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INTRODUÇÃO AO DIREITO

Necessidade de regras:

 O homem é um ser ontogeneticamente inacabado, na medida em que – ao contrário do que sucede dos animais – os instintos
que (ainda) possui não são suficientes para ele se orientar na vida. Precisa de regras que o conduzam para ele se orientar na
vida (pois os seus comportamentos não são determinados essencialmente por instintos).
 São as regras que dizem ao homem o que está certo ou errado, o que é justo ou injusto, o que vale ou o que não vale.
 É onde os homens encontram os modelos de orientação para as suas condutas.
 Ordenam e organizam a convivência social/realidade social do homem (caso contrário, não consegue viver em sociedade).
 Criam igualdade de oportunidades e, assim, permite-lhes competir entre si (p.e, as crianças brincam de acordo com as regras
de jogo estabelecidas e observam estas com grande seriedade pois criam igualdade de oportunidades para ganharem o jogo).
 As regras não têm todas a mesma natureza ou importância (conforme a sua origem varia a força vinculativa com que se
impõe).
 Estas regras (normas jurídicas) nascem de instituições (o homem precisa de instituições para viver em sociedade).

Instituições: Conjuntos na realidade social que estabelecem regras de conduta/comportamento e garantem a segurança das relações
entre os homens. Dão estabilidade, orientação, regras e condicionam.

É nas instituções, com as suas normas próprias e padrões de conduta com a sua grande variedade, que o homem aprende a viver em
sociedade com os outros. Muitas vezes, as regras de convivência nem sequer são sentidas porque na consciência das pessoas já estão
Caráter normativo
completamente interiorizadas como habituais.
e normador
(norma=regra)
1ª instituição – família: o homem está inserido e começa a ser socializado (exposto ao ambiente social); direito da família designado
como direito instituicional

 Todas as relações sociais, inclusive as relações jurídicas, são relações de poder (na maioria das situações há um equilíbrio de
poder – pode também não ser assim, p.e o mundo dos negócios).

‘’O homem é um ser sociavelmente não sociável’’

 A conduta do homem enquanto ser social precisa de uma ‘’ordem’’ que legitime a sua atuação, de uma organização que
implica a existência de regras/normas que o disciplinam.
 A primeira Declaração dos Direitos do Homem – Bill of Rights da Virgínia, de 1776 – proclamava que ‘’all men are created
equal’’ e, no mesmo sentido, apontava o mesmo lema da Revolução Francesa de 1789 ‘’liberté, égalité, fraternité’’.
Todos os homens são todos iguais como homens, têm a mesma natureza humana, mas como indivíduos são todos
diferentes.
 O homem é um ser inacabado/imperfeito. Esta imperfeição essencial decorre da capacidade de pensar. Assim, este só se
realiza plenamente na relação com outros indivíduos, ou seja tem necessidade de viver em sociedade.
Desta vida em sociedade surgem conflitos de interesses entre as partes:
1. Inter-individuais: entre indivíduos;
2. Entre indivíduos e comunidades;
3. Entre comunidades diferentes.
 O Direito não procura eliminar esses mesmos conflitos, mas antes encontrar uma forma de os resolver pacificamente sob um
ideal de justiça = conjuntos de normas que visam organizar a sociedade realizando um ideal de justiça (de forma a atingir a
paz social).
ORDEM NATURAL ≠ ORDEM SOCIAL

DIREITO NATURAL LEIS NATURAIS DIREITO LEGAL

Regula de modo geral e universal Respeitam a fenómenos naturais e


Direito positivo
as relações humanas a partir de ignoram por completo qualquer
(=escrito) que vigora e
uma ideia de justiça, não ideia de justiça (≠ direito natural)
consta as leis
depende do consentimento ou
não-consentimento dos homens
composta pela natureza das
coisas
Pré-existente; sobrepositivo; fonte de validade e
justificação para o Direito Legal

ORDEM SOCIOCULTURAL COMO ORDEM NORMATIVA: os padrões culturais dizem ao homem como se há-de comportar, dão-lhe
segurança e liberdade (na medida em que se o homem se mantém dentro dos respetivos padrões culturais, anda seguro). A cultura não
determina por completo o pensar e agir dos homens – é um comportamento da sua condição biológica.

ORDEM SOCIAL ORDEM NATURAL

Pré-existente: não depende da decisão do


Ordem religiosa: Ordem de trato social: Ordem moral: Ordem normativa:
homem, é composta pela natureza das
coisas regras de cada religião conjunto de regras de Composta por um conjunto Sanções jurídicas
≠ direito canônico convivência onde não tem de valores éticos
sanção jurídica

ORDEM JURÍDICA:

 Ordenação da liberdade indivíduo;


 Criação de segurança e certeza na convivência social.

Se se realizar de forma equilibrada, liberdade e segurança, a ordem jurídica continua a ser aceite e consegue ordenar os interesses
divergentes entre os homens + anular os conflitos que possam resultar.

 Ordem jurídica aceite: se for aceite pela população é cumprida voluntariamente e tem uma observância imediata (o povo
concorda com a ordem e com as suas normas jurídicas);
 Ordem jurídica não aceite: caso seja vista como um regime de força não há observância espontânea (p.e, em tempos de crise,
os valores comuns da sociedade tal como o sentimento comum da justiça desaparecem.

Em caso do não cumprimento das normas jurídicas: os orgãos estaduais recorrem a meios coercivos para impôr a sua observância –
maneira objetiva e isenta para garantir a igualdade processual das partes envolvidas. Exclui desde logo o recurso das partes ao uso da
força própria o direito serve e protege o mais fraco, incapaz de se defender pela força, por ser mais fraco, mas capaz de fazer valer
os seus direitos num processo judicial.

Características da ordem jurídica que a individualiza das restantes ordens normativas:

 Necessidade: a ordem jurídica surge como uma necessidade prática para regular a convivência humana. A necessidade natural
do homem de se relacionar com outro pressupõe também que hajam regras que definam e delimitem os direitos de uns a que
correspondem os deveres dos outros.
 Exterioridade: o direito não regula os comportamentos e pensamentos não exteriorizados. As intenções de cada um, mantendo-
se no foro íntimo de cada um e não sendo exteriorimente concretizadas por qualquer forma ou ato, não carecem da tutela do
Direito. Há tratamentos diferentes, consoante esteja em causa uma conduta que tenha sido praticada de forma espontânea ou uma
conduta que fora objeto de premeditação.
 Estatalidade: o Direito provém do Estado, sendo emanado dos seus órgãos (ordem jurídica é emanada pelo estado).
Doutrina do monismo jurídico: direito emanado dos órgãos do estado e a estes compete também a sua aplicação.
Doutrina do pluralismo jurídico: defende que os órgãos do estado não são os únicos a emanar normas jurídicas e que não são
os únicos que têm poder de as aplicar. Nega-se o monopólio da criação e aplicação do direito pelo estado.
 Imperatividade: é o comando da função elementar/fundamental. Há normas jurídicas imperativas que contêm sanções jurídicas e
outras não (definições legais e noções). A observância destas normas é obrigatória, tanto em sentido de elas imporem e proibirem
como na aceitação de permitir a atribuição de um poder, faculdade ou liberdade (p.e, liberdade contratual).
 Coercibilidade: a coercibilidade é a possibilidade de recorrer ao uso da força para aplicar sanções prescritas pelo Direito em caso
de violação deste ou para obrigar ao seu cumprimento, sempre que necessário. Uso da força = possibilidade de recorrer a órgãos
estaduais e a mecanismos legais.
 Alteridade: basta existir duas pessoas para haver necessidade de regras de convivência social que regulem a sua relação.

FUNÇÕES DO DIREITO

 Função ordenadora: ordernar a vida em sociedade, regulando-a, e estabelecendo os limites para os direitos e deveres de cada um.
 Função estabilizadora: garantir a estabilidade, prevendo conflitos no seio das relações sociais (há ramos no Direito onde esta
função é maior ou menor).
 Função tranformadora: é uma função conformadora, dá uma nova forma à sociedade e às regras morais de funcionamento da
mesma. Esta função contraria a função estabilizadora, o que muitas vezes é criticado, principalmente quando a última toma um
rumo mais radical. Pode trazer problemas à economia, à confiança das pessoas no sistema e ao rompimento das normas sociais
anteriormente em vigor.

Ordem moral (como regra de conduta): a função do direito sobre esta ordem é ordenadora e criadora de certeza e segurança, que são
valores impriscendíveis para a convivência social. A ordem moral resulta da consciência, aponta para as convicções internas e o
aperfeiçoamento ético do homem. As normas morais são indiferentes à execução da coercibilidade (uma lei não obriga em ‘’consciência’’,
mas obriga ‘’por obediência’’). O direito não pode ignorar a moral nem os princípios morais, este orienta-se pela moral, na medida em que
consagra o ‘’minímo ético’’ aceite por todos.

ORDEM MORAL ORDEM JURÍDICA

Há sanções, mas não jurídicas = Pena de prisão, multas, pagamento de


remorsos, peso na consciência indemnizações

Obrigação moral, obriga Obrigação jurídica, obriga ‘’por obrigação’’ =LEI


Norma de conduta social = exteriores ao‘’em consciência’’
homem (não têm natureza jurídica), defendidas apenas por uma ‘’coerção social’’ (que pode quase
nem ser sentida ou pode ter consequência mais graves que uma jurídica). Unicamente são juridicamente relevantes quando dotadas por
valor jurídico que lhes é atribuído pelas próprias normas jurídicas (ex: art. 280º, 281º, 218º).

O sujeito encontra-se submetido a duas exigências:

1. Exigência da justiça
2. Exigência da equidade

2 DECISÕES FINAIS: 1ª sentença (decisão por 1 juíz) = tribunal singular; 2ª sentença (decisão por 3 juízes) = tribunal coletivo

DIREITO JUSTO: JUS-POSITIVISMO E JUS-NATURALISMO

 Direito justo: o direito baseia-se fundamentalmente na ideia de justiça, mas as leis que consagram o Direito podem não ser
sentidas como justas por contrariarem o sentimento de justiça comum dos homens a que se destinam.
Porblemática do direito justo – o direito não pode desconhecer a moral nem os princípios morais, pois pode surgir um
conflito entre as imposições da lei em vigor e as condições morais.

JUS-POSITIVISMO JUS-NATURALISMO
o direito é feito pelo homem,da a norma legal Existência de um direito supralegal – natural com regras que vigoram para toda a
Direito natural: emerge da lógica razão, daé vontade de Deus, fonte de validade e justificação ao Direito Legal. Serve para legitimar o
encarada como um ato de vontade do legislador; gente. Gira em volta da natureza essencial do homem que é comum a todos. A
direito positivomodalidade
vigente expresso nas leis.
mais rigorosa e método Funciona como fator de coerção,
moral oé adireito
base do vigente
Direito. Oem causa
Direito à procura
é inalterável de um
quando tratadireito ainda mais
de valores
justo e maisinterpretativo
em conformidade com os valores humanos
de fidelidade incondicional à lei comuns a todos.
fundamentais característicos à natureza humana. Direito positivo tem de respeitar
estes valores:
Quanto maior o afastamento do direito positivo, maior a necessidade do direito natural (ex: regimes totalitários e Revoluções francesas)
Pensamento da antiguidade – Pensamento medieval cristão – Pensamento do iluminismo – coloca a
comprova
fatores extralegais: pensamento legislativo ou que não está nas mãos do homem criar
parte da existência de uma
um direito
pensamento teológico;ideal
direito e inteiramente
natural- razão ejusto
a natureza do homem no centro
realidade social ordem natural universal; inalterável e inapagável das suas reflexões.

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