Você está na página 1de 10

Univel Centro Universitário

Bruna Kaory Kage, Danieli Milke, Gean Amaral,Emily Arnuti dos


Santos, e Emily Julia Cruz

JOHN RAWLS E JÜRGEN HABERMAS


Direito e Justiça Social

CASCAVEL – PR
2020
2

INTRODUÇÃO

Ao longo do texto, serão abordados questões sobre a aplicabilidade das


teorias de direito e justiça social por John Rawls e Jürgen Habermas e a contribuição
deles para a recuperação da dimensão moral da democracia liberal e que possa
ajudar a crise de legitimidade enfrentada pelo Estado Moderno.

Será debatido sobre as concepções de justiça de Rawls e Habermas dando


destaque a discussão estabelecida entre os dois sobre o assunto. John Rawls e a
justiça como equidade e justiça na política. Jürgen Habermas e seu modelo
discursivo de democracia e natureza dupla de direito.

John Rawls se dedica a aplicabilidade de uma justiça distributiva e o modo de


conciliar noções de liberdade e igualdade dentro da democracia com um sistema
socioeconômico bem formulado e para tanto, propôs uma teoria de justiça em
resposta ao utilitarismo clássico.

Ambos discordam e deixam explícitos as maneiras distintas de justificar os


sistemas de direitos. Entretanto, tentam elaborar ideais para com as sociedades
modernas, na qual vivenciamos.

O trabalho seguinte tem referência a obra de John Rawls, que aborda o direito
e a justiça social. E assim Habermas, faz o seu posicionamento de opinião. Os
projetos de Rawls e Habermas partem de um pressuposto de que o pluralismo
cultural é uma característica central das sociedades modernas. Rawls busca manter
doutrinas religiosas, metafísicas, e morais intocáveis para se basear exclusivamente
na filosofia política autossustentável.

Já Habermas, por meio da teoria da ação comunicativa, abarcam uma série


de elementos que superam a filosofia política, tornando-a uma doutrina abrangente.
Buscando na filosofia um parâmetro para a compreensão da racionalização do
mundo moderno.

Os estudos de Rawls e Habermas estão pautados em um dos principais


problemas relacionados as democracias modernas, questão da produção de
consensos entre cidadãos autônomos, que são necessários para a vida política
democrática.
3

JOHN RAWLS

John Rawls representou um grande avanço na filosofia política moderna


quando defendeu a ideia da justiça como equidade. O autor apresentou uma visão
política de justiça para as sociedades democráticas, iniciando através de uma
concepção filosófica da democracia constitucional. Buscando apresentar um objetivo
claro das principais características estruturais de justiça encontrada na visão
contratualista, sendo a justiça como equidade (FRANCISQUINI, 2013, p. 16).

O autor parte da ideia kantiana, onde o princípio no qual as pessoas são fins
em si mesmas, sendo a última unidade de preocupação moral. Já na ideia rawlsiana
a sociedade democrática é aquela em que as instituições sociais, políticas e
econômicas lidam com os cidadãos de maneira igualitária oferecendo a todos seus
direitos, liberdade e oportunidade necessária para alcançar seus objetivos.

Rawls busca adequar a sua concepção de justiça em três pontos: liberdade,


igualdade e fraternidade. Propondo que uma sociedade seria bem-ordenada se
fosse regulada por um parecer público de justiça sendo os princípios aceitos como
razoáveis por todos, assim a sociedade se regulará por si mesma. Através desse
entendimento o objeto primário da justiça seria a estrutura básica da sociedade.

Na justiça como equidade os cidadãos que se encontram em uma sociedade


bem-ordenada partilham o dever de ofertar, uns aos outros, justiça, da forma como
exigem os arranjos sociais. Já o poder político é sempre aplicado pelo Estado e pelo
seu instrumento de execução, porém em um regime constitucional, o poder político é
ao mesmo tempo o poder de cidadãos livre e igualitário. Sendo que as questões
legislativas devem ser definidas por valores aceitáveis.

A justiça como equidade se associa à teoria democrática, através de seus


princípios: (a) deliberam aos indivíduos um direito igual no que diz respeito à
participação nas decisões políticas; (b) dirigem-se aos cidadãos como pessoas
iguais e morais livres, sendo que seu conteúdo é estruturado por este entender
público; (c) destinam-se a auxiliar para a direção da argumentação e o julgamento
público através dos membros de uma sociedade democrática no exercer de seus
direitos políticos.
4

Por fim Rawls destaca que a justiça como equidade é uma excelente
concepção de justiça na qual os cidadãos, a partir de seu juízo público, deveriam
aderir e defender no fórum político público (FRANCISQUINI, 2013, p. 16).
5

JÜRGEN HABERMAS

Jürgen Habermas é um filósofo e sociólogo alemão, vinculado á teoria critica


e ao pragmatismo contemporâneo, representante da ‘’segunda geração’’ da Escola
de Frankfurt. Seus estudos são centrados a ação comunicativa como uma forma a
entender a ética e a política. Habermas possui um vasto legado de ideias e teorias,
entre elas podemos citar: a teoria da ação comunicativa, a razão comunicativa, e
esfera pública. No presente artigo iremos discutir sobre as ideias de justiça e de
direito para o sociólogo e filosofo Jürgen Habermas.

Justiça para Habermas

De acordo com Habermas (p.401) uma norma só é justa quando todos


podem querer que ela seja seguida por qualquer pessoa em situações semelhantes.

Para Habermas a ideia só é justa se puder ser universal, e não qualquer ideia
deliberada. Os procedimentos jurídicos implicam em valores como igualdade e não
coerção fazendo com que as regras sejam frutos de deliberações buscando sua
base de legitimação.

Questões de justiça referem-se a pretensões contestadas em


conflitos interpessoais, que nós podemos julgar imparcialmente a
partir de normas válidas. Essas normas, por sua vez, têm que passar
por um teste de generalização que examina o que é igualmente bom
para todos. Assim como ‘verdadeiro’ é predicado para a validade de
proposições assertóricas, ‘justo’ é um predicado para a validade das
proposições normativas gerais que se expressam por mandamentos
morais. Por isso, a justiça não é um valor entre outros valores. Eles se
exprimem quais bens determinadas pessoas ou coletividades
ambicionam ou preferem em determinadas circunstâncias. Somente
na perspectiva delas os valores podem ser trazidos para uma ordem
transitiva. Por conseguinte, a pretensão de validade da justiça é
absoluta, como a dos valores: mandamentos morais pretendem
validade para todos e cada um em particular (HABERMAS, Direito e
democracia, I, p.193).

A justiça, para Habermas, exige participação deliberativa de todos


interessados garantindo adesão de todos envolvidos para que sua validade seja
6

confirmada. É impossível uma substancia moral firme e unilateral em sociedades de


maior complexidade, a justiça age da mesma maneira por isso é necessário abri-la as
decisões do dialogo. Por isso, a justiça não depende somente do Estado, mesmo que
ele seja a expressão do poder comunicativo enquanto poder administrativo
consolidando as leis. A justiça envolve métodos intersubjetivos, sendo assim, a
mesma depende do partilhamento social e não somente de uma racionalidade única.
É importante também que que haja formas democráticas para interação social que
garanta direitos fundamentais.

Deste modo, os conflitos sociais são resolvidos a partir do escoamento de


argumentação moral do Estado, não havendo sujeito universal que detenha as
verdades sociais. A justiça esta ligada com a fala, sendo assim, um processo social
em construção, é fundada a partir do mundo da vida, o qual é considerado um
consenso superior e anterior ao ato da fala.

Ação Comunicativa

Habermas rejeita a falta de referenciais éticos do pós-modernismo de Lyotard,


considerando os ideais de justiça e democracia propostos pelo iluminismo
apanhados para a legitimação do capitalismo industrial europeu sob o liberalismo.
Para ele o resgate de tais ideias seria possível se aplicados a uma comunidade ideal
mediante ao esforço cooperativo de entendimento, a ação comunicativa, superando
assim, os limites impostos pelo trabalho e poder.

O agir comunicativo distingue-se, portanto, do agir estratégico pelo


fato de uma coordenação de ações bem sucedida não se apoiar
sobre a racionalidade orientada para fins dos planos de ação
sempre individuais, mas sobre a força racionalmente motivadora de
realizações de entendimento, ou seja, sobre uma racionalidade que
se manifesta nas condições em que um consenso pode ser
alcançado de um modo comunicativo. (HABERMAS, 2004 p.85)

Para Habermas, a ação comunicativa é sim possível, sendo necessário o uso


da razão comunicativa: verdade, legitimidade, veracidade.
7

O Direito para Habermas

O Direito, para Habermas, é um meio de produção do consenso racional nas


sociedades complexas, sendo assim, guardião e aplicador da ética em uma
sociedade democrática. A ação comunicativa não produz por si só normas jurídicas
e sociais, é na verdade a matriz de validação dos valores juridicamente tutelados.

Não somente legisladores e jurisprudentes fazem o Direito, formadores de


opiniões e cada interlocutor na sociedade fundamentam o processo decisório em
determinada sociedade. Desta maneira, a ação comunicativa transmuta-se em
poder em sociedades democráticas.

A teoria de Habermas contrapõe-se a teorias positivistas e jus naturalistas em


que o Direito é um sistema independente com sua própria logica, para ele os fatores
sociais são de extrema importância, junto dos fatores de comunicação no processo e
sustento do ordenamento jurídico. Sendo assim, tanto a teoria critica quanto as
ciências sociais, incluído o direito, devem insistir em adotar um dever-ser orientador.
8

QUESTÕES

1) Com base em seu conhecimento adquirido sobre o filósofo americano


John Rawls sobre teoria da justiça, descreva a sua concepção de "véu da
ignorância" na teoria rawlsiana.

R: O véu da ignorância seria a privação do conhecimento de todos sobre suas


próprias circunstâncias particulares, garantindo assim imparcialidade. As informações
sobre o lugar na sociedade que cada um recebeu na loteria natural da vida são
retiradas, como classe, status, cor, gênero, preferências, capacidades, projetos de
vida, o que acarretaria mais comprometimento dos indivíduos a optarem por princípios
que favoreçam suas condições. Considera que o fato de que as pessoas em
condições iguais, não puxariam a sardinha para o seu lado, ou seja, se soubesse que
era rico não defenderia menos impostos ao mais pobres, e caso fosse pobre iria
propor o contrário certamente.

2) Sobre o filósofo e sociólogo Jurgen Habermas e sua teoria sobre


justiça e democracia social, assinale as assertivas.

I ) A justiça para ele, daria se pela dedicação à questão da aplicabilidade de uma


justiça distributiva e como conciliar as noções de liberdade e igualdades dentro de
uma democracia, propondo uma teoria da justiça em respostas ao ‘’utilitarismo
clássico’’.

II ) O indivíduo persegue os seus interesses individuais, organizando um estratégia


baseada nas consequências de suas ações, nesse contexto, vale influenciar os
outros indivíduos, por meio de armas, bens, ameaças e seduções.(“ação
estratégica”)

III ) Se atém a base da teoria do ‘‘agir comunicativo’’, que se refere na interação dos
indivíduos através do diálogo, nesse âmbito, os atores procuram harmonizar seus
interesses e planos de ação, através de um processo de discussão, buscando um
consenso mútuo.

IV ) Busca o enfoque em uma ideia de justiça caracterizada por uma distribuição


justa dos bens de uma sociedade democrática, o que seria um elemento
exterminador de injustiças dentre as relações humanas, particular, institucional,
garantindo a justiça para todos os seus membros.
A)III, apenas
B) IV, II
C) IV, I
D) II, III

R: D
9

CONCLUSÃO

O estudo de Rawls é de um todo permeado pela concepção de justiça


distributiva, ou seja, a possibilidade de impulsionar a justiça social junto a
distribuição de riqueza, poder, renda e de ensejo de acesso à todos os indivíduos
que constituem uma sociedade justa e ordenada, onde tais direitos fundamentais, e
a imposição de deveres são assegurados pelos princípios pautados pela justiça.
Estes princípios traçados pela justiça, sendo eles liberdade e diferença, foram
constituídos por meio de um hipotético contrato, criado com sua posição original
baseada na igualdade, confidenciado pela ignorância, afastando-se da concepção
utilitarista sob o contrato, pois seu equívoco estaria em não considerar a distinção
entre os membros, resultando a negar quaisquer vantagens econômicas em troca de
direitos e liberdades, contanto que, ao aceitar tais desigualdades sociais e
econômicas possuíssem o intuito de contribuição para com os menos favorecidos.
E com este pensamento surge a teoria de Rawls, isto é, no instante em que a
ideia de justiça foi criada, apartando-se do Estado Utilitarista e buscando impor
limites ao individualismo do ser humano.
Devido a uma incompreensão metodológica de seus pensamentos, surgiram
críticas sobre a sua obra apresentadas na obra de Habermas, contudo, a
importância de seus ensinamentos não foram deixados de lado, considerados como
fonte de reflexão perante aos acontecimentos ocorridos atualmente.
10

REFERÊNCIAS

BITTAR, Eduardo. Curso de Filosofia Política. 3ª Ed. C. B. Atlas.

CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. Habermas e o direito brasileiro. 2.ed. Rio de


Janeiro: Editora Lumen Juris. 2008.

FRANCISQUINI, Renato. Democracia, justiça e o uso público da razão:


reflexões sobre o debate entre Rawls e Habermas. REVISTA DE CIÊNCIA
POLÍTICA, 2013, P. 16.

FURLAN, Fabiano Ferreira. O debate entre John Rawls e Jürgen Habermas


sobre a concepção de justiça. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2012.

GARGARELLA, Roberto. As teorias da justiça depois de Rawls: um breve


manual de filosofia política. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.

HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre a facticidade e validade. Vol. 1.


Tradução de Flávio Beno Seibeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 1997.
Âmbito Jurídico.

Habermas e o Direito. Ensaios e Notas. Agosto, 3 de 2016. Disponivel em:


https://ensaiosenotas.com/2016/08/03/habermas-e-o-direito/. Acesso em 03 de Julho
de 2020.

PORFÍRIO, Francisco. Jürgen Habermas. Brasil Escola. Disponivel em:


https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/jurgen-habermas.htm. Acesso em 03 de
julho de 2020.

Você também pode gostar