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Solidariedade de acordo com Durkheim é uma relação moral que faz com que

os indivíduos se percebem como pertencentes a uma mesma sociedade, isto é, relações


como valores baseados nas tradições, sentimentos e modo de trabalho. A solidariedade
mecânica tida como referente às sociedades simples, faz a unidade entre os corpos e era
aplicável em um contexto de pouca divisão do trabalho, os indivíduos realizavam
pequenas tarefas semelhantes entre si, a solidariedade mecânica atua como um
mecanismo baseado em crenças comuns, que possibilitam a vida em sociedade. As
sociedades complexas, aquelas cujo a atividade econômica objetiva capital, o trabalho é
densamente estratificado, a consciência agora é individual, a solidariedade é orgânica e
o direito praticado é o restitutivo. Ora, a solidariedade orgânica surge em meio ao
contexto da revolução industrial, produz uma relação de dependência mútua entre os
indivíduos através da especialização das funções sociais, ou seja,  a solidariedade
orgânica se dá a partir da compreensão da sociedade como um corpo no qual o bom
funcionamento necessita de que os diferentes órgãos cumpram suas funções de forma
interligada e interdependente, embora o contrário não seja possível, a solidariedade
orgânica comporta aspectos da mecânica, como por exemplo o direito punitivo. A
sociedade industrial preza pela individualização do indivíduo, isso significa propor ao
indivíduo internamente a manutenção de autorregulação e autodeterminação, a
caricatura do Barão de Munchausen dentro da esfera social, o indivíduo deve ser capaz
de salvar do pântano, social através dos próprios cabelos, em termos menos abstratos,
por mérito, vontade e determinações próprias.

Em Ensaio Sobre a Cegueira, a existência da família burguesa – um homem e


uma mulher, mesmo que na ausência de filhos- representa a manifestação de uma
solidariedade orgânica, unidade entre os corpos. Ora, o casamento ocidental é uma
instituição social de dependência mútua entre dois indivíduos, um contrato é firmado.
Dois indivíduos formam uma união como modo de formar moralmente dentro da esfera
social. O não casamento tradicionalmente coopera como atividade disfuncional, a
sociedade como organismo vivo costuma praticar atividades coercitivas nesses
indivíduos que rompem com os padrões morais e sociais. Outro exemplo de
solidariedade se encontra nas ações governamentais durante o filme, quando os índices
de cegueira começam a crescer, um plano de enclausuramento, o modo como o Governo
justifica a quarentena através da relação moral que faz com que os indivíduos se
sintam seres sociais e zelem por essa relação: “[..] Estamos contando com o espírito e a
cooperação de todos os cidadão para prevenir contágios futuros.” A prática individual
de sociedade pelo indivíduo não é suficiente, e o modo de galgar adesão coletiva é de
forma solidária.

O trabalho ontologicamente é definido como toda prática social com um fim


determinado. Para Durkheim o trabalho produtivo é uma relação constitutiva da
sociedade, dessa forma a Divisão Sexual e Social do trabalho é um fator sócio moral.
Em Ensaio Sobre a Cegueira, dentre os protagonistas há um casal, a divisão do trabalho
dentro dessa união tem uma marcação bem característica das sociedades patriarcais. As
cadeias de relações que compõem a sociedade denotam uma mulher que cuida da casa e
do bem-estar do marido no espaço privado e um homem, este homem exerce a atividade
fora de casa no espaço público e é o provedor, aqui enxergamos a clara demarcação de
atuação definida primeiramente através do sexo. À medida que o grupo de pessoas com
comportamento disfuncional aumenta, o grupo enclausurado concomitantemente dilata,
um dos personagens define aquele ambiente como “Reino dos Cegos”, pois então, a
estratificação das relações sociais causadas pela Nova Divisão do Trabalho é observável
na dependem que os enclausurados tem de uns aos outros para a manutenção da própria
vida, da regulação dos sentimentos, dos estímulos, fisiologia e do capital. Toda prática
de atividade precisa de muitos fatores externos, novas regras e condutas são outorgadas
como modo de controle social, para além da identificação desses indivíduos, que não
têm nome, pois a existência de um nome como forma de identificação naquele contexto
não importa, todos são indivíduos sociais que precisam respeitar as instituições sociais.

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