Você está na página 1de 2

O primeiro capítulo do livro "Introdução ao Estudo do Direito" de Alysson Leandro

Mascaro aborda essencialmente o que é o direito, além de sua origem e sua clara relação com
o capitalismo. O autor inicia explicando por que compreender o direito é uma tarefa complexa,
destacando que os juristas muitas vezes tentam interpretar o direito moderno com uma
perspectiva contemporânea, criando definições idealistas e vagas que são então adaptadas à
realidade atual, muito ocorre também dos mesmos tratarem o direito como normas isoladas,
sendo necessário uma visão do todo. No entanto, para compreendê-lo verdadeiramente, é
necessário olhar para o passado e analisar sua origem. Ao investigar sua gênese, é possível
adotar uma abordagem mais concreta, permitindo definições objetivas. Por isso, o estudo da
história desempenha um papel fundamental nesse processo de compreensão.

Mascaro argumenta que o direito pode ser dividido em dois ramos: direito quantitativo
e direito qualitativo. O direito quantitativo refere-se a tudo que é influenciado pelo direito e,
por sua vez, também influencia o direito. São questões que não são exclusivamente legais, mas
são afetadas por elas. No entanto, o direito qualitativo, de maior importância, trata das questões
específicas do direito, como a estrutura capitalista.

A estrutura capitalista é considerada específica do direito, pois é dela que surge o direito
qualitativo. O autor explica que o direito, entendido como uma relação de poder, anteriormente
era exercido mediante a força, o que ele chama de dominação direta. No entanto, com o
advento do capitalismo na era moderna, o poder passou a ser exercido de forma indireta, por
meio de contratos e negociações, ou seja, por meio do direito. Mascaro destaca a relação
intrínseca entre o direito e a totalidade social, especialmente a estrutura capitalista. Para ele, o
direito é a ferramenta do capitalismo que fortalece o Estado, mantenedor desse sistema, e é por
meio desse poder que somos compelidos a explorar ou sermos explorados, resultando na
transformação de todas as coisas e todos os seres humanos em mercadorias pelo capitalismo.

As relações sociais no modelo capitalista são fundamentadas no direito, que regula as


interações entre indivíduos, sociedade e Estado. Além disso, o direito atua como um aval sobre
as ações do Estado e do capitalismo, legitimando e operacionalizando esse sistema. Através do
Estado, que idealmente se apresenta como neutro e imparcial, o sistema capitalista é protegido
e regulamentado, determinando a proteção (ou falta dela) para os sujeitos de direito, os
indivíduos inseridos nesse sistema. Essa proteção é definida com base nos critérios do
capitalismo, particularmente o capital, que muitas vezes determina os privilégios, chamados de
direitos subjetivos. O poder das classes dominantes sobre as classes subalternas
frequentemente resulta na imposição de deveres sobre essas classes marginalizadas.

Assim, para Alysson Mascaro, a única forma de alcançar uma sociedade justa e livre de
exploração e divisões de classes, que não desumanize as questões sociais, é superando o
capitalismo por meio da construção de uma nova sociedade socialista, onde o direito se tornaria
uma verdadeira forma de arte, julgando as situações com base na justiça.
Já no segundo capítulo, o autor discute a evolução do fenômeno jurídico ao longo da
história, destacando a mudança nas concepções e práticas jurídicas de sociedades pré-
capitalistas para sociedades capitalistas. Ele ressalta que o que é considerado "direito" varia de
acordo com as estruturas sociais e históricas, não sendo um conceito fixo e universal.

Nas sociedades pré-capitalistas, como as antigas sociedades gregas, o direito estava


intimamente ligado à distribuição dos bens e à justiça na esfera das coisas e das pessoas.
Aristóteles, por exemplo, enfatizava a importância de dar a cada um o que lhe é devido,
buscando a justeza nas relações sociais e na distribuição dos recursos. Nesse contexto, o direito
não se limitava a normas jurídicas, mas envolvia uma compreensão da natureza das coisas e das
situações.

No entanto, com o surgimento do capitalismo e o desenvolvimento da técnica jurídica


moderna, houve uma mudança significativa na forma como o direito é entendido. Alysson
Mascaro argumenta que, no capitalismo, o direito é cada vez mais identificado com normas
jurídicas e instituições estatais, como o Estado. As relações sociais capitalistas são reguladas por
direitos subjetivos e normas estatais, e a justiça é determinada mais pela aplicação dessas
normas do que pela consideração da natureza das coisas.

Essa mudança reflete uma transformação nas formas de relação social: enquanto o
direito pré-capitalista tratava diretamente das coisas e das situações, o direito capitalista lida
com essas questões por meio de institutos jurídicos e normas estatais. A universalidade do
fenômeno jurídico no capitalismo não está na cobertura de todos os temas, mas sim nas formas
e técnicas consideradas universais na sociabilidade jurídica capitalista.

Em suma, Mascaro destaca a transição do direito como uma prática baseada na


distribuição justa dos bens e na compreensão da natureza das coisas para uma abordagem mais
técnica e normativa, centrada nas instituições e normas do Estado, à medida que as sociedades
avançam em direção ao capitalismo.

Você também pode gostar