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NATAL - RN
Turma: Direito M 2024.1 (primeiro período) e nº de Matrícula: 2024001309
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CAPÍTULO II - SOLIDARIEDADE MECÂNICA OU POR SIMILITUDES
I.
Neste capítulo, assim como no capítulo subsequente, o autor retrata o
funcionamento e as bases das diferentes formas de solidariedade. No caso desse
excerto, há destaque para a solidariedade mecânica, associando-a majoritariamente
ao direito repressivo. Ao estabelecer tal correlação, Émile Durkheim retrata a
execução das penas como produto de uma reação social desencadeada em razão
da quebra de algum aspecto que envolve a solidariedade responsável pela coesão
social.
Para o funcionamento da solidariedade mecânica, é essencial que haja
semelhanças valorativas entre os indivíduos que contribuem para uma organização
mantida majoritariamente pela garantia dos interesses comuns por intermédio das
regras penais, cuja autoridade é reconhecida por causa de sua necessidade, posto
que “enunciavam para cada tipo social as condições sociais da vida coletiva”.
Nesse contexto, é importante ressaltar que os atos vistos como passíveis de
punição nas sociedades com prevalência de solidariedade mecânica não são
apenas aqueles que apresentam perigo real para aquela comunidade, mas são
principalmente aqueles que questionam os princípios comuns, muito levados em
consideração entre os povos primevos.
Ademais, o autor discorre acerca da definição de crime como algo maléfico,
que gere danos para um grupo. Sob a perspectiva de Durkheim, muitos atos
altamente prejudiciais para o conjunto não são severamente ou sequer punidos
como ações tais quais o assassinato, amplamente condenado pela consciência
comum, mas mais maléfico individualmente do que para a comunidade, sob uma
ótica prática. Assim, os atos passíveis de classificação criminosa são aqueles que
aparentam prejudicar determinada comunidade, mesmo que não o façam tanto
quanto outros atos plenamente aceitos.
Ainda nesse trecho, é retratada a restrição do Direito vinculado à
solidariedade por similitudes a uma perspectiva penal, de forma que edita sanções e
não diz respeito a aspectos de obrigação desvinculados das penas. Essa forma de
lei estava associada diretamente ao direito consuetudinário (oral), o qual dependia
da aceitação geral para funcionar, e não tanto da característica coercitiva instituída
após a transição para o direito escrito.
Portanto, Durkheim afirma que, nas sociedades primitivas, o Direito era
inteiramente penal e administrado pelo próprio povo, ao invés de por instituições
consolidadas e divididas. Essa caracterização restringe a definição de crime como
algo que vai contra as noções comuns, conceito estrito que não contempla o real
sentido da palavra.
Em contraponto, o autor explica que os crimes não dizem respeito somente
às crenças e valores morais de uma sociedade, fato demonstrado pela lentidão de
avanço do Direito Penal tanto nas sociedades modernas quanto nas primitivas.
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Dessarte, o Direito das comunidades primitivas, por ser considerado exclusivamente
penal pelo autor, é estacionário.
Dessa maneira, conclui-se que os poderes instituídos nas sociedades de
solidariedade mecânica têm como principal função respeitar e zelar pelos valores da
comunidade administrada, de modo que a execução das penas é uma função social.
II.
As penas são entendidas por Durkheim como fruto de um aspecto passional,
o qual é mais pujante em sociedades tidas como menos cultas. Desse modo, o
sentido das penas é enquadrado em dois vieses majoritários: o de vingança e o de
proteção.
Nos casos da aplicação da Lei de Talião, por exemplo, é notória a prevalência
do teor vingativo, uma vez que é retirado algo que foi tomado previamente e,
portanto, uma compensação. Por outro lado, nas sociedades mais atuais, as penas
não servem tanto para vingar-se, mas sim para que a sociedade possa se defender
de delitos. Ambas as motivações servem o mesmo propósito: a de destruir uma
ameaça comum.
Ainda, a motivação vingativa coexiste com a protetiva, uma vez que os
diferentes ultrajes gerados por diferentes ações delituosas geram penas em graus
diversos, de acordo com a ofensa proporcionada. Entretanto, os graus da pena são
regulamentados em um teor protetivo, de forma que é reduzida a quantidade de
punições que são iguais ao crime cometido (por exemplo, a pena de morte para um
crime de assassinato), levando em consideração fatores além da emoção.
Tal execução do direito para além do teor passional leva em consideração a
atuação da sociedade como substituta dos indivíduos, o que abrange diversos
âmbitos, inclusive o religioso, uma vez que, para o autor, “a religião é coisa
essencialmente social”. Assim, a vingança praticada individualmente seria apenas
uma antecessora das penas aplicadas pela sociedade como um todo.
III.
Nesta parte do capítulo, Durkheim atribui os sentimentos individuais
(positivos e negativos) à consciência coletiva e ao que está ocorrendo na sociedade.
Isso ocorre porque, quando algum valor comum aos indivíduos é infringido de modo
a afetar o âmbito coletivo, o incômodo perpassa pelas consciências individuais.
Sobre isso, o autor destaca que a simpatia geral por algo seja mais forte que
os antagonismos para garantir a coesão, o que justifica-se pelo fato de que, da
mesma maneira que pensamentos contrários são enfraquecidos ao se contraporem,
os valores similares criam força quando entram em um conjunto.
Sob essa ótica, é fundamentado o enfraquecimento do crime enquanto uma
contraposição aos valores vigentes, de modo que o desejo individual pela repressão
da infração é justificado por “algo sagrado” que está acima da consciência pessoal,
cuja participação real na punição é mais ilusória que concreta, uma vez que são os
próprios homens que concretizam as penas.
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Todavia, em razão da participação ativa de consciências individuais, a reação
penal não é tão uniforme quanto pressuposto, o que é concretizado pela
proporcionalidade entre o delito e sua punição com uma “espontaneidade
mecânica”.
Portanto, mesmo possuindo certas assimetrias, a revolta e o sentimento de
vingança gerados pela ocorrência do crime aproxima consciências e gera uma
concentração delas e, por conseguinte, uma resistência coletiva cuja união facilita
as ações coletivas (inclusive penas aplicadas diretamente pelo povo).
IV.
Os indivíduos de um mesmo grupo mantêm-se neste não apenas pelas
similaridades entre si, mas também pela própria existência e funcionamento da
comunidade, a qual oferece uma ideia de pátria e contribui significativamente para a
continuidade dessa sociedade. Desse modo, a existência social não depende
apenas das consonâncias entre as personalidades individuais, mas também de um
tipo coletivo determinante para uma solidariedade que parte das semelhanças.
A partir dessa premissa, percebe-se a inferência de que a verdadeira função
da pena é a manutenção da coesão social, mais relevante que a simples
correspondência comum a certos preceitos cuja representação material é a pena.
I.
Ao dar início à discussão acerca da solidariedade orgânica, o autor retrata o
papel do direito restitutivo para além do penal, este atribuído a sociedades de
solidariedade mecânica. A partir dessa nova visão do estabelecimento da lei, é
analisada a atuação do juiz como enunciador do Direito, e não das penas, de modo
que são instituídas indenizações para além da do caráter punitivo.
Esse caráter restitutivo é estabelecido com o intuito de suprir os gastos com a
justiça a partir do momento em que esta se torna uma instituição formal, com
diferentes ocupações internas. Para além do direito restitutivo voltado para
indenização, há também o aspecto comercial, o qual regulamenta as relações entre
compradores e vendedores.
Além disso, o direito restitutivo vai muito além do repressivo, apesar do fato
de este ser o cerne da consciência comum, em detrimento das regras atreladas
exclusivamente à moral. A diferenciação principal do restitutivo diz respeito à divisão
em órgãos especializados que ligam os indivíduos uns aos outros de maneira
desvinculada da sociedade como um todo, atribuindo regras gerais do Direito a
casos particulares sem atender necessariamente aos interesses de cada indivíduo.
As regras de teor restitutivo não se aplicam a todos os casos e a todas as
pessoas, mas sim a certas relações entre alguns membros da sociedade, de modo
que tal correlação é estabelecida sem intermediário para ligar a consciência
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individual (o interesse particular na ação jurídica) à coletiva (manifesta na execução
da lei).
II.
A solidariedade real pode ser positiva ou negativa. A principal e mais
suscitada forma de solidariedade negativa é entre coisas e pessoas, caracterizada
por um vínculo de direito de uma coisa a uma personalidade jurídica sem
intermediários. Tal solidariedade é negativa por não promover uma reciprocidade de
obrigações mútuas entre as pessoas e não contribuir para a unidade do corpo
social.
Há também relações entre indivíduos que são negativas e são estabelecidas
com fins preventivos ou de reparação, mas não de restituição ou comércio jurídico.
Tais relações, assim como as entre pessoas e coisas, não gera efeitos de coesão
para a sociedade. Pelo contrário: esse tipo de relação, ao contrário da de
solidariedade positiva, não gera cooperação.
Dessa forma, é possível analisar que as obrigações jurídicas que
estabelecem o dever de não prejudicar alguém também são ligadas à solidariedade
negativa, posto que não geram união, apenas não culminam em prejuízo. Portanto,
infere-se que as correlações supracitadas são caracterizadas como de solidariedade
negativa por não possuírem participação ativa no meio social como ferramentas de
coesão, apenas buscam não causar dano ou repará-lo.
Por fim, só pode haver solidariedade positiva onde há a negativa, uma vez
que estas estão ligadas enquanto condição e resultante, havendo a premissa de
concessões mútuas para que os direitos individuais e coletivos sejam amplamente
concretizados, o que gera vínculos de sociabilidade.
III.
Além das formas de solidariedade e direito retratadas, existem outras formas
que são positivas e subdivididas em uma série de categorias. Essa divisão é
amplamente perceptível no Direito, com uma dessas subdivisões construindo o
direito doméstico, dentro do qual também há divisão: uma divisão do trabalho.
A partir da análise da atribuição de diferentes funções domésticas aos
membros de uma família, Durkheim disserta acerca de uma solidariedade particular
e vinculada ao trabalho. Nessa forma de solidariedade, há uma complementaridade
de características e papéis desempenhados para gerar integração, ao contrário da
solidariedade mecânica, cujo funcionamento depende de pontos em comum para
que haja uma unidade (a consciência coletiva).
Dessa maneira, é possível analisar um sistema social ordenado por
obrigações recíprocas e cooperação, a qual vai do âmbito privado ao público. Dessa
maneira, há uma definição de contrato comum enquanto “expressão jurídica da
cooperação” e “símbolo da troca”, de modo que tal troca está diretamente
relacionada a uma divisão do trabalho e ao comércio.
Ademais, trata-se também do direito processual cuja divisão em direito
privado e público não faria tanto sentido para o autor, uma vez que todo direito seria
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público por estar relacionado a relações sociais, apesar de não depender
diretamente das consciências morais, o que diferencia das regras morais.
Em conclusão, o direito é refletido, nas sociedades de prevalência da
solidariedade orgânica, na divisão do trabalho e em uma coesão social regida por
uma complementaridade cujo rompimento gera as aplicações penais, o que
proporciona uma visão do direito penal divergente da oferecida pela perspectiva da
solidariedade mecânica.
IV.
Nesse trecho do capítulo, são evidenciadas as diferenças entre a
solidariedade orgânica e a mecânica a partir do funcionamento e da aplicabilidade
de ambas, trazendo ressalva ao fato de ambas serem produto de solidariedade
positiva.
A principal diferença consiste na forma como o indivíduo relaciona-se com a
sociedade: na solidariedade por similitudes, outros indivíduos agem como
intermediários para que seja possível estabelecer relação significativa com o
conjunto social; já na orgânica, as pessoas são ligadas diretamente à própria
sociedade pela função que desempenham.
Outro ponto de ampla relevância na diferenciação é a forma como os
indivíduos integram sua comunidade. Na solidariedade orgânica, isso ocorre por
intermédio das diferenças que se complementam, o que viabiliza uma maior
pluralidade cultural e ideológica bem como o reforço da individualidade. Por outro
lado, na solidariedade mecânica, a coesão ocorre por causa da uniformidade de
pensamento, com os aspectos penais destinados às diferenciações.
CONCLUSÕES PESSOAIS