Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
3. A CRIPTOMOEDA
CRIPTOMOEDAS
As criptomoedas tem como desafio a volatibilidade, pois sua
alteração ocorre de forma dinâmica e imprevisível. O valor flutuante
faz com que muitos observadores permaneçam descrentes quanto ao
futuro das criptomoeda. Outro não menos importante desafio, é a
violação do sigilo dos “blockchain”, que nas palavras de Ulring
As carteiras de Bitcoin agora podem ser protegidas
por criptografia, mas os usuários devem selecionar
a ativação da criptografia. Se um usuário não cifra
a sua carteira, os bitcoins podem ser roubados por
malware. (ULRING, 2014, p.26)
Sendo assim, uma vez hackeados, o usuário perde a
criptomoeda, sem chance de recuperação.
Os Estados Unidos, pioneiro nas apreensões de Bitcoins por
exemplo, das várias apreensões feitas, tanto online quanto offline,
optou por leiloar as unidades da moeda, que em 2016 já passavam de
2.700 bitcoins acumulados e leiloados. A Bulgária, por outro lado,
apreendeu ao equivalente a US$ 3 bilhões em maio de 2017 e busca
o desbloqueio da carteira para converter a moeda virtual em moeda
local, para sanar sua dívida Pública. A Finlândia, que confiscou em
2016, US$ 22,8 milhões em Bitcoins, até que se encontre uma melhor
solução ao caso, optou por armazená-las em modo offline para evitar
hackeamentos e roubos. Com os exemplos dos governos, é de se
captar que há várias soluções para a satisfação do crédito, devendo
cada uma ser aplicada de forma in casu ou o que melhor desejar o
credor.
Diante de todo o contexto exposto, no curso de um processo de
execução, quando o credor toma conhecimento de que o seu devedor
adquiriu moedas virtuais, poderá ele, de início, postular a quebra do
sigilo bancário do devedor para que se obtenha a agência, uma vez
que todo o processo de compra é feito de forma identificada por fotos
e documentos do comprador.
Se o credor tem conhecimento de que as moedas estão
armazenadas em alguma “exchange” determinada ou determinável,
pode requerer, nesse caso, que a agência ou o credor apresente a
chave privada para o acesso da carteira ou a chave pública,
respectivamente, com as informações das transações realizadas pelo
devedor, em conformidade com o princípio hodierno processual da
não surpresa. Pode ainda, postular o bloqueio da conta do devedor e
a transferência para a carteira virtual do credor ou para um
armazenamento frio/offline de posse do credor.
Tal medida deve ser tomada de forma razoável e proporcional,
de forma a evitar um excesso de execução e violações a ordem
Constitucional, devendo ser penhorado e transferido o valor atualizado
do débito, o que ultrapassar disso, deve ser restituído de imediato ao
devedor.
No entanto, se o armazenamento dessas moedas estiver de
forma “offline” ou em algum tipo de armazenamento offline, incube ao
credor requerer a entrega do dispositivo em atenção ao aludido
princípio da não surpresa. Entretanto, sendo uma execução forçada,
cabe ao credor especificar tal medida de busca e apreensão e o local
do bem de armazenamento, que pode ser em casa, no trabalho ou
lugar habitual diverso, graças ao novo código de Processo Civil, que
concedeu ao juiz a liberalidade de determinar todas as medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias
para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações
que tenham por objeto prestação pecuniária.
Para as alegações de possibilidade de perdimento de valores
das criptomoedas ou ainda, a desvalorização da moeda virtual no
mercado de ações, poderá o credor, para que haja a apuração do que
está penhorado, requerer a expropriação imediata de bens perecíveis,
pois é o que sugere Alexandre Câmara (2017), como forma de
aplicação analógica.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível inferir que apesar de a criptomoeda ser sigilosa e de
difícil acesso, não é sinônimo de anonimato absoluto, como é
difundido socialmente.
No atual sistema Constitucional-Processual, a penhora das
moedas virtuais, ainda que não reguladas pelo banco Central do
Brasil, não é impeditivo para a sua penhora e satisfação da dívida
exequenda, graças ao novo Código de Processo Civil,
que proporcionou ao credor a liberalidade de escolha em como
buscar o seu crédito, bem como ao juiz, a discricionariedade de se
exigir tudo o que resultar em valor e que possa liquidar a dívida no
decorrer da execução, e a Jurisprudência, nesse sentido, vem
indicando ser possível a exigibilidade desse tipo de moeda virtual,
ressaltando apenas, que o pedido não pode ser genérico, por ser de
difícil rastreamento.
Outra ferramenta importante que contribui para a satisfação do
crédito é a do sistema de penhora on-line Bacen-Jud 2.0, propiciando
uma maior concretude e rapidez no atendimento das ordens judiciais,
apoiando o credor e o Judiciário no alcance dessas rendas aplicadas
de forma fixa ou variáveis.
As criptomoedas e a tecnologia do Blockhain são formas de
armazenamentos de dados e bens que estão cada vez mais presentes
na vida em sociedade e que por óbvio, em um curto espaço de tempo,
fará parte da vida das pessoas no dia a dia. O estudo, por exemplo, da
responsabilidade civil e criminal dos hackers que roubam as moedas e
os dados, da regulamentação pelos governos dessas operações
bancárias que não passam pelos bancos credenciados e do
recolhimento do imposto de renda advindo dos lucros dessas moedas
virtuais, contribuem significativamente para que haja uma maior
segurança, no meio virtual, aos seus usuários.
8. REFERÊNCIAS
BANCO DO BRASIL, centro cultural, Origem e evolução do dinheiro,
1998, disponível em : https://www.bcb.gov.br/htms/origevol.asp. Acesso em
08/05/2018.
BENICIO, Alberto Ayres; CRUZ, Alessandro Rodrigues da SILVA,
Marlon Wanger Souza, BITCOIN A MOEDA DIGITAL QUE SE
TORNOU REALIDADE,v.12,n.15,2014.
CÂMARA, Alexandre Freitas, O Novo Processo Civil Brasileiro, 3°
edição, 2017.
Comentários ao novo Código de Processo Civil / coordenação Antonio
do Passo Cabral, Ronaldo Cramer - 2ª edição, rev. atual. e ampl. - Rio
de Janeiro: Forense, 2016, p.22
CRYS, Crys. Serviço de Segurança da Ucrânia apreende
criptomoedas pertencentes a fundador da ForkLog e leva todo seu
equipamento de escritório, 2017, disponível
em: https://www.btcsoul.com/noticias/servico-seguranca-ucrania-apreende-criptomoedas-
pertencentes-fundador-da-forklog/, Acesso em 20/02/2018.
FOBE, Nicole Julie. O bitcoin como uma moeda paralela- uma visão
econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. XX f.122
Monografia de Direito –Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas,
São Paulo, 2016.
JENKINSON, Gareth. Bulgária apreende Bitcoin suficiente para pagar 1/5
da dívida nacional, 2017, disponível
em: https://br.cointelegraph.com/news/bulgaria-seizes-enough-bitcoin-to-pay-off-15-of-
national-debt. Acesso em 13/01/2018.
MARINHO, Camila. Caixas eletrônicos de criptomoedas já contam
com 3500 exemplares em todo o mundo, 2017, disponível
em: https://criptoeconomia.com.br/caixas-eletronicos-de-criptomoedas-ja-contam-com-
3500-exemplares-em-todo-o-mundo/. Acesso em 22/10/2018.
MARQUES, Diego. Milhares de Bitcoins são apreendidos em
operação nos EUA, 2017, disponível
em: https://guiadobitcoin.com.br/milhares-de-bitcoins-sao-
apreendidos-em-operacao-nos-eua/. Acesso em 15/12/2017.
MARX, Karl. O capital: livro I. 2015. Edição: 1ª.
PIRES, H. F. Bitcoin: a moeda do ciberespaço. Geousp – Espaço e
Tempo (Online), v. 21, n. 2, p. 407-424, agosto. 2017. ISSN 2179-
0892.
Revista SUPER INTERESSANTE, edição 384, janeiro 2018
RODRIGUES, Domingos de Gouveia. Fundamentos de economia
monetária. 2015. Edição 1ª.
SÁ, Vitor. Governo dos EUA Venderá US$ 10 Milhões em Bitcoin e
Bitcoin Cash Apreendidos, 2017, disponível
em: https://portaldobitcoin.com/governo-dos-eua-vendera-us-10-milhoes-em-bitcoin-e-
bitcoin-cash-apreendidos. Acesso em 02/02/2018.
SANTOS, Osvaldo Amaral dos, IMPACTOS ECONÔMICOS DA
CRIPTOMOEDA BITCOIN, 2016.
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Trigésima Sexta Câmara de Direito
Privado. Agravo de Instrumento nº 2202157-35.2017.8.26.0000.
Relator: Des. Milton Carvalho. Data do julgamento: 21/11/2017.
Disponível em: . Acesso em 07/12/2017. 2018.
ULRICH, Fernando. Bitcoin - a moeda na era digital. 1ª. ed. São
Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2014.
NOTAS:
Doutor em Direito Privado pela PUC MINAS. Mestre em Direito e Relações
[1]