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Ex.

mo Senhor

Proc. Comum Colectivo nº 710/00 Juiz de Direito do

Tribunal Judicial da Comarca de

_________________

URGENTE

Artur _______ __ Machado, preso

preventivamente no Estabelecimento Prisional de Menores em Leiria, à ordem do

supra identificado processo vem, nos termos do art.31º da C.R.P. e art.222º do

C.P.Penal, intentar providência de HABEAS CORPUS EM VIRTUDE DE PRISÃO

ILEGAL.

Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça

O requerente por entender que se encontra preso ilegalmente vem intentar a

presente providência de habeas corpus , nos termos e para os efeitos do disposto no

art. 222º e ss. do C.P.Penal,

Nos termos e com os fundamentos seguintes:

Em 30 de Agosto de 1999 foi ordenada a prisão preventiva do aqui requerente à ordem

do processo de inquérito nº ___/__ do Ministério Público junto do Tribunal da Comarca

de ____.
Concluído o processo de inquérito, o M. P. entendeu verificar-se a existência de indícios

suficientes da prática de crime. Pelo que, acusou publicamente o requerente como co-

autor de um crime de homicídio qualificado.

O Tribunal Colectivo de _____ __ ________ convolou o crime de homicídio, em crime

de ofensa à integridade física grave e qualificada, agravada pela morte da vítima e,

consequentemente condenou o requerente na pena de cinco anos de prisão efectiva.

Não se conformando com a decisão proferida, o requerente interpôs recurso para o

Tribunal da Relação do Porto, sendo que este no exercício das suas competências anulou

o julgamento, bem como a decisão condenatória porquanto esta havia valorado prova não

produzida em audiência de discussão e julgamento. (Cfr. Cópia do Acórdão do Tribunal da

Relação do Porto, que se junta como Doc. nº e se dá por integralmente reproduzido para

todos os efeitos legais).

A al. b), do nº1, do art. 215º do C.P.Penal consagra que:

“A prisão preventiva extingue-se quando, desde o seu início, tiverem

decorrido: d) Dois anos sem que tenha havido condenação com trânsito em

julgado”.

À semelhança dos restantes prazos máximos fixados na Lei Processual Penal para

a manutenção de medidas de coacção, o prazo máximo de dois anos de submissão

a prisão preventiva visa proteger, acautelar eventuais violações e injustiças

proporcionadas pela manutenção da medida de coacção mais gravosa a arguidos

que beneficiam, de resto, até trânsito em julgado de decisão válida, do princípio

in dubio pro reu.


O art. 28º n.º 4 da Lei Fundamental confere aos prazos máximos de prisão

preventiva a dignidade de imperativo Constitucional.

Dúvidas não restam que a situação do requerente é coincidente com o preceito

supra transcrito - o requerente encontra-se preso preventivamente sem que haja

sido condenado por decisão transitada em julgado.

Em virtude do Acórdão proferido pelos Senhores Juizes Desembargadores do

Tribunal da Relação do Porto ter anulado o Acórdão proferido em primeira

instância, bem como o julgamento, aguarda o requerente notificação do despacho

que designe data de nova audiência de discussão e julgamento.

Nestes termos afloram fundamentos bastantes quer de direito quer de facto

para o recurso pelo requerente à presente providência.

De facto, o requerente encontra-se numa situação que peca por idoneidade

processual e, que por actual, legitima o seu pedido de Habeas Corpus.

Vejamos a este propósito o propugnado no Acórdão do Supremo Tribunal de

Justiça de 6 de Fevereiro de 1997:” Um pedido de habeas corpus respeitante a

uma prisão determinada por decisão judicial só poderá ter provimento em casos

extremos de abuso de poder ou erro grosseiro de aplicação do direito

(manutenção da prisão para além dos prazos legais ou fixados por decisão

judicial), prisão por facto pelo qual a lei a não admita ou, eventualmente, prisão
ordenada por autoridade judicial incompetente para a ordenar, nos termos do

art. 222º do C.P.P.” 1.

O Requerente tem agora dezassete anos e está há dois anos consecutivos em

prisão preventiva, pelo que, a libertação do requerente é imperativa e urgente,

nos termos do nº1 do art. 217º do C.P.Penal.

Pelo exposto, é manifestamente necessário que V. Ex.a admita a presente

providência, declarando a ilegalidade da prisão e ordenando consequentemente a

imediata libertação do requerente.

ESPERA RESPEITOSAMENTE DEFERIMENTO

Junta: cópias

A Advogada,

1
BMJ, 464,338

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