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INTRODUÇÃO AO DIREITO II

1° ANO DE LICENCIATURA

13.ª Lição
01/02/2021
A determinação do actual princípio normativo do Direito

Na fase pré-positivista, o Direito encontrava o seu sentido decisivo no direito


natural. Com o positivismo absolutizaram-se o voluntarismo na constituição e o
legalismo na objectivação do direito, que conjuntamente modelaram o
racionalismo que o tipificou. Finalmente, da superação do positivismo resultou
a recuperação da autonomia de cada um dos termos do binómio lei/direito e a
ressunção, por parte do direito, de uma dimensão material em detrimento do
formalismo proposto pela axiologia positivista.
Actualmente deparamo-nos com o homem-pessoa, que reciprocamente
reconhece um valor materialmente densificado pela dialéctica da liberdade e da
comunidade que o entretece, e que coerentemente se empenha em constituir
uma ordem de direito em que se reveja como um sujeito ético.
O princípio normativo aparece-nos como uma transpositiva dimensão que dá
sentido ao compromisso humano do direito positivado e que o jurista terá que
assumir se quiser participar adequadamente na tarefa da constituição do corpus
iuris vigente, como institucionalmente lhe compete. Não poderá, decerto,
desligar-se da historicidade que o possibilitou e háde projectar em consonância
com os problemas do tempo em que reflexivoconstitutivamente se arrisca e , por
sua mediação, com as devenientes exigências que materialmente o densificam e
axiologicamente o fundamentam.
O Homem vive entre a sensatez e o delírio, a realidade e a imaginação, a
história e a utopia, a vida e os sonhos, a terra e o mar. O princípio normativo
contrapõe à realidade imediatamente experienciara uma outra realidade
reflexivamente intencionada. O princípio normativo cumpre uma função de
pacemaker do direito vigente, pois fundamenta a sua subsistência, marca a
cadência do seu pulsar, projecta-o em termos adequados e não dispensa uma
rigorosa vigilância crítica sobre o estado de conservação das pilhas que o
sustentam.

O princípio normativo hoje relevante há-de ter a ver com a consciência jurídica
geral do tempo presente. A consciência jurídica geral está estratificada em três
planos:

1) É constituído pela projecção dos padrões culturais dominantes numa


sociedade, incluindo os objectivos político-ideológicos que nela se afirmam, na
esfera do jurídico. O Direito assimila naturalmente as valências que entretecem
o quadro cultural vigente, tendendo a diluir-se nele.

Se o irredutível referente do direito fosse unicamente o mencionado sistema


políticoeconomicamente cunhado, forçoso seria concluir que, no acto histórico
de ruptura, não haveria qualquer direito. É que o direito vai-se precipitando num
conjunto de exigências específicas que hão-de estar presentes e orientar a
acidentada constituição da história de qualquer ordem jurídica para que
justificadamente nos disponhamos a qualificá-la como autenticamente de
direito.

2) É constituído pelo princípio da protecção dos “bens elementares da


personalidade”: - princípio da liberdade: diz-nos que cada um tem direito à
máxima liberdade práticocircunstancialmente compatível com a liberdade de
todos os outros;
- p. da justiça distributiva: determina que se proceda com equanimidade sempre
que se trate de reconhecer normativamente bens, encargos, riscos e
oportunidades;

-p. do mínimo de existência: exige que se garanta a cada pessoa a atribuição dos
bens e serviços necessários para que verdadeiramente possa existir como
pessoa;

- p. da progressiva eliminação das diferenças: determina que se tente melhorar


sempre e tanto quanto possível, através de uma criteriosa repartição da riqueza;

- p. da justiça comutativa: impõe que o respeito pelos pré-existentes equilíbrios


patrimoniais sempre que se proceda a uma troca de bens;

- p. da segurança jurídica: postula a transparência da situação jurídica.


Estes princípios constituem valores fundamentais.

3) É constituído pelo plano da dimensão axiológico-normativa última do direito.


É a autorecíproca compreensão do Homem com ser ético-praticamente
dignificado que os mencionados princípios fundamentais irredutivelmente
traduzem.

A categoria pessoa é diferente da categoria indivíduo. À pessoa reconhece-se,


na intersubjetividade comunitária e mesmo de uma perspectiva bio-eticamente
centrada, uma dignidade de todo independente da pertença a um determinado
sexo, raça. Por isso, a pessoa é sujeito indisponível e não objecto manipulável.
A pessoalidade pressupõe o reconhecimento de uma autonomia ética
comunitariamente integrada e normativo-juridicamente relevante, enquanto que
a individualidade identifica uma pura unidade discreta conformadora.

Cada um de nós só emerge como pessoa se como tal for reconhecido no diálogo
da reciprocamente responsabilizante dignificação ética em que é com os outros.
Enquanto o indivíduo era pensado contra a comunidade, a pessoa tem na
comunidade uma sua dimensão constitutiva.

O nível de ser que atingimos devemo-lo, em grande parte, à comunidade em que


somos, porque depende significativamente do património humano-cultural que
herdámos e que depois vamos reconstituindo dialecticamente. A pessoa real é
constituída pela dialéctica de um eu singular e de um eu social.

Mas a comunidade em que se enreda com cada um de nós – valor esse que se
projecta no princípio da responsabilidade dos sujeitos-pessoas, uns perante os
outros e perante o todo o comunitário, quer através do dever de solidariedade,
quer do dever de corresponsabilidade. A solidariedade mostra não se esgotar a
relação de cada um com os outros numa mera justaposição de egoísmos, e antes
implicar um respeito sincero para com eles. A corresponsabilidade indicia a
projecção, em cada um de nós, dos valores tutelados pela ordem comunitária e
que não devem ser violados nem preteridos sem fundamento bastante. E o
Direito é sempre a transacção possível entre o que usufruímos em autonomia e
em participação e o que devemos em solidariedade e em corresponsabilidade.

MARCELINA ROSALINA CONGO DUMBO


A22004313.

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