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As instituições passam a estar afetadas por aquilo que desde o princípio se pode
definir como justo ou injusto (equidade inicial). Tudo deverá governar-se de
conformidade com isso. É certo, porém, que os homens que optam por direitos e
deveres não possuem o mesmo grau de liberdade em sociedade que possuiriam se
estivessem em natureza.
É certo que a liberdade que as instituições constroem não corresponde à
liberdade total e absoluta dos indivíduos, muito menos à satisfação plena dos
indivíduos. Não é disso que trata, mas de uma adequação das justiças dos indivíduos
(conceitos subjetivos de justiça), tais quais desejadas por cada qual, dentro de um
sistema que as absorve e as reconhece institucionalmente.
Assim, o primeiro princípio tem a ver com a fixação das liberdades básicas de
todo pactuante, que devem ser iguais para todos: liberdade política, liberdade de
expressão, de reunião, de consciência, de pensamento, de não ser preso
arbitrariamente
O segundo princípio, em sua locução “funções às quais todos têm acesso”, deve
ser interpretado de acordo com a igualdade democrática. Assim, se o primeiro
princípio reza que todos devem possuir determinado benefício social, o segundo
cumprirá para que o acesso a esse benefício social se dê de modo concreto e real
Contudo, o pacto não se faz de uma só vez; é ele um processo de etapas
gradativas, do mais abstrato ao mais concreto. Deve-se ainda mais ter em conta que é
sob o véu da ignorância que os pactuantes escolhem os dois princípios, numa
primeira etapa do contrato. Numa segunda etapa, os pactuantes passam a deliberar
concretamente acerca das diretrizes de sua própria sociedade, e isso por meio da
votação de uma Constituição. Vencida essa etapa, as discussões passam a ser sobre
as políticas de bem-estar da sociedade, mediante a economia e outras fontes de
justiça social.
Assim, dadas as premissas que regerão a sociedade, os dois princípios tornam-se
os motores da caminhada social.
Tudo isso leva à ideia de estabilidade. A justiça, quando penetra desde o pacto
original o espírito institucional, de fato, torna-se algo estável na sociedade. A
estabilidade é mais que pura consequência da justiça institucional, é mesmo o
termômetro da atuação das instituições públicas. Uma sociedade bem organizada
caminha naturalmente e sem tropeços para a estabilidade de suas instituições.
Conclusões
Para Rawls, a justiça é identificada como equidade (fairness), em que a equidade
reside exatamente no igualitarismo da posição original, ou seja, num estado inicial
do contrato social, momento hipotético, e não histórico, em que se pôde optar por
direitos e deveres. E essa opção racional é que é capaz de tornar a teoria da justiça
uma concepção sobre um valor de justiça que não é pura subjetividade, que não se
confunde com o bem de um indivíduo etc., mas que se realiza institucionalmente
(fala-se da justiça das instituições), objetivamente (fala-se de uma justiça que é
racionalmente compartilhada no convívio social) e coletivamente (fala-se da justiça
que gera o bem comunitário e não individual).
Esse pensador da justiça admite que a formação social do pacto é uma
construção humana que beneficia a todos, e que é por meio dela que se podem
realizar os indivíduos socialmente.
Se a justiça existe, ela é definida em função da capacidade que as instituições
possuem de realizá-la. O que motiva a formação da teoria da justiça como equidade
não é uma atenção especial pelo indivíduo e seu poder de ação voluntária e ética,
fundada no hábito, mas uma preocupação com o coletivo, com o institucional.
Mais que isso, trata-se de um modelo que se governa baseado em dois grandes
princípios, que são modelares das instituições, e suficientemente significativos para
seu bom governo: o princípio da garantia de liberdade; o princípio da distribuição
igual para todos. A boa aplicação de ambos os princípios é suficiente para a
produção do que Rawls identifica como estabilidade, termo inteiramente ligado às
ideias de legitimidade e de observância da lei. (in: Bittar, Filosofia do Direito, pág.
453)