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13º Lição:
1. Determinação do atual princípio normativo do Direito.
Tendo em conta o nosso contexto histórico-geografico, o direito
apresentasse-nos com uma determinada normatividade, que a
distingue de outras ordens da intersubjetividade
Contextualização: sentido fundamentante do direito entretecido pelos últimos
referentes axiológicos, que é o que fundamenta a normatividade do direito. Falar em
principio normativo do direito como referente axiológico implica que se identifique o
contexto da nossa civilização histórica.
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-A superação do positivismo jurídico implicou uma nova consideração do
princípio normativo do direito:
A coordenada especificamente jurídica do positivismo jurídico, a identificar o direito
com a lei, entendida como a prescrição normativa do titular do poder, encontra-se
superada pela consideração da dupla transcendência, tanto pelos princípios, como
pelos casos, a que os critérios legais estão sujeitos.
Com efeito, esta superação coloca o jurista perante um problema ineliminável: qual
então o sentido do direito?
Em que consiste a translegalidade que o jurista, qua tale, terá que mobilizar para não
se eximir do seu dever de participar, adequadamente, por mediação dos juízos
decisórios que está institucionalmente vinculado a proferir, na contínua reconstituição
da juridicidade vigente?
De que tipo há-de ser a normatividade predicativa de uma ordem jurídica para que
justificadamente nos disponhamos a qualificá-la como de direito? (problema da
determinação do conjunto de exigências de sentido que o direito convoca e pretende
projetar no horizonte de uma praxis concreta)
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• Homem Moderno: Afirma a sua autonomia individual contra a comunidade
e empenha-se em criar sistemas de direito pensados a partir da liberdade
racional que se auto-predicava.
• Homem-Pessoa: Reciprocamente, reconhece um valor materialmente
densificado pela dialética da liberdade e da comunidade que o entretece e que,
coerentemente, se empenha em constituir uma ordem de direito em que se
reveja como um sujeito ético.
Neste sentido, questiona-se: qual o conteúdo da validade densificadora da específica
normatividade jurídica? Ora, dir-se-á que o sentido específico do direito é o conteúdo
da sua mencionada validade fundamentante, entretecida pela summa dos últimos
referentes axiológicos em que intencionalmente radica e que CASTANHEIRA NEVES
denomina o seu “princípio normativo”. Institucionaliza-se historicamente um sentido
que não é imposto de fora aos sujeitos de direito, não é algo externo e ontológico
imposto aos sujeitos e a estes impondo um certo sentido. O direito não é
heterodeterminado por um absoluto que lhe é externo. Ainda se pensa que o Direito
é uma concretização histórica de um absoluto ahistorica. Aqui assume-se que o
sentido fundamentante do direito, ou seja, o seu princípio normativo, é construído
intersubjetivamente e dialogicamente na história (a historicidade é lhe constitutiva). O
Direito acaba por se tornar absoluto, pois a sua construção cultural criou tal ideia na
história. A herança histórico-cultural é essencial pois se manifesta como experiência
reflexivamente discutida, os pressupostos querendo ou não estão aí, a sua
manifestação é que vai mudando e reconstruindo. Percebemos que o princípio
normativo é algo constituendo, a normatividade do direito é algo em constante
constituição.
Em suma, note-se que, durante o prático-culturalmente falacioso interregno
positivista, o problema do sentido do direito que agora nos preocupa nem sequer se
tematizava, considerando apenas o quadro de legitimação política da impositiva
posição da lei. Com efeito, o problema do sentido enquadra-se nas novas exigências
históricas de superação do paradigma positivista e na nova compreensão do homem.
O sentido do Direito, ou seja, o seu princípio normativo é uma construção histórica
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proteção da confiança, pilares do Estado moderno. Contudo ainda não temos o
referencial último
No terceiro nível há um referente pressuposto que tem a ver com a identificação do
horizonte de validade, o que é que dá validade ao Direito? Já não jusnaturalista ou
positivista, mas sim antropológico, é o reconhecimento recíproco da pessoa como
horizonte último de fundamentação, individuo (pressuposto autónomo que se vincula
ao outro) o sujeito (ator, pois pode não ser livre) e pessoa (com ineliminável dignidade
ética, autonomia e responsabilidade, implicadas pela pessoa jurídica). Esta definição
de pessoa deixa-nos a ideia de que esta é uma aquisição axiológica cultural e não um
pressuposto histórico. Percebemos que a nossa herança greco-romana e medieval não
nos deixou uma ideia de individuo autónomo que se diluía na polis ou nas relações
intersubjetivas societariamente mediatizadas pela communitas em que a hierarquia
era muito patente (nobre-plebeu, senhor-servo).
A pessoalização dá um gigante passo na época moderna, o homem liberta-se das
ordens previamente estabelecidas. Contudo constata-se uma liberdade contra o outro,
marcada por um individualismo radical, ainda assim ele não vive sozinho, é necessário
então, o direito e mais concretamente o contrato social um acordo vinculativo entre
lobos solitários, tentativa de delimitação recíproca dos sujeitos face aos outros sujeitos
e aos objetos da sociedade, há uma partilha do mundo necessária de regular.
A comunidade é condição da pessoa e é desde logo condição de existência e condição
vital, a nossa subsistência implica uma dependência dos outros. É também condição
empírica, é na complementaridade da divisão de tarefas e de trabalho que nos
encontramos como pessoas. É ainda condição ontológica, o nível de ser que atingimos
como pessoas depende dos outros, a ontologia vem antes da metafisica,
compreendemos primeiro o outro antes de olharmos para nos, percebemos que a
nossa construção enquanto pessoa depende do outro.
Ver a pessoa na comunidade no sentido jurídico, leva-nos a grandes questões.
Mobilizar esta ideia de que não vivemos isolados, mas autónomos relativos a tal
comunidade permite-nos perceber que enquanto sujeitos-pessoa, parcialmente
autónomos e parcialmente dependente da comunidade, e no ponto de vista jurídico,
isto manifesta-se na construção dialética entre autonomia e responsabilidade.
O que, e ate que ponto se pode exigir do jurídico quanto à autonomia e à
responsabilidade? O que nos leva, portanto, a distinguir esses dois corolários jurídicos,
que se relacionam juridicamente:
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efeito, trata-se de uma questão que nos coloca no terreno dos sentidos humanoculturalmente
predicativos e, portanto, apenas dialógico-argumentativamente discerníveis.
Ora, os referentes intencionalmente constitutivos de todos os problemas práticos são
caracterizados por uma ineliminável historicidade. No entanto, apesar da fundamentação
trans-legal que se convoca, não se trata de uma remissão do direito para uma imutável
essência-fundamento onto-teológica, onto-metafísica ou onto-antropológica, tal como o
pretendia o jusnaturalismo. Diferentemente, o princípio normativo é um produto cultural
resultante do esforço reflexivo do homem a respeito de si mesmo e não qualquer ideal
hipostasiado.
Por outro lado, sendo, deste modo, uma axiologicamente intencionada realidade cultural,
poderemos qualificá-lo como um absoluto do nosso momento histórico: emerge na história
como um regulativo intencional e será como tal que há-de ser historicamente reconstituído e
até, eventualmente, historicamente superado. Assim, não traduz a redutiva precipitação em
termos historicamente contingentes de um absoluto imutável, visto que aquele absoluto está,
originária e continuamente, aberto à história, constituindo-se, reconstituindo-se e esgotando-
se, mesmo, no horizonte que ela vai entretecendo.
Neste sentido, note-se que é esta dialética (a alusão a um absoluto, todavia exposto à erosão
histórica) que nos permite qualificar o princípio normativo como um tertium genus, para além
do jusnaturalismo e do positivismo jurídico, podendo dizer-se que o princípio normativo colhe,
no jusnaturalismo, a intenção fundamentante e recebe, do positivismo, o caráter histórico,
traduzindo assim como que um ponto de interseção entre o que deve ser e aquilo que é.
Por fim, note-se que cada cultura tem o seu núcleo num conjunto de valores que lhe
determina a especificidade e marca o sentido. Assim, os grandes ciclos culturais gravitam em
torno de uma problemático-experiencialmente radicada axiologia que constitui como que a
sua própria auto-transcendência, isto é, os pressupostos fundamentantes de cada uma dessas
grandes eras que transcendem a contingência aleatória e que se nos apresentam como uma
autêntica pressuposição intencional, histórico-praticamente constituenda, podendo, pois,
dizer-se a cultura, simultaneamente, pressuposto e criação. Existe, portanto, em cada cultura
um fundamento invariante que permanece e que identifica a auto-transcendência do
horizonte cultural em causa. Ora, o princípio normativo está para o direito como a mencionada
auto-transcendência para cada ciclo cultural
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fosse o sistema político-económico, em caso de ato histórico de rutura ficaríamos sem direito.
São nestes momentos conturbados que se patenteiam os diferentes planos da prática
histórica, são nestas alturas em que o radicalismo premente reclama novos referentes políticos
e económicos, e aqui, será que o direito se transforma numa mera formalização
regulamentadora da nova ideologia político-económica?
Não, porque o direito tem exigências especificas que estão presentes e orientam a
constituição ou reconstituição de uma nova ordem jurídica, para que possamos
justificadamente qualifica-la como de direito, exigências essas como:
Tais princípios derivam de uma certa cultural é facto, mas uma vez expostos e assumidos não
os poderemos renunciar mais, sob pena de eliminarmos o horizonte cultural do próprio
direito.
β) o plano dos “princípios jurídicos fundamentais”; partindo precisamente dos princípios aos
quais chegamos, esses afirmam verdadeiramente a autonomia do direito. Quais são então os
princípios normativos que estão na base da compreensão da juridicidade e que conjuntamente
modelam o conteúdo da consciência jurídica geral?
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-Princípio da igualdade, afirmação da autonomia, o polo do suum (afirmação do eu
pessoal): Há dimensões que nos não admitimos ao direito interferir nem o direito o
quer, (implicação axiológico-normativo negativa) neminem laedere (coexistência) há
uma zona de descrição que o direito não toca. Por outro lado, temos o aspeto da
convivência (pacta sun servanda) resultante da atuação de cada sujeito, que se
vinculam livremente no exercício da sua auto determinação a nível privado
-Princípio suprapositivo (manifestação do sentido último do direito) da
responsabilidade, resposta perante o outro, o polo de comune (integração
comunitária):
α) Implicação axiológico-normativa negativa: princípio do mínimo e princípio da
formalização: Zona de proteção do sujeito. Na resposta à delimitação do juridicamente
relevante e exigível, vamos encontrar como resposta quanto ao conteúdo, um
principio do mínimo – o conteúdo do juridicamente relevante e exigível terá de ser
aquele que for essencial e só esse, para garantir a realização da autonomia de um
sujeito e dos outros sujeitos. A limitação à autonomia do sujeito terá de ser necessária
para o desenvolvimento da autonomia dos outros sujeitos. Limitação das limitações
que o polo da responsabilidade nos pudesse impor. (exemplo do princípio da
proporcionalidade do DC).
Quanto à forma temos como resposta o princípio da formalização – tradução num
esquema conhecível daquele conteúdo exigível. Por exemplo o princípio da legalidade
criminal é uma manifestação deste princípio, o conteúdo do que e juridicamente
relevante do ponto de vista criminal é o que estiver exposto nas normas penais
criminais e estritamente no modo por que tais normas se dirijam à realidade.
β) Implicação axiológico-normativa positiva: modalidades da responsabilidade
jurídica:
- responsabilidade perante as condições gerais da existência comunitária:
responsabilidade de preservação: princípio da corresponsabilidade (stricto sensu) –
honeste vivere: somos todos corresponsáveis pela realização dos bens jurídicos penais
e portanto somos também corresponsáveis por que os bens jurídico-penais relevantes
sejam protegidos, todos respondemos perante todos se algum violar um desses bens
responsabilidade de contribuição: princípio da solidariedade – suum quique tribuere:
traduz-se por exemplo na obrigação de pagar impostos e na sua respetiva distribuição
- responsabilidade por reciprocidade: comutativa em geral e contratual em
particular – executio iusti
- responsabilidade pelo equilíbrio da integração: hominis ad hominem
proportio
A relação entre estes dois polos é fundamental para perceber o que é juridicamente
relevante e exigível.
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2. O princípio normativo e outras intenções alternativas:
- Valor de segurança no quadro global da axiologia jurídica:
- O desvio do finalismo jurídico:
- A hipótese de “alternativas radicais” ao próprio direito:
α) uma ordem de poder (ordem de necessidade);
β) uma ordem científico-tecnológica (ordem de possibilidade);
γ) uma ordem política (ordem de finalidade).
- As suas relações com a validade e a eficácia: O direito ao perder eficácia perde força,
e perde identidade, a eficácia e efetividade é o que o distingue das outras construções
normativas ético-morais. Uma norma torna-se obsoleta quando os fundamentos em
que essa norma se encosta, se alteram. A consciência jurídica geral quando muda,
alteram-se também as perspetivas que temos sobre as normas. O direito é um acervo
axiológico histórico, a convivência pacifica e o consenso de validade a que todos
queremos chegar, não pode impedir as posições divergentes, até porque aquilo que se
considera lícito ou ilícito resulta da relação entre a evolução anterior e a discussão
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presente, aquilo que é valido hoje, não o foi antes e pode não o ser amanha. A
valoração ética universal que o direito pretende encontrar para se efetivar de forma
constante, implica um diálogo constante com a realidade e com as novas perspetivas,
pois so dessa forma é possível que ele continue eficaz, ou seja capaz de manter na
realidade aquilo que prescreve.
Por exemplo, no direito da família do após 25 de Abril, deixou de se distinguir entre
filhos dentro ou fora do casamento, a validade dessas normas estava do ponto de vista
intersubjetivo, a perder validade, do ponto de vista empírico, a validade estava em
queda apesar de no Estado ainda não se ter confirmado tal queda.
O direito mantem-se vigente com esta dialética entre validade e eficácia. Se nos
recordarmos que o que confere validade as prescrições normativas é a base axiológica
em que se fundamentam, na relação com a realidade, o que comprova a sua validade é
alguma elasticidade quanto ao cumprimento ou incumprimento e a referência à
sanção enquanto meio de efetivação do direito. O direito prevê prescrições para a
nossa conduta, imperativas, mas também dispositivas (os sujeitos podem definir os
seus interesses segundo a sua autodeterminação – a lei não define os objetos de
negócio jurídicos possíveis, podem ser celebrados contratos que não estão tipificados
ou mistos, mas sim os que não são possíveis ou admissíveis. Por exemplo o contrato de
arrendamento é tipificado, mas podem-se juntar clausulas vinculantes que não estão
tipificadas).
O direito só fica a ganhar quando os contraentes e as pessoas se vinculam quando não
há normas imperativas que o façam diretamente. Não há perda de eficácia quando há
esta auto-vinculatividade do direito, ele visa efetivamente estabelecer as condições
para a convivência pacifica, estruturando os valores essenciais e conferindo aos
sujeitos autonomia e responsabilidade, ele não perde eficácia por haver normas
imperativas ou dispositivas.
Percebemos ainda que, a validade do direito não é posto em causa pela factualidade.
O direito à vida não deixa de ser invalido por haver homicídios. O que permite
reafirmar a validade quando a factualidade a viola é precisamente a aplicação (contra
fáctica- contra/oponível ao facto) da sanção.
2. Modalidades normativas:
Direito subjetivo (o direito como poder): faculdade de exigir de outrem um
determinado comportamento, um dever geral de abstenção ou um direito de exigir um
comportamento. Individuo autónomo, que é titular de direitos, dos quais podemos
usufruir e impor a outros. Direito visto da nossa perspetiva, como prerrogativa do
sujeito. “o seu direito” de propriedade, personalidade, à imagem. O direito titulado
por cada sujeito, concedido por esse objetivo é o subjetivo. Vai ser um poder ou uma
faculdade titulada pelo sujeito e que lhe compete – Uso e imposição.
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Direito objetivo (o direito como norma): Conjunto de regras que, cria balizas
orientadoras das nossas ações. Individuo inserido na comunidade. Corresponde à
apresentação do direito de que os sujeitos são destinatários, esta fora dos sujeitos e
que se lhes impõe. Enquanto normatividade vigente, é aqui que encontramos a lei, o
direito objetivado na ordem jurídica. Visto da perspetiva da ordem jurídica. Direito
civil, penal, administrativo. O conjunto das normas legais, dos princípios vigentes e das
decisões judiciais.
Divergências entre subjetivo e objetivo:
- Historicamente:
O direito subjetivo começou por não existir, a noção de direito aparece-nos como
direito objetivo, ordem prescritivo-normativo de que o sujeito é destinatário,
conferindo-lhe estatutos apesar dessa subjetividade ainda não se impor ao objetivo.
Emergiu na idade media e afirmou-se comunitariamente na idade moderna.
No pensamento jurídico romano, o direito era uma ordem objetiva que definia o
estatuto das pessoas e a situação das coisas. A titularidade de direitos já existia mas o
que importava era a integração harmoniosa das posições. Na idade media
manifestaram-se ténues sinais de mudança. A ideia de que Deus e homem são
ontologicamente distintos (Criador e criatura) leva à libertação do homem do cosmos
geral e à admissibilidade de este poder discutir com a ordem comunitária, juntando o
facto de que se começa a preferir o bem-estar singular do que o comunitária, criando
desta forma os pressupostos mínimos para os direitos subjetivos.
Só no pensamento moderno-iluminista, com o individualismo e contratualismo
(jusnaturalismo moderno) é que se assume que o sujeito nasce primeiro livre e
desvinculado, e depois vincula-se pela sua vontade e interesses com os outros sujeitos
nascendo aqui o fenómeno direito. Tendo primeiro direito subjetivo e depois objetivo.
Individuo com uma autonoma subjetividade pratica, juridicamente projetada nos
direitos subjetivos.
No seculo 19 surgem duas linhas preponderantes sobre a teorização do direito
subjetivo:
• Teoria da vontade: Será que o direito subjetivo é um poder de vontade
juridicamente reconhecido pelo direito objetivo? Poderia levar à redução de
faculdades jurídicas. Por exemplo um sujeito pode ser titular de direito de
propriedade e pode nem sequer ter vontade de tal.
• Teoria do interesse: Será que o direito subjetivo é um interesse juridicamente
tutelado? Poderia levar a uma redução ao interesse
O direito acaba por ser mais do que a vontade e mais do que o interesse que se
pretende prosseguir.
Noção legada e que domina o pensamento civilista: o direito subjetiva é o poder
jurídico reconhecido pela ordem jurídica a uma pessoa de livremente exigir ou
pretender de outrem um comportamento positivo ou negativo, ou de, por um ato de
livre vontade per si ou integrado por uma autoridade publica, produzir determinados
efeitos jurídicos que se impõe a outra pessoa.
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Relação dialética entre direito subjetivo e objetivo, conferencia aos sujeitos pelo
direito objetivo:
Uma norma consagrada em qualquer diploma legal (1305 do CC) a norma é direito
objetivo, o direito de propriedade titulado por um sujeito é direito subjetivo.
Ambos conceitos são categorias constitutivas e não contingentes da própria
juridicidade, pois remetem para as duas dimensões constitutivas da pessoa e em que
se baseia a normatividade jurídica – autonomia e comunidade. O direito e a pessoa são
a concretização de ambas, não podendo haver nenhuma hipertrofia para que não haja
uma prática desequilibrada.
- Dialetica:
Sistema como articulador racional entre direito e realidade, entre ordem (que por si só
é uma falacia do positivismo legalista) e problema, entre a segurança e justiça, entre
prescrição para a ação e juízo valorativo da ação. Essa articulação dialética projeta-se
decisivamente no modo como o direito é realizado na resolução dos casos concretos e
nos juízos decisórios. O sistema assume, portanto, uma relevância metodológica ou
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metedonomologica, já que há determinação do sentido do direito juntamente com a
decisão jurídica. (percurso racionalmente feito pelo jurista desde que se confronta
com o caso pratico ate que resolve juridicamente o problema, ou seja é no fundo a
metodologia jurídica sem a palavra jurídica a diante).
O direito é histórico-situacionalmente relevado, e normativo-juridicamente
intencionado
- Tipos de sistema
- Critério do modelo:
• Sistema centrado numa unidade por identidade formal e
conceitualização abstrata: encontramos um sistema em que os elementos
constituintes se articulam logicamente. Este tipo de sistema é globalmente
correspondente àquele que nos apresentou o positivismo do seculo 19.
Inconsidera de todo a prática/problematização. Baseia-se num conjunto
coerente e homogéneo de conceitos, uma sequencia de conceitos que diferem
entre si de forma ligeira e gradual, formando o tal continuum de conceitos. Ou
seja uma linha horizontal de conceitos, polarizada por conceitos últimos ou
fundamentais. Positivismo do seculo 19
• Sistema polarizado numa unidade por redução a um único
fundamento puramente formal: Este é tipicamente o modo constitutivo
do sistema jurídico do normativismo proposto por Hans Kelsen. Aqui temos
uma estruturação hierárquica (linha vertical – decisões judicias em baixo e no
vértice o pressuposto racional à priori). A relação das normas (que é o direito) é
hierárquico. Positivismo do seculo 20, em que permanece a referência ao
direito positivo e normativista (exclusivamente composto por normas). Aqui,
contudo, as normas estão organizadas de forma hierárquica. Normas em
estruturação piramidal, mais perto da base estão normas mais ligadas à
realidade, e à medida em que subimos encontramos normas hierarquicamente
superiores cada vez mais genéricas e abstratas. Chegando ao vértice, chegamos
à única norma que não é criada, é pressuposta (pressuposto racional à priori).
No nível anterior ao vértice, encontramos a constituição. As decisões judiciais
(base) assumem-se como norma também. O positivismo, não nas mesmas
vestes, permanece. (unidade garantida por uma GRUNNORM). A diferença esta
em que se admite aqui uma relação dinamizante e concretizadora mas apenas
de cima para baixo, não admitindo influencia dos estratos inferiores (mais
próximos do problema) aos superiores. Por exemplo, a legislação ordinária vai
dinamizar e concretizar a constituição.
• Sistema funcionalmente esquematizado segundo relações
sociológicas de “input-output”: Isto tem que ver com uma fase do
pensamento de um autor da teoria dos sistemas (Nicholas Luhman), considera
que a sociedade é composta por vários subsistemas, e vai analisar a relação que
o direito enquanto subsistema tem com os outros subsistemas sociais.
Encarado como resposta à funcionalização do Direito. Ele propõe a recuperação
da autonomia do direito, descomprometendo-o do discurso dos outros
sistemas, formalizando-o. De forma que o direito seja uma articulação entre os
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subsistemas não se comprometendo com eles, regressando ao fecho do
sistema jurídico, e que o ruído dos outros subsistemas seja apenas estímulos
destes para o sistema jurídico internamente se reestruturar, adaptar e
responder de forma jurídica exclusivamente. Não há, portanto, input, apenas
output.
- Critério tipológico:
• Sistema regulamentar vs sistemas axiológicos: o sistema
regulamentar, caracteriza-se na predefinição dos critérios que irão servir uma
certa planificação, a validade assenta na sua forma ou no fim que prossegue.
Regulação previa ao momento da sua mobilização. Contrapõe-se o sistema
axiológico, que assenta em referências a valores, faz assentar a sua validade,
não na forma (positivismos normativistas), não nos fins (funcionalismos
materiais – valoração em função do objetivo) mas sim nos valores que
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fundamentam o conteúdo. Exemplos de sistemas axiológicos serão os sistemas
de fundamentação e o sistema polarizado numa unidade normativa de dialética
realização à posteriori e regressiva, sendo os restantes exemplos de
regulamentação por diversas razões.
• Sistema normativista vs sistema decisionista: O sistema normativista é
aquele que traduz o direito em normas, pre-escritas, reduzindo a analise do
direito à correta compreensão dessas normas, concentram-se na analise e
compreensão de norma. A norma define o direito e como se aplica. Os
decisionitas compreendem.se do lado da decisão, a tónica esta na decisão. No
modelo romano, hermenêutico da idade media ou na common law atual, o
sistema centra-se na decisão.
- Critério Histórico:
• Jusracionalismo: Dedução de sistemas de direito natural de certos axiomas
especulativamente postulados. O sistema eram normas gerais e abstratas que
se manifestavam antes da sua aplicação
• Normativismo: É de tipo normativista a tradição que herdamos. A norma é a
manifestação da juridicidade. Uma certa hipótese abstrata tem uma proposição
que refere uma determinada consequência. Se puder ser verificada esta
hipótese a consequência verificada é estoutra. Algo unidimensional –
proposições abstratas pré-enunciadas pelos legisladores, aplicadas na realidade
logico-dedutivamente, algo alheio ao sentido pratico que hoje se considera
superado
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1º - O Sentido do Direito (a deveniente intenção irredutivelmente especificante da
normatividade jurídica) – remissão para a referência para a validade como dimensão
constitutivo do Direito. Pressuposto axiológico fundamentante que perpassa todos os
outros estratos, não fazia sentido falar dos outros sem este. Esta autonomizado para
frisar a relevância no conjunto dos restantes estratos. Encontra nos fundamentos a
tradução da sua identidade, e nos critérios a expressão da sua operatividade
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Juridicidade dos princípios
Principios de direito
Principios do direito – valido e eficaz no horizonte do sistema jurídico.
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Transpositivos - Aqueles que sendo sua concretização se apresentam como
pilares fundamentais de cada área. Consagrados em normas legais
(constitucionais e logo fundamentais), mas ao ser transpositivos não
necessitam de ser positivados para serem vigentes, é apenas uma garantia de
efetividade. Conferem sentido constitutivo aos vários domínios jurídicos.
(Principio da legalidade criminal – Direito Penal; ou igualdade dos cônjuges ou
não discriminação entre filhos – Direito da Familia). Podemos dizer que são as
clausulas gerais mais relevantes de cada ramo.
Positivos - Aqueles que não sendo pilares fundamentais de uma especifica
área, são orientações que o legislador vai apontando. São expressamente
consagrados pelo sistema jurídico pré objetivado. Concretização do direito a
nível operativo, e por essa razão os legisladores estabelecem-nos
normativamente, pois haveria possibilidade. O artigo 219 do CC, encontramos
um princípio de consensualidade e liberdade formal, algo fundamental do
direito para garantir a agilidade da vida. Esta consagrado sob forma de norma
para o cristalizar.
- Abertos: Podem estar ou não escritos (positivados, mas que não estão em
forma de norma como operador diretamente mobilizáveis). Aberto no
sentido que é um sentido de orientação enquanto densificação axiológica
que constantemente se pode dar. Coloca-se nestes o problema de saber se
está garantida a sua justiciabilidade? Se serão operadores de racional
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utilização num exercício judicativo-decisório, se têm dimensão pragmática que
os distinga dos valores. Sim se o processo institucionalizado (forma) e o juízo
metodológico (material), estruturas da justificabilidade, concorrem para tal o
assegurarem. Pode-se até dizer que quanto mais enquadrado ou disciplinado
for tal processo sistemático-normativo (forma) e mais afinado esteja o
princípio na dogmática jurídica, mais passiveis estarão tais princípios de ser
mobilizados no juízo. O artigo 13 da CRP, é um princípio normativo aberto, mas
escrito, não é diretamente mobilizável para o problema concretamente.
O artigo 29, da legalidade criminal, positivados mas não como resposta
imediata.
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- As normas (legais): critérios fundamentais que não operam isoladamente na
resolução de problemas, mas que para tal são diretamente mobilizáveis. Momento de
objetivação da normatividade jurídica em forma de lei. Construção do direito que
provem do poder legislativo
- A sua estrutura logica (dimensões essenciais para a construção de uma norma:
hipótese e estatuição/consequência): A norma legal na sua estrutura logica tem duas
dimensões substanciais e formais essenciais, hipótese ou previsão, e estatuição ou
consequência. A hipotese será a descrição da realidade a que se dirige, a estatuição
sera a consequencia juridica da verificação em concreto da realidade que descreve em
abstrato
- A sua índole normativa: “posterius” problemático-normativo e não puramente
“prius” prescritivo: A norma com a sua estrutura formal é vista como a premissa
logica, pré-estabelecida para uma eventual posterior aplicação logico-dedutiva. A
norma apresentar-se-ia aqui (tal como no normativismo positivista do seculo 20) como
um prius normativo, a definição do Direito, ex-ante definição abstrata e geral do
direito antes da aplicação e prius metodologico ou metódico, pois trata-se de
elemento cristalizado como mecanismo necessário para a aplicação logico-dedutivo.
Teríamos neste caso, a pre definição da norma e a verificação se a realidade
corresponde ou não a uma espécie que a norma estabelece, sem que a realidade
tivesse influência na decisão judicativo-decisória. O silogismo-subsuntivo do
positivismo implicava que a norma saia do sistema juridico para resolver a situação
logico-dedutivamente, e regresse incólume ao sistema, sendo que a decisão estaria
fora do sistema, apenas uma projeção.
Hoje podemos facilmente perceber que a norma não é um mero prius prescritivo, é
antes um Posterius problematico-normativo, isto porque o ponto de partida para o do
direito, não é a delimitação unilateral pelo sistema jurídico da relevância jurídico, e
pelo contrário encontra-se no caso decidendo. O que nos leva à consideração e à
tomada de consciência da existência de problemas jurídicos, é a própria indole dos
problemas. Num certo enquadramento cultural, há certos problemas que se
apresentam como juridicamente relevantes, é essa a pergunta que se vai apresentar
ao direito, um problema sera ou não do tipo daqueles que tem relevancia jurídica. É
necessário de seguida encontrar no sistema, os fundamentos e critérios que possam
sustentar e orientar a solução jurídica daquele problema concreto.
Em suma, a norma deixa de ser considerada como premissa pré-definida que delimita
vinculativamente a juridicidade, cabendo aos factos caber ou não. Para passarmos a
ter uma relação entre o caso e a norma, em que o caso vai interpelar o direito,
questionando uma ou varias normas, sendo que estas so podem responder à luz do
caso, tendo em conta outros critérios e todos os estratos de fundamentação.
- os elementos normativos constitutivos das normas jurídicas legais – elemento
racional ou fundamento e elemento imperativo ou autoritário: Que elementos se nos
apresentam e a sua demonstração pratica.
A norma é composta por um elemento racional e de fundamentação e por outro
elemento autoritário ou imperativo, a norma como atuação do poder legislativo
apresentasse-nos enquanto critérios com uma determinação prescritiva de autoridade,
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porque provem de um poder legitimado para tal. A norma não é só um imperativo, ela
é em si, judicativa (operador pratico) e um critério de valoração da pratica. Olhamos
para o interior da norma, pressupondo já a sua legalidade, onde encontramos uma
dimensão racional pragmática e outra de fundamentação:
a ratio legis (norma/realidade) – a consideração do seu objetivo, a sua razão de ser, a
norma é relacionada com realidade, porque lhe responde, na sua dimensão pratico-
pragmática;
a ratio iuris (norma/princípios normativos fundamentantes) – Reconhecemos à
norma uma dimensão racional de fundamentação, em que encontramos o confronto
entre o pragmatismo (ratio legis) e o sentido de direito que la reside e que a
fundamenta, encontramos a concretização dos princípios normativos fundamentantes
que lhe dão validade, numa norma.
As normas são sempre condicionadas a montante e jusante, pelos princípios
normativos e pela realidade, respetivamente. A norma só faz sentido relacionando a
riqueza axiológica do princípio normativo com a riqueza formal que à norma já lhe é
intrínseco.
As normas legais, gozam de presunção de validade, mas também de vigência e de
autoridade, em função do conteúdo normativo e da autoridade que a imana, relação
dialética que garante a unidade e coerência do sistema jurídico
20
-Normas autónomas: As normas completas por norma serão autónomas. Tem
um conteúdo independente de outras normas que produzem efeitos so por si,
expressam o sentido completo.
-Normas não autónomas: Não tem um sentido completo, necessitam de
outras normas que lhes completem o seu sentido e conteúdo, não produzem
efeitos só por si. Dentro destas é importante distinguir entre normas
remissivas explicitas ou normas remissivas implícitas:
- Remissivas explicitas: A norma remete expressamente para as
normas que completam o seu sentido. quando remetem em bloco para um
instituto ou diploma legal na sua integridade
- Remissivas implícitas: Não remetem expressamente para outra
norma, mas estabelecem que para se compreender o sentido daquela norma
seja necessário recorrer a outras. Remete para uma situação regulada por
outras normas, pois admite a verosimilhança ou vai exigir que uma certa
situação seja tratada como outra, apesar de não o ser: diferença entre ficção e
presunção legal:
-Presunção: Fundadas em probabilidades, podendo ou não
ser refutadas, é uma ilação retirada sobre um facto não conhecido de um facto
conhecido. Do ponto de vista jurídico, as presunções apresentam-se assim,
partindo do artigo 349, 350 e 351 do CC. Estabelecidas pela própria lei (legais)
ou no contexto da decisão do julgador, na ligação entre os estados provados e
devido à experiência a factos não provados (judiciais que podem ser postas em
causa). Provada a existência de um determinado facto, considera-se provada a
existência de outro. Dois factos que se relacionam, pois a experiência mostra,
que quando um acontece o outro também (legais), que podem ser iuris
tantum/simples, admitem prova em contrario ou podem ser iuris et de jure,
que são absolutas ou inilidíveis, não admitem prova em contrario. (Seguir
exemplo do artigo 1260 do CC). Exemplo: a posso adquirida por violência é
sempre de má fé (et de jure). Importante: No caso de presunção o ónus da
prova deixa de impender sobre quem defende o direito, mas sim sobre quem
quiser rebater a presunção. Por razoes de possibilidade de prova e efetivação
das prescrições juridicas
21
juridico, como as leis da Assembleia da Republica. As regionais so se aplicam a
determinadas regiões como as regiões autónomas da madeira ou açores, ou
locais no âmbito da jurisdição das autarquias.
- Quanto à especialidade material ou pessoal: normas gerais, normas
especiais ou normas excecionais:
-Gerais: regime regra para uma determinada área do direito
-Especiais: Exemplo do Direito comercial, que é considerado
especial relativamente ao direito privado do Direito Civil
-Excecionais: consagra o aposto ao regime geral. Exemplo: o
artigo 219 do CC estabelece o princípio da liberdade de forma, o regime geral é
a liberdade de forma, mas quando fala de “fora os casos previstos na lei”, por
exemplo, os casos de contratos sobre bens imoveis que carecem de forma, é
algo que é contrário ao regime geral (artigo 875 do CC). O artigo 220 do CC
estabelece a nulidade quando a exceção não se confirma. Sempre que não há
exceção presume-se o regime regra/geral.
22
nos a definição legal de locação, e no artigo 1023 encontramos uma norma
interpretativa do artigo anterior, consagra os dois tipos de locação.
-Supletivas: suprem a falta de manifestação de vontade dos sujeitos
intervenientes sobre determinados aspetos que necessitam, do ponto de vista
do ordenamento jurídico, de regulação e ordenação. Aplicam-se sempre que
os sujeitos nada disponham relativamente à matéria que se referem, quer
porque concordam com a norma supletiva ou por alguma razão de
esquecimento não tenham tratado no negócio jurídico dessa norma especifica.
1717 do CC, norma que se aplica se e quando os sujeitos nada estabeleçam
sobre aquele ponto em concreto
23
-A jurisprudência Judicial: Autênticos critérios com relevância metodológica e
institucional. o momento em que o direito é convocado diretamente para a resolução
de problemas concretos. Do ponto de vista dos sistemas de Common Law,
consideramos a decisão judicial a partir de critérios legislativos prescritos ou por
precedentes judiciais. Nos sistemas de legislação, a jurisprudência judicial não assume
a consideração da relevância vinculativa dos precedentes institucionais. Não significa
que a jurisprudência não tenha um papel constitutivo. O sistema aberto, implica uma
resposta às situações, em bloco, é preciso convocar todo o sistema jurídico: as normas
(que vai ter de ser interpretada à luz do caso concreto).
A jurisprudência enquanto estrato, do ponto de vista positivista, ela estaria fora do
próprio sistema jurídico. O direito era norma pressuposta e pré-constituída, de um
sistema fechado, então de facto as normas como que saiam do sistema isoladamente,
eram mobilizados como premissas e regressariam incólumes. A decisão judicial não dá
nenhum contributo, sendo apenas o campo de aplicação das normas.
É reconhecida hoje à jurisprudência o caracter de constitutivo do direito para o caso
concreto, sendo que as medidas tomadas moldam e vinculam as relações jurídicas a
que dizem respeito., se compulsarmos qualquer acórdão de um tribunal superior, são
usadas normas, referencias dogmáticas, princípios etc.
Vai presumida uma presunção de justeza, que advém do seculo 19, envolve a
adequação normativa da decisão judicial não apenas do sistema jurídico, mas também
do caso sub iudice. A justeza que presume vinculatividade nos sistemas de legislação
leva-nos a dizer que se presume que a decisão tomada é a adequada ao sistema
jurídica, ao caso e à normatividade.
Podemos ver nelas exemplos como mobilizados como critérios (operadores
mobilizáveis), não nos mesmos termos das normas, mas são suscetíveis de ser
considerados como exemplos considerando a situação e o sistema jurídico em bloco.
Se o jurista decidente, decide afastar a decisão de um precedente, do ponto de vista
institucional poe-se em marcha o recurso, o tribunal superior, com o objetivo de
estabelecer um precedente jurisprudencial, vai voltar a analisar o caso.
Nada disto significa que a jurisprudência tenha de ser algo obrigatório, há do ponto de
vista processual operações que permitem o afastamento.
O distinguishing (ausência de relação suficiente entre o precedente e o caso sub
iudice), e o over ruling (superação da decisão anterior por se entender que já não é
adequado aquele sentido normativo para aquele tipo de problemas
24
teorias científicas sobre o direito e definições jurídicas. A Tarefa constitutiva, chega
depois
A dogmática jurídica é próxima da realidade e da prática, ela pensa e antecipa
problemas que podem surgir da relação da realidade com a sistema jurídica. Ela
propõe novos modelos, critérios e até princípios.
Presunção de racionalidade, de convocação material de sentido sustentada pela
argumentação.
Tem função estabilizadora de sentidos que a pratica jurídica vai assimilando, um certo
respaldo da prática. Tem função dinamizadora, propõe soluções novas vindas do
direito já vigente. Tem função desoneradora, as disposições que cria libertam o jurista
de problematizar o direito sem fim. Tem função técnica, pois permite que o jurista
compreenda mais facilmente o complexo acervo de referências de sentido. Função de
controlo, vai formando linhas de pensamento que moldam a prática
-A realidade jurídica: Traduz o momento de “ação histórica” na juridicidade, por
exemplo, os tipos de contratos que vão emergindo, as clausulas contratuais elaboradas
pelas próprias partes, as novas formas de vinculação recíproca ou certas praticas
empresariais ou dos serviços públicos, constituem manifestações da mencionada
circunstância de a realidade jurídica integrar o sistema de direito.
Percebemos atras que os elementos materiais constitutivos da sociedade têm uma
relevância grande no mundo jurídico. Atendendo àquela tripartição anterior,
economia, política e cultura como os elementos constitutivos
• Realidade económica: na modelação do direito privado e na autonomização
de certos institutos específicos, como a responsabilidade civil do produtor e a
proteção do consumidor, os contatos de adesão ou a responsabilidade civil
baseada no risco, as novas formas contratuais (locação financeira, franchising,
sponsoring), bem como na redensificação de outros domínios como no Direito
Penal económico cada vez mais aprofundado ou o principio poluidor pagador
do direito ambiental, no Direito do trabalho também.
• Realidade política: o perfil normativo-jurídico de vários institutos é
condicionado pela política (o Habeas Corpus da CRP de 1933 só pode ser
considerado enquadrando-o na política da época). Advirta-se que a
constituição como ordem ordenante do corpo coletivo e como estatuto
jurídico do político, a jurisdição incumbida nessa instituição de garantia e
controlo, não realiza uma estrita atividade politica mascarando-se de instituto
jurídico mas não deixa de recorrer a valorações politicas.
• Realidade cultural: Conjunto de valências que o progressivo afinamento da
consciência comunitária vai criando. Apresenta-se-nos como um horizonte
axiológico. É reconstituível dialeticamente através de um processo que tem
como polos o problemático, interpelações concretas humanamente
significativas, e os sentidos que por meio dos problemas se vão redensificando.
Dialética entre intersubjetividade e acervos axiológicos em que uma ordem de
direito autenticamente radica.
Ainda dentro da realidade cultural é de referir o caracter técnico-cientifico,
as informações de caracter técnico-cientifico têm função normativa na medida
25
em que são, por vezes, chamadas a densificar materialmente, de um modo
mais ou menos imediato, o conteúdo de verdadeiros critérios jurídicos
-As regras procedimentais: A dimensão procedimental vai apresentar-nos um
conjunto de regras de decisão, o conjunto de critérios técnicos que os juristas
desempenham na sua função e na construção legislativa. Regras e arrimos
considerados como operados práticos e instrumentos práticos para o desempenho.
26
As Fontes do Direito (como se constitui a normatividade jurídica vigente
de uma certa comunidade – onde e como se manifesta e vem à nossa
presença o Direito?)
Fontes de conhecimento: Fontes previamente constituídas que não nos
explicam o processo de constituição
Fontes de genética: causas e fatores que estarão na origem do processo
constitutivo (ainda antes do processo constitutivo)
Fontes de validade: remetem para o problema do fundamento (antes do
processo constitutivo)
Fontes de juridicidade: aquilo que confere a um modo específico, o modo
de jurídico
Vamos considerar o caminho percorrido até chegar ao direito constituído.
Como se constitui a normatividade jurídica numa determinada situação
histórico-concreta. Como se constitui e manifesta a normatividade jurídica
vigente numa determinada comunidade?
Isto pressupõe um conjunto de opções
27
lei reconhece-se a si própria como fonte e define também todas as outras fontes,
mostra-nos o problema acabado, e não nos diz nada sobre o processo de constituição
da normatividade jurídica vigente. Para o positivismo o problema das fontes seria
suscetível de resolução através da consideração do direito já constituído, resolver-se-ia
a questão dos modos admissíveis (fontes) perguntando ao corpus iuris já constituído,
quem teria poder para criar direito vigente, e a resposta será oferecida através das
determinações que o poder legitimado para criar direito estabelecesse sob quais as
fontes de direito admissíveis (normas jurídicas obrigatórias – leis – poder legislativo).
No nosso sistema jurídico, o nosso CC, estabelece nos seus 4 primeiros artigos as
questões referentes às fontes de direito tal como o legislador as propôs (já com
alterações)
2º- Assentos: o texto deste artigo (já revogado, entretanto) dizia que os tribunais
podiam fixar por meio de assentos, doutrina.
3º - Valor jurídico dos usos: cumpre analisar comparando com as fontes tradicionais
4º - Valor da equidade
A leitura destes quatro artigos nos concluímos que a lei tem aqui uma prevalência
como fonte imediata e condição de admissibilidade de outras fontes. Um sistema de
legislação como o nosso, a normatividade jurídica se objetiva na legislação, apesar de
não ser exclusiva. Está em causa compreender que estes quatro artigos são eles
próprios resultado do processo constitutivo do direito, apresentam-se já como direito
positivo. Se perguntarmos ao direito positivo (o resultado) como é que se constitui,
isso dá por concluído a problemática da sua constituição. Isto leva a tentar outra
perspetiva, pois queremos perceber como se constitui e manifesta o direito vigente,
não podendo ser respondida pelo poder que o manifesta, mas sim pelo processo
constitutivo.
28
como um processo em continuo desenvolvimento cuja vigência se ira concentrar entre
validade e eficácia, e por via das instituições ganha positividade?
29
autónomo no nosso elenco, mas não significa que esteja completamente afastado.
Exemplo do artigo 348.
30
3) A teoria tradicional das fontes do direito.
a) O seu sentido e temática – crítica:
b) Alusão particular ao problema dos “assentos”. Instituto especificamente
português que entronca no direito pré-constitucional. Estão no artigo 2 do CC,
mas revogados. Um assento é um mecanismo que provem dos tribunais e que
permitia fixar doutrina com força obrigatória geral. É um instituto muito antigo
no Direito Português, constitui uma solução encontrada para garantir a unidade
da jurisprudência, ainda no reinado de D.Manuel I (seculo 16). Os assentos da
Casa da suplicação, constituíam interpretação vinculativa mecanismo de
esclarecimento de dúvidas, um meio de interpretação autêntica das leis com
força legislativa. São confirmados pela lei da Boa Razão em 1769. O instituto
permanece no ordenamento jurídico, até 1966 onde teve fixação como lei
geral. Já no contexto do então artigo 768/3 do código processo civil: uma
prescrição do Supremo tribunal de Justiça emitia para resolver conflitos
jurisprudencial, com força obrigatório, e num enunciado normativo que
assumia a forma de preceito geral e abstrato como se de norma se tratasse. Era
o resultado de um recurso específico quando havia contradição de decisões
sobre a mesma legislação e caso concreto.
Revogados em 95, em três casos concretos julgados pelo TC, foram
declarados inconstitucionais, citando várias posições doutrinais,
Voltaram mais tarde já nos nossos dias os recursos, nos artigos 688 e
seguintes do código do processo civil, estabelecidos por uma reforma de 2013,
para uniformizar a jurisprudência, mas não temos os assentos como fonte
formal. Assume-se que a jurisprudência tem uma influência capital, havendo
normas capazes de afastar jurisprudência e também de a unir
Alem dessa construção dos assentos, podemos ainda ver outras fontes
referidas. O artigo 3 fala-nos dos usos – pratica mais ou menos constante e
reiterada (sem o elemento do animus), relevantes para o DIP e para o interno
começando até pelo CC, pois convoca os usos como referentes de orientação,
por exemplo no que diz respeito ao pagamento do aluguer, artigo 1039 do CC,
a possibilidade do pagamento, que admite outros prazos de acordo com os
usos.
31
Tópicos para uma reconstruída teoria das fontes do
direito (consonante com o pré-determinado sentido do
direito)
A perspetiva: Como se constitui e manifesta o direito numa comunidade
histórico-concreta, assumindo que o problema das fontes implica a analise
dos diferentes processos da construção do direito vigente. Que modos
constitutivos do direito nos apresentam? Quer estejamos perante
costume, lei ou jurisprudência judicial, quer perante a construção
dogmática. É uma questão prepositiva, meta-positiva, pois só na junção de
dois momentos anteriores objetivando-se no momento constituinte
Estas duas dimensões não constituem direito. Só quando a dialética articulante destes
dois modos se projeta institucionalmente, numa instituição que a comunidade
considera legitimada. O modo como se articulam, gera um certo modo de constituição
32
do direito vigente. Como e que nos sabemos que a conjugação vai dar costume,
jurisprudência ou lei?
E ainda razoes de ordem funcional, pois de facto a lei é a mais adequado para
responder aos problemas dos nossos dias, ela realiza funções planificadoras,
integradoras, reformadoras, orientadoras etc. AS caracteisiticas normativas da lei
permitem-lhe desempenhar funções praticas na sociedade que nenhuma outra fonte
logre cumprir no mesmo grau. A lei tem funções politico-sociais e funções jurídicas.
33
Quanto às primeiras, a lei assume uma ordenação politico-social e reformadora que
traduz a capacidade da definição jurídica do programa social, a função planificadora da
ordem-jurídico social, a lei estabelece também regulamentação instituinte, estabelece
o quadro institucional que a ordem se vai desempenhar.
- Limites Funcionais*: contrapõem a ideia de que só a lei deve ser chamada a fazer
tudo. Principalmente tendo em conta o nosso Estado de Direito, que decorrente das
razoes apontadas em cima, apresenta “reservas de lei”, “preferências de lei”, razoes
sociológicas ligadas às sociedades modernas, às razoes funcionais que levam a que se
lhe reconheçam todas as funções em cima e por fim a razoes normativas, como a
função jurídica de integração ou função jurídica de garantia. Há uma zona em que
estas razoes determinam que seja a lei a fazer direito, mas fora de elas há temáticas e
sentidos que resta espaço para construir direito por outras experiencias constituintes.
Por exemplo no direito contratual, que constitui direito vigente apesar não constituir
lei, a liberdade contratual
O direito não é só constituído pelo legislador, participando nessa sua criação mais
instâncias, com diversas legitimidades e outros modos de atuação, dentre as quais se
destaca a jurisprudência judicial, através da decisão judicativo-concreta dos específicos
problemas que é chamada a resolver – o que logo contribui para nos desvelar a
metodologia jurídica como verdadeira fonte do direito.
Podemos ter situações em que a norma está formalmente em vigor é convocada para
a resolução e no momento da análise comparativa, se vem a concluir que o problema
da realidade não se apresenta no modo por que a norma legal intenciona aquele tipo
de problema. Ou seja, na relação com a realidade, a norma legal esta limitada porque a
realidade já não se apresenta pelo modo que se intencionava ou pode ser que a
realidade a que norma de dirige, desapareça de facto. Situação em que a norma legal,
esta em vigor, possa ser valida do ponto de vista geral e abstrato, mas ao longo do
tempo perde eficácia, pois a realidade deixou de a convocar ou cessou – definição de
norma obsoleta, a norma esta formalmente em vigor, mas não é eficaz.
Uma norma que era perfeitamente valida no momento em que foi constituída, era a
concretização normativa adequada dos princípios normativos em que se
fundamentava, pode ver por força da passagem do tempo e assim da alteração do
sentido dos princípios, posta em causa progressivamente (de modo mais lento ou
abrupto) a sua validade. A norma legal pode perder a validade de modo progressivo
em virtude de que os princípios normativos terem sofrido alteração, evolução de
sentido. A norma mantém a mesma cristalização e assim sendo, se os princípios
sofreram alteração e a norma não, ela pode deixar de ser a concretização
normativamente adequada dos princípios, perdendo assim a validade. A norma torna-
se caduca, perdeu a sua validade, embora possa estar formalmente em vigor.
Quer na obsolescência quer na caducidade a norma não foi revogada. Acontece que no
momento em que ela vai ser convocada para a resolução do caso concreto, o jurista
conclui que a norma é obsoleta ou caduca.
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- Limites de validade: a norma legal que sofrer deste limite, não estará nem estará em
consonância intencional com o sentido normativo dos princípios normativos a que
deveria ir, desde o início do seu vigor. Este limite é intrínseco desde início da vigência
da norma.
Se uma norma legal é positivada e entra em vigor, ela não pode impedir que os
princípios normativos evoluam, se ela se vier a apresentar em concreto de forma
falhada, mas ainda não contraria aos princípios, teremos de admitir que ainda é
possível recuperar parte da norma, interpretando de forma aos princípios.
Aproveitamos da normatividade da norma o que ainda sobra de normatividade
comum aos princípios. Se porem a passagem do tempo implica que a norma contrarie
os princípios terá de ser superada (afastar a norma em nome dos princípios). Se a
contrariedade estiver logo no início, falaremos de preterição conforme aos princípios
(a norma deve ser preterida por outra)
2- Momento de objetivação.
É a precipitação do direito constituído, chegados aqui já sabemos pelo que esta escrito
em cima, o que é que chega aqui, sabemos que o direito chegou aqui como lei,
costume ou decisão judicial. Quando entra em vigor, assume-se objetivado no sistema,
precipitação no corpus iuris vigente, só estamos perante direito quando uma
especifica validade se manifestar como eficaz e, portanto, vigente. Ora essa vigência
tem sentidos diversos consoante a fonte jurídica.
O costume não nos permite definir a data e hora da sua data em vigor, mas a
legislação sim, vimos já no CC que uma lei entra em vigor de acordo com o prazo por si
própria estabelecida, ou decorrido o período de vacatio legis.
A decisão judicial isso também é determinável, mas como sabemos, o direito constitui-
se quando a decisão é proferida. Sabemos também que o processo judicial em muitos
casos não termina no momento em que a sentença é proferida em primeira instância.
Apenas quando a decisão percorre todo o transito em julgado, quando já não é
passível de recurso ordinário e mesmo assim há possibilidades de recursos
extraordinários. Mas conhecendo o sistema jurídico, conseguimos saber quando ela
constitui direito para os sujeitos, que é quando é proferida, ela tem efeitos logo ali,
mas pode vir a ter mais ou menos.
Em suma
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Momento de Validade: intersubjetivamente partilhado e constituendo referente de
sentido pressuposto em que radica o juízo discriminador do válido/inválido, do
justo/injusto, ou, quando menos, do lícito/ilícito que se exige do direito.
38
apoio de soluções sistematicamente pré-disponibilizadas, havemos de corroborar a
necessidade de uma recompreensão da teoria das fontes, segundo as linhas agora
esboçadas. Por outras palavras, a metodonomologia que vamos estudar a seguir
necessita desta compreensão da teoria das fontes.
Este caminho tem para os juristas uma importância decisiva, porque o direito é uma
tarefa problematicamente constituenda, é por mediação dos casos que o direito se vai
constituindo. Estamos a analisar o pensamento que o direito, no momento em que é
mobilizado, faz sobre si próprio.
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problemas concretos, orientada por uma validade. Impõe-se, portanto, desvelar “a
metódica de trabalho dos juristas”.
As escolas teoréticas que dominaram o seculo 19, são de facto as escolas positivistas.
Antes disso, a construção do positivismo faz-se através de momentos:
40
Quanto aos dois primeiros, é possível trocar a ordem dos dois na sequencia.
A corrente teorética que surgiu no inicio do seculo XIX. É a escola que resulta da
exegese do código civil francês de 1804, que é a unificação do direito civil em França.
Em frança, no norte permaneceu mais o consuetudo, o direito romano é mais forte no
sul do que no norte, a comissão redatora do Código era predominantemente
nortenha, e portanto, a formação jurídica era de referencia ao costume mais do que a
formação romana, apesar de fortemente influente. Encontramos la um forte legalismo
institucionalizado no pós revolução, e portanto o direito visto como lei politicamente
legitimidade (coordenada politico-institucional – só é direito aquilo que for criado pelo
legitimo). Direito é lei e a lei é a única fonte.
Impunha-se ao jurista conhecer antes do caso o direito para depois o aplicar logico-
dedutivamente. A tarefa do jurista podia ser denominada como → a exegese, ou seja,
total passividade hermenêutica. O jurista não interpreta a lei, apenas a conhece
filológico (estudo da língua) e gramaticalmente. Qualquer sentido interpretativo a que
o interprete pudesse chegar que não tivesse atinência com a letra da lei, seria só por
isso excluído dos sentidos possíveis da lei. Ao fechar o direito no sistema, o juiz é
obrigado a julgar, mobilizando os mecanismos que o código contem textualmente. A
consideração de que todas as determinações de relevância jurídica estão codificadas,
conduz a que o juiz seja obrigado a julgar com base exclusiva nos textos legais. Como
se chega aqui? Os redatores do código tinham intenção de estabelecer um dogma de
plenitude logica do sistema jurídico? Não, o plano não era fechar o direito num
sistema positivado, mas isso aconteceu por razoes politicas e jurídicas e cientificas. No
titulo preliminar do código civil, permitia o recurso à equidade no sentido de recuperar
o direito natural que desapareceu na versão final do Código. A versão inicial tinha por
outro lado, uma obrigação de julgar, ou seja, proíbe a denegação de justiça sob pena
de perseguição ao juiz, e isto manteve-se. Ora há aqui uma dupla obrigação de julgar e
de seguir obrigatoriamente os textos legais, pois a dimensão de heterointegração foi
excluída. A intenção não era fechar na lei. Contudo os verdadeiros interpretes do
código, os exegetas viram se obrigados a considerar exclusivamente as respostas do
código proibindo a hipótese de denegação de juízo, caso não houvesse lei clara para
o problema concreto. Perante isto várias possibilidades se propuseram porque, os
vários sentidos possíveis das palavras e a incontornável historicidade da vida forçavam
por vezes os juristas a arriscar algo mais, apesar da desconfiança da sociedade da
época em torno dos tribunais, justificada pela cumplicidade dos tribunais com o
absolutismo régio pré-revolução. Recorria-se nestes casos ao “espirito da lei”: O
instituto do refere legislatif: as duvidas sobre interpretação eram remetidas ao
parlamento. (completar com o sublinhado no livro). Não há auto integração de lacunas
e, portanto, resta, a analogia legis e a analogia iuris (recurso a princípios gerais de
direito).
42
momento em que a lei é criada. Objetivo político de fazer perdurar no tempo o ideário
que culminou na construção da lei (subjetivismo histórico – o objetivo da interpretação
é subjetivista, determina-se a vontade do legislador que se constata no texto legal,
analisada ao momento em que a lei é criada) e do ponto de vista científico, tinha-se a
ideia de fazer do pensamento jurídico ciência, ou seja, conhecer o objeto, determinar o
seu sentido e lealdade ao seu fundador (o legislador legitimado).
No lado alemão temos uma análise diversa, quanto às bases e intenções constitutivas
do direito mais até do que do ponto de vista das fontes. Temos semelhança do ponto
de vista científico, mas não no político-institucional.
Com isto cumpre reconhecer que para Savigny, aquilo que vai se traduzir por
instituto jurídico não é a produção legislativa, mas sim um conjunto de práticas. Para a
exegese, o conjunto dos preceitos jurídicos que regulam uma certa figura jurídica
(institutos como contratos, propriedade, casamento etc.). Para Savigny o instituto não
é um conjunto de preceitos jurídicos (normas legais), é um conjunto de práticas. É uma
construção orgânica de uma figura jurídica pelas práticas que efetivamente a
substancializam (o casamento é o conjunto de relações que se estabelecem entre os
cônjuges, é independente da lei que a define).
43
texto, o que corrobora que para uma realidade seja juridicamente relevante, ela
tem de estar prevista, gramaticalmente
• Objetivo:
• Elementos: O elemento gramatical, histórico e sistemático (intratextual), ao passo
que o elemento teleológico era extra textual e excluído da interpretação
• Resultados:
À ciência do direito que se fez referência, Friedriech Carl von Savigny reconhecia três
dimensões:
Neste sentido, note-se que foi o idealismo alemão de matriz kantiana o principal
responsável pela redução da juridicidade a um desvitalizado sistema conceitual, que
representa uma abreviação da realidade.
44
Savigny entendia o direito como sistema orgânico de instituições, (completar com
livro)
Geny vai sistematizar esta proposta de insuficiência material do direito legal através da
distinção entre ciência e técnica, o dado e a construção, respetivamente. Na sua
proposta, a ciência ocupa-se com o dado, ou seja, a ciência preocupa-se com os
elementos objetivos constitutivos do direito (prévios à institucionalzaição em lei ou
outra fonte), os dados que estão na origem do direito. Dados que têm 4 tipos: reais
(condições da vida social e comum), históricos (tradições, costumes), racionais
(implicam uma remissão para o direito natural racional jusnaturalismo iluminista), e
ideais (ideais que orientam os homens na vida social).
45
Estes dados fornecidos pela ciência vão ser elaborados pela técnica, que elabora as
fontes do direito, das quais a lei mas não de forma exclusiva, relevando o costume.
Concluindo, ele não abandona o positivismo, prefere a lei como fonte mas reconhece
mais fontes, abandona a ideia de auto-integração de lacunas do positivismo e assume
ainda, quanto a interpretação uma posição subjetivista histórica
Esta perspetiva do direito livre diz-nos que é todo o direito livre da lei, que não seja
criado pela lei, ele exprime todo o direito que se constitui e se manifesta para alem da
legislação, e mais especificamente a modalidade de construção judicial do direito
extralegal, centrado no julgador.
Para estes autores, a sentença é ato de vontade, do jurista decidente, que deve tomar
sem que em qualquer caso, pudesse vir a aplicar uma norma que fosse contraria ao
seu sentimento de justiça. Racionalismo formal do positivismo pela contrução pratica
que remete a um voluntarismo, não cego, mas projetado no jurista decidente pelo
sentido a tomar, tendo em conta a sua intuição do justo. Sera que o direito livre estaria
a admirtir um irracionalismo voluntarista? Não, na verdade a proposta destes autores,
não é tao radical quanto isso, mas havia admissibilidade das decisões baseadas no
direito livre. Porque a lei é naturalmente lacunosa, mesmo quando prevê não prevê
completamente, e justifica-se a admissibilidade da decisão contra a lei
O seu caput scholae, PHILIPP HECK, foi fortemente marcado pelas disputas que, à época,
intranquilizavam o horizonte do direito. Contra o formalismo conceitualista, a Jurisprudência
dos interesses louvou-se no finalismo de matriz sociológica, que HECK colhera em IHERING.
Para IHERING, o direito deve o seu sentido a fins societariamente relevantes, conquanto não
deixe também, em termos circularmente dialéticos, de os codeterminar, e tendencialmente
equivalentes, que o vão adequando às exigências de cada campo e concorrem para assegurar a
subsistência da própria sociedade em conformidade com a comunitariamente radicada ética
pragmática e utilitarista.
Esta importante Escola alemã, de clara inspiração sociológico-finalista, feriu de morte o formal
racionalismo idealista da Jurisprudência dos conceitos, sublinhando o imperioso dever de
obediência à norma legal. Assim sendo ,esta escola centrou-se mais na norma-problema do
que na norma-texto, razão por que se pode dizer que ela veio substituir a legislação, de
sentidocomum, por uma genuína legisprudência (hoc sensu: pela formulação ponderada de
normas jurídicas prático-problematicamente fundamentadas).
Deste modo, mais importante do que atender à vontade manifestada pelo legislador, é
considerar os chamados interesses realmente causais da norma e, daí, que em matéria de
interpretação, a Jurisprudência dos interesses legou-nos uma teoria da interpretação jurídica.
Ora, para compreender o sentido normativo da norma, o intérprete deve considerar o conflito
de interesses que a norma interpretanda tivesse dirimido de determinado modo, impondo-se-
lhe depois repensar inteligentemente esse critério, atenta a singularidade do caso
concretamente decidendo. Por conseguinte, note-se a norma já não era a premissa maior de
uma inferência lógica, mas o modelo de uma ponderação prática; e que o próprio caso se não
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reduzia a mera espécie conceitualmente enquadrada e subsumível ao género norma, antes se
perfilava como problema com uma específica relevância normativo-jurídica, que importava
apurar através de um genuíno juízo autónomo de juridicidade sobre o mencionado caso
decidendo.
Paralelamente, distinguiu ainda entre sistema interno e sistema externo. O sistema interno
dizia respeito à unitariamente estruturada consideração dos problemas normativos e das suas
soluções específicas; e o sistema externo tinha apenas a ver com a expositiva reprodução,
especialmente determinada por objetivos didáticos, dos conteúdos jurídicos.
Em conclusão , Philiph Heck com a sua proposta coloca a tónica no caso concreto, embora
continue a partir da norma legal de forma racional e lógica; o objeto continua a ser a norma,
mas enquanto solução valoradora de conflitos de interesses. O elemento gramatical ( num
primeiro momento cosiderava-se a letra , enquanto elemento gramatical) perde então a
relevância autónoma e prescritiva que lhe permitia executar uma tarefa de exclusão e é
apenas utilizado como auxilio. O elemento teológico passa a ocupar o lugar primordial , antes
ocupado pelo elemento gramatical.
Com efeito, aquela “vontade normativa” do critério interpretando nada mais era do que a
preferência do legislador por um dos interesses em conflito.
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caso-problema decidendo era também autonomamente analisado pelo jurista, em ordem ao
esclarecimento do conflito de interesses em que radicava. Por conseguinte, a mobilização
daquele critério-problemático para a resolução deste caso-problema só seria normativo-
juridicamente admissível se e quando o conflito de interesses decidido pelo legislador na
norma fosse semelhante ao conflito de interesses constitutivo da controvérsia concreta. Com
efeito, significa isto que estes dois polos discursivos eram relacionados por mediação de um
juízo analógico.
Por outro lado, HECK era bem claro em procurar manter-se em consonância com o legislador:
o decidente não estava impedido de sustentar a relevância jurídica de interesses
marginalizados pelas normas legais pré-objetivadas, mas já estava vinculado aos juízos de valor
das normas não imediatamente aplicáveis.
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• Insuficiência de base sociológica
• Insuficiência criteriológica
• Insuficiência sistemática
• Insuficiência filosófica
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A interpretação jurídica
1) O sentido do problema:
Desde já, diga-se que entendemos que a interpretação jurídica: é apenas um dos
momentos da complexa inveniendi da decisão judicativa e que não consiste em atingir
e determinar a significação apenas textual (não é hermenêutico-cognitiva) dos
prescritivos textos jurídicos, antes, em assumir e realizar a tarefa prática que é própria
do direito (intenção pratico-normativo)
Na verdade, constitui hoje um lugar-comum a afirmação de que qualquer proposição
significa sempre mais – assim, se desvelando o excesso de significado em relação ao
significante. Ou ainda: na medida em que não se reduz ao enunciado literal que
comunica, um qualquer critério jurídico traduz sempre uma hesitação prolongada
entre o intersubjetivo-comunitariamente partilhado e problemático-analogicamente
reconstituível sentido da normatividade vigente e a sua histórico-culturalmente
possível objetivação e praxístico-judicativamente fundamentada mobilização.
Note-se: o problema da interpretação jurídica não é hermenêutico-cognitivo, nem
analítico-linguístico, mas antes prático-normativo. Isto por duas ordens de razões: é
que a interpretação, enquanto tarefa hermenêutica, seria, na sua inesgotabilidade,
uma tarefa impossível, dado o caráter constituendo do direito, radicado na
indefinibilidade do seu sentido ; só a impostação das coisas, desta perspetiva, permite
que o jurista se centre – no que lhe importa – no exercício reflexivo de tentar extrair a
decisão concreta do critério interpretando. Assim, entendemos que ao jurista não
compete aceder à compreensão do sentido (cultural, jurídico-cultural) ou da
significação (linguística) dos textos jurídicos, mas atingir a normatividade jurídica das
normas jurídicas.
Para a teoria positivista, a interpretação jurídica consistia na reconstituição do
pensamento contido na lei, isto é, na determinação ou da vontade do legislador-autor
da lei, ou do sentido autonomamente comunicado pela própria lei, com total
menoscabo da respetiva “aplicação”.
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Ora, da perspetiva prático-normativa, o que importa é esclarecer como devemos por
critérios e fundamentos jurídicos em geral, em conexão com o caso controvertido,
para adequadamente constituirmos este último como problema juridicamente
decidendo, e como devemos utilizá-los, para adequadamente solucionarmos o caso-
problema.
Deste modo acentua-se o caráter analógico da interpretação jurídica e sublinha-se a
ideia de que a analogia se mostra consonante com a tensão que perpassa a
metodonomologia, pois ao aproximar polos distintos (núcleos problemáticos
diferentes, mas justificadamente equiparáveis), do mesmo passo desvela a infinidade
de sentidos que se lhes pode imputar; e, por fim, assume-se a compreensão de que a
tarefa interpretativa não esgota a problemática metodonomológica, consistindo antes
num ato normativo que concorre, como seu elemento, na praxis metodologicamente
específica da judicativa realização concreta do direito, no horizonte do
convencionalmente estruturado quadro institucional do sistema jurídico vigente.
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O critério que as distingue, é o autor e a força vinculativa dessa interpretação que na
autêntica é a força de lei e na jurisprudencial a força é a sustentabilidade dos seus
argumentos e os seus sentidos que se devem ver adequados com o problema concreto
O legalismo do seculo 19 era apenas o direito positivado sob a forma de lei, o objeto
era, portanto, o texto da lei, pois era o texto que constituía a lei, era muito mais do
que o seu registo
Quanto ao objeto da interpretação diremos, desde já, ser ele não a norma texto, mas a
norma-problema. Ora, da perspetiva tradicional, o direito era entendido como texto (a
textualidade é constitutiva da norma legal), e o texto era entendido na sua
globalidade, sendo composto por dois segmentos: a letra, enquanto imediata
expressão verbal da proposição; e o espírito, isto é, o conjunto das significações
imanentes à norma legal, veiculadas por vários elementos ou fatores de interpretação
(intratextuais). Elencando agora os elementos intratextuais
Por seu turno, o aludido postulado radica em três pressupostos: na utilização, pelos
critérios jurídicos, da linguagem comum; na univocidade desta linguagem; e na
inalterabilidade do significado das expressões linguísticas comuns quando utilizadas
em critérios jurídicos.
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Em suma, ao jurista-decidente não importa a norma enquanto corpus semântico-
prescritivo, que comunica impositivamente um sentido literal, mas a norma enquanto
regula prático-normativa, que se revela apta para orientar, em termos também
prático- normativamente fundamentados, a solução de um problema, ou de uma série
de problemas, a que justificadamente se reconheça uma relevância especificamente
jurídica, pois, de contrário, em vez do significado dominar o termo, é o termo que
domina o significado. Por fim, importa dizer que a posição de princípio que se tome
quanto ao objeto da interpretação, condiciona a perspetiva adotada, não só em
matéria de elementos, como também de objetivos e resultados interpretativos.
3) O objectivo da interpretação:
Aquilo que se pretende obter através da interpretação implica do ponto de vista da evolução
histórica, uma consideração de uma polemica que se desenvolveu no seculo 19 que opôs o
subjetivismo ao objetivismo (interpretação dogmática ambas, de reconduzir o sentido da
interpretação ao sistema)
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Ora , uma vez que a norma era considerada como um texto, a discussão fundamental
no que toca aos fins da interpretação, girava em torno das correntes subjetivistas e
objetivistas, atualistas e historicistas. Tratava-se de saber se a descoberta do
significado do texto se obtinha mediante uma referência ao respetivo autor (o sujeito)
ou emanava do texto enquanto tal, independentemente da vontade do legislador que
o criou, e se o momento preciso para fixar esse sentido deveria ser o da elaboração do
texto ou da sua interpretação. Com o tempo, as duas dicotomias cruzaram-se, gerando
proposta de subjetivismo atualista e de objetivismo historicista.
Por fim, note-se que a presunção do legislador razoável conhece três declinações, das
quais apenas as duas primeiras foram expressamente consagradas no nosso Código
Civil (art. 9.o/3): a presunção de razoabilidade material ou no tocante ao conteúdo ou
mérito substantivo (a ideia de que o legislador consagrou as melhores soluções);
1. A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos
o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que
é aplicada.
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2. Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo
que não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que
imperfeitamente expresso.
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teleológico. De todo o modo, o intérprete nunca poderia, com recurso a tais
elementos interpretativos, alcançar um resultado que não tivesse na letra da lei um
mínimo de correspondência verbal. Com efeito, a lei assume uma função autónoma
negativa de exclusão, analítica e cronologicamente prioritária relativamente à
consideração dos demais elementos interpretativos, pois que define, com força
normativo-prescritiva os limites de significação do texto.
Graças a este relevo negativo, a letra da lei ao traçar as fronteiras da interpretação
identifica logo os candidatos negativos à significação do texto, isto é, todos os
significados que inequivocamente exclui. Depois, o elemento gramatical intervém
num sentido positivo, e com valor meramente indicativo, na seleção do significado a
privilegiar em definitivo .
57
O SENTIDO TRADICIONAL ALTEROU-SE
Superada esta incompreensão da interpretação jurídica e assumida a perspetiva que
temos vindo a propugnar, tudo se altera também no âmbito problemático dos
respetivos resultados. Do que se trata, então, é de utilizar, de um modo prático-
normativamente adequado, os critérios justificadamente mobilizados para orientar as
concretas decisões judicativas. Ora, neste outro entendimento da questão principal, o
pensamento jurídico acabou por abrir-se à consideração de resultados interpretativos
incompatíveis com a orientação tradicional e inucleados na convocação da relevância,
da teleologia e do fundamento do critério interpretando. Com efeito, uma vez que a
norma é encarada como solução jurídica para um problema, a interpretação consiste
nuclearmente na comparação entre o caso exemplo e o caso concreto, em busca de
semelhanças à luz do sentido do direito.
Desta comparação, podem resultar várias hipóteses de interpretação:
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6) O significado da evolução: o caso decidendo não só como "objecto" da
metodologia jurídica, mas autenticamente como "ponto de partida" e "perspectiva"
do exercício metodonomológico.
1. Quanto ao objeto:
2. Quanto ao objetivo
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O reconhecimento do mérito autónomo do caso decidendo e a sua compreensão como
efetivo prius discursivo concorreram para que o elemento gramatical perdesse o seu
estatuto de fator autonomamentedeterminante da interpretação.
Deste modo, perfila-se, diante de nós, uma escala gradativa distinta da sublinhada pelo
positivismo, em que as concludentemente reconhecidas centralidade do caso e
sentido do sistema determinam a distinção dos concretos problemas jurídicos que
encontram na pré-disponível e apenas redensificável normatividade jurídica o
critério/fundamento da sua decisão judicativa, daqueles outros que autenticamente
postulam o aludido desenvolvimento trans-sistemático do direito.
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É que o positivismo cindia a interpretação da lei e a integração das lacunas, consoante
ainda se estivesse dentro de uma das aceções possíveis da hipótese textual da norma
diretamente reguladora dos factos controvertidos, ou aquela hipótese normativa
apenas fosse indiretamente convocável em virtude da suficiente semelhança dos
factos previstos e dos factos omissos.
Donde, nada mais natural do que assumir a inevitabilidade que deste modo se deteta,
erigindo-a em núcleo da problemática metodonomológica e estruturando em termos
consonantes o modelo da judicativo-decisória realização do direito.
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se encontrar numa semelhança irredutível – a instituída pelo adequadamente
fundamentado mérito jurídico das quaestiones decidendi.
Podemos então dizer que a analogia é a essência do juízo. Ora, a importância prática e
metodonomológica da analogia radica na circunstância de ela sintetizar: uma reflexão
que discorre de particular a particular (de um particular conhecido para um outro
particular desconhecido ou menos conhecido) por cuja mediação se vai arriscando a
(re-)constituição de um pressuposto termo de comparação (o tertium comparationis)
suscetível de fundamentar a eventual afirmação de uma correspondência de sentido,
ou de uma semelhança relevante entre aqueles dois polos, tomados sempre na sua
específica autonomia, o que, conjuntamente, traduz, por outras palavras, a
problematicidade, aberta e racionalizada, nuclearmente predicativa dos dois referidos
horizontes temáticos, e ainda na de o citado operador discursivo se louvar de uma
perspetiva pragmática, no princípio da inércia, de uma perspetiva metódica, no
princípio da abdução e de uma perspetiva axiológica, no princípio da igualdade.
Se, em vez daquele, nos depararmos com um círculo de diferença (com um conjunto
em que se revelem fundamentadamente incongruentes os dois polos discursivos), se,
em lugar da continuidade que o primeiro identifica, se perfilar ao jurista decidente a
exclusão predicativa do segundo, intervirá a chamada analogia inversa – em que a
experiência feita se não ajusta à especificidade da experiência a fazer, mas não deixa
de funcionar como instância de controle negativo do juízo, neste último horizonte .
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A integração
Por seu turno, em termos histórico-diacrónicos, deve assinalar-se a diferença introduzida pelo
movimento codificatório. Antes desta época, naturalmente, a dificuldade não era sentida,
nem, decorrentemente, tematizada: o sistema manifestava-se aberto e incluía o direito
subsidiário, a que se recorria, quando a legislação se revelasse insuficiente.
Ora, a questão tornou-se aguda com a pretensão, assumida pela codificação, de definir prévia,
racional e esgotantemente o corpus iuris: de modo paradoxal, foi a afirmação do ideal de um
direito (positivo) completo que produziu o conceito de lacuna. Em termos formalmente
lógicos, através da invocação do princípio negativo geral (ZITELMANN), ou do princípio
universal negativo, era a orientação preconizada pelo positivismo exegéticolegalista, que
atirava para o espaço livre de direito tudo o que não estivesse normativisticamente prévisto.
Deste modo, entende-se o conceito de lacuna: esta verificar-se-á quando o sistema positivo,
imediatamente, ou por interpretação (respetivamente, formal ou intencionalmente) –
atendendo ao seu plano ordenador inferido dos princípios, fins e juízos de valor que lhe vão
implícitos –, permitir qualificar um determinado caso como juridicamente relevante e, todavia,
for omisso, inadequado ou incompleto acerca da respetiva disciplina ou regime. Conceito este
que facilmente se precisará se esclarecermos o critério de delimitação de uma lacuna
Por seu turno, a fronteira interior coincide, da perspetiva mais apegada, à melopeia composta
pelo método jurídico, com os sentidos suscetíveis de serem atribuídos à letra da lei, e de uma
outra mais arejada, com a intencionalidade teleológica da norma em causa. Neste sentido, é
possível distinguir vários tipos de lacunas:
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• As lacunas normativas, de previsão ou autênticas, que se verificam quando a mediação
judicativa não é só por si bastante para viabilizar a aplicação a um certo caso de uma dada
norma jurídica, exigindo-se, para o efeito, uma nova disposição que se encontra a menos
na lei e tornandose, assim, necessária, pelo menos às vezes, para colmatar essa falha de
política legislativa, uma nova decisão do legislador;
• As lacunas de regulação, de estatuição ou inautênticas, que não inviabilizam a estrita
aplicação da lei, mas que a afetam, e que se mostram passíveis de ser colmatadas pela
instância de decisão, se esta revelar, como deve, a intenção e a teleologia da lei.
As lacunas de lei
As lacunas do direito traduzem omissões censuráveis ao legislador – que ele próprio será
chamado, em primeiro lugar, a colmatar, e que, de um ponto de vista normativo, podem ser
patentes e ocultas (quando a lei disponibiliza a mencionada regulação, só que esta se revela
prático-normativamente inadequada, pelo que deverá ser objeto de uma restrição, v.g., sob a
forma de uma redução teleológica), e, de uma ótica cronológica, iniciais e subsequentes – na
global pressuposição do deveniente sentido de direito vigente.
Por fim, note-se que esta via do pensamento tradicional, é a via em que afinal se inscreve o
artigo 10º do CC – confinava a analogia à integração das lacunas quando nós igualmente a
reconhecemos como a modalidade de raciocínio ajustado ao problema da judicativo-decisória
realização do direito por mediação de critérios jurídicos disponíveis e circunstancialmente
mobilizáveis.
2) Os critérios da integração:
Neste sentido, aludimos à reserva de lei e à judicial restraint (figura de presença constante na
literatura jurídica estadunidense e segundo o qual o julgador não deve ser chamado a traçar o
programa político estratégico da comunidade). Como exemplos dos segundos, referiremos as
diversas expressões do principio do numerus clausus (que, ao delimitar rigorosamente o
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espaço da juridicidade, impede a respetiva consideração como um relativamente ilimitado
campo aberto, o que não deixa de desonerar o decidente), a regulamentação taxativa de
certas matérias e as controversas normas excecionais (que a orientação clássica – e o artigo
11.o do CC – sustentam não comportarem aplicação analógica, mas que hoje em dia se não
duvida que admitem).
Rigorosamente compreendido, o corpus iuris não é só um objeto constituído por uma cópia de
critérios fixos; é também um sentido constituendo, pois vai integrando fundamentos
polarizados numa experiencialmente radicada, intencionalmente específica e historicamente
deveniente axiologia práticocultural, que densificam aqueles critérios e neles se projetam, e
orientam a solução dos problemas emergentes em consonância com o seu apontado modo de
ser.
Com efeito, não estamos a falar de lacunas, pois estas omissões contra o sistema assentavam
na absolutização da respetiva pré-definibilidade. Do que se trata, é do dever de decidir
judicativamente aqueles problemas que impõem um não meramente reconstrutivo, mas
autenticamente constitutivo, desenvolvimento do sistema da juridicidade, que exigem uma
afoita mutação, em lugar de uma tímida evolução da normatividade jurídica.
Ora, quando uma singular e inovadoramente recortada controvérsia prática só puder ser
qualificada pela pressuposição do sentido do direito - isto é, quando tudo isto se projetar em
uma estrutura polarizada na fundamentante validade, histórico-concretamente realizada por
mediação de um genuíno juízo-julgamento de um legitimado terceiro imparcial – di-la-emos
conformador a de um problema jurídico concreto.
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E, finalmente, o englobante e deveniente ethos comunitário –em que se vai reconstituindo o
sentido último do direito, tanto na linha das suas manifestações precedentes como em
fundamentada rutura com elas, superando-as autenticamente – também concorrerá para
viabilizar a prático-normativamente exigível inter-subjetivização da subjetividade do
decidente.
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A concorrência de normas no tempo
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