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CAP.

I: O homem, a sociedade e
o Direito

Autor: Ernesto 1
Área: Línguas
CAP. I: O homem, a sociedade e o Direito 2

I. A problemática da ordem social


O Direito como Processo de Adaptação Social
- As necessidades de paz, ordem e bem comum levam a sociedade à criação de um organismo responsável pela
instrumentalização e regência desses valores.
Ao Direito é conferida esta importante missão. A sua faixa ontológica localiza-se no mundo da cultura, pois representa
elaboração humana.
O Direito não corresponde às necessidades individuais, mas a uma carência da coletividade.
A sua existência exige uma equação social.
Só se tem direito relativamente a alguém. O homem que vive fora da sociedade vive fora do império das leis. O homem
só, não possui direitos nem deveres.
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Para o homem e para a sociedade, o Direito não constitui um fim, apenas um meio para tornar possível a convivência e o
progresso social. Apesar de possuir um substrato axiológico permanente, que reflete a estabilidade da natureza humana, o
Direito é um engenho à mercê da sociedade e deve ter a sua direção de acordo com os rumos sociais.
As instituições jurídicas são inventos humanos que sofrem variações no tempo e no espaço. Como processo de
adaptação social, o Direito deve estar sempre se refazendo, em face da mobilidade social.
A necessidade de ordem, paz, segurança, justiça, que o Direito visa a atender, exige procedimentos sempre novos.
Se o Direito se envelhece, deixa de ser um processo de adaptação, pois passa a não
exercer a função para a qual foi criado.
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Não basta, portanto, o ser do Direito na sociedade, é indispensável o ser actuante, o ser actualizado.
Os processos de adaptação devem-se renovar, pois somente assim o Direito será um instrumento eficaz na garantia do
equilíbrio e da harmonia social.
Este processo de adaptação externa da sociedade compõe-se de normas jurídicas, que são as células do Direito, modelos
de comportamento social, que fixam limites à liberdade do homem, mediante imposição de condutas.
Na sua missão de proporcionar bem-estar, a fim de que os homens possam livremente atingir os ideais de vida e
desenvolver o seu potencial para o bem, o Direito não deve absorver todos os atos e manifestações humanas, pois, não é o
único responsável pelo sucesso das relações sociais.
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A Moral, a Religião, as Regras de Trato Social, igualmente zelam pela solidariedade e bem estar entre os homens. Cada
qual, porém, em sua faixa própria. A do Direito é regrar a conduta social, com vista à segurança e justiça. A sua
intervenção no comportamento social deve ocorrer, unicamente, em função daqueles valores. Somente os factos sociais
mais importantes para o convívio social devem ser disciplinados. O Direito, portanto, não visa ao aperfeiçoamento do
homem - esta meta pertence à Moral; não pretende preparar o ser humano para a conquista de uma vida
supraterrena, ligada a Deus - valor perseguido pela Religião; não se preocupa em incentivar a cortesia, o
cavalheirismo ou as normas de etiqueta - âmbito específico das Regras de Trato Social. Se o Direito regulamentasse
todos os actos sociais, o homem perderia a iniciativa, a sua liberdade seria utópica e passaria a viver como
acrômato
I.1. A natureza social do homem 6

A própria constituição física do ser humano revela que ele foi programado para conviver e se completar com outro ser de
sua espécie. A prole, decorrência natural da união, passa a atuar como fator de organização e estabilidade do núcleo
familiar.
O pequeno grupo, formado não apenas pelo interesse material, mas pelos sentimentos de afeto, tende a propagar-se em
cadeia, com a formação de outros pequenos núcleos, até se chegar à constituição de um grande grupo social.
É na sociedade, não fora dela, que o homem encontra o complemento ideal ao desenvolvimento de suas faculdades, de
todas as potências que carrega em si.
Por não conseguir a auto-realização, concentra os seus esforços na construção da sociedade, seu habitat natural e que
representa o grande empenho do homem para adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida.
I.2. A necessidade da existência do Direito na sociedade 7

A Ação do Direito –
O Direito está em função da vida social.
A sua finalidade é a de favorecer o amplo relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é uma das bases
do progresso da sociedade.
Ao separar o lícito do ilícito, segundo valores de convivência que a própria sociedade elege, o ordenamento jurídico
torna possíveis os nexos de cooperação, e disciplina a competição, estabelecendo as limitações necessárias ao
equilíbrio e à justiça nas relações.
Em relação ao conflito, a ação do Direito se opera em duplo sentido. De um lado, preventivamente, ao evitar
desinteligências quanto aos direitos que cada parte julga ser portadora.
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Isto se faz mediante a exata definição do Direito, que deve ter na clareza, simplicidade e concisão de suas regras,
algumas de suas qualidades.
De outro lado, diante do conflito concreto, o Direito apresenta solução de acordo com a natureza do caso, seja para
definir o titular do direito, determinar a restauração da situação anterior ou aplicar penalidades de diferentes
tipos.
O silogismo da sociabilidade expressa os elos que vinculam o homem, a sociedade e o Direito: Ubi homo, ibi societas;
ubi societas, ibi jus; ergo, Ubi homo, ibi jus (onde há o homem, aí ha sociedade; onde ha sociedade, aí há o Direito;
logo, onde há o homem, aí há o Direito).
Cenário de lutas, alegrias e sofrimentos do homem, a sociedade não é simples aglomeração de pessoas. Ela se faz por um
amplo relacionamento humano, que gera a amizade, a colaboração, o amor, mas que promove, igualmente, a discórdia, a
intolerância, as desavenças.
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Vivendo em ambiente comum, possuindo idênticos instintos e necessidades, é natural o aparecimento de conflitos
sociais, que vão reclamar soluções.
Os litígios surgidos criam para o homem as necessidades de segurança e de justiça.
Mais um desafio lhe é lançado: a adaptação das condutas humanas ao bem comum.
Como as necessidades coletivas tendem a satisfazer-se, ele aceita o desafio e lança-se ao estudo de fórmulas e meios,
capazes de prevenirem os problemas, de preservarem os homens, de estabelecerem paz e harmonia no meio social. O
Direito se manifesta, assim, como um corolário inafastável da sociedade.
A sociedade sem o Direito não resistiria, seria anárquica, teria o seu fim. O Direito é a grande coluna que sustenta a
sociedade. Criado pelo homem, para corrigir a sua imperfeição, o Direito representa um grande esforço, para adaptar o
mundo exterior às suas necessidades de vida.
I.3. As diversas ordens sociais normativas 10

O Direito não é o único instrumento responsável pela harmonia da vida social. A Moral, Religião e Regras de Trato
Social são outros processos normativos que condicionam a vivência do homem na
sociedade.
De todos, porém, o Direito que possui maior pretensão de efectividade, pois não se limita a descrever os modelos de
conduta social, simplesmente sugerindo ou aconselhando. A coação - força a serviço do Direito - é um de seus
elementos e inexistente nos setores da Moral, Regras de Trato Social e Religião.
Para que a sociedade ofereça um ambiente incentivador ao relacionamento entre os homens, é fundamental a participação
e colaboração desses diversos instrumentos de controle social.
Se os contactos sociais se fizessem exclusivamente sob os influxos dos mandamentos jurídicos, a socialização não se faria
por vocação, mas sob a influência dos valores de existência
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A sociedade rege o seu comportamento tanto por regras de dever ser, como por hábitos/usos sociais.
Existem numa sociedade várias ordens normativas, como:
Ordem moral – orienta a sociedade para a realização do bem. É uma ordem intra-individual (do sujeito para
consigo próprio) e regula aspectos como o decoro (honestidade, dignidade, decência, …)
Ordem do trato social – são os chamados convencionalismos sociais, dos quais são exemplo as normas da boa
educação ou da cortesia. É uma ordem intersubjectiva e as sanções que dela podem resultar são baseadas na
reprovação social.
Ordem religiosa - a Religião é um sistema de princípios e preceitos, que visa a realização de um valor
supraterreno: a divindade. A sua preocupação fundamental é a de orientar os homens na busca e conquista da
felicidade eterna;
Ordem jurídica – é constituída por regras jurídicas e é, também, uma ordem intersubjectiva. Trata-se da mais
importante ordem normativa de ordem social, sendo a única cujas regras dispõem de coercibilidade –
susceptibilidade de impor pela força o cumprimento de uma regra jurídica ou de uma sansão.
DIREITO MORAL TRATO SOCIAL PRECEITOS RELIGIOSOS

Bilateral Unilateral Unilaterais Unilaterais

Autônoma Prevalentemente Autônomos


heterônomo com Heterônomas
ressalvas à Ética

Exterior Interior Exteriores Interiores

Coercível Incoercível Incoercíveis Incoercíveis

Sanção Superior à Moral Sanção difusa Geralmente é prefixada


e Social Sanção difusa
CONCEITOS GERAIS SOBRE O DIREITO 13

Perspectivas de análise
Para o estudo do direito podem ser consideradas duas perspectivas distintas: perspectiva dinâmica e perspectiva
estática.
A perspectiva dinâmica vê o direito como um conjunto de consequências ou efeitos jurídicos.
São para esta essenciais conceitos como facto jurídico, regra jurídica e consequência/efeito jurídico.
o Facto jurídico - facto que tem relevância jurídica (factos abrangidos por regras jurídicas).
Factos jurídicos diferem de “factos brutos” pela sua relevância para o direito.
São factos jurídicos todos os factos jurídicos que mostram ser resultados da acção humana. São, então, factos
voluntários juridicamente relevantes. (ex: decisão de um tribunal)
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São, por sua vez, factos jurídicos stricto sensu todos os factos involuntários e não humanos juridicamente
relevantes. (ex: catástrofes naturais; morte)
A Regra jurídica – significado de uma fonte do direto. São estas que determinam a relevância jurídica dos factos,
sendo então através da sua análise que podemos distinguir um “facto bruto” de um “facto jurídico”. Não há direito
sem regras e as regras são o que define uma consequência jurídica.
A Consequência/efeito jurídico – resultado da aplicação de uma regra jurídica a um facto jurídico.
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EXEMPLO: “A emprestou 1000 kz a B” – é um facto jurídico porque se integra na previsão de uma regra jurídica.
A aplicação dessa regra define a consequência, sendo essa a de que B é obrigado a restituir A na quantia emprestada.
A perspectiva estática, por contraste, considera o direito em si mesmo, independentemente dos efeitos jurídicos.
Baseia-se, assim, no estudo da regra e não no facto de esta ter ou não sido aplicada e de qual a consequência que
essa aplicação originou.
Esta é a perspectiva adoptada em Introdução ao Estudo do Direito.
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A palavra “direito” pode ser aplicada objectiva ou subjectivamente:


o Direito objectivo – direito em sentido jurídico. Pode ser estudado atendendo a várias disciplinas jurídicas.
o Direito subjectivo – são consequências jurídicas, dado que derivam de regras jurídicas. Verifica-se a posição de um
sujeito (titular do direito) quanto a uma determinada circunstância. “O direito do credor”; “o direito do proprietário”
A perspectiva adoptada em Introdução ao Estudo do Direito é a do direito objectivo, uma vez que o direito subjectivo se
relaciona com consequências jurídicas.
CONCEITO DE DIREITO 17

O Direito é uma palavra que provém do Latim ‘ directus”, que significa dirigir, governar.
Para Miguel Reale, Direito ‘ aos olhos do homem comum é lei e ordem; é conjunto de regras obrigatórias que garantem a
convivência na sociedade, graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros”.
DIREITO é sistema de limites, ao qual nos submetemos, para que nos seja possível a vida em sociedade.
O Direito é um conjunto de normas jurídicas que regulam o comportamento do homem numa determinada sociedade
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O Direito organiza a sociedade e determina o seu modo de ser e funcionar.


Estabelece regras ou procedimentos de conduto.
Nesta perspectiva, Santos Justo o define como sendo um conjunto de normas jurídicas necessárias/imprescindíveis à
convivência do Homem em sociedade, fundadas na ideia de justiça e que na coercibilidade encontram uma
importante condição de eficácia.
Direito: Conjunto de regras impostas coercitivamente pelo Estado para regular a vida em sociedade. É uma Ciência
Social que estuda o fenômeno jurídico buscando alcançar a justiça. Está no DEVER-SER do indivíduo.
I.6. ORDEM JURÍDICA 19

Conceito de Ordem Jurídica


Ordem Jurídica é expressão que coloca em destaque uma das qualidades essenciais do Direito Positivo, que é a de
agrupar normas que se relacionam entre si e formam um todo harmônico e coerente de preceitos.
A estas qualidades José Afonso da Silva se refere como “princípio da coerência e harmonia das normas do
ordenamento jurídico” e define este último como “reunião de normas vinculadas entre si por uma fundamentação
unitária”.
Também a ordem jurídica é entendida como conjunto de normas imperativo-atributivas que numa certa época e
num determinado país a autoridade politica considera obrigatórias;
Não obstante a ordem jurídica seja um corpo normativo, quando ocorre a incidência de uma norma sobre um facto
social, ali se encontra presente não apenas a norma considerada mas a ordem jurídica, pois as normas, apreciadas
isoladamente, não possuem vida.
A idéia de ordem pressupõe uma pluralidade de elementos que, por sua adequada posição ou função, compõem uma
unidade de fim.
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A ordem jurídica, que é o sistema de legalidade do Estado forma-se pela totalidade das normas vigentes, que se
localizam em diversas fontes e se revelam a partir da Constituição, a responsável pelas regras mais gerais e básicas
à organização social.
As demais formas de expressão do Direito (leis, decretos, costumes) devem estar ajustadas entre si e conjugadas àquela
Lei Maior.
A pluralidade de elementos que o Direito oferece compõe-se de normas jurídicas que não se acham justapostas, mas que
se entrelaçam em uma conexão harmônica.
A formação de uma ordem jurídica exige, pois, uma coerência lógica nos comandos jurídicos.
Os conflitos entre as regras do Direito, porventura revelados, deverão ser solucionados mediante a interpretação
sistemática.
O aplicador do Direito, recorrendo aos subsídios da hermenêutica jurídica, deverá redefinir o Direito Positivo como um
todo lógico, como, unidade de fim capaz de irradiar segurança e justiça.
Características do Direito positivo 21

1. Necessidade: resulta da natureza social do homem. A sociedade, onde há convivência, postula-se um conjunto de
normas jurídicas que disciplinam o seu comportamento: ubi societas, ibi ius. De contrário, a sociedade dissolver-se-á, pois
nem a anarquia é sustentável duradouramente. O homem aspira à ordem e nem o despotismo é tolerável por muito tempo.
2. alteridade: o direito não disciplina a conduta do homem isolado, mas enquanto vive em sociedade, comunicando,
produzindo e consumindo bens, numa palavra, convivendo;
3. imperatividade: tradicionalmente tem-se entendido que as normas jurídicas , porque constituem normas éticas, são
imperativas. A sua essência é um dever-ser a que devemos obedecer incondicionalmente, sem s possibilidade de
escolhermos entre o seu cumprimento e a sua inobservância. Dir-se-á que o Direito orienta as nossas condutas
independentemente da nossa vontade, porque só assim cumprirá a sua função ordenadora, indispensável à subsistência da
sociedade.
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4. coercibilidade: é a susceptibilidade de aplicação pela força das sanções prescritas pelo direito. A coercibilidade é a
possibilidade de se aplicar uma determinada sanção a quem violar uma norma jurídica.
A coação e a coercibilidade constituem uma importante condição de eficácia das normas jurídicas.
5. exterioridade: as normas jurídicas disciplinam comportamentos que se manifestam exteriormente. É certo que o
direito também penetra no recinto da consciência para determinar os motivos que explicam as condutas sociais. Todavia,
o ponto de partida são os actos exteriores: mera intensão, sem manifestação externa, não provoca direito;
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6. Estatalidade: alguns autores como Kelsen consideram o Direito e o Estado como dois aspectos distintos, mas
inseparáveis ( o Estado é o direito como atividade normativa; o direito é o Estado como situação fixada pelas normas ) e
reduz a criação e aplicação das normas jurídicas ao Estado. O pluralismo jurídico sustenta, pelo contrario, que nem todo o
direito é criado e aplicado pelos órgãos estatais. Porém, o Estado não tem o monopólio da criação do direito nem a
exclusividade da sua aplicação. Há, efetivamente norma jurídicas de outras proveniências: destacamos o Direito
Internacional Público, cujas normas têm vigência efectiva na sociedade internacional; o direito consuetudinário, os
direitos editados pelas autarquias e regiões autônomas e pelas diversas instituições religiosas, culturais, profissionais,
desportivas etc.
Em suma, caracteriza-se o direito positivo, como parte nuclear da ordem jurídica, sendo um conjunto de normas
necessárias à convivência humana que inspiram e fundamentam na ideia de justiça e têm na coercibilidade uma importante
condição de eficácia.
ORDEM JURIDICA: Direitos subjectivos 24
1. Direitos subjectivos privados

NOÇÃO:
O direito subjectivo é a faculdade ou o poder, reconhecido pela ordem jurídica a uma pessoa, de exigir ou prtender de
outra um determinado comportamento positivo ( facere) ou negativo ( non facere) ou de, por acto da sua livre
vontade, só de per si ou integrado por um acto da autoridade pública 9 decisão judicial), produzir determinados
efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a outra pessoa ( adversário ou contraparte)
Esta definição revela que a situação da pessoa, contra quem o titular do direito dirige o seu poder jurídico, é diferente:
se se trata de exigir ou pretender, o adversário tem um dever jurídico; se o poder produz um efeito jurídico, está numa
situação de sujeição.
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Na primeira hipótese ( poder de exigir ou pretender) o direito subjectivo consiste no poder ou faculdade de domínio
sobre os bens materiais ( ex: o direito de propriedade sobre um terreno) e imateriais ( ex: o direito de propriedade
literária0; e no poder de exigir uma determinada conduta, dita prestação, que tanto pode ser de facto ( ex: realizar um
certo serviço) como de coisa ( entregar dinheiro). O poder de domínio é um direito absoluto; o de exigir uma prestação
( direito de crédito) é relativo. Ambos são direitos subjectivos em sentido estrito.
Ao poder de, mediante declaração unilateral ( ou em alguns casos, através de decisão judicial) produzir efeitos jurídicos
na esfera jurídica alheia chama-se direito potestativo.
MODALIDADES: 26
Direito subjectivo em sentido estrito ou propriamente dito

O dirieito subjectivo traduz a faculdade ou poder, que a ordem jurídica reconhece a uma pessoa, de exigir ou pretender de
outra um determinado comportamento que pode ser positivo ( facere) ou negativo ( non facere). Contrapõe-se lhe um
dever jurídico.
Fala-se da faculdade ou poder de exigir quando, não obtendo a satisfação do seu direito, o titular pode solicitar ao tribunal
que aplique determinadas medidas que lhe proporcionem a mesma ou uma vantagem equivalente ou outras sanções que
impliquem um sacrifício ao adversário.
Estaremos perante a faculdade ou poder de pretender, quando o titular do direito subjectivo não pode reagir contra o
adversário que não cumpra com o seu dever jurídico. Nestes casos fala-se tambem de direito subjectivo de ¨potencial
reduzido”.
DIREITO POTESTATIVO 27

É um direito que se traduz na faculdade ou poder de, por acto livre de vontade, só de per si ou integrado por uma
decisão judicial, produzir efeitos jurídicos que inelutavelmente se impõem à contraparte. Corresponde-lhe a sujeição
do adversário, ou seja, a necessidade de suportar as consequências do exercício de tais direitos.
Consoante o efeito jurídico que tendem a produzir, os direitos potestativos podem ser:
1. constitutivos: cria uma nova relação jurídica. Sucede por exemplo quando o proprietário de um terreno encravado
( prédio dominante) exerce o seu direito potestativo de exigir a constituição duma servidão de passagem através do
terreno ( prédio serviente) que se interpõe entre aquele a a via publica. O exercício desse direito produz uma relação
jurídica nova: uma servidão de passagem. ( outros exemplos : art. 1550º ; 1543º 1370º, 1380º, 1409º, 1535º e 1555º
CC);
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2. Modificativos: modifica-se uma relação jurídica pré-existente. Sucede por exemplo quando um dos cônjuges, em
perigo de perder o que é seu pela má administração do outro, exerce o seu direito potestativo de pedir a simples separação
de bens. A relação matrimonial mantem-se, mas o regime de bens que existia ( comunhão de adquiridos) modifica-se:
passa a ser o da separação de bens. ( art. 54º CC)
3. Extintivos: extingue-se uma relação jurídica anterior. Sucede quando um dos cônjuges requer o divórcio invocando a a
separação de facto por um ano, sem interrupção: a relação conjugal dissolve-se. ( art. 78º, 79º, 80º CC).
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Porem, não se pode negar a especificidade que separa os direitos subjectivos em sentido estrito e os direitos potestatuvos:
enquanto os direitos subjectivos em sentido estrito se traduzem, no lado activo, pela faculdade ou poder de exigir um
comportamento ( activo ou passivo) a que corresponde, no lado passivo, um dever jurídico 9 que não retira ao sujeito
( passivo) a possibilidade de não cumprir, expondo-se, embora, a sofrer as sanções que a lei comina); os direitos
potestaivos implicam, respectivamente, um poder de agir e uma situação de sujeição 9 o sujeito passivo tem
necessariamente de suportar as consequências do seu exercicio)
CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS SUBJECTIVOS 30

1. Inatos e não inatos: são inatos os direitos que nascem com a pessoa que, por isso, não precisa de os adquirir ( ex: o
direito á vida, à integridade física, á liberdade, à inviolabilidade pessoal, à identificação pessoal).
Não inatos são os restantes direitos subjectivos que se adquirem não já com o nascimento, mas posteriormente. Embora os
direitos de personalidade sejam, em regra, inatos, são não inatos.
2. essenciais e não essenciais: são essenciais os direitos indissoluvelmente ligados á pessoa, como os direitos de
personalidade.
Não essenciais são os direitos concebíveis sem a pessoa, como por exemplo, os direitos de credito, direitos reais e
sucessórios;
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3. Pessoais e patrimoniais: são pessoais os direitos irredutíveis a valor pecuniário, como os direitos de personalidade,
alguns direitos de família ( art. 1877º ss CC, 1927º ss CC), certos direitos de credito ( art. 398º, nº 2 do CC), e alguns
direitos reais ( art. 75º CC).
São patrimoniais os direitos susceptíveis de avaliação pecuniária, como alguns direitos de família ( art. 1594º , 1681º nº 1,
1689º, 1790º , 1791º nº 1, CC) e a maioria dos direitos de credito, reais e sucessórios.
4. absolutos e relativos: os direitos absolutos outorgam ao seu titular um poder directo e imediato sobre a pessoa ( art.
1887ºCC) ou um bem corpóreo ou não corpóreo ( art. 1302º, 1303º CC).
São relativos os direitos que versam diretamente sobre a conduta duma pessoa e só indirectamente ( e nem sempre) sobre
um bem ou uma coisa.
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Os direitos absolutos são direitos de exclusão; impõem à generalidade das pessoas (erga omnes) o seu respeito
e abstenção. Todas são obrigadas a respeitá-los: há uma obrigação negativa de não intervir. Pelo contrario, os
direitos relativos são direitos de colaboração; exigem a colaboração da pessoa que se obriga;
Os direitos absolutos são poderes directos e imediatos sobre uma pessoa ou coisa. Os direitos relativos são
poderes através dum comportamento.
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5. disponíveis e indisponíveis: são disponíveis os direitos que se podem desligar do seu titular, como sucede com a
generalidade dos direitos patrimoniais.
São indisponíveis os direitos intransmissíveis, como os direitos de personalidade, os direitos de família e alguns direitos
patrimoniais ( art. 1488º CC);
6. Simples e complexos: são simples os direitos que se traduzem numa pretensão e numa prestação especifica, como o
direito de crédito em que o devedor se obriga a restituir determinada quantia de dinheiro ( art. 1142º CC) ou uma coisa
certa ( art. 1129º CC).
São complexos os direitos constituídos por um feixe de possibilidades de actuação, como o direito de propriedade ( art.
1305 CC), as responsabilidades parentais ( art. 1878º CC), a tutela ( art. 1935º CC)
DIREITOS SUBJECTIVOS PÚBLICOS 34

Os direitos subjectivos públicos são os direitos que os cidadãos podem invocar contra o Estado, quer exigindo uma certa
actuação, quer impondo limites ao exercício dos seus poderes.
Constituem exemplos não só os direitos fundamentais previstos nas constituições politicas ( art. 30º, 31º,32º,33º, 35º.
36º, 37º ss da CRA), mas também os particulares direitos subjectivos que se fazem valer perante as várias funções do
Estado, seja em relação à Administração, seja perante a Jurisdição, etc.
NATUREZA: A natureza dos direitos subjectivos públicos relaciona-se intimamente com a limitação do poder politico
que ¨só pode considerar-se existente na ordem positiva desde que os cidadãos tenham direitos a que correspondam
deveres da parte do Estado”.
FIGURAS AFINS 35

1. MEROS INTERESSES JURIDICOS: são interesses tutelados pela ordem jurídica a que não correspondem direitos
subjectivos.
Ex: o interesse do automobilista na boa conservação das estradas; com o interesse na ordem das ruas, que as entidades
policiais garantem
2. FACULDADES EM SENTIDO ESTRITO: são possibilidades de agir que a ordem jurídica admite e garante sem,
todavia, constituírem direitos subjectivos.
3. DIREITOS REFLEXOS: são posições jurídicas que nos são tuteladas por efeito de especiais obrigações que oneram
os outros.
4. EXPECTATIVAS JURIDICAS: são situações em que se encontra uma pessoa que ainda não tem um direito
subjectivo, mas conta razoavelmente vir a ter.
FINS DO DIREITO 36

1. JUSTIÇA
A justiça é a vontade constante e perpétua de atribuir a cada um o seu direito ( Iustitia est constans et perpetua voluntas ius
suum cuique tribuere – Ulpianus).
A justiça surge como o constitutivo ontológico do jurídico: define e configura, como jurídica, a vida social. Por isso, o
Direito define tem por função realizar a justiça.
Legaz Y Lacamba afirmam: EL Derecho es um ensayo de realización de la justicia, aunque puede ser um ensayo
fracassado” e que ¨Derecho injusto es el Derecho fracassado em su ensayo de realizar la justicia”.
Apontam-se varias características da justiça:
a) Impessoalidade:
b) dinamismo
C) alteridade
Elementos lógicos da justiça 37

1. A PROPORCIONALIDADE : Há na justiça uma ideia de proporcionalidade. O direito positivo concretiza-


a entre os factos e as consequências, entre o que se dá e o que se recebe, o que se exige e o que se presta, entre
os delitos e as penas e na distribuição dos direitos e dos deveres correlativos;
2. A IGUALDADE: resulta da proporcionalidade, que implica que sejam igualmente tratados os casos iguais e
desigualmente o que é diferente. A organização jurídico-politica não pode tratar arbitrariamente as pessoas sob
pena de ser injusta;
3. ALTERIDADE: a justiça valora as condutas socialmente relevantes, ou seja, dirigidas aos outros com quem
nos relacionamos. Toda a pessoa possui o mesmo valor e, por isso, o respeito pela dignidade humana impõe-se
ao direito positivo.
MODALIDADES DE JUSTIÇA 38

1. COMUTATIVA ( CORRECTIVA OU SINALAGMATICA) : visa corrigir os desiquilíbrios que se verificam nas relações
contratuais e nos actos involuntários e ilícitos interpessoais. Assegura a equivalência entre prestações ou entre dano e
indemnização, atribuindo a cada um o que é seu.
2. DISTRIBUITIVA: rege a repartição dos bens comuns pelos membros da sociedade, segundo um critério de igualdade
proporcional que atende à finalidade da distribuição e à situação dos sujeitos ( mérito e necessidade). É a justiça própria das
relações de subordinação e pertence ao direito publico.
3. GERAL OU LEGAL: rege a repartição dos membros da sociedade nos encargos comuns, segundo o critério de
igualdade proporcional.
Modernamente introduziu-se o conceito de justiça social que surge ligado a preocupações no âmbito sobretudo das relações
de trabalho, para corrigir as injustiças respeitantes à remuneração salarial, `a previdência e segurança social, etc.
SEGURANÇA JURIDICA 39

Além da justiça, também a segurança jurídica constitui uma finalidade do direito.


Sendo o Direito uma ordem e uma forma de vida, tem necessariamente de contribuir para a criação duma situação geral
de paz e tranquilidade.
A segurança pode ser entendida no sentido de :
1. ordem imanente à existência e ao funcionamento do sistema jurídico. Traduz o estado de ordem e de paz que a
ordem jurídica tutela prevenindo e reprimindo os actos de agressão contra pessoas e bens. É a segurança através do direito
que garante a nossa existência pessoal e social contra ataques e perturbações;
2. certeza do direito: é a segurança que nos permite prever os efeitos jurídicos dos nossos actos e, em consequência,
planear a vida em bases razoalvente firmes. Constitui, portanto, uma condição de previsibilidade sem a qual a vida seria
uma continua surpresa e a estabilidade não existiria. Sem ela tudo seria precário.
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3. segurança perante o Estado: reflete-se na ideia de Estado de Direito, cujos órgãos devem respeitar os direitos que
integram a esfera de autonomia dos indivíduos e das sociedades menores. É tutelada pelo principio da legalidade que
limita a acção do Estado; e caucionada pela independência dos tribunais, nomeadamente, que decidirão as acções se
impugnação dos actos da Administração que lesem os direitos ou interesses legalmente protegidos dos administrados;
4. segurança social; traduz as exigências do direito ao trabalho e à libertação da necessidade e do temor; e procura
assegurar a todo o ser humano a base ,material do seu sustento. O apelo à ¨justiça social” perdeu algum sentido nas
sociedades mais desenvolvidas, mas mantem-se bem vivo nas sociedades semi ou subdesenvolvidas como expressão de
protesto contra uma ordem que, no seu conjunto, se considera injusta.
MUITO OBRIGADO PELAATENÇÃO!

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Volenti Nihil Difficili - “A quem quer, nada é difícil”

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