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BONITO – SP.
Da gratuidade judiciária:
O Requerente, conforme declaração anexas, não possuem meios
econômicos que possibilite patrocinar as custas do processo, bem como os honorários
advocatícios e demais encargos decorrentes da presente demanda, sem prejuízo do
sustento próprio ou da família.
Declara ainda, para fins de concessão do benefício da gratuidade de
Justiça, ser pobre nos termos do parágrafo único do artigo 2º da Lei 1.060 de 1950.
Desta forma, requer os benefícios da justiça gratuita, compreendendo, dentre outras
garantias aplicáveis, as isenções elencadas na já citada Lei.
Dos fatos:
PROCESSO: 0001061-27.2018.8.26.0498.
Conforme comprova documentação anexa, em 10 de julho de 2018 o Autor
foi preso em flagrante de posse de 2,0 gramas de maconha.
No que pese os esforços da defesa, somente em 26 de setembro de 2018
o Autor foi beneficiado com a liberdade provisória, em razão de ordem concedida nos
autos do HC 469.826 – SP (2018/0243297-0), de relatoria do Ministro Antonio
Saldanha Palheiro do Superior Tribunal de Justiça.
Em 23 de maio de 2019 o Juízo Singular condenou o Autor a 05 (cinco)
anos de reclusão em regime inicial fechado, com fundamento no art. 33, caput, da Lei
11.343/06.
Inconformada com a decisão, a defesa interpôs revisão criminal perante o
TJSP, que foi distribuído sob o número 2230916-33.2022.8.26.0000, sob a relatoria
do Desembargador Machado de Andrade do Terceiro Grupo de Direito Criminal.
Dentre os pedidos formulados, foi requerido pela defesa o reconhecimento da
ausência de justa causa para a invasão de domicilio; o reconhecimento do trafico
privilegiado; pleiteando inclusive a concessão da liminar para que o Autor aguardasse
em liberdade até a apreciação da revisão criminal, haja vista que já havia cumprido
80% (oitenta por cento) da condenação imposta.
No que pese as argumentações trazidas pela defesa, o Desembargador
Relator indeferiu o pedido revisional, sendo necessário a defesa interpor agravo
regimental nos termos do regimento interno do TJSP. Em 09 de janeiro de 2023
sobreveio acordão do Colegiado do Terceiro Grupo de Direito Criminal do TJSP
negando provimento ao Agravo Interno.
Inconformada a defesa, interpôs perante o STJ Habeas Corpus Substitutivo
de Recurso Especial, pleiteando o reconhecimento das ilegalidades praticadas pela
Policia Militar, pela Autoridade Policial e homologada pela Autoridade Judicial, haja
vista que houve ingresso forçado no domicilio do Autor.
Em 28 de fevereiro de 2023, o Ilustre Ministro Antonio Saldanha Palheiro
concedeu a ordem de oficio cassando o acordão.
PROCESSO: 1500012-60.2019.8.26.0555.
Enquanto estava de liberdade provisória do primeiro processo, o Autor foi
preso novamente em 03 de janeiro de 2019 de posse de 6,95 gramas de maconha,
acarretando novamente a prisão preventiva do Autor.
No que pese todos os esforços da defesa junto ao TJSP (2046313-
24.2019.8.26.0000) e STJ HC nº 505315 / SP (2019/0111763-5), lhe foi negado o
direito de se defender em liberdade.
Em 31 de outubro de 2019 sobreveio sentença condenatória em face do
Autor condenado em a 05 (cinco) anos de reclusão em regime inicial fechado, com
fundamento no art. 33, caput, da Lei 11.343/06.
Inconformado com a decisão a defesa interpôs recurso de apelação que foi
distribuído para a Desembargadora Ivana David da Quarta Câmara de Direito Criminal
do TJSP, que negou provimento mantendo a sentença condenatória.
Informado com a decisão, a defesa interpôs Habeas Corpus Substitutivo de
Recurso Especial perante o STJ que também foi julgado improcedente.
Inconformada a defesa interpôs Habeas Corpus perante o STF, que foi
distribuído sob a relatoria do Ministro Alexandre de Morais, HC 216460, onde lhe foi
concedida a ordem em 13/06/2022, desclassificando a conduta do Autor para uso de
drogas.
Do direito à liberdade:
O homem, simplesmente pela sua condição de pessoa, carrega consigo
determinados direitos que lhe são inerentes e fundamentais. O reconhecimento
desses direitos, em assim sendo, não depende de qualquer decisão judicial ou
previsão legal.
O Constituinte Originário de 1988, atento a esta observação naturalística,
trouxe, pela primeira vez na história constitucional brasileira, o Título relativo aos
“Direitos e Garantias Fundamentais” com antecedência àqueles que tratam da
“Organização do Estado” e da “Organização do Poder”.
Pretendeu-se, com isso, evidenciar que existem certos direitos inerentes ao
homem, cabendo ao Estado zelar pela sua observância e, mais, adotar medidas para
que sejam eles tutelados e promovidos.
Nesse diapasão, a Constituição Federal, em seu artigo 5º, caput, assegura
a todas as pessoas residentes no País a inviolabilidade do direito à liberdade, que
poderá ser excepcionado nos casos de prisão em flagrante delito ou por ordem escrita
e fundamentada de autoridade judiciária competente (inciso LXI), desde que
observado o devido processo legal (inciso LIV).
A norma positiva suprema consagra, ainda, o princípio da não
culpabilidade, ao estabelecer a garantia de que “ninguém será considerado culpado
até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (inciso LVII).
Outro não é o conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
que reconhece o direito à liberdade em seu artigo 3, normatizando, no artigo 11, “I”,
que “todo o homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em
julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias
necessárias a sua defesa.”.
Na mesma esteira, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem, aprovada na Nona Conferência Internacional Americana, em Bogotá (1948),
determina, no caput do artigo XXV que “ninguém pode ser privado da sua liberdade,
a não ser nos casos previstos pelas leis e segundo as praxes estabelecidas pelas leis
já existentes”; estabelece, ainda, que “parte-se do princípio que todo acusado é
inocente, até provar-se-lhe a culpabilidade” (artigo XXVI, caput).
Atento a esses ditames superiores, o legislador infraconstitucional
promulgou o Código de Processo Penal (CPP), regulamentando, dentre outros temas,
as hipóteses em que o direito à liberdade da pessoa humana pode ser mitigado.
Diz o artigo 283 do CPP:
No caso em tela, toda a macula pelo qual o Autor foi submetido, se deu em
razão de abuso de autoridade por parte dos Policiais Militares, abuso de autoridade
homologado pelo Juízo Singular, bem como, pelo Colegiado do TJSP, que ignorou os
direitos constitucionais do Autor, deixando que o mesmo fosse levado a prisão.
Excelência, não estamos diante unicamente de um caso onde houve a
invasão do domicilio do Autor, estamos diante de um caso onde houve a invasão do
domicilio do Autor, sendo que foram produzidas de forma ilícitas provas que levaram
a sua prisão. Uma prisão ilegal, ilícita e passível de indenização.
Referido argumento, contudo, não se sustenta; afinal, o artigo 3º do CPP
deve ser interpretado de acordo com a Constituição Federal de 1988 e em observância
ao caráter instrumental do processo penal democrático, ligado intimamente ao
progresso dos direitos fundamentais, conforme ensina Aury Lopes Jr.:
Da obrigação de indenizar:
O artigo 5º, inciso V da Constituição Federal erige à condição de direito
fundamental o direito à indenização por dano material e moral.
Relativamente à responsabilidade civil do Estado pelos prejuízos causados
por seus agentes aos particulares, a norma positiva supre disciplina o seguinte, em
seu artigo 37, §6º:
Mais à frente, consigna: “no caso de dano sofrido pelo particular em razão
de dolo ou culpa do agente estatal, de deficiência ou falha do serviço público, de culpa
anônima da Administração, da chamada faute de servisse, nasce a pretensão
ressarcitória: a indenização, compreendendo os danos certos e não eventuais, atuais
ou futuros, deve ser a mais completa possível, assimilando-se à responsabilidade civil
do direito comum”.
Em resumo, portanto, o dever de indenizar do Estado pode decorrer de uma
ação ou de uma omissão, desde que a conduta estatal seja a causa dos prejuízos
causados ao particular.
No caso dos autos, os documentos que acompanham a presente petição
deixam evidente que os danos causados ao autor têm a sua causa direta e imediata
na deficiência do serviço público prestado pelo réu no que tange o trabalho
desenvolvido pela Policia Militar, pela Policia Civil, pela Autoridade judicial.
Patente, pois, a obrigação do Réu de compensar os danos morais
causados ao autor.
Dos pedidos:
Ante o exposto, requer-se de Vossa Excelência:
a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, nos termos da Lei
1.060/50;
b) A citação do réu no endereço constante do preâmbulo desta peça, a fim
de que, querendo, contestem a presente demanda, no prazo legal;
d) Seja, ao final, julgada totalmente procedente a demanda, para: (i)
condenar o réu a compensar pecuniariamente os danos morais ao autor, no valor
correspondente a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), ou outro valor que este Juízo
entenda cabível ao caso em tela, devidamente corrigido e com juros de mora; (ii)
condenar o requerido nos ônus de sucumbência, consubstanciados nos honorários
advocatícios de 20% (vinte por cento).