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Investidor-anjo – limitações de responsabilidades
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Angel investor – limitations of liability
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Diomar Taveira Vilela
Mestrando em Direito Comercial pela Pontifícia Universidade Católica de São
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Paulo (PUC-SP); com especialização Executive LL.M. em Direito Empresarial,
pelo Ceu Law School. Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro
de Direito Tributário (IBDT); com Pós-MBA em Análise e Gestão Tributária pela
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e MBA em Contabilidade e
Controladoria pela Trevisan Escola de Negócios. Advogado.
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diomarvilela@carvalhovilela.com.br
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Resumo: O presente artigo tem por objetivo anali- Abstract: This article aims to analyze the figure of
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sar a figura do investidor-anjo, seu conceito e ca- the angel investor, its concept and characteristics,
racterísticas, direitos e proteção patrimonial, sob rights and property protection, from the perspec-
a ótica do princípio da valorização da segurança tive of the principle of valuing legal certainty and
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jurídica e da liberdade contratual como premissas contractual freedom as premises for the promo-
para a promoção do investimento e do aumento tion of investment and the increase in the supply
da oferta de capital direcionado a iniciativas ino- of capital directed to innovative initiatives aimed
vadoras visando ao desenvolvimento econômico at economic and social development, through a
e social, passando por uma breve análise da norma brief analysis of the legal norm, as well as the issue
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ça de que todos são absolutamente livres e iguais para contratar. Além disso, o
contrato é o pressuposto ou condição para o reconhecimento de qualquer pro-
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pode impor a sua vontade (poder) e, com isso, limitar a autonomia (querer) da
outra. Assim, visto que sempre ocorre uma interferência limitadora da liberdade
de um pela liberdade do outro, o princípio da autonomia da vontade, nesse aspec-
to, é uma mera ilusão e, ato contínuo, a liberdade que equaliza as partes e estabe-
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1. ASSIS, Olney Queiroz, Vilela, Diomar Taveira, (et. Al.), Linguagem e Direito: Identifica-
ção, Interpretação, Aplicação, São Paulo, RG Editores, 201, p. 16.
até não constranger a liberdade subjetiva (vontade livre), mas pode constranger
o exercício dessa liberdade por intermédio da legislação. Existe, portanto, uma
tensão entre heteronomia (vontade estatal) e autonomia (vontade individual).”3
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2. Ibedim, p. 16/17.
3. Ibidem, p. 17.
4. Ibidem, p. 17.
capazes de garantir o chamado câmbio das expectativas. Ora, como diz Radbruch,
a segurança jurídica exige positividade do direito: se não se pode fixar o que é
justo, ao menos que se determine o que é o jurídico. Segurança significa a clara
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5. Ibidem, p. 18.
6. Ibidem, p. 17.
7. FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Segurança jurídica e normas gerais tributárias. Re-
vista de Direito Tributário, Editora Revista dos Tribunais, Ano 5, de julho/dezembro de
1981, n. 17-18, p. 51.
8. CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito, o construtivismo lógi-
co-semântico. São Paulo: Noeses, 2009. p. 16.
com o mesmo sentido, mas tecnicamente são figuras distintas e possuem direitos,
obrigações e responsabilidades distintas. O mesmo pode ocorrer com a figura do
investidor-anjo, na medida em que realiza aportes de capital na sociedade empre-
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sária, mas não é sócio e nem empresário, possui disciplina própria, mas não pode
ser responsabilizado pelas dívidas da empresa, nos termos do artigo 61-A, §§ 2º e 4º,
da LC 123/06, mas empresa aqui, não tem o sentido de atividade, mas sim de em-
presário individual, empresa individual de responsabilidade limitada, sociedades
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9. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 2. ed. São Paulo:
Noeses, 2008, p. 34.
é, linguagem as provas, sem o que será mero evento, a despeito do interesse que
possa suscitar no contexto da instável e turbulenta vida social. E, complementa,
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inovação e investimentos produtivos, e, não for sócio, nem tiver qualquer direito à
gerência ou a voto na administração da empresa, então, não responderá por qual-
quer obrigação da empresa e será remunerado por seus aportes, e amparados pela
devida documentação que comprove essa situação, são relevantes para o Direito.
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10. TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no direito Tributário: de acordo com o Código de
Processo Civil de 2015, 4. ed. São Paulo: Noeses, 2016. p. 48.
11. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método, 2. ed. São Paulo:
Noeses, 2008, p. 34.
3. Origem do investidor-anjo
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Conforme Lucas Caminha e Gustavo Flaustino Coelho13, alguns estudos
apontam a existência da figura do investidor-anjo em tempos mais remotos, tais
como:
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§ 4º O investidor-anjo:
I – não será considerado sócio nem terá qualquer direito a gerência ou a voto na admi-
nistração da empresa, resguardada a possibilidade de participação nas deliberações em
caráter estritamente consultivo, conforme pactuação contratual;
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14. GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. Trad. Allan Vidigal Has-
tings. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. p. 14 e 292.
sociedade investida.
O conteúdo semântico do termo “anjo”, está ligado à contribuição pessoal
para o negócio, na forma de aconselhamento, conhecimentos técnicos e acesso à
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15. CAMINHA, Lucas; COELHO, Gustavo Flaustino. Captação de Recursos por Startups.
São Paulo: Almedina, 2020. p. 118.
16. SILVA FILHO, Emanoel Lima. Contratos de investimento em startups: os riscos do inves-
tidor-anjo. São Paulo: Quartier Latin, 2019. p. 38.
17. OIOLI, Erik Frederico. Manual de direito das startups. 2. ed. São Paulo: Thomson Reu-
ters, 2020, p. 111.
8. Instrumento de investimento
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vigência do contrato não pode ser superior a 7 anos (art. 61-A, § 1º).
A ausência ou contrariedade a qualquer um dos requisitos legais pode desca-
racterizar o contrato de participação e levar à perda dos benefícios legais, o que
representaria uma ameaça ao investidor, em razão do risco de não ter assegurada
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recuperação judicial, bem como não está sujeito aos efeitos da desconsideração
da personalidade jurídica, prevista no artigo 50, do Código Civil?
Essa afirmação da lei, parece ter a seguinte função de reafirmar o regime de
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fim de atingir os bens dos sócios. A questão é que o investidor-anjo não integra a
sociedade, então, a exceção sequer seria aplicável a ele, via de regra, do que adian-
taria desconsiderar a personalidade jurídica, a fim de atingir os bens de quem não
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Tais efeitos não atingem o empresário individual, uma vez que se trata de pes-
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“sendo o empresário individual uma pessoa natural, todos os bens de sua pro-
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um único patrimônio.”
18. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 2. Direito de empresa. 10. ed. São
Paulo: Saraiva, 2007, p. 15.
19. CALÇAS, Manoel de Queiroz Pereira. O empresário no Código Civil. In: Revista do Ad-
vogado, n. 81, abril/2005, São Paulo, p. 87-92.
Daí por que não se deve cogitar da sanção de invalidade, pela inadequação de
sua excessiva amplitude, e sim da ineficácia relativa.”
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porta limitação como nos casos de uso fraudulento ou abusivo da pessoa jurídica
e, também, quando se tratar de credores hipossuficientes, como o empregado e o
consumidor.
Esse tratamento diferenciado encontra fundamento na Teoria da Justiça de
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20. COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima, Rio de Janeiro,
3ª ed. Forense, 1983, p. 281/287.
21. OLIVEIRA, José Lamartine Correa de. A dupla crise da pessoa jurídica, São Paulo, Sarai-
va, 1979. p. 262-263.
22. RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Trad. Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São
Paulo: Ed. Martins Fontes, 1997. 2. tiragem, 2000.
derá-la para aplicação de norma cujo pressuposto seja diferenciação real entre
aquelas partes.’ Quer dizer, se a lei prevê determinada disciplina para os negó-
cios entre dois sujeitos distintos, cabe desconsiderar a autonomia da pessoa
jurídica que o realiza com um de seus membros para afastar essa disciplina.”
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Pela redação do artigo 28, § 5º, do Código de Defesa do Consumidor, artigo 18,
da Lei Federal 8.884/94 (Lei Antitruste), artigo 4º, da Lei Federal 9.605/98 e artigo
50, do Código Civil, podem-se extrair as seguintes situações para desconsiderar a
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23. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 2. Direito de empresa. 10. ed.
Saraiva, 2007. p. 37.
“A fraude deve ser entendida como dolo, erro, simulação e fraude contra cre-
dores. O abuso de direito é a utilização da pessoa jurídica de maneira contrária ao
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sociedade empresária.
O que ocorre geralmente é um desvio de função, resultante de abuso ou frau-
de, mas que nem sempre constitui um ato ilícito, e, considerando que a sociedade
empresária desenvolve atividade econômica organizada para a produção ou a
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24. SILVA, Alexandre Couto. Desconsideração da personalidade jurídica: limites para sua
aplicação. Revista dos Tribunais, 780/47-58, out/2000.
administrador.
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25. COMPARATO, Fábio Konder. Estado, empresa e função social. Revista dos Tribunais,
732/38-46, out. 1996.
26. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 2. Direito de empresa. 10. ed. São
Paulo: Saraiva, 2007. p. 246.
27. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 2. Direito de empresa. 10. ed. São
Paulo: Saraiva, 2007. p. 36.
lidade jurídica, para alcançar esses bens, que em regra pertencem ao sócio que
usa a pessoa jurídica para frustrar suas dívidas pessoais.
Uma vez desconsiderada a personalidade jurídica da sociedade empresária, os
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11. Conclusão
Como salientamos no presente artigo, se o investidor-anjo, pessoa física, pes-
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nada e revista por Alfredo Bosi e Revisão da tradução e tradução dos novos
textos Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ASSIS, Olney Queiroz, Vilela, Diomar Taveira, (et. Al.), Linguagem e Direito: Iden-
tificação, Interpretação, Aplicação, São Paulo, RG Editores, 2017.BARRETO
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