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AS CRÍTICAS DE HABERMAS SOBRE A CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA DE RAWLS

Jürgen Habermas nasceu em Düsseldorf, Alemanha, em 18-6-29. Na década de 50,


foi um dos filósofos mais importantes da Alemanha, representante da chamada
segunda Escola de Frankfurt, cujo objetivo de estudo foi a sociedade atual, analisada
apartada da concepção da metafísica religiosa e da legalidade do positivismo, para
atingir os mecanismos de legitimação do direito. Ele apresenta as críticas a Rawls em
três pontos:

1- Quanto ao dissenso da posição original

Com a ideia da posição original de Rawls, os cidadãos pertencentes a determinada


sociedade, seriam incapazes de adotar decisões que promovessem o bem estar social
de todos, “uma vez que são limitadas por seu egoísmo racional: as partes não
reconhecem nenhuma perspectiva externa do seu próprio ponto de vista quando
deliberam racionalmente”( HABERMAS (apud FURLAN) 2002, p. 67).

Habermas (1998, p. 45) questiona Rawls quando afirma: “¿Pueden las partes em la


posición original representar los interesses preferentes de sus clientes sobre la base de su
egoísmo racional?”

“Numa sociedade pluralista, a teoria da justiça só pode contar com aceitação, quando
se limitar a uma concepção pós-metafísica em sentido estrito, ou seja, se evitar tomar
partido nas disputas entre formas de vida e cosmovisões.” Não se considerar tais
premissas, seria preciso encontrar “condições da vida moderna, precisa contar com
uma variedade de formas de planos de vida coexistentes e que encontram a mesma
justificativa; […]” (HABERMAS, 1997, p. 87).

Destarte, a capacidade dos indivíduos de decidirem racionalmente no contexto da


posição original não é parâmetro seguro para representar os interesses primários dos
demais membros, bem como se torna incompressível para compreender os direitos
como benefícios, os quais resultarão um ganho em prol de toda a coletividade.

“Em sua ‘Teoria da Justiça’, Rawls desenvolve a ideia de uma sociedade “bem
ordenada” sob as modernas condições de vida. Esta forma um sistema que possibilita
a cooperação justa entre parceiros do direito, iguais e livres. As instituições
fundamentais de tal sociedade precisam ser configuradas de acordo com um esquema
fundamentado à luz da justiça entendida como imparcialidade (fairness), merecendo
destaque o assentimento racionalmente motivado de todos os cidadãos”. A teoria de
Rawls, atinge o ‘uso público da razão’ ao cercear as modificações vindouras e, até
mesmo, obstaculizar a entrada de um pluralismo de cosmovisões do mundo.

Por fim, Habermas (1998, p. 51) conclui: “Las  reflexiones realizadas hasta aqui muestran que
para las partes de la posición original a capacidade decidir racionalmente no es suficiente parar e
presentar los interesses prioritários de sus clientes ni para entender los derechos (em el sentido de
Dworkin) como triunfos que prevalecen sobre todo fin colectivo.”

2- Quanto ao consenso do sobreposto

Como consequência da limitação do uso público da razão, o consenso sobreposto é


considerado ‘falso’, pois ao se vislumbrar, tão somente, em membros imaginários de
uma sociedade justa, os quais se utilizam dos princípios de justiça acobertados pelo
véu da ignorância, deixando de considerar o homem real na concepção da palavra.
Num outro ponto, a teoria de Rawls se baseia numa sociedade justa ancorada em
instituições tidas justas também e associada ao consenso do sobreposto. “Eles
também não coincidem com os cidadãos racionais, pressupostos na teoria, dos quais
se espera que também ajam moralmente, ou seja, que não coloquem os seus
interesses pessoais acima das obrigações de um cidadão legal” (HABERMAS, 1997,
p. 84).

Rawls ao garantir a estabilização e a regulamentação da sociedade, baseadas num


fundamento não coercitivo, como o direito e, sim, na boa vontade (ética e moral)
daqueles que a compõem, é dizer, na “força socializadora de uma vida sob instituições
justas; tal vida aperfeiçoa e, ao mesmo tempo, estabiliza as disposições dos cidadãos
para justiça” (HABERMAS, 1997, p. 84).

Habermas (1997, p. 85) comenta: “Isso tudo faz sentido, no caso de já existirem
instituições justas. Porém as coisas mudam quando se pergunta acerca do modo de
estabelecê-las em circunstâncias dadas. Para uma teoria filosófica da justiça, essa
questão não se coloca sob pontos de vistas pragmáticos, pois reflete sobre as
condições culturais e políticas do pluralismo de convicções axiológicas, sob as quais a
teoria da justiça deveria encontrar ressonância no atual público dos cidadãos”.

3- Quanto às relações entre o público e o privado

Aqui, a crítica é direcionada para o enfraquecimento do Estado Democrático de


Legitimação, já que um dos fundamentos de sustentação da concepção de Justiça de
Rawls é a prevalência, a prioridade dos direitos básicos em face da autonomia pública.

Para justificar tal colocação, necessário é conhecer a dicotomia entre o


reconhecimento das liberdades postas pelas correntes liberais, os quais
guarnecem prima facie a liberdade de crença e de consciência, a proteção da vida, a
liberdade pessoal e privada, ou seja, o núcleo de direito privado subjetivo; e, pelos
republicanos, cuja visão mais tradicional privilegia os direitos de participação e de
comunicação política possibilitando a autodeterminação dos cidadãos. [2]

Considerações finais: A concepção de justiça distributiva permeia todo o estudo de


Rawls, isto é, como promover a justiça social com a distribuição de riqueza, de renda,
de poder e de oportunidades de acesso a todos os indivíduos de uma sociedade
ordenada e justa, pautadas em princípios capazes de assegurar direitos fundamentais
e impor deveres.

Tais princípios da justiça (liberdade e diferença) foram construídos a partir de um


contrato hipotético, construído numa posição original de igualdade, acobertado sob o
véu da ignorância, afastando a concepção utilitarista do contrato, pois em não
considerar a distinção entre os membros estaria seu equívoco e, como consequências
não trocariam os direitos e liberdades fundamentais por nenhuma vantagem
econômica, a não ser que, tais desigualdades sócias e econômicas, fossem para
contribuir para o benefício dos menos favorecidos.

E é nesse cenário que surge sua teoria, ou seja, no exato instante da criação da ideia
de justiça, afastando o Estado utilitarista e impondo limites ao individualismo do
homem.

As críticas sobre sua obra surgem devido, quem sabe, a uma incompreensão
metodológica de seu pensamento, não retirando a importância de seu ensinamento
como fonte de reflexão frente aos episódios ocorridos atualmente (corrupção,
concentração de poder, má distribuição de renda, fome, discriminação etc) no mundo
tido como ‘moderno’. (Texto de Giácomo Tenório Farias, in: ambitojuridico.com.br)

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