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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

1º período: 2023/2
Início: 31/07/2023
Professor: Inaldo Valões

● REVISÃO DO PROFESSOR PARA A PROVA:

A subjetividade jurídica: é a maneira diferente de analisar a realidade, diferindo-se


do que acontecia antigamente, onde a justiça, por exemplo, era realizada por meios
que não são semelhantes aos que existem hoje em dia.
Sujeito de direito: ao nascer e respirar já é um sujeito de direito. Você tem deveres
e direitos subjetivos.
Direito objetivo: Norma propriamente dita. Por exemplo: você tem 7 dias para
devolver um produto danificado. Isso está na norma.
Direito subjetivo: A transformação da norma em algo pessoal seu, ou seja,
subjetivo a você. Por exemplo: se eu tenho 7 dias para devolver um produto, no
momento que eu vou lá na assistência (dentro dos 7 dias), o direito passa a ser
subjetivo, a ser “meu” pois eu fui lá pois sabia que tinha o direito objetivo de ir.
Forma mercantil: Relações de trocas equivalentes advindo do capitalismo. É a
teoria que sustenta a especificidade do direito. O que diferencia dos demais
fenômenos como por exemplo: a religião.
Formas jurídicas: espelho da forma mercantil. Também podemos chamar de
subjetividade jurídica.
Ideologia do direito: é uma falsa consciência. Por exemplo: “eu acredito que o
direito é sobre justiça”. Essa é uma ideologia sua, uma falsa consciência alimentada
pela sua visão de mundo. “Todos são iguais perante a lei” é uma ideologia, pois as
pessoas podem acreditar nisso, mas na realidade não é assim
Fenômeno jurídico: é a mesma coisa de Direito. É o resultado final do processo.
● Definir o direito como técnica gera um empobrecimento do fenômeno
jurídico. Pois o direito não se resume a apenas a técnicas (normas) como
acreditam os positivistas.

RESUMO PARA A PROVA

Obra: Introdução ao Estudo do Direito


Autor: Alysson Mascaro

1º Capítulo: O que é Direito?


● A pergunta “O que é Direito?” Comporta muitas respostas, teorias e visões
intrinsecamente ligadas aos ideais dos juristas (estudiosos do direito) aos
quais a pergunta é feita.O Direito, muitas vezes, na visão dos juristas, parte
da definição de justeza e dos próprios ideais. O Direito está esparramado nas
relações sociais e suas peculiaridades, por isso, há uma dificuldade em
caracterizar especificamente o Direito e atribuir a ele uma identificação
universal e imparcial.

- O Direito é um fenômeno de momentos específicos da história.


Portanto, é um fenômeno histórico. Ele ganha especificidade na
contemporaneidade, quando as sociedades se estruturam no
capitalismo.

● O Direito entra, então, na esfera historiográfica. Ou seja, na abordagem de


uma maneira específica de se estudar o Direito como fenômeno histórico. A
partir de fenômenos concretos, é possível delimitar uma concepção do que é
Direito.

● SOCIEDADE PRÉ-CAPITALISTAS: Nas sociedades pré-capitalistas, como


as do feudalismo, o direito estava atrelado, principalmente, à religião e à
moral. A Igreja Católica era o principal vínculo de unidade dessas
sociedades. Dessa forma, distinguir o direito, separando-o do ordenamento
religioso e moral era quase impossível.

● ILUMINISMO: De fato, o iluminismo foi um dos primeiros movimentos


intelectuais, há provar que era possível separar a religião a da ciência, como
forma de enaltecer a razão em detrimento ao pensamento religioso. Contudo,
nas sociedades pré-capitalistas, era muito difícil essa separação (como
exemplificado no tópico anterior).

● QUALIDADE DO DIREITO: Qualquer assunto pode ser jurídico, ou seja,


qualquer assunto pode ser quantitativamente jurídico. Como por exemplo: a
educação, a agronomia e o trabalho. Contudo, há estruturas e relações
sociais que dão passagem para que o direito lide de modo específico perante
esses assunto. O suicídio, por exemplo, na esfera religiosa é tratado de uma
maneira diferente do como é tratado na esfera do direito. A religião, julgaria
através dos dogmas e as normas religiosas, já o direito trabalharia em
relação a indução, instigação ou auxílio ao suícidio. O suícidio paira sobre as
duas esferas, mas a religião exerce um tipo de conduta a qual distingue da
conduta que o direito exerce.

- O direito cobre muitos assuntos – homicídio, roubo, compra e


venda, tributos, proteção ao trabalhador. Mas, além de se referir a
muitos temas, o direito lida de modo específico com esses
próprios temas. Por isso, é a qualidade de direito o grande
identificador do fenômeno jurídico moderno.

- O fenômeno jurídico pode interpenetrar todos os demais na


sociedade, mas, ao mesmo tempo, também é interpenetrado por
todos os demais fenômenos. A religião influencia o direito como
o direito influencia a religião, mas a religião não fez do direito o
fenômeno qualitativo que ele é. *AQUI ENTRA HANS KELSEN E A
TEORIA PURA DO DIREITO*

● COMO SURGE A QUALIFICAÇÃO DO DIREITO: A transformação do direito


quantitativo em direito qualitativo se dá com o advento do capitalismo, cujas
relações sociais e econômicas permeiam e geram a qualidade do direito
através da subjetividade jurídica. Evgeni Pachukanis, em A Teoria Geral do
Direito, demonstra em sua obra a rejeição do entendimento de que a forma
do direito se exprime em apenas um conjunto de normas e apresenta as
relações de troca mercantil como, de fato, a forma do direito.

● SUBJETIVIDADE JURÍDICA: É o instrumento fundamental do Direito


Moderno. Surge com as relações de trocas mercantis advindas do sistema
capitalista. A partir do momento que os indivíduos passam a ser proprietários
de algo e se vinculam mediante contratos, trocas e vendas, eles permutam
direitos subjetivos e deveres, Dessa maneira, se tornam sujeitos de direito.
As trocas se dão pela autonomia da vontade dos sujeitos, ou seja pela
liberdade de contratar, de se vender no mercado. O Estado adentra como
terceiro, garantindo essas relações sociais mercantis e a propriedade privada
dos indivíduos. A subjetividade jurídica se encontra durante todo este
processo. Ela é espelho da forma mercantil, ou seja, das trocas mercantis.
Também podemos chamá-la de forma jurídica. É o elemento qualitativo do
direito. Dessa maneira, pode-se se dizer que o fenômeno jurídico, no
capitalismo, deu um salto qualitativo.

- O direito é requalificado. Não mais trata das coisas, dos fatos,


das situações, das pessoas e de sua justeza, e sim trata de
formas sociais, entremeadas no mais das vezes por normas.

- Quantos assuntos são jurídicos e sobre quantas coisas trata o


direito? A princípio, tudo pode ser jurídico. A forma jurídica é a
forma da equivalência universal das mercadorias.

OBS: É por isso que se pode dizer que o direito moderno seja
capitalista. Não só porque suas normas protejam o capital de maneira
explícita ou total, porque até mesmo é possível que haja algumas
normas contra o capital. Não porque o trabalhador nunca ganhe alguns
benefícios. É até possível que haja umas tantas garantias ao trabalhador
nas leis. O direito moderno é capitalista porque a forma do direito
equivale à forma capitalista mercantil.

● DIREITO OBJETIVO: Conjunto de normas implantadas e existentes.Também


é chamado de direito positivo, pois parte da presunção que é um direito
posto. Ex: Você tem 7 dias para devolver um produto danificado.Tal lei está
descrita no artigo 49 do código do consumidor.

● DIREITO SUBJETIVO: É a permissão dada por meio da ordem jurídica para


um sujeito fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Por exemplo: se eu tenho 7
dias para devolver um produto, no momento que eu vou na loja (dentro dos 7
dias), o direito passa a ser subjetivo, a ser subjetivo a mim, pois eu fui lá pois
sabia que tinha o direito objetivo (por lei) de ir.

O direito é uma forma da sociedade capitalista, perpassada por outras formas,


sendo constantemente moldado, por práticas sociais variadas.

2º capítulo: A evolução histórica do Direito

DOMINAÇÃO NAS SOCIEDADES DA ANTIGUIDADE: Dominação direta exercida


pela força, poder, religiosidade e posse de terras. O senhor dominava diretamente o
escravo (escravagista) ou o senhor dominava diretamente o servo (feudalismo).
Quando a dominação acaba, acaba a relação de exploração. No passado, não havia
uma instituição que conservasse o direito de ser senhor quando sua dominação
terminava.

DIREITO NA GRÉCIA: Os gregos desenvolveram suas ideias do que seria o direito


por meio de uma filosofia. Em “A República” de Platão, Platão discorre que, um
governante ideal para uma sociedade ideal teria que ser o filósofo, pois, somente
ele, teria a idéia do que seria a justiça puramente. Dessa forma, o direito na Grécia
era especulado conforme a noção de justeza. Podemos citar até mesmo os tribunais
heliastas que reunia o povo, em forma de juri nacional, para julgar crimes com base
na noção de justiça.

DIREITO EM ROMA: Os romanos, por sua vez, buscaram diretrizes para as


decisões dos problemas na prática, como os pretores, o senado e uma das mais
notáveis: o Corpus Juris Civilis escrito por Justiniano. Contudo, até mesmo as
atividades dos pretores que poderiam se assimilar à magistratura do direito moderno
tomavam forma artesanal mediante a resolução de conflitos, pois a aplicação
jurídica dessa atividades era arbitrária e variava de caso para caso dependendo de
suas peculiaridades. O Direito em Roma ainda era também regido pelo
ordenamento jurídico baseado em explicações míticas, como a vontade dos deuses.
Dessa forma, o direito romano se distingue do direito moderno por não operar a
partir do sujeito de direito, subjetividade jurídica, direito subjetivo e demais
estruturas advindas da forma mercantil. Também se distingue pois não é respaldado
por um poder estatal nas relações jurídicas.

● Vale dizer, o paterfamilias não tem regras estatais que limitem seu
poder sobre seus subordinados.
● As explicações míticas ou religiosas serviram, muitas vezes, como
legitimação da ordem de dominação.

RELAÇÃO CONTRATUAL DE ROMA: O império romano foi caracterizado pela


sustentação de uma rica economia escravista e de um alto grau de exploração.
Dessa forma, deu-se o desenvolvimento comercial de Roma, baseando-se nas
trocas de produtos entre os cidadãos romanos. Surgiu assim, similares instituições
jurídicas às do direito moderno, como os contratos comerciais, contudo esses
contratos se diferem dos contratos do direito moderno pois não se estruturam na
subjetividade jurídica, isto é, não há a impessoalidade e a universalidade dos
procedimentos, além de não se respaldo por um ente estatal.

RELAÇÃO CONTRATUAL NO FEUDALISMO: Havia na sociedade feudais o


contrato de vassalagem, um contrato baseado na fidelidade e trabalho servil as
terras dos suseranos. Contudo, era um contrato exploratório, não garantido por por
meios estatais. O senhor feudal poderia a qualquer momento desfazer o contrato.
Não havia garantias ao vulnerável (vassalo). Ainda a vassalagem se valia de
argumentos religiosos de que o servo trabalhava nas terras por vontade divina, uma
legitimação divina. Dessa forma, não se assemelha ao direito moderno.

DIREITO MODERNO

● Com o início da Idade Moderna e o fim do feudalismo, deu-se início às


atividades comerciais burguesas de compra e venda. Dessa forma,
começaram a surgir estruturas econômicas de viés capitalista.

● ESTADO MODERNO: O Estado moderno surge, nesse contexto, pois as


relações mercantis burguesas demandam instituições e aparatos que
garantam os direitos, deveres e a propriedade privada dos indivíduos. Nesse
sentido, o Estado moderno unifica os territórios feudais a fim de facilitar a
atividade mercantil, cria as legislações e assim exerce poder para decidir
sobre os conflitos.

- O Estado institucionalizado juridicamente e a forma jurídica faz de


cada qual um sujeito de direito.

● O Estado dá base material à acumulação burguesa porque se o Estado tem


um grande território, possibilita à burguesia fazer negócio em qualquer parte
pois sabe que o Estado irá garantir. Contudo, o Estado também depende da
burguesia para subsistir (tributos por exemplo). Dessa forma, por mais que
haja normas contra a burguesia, ainda é um ente que garante os interesses
gerais da mesma.

- Podemos associar aqui à forma capitalista. A forma de direito moderno


não apenas garante a proteção do capital e suas instituições. Há a
possibilidade de haver normas contra o capital, mas a forma, ou seja,
a base, do direito moderno sempre será de interesse ao capitalismo.

ESTADO NO ABSOLUTISMO: Nesse período o Estado estava sob dominação da


nobreza e o monarca impunha certa influência sob o Estado. O Estado, apesar de já
garantir os contratos, não executava todas as normas contratuais burguesas pois
visava garantir, principalmente, os privilégios da nobreza. Nesse contexto ,surge
então a Revolução Francesa que lutou contra o fim do absolutismo a fim de que os
privilégios da nobreza fossem instintos e o Estado passasse a garantir também o
direito universal de todos os indivíduos.

- Esse Estado que impunha regras universais sem privilégios à nobreza era
chamado de Estado de Direito, porque apesar de criar leis para decidir os
conflitos, também estava sujeito a elas. Os governantes do Estado se
encontram, então, sob as leis. As leis governam os homens.
- RELAÇÃO COM MONTESQUIEU: Em ‘O Espírito das Leis”, Montesquieu diz
que leis positivas, ou seja, as normas implantadas pelo Estado são
necessárias para regular o convívio em sociedade a partir do momento em
que os homens já não se sentem iguais e há propensão a um estado de
guerra.

● ESTADO BURGUÊS: Quando a burguesia assume o poder (século XIX/19),


como na França pós Revolução Francesa, o Estado será definitivamente um
garantidor dos interesses capitalistas. O Estado, nesse momento, passa criar
procedimentos e leis para que os contratos sejam efetivados. Dessa forma,
em início às legislações referente aos contratos como o código civil francês
promulgado por napoleão e também surge o direito privado para garantir a
relações entre partes em sua vida privada. Dessa forma, outros Estados
também passaram a promulgar suas leis, garantindo e regulamentando as
obrigações.

● FORMAS JURÍDICAS NO SÉCULO XIX: No século XIX, as normas jurídicas


passam a ter um caráter técnico, devido a toda a carga histórica (tópicos
anteriores).O Direito passa a ser visto como um conjunto de normas
implantadas pelo Estado. Esse movimento ficou conhecido como
JUSPOSITIVISMO.

- A palavra positivismo vem de “posto”, ou seja, a lei imposta pelo


Estado), não dá margem à contestação da ordem, sendo
eminentemente conservadora e, portanto, favorável aos
interesses burgueses.

● JUSPOSITIVISMO: A ideologia (falsa consciência) do positivismo favorece à


classe dominante, pois se o Estado dispõe de uma norma irrefutável,
bloqueia possíveis contestações. Então se por exemplo, o Estado,
influenciado pela burguesia, impõe normas positivistas, a classe abaixo não
consegue contestar, dessa forma, o Juspositivismo favorece a classe
dominante (burguesia).

- As classes burguesas controlam o Estado e estipulam, por meio


das normas estatais, os seus interesses.

- De certa forma, o positivismo causa um engessamento à ação da


justiça.

- Devido à previsibilidade das ações, resoluções e de como os


instrumentos jurídicos se comportam nos conflitos, o direito
moderno acaba reduzido, então, a uma técnica normativa.

- Utilizar exemplos do INSS e a aposentadoria dos agricultores


como crítica ao positivismo nas normas.

● HANS KELSEN E A TEORIA PURA DO DIREITO: Hans Kelsen, em sua


obra “ A Teoria Pura do Direito”, estuda o direito sem interferência
sociológica, histórica ou ideológica. Resta apenas o direito “puro”, as normas
postas pelo Estado.

A RECONFIGURAÇÃO HISTÓRICA DO FENÔMENO JURÍDICO

● DIREITO PARA ARISTÓTELES: A justiça era uma atitude de encontrar a


natureza das coisas, e, descobrindo essa natureza, o jurista deveria agir no
sentido de conformar as pessoas, os bens, os fatos e as situações a tal
natureza, do que resultaria então o justo.

● A enxada tem uma natureza de ser usada para lavrar uma terra, a partir do
momento que alguém a usa para deferir um golpe em outra pessoa, o justo (a
natureza) da enxada é perdida. Dessa forma, o ato é injusto e deve ser
corrigido.

- A norma era importante para alcançar a justeza, mas não apenas


ela. O fenômeno jurídico, de fato, na antiguidade era considerado
muito maior que a sua mera normatividade.

- A sabedoria (direito artesanal) em compreender os fatos era uma


espécie de virtude jurídica do passado. O conhecimento técnico
(direito técnico) normativo é a virtude do jurista moderno.

OBS: A universalidade do fenômeno jurídico moderno não está na cobertura


de todos os temas, mas sim nas formas e nas técnicas que se consideram
universais.

3º capítulo: O fenômeno jurídico contemporâneo

EXPLORAÇÃO E DOMINAÇÃO MODERNAS = TÉCNICA E IDEOLOGIA

DIREITO COMO TÉCNICA: O direito assume caráter técnico partir do momento que
é tomado como normativo, onde o juspositivismo demanda concepções e teorias
sobre o direito se manifestar em normas postas pelo Estado e que tais normas
devem ser seguidas sem influência de terceiros, como a sociologia. Dessa maneira,
o Estado, agindo de acordo com as leis (técnica jurídica), dá estabilidade e
previsibilidade à reprodução capitalista. A técnica é responsável por estruturar o
capitalismo.

DIREITO COMO IDEOLOGIA: A ideologia parte de um pressuposto de “falsa


consciência”. Por exemplo: O artigo 6º da CF diz que todos têm direito à educação.
Essa sentença é relativa a uma dominação técnica e também ideológica. Técnica
porque está concretizada em norma posta e o Estado irá intervir caso a norma não
seja cumprida. Ideológica porque é uma falsa consciência de igualdade. Há muitas
crianças que não têm acesso à educação, mesmo sendo garantida por lei.

- O fenômeno jurídico moderno se põe, então, como uma camuflagem das


injustiças por intermédio de normas postas que não se concretizam e ficam
apenas na esfera ideológica, na ideia de que são justas. Gerando assim, uma
falsa consciência.
- Ninguém trabalha porque quer, mas sim por uma necessidade. Seja ela uma
casa para morar ou filhos para se alimentar. Necessidade essa desenvolvida
pelas estruturas capitalistas. A noção de que você pode escolher trabalhar ou
não é uma ideologia. No capitalismo não existe tal liberdade de escolha, mas
devido a ideologia, ou seja, a falsa consciência mediante aparatos técnicos
acabam gerando a coação do indivíduo a acreditar em uma falsa liberdade de
escolha.

● Por isso a ideologia jurídica, no seu limite, leva à conservação das


injustiças capitalistas.

CIENTIFICIDADE DO DIREITO

DIREITO COMO CIÊNCIA: A ideologia jurídica promove o pensamento do direito


como uma ciência. Dessa forma, ao afirmar que o direito é uma ciência meramente
normativa gera o empobrecimento do fenômeno jurídico e reduz o direito a apenas
uma parcela daquilo que efetivamente ele é.

● Dizer que todo direito é resumido apenas a normas estatais e que a


ciência do direito deve se voltar apenas a elas esconde a historicidade
do Estado.

● Para dar conta de tantas situações extra normativas, uma teoria que
queira apenas definir o direito como um conjunto de normas estatais
talvez não consiga chegar a um resultado universal, que possa explicar,
fora da história e da especificidade das relações sociais concretas, os
fenômenos que costumamos identificar por jurídicos.

● A análise histórica e a contribuição de outros saberes, como a


economia, a política, a sociologia, a filosofia, dentre tantos outros mais,
unificados a partir de uma visão crítica, retiram a explicação jurídica de
sua superficialidade técnica e impedem um discurso alienante sobre
seus fundamentos.

OBS: Saber cientificamente o que é o direito é passar para além da técnica,


buscando seus porquês na nossa sociedade, de onde surge a técnica, como
surge e a que se presta.

4º Capítulo: A teoria geral das técnicas do direito


- Quanto mais uma sociedade é capitalista, mais a noção de justo ou
injusto se afasta. O capitalismo não quer saber se um indivíduo não ter
um prato de comida na mesa é justo e injusto, ele que encontrar quem
é o proprietário da comida e se a pessoa que está com fome tem
direito a essa comida.

● Não importa o resultado de um julgamento, não importa a


qualidade de uma lei, importa que ambos tenham sido realizados
a partir de procedimentos técnicos já estabelecidos pelo Estado.

FORMA JURÍDICA: Surge das relações sociais e se replicam em técnicas


jurídicas.

TÉCNICA JURÍDICA: Estruturas sociais que configuram formas sociais e


jurídicas.

- Na sociedade contemporânea se espelham na forma mercantil, na


relação de trocas equivalentes e na política estatal.

PODER: Se assenta na existência do Estado.

- A forma jurídica só se replica em técnica jurídica quando é perpassada


pela forma política estatal.

FORMA JURÍDICA → RELAÇÕES SOCIAIS → ESTRUTURAS PARA


GARANTIR AS RELAÇÕES SOCIAIS.

CONTROLE: A dominação imposta pelos instrumentos jurídicos pode ser repressiva


ou assertiva. Da mesma forma que pode punir alguém por roubo, seguindo o código
penal, pode garantir propriedades à uma parcela da população segundo o código
civil. O controle social é feito pela negação do direito a alguns e a afirmação do
direito a outros.

CIÊNCIA DO DIREITO E TÉCNICAS JURÍDICAS

● Kelsen chamou erroneamente de Ciência do Direito a Teoria Geral de


Técnicas Jurídicas Modernas.

- A Ciência do Direito não se trata somente da compreensão dos


mecanismos estatais, das normas postas da esfera técnica. A Ciência
do Direito vai além disso. É necessário encontrar a raiz do direito nas
mais variadas relações sociais e históricas e não reduzi-lo a uma mera
visão de ferramentas normativas.

● Pode-se comparar essa correlação entre ciência e técnica, no direito, à


mesma correlação em outros setores do conhecimento.

- Por exemplo, quando um professor conhece bem o assunto que ele
está ministrando em sala de aula, dizemos que ele é um bom
professor, pois conhece a parte teórica a fundo (pode correlacionar
com o termo ‘’técnico”). Então ele tem muito conhecimento técnico.
Mas a sala de aula não exige somente o conhecimento técnico. É
necessário verificar as relações sociais dos alunos, o nível de
aprendizagem, a pedagogia, a psicologia para saber agir em
determinado momentos. Dessa forma, o professor vai muito além de
apenas ser um técnico da sua área, pois ele faz o uso de outras
ferramentas para promover sua didática. Então, para ser um bom
professor, no sentido total da expressão, é necessário que por detrás
da técnica existam outros aparatos que a formam.

OBS: Pensar cientificamente sobre o direito exige que se saiba não apenas
manejar as técnicas, mas entender as razões que estão por detrás dessas
técnicas.

TEORIA GERAL DAS TÉCNICAS

● As ferramentas operacionais do direito, que não podem ser confundidas


com a ciência jurídica, são um conjunto de técnicas que se revela muito
importante à atividade prática dos juristas.

- A Teoria Geral da Técnicas busca a explicação das normas, sua


funcionalidade e como podem ser interpretadas pelos juristas na
sociedade capitalista contemporânea. É uma série de ferramentas
para o manejo no cotidiano pelo jurista.

OBS: Dizer tecnologia jurídica é o mesmo que dizer Teoria Geral das Técnicas
Jurídicas.

O JURISTA É UM TECNÓLOGO DO DIREITO NO QUE DIZ O MANEJO


COTIDIANO DO DIREITO.

A TÉCNICA JURÍDICA CONTEMPORÂNEA E SEUS MÉTODOS


● MÉTODO TRADICIONAL DE COMPREENSÃO EM NÍVEL TÉCNICO DO
DIREITO: Análise analítica. Onde se restringe uma área de estudo, seja ela
das normas ou das instituições.
● TOTALIDADE: Por que nossa sociedade tem tais formas sociais? Por que
temos essas normas? O que demanda as estruturas das sociedade? A
análise da totalidade é entender perante um vasto campo de saberes do que
se trata e como surgem as técnicas jurídicas.

Classificação do estudo da Teoria Geral das Técnicas por Tercio Sampaio


Ferraz Jr:

→ DOGMÁTICA JURÍDICA: Entendimento das normas jurídicas e a aplicação do


direito.
→ ZETÉTICA JURÍDICA: reflexão a respeito das origens, da história, das causas e
das relações sociais do direito, seus objetivos e finalidades.

● É relevante que se conheça o modo de operação da técnica, mas sem se


limitar a ela.

DIDÁTICAS DAS TÉCNICAS JURÍDICAS

ESTÁTICA JURÍDICA: Entender o núcleo comum de todas as normas. De onde ela


surgem. De combinações? De mudanças?

DINÂMICA JURÍDICA: Entender a interação entre as normas. Como elas interagem


entre si? Porque umas anulam outras?

HERMENÊUTICA JURÍDICA: Como a lei é interpretada e compreendida pelos


juristas.

DECISÃO JURÍDICA: Resultado de um processo, sentença dada pelo juiz mediante


o respaldo do vasto ordenamento normativo jurídico.

● O direito, na realidade, se apresenta como fenômeno único, cujo estudo


deve partir de uma reflexão que se valha de todos os instrumentos
teóricos e científicos.

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