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Pensamento Social da Igreja Católica

Os princípios permanentes da doutrina da Igreja Católica são os verdadeiros pilares do


ensinamento social católico. Eles radicam no princípio da dignidade da pessoa humana e
podem ser desenvolvidos em temas referentes a vida em sociedade.

A doutrina social da igreja se desenvolveu no século XIX devido ao encontro do


Evangelho com a sociedade industrial moderna, suas novas estruturas para a produção de
bens de consumo, suas novas formas de trabalho e de propriedade.

No entender da doutrina, a norma fundamental do Estado deve ser a prossecução da


justiça e que a finalidade de uma justa ordem social e garantir a cada um, no respeito ao
princípio da subsidiariedade, a própria parte nos bens comuns.

Os princípios da dignidade da pessoa humana do bem comum, da subsidiariedade e o da


solidariedade a Doutrina Social da Igreja os considera de caráter geral e fundamental,
permanentes e universais. Esta doutrina indica, ainda, valores fundamentais que devem
presidir a vida social. Estes valores são:

Verdade

O homem tende naturalmente para a verdade. É obrigado a honrá-la e testemunhá-la. É


obrigado a aderir à verdade conhecida e a ordenar toda a vida segundo as exigências da
verdade. A vida social exige transparência e honestidade e sem a confiança recíproca a
vida em comunidade torna-se insuportável.

Liberdade

Toda pessoa humana, criada à imagem de Deus, tem o direito natural de ser reconhecida
como ser livre e responsável. Todos devem a uma esta obrigação de respeito. O direito ao
exercício da liberdade é uma exigência inseparável da dignidade da pessoa humana,
sobretudo em matéria moral e religiosa. Este direito deve ser reconhecido civilmente e
protegido nos limites do bem comum e da ordem pública. O exercício da liberdade não
implica o direito de dizer e fazer tudo. É falso pretender que o homem, sujeito da liberdade,
se baste a si mesmo tendo por fim a satisfação de seu próprio interesse no gozo dos bens
terrenos.

A Justiça

Justiça: "Segundo São Tomás de Aquino consiste na "vontade perpétua e constante de dar
a cada um o que lhe é devido". A justiça, contudo, não é uma simples convenção humana,
porque "o que é justo não é originalmente determinado pela lei, mas pela identidade
profunda do ser humano". Aqui reafirma o “direito natural” como sinônimo de respeito à
dignidade da pessoa humana, sob uma ótica cristã de valores, como fundamento do direito
positivo, a justiça manifesta-se na atitude determinada de reconhecer o outro como
pessoa, com direitos e deveres.

A justiça social apresenta-se como reguladora nas nossas relações sociais, com base no
critério da observância da lei. A justiça social diz respeito aos aspectos sociais, políticos,
econômicos e, sobretudo a dimensão estrutural dos problemas e das respectivas soluções.

A justiça mostra-se particularmente contexto actual, em que o valor da pessoa, da sua


dignidade e dos seus direitos, a despeito das proclamações de intentos e seriamente
ameaçado pela generalidade tendência de recorrer exclusivamente aos critérios da
utilidade e do ter. Também a justiça, com base nestes critérios, e considerada de modo,
ao passo que adquire um significado mais pleno e autêntico na antropologia cristã. A
justiça, com efeito, não é uma simples convenção humana profunda do ser humano.

A plena verdade sobre o homem permite superar a visão contratualista da justiça, que é
visão limitada, é abrir também para a justiça horizonte da solidariedade e do amor: A
justiça sozinha não basta; e pode chegar a negar-se a si própria, se não se abrir àquela
força mais profunda que é o amor. Ao valor da justiça a doutrina social da Igreja acosta
o da solidariedade, enquanto via privilegiada da paz.
A Caridade

A Caridade não raro confinada ao âmbito das relações de proximidade, ou limitada aos
aspectos somente subjetivos do agir para o outro, deve ser considerada no seu autêntico
valor de critério supremo e universal de toda ética social. Dentre todos os caminhos,
mesmo os procurados e percorridos para enfrentar as formas sempre novas da actual
questão social, o mais excelente de todos (1Cor 12,31) é a via traçada pela caridade.

Os valores da verdade, da justiça, do amor e da liberdade nascem e se desenvolvem do


manancial interior da caridade: a convivência humana é ordenada, fecunda de bens e
condizente com a dignidade do homem, quando se funda na verdade; realiza-se segundo
a justiça, ou seja no respeito efectivo pelos direitos e no leal cumprimento dos respectivos
deveres; é realizada na liberdade que condiz com a dignidade dos homens, levados pela
sua mesma natureza racional a assumir a responsabilidade pelo próprio agir; é vivificada
pelo amor, que faz sentir como próprias as carências e as exigências alheias e torna
sempre mais intensas a comunhão dos valores espirituais e a solicitude pelas necessidades
materiais. Estes valores constituem pilares dos quais recebe solidez e consistência o
edifício de viver e do agir: são valores que determinam a qualidade de toda acção e
instituição social.

A Caridade pressupõe e transcende a justiça: esta última deve ser completada pela
caridade. Se a justiça é em si mesma, apta para servir de árbitro entre os homens na
recíproca repartição justa dos bens materiais, o amor, pelo contrário é somente o amor
(portanto também o amor benevolente que chamamos misericórdia), é capaz de restituir
o homem a si próprio. Não se podem regular as relações humanas unicamente com a
medida da justiça: A experiência do passado e do nosso tempo demonstra que a justiça,
por si só, não basta e que pode até levar a negação é ao aniquilamento de si própria, se
não se permitir àquela força mais profunda, que é o amor plasmar a vida humana nas suas
várias dimensões.
Bem Comum

O bem comum é a dimensão social e comunitária do bem moral. Ele não consiste a
simples soma dos bens particulares de cada sujeito do corpo social. Sendo de todos e de
cada um, é e permanece comum, porque indivisível e porque somente juntos é possível
alcançá-lo, aumentá-lo e conservá-lo, também em vista do futuro. Assim como agir moral
do indivíduo se realiza fazendo o bem, assim o agir social alcança a plenitude realizando
o bem comum.

Uma sociedade que, em todos níveis quer intencionalmente estar ao serviço do ser
humano é a que se propõe como meta prioritária o bem comum, enquanto bem de todos
os homens e do homem todo.

As exigências do bem comum derivam das condições sociais de cara época e estão
estreitamente conexas com o respeito e com a promoção integral da pessoa e dos seus
direitos fundamentais.

Essas existências referem-se, antes de mais, ao empenho pela paz, a organização dos
poderes do Estado, a uma solida ordem jurídica, a salvaguarda do ambiente, a prestação
dos serviços essenciais às pessoas, alguns dos quais são, ao mesmo tempo diretos do
homem: alimentação, morada, trabalho, educação é acesso à cultura, a saúde, transportes,
livre circulação das informações e tutela da liberdade religiosa.

O bem comum empenha todos os membros da sociedade: ninguém está escusado de


colaborar, de acordo com as próprias possibilidades, na sua busca e no seu
desenvolvimento.

A responsabilidade de perseguir o bem comum compete, não só a pessoas consideradas


individualmente, mas também ao Estado, pois que o bem comum é a razão de ser da
autoridade política. Na verdade, o Estado deve garantir coesão, unidade e organização à
sociedade civil da qual é expressão, de modo que o bem comum possa ser conseguido
com o contributo de todos os cidadãos.
O bem comum da sociedade não é um fim isolado em si mesmo; ele tem valor somente
em referência à obtenção dos fins últimos da pessoa e ao bem comum universal de toda
criação.

Deus é o fim ultimo de suas criaturas é por motivo algum se pode privar o bem comum
da sua dimensão transcendente, que excede, mas também do cumprimento à dimensão
histórica.

Subsidiariedade

Em princípio que preconiza a entreajuda entre pessoas, instituições e sociedades


salvaguardando a autonomia que lhes é devida. A subsidiariedade entendida em sentido
positivo, como ajuda económica, institucional, legislativa oferecida às entidades sociais
menores, corresponde uma série de implicações em negativo, que impõem ao Estado
abster -se de tudo o que, de facto, restringir o espaço vital das células menores e essências
da sociedade. Não se deve suplantar a sua iniciativa, liberdade e responsabilidade.

O princípio de subsidiariedade protege as pessoas dos abusos das instâncias sociais


superiores e solicita estas últimas a ajudar os indivíduos e os corpos intermédios a
desempenharem as próprias funções. Este princípio impõe porque cada pessoa, família e
corpo intermédio tem algo de original para oferecer à comunidade. A experiência revela
que a negação da subsidiariedade, ou a sua limitação em nome de uma pretensa
democratização ou igualdade de todos na sociedade, limita e, às vezes, também anula, o
espírito de liberdade e de iniciativa.
Solidariedade

A solidariedade confere em particular relevo à intrínseca sociabilidade da pessoa humana,


a igualdade de todos em dignidade e direitos, ao caminho comum dos homens e dos povos
para uma unidade cada vez mais convicta.

A solidariedade se apresenta sob dois aspectos complementares: o princípio social e o de


virtude moral.

A solidariedade deve ser tomada antes de mais nada, ao seu valor de princípio social
ordenador das instituições, em base ao qual devem ser superadas as estruturas de pecado,
que dominam as relações entre as pessoas e os povos, devem ser superadas e
transformadas em estruturas de solidariedade, mediante a criação ou a oportuna modifica
de leis, regras do mercado e ordenamentos.

A solidariedade é também uma virtude moral, não um sentimento de compaixão vaga ou


de entendimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas próximas ou distantes.
Pelo contrário, é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum;
ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente
responsáveis.

O termo solidariedade exprime em síntese a exigência de reconhecer, no conjunto dos


laços que unem os homens e os grupos sociais entre si, ao espaço oferecido à liberdade
humana para prover ao crescimento comum, de que todos partilhem.

Boa Governação

Esta caracteriza-se pela capacidade de ter um projecto, orientado a favorecer uma


convivência social mais livre e mais justa, em que vários grupos de cidadãos,
mobilizando-se para elaborar e exprimir as próprias orientações, para fazer frente às suas
necessidades fundamentais, para defender legítimos interesses.
A comunidade política e a sociedade civil, embora reciprocamente ligadas e
interdependentes, não são iguais a hierarquia dia fins. A comunidade política está
essencialmente ao serviço da sociedade civil, em última análise, das pessoas e dos grupos
que a compõem. A sociedade civil, portanto, não pode ser considerada um apêndice ou
uma variável da comunidade política: antes, ela tem a preeminência, porque justiça
radicalmente a existência da comunidade política.

O Estado deve fornecer quadro jurídico adequado ao livre exercício dos sujeitos sociais
e estar pronto a intervir, sempre que for necessário, e respeitando o princípio de
subsidiariedade, para orientar o bem comum a dialética entre as livres associações activas
na vida democrática. A sociedade civil é heterogênea e articulada, não desprovida de
ambiguidades e de contradições: e também lugar de embate entre interesses diversos, com
risco de que o mais forte prevaleça sobre o mais indefeso.

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