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TEXTO 1 - Instituições sociais

“Denominar-se-á instituição uma associação cujos ordenamentos estatuídos, dentro de um


domínio especificável, são impostos de modo (relativamente) eficaz a toda a ação segundo
determinadas características dadas” (Weber, 2000:80).

Todas as instituições devem ter função e estrutura. Função é a meta ou propósito do grupo, cujo
objetivo seria regular as necessidades. A Estrutura é composta de pessoal (elementos
humanos); equipamentos  (aparelhagem material ou imaterial); organização  (disposição do
pessoal e do equipamento, observando-se uma hierarquia-autoridade e
subordinação); comportamento  (normas que regulam a conduta dos indivíduos).

Veja-se como exemplo a empresa industrial. Possui função, produz bens e serviços para gerar
lucros; e estrutura, que se subdivide em pessoal (direção, funcionários administrativos e
operários), equipamento ((1) imóveis, máquinas e equipamentos materiais, e (2) marca e
reputação (imateriais)), organização (democrática ou autocrática, centralizada ou
descentralizada) e comportamentos, normas para a constituição e funcionamento, direitos e
deveres regulados pelas leis vigentes e pelos estatutos.

As principais instituições sociais são a Família, a Igreja, o Estado, a Empresa e a Escola.

A Família, em geral, é considerada o fundamento básico e universal das sociedades, por se


encontrar presente em todos os agrupamentos humanos. Igreja. Durkheim definiu a religião
como “um sistema unificado de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, isto é, a coisas
colocadas à parte e proibidas – crenças e práticas que unem numa comunidade única todos os
que as adotam” (Lakatos, 1995, 179).

Por Estado “entender-se-á uma função institucional política, quando e na medida em que o seu


quadro administrativo reclama com êxito o monopólio legítimo da coação física para a
manutenção das ordenações” (Weber, 2000:83).

Após a Revolução Industrial, a Família perde grande parte das suas funções económicas, que se
transferem para uma variedade de outras organizações, como as Empresas e Estado. Só a partir
de então este adquire capacidade para intervir na atividade económica.

É inútil julgarmos que educamos os nossos filhos como pretendemos. É que somos obrigados a
seguir as regras que imperam no meio social em que vivemos. É a opinião quem nos impõe
essas regras, e a opinião é uma força moral cujo poder constrangedor não é inferior ao das
coisas físicas. (...) A Escola é o sistema educativo de um país numa época. Cada povo tem o
seu, como tem o seu sistema moral, religioso, económico, etc. (Durkheim, 2001: 32).
1. Justifique a perda de importância da Igreja enquanto instituição, na atualidade, referindo:
a) A globalização;
b) A escolarização; e
c) A urbanização.

2. Verifique se o namoro é uma instituição:


a) Na perspetiva Weber;
b) Na perspetiva de Fichter.

Sugestão de Leitura sobre o namoro

Qual é a função do namoro? A resposta parece variar em função das gerações inquiridas. Para as
avós qualquer contacto era interdito até à noite do casamento. Hoje os parceiros conhecem-se
antes. Não será esta a finalidade/função do namoro?

Nas gerações mais velhas, sobretudo para as avós (...) os namoros são descritos como amizades
onde a aproximação entre os protagonistas repousa sobre um compromisso pouco rígido, e onde
não parece haver lugar para grandes experimentações ou contactos físicos; (...) enquanto nas
gerações mais velhas prevalece uma moral sexual mais conservadora, institucionalizadora e
defensora do puritanismo sexual, os jovens transportam uma nova ética, mais
experimentalista e fragmentada, “onde há lugar para ligações fugazes e românticas;
experiências pré-matrimoniais e coabitacionais; iniciações sexuais precoces e relações
heterogâmicas; sendo, finalmente, observável uma relativa tolerância a diversas formas de
sexualidade socialmente ou ideologicamente consideradas mais ‘periféricas’”.

Fonte: http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/438.pdf

TEXTO 2 - REPRODUÇÃO SOCIAL


Autores/as:ANA PAULA HEY
A perpetuação da ordem social implica em um conjunto de ações e mecanismos sociais
orientados na direção de assegurar sua reprodução. No entender de Marx, ao garantir a
reprodução material, a sociedade deverá avalizar também sua reprodução cultural e ideológica.
Assim, para ele, há processos de reprodução dos meios de produção, da força de trabalho e das
relações sociais de produção.
Uma clássica passagem de A ideologia alemã resume essa perspectiva: as ideias (Gedanken) da
classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes; isto é, a classe que é a força
material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe
que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de
produção espiritual, o que faz com que a ela sejam submetidas, ao mesmo tempo e em média,
as ideias daqueles aos quais faltam os meios de produção espiritual. As ideias dominantes nada
mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes, as relações materiais
concebidas como ideias; portanto, a expressão das relações que tornam uma classe a classe
dominante; portanto, as ideias de sua dominação (MARX; ENGELS, 1977, p. 72).
Em uma perspectiva relacional, Pierre Bourdieu (1974) vai tratar da reprodução social a partir
da reprodução cultural, desvelando mecanismos de reprodução da estrutura das relações de
força e das relações simbólicas entre as classes. Com isso, remete-nos às seguintes indagações:
 o que faz com que a ordem do mundo, tal como está, com seus sentidos, obrigações e
sanções, seja respeitada?
 Por que a ordem estabelecida, com suas relações de dominação, seus direitos e suas
imunidades, perpetua-se?
 Por que as mais intoleráveis condições de existência podem ser vistas como aceitáveis
ou naturais?
Pensar a reprodução social com Bourdieu implica pensar nas relações entre poder material e
simbólico, uma vez que incorporamos, sob a forma de esquemas inconscientes de percepção, de
apreciação e de ação, as estruturas da ordem social. Para ele, a reprodução social não se dá
apenas pela posse do capital econômico, mas também pela detenção do capital cultural, sendo
que este último torna-se a principal estratégia de reprodução nas sociedades avançadas. Capital
cultural é entendido tanto como a incorporação intransferível de capacidades cognitivas quanto
a posse de bens e certificados que garantem vantagens àqueles que os detêm. Esse novo capital
transfigura-se como inato, encobre seu longo processo de aquisição e atua por legitimar
privilégios sociais herdados. Para que os processos de reprodução social se realizem, acirram-se
os modos de dominação. Estes podem ser entendidos como “aquilo que permite a uma ordem
social reproduzir-se no reconhecimento e desconhecimento da arbitrariedade que a institui”
(Pinto, 2000, p. 169).
A forma como a sociedade organiza-se tende a manter uma relação entre dominantes e
dominados, em que estes últimos submetem-se à ordem social percebida de modo pré-reflexivo
como ordem das coisas. Há um processo de naturalização daquilo construído socialmente,
visando inscrever essas produções na natureza do humano, daquilo que não deve ser modificado
porque sempre foi assim. É o estabelecimento de uma ‘magia social’, em que os processos de
produção de diferenças ou de reprodução delas são entendidos como dados, escondendo a
arbitrariedade da lógica social que a institui. Reprodução social nos remete à reprodução
cultural e aos modos de dominação engendrados no mundo social que garantem esse ciclo. No
caso da reprodução cultural, Bourdieu (1976) foca-se no sistema escolar para tentar desvelar a
reprodução das desigualdades.
As formas elementares de dominação centram-se na dominação direta, de uma pessoa sobre
outra, em que há a necessidade da criação de uma ligação pessoal para que se ganhe a
apropriação do trabalho, dos serviços, dos bens, das homenagens, do respeito dos outros, tendo
como exemplo ideal a escravidão. Todavia, quanto mais a sociedade se organiza em bases mais
sofisticadas, típico das sociedades avançadas, mais a reprodução das relações de dominação se
complexificam; quanto mais se utilizam mecanismos objetivos, mais as estratégias objetivas
orientadas em direção à reprodução da ordem estabelecida são indiretas e impessoais. Em suma,
o princípio de perpetuação da relação de dominação reside em instâncias como o Estado e a
escola, entendidos como lugares de elaboração e de imposição de princípios de dominação que
se exercem dentro mesmo do universo mais privado, das relações pessoais (Bourdieu, 1998).
O sistema de ensino é visto como lócus desse tipo de dominação indireta: é escolhendo o
melhor estabelecimento escolar para seus filhos que a família – enquanto detentora de capital
econômico ou cultural – assegura a relação de dominação que a une objetivamente ao mundo
social, garantindo as chances objetivas de reprodução da posição social da família na estrutura
de distribuição das classes e frações de classe. Para se compreender como se perpetua a ordem
social, necessita-se construir um quadro do sistema de estratégias de reprodução (estratégia de
investimento biológico, de sucessão, educativas, de investimento econômico, social,
matrimoniais, de investimento simbólico e estratégias de sociodiceia) e do sistema dos
mecanismos de reprodução (mercado de trabalho, direito de sucessão, direito de propriedade,
instituições escolares). Nas sociedades avançadas, as disposições à reprodução e as estratégias
de reprodução que elas engendram apoiam-se nas estruturas de um Estado organizado, em que
as mais importantes do ponto de vista da reprodução são as da instituição escolar. Aliás, esta é
chamada a cumprir uma função essencial, já que a dominação é de caráter estrutural: atribuir
títulos que são válidos na maioria dos espaços sociais.
O sistema escolar engendra classificações que lhe são típicas, porém estas se consagram em
classificações sociais. Tais classificações, que se revestem de neutralidade, limitam-se ao
registro de diferenças reais entre aptidões naturais (avaliações garantidas por um corpo de
profissionais com autoridade legítima e imparcial, aparentando obedecer somente à lei de uma
instituição autônoma), obedecem muito mais à lógica de um mundo social calcado em
diferenças, realizando um trabalho de triagem e, com isso, mantendo a ordem social
preexistente. Bourdieu (1996) afirma que a reprodução da estrutura de distribuição do capital
cultural se dá na relação entre as estratégias das famílias e a lógica da instituição escolar. As
famílias representam corpos com tendência a perpetuar seu ser social, com todos seus poderes e
privilégios, que é a base das estratégias de reprodução. Sendo assim, elas investem tanto mais
na educação escolar quanto mais importante for seu capital cultural e quanto maior for o peso
deste em relação a seu capital econômico.
Bibliografia

BOURDIEU, P. La domination masculine. Paris: Seuil, 1998.

BOURDIEU, P. O novo capital. In: BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação.
Campinas: Papirus, 1996, p. 35-48.

BOURDIEU, P. Les modes de domination. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Paris,


n. 2-3, p. 122-132, jun. 1976.

BOURDIEU, P. Reprodução social e reprodução cultural. In: BOURDIEU, P. A economia das
trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974, p. 295-336.

MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Grijalbo, 1977.

PINTO, L. Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social. Rio de Janeiro: FGV, 2000.


In https://gestrado.net.br/verbetes/reproducao-social/

SINTESE:

As sociedades, para subsistirem têm de produzir, de forma continuada, bens materiais e pessoas
necessárias para acionar essa produção. Esta constante renovação do processo de produção
designa-se reprodução.
A reprodução social permite que as características das estruturas sociais se mantenham durante
longos períodos de tempo.
A reprodução biológica dos seres humanos está a cargo das famílias. São elas que produzem e
reproduzem os seres humanos tendo como objetivo a manutenção das condições sociais de
produção e da ordem social.
As instituições desempenham um papel importante no processo de reprodução social, pois são
elas que ensinam valores, normas e saberes práticos. Assim, o processo de reprodução social
deve-se em grande parte á estabilidade das práticas sociais.

TEXTO 3 - MUDANÇA SOCIAL

Assim como as pessoas, as sociedades mudam. Na Sociologia, mudança social é definida como


mudanças significativas em símbolos culturais, normas de comportamento, organizações sociais
ou sistemas de valor. De acordo com os sociólogos, mudanças significativas significam as que
resultam em profundas consequências sociais.
As mudanças que enxergamos na sociedade costumam ser graduais. A menos que seja
consequência de um desastre natural, como um terremoto, ou uma revolução política, mudanças
sociais se tornam visíveis apenas meses ou anos mais tarde. Esse tipo de mudança social pode
ter diversas fontes: mudanças tecnológicas, mudanças no tamanho ou composição da população
e mudanças culturais. Mas algumas mudanças sociais ocorrem graças aos esforços coletivos de
pessoas que atuam em movimentos sociais para mudar a política social ou a própria estrutura
do governo.
Um movimento social é um esforço sustentado e organizado que enfatiza algum aspecto da
mudança social. Hoje, os sociólogos admitem o papel fundamental que os movimentos sociais
desempenham em inspirar membros insatisfeitos da sociedade a buscar mudanças sociais.
Movimentos sociais compreendem aqueles que visam a preservar o ambiente, promover a
justiça racial, defender os direitos de diversos segmentos da sociedade ou defender certas
crenças ou princípios.
Alguns exemplos de mudanças sociais significativas que tiveram impactos em longo prazo são a
Revolução Industrial, a abolição da escravidão e o movimento feminista.

Características
Um dos fatores mais importantes para a mudança social é o ritmo, que varia conforme, entre
outros, de acordo com o meio onde se insere. Assim, a mudança social acontece mais
rapidamente nos meios urbanos.
Pelo fato de abranger vários grupos, afetando significativamente várias pessoas, coletividade é
outra característica que a marca.
As mudanças não são passageiras. Ao passo que acontecem, deixam marcas que têm um
carácter de durabilidade. Assim, tem destaque a sua permanência.
Tipos
As mudanças sociais são inúmeras e constantes. Os meios de transporte evoluíram, as relações
entre professor e aluno, a moda. Dentre as mudanças sociais, citamos:

 Direitos Femininos: Em 1933 as mulheres conquistaram a permissão para votar, bem como foi
a partir da Revolução Industrial que começaram a trabalhar fora, conquistando o seu espaço
numa sociedade que era patriarcal.
 Modelos de Família: No Brasil, o divórcio foi instituído em 1977. Essa foi uma das causas
para que a família nuclear desse lugar à monoparental. Atualmente, há mais liberdade na
relações entre pais e filhos, bem como as famílias tem menos filhos.
 Trabalho: Hoje em dias, passa-se mais tempo no trabalho, mas em contrapartida é possível
trabalhar em casa.
 Cultural: A incorporação de costumes de outras culturas promove a mudança de hábitos e
costumes. A tecnologia também é um intermediário para a origem das diversas modificações
ocorridas nessa área.
Causas e Consequências
Atualmente a tecnologia é apontada como o principal causa da mudança. Traduz-se na forma
como as pessoas conseguem se comunicar rapidamente com o outro lado do mundo, bem como
nos benefícios que trouxe em avanços médicos e outros tantos mais.
TEXTO 4 - Globalização

A economia informacional é global. Uma economia global é uma nova realidade histórica


diferente de uma economia mundial. Segundo Fernand Braudel e Immanuel Wallerstein,
economia mundial, ou seja, uma economia em que a acumulação de capital avança por todo o
Mundo, existe no Ocidente, no mínimo desde o século XVI. Uma economia global é algo
diferente: é uma economia com capacidade para funcionar como uma unidade em tempo
real, à escala planetária. (...) Economia global é uma economia cujas componentes nucleares,
têm a capacidade institucional, organizacional e tecnológica para trabalharem como uma
unidade em tempo real ou num tempo convencionado, a uma escala planetária (Castells, 2007a,
p. 124).

O desenvolvimento das TIC nunca foi um ponto forte de algumas sociedades, mas desde que a
Internet passou a ser comercializada - desde 1990(*) - mudou as rotinas diárias das famílias.

Os meios de comunicação também têm sentido necessidade de se adaptar ao meio eletrónico.


Vivemos num paradigma em que o jornalista escrevia notícias padronizadas para uma massa de
leitores, emergindo agora a sua integração em redes sociais onde estes ainda não descobriram
um modelo de negócio.
O teórico mais respeitado dos meios de comunicação é Marshall McLuan. Para ele “As
sociedades têm sempre sido redesenhadas mais pelas características dos meios de comunicação
utilizados pelos homens que pelo conteúdo da comunicação”.
Todos os media são extensões de algumas faculdades humanas, mentais ou físicas. A roda é
uma extensão dos pés. O livro é uma extensão dos olhos. A roupa é uma extensão da pele. Os
sinais elétricos são uma extensão do sistema neuronal-central. A forma como são transmitidos
estes sinais afeta a forma como nós pensamos, e quando muda o modo de transmissão a
sociedade também muda.

Estamos habituados a pensar excessivamente no conteúdo das mensagens, mas como nos
recorda Marshall McLuan, “o meio é a mensagem”, o meio é uma provocação, uma forma de
pedir atenção, não é qualquer coisa neutral, desenha o mapa, sobretudo quando o meio é
novidade. Eis alguns dos seus tweets:
- Não interessa o que você diz ao telefone; o facto é que você está lá.
- À velocidade da luz não existe uma sequência; tudo acontece de uma só vez.

Nosso novo ambiente elétrico obriga ao empenho e participação e preenche as necessidades


psíquicas e sociais do homem em níveis profundos.
A extensão de nosso sistema nervoso como um ambiente de total de informação é uma extensão
do processo evolutivo.

A aldeia global é um lugar de interfaces muito difíceis e situações muito abrasivas.


Os novos mídias procuram que você se envolva e tome parte da ação.
Quando a informação se torna totalmente ambiental e instantânea, é impossível ter monopólio
do conhecimento.
Como é possível que o hardware do teu computador seja mais barato que a licença do
Windows?
Uma pista interessante para responder a esta pergunta encontra-se no vídeo The Story of Stuff,
a história das coisas, que apresenta a sociedade de consumo como motor do sistema capitalista.

Num pos (texto)  com 1000 palavras, pretende-se que tenha em consideração os seguintes
objetivos:

- Constatar a aceleração das trocas e dos movimentos da população a nível mundial

- Referir as várias dimensões do fenómeno da globalização (económica, financeira e cultural)

- Explicitar a importância da globalização da economia referindo o papel das empresas


transnacionais (ETN), frequentemente designadas multinacionais

- Explicitar o papel dos meios de comunicação (audiovisuais, agências de informação, imprensa,


livros, publicidade, bases de dados, TIC, internet, etc.) na difusão cultural

- Explicar o papel dos meios de comunicação social na sociedade atual

- Relacionar a globalização com as novas representações sociais

- Aculturação. A língua inglesa como fator homogeneizador das culturas nacionais / As TIC
como novas possibilidades de expressão de culturas minoritárias.

NOTA
(*) A Internet começou a ser comercializada em 1990 pelo PUUG. O ISP de maior dimensão
viria a ser a Telepac que começou a fornecer o serviço Internet entre 1992 e 1995, mas só partir
de 1999/2000 se popularizará.

TEXTO 5 - Consumo e estilos de vida

Na sociedade de consumo as opções de aquisição dos bens já não determinadas pela satisfação
de necessidades básicas, mas principalmente pelo seu significado simbólico.

Bourdieu, perspetiva a noção de “capital” “sob a forma de um recurso que representa riqueza,
uma “energia social”, e um poder”. Dentro destes capitais, existe o capital simbólico que é a
associação última, por exemplo, de outros capitais: o económico, o cultural, o social. O
simbolismo é tudo o que sacraliza, são as aparências tornadas legítimas aos olhos dos
outros. O simbolismo tem o dom de marcar a diferença; é o reconhecimento de uns em relação
aos outros.

“A atividade simbolizante e semântica do homem não se exprime, de facto, somente, com a


língua e a palavra, mas igualmente, com todo o conjunto de padrões de comportamento e das
instituições sociais. Qualquer ação do homem pode assumir o valor dum símbolo, isto é,
pode ser inserida num sistema de interpretações e de expressões com as quais o próprio homem
procura precisar a sua própria relação com a realidade cósmica, quer como indivíduos, quer
como associações”.

Por outro lado, associado a esta carga simbólica, estão, inevitavelmente, presentes, os estilos de
vida. Por sua vez, estes não podem ser entendidos sem serem inseridos num compromisso
entre as aspirações dos indivíduos e dos constrangimentos da sociedade e do meio
envolvente. Os estilos de vida dependem dos valores, que nada mais são, em termos sucintos,
que o “mapa” mais abrangente de uma sociedade ou de uma cultura. Os valores modificam-se
de acordo com os fluxos culturais (são as tendências dinâmicas que modificam sobre um longo
período da hierarquia dos valores, os modos de pensamento e de expressão, os hábitos de
comportamentos numa cultura, de forma diferenciada segundo os tipos de pessoas).
http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR462df6d1ecd2b_1.PDF

Os novos estilos de vida refletiram-se no campo alimentar pela importância crescente do fast-
food, que introduziu certamente novos hábitos de consumo e de lazer na sociedade
contemporânea.

TEXTO: McDonald’s, fenómeno global no espaço local

A McDonald’s, com os seus famosos “Arcos Dourados”, é mais que uma cadeia de restaurantes
e que uma experiência gastronómica. Estando associada a uma série de significados e práticas
sociais, conduz-nos, a um mundo de fantasia e divertimento, expresso nos sorrisos dos
funcionários, na figura de Ronald McDonald, nas próprias cores típicas da companhia
(vermelho e amarelo), no ambiente que encontramos nos restaurantes e em diversas atividades
destinadas ao seu público-alvo, as crianças e as famílias, tais como as festas de anos e as
próprias promoções relacionadas com o Happy Meal.
Devemos, no entanto, questionar quer o modo como estes símbolos mundialmente reconhecidos
se tornaram parte integrante da cadeia quer os próprios símbolos. Todos aqueles critérios, a
partir dos quais nos habituámos a pensar na McDonald´s, são construções culturais, como nos
lembra John Law (apud Star: 1996), devendo ser analisados sob este ponto de vista.
Sendo a McDonald’s um símbolo da globalização, da “americanização” e da
“McDonaldização”, suscita o debate que opõe os que defendem que a globalização e os objetos
culturais globais destroem o particular e único, contribuindo para o seu desaparecimento, aos
que, por outro lado, acreditam no carácter mutuamente constitutivo do local e do global.
Entendendo-se a globalização como a intensificação de trocas sociais, políticas, económicas e
culturais a nível mundial, devemos, a nosso ver, compreender este conceito e os fenómenos a
ele associados, particularmente no campo da alimentação, como estando numa tensão entre a
tendência para a homogeneização e a impulsão do aumento da diversidade e
heterogeneidade, permitindo o acréscimo do poder de escolha e o contacto com outras
realidades.

É verdade que a McDonald’s está espalhada um pouco por todo o mundo, sendo responsável
pela introdução de um tipo de alimentação homogénea e padronizada em várias partes do
planeta. No entanto, o impacto da sua implantação depende do país em causa. Não podemos
generalizar as consequências da introdução da McDonald’s, pois estaríamos a correr o risco de
considerar o próprio mundo e os consumidores como estandardizados.
O facto de pertencermos a uma dada cultura dá-nos acesso a determinados significados que
utilizamos quotidianamente para atribuir sentido ao mundo em que vivemos. Assim, o contexto
cultural tem consequências no modo como o local absorve as formas culturais globais, as
transforma e adapta à sua realidade, originando fenómenos globais híbridos
recontextualizados.
No campo alimentar, devemos ter em conta que aquilo que comemos depende da sociedade em
que vivemos e está sujeito a alterações ao longo do tempo, que estão associadas à criação de
novas necessidades. Como nos lembra Margaret Visser (1998:117-130), quando uma sociedade
aceita um novo alimento, fá-lo porque este pode preencher um determinado papel, mesmo que
este esteja relacionado com fenómenos de moda. A McDonald’s deve ser compreendida como
uma cadeia que produz um tipo de alimentação estandardizada que é introduzida nas diversas
sociedades locais que, por sua vez, e até certo ponto, a transformam, combinando-a com as suas
práticas alimentares locais, em associações únicas que contribuem para a diversificação
alimentar.
A Cadeia, enquanto fenómeno cultural, deve ser apreendida do ponto de vista da
produção, do marketing, do consumo e do uso, uma vez que devemos ter em atenção a
criatividade da companhia e dos consumidores, o que nos remete para a noção de consumo
de McCracken (1988), o processo pelo qual os bens de consumo e os serviços são criados,
comprados e usados.
Compreender o processo de produção é mais do que tomar conhecimento do modo como são
confecionados os hambúrgueres e as batatas, uma vez que isso, por si só, não nos permite saber
como é construído o significado social conotado com a McDonald´s. A apreensão do modo
como os significados e práticas que associamos à McDonald’s se tornaram emblemáticos
implica a análise dos processos de difusão utilizados pela cadeia para transmitir mundialmente a
sua mensagem, da sua história e cultura, o que está diretamente associado à identidade da
mesma e ao perfil dos funcionários e dos franqueados que encontramos na McDonald´s.
http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR4628d6b350935_1.pdf

A McDonaldização dos hábitos alimentares decorre parcialmente de novas


exigências produtividade económica, com efeitos não negligenciáveis sobre o aumento
da obesidade, que “constitui um importante problema de saúde pública com consequências
económicas de grande dimensão. Os obesos têm um risco acrescido de contrair doenças e de
sofrer morte prematura devido a problemas como a diabetes, hipertensão arterial, AVC,
insuficiência cardíaca e algumas neoplasias malignas”.
http://www.adexo.pt/pdf/JP_CM_obesidade%20RPSP_final.pdf

Os médicos alertam sistematicamente para a necessidade dos indivíduos cuidarem do “corpo”:


A atividade física pode salvar a vida, literalmente. Os benefícios de exercitar o corpo durante 30
a 60 minutos por dia, vários dias por semana são muitos:
- reduz o risco de doenças cardiovasculares;
- ajuda a controlar e a prevenir fatores de risco como a pressão arterial alta, o colesterol elevado
e a obesidade;
- ajuda a baixar os níveis de stress;
- aumenta a energia;
- melhora o sono e a digestão;
- melhora o bem-estar geral e estimula a procura de estilos de vida mais saudáveis.
http://www.fpcardiologia.pt/cuidedesi_1.html

Numa sociedade de consumo, as convicções e convenções são substituídas pela flexibilidade


e pela mobilidade, permitindo deste modo, e através do próprio consumo, transformar as
representações da ‘boa vida’ em realidade. Por isso, a construção do ‘eu’ traduz-se na posse
de bens desejados e na prossecução de estilos de vida que envolvem uma dada construção
corporal. Funde-se a preocupação interna com a saúde e a preocupação externa com
a aparência, o movimento e o controlo do corpo.
Dois fatores são fundamentais na sociedade de consumo: a dieta e o exercício físico.

Estas formas de investimento corporal são usadas para preservar a vida, aumentando os seus
prazeres, que passam por consumir, gastar e saciar o desejo: o corpo na cultura de consumo é
então um veículo de prazer. (...)
Ao longo dos tempos surge nas sociedades ocidentais uma noção de feminilidade que se
entrecruza com a de consumismo e com a imitação de figuras de prestígio. Traçando uma
evolução temporal, estas figuras de referência foram, aristocratas, seguidamente herdeiras de
grandes fortunas, estrelas de cinema e depois modelos, estrelas pop e de televisão. Estas
referências influenciaram pois o denominado ‘look’, ou seja, o conjunto iconográfico feminino.
Logo, a identidade da mulher surge associada à exposição dos seus atributos (Craik, 1994). (...)

As adolescentes são das mais permeáveis ao culto dos vários modelos, seja através da tentativa
de obtenção dos símbolos adotados pelos seus ídolos, como as roupas ou os enfeites corporais,
seja através da imitação dos seus maneirismos, positivamente valorizados nas sociedades de
consumo. (...)

A questão do consumo torna-se pois fundamental para a construção da imagem corporal. Um


corpo mal cuidado torna-se uma vergonha da classe – a que se pertence ou a que se aspira –
que é concomitantemente projetada sobre esse mesmo corpo. Consequentemente, o corpo torna-
se o signo de status mais estreitamente associado à pessoa, tornando-se a ocasião e o pretexto de
um número sempre crescente de consumos (Maisonneuve e Bruchon-Schweiter, 1981).
Simultaneamente, a aparência e a apresentação do corpo tornam-se centrais na construção da
auto-identidade, através do desenvolvimento da consciência do corpo, que se deve aproximar o
mais possível das imagens ideais para aumentar o seu valor, em termos de bem negociável e
‘vendável’ (Fox, 1997). Os corpos passam assim de produtores a produtos de consumo, apesar
de não serem objetos passivos, na medida em que eles próprios consomem.

Na esteira de Giddens (1997), pode-se afirmar que a relação entre o corpo e a auto-identidade é
cada vez mais dinâmica. O culto do corpo e da aparência encobrem assim a preocupação com o
controlo ativo e com a construção do corpo através das várias opções de estilos de vida que a
modernidade reflexiva possibilita (Giddens, 1997).

Dá-se então uma espécie de fusão entre a preocupação interna com a saúde e a preocupação
externa com a aparência, o movimento e o controlo do corpo. Por isso, hoje ter-se um corpo
musculado, tonificado, firme, simboliza uma atitude social correta, uma vez que
corresponde a uma preocupação com a maneira como se ‘parece’ aos outros. Para mais,
esta pertença envolve controlo, força de vontade e energia, a tradução de uma imagem de auto-
suficiência e sucesso que é o ideal das sociedades (pós-) modernas – e que resulta da influência
das várias figuras de referência. O recurso crescente à cirurgia estética para reconstruir os
corpos acentua esta tendência.

Aliás, a cirurgia estética pode ser vista como algo que, paradoxalmente, permite às
mulheres sentirem-se sujeitos corporalizados e não ‘corpos objetivados’, vivenciando o
corpo de uma forma plena, na medida em que agem sobre eles e os transformam,
transformando-se também a elas próprias (Williams e Bendelow, 1998).

A saúde está deste modo envolvida na sociedade de consumo, através, por exemplo,


da indústria da boa forma, como os aparelhos de ginástica que substituem a corrida, o andar
de bicicleta, o remar, etc.. Sobressaem pois duas visões antagónicas: a) a noção de saúde como
controlo, que reflete e reforça os imperativos do capitalismo tardio em relação a uma força de
trabalho disciplinada e produtiva; e b) a saúde vista como libertação – tornando-se uma
metáfora para o imperativo em relação ao consumo. Chocam assim as necessidades de
disciplina com as necessidades de prazer; o corpo é o reflexo da disposição e das contradições
culturais da sociedade capitalista tardia (Williams e Bendelow, 1998).
http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/204.pdf

1. Define estilos de vida.

2. Identifica novos estilos de vida, referindo as preocupações com o “corpo” para os objetivar.

3. Partindo do exemplo do fast-food, discute a tendência para a uniformização dos padrões de


consumo a nível mundial versus adaptação dos produtos aos contextos locais.

4. Relaciona a globalização com os novos estilos de vida (consumos lights, desportos radicais,


consumos com consciência ambiental, etc.).
TEXTO 6 - Ambiente – riscos e incertezas

Os cientistas da NASA desenvolveram um novo modelo climático que indica que [na América
do Norte] as tempestades serão mais violentas e severas, e os tornados podem tornar-se mais
comuns enquanto o clima da Terra aquece.
 http://www.nasa.gov/centers/goddard/news/topstory/2007/moist_convection.html
A NASA já produz vídeos a explicar como as atividades humanas contribuem para a catástrofe
ambiental.
A ocorrência de secas deve enquadrar-se em anomalias da circulação geral da atmosfera, a que
correspondem flutuações do clima numa escala local ou regional. A situação geográfica do
território de Portugal Continental é favorável à ocorrência de episódios de seca, quase sempre
associados a situações meteorológicas de bloqueio em que anticiclone subtropical do Atlântico
Norte se mantém numa posição que impede que as perturbações da frente polar atinjam a
Península Ibérica.
http://www.meteo.pt/pt/oclima/observatoriosecas/

Nos últimos 10 anos a situação de seca mais grave que ocorreu foi no período de novembro
2004 a fevereiro de 2006. Na tabela 3 apresentam-se as percentagens de território afetado pela
situação de seca meteorológica entre dezembro e 31 de março para 2011/12 e
2004/05, verificando-se em 2012 uma situação mais gravosa do que em 2005, em termos de
seca meteorológica.
http://www.meteo.pt/bin/docs/tecnicos/Seca31MAR.pdf

As alterações climáticas afetam desigualmente os diferentes países do Mundo. Assim, as


variações dos diversos indicadores (incluindo as vítimas) atingem maior magnitude nos países
menos desenvolvidos.
Durante muitos anos, foi possível encontrar na comunidade científica defensores da tese
dos ciclos de subida e descida das temperaturas na Terra. Hoje dispomos de séries tão longas,
que tornam incontestável a tendência, observando-se o consenso quanto à ação do Homem
sobre a natureza, entre os académicos, mas sem consequências ao nível das decisões do domínio
político, económico e social.
Já ninguém duvida dos danos irreversíveis do Planeta, vinculadas aos modos de vida das
sociedades industrializadas, observando o aumento da temperatura na Terra.

Para problematizar este tema é útil considerar os


eixos segurança versus perigo e confiança versus risco.

Numa situação de segurança uma pessoa reage ao desapontamento culpando os outros; numa


situação de confiança deve arcar parcialmente com a culpa e pode arrepender-se de ter
depositado confiança em alguém ou alguma coisa. A distinção entre confiança e segurança
depende de a possibilidade de frustração ser ou não influenciada pelo próprio comportamento
anterior de cada um, e portanto, da correlativa discriminação entre risco e perigo. (Giddens,
1992, p. 31).

Os problemas ambientais, a possibilidade de uma guerra nuclear, o terrorismo, as crises


financeiras, as falhas nos sistemas periciais (*) caracterizam aquilo a que Ulrich Beck designou
por sociedade de risco. A sociedade de risco significa que vivemos na idade dos efeitos
secundários, isto é, habitamos um mundo fora de controlo, onde nada é certo além da incerteza.
O desenvolvimento da ciência e da tecnologia permitiu o progresso económico das sociedades
ocidentais; porém, o fruto desse desenvolvimento contribuiu para a emergência de novos riscos.

Segundo Luhmann (1993) a noção de risco depende mais do modo como é observado e não
tanto das suas pressupostas características objetivas. O risco tornou-se numa variante que
distingue entre aquilo que é desejado e indesejado. Para o autor o risco e o perigo estão ambos
associados à ideia de potencial perda futura, no entanto a sua posição defende a distinção de
ambos os conceitos. Segundo Luhmann (1993) podemos falar em perigo se as consequências ou
prejuízos de um determinado acontecimento ocorrerem de forma independente da nossa
vontade, ou seja, se a origem do evento provier de fontes externas. Pelo contrário, podemos
falar em risco quando determinados acontecimentos tiverem origem em decisões próprias. O
autor recorre aos seguintes exemplos: Quem fuma aceita o risco de morrer de cancro, embora
para quem inala o fumo dos outros o cancro deve ser visto como um perigo. Alguém que
assume o risco de morrer num acidente de viação, por decidir conduzir a alta velocidade,
transforma esta situação num perigo para os outros automobilistas ou para os peões. Assim, a
mesma ação pode ser um risco para uns e um perigo para outros.

http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/323.pdf

Salienta-se que entre os portugueses não existe o hábito de procurar informação sobre os


riscos. Observa-se contudo que os mais literatos, os profissionais liberais, aqueles que têm
rendimentos do seu trabalho mais elevados - o último escalão incluirá rendimentos do capital
não negligenciáveis - são os que procuram mais frequentemente documentar-se.

Não procurar ativamente informação é grave, porque a inação é muitas vezes mais arriscada e
há alguns riscos que nós temos que enfrentar, quer queiramos, quer não. Perigo e risco estão
estreitamente relacionados, mas não são a mesma coisa. A diferença não depende de um
indivíduo pesar ou não conscientemente as alternativas, ao considerar ou adotar uma
determinada linha de ação. O que o risco pressupõe é precisamente o perigo (não
necessariamente a consciência do perigo). Uma pessoa que arrisca alguma coisa desafia o
perigo, sendo este entendido como uma ameaça para os resultados desejados. Qualquer pessoa
que assuma um “risco calculado” está consciente da(s) ameaça(s). (Giddens, 1992, p. 24).

Que nos importa isto?


Como poderemos considerar os riscos de uma catástrofe ecológica se os seus fatores
explicativos estão tão afastados do nosso controlo individual?
A MAIOR PARTE DE NÓS NÃO PODE.

Quem se preocupa com a possibilidade de uma catástrofe ecológica tende a ser


considerado psiquicamente perturbado.
Embora não seja irracional que alguém estivesse permanentemente e conscientemente
angustiado, esta forma de ver paralisaria a vida quotidiana normal. Numa reunião social este
assunto é inconveniente.
Giddens descreve a catástrofe ambiental recorrendo à metáfora do Carro de Jagrená
(“Juggernaut” no original, refere-se a um mito religioso hindu, com origem na palavra
“Jaggannath”, “senhor do Mundo”, que é um dos nomes de Krishna. Uma imagem desta
divindade era levada todos os anos pelas ruas num enorme carro, sob o qual se lançavam, sendo
esmagados pelas suas rodas).
O leigo - e todos nós somos leigos no que respeita à maioria dos sistemas periciais - tem de se
deixar ir no Carro de Jagrená, que vai descendo o desfiladeiro sem qualquer controlo. A falta de
controlo que muitos de nós sentimos no que toca a algumas circunstâncias das nossas vidas é
real. Tudo pode desaparecer agora, a civilização, a história, a natureza. Que podemos fazer?

Giddens descreve quatro reações adaptativas:


I) Aceitação pragmática – Muitos convivem bem com a catástrofe ecológica porque
nem pensam nela, pois se pensassem seria aterrador
II) Otimismo persistente – Outros acreditam que podem ser encontradas soluções
tecnológicas e sociais para os problemas
III) Pessimismo cínico – Podem-se encontrar pessoas oportunistas - o melhor é gozar o
dia de hoje -, que veem ali boa oportunidade de tirar proveito para si próprios
IV) Ativismo radical – Atitude de contestação prática às fontes de perigo identificadas
Weber não explica a paralisação da ação social neste contexto, observando que os elos da
racionalidade são cada vez mais apertados!!!

1. Refere as consequências ambientais da manutenção dos padrões de consumo.

2. Justifica de entre as reações adaptativas referidas, qual a que te parece congruente com a luta
preservação da Humanidade na Terra.

3. Problematiza a sociedade do risco e incerteza, tendo em consideração a diferente apetência


dos grupos sociais pela informação.

4. Calcula a tua pegada ecológica e indica cinco aspetos que deverás mudar.

Recursos
 http://www.calculadoracarbono-cgd.com/
Sites alternativos para cálculo da pegada ecológica
TEXTO 7 - Globalização e identidade cultural

Sintetizamos sob o título acima dois temas que o teu manual aborda separadamente: (1) Género
e Identidades Sociais e (2) Migrações, identidades e culturais e etnicidade. Começamos por
distinguir sexo de género recorrendo a uma referência a Simone de Beauvoir:

“A disputa durará enquanto os homens e as mulheres não se reconhecerem como semelhantes,


isto é, enquanto se perpetuar a feminilidade como tal”, escrevia Beauvoir. Entendendo
“feminilidade” como uma construção, a teorização de Beauvoir é levada a cabo a partir da dupla
edificação deste conceito dentro do paradigma patriarcal – o “feminino” como essência e o
“feminino” como código de regras comportamentais. Antecipando-se aos movimentos
feministas, Beauvoir ditaria ainda aquela que viria a ser uma das pedras de toque teóricas para
os estudos feministas de raiz anglo-americana: a apropriação da palavra “género”, para
significar a construção social de uma diferença orientada em função da biologia, por oposição a
“sexo”, que designaria somente a componente biológica. É a partir da frase já célebre de “O
Segundo Sexo”: “On ne naît pas femme, on le devient” (“Não nascemos mulheres, tornamo-nos
mulheres”), que teóricas feministas como Joan Scott, nos anos 80, irão reflectir sobre o
estabelecimento da diferença entre “sexo” e género (“diferença sexual socialmente construída”),
desafiando e questionando a noção de que a biologia é determinante para os papéis atribuídos às
mulheres e de que existe uma “essência feminina”. Assim, dentro de um quadro conceptual
feminista, a questão proposta por Beauvoir é crucial, visto denunciar o carácter eminentemente
artificial da categoria “mulher”: um ser humano do sexo feminino “não nasce mulher”, antes
“se torna mulher”, através da aprendizagem e repetição de gestos, posturas e expressões
que lhe são transmitidos ao longo da vida. Recortado de Blogue Feminista

Por outras palavras, A identidade feminina é algo construído socialmente a partir de


parâmetros culturais, inclusive relacionados com uma determinada ideia de sexualidade
reduzida ao papel de reprodução, que constitui a socialização do género.
Portanto, a mulher passa a existir a partir do outro, que é o homem, o que por si só enseja uma
ideia de complemento. Se há algo certo na afirmação de Beauvoir de que ninguém nasce e sim
torna-se mulher, decorre de que mulher é um termo em processo, um devir, um construir de que
não se pode dizer com acerto que tenha uma origem ou um fim. Como uma prática discursiva
contínua, o termo está aberto a intervenções e a significações (Butler, 2003:58/59).
http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/708.pdf

Entre a comunidade cigana, a avaliar pelas afirmações de um seu representante, as atribuições


da mulher serão indiscutíveis:
 "A cigana é preparada para o casamento. As ciganas aprendem a lavar, a coser, a passar
a ferro, a fazer tudo. Ao contrário da sociedade maioritária em que a maioria delas nem sabem
fritar um ovo. Até se vê mulheres a conduzir um automóvel e os maridos a conduzir carrinhos
de bebé. As nossas são 100% femininas, 100% donas de casa." Diário de Notícias

Podemos observar algumas diferenças nas representações das identidades sociais de homens


e mulheres partindo da entrevista que Jorge Rio Cardoso concedeu a um programa da TV para
domésticas e reformados, promovendo o seu livro O Fim da Guerra dos Sexos. Eis as primeiras
questões:

Ela- Porque é que os homens são tão piegas quando estão doentes?

Ele-Porque é que as mulheres vão as pares para a casa de banho?

Ela- Porque é que os homens só pensam em sexo?

Ele- Porque é que as mulheres são tão “sensíveis”?!

Ela- Porque é que os homens se esquecem sempre das datas importantes?

Ele- Porque é que as mulheres depois do casamento se desleixam?

 NOTA: Efeito Coolidge (07:40) pode ser identificado para algumas espécies em laboratório. A


frequência sexual de um hamster macho declina rapidamente quando ele dispõe de apenas uma
fêmea: torna-se lento, pouco receptivo, e entediado. Porém, quando se introduz uma ou mais
fêmeas, ele volta a apresentar um apetite reforçado (O Fim da Guerra dos Sexos, p. 96).
Aproveita-se esta nota para observar o perigo de utilizar fenómenos biológicos para explicar
fenómenos sociais. Naturalmente que esta transposição não seria aceite em Sociologia, que
deve limitar-se a estudar os fenómenos sociais. Recorda-se que estamos perante representações
sociais.
A origem do termo encontra-se associada a uma piada com o presidente americano Calvin
Coolidge.

O tema da infidelidade conjugal não foi ainda, no nosso país, objeto de qualquer estudo de
carácter científico. (...) Os resultados desta investigação confirmam, de uma maneira geral, a
hipótese da dominância simbólica do género masculino já fundamentada em outros trabalhos.
Infidelidade Conjugal: Classe Social e Género

Já referimos noutros momentos que as raparigas conseguem mais frequentemente obter sucesso
escolar.
Pesquise até que ponto os ganhos médios mensais dos trabalhadores femininos persistem
abaixo masculinos.

Os países onde as mulheres têm um estatuto de maior paridade, também se observa um


elevado desenvolvimento socioecónomico. É o caso da Suécia, Holanda, Dinamarca, Suiça e
Finlândia, no topo do ranking do Índice de Iniquidade segundo o Género, do
PNUD. http://hdr.undp.org/en/media/HDR_2011_EN_Table4.pdf

As mulheres portuguesas estão melhor que o país(!), pois Portugal têm uma melhor posição
segundo este índice (19 em 2011) que pelo IDH (41 em 2011). Mesmo assim prevalece a
associação das mulheres a certos sectores de atividade como o ensino e a saúde. Em
determinadas situações da médica, e nos níveis mais baixos de ensino da professora,
estes sectores parecem pertencer “naturalmente” à esfera feminina, porque os
profissionais continuam a “cuidar” de alguém.

A realidade social tradicional associa a noção de “cuidar” a conotações de serviços


femininos, de vocação e de ocupação “natural” das mulheres, retirando, de algum modo, o
sentido de profissionalismo, competência e autoridade, características ditas masculinas. A
forma como os educadores de infância percecionam a sua profissão pode traduzir as imagens
sociais circunscritas numa envolvência que alguns autores denominam de “cultura do
cuidar”(….)
Assim, a interpretação de “cuidar”, como gestos e carinhos implicando um contacto
corporal, levanta alguns problemas na competência destes profissionais. Bento (1994)
enuncia esta questão caracterizando a relação pedagógica como demasiado emotiva para poder
possuir um carácter profissional. Neste sentido, o autor defende que a ligação entre docentes e
discentes não deve assentar em pressupostos de profunda afetividade, que prejudicará a lógica
da profissionalização, e afetará a “relação de parceiros”, que presume a existência de regras e
obrigações sociais e profissionais das duas partes.
http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/174.pdf

A sociedade portuguesa moderna tornou-se multicultural em resultado da imigração


relativamente recente, que se verificou em Portugal, mais tarde que nos seus parceiros
europeus. Estes abriram as portas à imigração no post-II Guerra Mundial, para o trabalho de
reconstrução da Europa, nos gloriosos 30 anos dourados - 1945-1973, não sei porque é que
dizem 30 ;) -, até ao primeiro choque petrolífero.

O processo de descolonização, que causou a primeira grande vaga de imigração das antigas
colónias para a metrópole, começou em Portugal mais de uma década depois das outras nações
europeias com passado imperial. Como a independência das colónias portuguesas em África não
pode ser separada da queda do regime autoritário de Salazar/Caetano, o primeiro número
significativo de imigrantes chegou no ponto de viragem da história do Portugal moderno,
quando a sociedade começou a viver uma mudança fundamental no campo político, social e
demográfico. Além disso, em 1974, a maioria dos Estados de acolhimento europeus tinham já
deixado de aceitar mais imigração laboral devido ao declínio das suas economias.
(…) Quando  duas ou mais culturas diferentes, entrando em contacto contínuo, originam
mudanças importantes em uma delas ou em ambas, fenómeno conhecido por aculturação.
O etnocentrismo explicará por que razão inicialmente terão acreditado que os muçulmanos um
dia deixariam de o ser, abdicando da sua etnicidade, isto é, trocando os elementos constitutivos
da sua cultura pelos da cultura local, como quem troca de casaco. Naturalmente que
esta assimilação completa da cultura portuguesa falhou:
Os primeiros conceitos respetivos apostaram na assimilação — um segundo cálculo errado,
como sabemos hoje. As sociedades dominantes partiram do pressuposto de que as diferenças
culturais desapareceriam gradualmente de geração para geração. Uma vez que as abordagens
académicas europeias na década de 1970 (em certos casos até à década de 1980) haviam sido
muito influenciadas pelas ideias laicas, o fator islâmico importado não estimulava muito
interesse. Muitos académicos calculavam que os muçulmanos iriam viver a sua fé num nicho
fora da vista pública (Nielsen, 1992) ou perdê-la (Kettani, 1996).
1. Refere algumas representações das identidades sociais que nos permitem distinguir os
géneros.
2. Relaciona o desenvolvimento económico e a globalização com os fenómenos
migratórios.
3. Refere problemas de integração dos migrantes (culturais e sociais)

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