provas trabalhistas que envolvem a insalubridade e a
periculosidade.

CONTEUDISTA
Márcio Jorge Gomes Vicente

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