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12/06/2023 23:47 Conteúdo Jurídico | A busca da justiça material na aplicação do direito

A busca da justiça material na aplicação do direito

TEMAS DIVERSOS (INTERDICIPLINAR)

POR: VANESSA MACHADO LORDÃO

RESUMO: O presente trabalho tem por escopo demonstrar que podemos, por intermédio de uma ótica

diferenciada acerca do fenômeno jurídico, conseguir operacionalizar a Justiça Material na sociedade

como um todo, em todos os seus estratos. Buscará discutir elementos do sistema jurídico, caminhos,

paradigmas, tudo com o foco voltado para o alcance da referida Justiça Substancial.

PALAVRAS-CHAVE: Justiça Material. Sistema Jurídico.Efetividade.

INTRODUÇÃO

            Hodiernamente, vem sendo cada vez mais preterida a concepção juspositivista do Direito. O
Direito é uma ciência, não um objeto apenas de divagações filosóficas.

                  Visa-se, com o desenvolvimento de tal tema, discutir paradigmas, a partir de uma formação

voltada para o bem comum. Só aplicar a lei de maneira “fria” não é distribuir justiça; é maquiar a

verdadeira essência do Direito, sua razão de ser.

DESENVOLVIMENTO 

Para que se busque a efetiva satisfação da sociedade, no que tange à operacionalização

da Justiça, deve-se atender aos sentimentos que determinado grupo social carrega como sendo a

representação da justiça. Não se pode querer que um conjunto ordenado de pessoas, unido por

objetivos comuns, sinta a verdadeira justiça ocorrer em seio mediante apenas a aplicação de normas

postas verticalmente.

Devemos, então, abandonar a adoção de dogmáticas para a aplicação do Direito com

vistas ao alcance da Justiça Material: não podemos tomar a lei em seu sentido absoluto, pois, conforme

afirmou Triepel (apud Homero Freire, “A justiça e o tempo”, p.200), “ A lei não é sagrada; só o Direito é

sagrado”.

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Entretanto, ainda que a operacionalização da justiça perpasse por esta noção de respeito

aos verdadeiros interesses de determinado corpo social, não podemos atendê-lo sem reservas, pois,

agindo de tal forma, estaríamos dando azo, às vezes, a condutas inconcebíveis à luz de um Estado

Democrático Brasileiro. Exemplo disto seria a movimentação social, freqüentemente comentada na

mídia, tendente ao linchamento de estupradores e homicidas que lhe causam revolta e indignação.

Não podemos tomar como absoluta a “voluntas societatis”, pois correríamos o risco de

legitimar, por intermédio do Direito, condutas inaceitáveis à luz da teleologia do Estado Democrático de

Direito em que nos constituímos.

A solução para agregarmos estes dois pólos é a aplicação do Direito a partir de uma

perspectiva científica, utilizando-nos dos institutos trazidos por ele próprio, como os seus princípios, a

analogia, etc... sob uma matriz de racionalidade. É a proporcionalidade a serviço da verdadeira justiça.

Podemos, ainda, enumerar outros instrumentos no sentido do alcance da Justiça


substancial, como a busca pela efetividade das normas constitucionais; a valorização de iniciativas

como os juizados especiais e a justiça arbitral, a mídia voltada para tal finalidade, o uso da
hermenêutica para tal fim,o acesso à justiça.

Para Aristóteles, a justiça seria classificada em individual e geral. A justiça geral

corresponderia à virtude social (e é esta que será o objeto de análise na presente monografia); ao
passo que a justiça individual ou particular seria a consideração da igualdade. Esta dita justiça

particular se dividiria em: distributiva - equivale a dar a cada um proporcionalmente, de acordo com
seus méritos; comutativa - dar a cada um o que lhe pertence; e corretiva - observada quando houvesse

necessidade de se retificar algum defeito na distribuição original.

Em definição à justiça, Platão a define como sendo a virtude suprema que harmoniza as
demais. Cada indivíduo teria que executar a tarefa que lhe incumbe a fim de que se mantivesse a

ordem social. 

André Franco Montoro (1977, p.176 e segs.), em sua obra “Introdução à Ciência do Direito”
afirma que a justiça não é uma simples técnica da igualdade, da utilidade ou da ordem social. Mais que

tudo isso a justiça é a virtude da convivência humana.

A busca da Justiça social baseia-se num mecanismo de cooperação mútua. Deve-se aliar
os cidadãos de forma que eles pautem suas condutas numa busca pela melhoria social. O conflito entre

os interesses individuais e sociais deve resultar numa valorização destes, em detrimento daqueles.
Entretanto, isto não se consegue gratuitamente.

Deve-se demonstrar ao cidadão que cumprir as normas provoca o resultado pretendido,

qual seja, o bem comum, ressaltando-se que as normas de controle social estabelecidas devem ser o
mais legítimas possível.

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Eis que exsurge a necessidade de se operar o direito partindo-se, da noção de uma

igualdade substancial. Se trabalharmos com a igualdade formal, a qual consiste no tratamento de casos
semelhantes de forma semelhante, ou seja, aos que pertencem à mesma classe o mesmo tratamento

jurídico, não estaremos a operacionalizar a verdadeira justiça. Esta corresponde à justiça material ou
substancial, que parte de peculiaridades individuais, tratando os iguais igualmente, na medida de sua

igualdade e os desiguais desigualmente, na medida de sua desigualdade.

Todavia, aplicar a justiça material, respeitando-se a segurança, significa não se afastar do


sistema jurídico. Ele não é apenas formado apenas por normas, mas também por princípios, costumes,

jurisprudência. Há outras fontes do Direito. Na análise do caso concreto deve-se sopesar qual das
fontes é capaz de atender ao sentimento social de Justiça, partindo-se de uma linha de racionalidade.

Na busca pela justiça, temos o direito como instrumento para atingir tal desiderato. È, ele, o

veículo para o seu alcance. Por muito tempo se vinculou o direito apenas à lei, acreditando-se que, ao
se atender aos seus ditames, estar-se-ia alcançando a justiça. Michel Villey, em sua obra “Filosofia do

Direito. Definições e fins do direito”, escreve algo relativo à exacerbação do culto às normas:

“Na verdade os juristas - refiro-me aos professores de direto; não é menos verdadeiro
em relação aos seus assistentes e, sem dúvida, aos juízes - seguem simplesmente
os passos habituais de seu círculo; como um operário maneja uma máquina e não se
preocupa em saber como ela foi construída. Ensina-se de acordo com as rotinas de
um dos diversos tipos existentes de positivismo jurídico, sem se dar ao trabalho de
verificar quanto eles valem. É o porquê de nossos tratados de “dogmática jurídica”, de
nossos cursos magistrais, de nossos sistemas serem colossos com pés de argila,
belas construções, das quais nada garante que não sejam construídas sobre areia...”

A própria Lei de Introdução às Normas do direito Brasileiro permite que façamos isto por
intermédio de uma interpretação sistemática de seus artigos 4º e 5º. O primeiro estabelece que:

“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.”; o segundo dispõe que :”Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela
se dirige e às exigências do bem comum” . Combinando os dois artigos, temos que se autoriza que na

busca pelo bem comum, o juiz poderá decidir o caso de acordo com a analogia, costumes e princípios
gerais do Direito, desde que a lei não consiga alcançar tal fim.

A partir destas considerações, cabe a nós, tecermos considerações acerca do que venha a
ser o chamado bem comum. Hegel, em sua obra Princípios da Filosofia do Direito, 1997, p. 115 afirma
que “ bem é, em geral, a essência da vontade em sua subjetividade e sua universalidade”. Entretanto,

estas concepções de vontade não devem ser oriundas do acaso. Para Jonn Rawls, em “Uma Teoria da
Justiça, 1971, p.298 e 299,o senso de justiça emanado de um povo deve ser impregnado de
racionalidade. Assim, por exemplo: tomando a noção que  determinada sociedade tem acerca de um
relógio, temos que considerar se ela é racional, ou seja, se não é pesado demais, se fornece com

precisão as horas, etc... 

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A noção do que venha a ser bem comum varia de acordo com o tempo e o grupo social a

ser analisado. Conforme Émile Durkheim, os indivíduos são o produto de forças sociais complexas e
não podem ser entendidos fora do contexto social em que vivem. Cada grupo social tem suas
necessidades peculiares.

O Direito deve se pautar nas necessidades sociais de cada grupo relacionadas ao seu
sentimento de justiça; entretanto, não podemos incorrer no erro da dogmatização. Não se pode tomar

apenas o que determinado grupo social considera como sendo justo sem reservas para que se obtenha
a justiça. Devemos nos utilizar de um equilíbrio balizado num senso de racionalidade.

Isto também se pode perceber a partir de uma análise da nossa história desde a época das
barbáries até a escravidão; desde a busca pela afirmação da raça ariana com Hitler, entre outros
fenômenos que nos fizeram perceber que determinado grupo tinha como justas condutas intoleráveis e

inadmissíveis entre nós. Vale reproduzir um texto extraído do livro Vigiar e Punir de Michel Foucault:

“[Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão publicamente


diante da porta principal da Igreja de Paris[aonde devia ser] levado e acompanhado
numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas libras;
[em seguida], na dita carroça, na praça de Grève, e sobre um patíbulo que aí será
erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão
direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de
enxofre, e às partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo
fervente, piche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu
corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo
consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento.
Finalmente foi esquartejado[relata a Gazette d’Amsterdã] . Essa última operação foi
muito longa, porque os cavalos utilizados não estavam afeitos à tração; de modo que,
em vez de quatro, foi preciso colocar seis; e como se isso não bastasse, foi
necessário, para desmembrar as coxas do infeliz, cortar-lhe os nervos e retalhar-lhe
as juntas...
Afirma-se que, embora ele sempre tivesse sido um grande praguejador, nenhuma
blasfêmia lhe escapou dos lábios; apenas as dores excessivas faziam-0no dar gritos
horríveis, e juitas vezes repetia:”Meu Deus, tende piedade de mim; Jesus, socorrei-
me”. Os espectadores ficaram todos edificados com a solicitude do cura de Saint-
Paul que, a despeito de sua idade avançada, não perdia nenhum momento para
consolar o paciente.

Hitler, ao pugnar pelo extermínio da raça judaica afirmava: 

" O que hoje se apresenta a nós em matéria de cultura humana,de resultados


colhidos no terreno da arte, da ciência e da técnicas, é quase exclusivamente produto
da criação do Ariano (...). Se a humanidade pudesse se dividir em três

categorias:fundadores, depositários e destruidores de Cultura, só o Ariano deveria ser


visto como representante da primeira classe (Hitler, 1983, p.188-89)."

A escravidão, que durante séculos foi legitimada pela detenção da propriedade privada por
parte dos “senhores”, ensejou a existência de situações como estas:

  ''Numerosos os que apresentam, nas coxas ou nas costas, letras, sinais ou carimbo
de propriedade, como hoje o gado; (...) uns manquejando, os quartos arreados em
consequência de surras tremendas; outros com cicatriz de relho pelas costas ou nas

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nádegas; ou então cicatriz de anginho, de tronco, de corrente no pescoço, de ferro


nos pés, de lubambo no tornozelo.''
''Deformações das pernas e da cabeça, algumas das quais devem ser atribuídas ao
hábito das mães escravas trazerem os molequinhos de mama escanchados às
costas durante horas de trabalho.”

”Vários negrinhos, meninos de 10, 12 anos, já aparecem de croa na cabeça (...), feita
à força pelo peso de carretos brutos: tabuleiro, tijolo, areia (...).'

(''Novos Estudos Afro-Brasileiros'', Fundação Joaquim Nabuco, ed. Massangana,


Recife, 1988, vol. 7)

Os corpos supliciados serviam para satisfazer o sentimento social de vingança. As pessoas


assistiam, em praça pública, à ostentação dos suplícios. Isto, para eles, correspondia ao sentimento de
justiça. Embora, momentaneamente, a sociedade da época achasse que agir desta forma era fazer

justiça, isto não era racional e é por isto que não se pode dogmatizar o pensamento popular. Deve partir
de um senso de racionalidade, sem se afastar do sistema jurídico, a fim de que possamos atingir a
verdadeira justiça substancial.

No exemplo extraído do livro de Michel Foucault, por exemplo, agir com razoabilidade seria
punir efetivamente o condenado, a fim de dar uma resposta aos anseios sociais de justiça, mas não

deixar de atender aos ditames do ordenamento jurídico, o qual consagra a proteção aos direitos
humanos.

Ora, o Direito precisa ser concebido como um sistema, originado de fontes várias, além da
lei. Busca-se reafirmar o primado do sistema, em detrimento da lei, a qual, como já abordamos, é
produto da vontade humana e, nem sempre, corresponde a uma busca pelo bem universal.

Não se está a pugnar pelo completo arrepio da lei, pois o homem não está, nem nunca

estará preparado para isto, tendo em vista sua natureza egoística. O que se quer é que se reconsidere
o sistema para que a lei seja o seu ponto central, já que nos constituímos num Estado Democrático de
Direito, sem fundamentalismos, indo, o jurista, “beber em outras fontes”, com vistas a atingir o bem
comum.

O sistema jurídico permite que, fazendo-se um trabalho hermenêutico, atinja-se o bem

comum a partir de uma análise humanitária do Direito. Há métodos interpretativos, legitimados por uma
ciência constituída  ao longo do tempo, que permitem que o direito atinja sua utilidade: alcançar a
justiça, já que ele é oi seu veículo.

Devemos também valorizar iniciativas que aproximem o povo do Poder Judiciário,


utilizando-nos, por exemplo, da mídia e da difusão da educação jurídica. Deve-se primar pela difusão

do conhecimento jurídico. O indivíduo deve conhecer seus direitos, pois isto perpassa pela noção de
cidadania.

Para João Baptista Herkenhoff, em seu livro: para onde vai o direito, p. 86,  a cidadania é
uma dimensão do “ser pessoa”: uma dimensão indispensável ao “ser pessoa”. O psicológico, o
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existencial reclama esse componente político e jurídico, para realizar-se em plenitude. A cidadania
acresce o “ser pessoa”, projeta no político, no comunitário, no social, no jurídico, a condição de “ser
pessoa”.Não vemos como possa florescer a cidadania se não se realizam as condições do humanismo

existencial referido por Juan M. Mosquera(1989, p.33 Apud Wolkmer, 1989, p.33)”

Este mesmo autor afirma que “dentro da realidade brasileira hoje, milhões não têm as
condições mínimas para “ser pessoa”; não são também cidadãos”(p.86). Não podemos conceber que
num País intitulado como democrático e cidadão, como se extrai do art. 1º da Carta Magna, os
indivíduos não tenham noção, sequer mínima, de seus direitos. Como se pode exigir respeito a eles se
não se sabe, ao menos, quais são?

Possuímos uma Constituição republicana belíssima, a qual consagra, em seu art. 5º,
garantias fundamentais do indivíduo. Grande parte dos cidadãos regidos por esta Ordem constitucional

não conhece seus direitos fundamentais, seus direitos básicos.

Torna-se, desta forma, fundamental o papel da mídia. A mídia é capaz de operar


verdadeiras transformações. A própria CF, em seu art. 221, dispõe:

“ A produção e a programação das emissoras de rádio e de televisão atenderão aos


seguintes princípios:
I-preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II-promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que
objetive sua divulgação;
III-regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais
estabelecidos em lei;
IV- respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.”

Podemos também ressaltar que todos os operadores do Direito têm um papel primordial
neste sentido. O advogado, público ou privado, quando fala no processo; o promotor, quando age em

defesa da sociedade; o magistrado, quando não se contenta com a verdade processual e vai em busca
da verdade real dos fatos.

Há de ser observada, também, o uso instrumental do processo pelos juízes.Conforme 


Carlos Eduardo Oliveira Dias,

“O processo civil moderno vive aquilo que parte da doutrina qualifica como
sendo sua terceira fase, na qual se destaca o papel deontológico do sistema
processual, com  identificação clara do que poderia ser chamado de missão
social  do processo. Trata-se  da idéia  que estabelece o citado caráter
instrumental do processo, e que tem, inclusive, motivado uma série de mini-
reformas com vistas à maior efetividade dos meios processuais.[1][15] Essa

efetividade é vista como sendo a verdadeira garantia de acesso à justiça,


porquanto só se consuma a satisfação do cidadão com a medida judicial

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proposta se ela for capaz de restaurar-lhe efetivamente a pretensão tida como


lesionada ou como meio realmente atestador da sua ausência de
responsabilidade.

 É imprescindível que os operadores do direito assumam uma postura distinta


em face do processo, admitindo esse papel substancial que a ciência
processual exige. Trata-se do reconhecimento de que o processo não é um
fim em si mesmo, mas sim um contexto regulamentar instrumental, que tem

por trás de si direitos substanciais dos cidadãos: 

Cabe ao magistrado buscar dentro do direito os meios mais adequados para garantir uma verdadeira
satisfação dos interesses materiais das partes, não fazendo prevalecer nenhuma filigrana processual
em face de direitos substanciais dos interessados.

Com esse vetor, temos que a efetividade do processo – com o atingimento

dos seus verdadeiros fins – depende da consciência judicial de que o

magistrado deve ter uma postura ativa no processo, garantindo a verdadeira

solução do conflito.  Essa consciência somente é possível se fundada em um

compromisso deontológico do magistrado com os preceitos que assumiu

quando de sua investidura. Judiciário, democracia e cidadania

Da mesma forma, cabe lembrar que, desde 1995, a sociedade brasileira foi presenteada

com um dos maiores avanços alcançados pelo Judiciário Brasileiro: os Juizados Especiais. Marcados
por sua celeridade e presteza, os juizados vêm mostrando que excesso de formalismo e exacerbado
volume de recursos não são sinônimos de efetividade na prestação jurisdicional.

Os Juizados Especiais são uma marca de avanço no que tange ao sentimento de justiça da
sociedade brasileira. Revela-se, na própria lei, esta característica quando se lê: “o processo orientar-se-
á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação” no art. 2º da lei 9099/95.

A lei que o instituiu, a Lei 9099/95, consagra em seu art. 5º que: “o juiz dirigirá o processo
com liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para aprecia-las e para dar especial
valor às regras de experiência comum ou técnica.” Vislumbra-se, a partir de sua leitura, que o legislador

valorizou, à luz dos princípios que regem esta lei,  as regras de experiência comum. Esta iniciativa
corresponde a um avanço no que tange à busca pela satisfação da população no que concerne ao seu
sentimento de justiça.

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O acesso à justiça também pode ser fortalecido através de mecanismos alternativos de


resolução de conflitos Estes mecanismos que incluem arbitragem, mediação, conciliação e juízes de
paz podem ser utilizados para minimizar a morosidade e a corrupção no sistema. Aliada à lei que

instituiu os Juizados Especiais, temos que aplaudir a lei que institui os Juízos arbitrais.

Trata-se, da mesma forma, um considerável avanço para o Judiciário Brasileiro.A lei


9307/96 traz uma forma também célere e mais legítima de dirimir conflitos patrimoniais. As partes
escolhem o árbitro, as regras de direito que serão aplicadas, desde que não haja violação aos bons
costumes, bem como poderão convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais
de direito, nos usos e costumes de nas regras internacionais de comércio. A própria lei que institui o
juízo arbitral reconhece que outras fontes de direito podem ser mais legítimas e,de maneira direta,
autorizam as partes a se utilizarem delas.

O TASP(Tribunal de Arbitragem de São Paulo) enumera, em seu site, as vantagens da


arbitragem:

“As vantagens da Arbitragem, aplicada em um Tribunal Arbitral, são numerosas:


. Eficácia (mesmo valor da sentença estatal);
. Agilidade (prazo máximo de seis meses);
. Especialização (conferida pela presença de árbitros-peritos);
. Sigilo (garantido pela Lei 9.307/96);
. Prevalência da autonomia das partes (elas que escolhem os árbitros);
. Menor custo (2 a 6% do valor da causa, conforme o Regulamento Interno do
Tribunal Arbitral de São Paulo).
Além disso, o menor tempo gasto viabiliza economicamente a utilização da
arbitragem.
E MAIS:
- O clima em que é desenvolvida a arbitragem é menos formal e mais flexível do que
a justiça comum;
- Não há o trauma jurídico e o rigor processual presentes na justiça comum.
Normalmente as partes voltam a realizar outras negociações.
- A Arbitragem permite o desafogamento do judiciário. Consequentemente,
proporcionará melhores condições para que o judiciário se dedique aos litígios que
envolvam interesse público ou direitos indisponíveis.
 No Tribunal Arbitral de São Paulo, o tempo médio para resolução de um conflito é de
28 dias, contados a partir da entrada do processo.
Os custos são estipulados em 2 a 6% do valor da causa ou o mínimo de dois
salários”

Da mesma forma,  não se pode olvidar do tema “acesso à justiça”.Tal não significa apenas
ter o direito de submeter determinada pretensão ao exame do Poder Judiciário. A doutrina brasileira,
conforme afirma Ada Pelegrini Grinnover, p.33, resolve tal expressão em “acesso à ordem jurídica

justa”.

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Ada Pelegrini Grinnover afirma que os processualistas modernos vêm destacando


princípios e garantias, os quais, sistematizados de maneira harmônica, conduzem as partes à ordem
jurídica justa. Constituem, assim, em admissão de pessoas e causas, observância do devido processo
legal, contraditório, efetividade de participação em diálogo.

Para a referida autora, para a efetividade do processo, é preciso tomar consciência dos fins
motivadores do sistema e superar os impedimentos que venham a obstaculizar o produto final, qual
seja, a pacificação com justiça. A autora afirma que os óbices se situam em quatro pontos sensíveis:

“a) a admissão ao processo(ingresso em juízo). é preciso eliminar as dificuldades


econômicas que impeçam ou desanimem as pessoas de litigar ou dificultem o
oferecimento de defesa adequada. A oferta constitucional de assistência jurídica
integral e gratuita(art. 5º, inc. LXXIV) há de ser cumprida, seja quanto ao juízo civil
como ao criminal, de modo que ninguém fique privado de ser convenientemente
ouvido pelo juiz por falta de recursos. A justiça não deve ser tão cara que o seu custo
deixe de guardar proporção coim os benefícios pretendidos. É preciso também
eliminar o óbice jurídico representado pelo impedimento de litigar  para a defesa de
interesses supra-individuais(difusos e coletivos); a regra individualista segundo a qual
cada qual só pode litigar para a defesa de seus próprios direitos(CPC, art.6º) está
sendo abalada pela Lei da Ação Civil Pública(lei 7.347, de 24.7.85), que permite ao
Ministério Público e às associações pleitear judicialmenete em prol de interesses
coletivosa ou difusos, assim como v.g., pela garantia constitucional do mandado de
segurança coletivo, que autoriza partidos políticos e entidades associativas a
defender os direitos homogêneos de toda uma categoria, mediante uma só iniciativa
em juízo(art. 5º, inc.LXX; v. também inc. XXI-v. infra, n.158);
b)o modo-de-ser do processo. No desenrolar de todo o processo(civil, penal,
trabalhista) é preciso que a ordem legal de seus atos seja observada(devido processo
legal), que asa partes tenham oportunidade de participar de diálogo com o
juiz(contraditório), que este seja adequadamente participatrivo na busca de
elemenmtos para a sua própria instrução.O juiz não deve ser mero espectador dos
atos processuais das partes, mas um protagoniusta ativo de todo o drama
processual;
c) a justiça das decisões. O juiz deve pautar-se pelo critério de justiça, seja(a) ao
apreciar a prova, (b) ao enquadrar  ao fatos em normas ou categorias jurídicas ou (C)
ao interpretar textos de direito positivo. Não deve exigir uma prova tão precisa e
exaustiva dos fatos, que torne impossível a demonstração destes e impeça o
exercício do direito material pela parte. Entre duas interpretações aceitáveis, deve
pender por aquela qua conduza a um resulatdo mais justo, ainda que aparentemente
a vontade do legislador seja em sentido contrário(a mens legis nem sempre
corresponbde à mens legistatoris); deve pensasr duas vezes antes de fazer uma
injustiça. E só mesmo diante de um texto absolutamente sem possibiolidade de
interpretação em prol da justiça é que deve conformar-se;
d)a utilidade das decisões. Todo processo deve dar a quem tem um direito tudo
aquilo que lê tem o direito de obter. Essa máxima de nobre linhagem doutrinária
constitui verdadeiro slogan dos modernos movimentos em prol da efetividade do
processo e deve servir de alerta contra a tomadas de posição que tornem acanhadas
ou mesmo inúteis medidas judiciais deixandio respiduos de inhjustiça.
        O uso adequado de medidas cautelares (v.infra, n.203) constitui poderoso
instrumental capaz de assegurar os bons resultados das decisões e  medidas
definitivas que virão. A prisão do devedor de alimentos, a do depositário infiel,a
aplicação de multas diárias para o descumprimento de obrigações de fazer ou não-
fazer(Const., art. 5º, inc. LXVII) devem concorrer para que o processo cumpra com
rapidez e integralmente suAS FUNÇÕES. O NOVO ART. 461 DO Código de
Processo Civil investe o juiz, já no processo de conhecimento,. De amplos poderes
destinados a pressionar o obrigado a cumprir obrigações de fazer ou não-fazer
reconhecidas em sentença, sem necessidade de instaurar o processo executivo
seguindo os ,modelos tradicionais.”p.34-35

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Em estudo produzido pelo Banco Mundial, publicou-se:


“A ampliação do acesso à justiça também depende das custas processuais, bem
como dos honorários do advogado que são cobrados da parte. Os programas de
reforma do judiciário devem rever as custas processuais determinado se são
suficientemente altas ao ponto de deter demandas frívolas e condutas anti-éticas, e
se proporcionam o acesso aos que não tem condições econômicas e financeiras de
demandar em Juízo. Neste sentido, também devem ser revistos os honorários
advocatícios arbitrados pelo juiz. O acesso à justiça depende o adequado
funcionamento do sistema jurídico como um todo, mas alguns fatores específicos
incluem os obstáculos psicológicos, acesso a informação e barreiras físicas, para que
os indivíduos possam ter acesso aos serviços jurídicos, abrangendo, os gastos com
as demandas e as instalações, bem como as diferenças de linguagem que podem ser
encontradas entre populações indígenas, por exemplo. Os programas de assistência
jurídica e defensorias públicas e formas alternativas de resolução de conflitos
também podem auxiliar na promoção do acesso à justiça. Os programas de
defensoria pública e assessoria jurídica devem ser disponibilizados para prover
assistência legal e orientação para aqueles que não tem condições de arcar com
estes custos para propor uma ação ou se defender em juízo”

Como podemos perceber, o acesso à justiça se consubstancia numa série de fatores, os


quais devem levar em consideração as condições econômicas do sujeito, psicológicas, sociais, a

estrutura do Poder Judiciário, com estrutura suficiente para atender a demanda cada vez mais
crescente.

Diante dos horrores e misérias do mundo, já que não estamos mais na época das
barbáries, onde se resolviam os problemas por intermédio da força, a população tem, como último
recurso, o Judiciário.

CONCLUSÃO: 

Atualmente, vem sendo cada vez mais preterida a concepção positivista do Direito. Passou
a ser impregnada na consciência dos operadores do Direito a ideia de que o corpo legislativo deriva de
homens, imperfeitos, humanos, em sua acepção mais real da palavra.

Diante de todo o exposto, podemos perceber que todos estes caminhos apontados devem
ser valorizados, de forma que os princípios orientativos de sua formação conduzam o profissional do
direito para a trilha conducente à justiça.  O bem comum deve ser atingido e este deve ser o norte a ser

perseguido pelo operador do direito.Agir assim, é cumprir seu mister institucional e social.

REFERÊNCIAS:

HERKENHOFF, João Baptista. Como aplicar o Direito. 4.ed. Rio de Janeiro:Forense., 1997.

MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 25.ed.São Paulo:RT, 1999.

SOUTO, Cláudio. Tempo do Direito Alternativo.Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997.

SIMÕES, Carlos: Acadêmica. O direito e a esquerda: críticas dos conceitos fundamentais.São


Paulo: Acadêmica, 1994.
HERKENHOFF, João Baptista. Para onde vai o direito?:Reflexões sobre o direito e o papel do
direito e do jurista. 2.ed. rev. e atual.:Livraria do Advogado, 1997.

CAPELLETI, Mauro. Juízes legisladores?Porto alegre: S.A.Fabris , 1993.


https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/39092/a-busca-da-justica-material-na-aplicacao-do-direito 10/11
12/06/2023 23:47 Conteúdo Jurídico | A busca da justiça material na aplicação do direito

POUND, Roscoe. Justiça conforme a lei: IBRASA. São Paulo, 1965

RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça:Universidade de Brasília. 1981.

Vanessa Machado Lordão, o autor

PÓS-GRADUADA EM DIREITO PÚBLICO E DIREITO PROCESSUAL CIVIL.

Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),


este texto cientifico publicado em periódico

eletrônico deve ser citado da seguinte forma:


VANESSA MACHADO LORDãO, .
A busca da justiça material na aplicação do
direito
Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 01 maio 2014, 05:45. Disponivel em:

https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/39092/a-busca-da-justica-material-na-aplicacao-do-direito.
Acesso em: 12 jun
2023.

https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/39092/a-busca-da-justica-material-na-aplicacao-do-direito 11/11

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