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1 Introdução
Dentre os fatos que permeiam a existência humana, a morte confi-
gura um daqueles que atinge a todas as pessoas, contudo, não é uma tarefa
descomplicada para um indivíduo discutir sobre esse assunto delicado com
a sua família. Para o direito, o evento morte representa a extinção da pessoa
natural, e consequentemente produz efeitos jurídicos, incluindo a sucessão
hereditária e a transmissão do patrimônio. Normalmente, quando acontece o
falecimento de um ente, os herdeiros se deparam com o complexo processo
de inventário judicial, que vem a ser, na maioria dos casos, uma verdadeira
ferramenta de desgaste e conflitos familiares.
Muitos dos volumosos processos de inventário e, por conseguinte, a
divisão dos bens, provavelmente resulta em dissolução de empresas, dilapi-
dação de patrimônios e litígios familiares devido à falta de conhecimento ou
de orientação assertiva voltada para o detentor do patrimônio e para a família
sobre o planejamento sucessório com a finalidade de preservar o que foi
construído durante a vida.
O planejamento sucessório surge como uma solução, e a holding patri-
monial familiar como um de seus instrumentos. Planejar o destino dos bens
consiste em definir o objetivo, o método e a dinâmica de realização com a
assistência de ações traçadas adequadamente, de acordo com a autonomia
privada do sucedido e com a configuração familiar, dentro dos limites legais,
cumprindo a função patrimonial em defesa da segurança material da família.
Nos últimos anos, no Brasil, o termo holding passou a ser conhecido
por inúmeras pessoas ganhando a curiosidade da sociedade em geral, e prin-
cipalmente de quem tem interesse particular pelo assunto. Ainda assim, é
alvo de controvérsias, pois a falsa promessa de blindagem patrimonial induziu
muitos casos para uma situação oposta ao real objetivo da constituição de uma
holding familiar, que visa à organização adequada do patrimônio e dos seus
frutos. Mais atual do que nunca, faz-se relevante elucidar sua utilização na
seara jurídica do direito sucessório.
Nesse sentido, o presente estudo, de forma reflexiva, por meio de uma
abordagem qualitativa, tem o objetivo de analisar as vantagens e os principais
aspectos referentes ao registro, aos custos e tributação, aos limites legais, e aos
efeitos de proteção patrimonial da holding familiar, bem como apresentar uma
sintética comparação com outros institutos utilizados como mecanismos de
planejamento sucessório (testamento, doação e seguro de vida por morte).
A parte inicial do artigo realiza uma breve exposição a respeito do di-
reito das sucessões e sobre o planejamento sucessório, ponto de partida para
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1 Alíquota máxima estabelecida pelo Senado Federal por meio da Resolução nº 9/92.
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2 O art. 966 do Código Civil considera empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
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3 Isenção garantida pelo art. 156, § 2º, I, da Constituição Federal e pelo art. 36 do Código Tributário Nacional (CTN).
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5 É conveniente demonstrar a diferença entre herança e meação: o primeiro é instituto do Direito Sucessório e refere-se
ao conjunto de bens patrimoniais que serão herdados com o falecimento do titular; já a meação, regrada pelo Direito
de Família, é o instituto o qual o cônjuge (meeiro) tem o direito à metade dos bens comuns conquistados pelos dois
durante o casamento ou união, dependendo do regime de bens escolhido pelo casal. Além de não se confundirem,
também, a existência de um não exclui o direito sobre o outro.
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5 Considerações Finais
A partir deste estudo, foi possível concluir que o Direito das Sucessões
e o Direito Societário caminham juntos quando o tema é holding patrimonial
familiar como ferramenta do planejamento sucessório. Os elementos fun-
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TITLE: Family holding company: analysis of the main aspects for a planned succession.
ABSTRACT: The current ordinary Brazilian system of succession, carried out through the inventory, is
time-consuming, bureaucratic, expensive and a major cause of family conflicts. Thinking about the future
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of the heirs and planning the destination of their assets is a right of the individual. Owners of assets of
various natures have sought the best option among the tools able to carry out the succession in a planned
way, so an evaluation of each case should be made involving several elements. Given this context, this article
aims, in a reflexive way, through a qualitative approach, to present what the family holding has to offer
as a succession planning mechanism, focusing on the patrimonial prism, in the face of other tools such
as will, donation and life insurance, and through the analysis of the main aspects related to registration,
taxes, asset protection and legal limits, in addition to the advantages of their use. For this, the authors of
bibliographic research make use of a literature review related to the theme.
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