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Análise da volatilidade do BitCoin para empresas

Anderson Patrick Abtibol Lima¹


Rondinelly Bernadino da Silva²

1. INTRODUÇÃO

Há milhares de ano, as transações comerciais ocorriam por meio de troca de mercadorias – o


escambo, um método que até então funcionava. Com o passar dos anos foi desenvolvido um
sistema mais eficiente e estável para as negociações, sistema esse que utilizava o conceito de
“moeda”, um padrão de valor monetário (LUIZ, 2014). Neste contexto, a moeda tem como
função servir como meio de troca.
Atualmente, com a evolução da tecnologia, muitas transações comerciais são realizadas através
da internet. Dessa forma, as transações são realizadas quase que exclusivamente com a
participação de uma instituição financeira atuando como mediadora. Considerando esse
contexto, foi criado, em 2008, o Bitcoin - BTC. Segundo Nakamoto (2008), em seu artigo
intitulado “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”, o BTC é uma moeda virtual e
descentralizada, ou seja, não é uma moeda física e nem controlada por nenhum banco central.
Todas as transações que ocorrem no Bitcoin são registradas em uma espécie de livro caixa
público e distribuído chamado de Blockchain, o que nada mais é do que um grande banco de
dados público, contendo o histórico de todas as transações relacionadas (ULRICH, 2014).
O BTC teve uma valorização exorbitante desde que foi criado. Somente nos últimos 5 anos o
preço da moeda teve um aumento em 760% (COINMARKETCAP, 2018). Isto inspirou a
criação de outras criptomoedas, como o Ethereum, Litecoin, Ripple, Aragon, entre outras.
Segundo o site Coinmarketcap (COINMARKETCAP, 2018), estas moedas, juntas, possuem
atualmente uma capitalização de mercado de mais de 300 bilhões de dólares, após terem
atingido um pico de mais de 700 bilhões em janeiro de 2018. Devido à sua alta volatilidade, o
BTC passou a ser frequentemente classificado como um ativo financeiro, o que se afasta de seu
propósito original, que era de atuar como moeda de troca em transações econômicas. Além
disso, ainda causa incertezas acerca da sua empregabilidade e se seu uso é vantajoso frente aos
meios de pagamentos tradicionais. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo avaliar
a volatilidade dessa criptomoeda e sua aceitação nas empresas.

1 Nome dos acadêmicos


2 Nome do Professor tutor externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (Código da Turma) – Prática do Módulo I -
dd/mm/aa
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Uma definição concisa de criptomoeda é apresentada por Chu et al (2017,


p.1) como “[...]um ativo digital é desenhado para funcionar como meio de câmbio
utilizando criptografia para proteger as transações e controlar a criação de unidades
adicionais da moeda”.
Desenvolvido em 2008 (ápice da crise financeira mundial) e implantado em 2009 por Satoshi
Nakamoto, o Bitcoin é a criptomoeda mais conhecida do mundo. Nakamoto (2008) comenta
como o mercado digital de transações estava muito dependente de empresas terceirizadas para
avaliar as transferências e dar credibilidade às mesmas. Propôs então um sistema que não
dependesse desse terceiro para confiar a transação, e sim um sistema de criptografia que
gerasse aconfiança necessária, como ele descreve quando diz “O que se precisa é um sistema de
pagamento eletrônico baseado em prova criptográfica em vez de prova de confiança”
(NAKAMOTO, 2008, pg. 1).
Embora seja denominada de moeda digital e alguns estabelecimentos já permitam o pagamento
de serviço com esse recurso, o Bitcoin ainda não é classificado, juridicamente, como uma
moeda em nosso país:

No Brasil ainda estamos no começo dessa discussão e enfrentando vários desafios.


Hoje não temos nenhum controle sobre as negociações feitas P2P ou via exchanges
como a Foxbit. A Comissão de Valores Imobiliários (CVM) proibiu a compra de
criptomoedas por fundos de investimentos, afirmou-se que tais criptomoedas não
podem ser qualificadas como ativos financeiros. Embora esse tipo de moeda não tenha
uma regularização específica no Brasil, saiba que ela não está isenta de tributação.
Isso mesmo! De acordo com a Receita Federal, é preciso declarar Bitcoins no imposto
de renda (HONORATO, 2018).

Van Wijk (2013), enfatiza o papel do desenvolvimento macrofinanceiro global, capturado, por
exemplo, por índices de bolsa de valores, taxas de câmbio e medidas do preço do petróleo, na
determinação do preço do Bitcoin. Van Wijk encontra evidências de que, por exemplo, o índice
Dow Jones, a taxa de câmbio euro-dólar e o preço do petróleo têm um impacto significativo no
valor do BTC no longo prazo. Os desenvolvimentos macroeconômicos e financeiros favoráveis
podem estimular o uso do BTC no comércio e nas bolsas e, assim, fortalecer sua
demanda, o que pode ter um impacto positivo no preço do BTC.
Para Ulrich (2014), a cotação de um Bitcoin em relação a outras moedas, ou o seu preço, ainda
está sendo descoberto pelo mercado, e não se pode prever a sua evolução. O autor faz a
seguinte referência à questão da volatilidade:

É claro que a alta volatilidade testemunhada em alguns períodos específicos ao longo


dos últimos dois anos complica a vida dos usuários de Bitcoins — e talvez facilite a
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dos especuladores —, e é por esse fator que, quanto maior o número de aderentes,
mais benéfico será para o avanço da moeda digital. Mas não interpretemos esse
argumento como um convite à especulação. Quanto mais indivíduos aderirem e
utilizarem a moeda, maior será sua liquidez. Quanto mais liquidez, menor tende a ser
a sua volatilidade e aceitação no mercado. No entanto, uma maior liquidez não
necessariamente significa um preço maior (ULRICH, 2014, p.71).

Atualmente, o Brasil ocupa o 8° lugar entre os países com maior volume de negociações
envolvendo bitcoins no mundo. (BITCOIN AVARAGE, 2018). As corretoras mais populares
no país são a FoxBit e a Mercado Bitcoin que, juntas, movimentaram cerca de 108.000 bitcoins
durante 2018 (PORTAL DO BITCOIN, 2018).
Devido à forma como o algoritmo da rede BTC funciona, onde, quanto mais bitcoins são
minerados, mais difícil fica minerá-los, esta atividade está praticamente restrita a grandes
empresas de mineração (KELLY, 2013).
Corretoras de bitcoins são plataformas onde é possível comprar e vender bitcoins, além de
trocá-lo por outras moedas virtuais, como Ethereum, Ripple, Litecoin, Aragon, entre outras.
Estas plataformas não realizam a venda direta de bitcoins, elas apenas facilitam o contato entre
as pessoas que querem comprar ou vender (FOXBIT, 2018).
Uma vez cadastrado, o usuário pode movimentar seus bitcoins para sua carteira online pessoal
dentro da plataforma. Caso queria comprar bitcoins dentro da plataforma, o usuário deposita o
valor desejado na conta da corretora e, após a dedução de taxas de serviço da corretora, o saldo
é depositado na conta daquele usuário (FOXBIT, 2018).
Após efetuada, a ordem de compra fica em um “livro de vendas” da plataforma, esperando que
alguém aceite esta oferta. Uma vez aceita, a operação de compra/venda é realizada (FOXBIT,
2018). Desta forma, o preço do bitcoin é definido pela lei da oferta e demanda (ULRICH,
2014).
Considerando o fato de que seu principal atrativo era a redução dos custos de transação, uma
das grandes dúvidas que se tem quanto ao bitcoin é o porquê de utilizá-lo, ao invés da moeda
corrente local. Segundo Ulrich (2014), “ajuda se pensarmos que o Bitcoin não é
necessariamente um substituto às moedas tradicionais, mas sim um novo sistema de
pagamentos”.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Finardi (2018) discorre que a volatilidade significa que é arriscado armazenar um ativo em
qualquer data, seu valor pode aumentar ou diminuir substancialmente. Quanto mais volátil um
ativo, mais os investidores vão querer limitar a sua exposição a ele, simplesmente deixando de
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armazená-lo ou pelo hedge. A volatilidade também aumenta o custo do hedge, que é um


componente importante para o preço dos serviços comerciais. Se a volatilidade do Bitcoin
diminuir, seus custos de conversão do Bitcoin também diminuirão.
Segundo o site coinmarketcap (COINMARKETCAP, 2018), quando foi lançado no mercado, o
Bitcoin valia tecnicamente US$ 0. Em 2010, 1 ano após seu lançamento, chegou a custar US$
0,39. Em 2013, chegou a ser negociado por US$ 1.200,00. Em 2018, atingiu sua primeira
valorização, com sua unidade sendo comercializada por mais de US$ 20.000,00 em algumas
corretoras. Em 2021, atingiu o ápice da valorização, sendo comercializada por mais de US$
60.000,00 (Gráfico 1).

Gráfico 1. Valorização do Bitcoin nos últimos 10 anos. Fonte: https://www.buybitcoinworldwide.com/price/

A alta valorização do BTC, em 2018, chamou a atenção da mídia e de algumas grandes


empresas, como a Dell e a PayPal, que passaram a aceitá-lo como meio de pagamento. De
acordo com o site coinmap (COINMARKETCAP, 2018), mais de 13.000 locais já o aceitam
como meio de pagamento. Devido à grande popularização da moeda, alguns países já
reconhecem o BTC como meio de pagamento legítimo, como por exemplo a Alemanha, onde
as pessoas podem utilizar o BTC para realizar suas transações sem pagar impostos. Apesar de
alguns países já o aceitarem como meio de pagamento, o BTC, principalmente devido à sua alta
volatilidade e seu modo descentralizado de operar, causa dúvidas e medo em governos de
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diversos países, que em alguns casos chegam até mesmo a considerá-lo ilegal, como é o caso na
Bolívia e no Equador. No Brasil, ainda não foi promulgada nenhuma lei no sentido de
regulamentá-lo, embora também não seja proibido.
Pode-se afirmar que o bitcoin realiza a função de “meio de troca”, embora com muito menor
liquidez quando comparado com moedas correntes locais. Entre 2017-2018, foram realizadas,
em média, 275 mil operações envolvendo bitcoins por dia (BLOCKCHAIN, 2018). Segundo
Ulrich (2014), a primeira transação onde o bitcoin foi aceito como meio de troca que se tem
notícia aconteceu em maio de 2010, quando o programador Lazlo Hanyecz gastou cerca de dez
mil bitcoins em duas pizzas. De acordo com o site coinmap.org, há mais de 13 mil
estabelecimentos em todo o mundo que aceitam o bitcoin como meio de pagamento. O número
bruto pode ser pequeno quando comparado ao total de estabelecimentos existentes. Porém, é
importante destacar o crescimento no número de lojas que aceitam o bitcoin nos últimos anos
(Figura 1A,B).

Figura 1. Mapas de calor ilustrando o aumento significativo no número de lojas que


aceitam o bitcoin, 2013 (A) e 2022 (B).

Burniske & White (2017), relatam que empresas como TigerDirect, Dell, NewEgg e Overstock
aceitam o Bitcoin como uma forma de pagamento, mas os funcionários precisam ser treinados
para ajudar seus clientes. Isso certamente requer algum tempo e esforço. Para o autor, risco e
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volatilidade são dois elementos que representam uma grande desvantagem, pois há uma
quantidade limitada de moedas e a demanda por elas aumenta a cada dia. No entanto, a
volatilidade deverá diminuir com o passar do tempo, dado que muitas empresas, mídia e
shopping centers começaram a aceitar Bitcoin, seu preço começou por se estabilizar.
Uma das características mais preocupantes em relação à moeda digital, seria sua
volatilidade, ou seja, a facilidade com que as ações do mercado e as especulações do sistema
financeiro tem de alterar o valor real do ativo. Abaixo, observamos uma tabela que demonstra
as alterações de valor do Bitcoin desde 2013 até 2022:

Gráfico 2. Série temporal de volatilidade do Bitcoin.

Com a popularidade do Bitcoin e o crescimento de outras criptomoedas, a necessidade de um


tratamento correto desses bens na contabilidade é, de certa forma, inevitável, mas não existe
um padrão geral aceito ainda para isso (RAM; MAROUN; GARNETT, 2016).
A contabilização exata das criptomoedas ainda é um tema a ser explorado. A literatura acerca
das implicações econômicas e financeiras são abundantes, mas faltam na área de
contabilização, como descreve Ram, Maroun e Garnett (2016, p.3): “Enquanto existe um
grande corpo de pesquisa em e-commerce, surpreendentemente, existe muito pouca pesquisa
formal acadêmica nas implicações do Bitcoin para o governo, contabilidade e relatórios
financeiros.”

4. REFERÊNCIAS

BITCOIN AVARAGE. Disponível em: https://bitinfocharts.com/bitcoin/. Acesso em: 19 de


Junho de 2022.

BLOCKCHAIN. Disponível em: https://www.blockchain.com/pt/. Acesso em: 19 de Junho de


2022.
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BURNISKE, C.; WHITE, A. Bitcoin: ringing the bell for a new asset class. Ark
Invest, 2017.

CHU, Jeffrey et al. GARCH modelling of cryptocurrencies. Journal of Risk and Financial
Management, v. 10, n. 4, p. 17, 2017.

COINMAP. Disponível em: https://coinmap.org/. Acesso em: 19 de Junho de 2022.

COINMARKETCAP. Disponível em: https://coinmarketcap.com/. Acesso em: 19 de Junho de


2022.

FINARDI, Israel Angelo. Índice de volatilidade Bitcoin. 2014.

Foxbit.com.br/blog/. Acesso em: 24 de Junho de 2022.

HONORATO, I. A regulamentação de criptomoedas ainda divide opiniões nos governos.


Cointimes. (2018) Disponível em: <https://cointimes.com.br/a regulamentacao-de-
criptomoedas-ainda-divide-opnioes-nos-governos/>. Acesso em: 19 de Junho de 2022.

KELLY, Meghan. Fool Me Once: Bitcoin Exchange Mt.Gox Falls after Third DDoS Attack
This Month, VentureBeat, 2013.

LUIZ, Edson. Do Escambo à inclusão financeira. Rio de Janeiro: Linotipo Digital, 2014.

NAKAMOTO, Satoshi. Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System. (2008) Disponível


em: < https://bitcoin.org/bitcoin.pdf > Acesso em: 10 de Junho de 2022.

PORTAL DO BITCOIN. Disponível em: https://portaldobitcoin.uol.com.br/. Acesso em: 19 de


Junho de 2022.

ULRICH, Fernando. Bitcoin - A moeda na era digital. 1° Edição. São Paulo: Instituto LudWig
Von Mises Brasil, 2014.

VAN WIJK, D. O que pode ser esperado do BitCoin? Rotterdam: Erasmus Rotterdam
Universiteit, 2013.

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