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- Divisão do trabalho social (Relação Marx, Durkheim e Weber):

Durkheim propôs o estudo da sociedade a partir do paradigma da integração social, tendo como foco de
análise um fato social, falarei aqui da divisão do trabalho. Por meio da integração social, surge uma tendência dos
indivíduos coordenarem suas ações com as de outros indivíduos, em baixo grau de conflito. A partir disso, constrói
sua obra em torno da divisão do trabalho que discorre sobre uma coerção social por meio de organizações voltadas
ao trabalho, com a finalidade de constituir uma solidariedade, uma moral coletiva necessária na medida em que o
Estado perde o controle e o indivíduo se torna anômico. De maneira geral, o autor busca identificar de que forma as
relações de trabalho interferem na vida dos indivíduos e na sociedade de sua época.
Diante disso, a divisão do trabalho, para o autor, será uma das bases fundamentais da ordem social, não
sendo algo específico do mundo econômico, mas algo que permeia diversas funções, desde funções políticas até
artísticas. No entanto, o declínio da consciência coletiva, e o desenvolvimento de um egoísmo desenfreado, traz a
tona o problema da anomia (ausência de normas integradoras, capazes de dar sentido aos comportamentos
individuais e imprimir-lhes o senso do dever). A divisão do trabalho por aumentar ao mesmo tempo a força
produtiva e a habilidade do trabalhador, ela é condição necessária do desenvolvimento material e intelectual da
sociedade, é a fonte de civilização.
A divisão do trabalho tem a função de criar entre duas ou várias pessoas um sentimento de solidariedade.
Isto porque o efeito da divisão do trabalho não é aumentar o rendimento das funções, mas torna-las solidárias.
Sendo assim, é a repartição contínua dos diferentes trabalhos humanos que produz uma solidariedade social, que se
torna a causa da extensão e complicação do organismo social.
Com isso, Durkheim a partir do direito, estuda as diferentes formas de solidariedade construídas em
diferentes tipos de sociedade, nas sociedades que chama de primitivas ou arcaicas e nas sociedades ditas complexas
ou modernas. Isto porque o autor parte de uma visão histórica evolucionista para comparar as sociedades, neste
sentido, partindo das sociedades que Durkheim entende como primitivas para as sociedades modernas.
No que tange ao direito, o autor entende que todas as variedades essenciais da solidariedade social estão
refletidas nele. Dessa forma, o direito enquanto regra de conduta sancionada, é dividido de acordo com sanções
jurídicas, sendo estas repressivas organizadas ou sanções restitutivas. A partir dessas sanções, o autor busca verificar
qual solidariedade social corresponde a cada uma das sanções.
Antes de explicar as solidariedades que corresponde a cada sanção, convém explicar o que o autor chama de
consciência coletiva, que seria um conjunto de valores, sentimentos, crenças e tradições de uma sociedade,
preservado, respeitado e legitimado no decorrer de várias gerações. Sendo assim, a principal característica que
constitui um crime é que são atos universalmente reprovados pelos membros de cada sociedade. Diante disso, um
ato criminoso é aquele cuja reprovação é definida pela consciência coletiva, ou seja, não reprovamos porque é um
crime, mas é um crime porque reprovamos.
Nas sociedades primitivas, a sanção repressiva consiste numa pena de caráter passional, sendo por essência
uma vingança. A vingança, para o autor, seria uma reação mecânica e sem objetivo, num movimento passional e
ininteligente, numa necessidade irracional de destruir, mas, de fato, o que tende a destruir é uma ameaça. Sendo
assim, se constitui num ato de defesa, conquanto instintivo e irrefletido. Vale ressaltar que a pena enquanto
vingança é um julgamento à imoralidade, ou seja, vinga o ultraje moral.
É importante lembrar que o direito criminal, nas sociedades primitivas, é o direito religioso servindo os
interesses sociais. Com isso, os crimes mais numerosos nestas sociedades são aqueles que lesam a coisa pública –
delitos contra religião, costumes, autoridades... Todas as características da pena, derivam da natureza do crime – ato
contrário aos estados fortes e consciência comum. Isso acontece porque as regras sociais que ela sanciona exprimem
as similitudes sociais mais essenciais. Sendo assim, o direito penal simboliza a solidariedade mecânica.
Sendo assim, a solidariedade mecânica é predominante em sociedades simples/primitivas, sociedades
economicamente simples, pré-industriais, com valores religiosos fortes, onde as funções sociais dos indivíduos são
semelhantes, onde há pouca divisão social do trabalho, predomínio dos mecanismos de coerção imediato, violento e
punitivo, predomínio do direito repressivo/penal. A consciência coletiva se sobrepõe a consciência individual e dela
se dá a coesão social. Predomínio da passionalidade/ pouca racionalidade.
Já a natureza das sanções restitutiva mostra que esse direito corresponde a um tipo de solidariedade
diferente da solidariedade mecânica, a sanção resitutiva é uma simples restauração, sem caráter penal,
correspondendo a solidariedade orgânica. As sanções restitutivas não fazem parte da consciência coletiva, ou são
apenas estados fracos dela, enquanto o direito repressivo é o centro da consciência comum. Entretanto, mesmo fora
da consciência coletiva, as regras de sanção restitutiva não dizem respeito apenas aos indivíduos; a sociedade está
inserida nessa esfera da vida jurídica. Diferente do direito restitutivo, outras formas do direito [doméstico,
contratual, comercial, processual, administrativo e constitucional] compreendem relações cooperativas que derivam
da divisão do trabalho. As relações que o direito cooperativo com sanções restitutivas regula e a solidariedade [real]
que elas exprimem resultam da divisão do trabalho social.
Na solidariedade mecânica o vínculo que une o indivíduo à pessoa é o mesmo que liga a coisa à pessoa, com
a consciência individual como dependência do tipo coletivo. Já na solidariedade orgânica supõe a diferenciação dos
indivíduos, que eles possuam uma personalidade [esfera de ação própria]; necessário que a consciência coletiva
deixe descoberta uma parte da consciência individual, para que nela se estabeleçam essas funções especiais que ela
não pode regulamentar.
Diante disso, a solidariedade orgânica corresponde as solidariedades presentes em sociedades
complexas/mais desenvolvidas, sociedades economicamente mais complexas, capitalistas, com valores religiosos
mais fracos, com uma expressiva divisão do trabalho, predomínio do direito cooperativo/restitutivo. A consciência
individual exercendo funções que a consciência coletiva não dá conta. Predomínio da racionalidade ao invés da
passionalidade.
Com o nascimento e estabelecimento do capitalismo, tendo como base a racionalidade como única forma
aceita de explicar o mundo, há um abrupto rompimento com os valores ligados à forte tradição religiosa ainda
oriunda do período medieval. Esse rompimento com referências normativas que predominam durante os séculos
cria espaços anômicos, pelos quais a solidariedade se enfraquece e, em consequência, provocam um desequilíbrio
entre as necessidades dos indivíduos e os meios para sua satisfação.
Para Durkheim, o resultado da anomia social é a quebra de vínculos sociais, o que gera uma vida desregrada,
sem referências e um forte sentimento de vazio que leva a destruição. Os sinais desses efeitos incluem: as
necessidades que passam a ser ilimitadas, potencializadas pelas crises de ordem econômica oriundas de uma vida
social moderna capitalista, a ultrapassagem infinita dos meios que se tornam um fim em si mesmos; dentre outras.
Esses efeitos em vez de serem superados acabam por serem estimados.
Portanto, o trabalho, na concepção de Durkheim, é um fato social presente em todos os tipos de sociedade.
Há sociedades com menor ou maior divisão do trabalho, mas em todas elas são encontradas funções diferenciadas
entre os indivíduos, o que os divide em grupos funcionais distintos com condutas sociais também distintas. Para ele,
quanto mais especializado é o trabalho, mais laços de dependência se formam. Assim, quanto mais desenvolvida for
a divisão do trabalho, maior será a teia de relações de dependência entre os indivíduos (um padeiro depende de um
agricultor, que depende de um ferreiro, e assim por diante). Isso levará, por consequência, a uma maior coesão
social. Nas sociedades capitalistas, o trabalho é pensado como uma atividade funcional que deve ser exercida por
um grupo específico: os trabalhadores. Durkheim entende a divisão social entre trabalhadores e empregadores
como uma divisão funcional. Divisão entre aqueles que devem cumprir uma atividade de organização da produção e
mando (os empregadores) e os que devem desenvolver uma atividade produtiva (os trabalhadores). Essa divisão,
como extensão da divisão do trabalho, promove a coesão social e, por isso, deve ser preservada socialmente. No
entanto, nessa divisão há problemas que Durkheim vê como doenças sociais que devem ser corrigidas para que o
todo social se desenvolva adequadamente. Se há excessos por parte de capitalistas ou de trabalhadores, deve-se
regulamentar suas atividades a fim de alcançar o equilíbrio e garantir a integração social das partes envolvidas. 
Weber destaca que a ciência contribui com a vida do indivíduo ao oferecer-lhes meios de domínio prático da
realidade, capacidade de avaliar meios e fins e, acima de tudo, meios para se pensar de forma lógica, sistemática e
clara. Com base nesses princípios, o teórico interpreta as bases que fundamentam a sociedade moderna ocidental e
propõe a ciência fazer parte de um processo histórico de racionalização e intelectualização da vida.
Weber e Durkheim se diferenciam nos seguintes aspectos: Max Weber parte de uma perspectiva diferente,
sendo importante perceber que a divisão social do trabalho não é o seu foco principal . Para Weber a pesquisa
histórica é essencial para a compreensão das sociedades, pois permite o entendimento das diferenças sociais,
respeitando o que há de específico em cada formação social. Para tanto, a compreensão é o que possibilita ao
cientista atribuir aos fatos aparentemente desconexos um sentido social e histórico. Dessa forma, em Weber, a
sociedade é resultado das interações entre os indivíduos e, por isso, formula conceitos que irão definir sua
metodologia; tais quais compreensão, ação social, tipo ideal, relação social etc.
A compreensão é o fundamento analítico da teoria de Weber. Para interpretar o mundo social, importa
compreender a ação do ser humano, não simplesmente pelas causas e pressões exteriores, mas do ponto de vista do
sentido e dos valores dessas ações. Assim, todo indivíduo, ao agir, é guiado por motivações baseadas em valores,
oriundos de processos de socialização e são pertinentes à cultura, tradições, costumes etc. O cientista deve estudar
esses possíveis valores da ação humana presentes na realidade social, que é o que interessa na análise. Para Weber,
existe uma parcialidade na análise sociológica, não há neutralidade científica, não sendo possível se abster das
prenoções, como acreditava Durkheim.
Toda interpretação busca alcançar uma evidência. A evidência da compreensão pode ser de caráter racional
e, então, lógica ou matemática ou de caráter empaticamente revivenciadora, ou seja, emocional/artisticamente
receptiva. Racionalmente evidente, no domínio da ação, é sobretudo aquilo que é compreendido intelectualmente
de modo completo e transparente em seu tencionado complexo de sentidos. Empaticamente evidente na ação é
aquilo que é plenamente revivenciado em seu complexo de sensações vividas. Toda interpretação de uma ação
referente a fins de tal modo racionalmente orientada possui – para a compreensão dos meios empregados – o grau
máximo de evidência. Há vários “fins” e “valores” últimos pelos quais pode estar orientada empiricamente a ação de
uma pessoa que nós muitas vezes não somos capazes de compreender com plena evidência, mas sob certas
circunstâncias até conseguimos apreender intelectualmente.
Weber entende a sociedade como processo de interação social, pode ocorrer por duas formas de agir: em
comunidade, quando o agir se baseia nas expectativas que se tem em relação aos outros; e em sociedade quando o
agir se baseia nos regulamentos sociais estabelecidos. Nesse sentido, o teórico entende que não existe oposição
entre indivíduo e sociedade, pois as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo
sob a forma de motivação que gera uma ação social.
Por ação, entende-se como um comportamento humano (não importando se se trata de um fazer exterior
ou interior, de um deixar de fazer ou de um tolerar), quando e na medida em que aquele ou aqueles vinculem um
sentido subjetivo. Ação social, porém, quer dizer uma ação para a qual o sentido tencionado por aquele ou aqueles
que agem está relacionado ao comportamento de outros e tem seu percurso orientado por aquele comportamento.
A ação social não é uma ação qualquer, é uma ação com sentido. É a conduta humana subjetivamente elaborada,
pois é o indivíduo que dá sentido à sua ação social. Este estabelece a ligação entre o motivo da ação, a ação em si e
os efeitos da ação.
Outro conceito importante de Weber é o de relação social. Para Weber, uma relação social ocorre apenas
quando há possibilidade de que uma determinada conduta social tenha, em algum momento, seu sentido partilhado
pelos sujeitos envolvidos, como por exemplo, a amizade, as trocas comerciais, a concorrência econômica, as relações
afetivas, as relações políticas. O que caracteriza a relação social é que o sentido das ações sociais a ela associadas
pode ser compreendido pelos diversos agentes de uma sociedade. As condutas de uns orientam-se por esse sentido,
embora não tenham que ter reciprocidade no que diz respeito ao conteúdo.
Tendo em vista a complexidade da realidade social, Weber lançou um modelo de análise da sociedade a
partir de tipos ideais. Na construção de um tipo ideal, o autor seleciona aspectos da ação humana que considera
culturalmente relevante para o estudo e os utiliza como base de análise. Esses aspectos são escolhidos conforme
valores próprios. Entre os tipos ideais elaborados por Weber estão: o capitalismo ocidental, que se distingue por sua
racionalidade presente nas ações sociais mais simples; a burocracia, típica dos estados modernos; a dominação,
como fenômeno berço do poder e a ação social.
A ação social em seus tipos ideais foi classificada: as ações sociais podem ser do tipo tradicional,
determinada por costumes e tradições, podem ser do tipo afetiva, determinadas pelos sentimentos vivenciados pelo
indivíduo. As ações sociais racionais podem ser relacionadas a valores, motivadas por crenças conscientes em
valores universais, como trabalho voluntário, atitudes de socorro ou salvamento, por exemplo. Podem ser com
relação a fins, quando são determinadas por expectativas ou condições para se alcançar um objetivo específicos.
Um outro ponto central na teoria weberiana é o conceito de dominação. A dominação para weber interfere
em todas as relações sociais, e é o fenômeno que mantém a ordem legítima e a coesão social. Para ele, a coesão
social, diferente do que afirmava Durkheim, não ocorre pela consciência coletiva ou pela divisão do trabalho, mas
pela força legítima instituída pelo Estado. O Estado detém a capacidade de dominar a sociedade porque o exercício
de sua dominação é reconhecido pelos indivíduos.
Se Durkheim traça uma análise comparativa a partir de um fato social para explicar o processo de integração
social e Weber traça uma análise da sociedade pela sociologia compreensiva, Marx vai analisar, levando em
consideração o materialismo histórico e a dialética, a partir do conflito social. Para Karl Marx, a perspectiva sobre o
trabalho é histórica, como em Weber. Entretanto, Marx destaca a diferença entre o trabalho em geral e o trabalho
particularizado em suas formas históricas. A partir da análise acerca da mercadoria, Marx explica o valor tanto das
mercadorias quanto do trabalho, bem como o papel daqueles que detém os meios de produção e daqueles que
produzem.
Para o autor, a mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa que, por meio de suas
propriedades satisfaz necessidades humanas. Sendo a mercadoria uma coisa útil, como ferro e papel, por exemplo,
deve ser considerada a partir de um duplo pontos de vista: o da qualidade e o da quantidade. Cada uma dessas
coisas é um conjunto de muitas propriedades e pode, por isso, ser útil sob diversos aspectos. Descobrir esses
diversos aspectos e, portanto, as múltiplas formas de uso das coisas é um ato histórico.
Tendo em vista que toda mercadoria é útil, significa que essa mercadoria tem um valor de uso. O valor de
uso de uma mercadoria depende de suas qualidades físicas. O vidro que usamos em nossas janelas tem o valor-de-
uso dado pela sua transparência, pela sua capacidade de permitir que a luz passe através dele, associada à certa
rigidez que permite abrigar-nos, por exemplo, do vento, da chuva ou de ruídos. Esta é a sua utilidade, este é o seu
valor de uso.
Além do valor de uso, a mercadoria tem um valor de troca, ou seja, a capacidade de ser trocada por outra
mercadoria. Interessa-nos saber, agora, como é que se estabelece o valor-de-troca de uma mercadoria. Quando
trocamos mercadorias, estabelecemos entre elas uma proporção. Eu digo que certa quantidade da minha
mercadoria vale uma certa quantidade da sua mercadoria. Se você concordar, nós estabelecemos a troca. Mas, é
claro, nós nunca trocaremos mercadorias iguais; trocaremos sempre mercadorias diferentes.
Tratando-se de coisas diferentes, precisamos encontrar algo que seja comum a elas para que possamos
estabelecer a proporção. Entretanto, encontrar um outro objeto que seja equivalente é uma tarefa quase
impossível, mas se tentarmos encontrar alguma mercadoria que não tenha sido produzida pelo homem. Nesse
sentido, o valor de troca de uma mercadoria é estabelecido pelo tempo de trabalho socialmente necessário para
produzi-la. É apenas a quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de um valor de uso
que determina a grandeza de seu valor.
Para Marx, existem duas formas de trabalho, o trabalho concreto e o trabalho abstrato. Chamamos de
trabalho concreto o trabalho específico que resulta em um bem qualquer. O trabalho do marceneiro tem uma série
de características que o diferenciam do trabalho do alfaiate e de todos outros trabalhos. Cada uma destas atividades
laborativas tem características próprias que determinam sua condição de trabalho concreto.
No entanto, ao realizar suas tarefas, cada um destes trabalhadores consome uma quantidade de energia
humana que é da mesma qualidade independentemente da atividade realizada. Cada um deles realiza um esforço
físico e mental que independe de sua atividade concreta. Este esforço, esta quantidade de energia humana em geral
chamamos de trabalho abstrato. É o tempo de trabalho abstrato que determina o valor de troca de uma mercadoria.
Podemos dizer que o trabalho concreto cria valores-de-uso e o trabalho abstrato cria valores-de-troca.
Além disso, uma certa quantidade de uma mercadoria pode ser trocada por certa quantidade de qualquer
outra mercadoria. Toda mercadoria é boa se pode ser trocada por outra. O valor de uma mercadoria é sempre
expresso em outra mercadoria. No processo social das trocas, entretanto, o equivalente geral vai lentamente sendo
estabelecido pela atividade mercantil dos homens sem que eles tenham perfeita compreensão disso. Uma
mercadoria qualquer, por suas qualidades, pela sua disponibilidade, pelo interesse que desperta nos homens de uma
comunidade passa a ser aceita por todos homens envolvidos nas atividades de troca, estabelecendo-se como
equivalente geral.
Com o desenvolvimento das trocas, este equivalente geral que antes podia ser o sal, conchas ou gado, agora
aparece sob a forma de uma mercadoria específica cada vez mais usada, o ouro ou a prata e mais tarde pela figura
do dinheiro. O dinheiro, portanto, é apenas uma mercadoria como outra qualquer que tem a função de equivalente
geral da sociedade. Se é assim, não é o dinheiro que estabelece o valor de uma mercadoria. Este valor já está
estabelecido pela proporção entre os tempos de trabalho socialmente necessários para a produção das diversas
mercadorias. O dinheiro apenas atua como meio para facilitar as trocas.
Voltando a questão do trabalho, para Marx, é no trabalho que ocorre o que o autor denomina alienação e o
que o autor chama de fetichismo da mercadoria. Para o autor, o fato econômico é o estranhamento entre o
trabalhador e sua produção, tendo como resultado um trabalho alienado, isto é, estranho a ele, e que pertence a
outro homem, que o subjuga. Esse processo é o que caracteriza a relação social de ordem capitalista.
De acordo com Marx, há três aspectos da alienação: o primeiro é o fato do trabalhador se relacionar com o
produto do seu trabalho como algo estranho a ele, da mesma forma se relacionar com o mundo natural externo,
estando o trabalhador alienado em relação às coisas; o segundo é o fato da atividade do trabalhador não estar sob o
seu domínio, assim como sua energia física e espiritual, percebidas como algo que não lhe pertence, dessa forma o
trabalhador se torna alienado em relação a si mesmo; o terceiro é o fato da vida produtiva do ser humano tornar-se
apenas um meio de vida para o trabalhador, dessa forma, o trabalho, que por essência é uma atividade consciente e
vital que distingue o homem dos demais animais, deixa de ser livre e passa a ser exclusivamente para subsistência.
Dessa forma, o proletariado se encontra alienado na sociedade em função da própria forma social com que o mundo
do trabalho se organiza, ou seja, pela própria divisão social do trabalho.
Diante disso, o trabalho produtivo torna-se uma obrigação para o proletariado, pois não sendo possuidor dos
meios de produção, é compelido a dispor de sua atividade vital, ou seja, o trabalhador e suas propriedades
exclusivamente humanas passam a existir somente para o capital. Se sua energia não é revertida em trabalho, não
há salário e, sem salário, não há existência. Sendo assim, o salário torna-se um instrumento para manter o
trabalhador na sua posição de instrumento produtivo.
Tendo em vista as questões em torno do trabalho, Marx formula o conceito de mais-valia, que seria a
diferença entre o valor pago ao trabalhador (incorporado às mercadorias produzidas) e o valor do trabalho
produzido. É uma forma disfarçada de transferência de um excedente financeiro lucrativo para aquele que possui o
meio de produção. A mais-valia é a base para o lucro, os juros das aplicações financeiras e para todas as formas de
rendimentos vinculados à propriedade. É o fundamento da divisão das classes sociais nas sociedades capitalistas.
Marx faz distinção entre dois tipos de produção da mais-valia no sistema capitalista, a mais-valia relativa e
mais-valia absoluta. A produção da mais-valia absoluta ocorre com o prolongamento da jornada de trabalho além do
ponto em que o trabalhador produz apenas um equivalente ao valor de sua força de trabalho, a produção desse
excedente é apropriada pelo capitalista. A produção de mais-valia absoluta gira em torno da duração da jornada de
trabalho.
Com a resistência dos trabalhadores com relação a jornada de trabalho e a deterioração das condições
físicas, surge a mais-valia relativa. Na mais-valia relativa, os métodos de produção são incrementados com inovações
tecnológicas, fazendo com que aumente a produtividade, sem aumentar a jornada de trabalho e,
consequentemente, sem aumentar o valor pago ao trabalhador. A produção de mais-valia relativa revoluciona
totalmente os processos técnicos de trabalho, as relações de produção e a forma de conseguir o excedente
produtivo.
Portanto, é a apropriação do excedente da produção que intensifica a divisão do trabalho, assim como a
apropriação das condições de produção por parte de alguns membros da sociedade os quais passam, então, a
estabelecer algum tipo de direito sobre o produto ou sobre os próprios trabalhadores. Vê-se, então, que a existência
das classes sociais se vincula a circunstâncias históricas específicas, quais sejam, aquelas em que a criação de um
excedente possibilita a apropriação privada das condições de produção. Dessa forma, o materialismo histórico de
Marx descarta as interpretações que atribuem um caráter natural, inexorável, a esse tipo particular de desigualdade.

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