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A vida em sociedade é regida por normas que delimitam aquilo que é permitido e o que é
proibido, quais comportamentos são aceitáveis e que ações devem ser combatidas, para manter a
sociedade de maneira estável, integradora, coesa. São diversas as instituições que determinam o
regramento da vida social: no âmbito da vida privada, a família, orientada por seus valores e
princípios morais e religiosos, atua em primeira instância na formação dos indivíduos; na esfera
pública, o Estado e as categorias de poder que dele descendem exercem um papel regulador e
conformador de signos e símbolos em torno dos quais uma determinada ordem coletiva se
identifica.
Ao longo deste capítulo, serão abordados aspectos relacionados às complexidades das
relações sociais e à atuação de diferentes instituições de poder no disciplinamento de práticas e
costumes.
A organização familiar
A família é considerada a mais antiga instituição social da história e a primeira a garantir a
socialização dos indivíduos. No percurso de sua evolução, ela foi muitas vezes revestida de certa
sacralidade, tida como instituição maior, capaz de regrar a vida social a partir do disciplinamento
dos corpos e das expectativas dos indivíduos. Na Roma Antiga, onde as práticas religiosas eram
realizadas no âmbito da vida privada, deuses chamados lares eram tomados como referências
para o ordenamento da vida social. Os comportamentos relacionados, por exemplo, à vida
religiosa, eram conduzidos por figuras masculinas (pater familias) que exerciam papel central na
definição de uma ordem simbólica em torno da qual os indivíduos eram agrupados.
Durante longo tempo, a família foi considerada um fenômeno natural e biológico, e somente
em fins do século XIX e início do XX ela passou a ser compreendida como um uma instituição
social, cultural e histórica.
No campo das ciências sociais, vários pesquisadores têm se dedicado a compreender essa
instituição como entidade ordenadora de microexperiências sociais e que interage com outras
entidades de poder – a exemplo do Estado –, intercambiando, nessa medida, valores, crenças,
opiniões etc.
Família é um grupo de pessoas que compartilham suas vivências. O conceito de família tornou-se
abrangente com vista a se adequar às diferenças entre os grupos familiares.
A família, como toda instituição, tem aspectos conservadores, assim como indicadores de
mudança. Para [a socióloga argentina] Elizabeth Jelin, a família é uma instituição formadora de
futuras gerações e mediadora entre a estrutura social e o futuro dessa estrutura. Nesse caso, sem
intervenção externa, a família termina por transmitir e reforçar padrões de hierarquia e
desigualdade já existentes na sociedade. Pela família, por exemplo, podem passar preconceitos
raciais, ideias arcaicas sobre o papel dos gêneros, entre outros valores. Assim, a família é um
espaço paradoxal: tanto pode ser o lugar do afeto e da intimidade, como o lugar da violência
muda e silenciosa. No quadro familiar, a violência de gênero ganha relevo, pois são as mulheres
as principais vítimas. Na classificação da socióloga, a violência familiar atinge sobretudo as
mulheres, na relação conjugal, depois as meninas e, em menor escala, os meninos, na relação
filial. Os anciãos também compõem o número das vítimas. Essas considerações nos levam a
observar que o estudo da organização familiar deve, primeiro, respeitar a diversidade de padrões
familiares existentes, além de relacionar essa instituição a outros assuntos correlatos, como
cotidiano, gênero, violência, o papel do Estado etc.
SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de conceitos históricos. 2.ed., 2ª reimpressão.
São Paulo: Contexto, 2009. p. 139. (adaptado)
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