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Ordenamentos Jurídicos Suprapositivos

A Idade Média concebeu o Direito como uma função da Justiça. Para ter uma ideia
de como ele foi concebido, é importante entender como se percecionava a última.
A justiça era traduzia-se como uma virtude, sendo definida como o hábito bom
orientado para a ação. A ordem social representava a projeção comunitária da
condição dos seus membros. Se os Homens fossem justos, a sociedade também
seria justa.
Esta ideia da justiça como virtude recebe-se através de imagens opostas, os vícios.
A justiça vinha da habitualidade, quanto mais um se comportasse de forma justa,
mais fortalecida seria a vontade de cada um. Isto é importante pois explica a
observância voluntária do Direito. A fraqueza do Estado nesta altura não obstava a
que as normas não fossem cumpridas, pois estas eram vistas como justas.
A justiça universal era a rainha das virtudes, mas dentro desta podíamos encontrar
aquela que mais interessa ao Direito, a justiça particular. A justiça particular
separa-se da justiça universal, na medida em que a segunda considera sobretudo o
mundo intra-subjetivo, enquanto que a segunda incide no campo das relações inter-
subjetivas, as relações socias entre os Homens.
A idade medieval adotou como definição desta justiça uma concepção elaborada
por Ulpiano em que ' A justiça é a vontade constante e perpétua de dar a cada um o
seu direito'. Aqui há a referência ao fortalecimento da vontade pela habitualidade e
repetição do ato justo. Mas como é que se determina o 'seu' de cada um?
De acordo com a filosofia escolástica haviam a distiguir, dentro da justiça
particular, apenas dois tipos de justiça: a justiça comutativa ou sinalagmática e a
justição distributiva. A primeira dizia respeito às relações entre iguais, enquanto
que a segunda diz respeito à relação entre as comunidades e os seus membros.
O objeto típico da justiça sinalagmática é a troca ou a comutação. Requer-se nela
absoluta igualdade quanto ao que se dá e ao que se recebe, havendo o deveer de
restituir quando assim não ocorra. Por isto, a justiça significa igualdade e tem um
pronunciado matiz quantitativo.
O campo de aplicação da justiça distributiva é o das relações dos cconjuntos
políticos com as pessoas individualmente consideradas. Ela impõem que os
representantes da comunidade repartam os encargos pela capacidade de resistência
de cada um e os bens público e prémios de acordo com a resptiva dignidade de
cada um. A justiça distributiva não exige uma igualdade absoluta, aliás, recusa-a,
pois tratar o desigual como igual constitui uma situação de desigualdade. Requer
contuddo que a relação entre o mérito e a recompensa, a capacidade e os encargo
seja a mesma e igual para todos.
Ao lado das concpeções anteriores, concepções subjetivistas, vamos encontrar nos
juristas da época um ideia de justiça objetiva, forma de retidão plena e objetiva.
Pela própria índole da justiça objetiva, esta distingue-se da subjetiva no tocante à
respetiva constância. Enquanto que a justiça subjetiva admite em si mesma
variações e alterações, a justiça objetiva apresenta-se como inalterada e inalterável,
postulando sempre as mesmas condutas. Sobre a influência da ideia romana do
bom pai de família, a jurisprudência medieval determinou o contéudo da justiça
humana objetiva com recurso à ideia do homem médio. Este, na racionalidade do
seu atuar, constitui o exemplo a seguir e é, portanto, normativo.
Na mente do Homem medieval há a existência de uma pluralidade normativa que
é complexa. De facto, para estes o Direito situa-se não apenas no plano Humano,
mas também, e em última análise, noutra realidade que é Deus e que noss remete
para o conceito de direito divino. Esta terminologia, contudo, deve ser atendida de
uma forma especial, já que na idade média muitas vezes se falou de direito divino e
direito natural, sendo o segundo uma consideração restrita na letra das Escrituras.
Seguindo Ulpiano, o direito natural tem como base o instinto, comum a seres
racionais e irracionais.

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