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Medidas executivas atípicas: análise dos critérios
de aplicação nas obrigações pecuniárias
EX
Atypical enforcement measures: analysys of the
CL
criteria of aplication in pecuniary obligations

William Soares Pugliese


Doutor e Mestre em Direito pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade Federal do
U
Paraná. Vice-Coordenador do Programa de Pós-graduação em Direito do UniBrasil. Coordenador da Pós-Graduação
em Direito Processual Civil (Novo CPC) da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst). Membro da
SI
Comissão de Estudos Constitucionais da OAB/PR. Advogado.
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este artigo em Visual Law
Vinicius Souza de Oliveira
VO

Bacharel do Curso de Direito do Centro Universitário Autônomo do Brasil – UniBrasil.


vini.olivr4@gmail.com

Recebido em: 06.12.2021


Aprovado em: 07.01.2022
DO

Áreas do Direito: Processual; Civil

Resumo: O presente estudo tem por escopo realizar Abstract: This study aims to perform an analysis
uma análise a respeito das medidas atípicas nas exe- about the atypical measures in pecuniary executions
cuções pecuniárias ou pagamento de quantia certa, or payment of a certain amount, recommended by
SE

preconizado pelo artigo 139, inciso IV, do Código de article 139, item IV, of the Civil Procedure Code, using
Processo Civil, utilizando-se de parâmetros, limites e parameters, limits, and directives recently, established,
diretrizes estabelecidos, recentemente, pelos diver- by the various doctrinal studies about the subject. At
sos estudos doutrinários a respeito do tema. Em um first, the debate about the (un)constitutionality of
primeiro momento, será exposto o debate acerca da article 139, item IV, of CPC/2015, will be exposed. Sec-
N

(in)constitucionalidade do artigo 139, inciso IV, do ond, a brief comparison about the subject in CPC/1973
CPC/2015. Em segundo lugar, far-se-á um breve com- and CPC/2015, will be made. In the third part of this
parativo acerca do tema no CPC/1973 e CPC/2015. Na essay, it is presented the main parameters, limits and
AD

terceira parte do presente ensaio, apresentam-se os directives proposed by the doctrine in order to guide
principais parâmetros, limites e diretrizes propostos and delimit the application of article 139, item IV, of
pela doutrina com o intuito de guiar e delimitar a apli- CPC/2015. Finally, the main purpose of the atypical
cação do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015. Por fim, enforcement measures in the Brazilian legal scenario
encara-se o principal propósito das medidas executi- viewed, regarding the effectiveness of the jurisdic-
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vas atípicas no cenário jurídico brasileiro, no tocante tional guardianship, concluding that the judicial deci-
à efetivação da tutela jurisdicional, concluindo que as sions must respect the limits and criteria exposed, in

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
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decisões judiciais devem respeitar os limites e critérios order not to incur in arbitrariness and, consequently,
expostos, a fim de não incorrer em arbitrariedades e, in violation to the fundamental rights of the exe-
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consequentemente, na violação aos direitos funda- cuted.
mentais do executado.
Palavras-chave: Processo Civil – Execução – Atipi- Keywords: Civil Procedure – Enforcement – Atypical-
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cidade – Cláusula Geral – Patrimonialidade – Eficácia. ity – General Clause – Patrimoniality – Effectiveness.

Sumário: 1. Introdução. 2. Breves comentários a respeito da (in)constitucionalidade das medidas atí-


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picas executivas. 3. Medidas executivas atípicas no Código de Processo Civil de 1973 e a técnica de
efetivação processual no Código de Processo Civil de 2015. 3.1. As reformas parciais no Código de
Processo Civil de 1973 com a consequente implementação das medidas executivas atípicas. 3.2. O
Projeto de Lei 8.046/2010 da Câmara dos Deputados e a cláusula geral do artigo 139, inciso IV, do
Código de Processo Civil de 2015, como técnica de efetivação processual das decisões judiciais. 4. Dos
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parâmetros, limites e diretrizes propostos pelos estudos doutrinários quanto à aplicação das medidas
executivas atípicas na execução de prestação pecuniária ou quantia certa. 4.1. A subsidiariedade das
medidas executivas atípicas ou prévio esgotamento dos meios típicos. 4.2. A necessidade do requeri-
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mento da parte. 4.3. A prescindibilidade entre o meio atípico escolhido e a satisfação patrimonial. 4.4.
Observância à máxima da proporcionalidade e aos princípios do contraditório e da motivação judi-
cial. 4.5. Aplicação das medidas executivas atípicas nos títulos executivos extrajudiciais. 4.6. Destaque
aos princípios específicos da execução: menor onerosidade da execução e patrimonialidade. 4.7. Dos
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critérios fixados pelo Superior Tribunal de Justiça. 5. Considerações finais. 6. Referências. Legislação.
Jurisprudência.

1. Introdução
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Em recente levantamento estatístico promovido pelo Conselho Nacional de Justiça


(CNJ), por meio do relatório Justiça em Números 2020, apura-se que a taxa de conges-
tionamento da Justiça Estadual em relação aos processos da fase executiva é de 82% em
compasso à 63% da fase cognitiva. Ademais, ainda se estima que o período de tramitação
da execução não fiscal e não criminal corresponde ao tempo de 03 (três) anos e 09 (nove)
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meses perante a Justiça Estadual.1


A taxa de congestionamento é o medidor que verifica a eficácia de determinado tri-
bunal, analisando a entrada de novos casos, os processos baixados e aqueles pendentes
em estoque2, sendo que quanto mais próximo do índice de 100% mais congestionado es-
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tará o tribunal.
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1. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em números 2020. Disponível em: [www.cnj.jus.br/
pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/]. Acesso em: 25.03.2021.
2. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Taxa de congestionamento. Disponível em: [www.cnj.jus.
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br/gestao-estrategica-e-planejamento/estrategia-nacional-do-poder-judiciario-2009-2014/indi-
cadores/03-taxa-de-congestionamento/]. Acesso em: 25.03.2021.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
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Apesar de 2019 ser um ano mais produtivo do que em relação aos anos anteriores (a
taxa de 82% é 5,3% menor que a taxa de 2016)3, os números não escondem que um dos
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principais gargalos da justiça brasileira são os processos de natureza executiva, isto é,
aqueles casos em que a prestação jurisdicional é morosa e, por vezes, não atinge o resul-
tado almejado.
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Do mesmo modo, Marcelo Abelha Rodrigues, em conjunto com um grupo de pes-
quisa de acadêmicos do mestrado e da graduação da Universidade Federal do Espírito
Santo, coletou dados de aproximadamente mil execuções para pagamento de quan-
tia. Desta pesquisa, resultou que 98,25% dos executados, seja em execução autôno-
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ma, seja em cumprimento de sentença, não cumprem com o adimplemento no prazo
processual.4
Não obstante, o referido autor ainda argumenta que 97% das execuções infrutíferas
são realizadas por aquilo que ele denomina de “executado cafajeste”.5 Digno de nota que
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Marcelo Abelha Rodrigues estabelece uma diferença entre “devedor cafajeste” e “execu-
tado cafajeste”, de maneira que o primeiro blinda ou oculta seu patrimônio antes de ser
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processado, ao passo que o segundo blinda ou oculta seu patrimônio após ser executado
ou processado.6
Dessa forma, é neste enquadro que o tema das medidas executivas atípicas tem cada
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vez mais ganhado força no cenário jurídico brasileiro. A atipicidade executiva é de suma
importância uma vez que pode contribuir com a redução de casos de processos executi-
vos pendentes na Justiça Estadual e, principalmente, realizar a devida prestação jurisdi-
cional para com o credor. Aliás, recorda-se que o artigo 4º, do Código de Processo Civil
de 2015, inclui como direito do exequente, dentro de um prazo razoável, a efetivação da
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atividade satisfativa.

3. MELO, Tiago. Artigo: Reflexões sobre o Justiça em Números. SAJ Digital, 06 out. 2020. Dispo-
nível em: [www.sajdigital.com/tribunal-de-justica/analise-justica-em-numeros-2020/]. Acesso
SE

em: 25.03.2021.
4. RODRIGUES, Marcelo Abelha. O executado cafajeste II: medida coercitiva como instrumento da
medida sub-rogatória. Migalhas, 2017. Disponível em: [www.migalhas.com.br/depeso/267289/o-
-executado-cafajeste-ii---medida-coercitiva-como-instrumento-da-medida-sub-rogatoria].
Acesso em: 03.11.2020.
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5. Nesse cenário, Marcelo Abelha Rodrigues conclui que “o índice de execuções frutíferas é tragi-
camente minúsculo, e que, do outro lado, neste gigante grupo de execuções infrutíferas existe uma
significativa quantidade de executados cafajestes” (RODRIGUES, Marcelo Abelha. O executado
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cafajeste II: medida coercitiva como instrumento da medida sub-rogatória. Migalhas, 2017. Dis-
ponível em: [www.migalhas.com.br/depeso/267289/o-executado-cafajeste-ii---medida-coerciti-
va-como-instrumento-da-medida-sub-rogatoria]. Acesso em: 03.11.2020).
6. RODRIGUES, Marcelo Abelha. O que fazer quando o executado é um “cafajeste”? Apreensão
de Passaporte? Da carteira de motorista? Migalhas, 2016. Disponível em: [migalhas.uol.com.br/
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depeso/245946/o-que-fazer-quando-o-executado-e-um--cafajeste---apreensao-de-passaporte-
--da-carteira-de-motorista]. Acesso em: 03.11.2020.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
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Ocorre que, muitas das vezes, com o único intuito de prestar a devida tutela jurisdi-
cional, não se observa os princípios e direitos fundamentais do devedor. Mais ainda, não
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se observam os devidos parâmetros, limites e diretrizes sugeridos pela doutrina. Dian-
te disso, o presente estudo tem por escopo analisar não somente os critérios elencados
pela doutrina para a correta aplicação do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015, como tam-
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bém apurar a real eficácia que este comando normativo pode trazer para o âmbito da
execução.
Para tanto, em um primeiro momento, será exposto o debate acerca da (in)constitu-
cionalidade do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015. Em segundo lugar, far-se-á um breve
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comparativo acerca do tema no CPC/1973 e CPC/2015. Na terceira parte do presente en-
saio, apresentam-se os principais parâmetros, limites e diretrizes propostos pela doutri-
na com o intuito de guiar e delimitar a aplicação do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015.
Por fim, encara-se o principal propósito das medidas executivas atípicas no cenário jurí-
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dico brasileiro, no tocante à efetivação da tutela jurisdicional, concluindo que as decisões
judiciais devem respeitar os limites e critérios expostos, a fim de não incorrer em arbi-
SI
trariedades e, consequentemente, na violação aos direitos fundamentais do executado.

2. Breves comentários a respeito da (in)constitucionalidade das medidas


VO

atípicas executivas

Em 11 de maio de 2018 o Partido dos Trabalhadores (PT) ajuizou ação direta de in-
constitucionalidade com pedido de medida cautelar perante o Supremo Tribunal Federal
(STF), impugnando a inconstitucionalidade dos artigos 139, inciso IV; 297, caput; 380,
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parágrafo único; 403, parágrafo único; 536, caput e § 1º; e 773, todos do Código de Pro-
cesso Civil de 2015.7
O entendimento central do partido político era o de que as normas supramenciona-
das violariam direitos e garantias fundamentais dos devedores, especialmente aquele
direcionado ao direito de locomoção quando fundado na apreensão de passaporte e na
SE

carteira nacional de habilitação (CNH), além do bloqueio de cartões de crédito e a proi-


bição de participação em certames licitatórios, com intuito de garantir a eficácia do pro-
cedimento executivo.8
A Corte ainda não decidiu a respeito do tema. Diante disso, a posição do Superior
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Tribunal de Justiça (STJ) é a que merece maior atenção. Nessa linha, parcela da doutri-
na entende que o comando normativo descrito pelo artigo 139, inciso IV, do CPC/2015
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7. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 5941. Relator: Min. Luiz Fux. Disponível em: [http://
portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5458217]. Acesso em: 08.04.2021.
8. SILVA, Paula de Barros; ROLAND, Felipe Molina de Castro. Julgamento da ADI 5.941 será decisi-
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vo na evolução dos procedimentos executórios. Conjur, 2020. Disponível em: [www.conjur.com.


br/2020-nov-12/opiniao-adi-5941-procedimentos-executorios]. Acesso em: 08.04.2021.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
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é inconstitucional, ressaltando as posições de Lenio Luiz Streck e Dierle Nunes, Jorge


Amaury Maia Nunes e Guilherme Pupe da Nóbrega, além de Araken de Assis.
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A começar com Lenio Luiz Streck e Dierle Nunes, que ao fazerem uma interpretação
do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015, entendem que esta cláusula aberta, apesar de não
ser declaradamente inconstitucional, abre margem para o emprego de “medidas arbitrá-
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rias e autoritárias de restrição de direitos fundamentais, com o propósito utilitarista de
satisfação de obrigações pecuniárias e tornar-se-ia fonte de uma satisfação processual-
-jurisdicional sofisticada e comparticipativa dos direitos”.9 Percebe-se que a crítica des-
tes autores se dirige ao modo de utilização das medidas executivas atípicas, asseverando
CL
que o dispositivo do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015, não pode ser apaziguado como
uma “carta em branco” a fim de que qualquer obrigação fosse cumprida. Isso fica eviden-
te quando os juristas chancelam pela inaplicabilidade deste dispositivo em apreender a
CNH ou proibir o devedor de prestar concurso público, sem prejuízo de outras restrições
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inconstitucionais, em prol da efetividade da satisfação do credor.10
No que diz respeito a Jorge Amaury Maia Nunes e Guilherme Pupe da Nóbrega11,
SI
ambos entendem que o objeto da execução indireta promovida pela via atípica atinge os
direitos fundamentais do devedor, motivo pelo qual somente poderia ser afastada pela
técnica da ponderação, ou seja, suprime-se um direito fundamental quando este colidir
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com outro direito fundamental. Daí porque concluírem que o artigo 139, inciso IV, do
CPC/2015, faz jus a declaração de inconstitucionalidade,

“para o fim de rechaçar a apreensão de passaporte, a suspensão do direito de dirigir


e a vedação à participação em concurso ou em licitação públicos (sic) como medidas
passíveis de serem adotadas pelo juiz, sob pena de vulneração aos artigos 1º, IV, 5º, XV
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e LIV, 37, I, 173, § 3º, III, e 175, todos da Constituição.”12

Na mesma senda é a análise de Araken de Assis, para quem a cláusula geral que versa
sobre o uso das medidas executivas atípicas em obrigações pecuniárias, principalmente a
SE

9. STRECK, Lenio Luiz; NUNES, Dierle. Como interpretar o artigo 139, IV, do CPC? Carta branca
para o arbítrio? Conjur, 2016. Disponível em: [www.conjur.com.br/2016-ago-25/senso-inco-
mum-interpretar-art-139-iv-cpc-carta-branca-arbitrio]. Acesso em: 02.05.2021.
10. STRECK, Lenio Luiz; NUNES, Dierle. Como interpretar o artigo 139, IV, do CPC? Carta branca
N

para o arbítrio? Conjur, 2016. Disponível em: [www.conjur.com.br/2016-ago-25/senso-inco-


mum-interpretar-art-139-iv-cpc-carta-branca-arbitrio]. Acesso em: 02.05.2021.
11. NUNES, Jorge Amaury Maia; NÓBREGA, Guilherme Pupe da. Reflexões sobre a atipicidade das
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técnicas executivas e o artigo 139, IV, do CPC de 2015. Migalhas, 2016. Disponível em: [www.
migalhas.com.br/coluna/processo-e-procedimento/243746/reflexoes-sobre-a-atipicidade-das-
-tecnicas-executivas-e-o-artigo-139]. Acesso em: 02.05.2021.
12. NUNES, Jorge Amaury Maia; NÓBREGA, Guilherme Pupe da. Reflexões sobre a atipicidade das
técnicas executivas e o artigo 139, IV, do CPC de 2015. Migalhas, 2016. Disponível em: [www.
O

migalhas.com.br/coluna/processo-e-procedimento/243746/reflexoes-sobre-a-atipicidade-das-
-tecnicas-executivas-e-o-artigo-139]. Acesso em: 02.05.2021.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
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apreensão da CNH, é flagrantemente inconstitucional, vez que representam simples pe-


na, reprimindo condutas havidas por incompatíveis com os bons costumes.13
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Por outro lado, existe a corrente que prega pela constitucionalidade do artigo 139,
inciso IV, do CPC/2015. Destacam-se, aqui, as exposições de Gabriela Macedo Ferrei-
ra, Maurício Pereira Doutor, Marcus Vinícius Motter Borges e Luiz Guilherme Mari-
EX
noni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, que em conjunto justificam a utilização
destes mecanismos como forma de efetivação das normas processuais nas obrigações
pecuniárias.
Nesse sentido, Gabriela Macedo Ferreira, primando pela integral efetivação das de-
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cisões judiciais, afirma que a solução do código estaria respaldada pelo direito funda-
mental à tutela executiva sem prejuízo do respeito aos princípios da proporcionalidade e
subsidiariedade dos meios atípicos.14 Dito de outro modo, na concepção da referida au-
tora, não há que se falar em inconstitucionalidade da cláusula geral dos meios atípicos,
U
posto o direito fundamental do credor em obter a satisfação do seu crédito potencializa-
do pelo poder de cumprimento das decisões judiciais quando presentes tais mecanismos
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de coerção, desde que atendidos os princípios da proporcionalidade e subsidiariedade.
Por sua vez, Maurício Pereira Doutor, enfrentando o tema da possibilidade de in-
constitucionalidade das medidas atípicas em razão de suposta incompatibilidade em
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abstrato com a Constituição, rebate tal primazia ao relatar que o artigo 139, inciso IV,
do CPC/2015, não infringe os princípios da dignidade da pessoa humana, da legalida-
de ou do devido processo legal.15 Até porque, no tocante à dignidade da pessoa humana,
o referido autor traz à lume o princípio da patrimonialidade tratado pelo artigo 789 do
CPC/2015, de modo que
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“as medidas coercitivas típicas ou atípicas, podem implicar restrição a direitos sem
atuar sobre o corpo do executando. Não se realizam mediante imposição de uma
aflição física, senão quando a lei o admite (caso único é a prisão civil do devedor de
alimentos).”16
SE

13. ASSIS, Araken de. Cabimento e adequação dos meios executórios “atípicos”. In: DIDIER JR., Fre-
die (Coord.); MINAMI, Marcos Youji; TALAMINI, Eduardo (Org.). Grandes temas do novo CPC:
atipicidade dos meios executivos. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 111-128.
N

14. FERREIRA, Gabriela Macedo. Poder geral de efetivação: em defesa da constitucionalidade da técnica
de execução dos direitos do art. 139, IV, do Código de Processo Civil. Jus, 2017. Disponível em: [jus.
com.br/artigos/60190/poder-geral-de-efetivacao-em-defesa-da-constitucionalidade-da-tecnica-
AD

-de-execucao-dos-direitos-do-art-139-iv-do-codigo-de processo-civil/3]. Acesso em: 03.05.2021.


15. DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: o recurso
à ponderação como técnica de solução das colisões e a constitucionalidade da regra do art. 139, IV,
do CPC/2015. Revista de Processo, São Paulo, v. 286, p. 299-324, dez. 2018.
16. DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: o recurso
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à ponderação como técnica de solução das colisões e a constitucionalidade da regra do art. 139, IV,
do CPC/2015. Revista de Processo, São Paulo, v. 286, p. 307, dez. 2018.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
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As limitações temporárias a outros direitos fundamentais são perpetradas a todo mo-


mento com o intuito de provocar o adimplemento da obrigação, principalmente a partir
O
de medidas de coerção psíquica.
Não obstante, no que tange ao princípio da legalidade contemplado pelo artigo 5º, in-
ciso II, da Constituição Federal de 1988, Maurício Pereira Doutor é claro em comentar que
EX
tal argumento não se sustenta por duas razões. A uma, porque estaria equiparando os meios
atípicos a modos sancionatórios quando na verdade seriam tutela de execução processual
sem caráter punitivo. A duas, visto que rechaçaria de forma absoluta a possibilidade da lei
trazer cláusulas abertas, ainda que parte da doutrina se preocupe com a insegurança que
CL
tal textura aberta venha a trazer.17 Enfim, ainda afirma que os meios atípicos de execução
não podem ser considerados inconstitucionais sob o pretexto de que violaria o princípio do
devido processo legal e, por consequente, macularia a integridade do sistema processual,
tendo em vista que as decisões judiciais deverão ser apoiadas no postulado da proporciona-
U
lidade, firmado pelo contraditório prévio ou diferido e que não crie obstáculos para o deve-
dor utilizar-se da via típica (v.g. penhora de bens) para satisfazer o crédito.18
SI
No mesmo sentido preconiza Marcus Vinícius Motter Borges, ao refutar a ideia de
inconstitucionalidade dos meios atípicos executivos fundado na violação do devido
processo legal, de modo que as sanções seriam produtos de arbitrariedades judiciais. O
VO
referido autor assevera que a indeterminação do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015, é o
núcleo essencial das cláusulas gerais, de maneira que se este dispositivo for considerado
inconstitucional, os artigos 297 e 539 do CPC/2015 também deveriam ser, já que também
são cláusulas gerais, “porquanto essas também podem gerar resultados indeterminados
na sua aplicação diante de um caso em concreto”.19
DO

À vista disso, Marcus Vinícius Motter Borges, ao contrário do que dizem Lenio Luiz
Streck e Dierle Nunes, entende que a atipicidade dos meios executivos não infringe o de-
vido processo legal, já que tem por primazia garantir a efetividade processual20, assim co-
mo as cláusulas gerais de texto aberto não conduzem o processo às arbitrariedades dos
SE

17. Como forma de superar a resignação pelas cláusulas abertas, o autor ainda opina que “a redação
dos textos legais nem sempre poderia ensimesmar-se. Compreendeu-se que a ambição de autos-
suficiência do texto escrito era utópica e que não haveria como privar o ordenamento jurídico da
convivência entre regras mais e menos abertas”. (DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executi-
N

vas atípicas na execução por quantia certa: o recurso à ponderação como técnica de solução das
colisões e a constitucionalidade da regra do art. 139, IV, do CPC/2015. Revista de Processo, São
Paulo, v. 286, p. 308, dez. 2018).
AD

18. DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: o recurso
à ponderação como técnica de solução das colisões e a constitucionalidade da regra do art. 139, IV,
do CPC/2015. Revista de Processo, São Paulo, v. 286, p. 299-324, dez. 2018.
19. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâmetros
para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 210-211.
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20. Alexandre Freitas Câmara também segue a mesma direção, enfatizando que a cláusula geral de ati-
picidade de medidas atípicas deriva de sua compatibilidade com dois princípios constitucionais:

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
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magistrados, pois sua aplicação, principalmente dos meios atípicos, devem “ser pauta-
dos nos postulados da proporcionalidade e da razoabilidade, tudo em consonância com
O
os sistemas constitucional e infraconstitucional vigentes”.21
Para arrematar por vez a constitucionalidade das medidas executivas atípicas que par-
cela da doutrina consagra, cita-se as lições de Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Are-
EX
nhart e Daniel Mitidiero, os quais também entendem pela constitucionalidade dos meios
atípicos ao relatarem que a abertura ao sistema de proteção de créditos rompe com o mo-
delo processual brasileiro vigente, outorgando novo significado à atividade jurisdicional
ao valorizar o conteúdo da decisão judicial e estender o leque de mecanismos de proteção
CL
dos direitos.22 Enfim, devido à valorização da atividade jurisdicional, sustentam que essa
abertura empregada pelos meios atípicos na seara executiva confere maior efetividade, pois
“supre a lacuna inconstitucional da legislação brasileira, colocando a tutela das prestações
pecuniárias no mesmo nível que aquela oferecida às outras formas de interesses”.23
U
Desse modo, considerando os posicionamentos trazidos à baila, nos filiamos à cor-
rente que preza pela constitucionalidade da norma descrita pelo artigo 139, inciso IV, do
SI
CPC/2015, no sentido de que as medidas executivas atípicas não infringem direitos fun-
damentais quando atendidos os princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
A tese defendida por Lenio Luiz Streck e Dierle Nunes de que os meios atípicos execu-
VO

tivos acentuariam o ativismo judicial deve ser interpretada com parcimônia pois, como
bem lembrou Maurício Pereira Doutor, tal primazia colocaria em risco a concretude de
outras cláusulas gerais expostas pelo sistema jurídico brasileiro. Ilustra-se os artigos 297
e 536, § 1º, ambos do CPC/2015, como exemplos de cláusulas gerais processuais execu-
tivas que reforçam o poder criativo de condução processual do magistrado24, de maneira
DO

tutela jurisdicional efetiva (art. 5º, XXXV) e eficiência (art. 37, caput). Assim, a junção dessas
normas faz com que haja legitimidade constitucional para empregar meios que não estejam pre-
vistos expressamente em lei, com o objetivo de executar as decisões judiciais e, posteriormente,
assegurar a sua efetivação. (CÂMARA, Alexandre Freitas. O princípio da patrimonialidade da
SE

execução e os meios executivos atípicos: lendo o art. 139, IV, do CPC. Revista Diálogos – Revista
Caririense do Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade Paraíso do Ceará, v. 2, n. 1,
p. 84-94, 2016).
21. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâme-
N

tros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
22. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de pro-
cesso civil (recurso eletrônico): tutela dos direitos mediante procedimento comum. 3. ed. São
AD

Paulo: Ed. RT, 2017. v. 2. p. 584.


23. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de pro-
cesso civil (recurso eletrônico): tutela dos direitos mediante procedimento comum. 3. ed. São
Paulo: Ed. RT, 2017. v. 2.
24. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael
O

Alexandria de. Curso de direito processual civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPo-
divm, 2019. p. 104-105.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 185

que a inconstitucionalidade das medidas atípicas do artigo 139, inciso IV, aduz indireta-
mente na inconstitucionalidade dos artigos 297 e 536, § 1º, ambos do CPC/2015.
O
De mais a mais, apura-se que os meios atípicos não têm o condão de infringir os direi-
tos fundamentais do devedor, tão somente procuram legitimar ao magistrado mecanis-
mos de efetividade processual.
EX
É claro que pode haver abusividade deste mecanismo, ao decidir, por exemplo, pela
apreensão do passaporte de um cidadão que trabalha com representação comercial in-
ternacional ou privar determinado sujeito do seu sono. Todavia, nestes casos, há que se
proceder a uma análise ponderada do caso, de modo que pronunciar-se pela constitu-
CL
cionalidade de cada medida executiva atípica é inviável, o que realça a necessidade da
atipicidade executiva ser apurada pelas máximas da proporcionalidade e razoabilidade.
Sendo assim, por todo exposto, em que pese o Supremo Tribunal Federal ainda não
U
ter se pronunciado, entende-se que o artigo 139, inciso IV, do CPC/2015, é constitucio-
nal, visto seu nítido caráter de promoção à efetividade jurisdicional.
SI
3. Medidas executivas atípicas no Código de Processo Civil de 1973 e a
técnica de efetivação processual no Código de Processo Civil de 2015
VO

3.1. As reformas parciais no Código de Processo Civil de 1973 com a consequente


implementação das medidas executivas atípicas
Este item tem o escopo de realizar um breve comparativo de como o legislador tratou
das medidas executivas atípicas no Código de Processo Civil de 1973 (CPC/1973), tra-
DO

zendo as principais alterações em decorrência das reformas de 1994 a 2005 e, posterior-


mente, reforçar a tese de que o Código de Processo Civil de 2015 não inovou ao tratar do
tema, mas apenas estendeu seus efeitos quando possibilitou o cumprimento das medidas
atípicas executivas nas prestações pecuniárias.
O CPC/1973, prima facie, não tratava especificamente do tema das medidas execu-
SE

tivas atípicas a fim de efetivar as decisões judiciais em processo executório, mas tão so-
mente possibilitava ao magistrado a utilização de medidas provisórias que determinasse
adequadas, na medida em que havendo “fundado receio de que uma parte, antes do jul-
gamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação”, consoan-
te dispunha o artigo 798 do CPC/1973.25 A redação originária do Código Buzaid apenas
N

tratou da atipicidade executiva, ainda que de maneira precária, nas tutelas cautelares,
procurando alargar o campo de efetivação jurisdicional quando houvesse lesão grave de
AD

direito alheio ou de difícil reparação.

25. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
O

metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 210-211. p. 56-57.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
186 Revista de Processo 2022 • RePro 327

Todavia, o marco inicial das medidas executivas atípicas se deu por meio do arti-
go 11, da Lei 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública)26 e o artigo 84, caput e § 5º, da
O
Lei 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor)27, pois normatizaram expressamente
a possibilidade do magistrado fazer uso de “medidas necessárias” ou determinar o cum-
primento da obrigação, sob pena de execução específica ou pena de multa diária, busca e
EX
apreensão, remoção de coisas e pessoas, entre outras.28
O objetivo dos comandos normativos em apreço é cumprir com a tutela específica
ou assegurar o resultado prático equivalente nas obrigações de fazer ou não fazer, no-
tadamente em casos da esfera do consumidor e do meio ambiente. Em razão disso, ao
CL
outorgar ao juiz poderes executórios, Marcus Vinícius Motter Borges arremata que es-
ses dispositivos influíram “de forma decisiva para a concepção da tutela antecipada no
CPC/1973 e, sobretudo, para discussão acerca da atipicidade dos meios executórios”.29
É nesse cenário de forte inspiração pelas leis supramencionadas que o CPC/1973 foi
U
estreitamente reformado pelas Leis 8.952/1994, 10.444/2002 e 11.232/2005. Primeira-
mente, a Lei 8.952/1994 possibilitou a antecipação dos efeitos da decisão definitiva nas
SI
obrigações de fazer e não fazer quando inseriu o termo “medidas necessárias” no § 5º, do
artigo 461, assim como legisla o § 5º do artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor. O
caput do artigo 461 do CPC/1973 dispunha que o juiz “determinará providências que as-
VO
segurem o resultado prático equivalente do adimplemento”. Já o § 4º trazia a possibilidade
de cominar multa diária ao réu em caso de incumprimento da obrigação. Por fim, o § 5º,
possuía único e exclusivo objetivo de efetivar a tutela específica outorgando ao magistrado
amplos poderes executórios com a expressão “determinar medidas necessárias”.
Em outros termos, o CPC/1973 passou a preconizar pela atipicidade das medidas atí-
DO

picas, mas somente nas obrigações de fazer e não fazer, com o intuito de efetivar as deci-
sões judiciais em caráter de tutela provisória de urgência antecipada.30

26. “Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
SE

determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva,


sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou com-
patível, independentemente de requerimento do autor.”
27. “Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resulta-
N

do prático equivalente ao do adimplemento. § 5º. Para a tutela específica ou para a obtenção do


resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e
apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva,
AD

além de requisição de força policial.”


28. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 210-211. p. 57-58.
29. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
O

metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 210-211. p. 58.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 187

Por seu turno, a Lei 10.444/2002 também modificou o § 5º, do artigo 461 do CPC/1973,
30

ao predispor a “imposição de multa por tempo de atraso”, a fim de harmonizar-se com o


O
próprio § 4º do artigo 461, que já possibilitava a imposição de multa diária. Não obstante,
a referida lei ainda criou o artigo 461-A, alargando o campo de efetivação de tutelas espe-
cíficas para as obrigações de entrega de coisa.31
EX
Finalmente, considerando que as reformas operadas em 1994 e 2002 atingiram o pro-
cesso cognitivo, por sua vez, a Lei 11.232/2005 teve por fito a reforma da execução pro-
priamente dita. Em primeiro lugar, a Lei 11.232/2005 criou a fase executiva denominada
cumprimento de sentença, tipificada entre os artigos 475-I e 475-R, de modo que as obri-
CL
gações de fazer e não fazer, em cumprimento de sentença, iriam seguir o disposto no arti-
go 461.32 Em segundo lugar, quanto ao cumprimento de sentença de obrigação pecuniária,
nas palavras de Marcus Vinícius Motter Borges, o artigo 475-J inovou “ao possibilitar a apli-
cação de medida de coerção patrimonial no bojo de uma execução pecuniária, a saber, a mul-
U
ta de 10% sobre o valor executado no caso de não pagamento voluntário pelo devedor”.33
Sendo assim, percebe-se que as reformas parciais trazidas ao CPC/1973 inovaram ao
SI
outorgar ao magistrado poderes executórios de fazer valer o cumprimento de suas deci-
sões judiciais. Entretanto, reserva-se menção negativa ao fato de as reformas não terem
elastecido os poderes de efetivação da tutela jurisdicional nas obrigações pecuniárias.
VO

3.2. O Projeto de Lei 8.046/2010 da Câmara dos Deputados e a cláusula geral do


artigo 139, inciso IV, do Código de Processo Civil de 2015, como técnica de
efetivação processual das decisões judiciais
DO

Seguindo o panorama histórico estabelecido neste tópico, importa esmerar a respei-


to da criação do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015, comparando momentaneamente as
versões do Projeto da Câmara dos Deputados (PL 8.046/2010) e do texto final consagra-
do no CPC/2015.
A elaboração do anteprojeto do novo Código de Processo Civil foi realizada no ano
de 2010 sob o mandato do então Presidente do Senado Federal, José Sarney, em conjunto
SE

com uma Comissão de Juristas que reunia nomes como o do Ministro Luiz Fux, até então
N

30. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâme-
tros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 60.
Nessa linha, ver também MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos.
AD

7. ed. São Paulo: Ed. RT, 2020.


31. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâme-
tros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
32. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâme-
tros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 61.
O

33. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâme-
tros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
188 Revista de Processo 2022 • RePro 327

Presidente do STJ, Teresa Arruda Alvim, Elpídio Nunes e Humberto Theodoro Júnior,
além de outros processualistas renomados.34
O
Em uma análise topográfica, o anteprojeto constava no artigo 107, inciso III, que o
juiz dirigirá o processo, incumbindo-lhe “determinar todas as medidas indutivas, coer-
citivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de
EX
ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária”. Em
outras palavras, com exceção da localização, a redação inicial do anteprojeto de 2010 é a
mesma redação constante da Lei 13.105/2016 que promulgou o Código de Processo Ci-
vil de 2015.
CL
No entanto, após a elaboração do anteprojeto, devido às emendas e substitutivos ul-
teriores, a redação originária que previa a utilização das medidas atípicas nas execuções
pecuniárias foi transladada para o artigo 118, inciso III e, posteriormente, encaminhado
à Câmara de Deputados.35
U
Na Casa dos Representantes do Povo, com a criação de comissão especial destinada a
proferir parecer ao Projeto de Lei 6.025/2005, se sobressai o Relatório-Geral do Deputa-
SI
do Federal Paulo Teixeira, quando, acertadamente, expôs que o juiz dirigirá o processo,
incumbindo-lhe: “determinar, de ofício ou a requerimento, todas as medidas coercitivas
ou sub-rogatórias necessárias para assegurar a efetivação da decisão judicial e a obtenção
VO

da tutela do direito”.36
Em seguida, após voltar à casa de trâmite originário, o Senado Federal entendeu
por bem rejeitar as modificações indicadas no artigo em comento pela Câmara dos
Deputados, optando por manter a redação inicial, tendo em vista que esta detinha de
“maior clareza, idônea a evitar dúvidas na legislação do alcance das medidas coercitivas
DO

e sub-rogatórias”.37
Dito isso, passando-se ao cotejo analítico, apura-se que a versão apresentada pela Câ-
mara dos Deputados é contemporânea quando comparado à versão final, pois: (a) retira
SE

34. BRASIL. Senado Federal. Anteprojeto do novo Código de Processo Civil. Disponível em: [www2.
senado.leg.br/bdsf/item/id/496296]. Acesso em: 31.05. 2021.
35. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâme-
tros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 69.
N

36. BRASIL. Câmara dos Deputados. Comissão especial destinada a proferir parecer ao Projeto de
Lei 6.025, de 2005, ao Projeto de Lei 8.046, de 2010, ambos do Senado Federal, e outros, que
tratam do “Código de Processo Civil” (revogam a Lei 5.869, de 1973). Disponível em: [www.ca-
AD

mara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1104534&filename=Tramitacao-
-PL+6025/2005]. Acesso em: 31.05.2021.
37. BRASIL. Senado Federal. Parecer 956, de 2014, Da Comissão Temporária do Código de Processo
Civil, sobre o Substitutivo da Câmara dos Deputados (SCD) ao Projeto de Lei do Senado (PLS)
166, de 2010, que estabelece o Código de Processo Civil. Relator Senador Vital do Rêgo. Disponí-
O

vel em: [legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4202793&disposition=inline]. Aces-


so em: 31.05. 2021.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 189

as palavras redundantes “indutiva” e “mandamental” do seu texto; (b) e estende o alcan-


ce das medidas atípicas executivas já que passa à assegurar a efetivação de decisão judi-
O
cial, e não “o cumprimento de ordem judicial” como salientado pelo texto final.
Em relação à primeira questão, veja-se que a redação do CPC/2015 traz quatro espé-
cies de medidas de efetivação, ou seja, de medidas as quais o magistrado está imbuído
EX
de utilizar-se para efetivar a tutela do direito, a saber: indutivas, coercitivas, mandamen-
tais ou sub-rogatórias. No entanto, incumbe ressaltar que as medidas de efetivação estão
classificadas em duas espécies, tais quais, medidas executórias de sub-rogação e medidas
executórias de coerção.38
CL
As medidas executórias de sub-rogação, também conhecidas por medidas de execu-
ção direta – visto que o juiz atua diretamente na execução – desdobra-se em três diferen-
tes técnicas: desapossamento, transformação e expropriação. Na primeira, retira-se da
posse do executado o bem a ser entregue ao credor, como, por exemplo, a busca e apreen-
U
são; na segunda técnica, é aquela em que um terceiro realiza a obrigação, assegurado pelo
exequente e, futuramente, cobrado do executado; por fim, a terceira técnica, consiste na
SI
efetivação do artigo 825 do CPC/2015, a qual regula a adjudicação, alienação e apropria-
ção de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e outros bens.39
Por seu turno, as medidas executórias coercitivas, também denominadas de execução
VO

indireta, são aquelas em que estimulam ou incentivam o devedor a realizar o cumprimento


da obrigação. Essa coação estatal pode ser negativa (quando incute um temor no devedor
para realizar o pagamento, como, por exemplo, a multa diária ou a prisão civil do deve-
dor de alimentos) ou positiva (quando estabelece uma sanção premial ao devedor que rea-
lizar o pagamento, conforme hipótese do artigo 701, § 1º, do CPC/2015, isto é, redução pela
DO

metade dos honorários advocatícios).40


Sendo assim, no momento em que se emprega o termo indutivo, este já está devi-
damente abarcado pela medida executória coercitiva, pois ambas possuem o escopo de
convencer, psicologicamente, o executado a cumpri-la, seja por meio do temor ou por
meio da sanção premial. Da mesma forma ocorre com a expressão “mandamental”, que
SE

segundo Marcus Vinícius Motter Borges, “consiste na eficácia do comando judicial e, as-
sim, não deveria estar miscigenada com as formas de efetivação de comandos judiciais”.41
N

38. MINAMI, Marcos Youji. Breves apontamentos sobre a generalização das medidas de efetivação no
CPC/2015 – do processo para além da decisão. In: DIDIER JR., Fredie (Coord.); MACÊDO, Lucas
Buril de; PEIXOTO, Ravi; FREIRE, Alexandre. (Org.). Novo CPC – doutrina selecionada: execução.
AD

Salvador: JusPodivm, 2015. v. 5. p. 220.


39. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Curso de direito processual civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPo-
divm, 2019. p. 106.
40. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael
O

Alexandria de. Curso de direito processual civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPo-
divm, 2019.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
190 Revista de Processo 2022 • RePro 327

Passível, então, a sucinta e acertada exposição da versão descartada da Câmara dos


41

Deputados, ao trazer as duas espécies de medidas de efetivação.


O
De mais a mais, no que concerne à finalidade do comando normativo, a versão re-
jeitada também foi propositiva ao tema das medidas executivas atípicas. Isso porque ela
conferiu um maior alcance com a expressão “assegurar a efetivação da decisão judicial e
EX
a obtenção da tutela do direito”, ao invés de “ordem judicial”. É nítido que a versão trazi-
da pela Câmara dos Deputados optou por efetivar, não apenas as decisões judiciais, como
também aquelas provenientes de títulos executivos extrajudiciais e demais medidas que
viesse a impedir eventual ilícito, expandindo o direito fundamental de acesso à justiça.42
CL
De outro modo, em que pese alguns pontos negativos da redação final quando con-
frontada com a versão da Câmara dos Deputados, a primeira também teve sua serventia,
uma vez que perpetrou algumas principais modificações que não tinham sido realizadas
no CPC/1973, isto é, a famigerada extensão da aplicabilidade das medidas executivas atí-
U
picas em obrigações pecuniárias ou que envolvam o pagamento de quantia certa.
É nesse ponto específico que a redação final é louvada por parcela da doutrina pro-
SI
cessual43, pois ao prever a aplicação das medidas executivas atípicas, tornou-se possível
a efetivação de decisões judiciais a partir destes meios atípicos em qualquer espécie de
obrigação ou procedimento, incluindo as obrigações pecuniárias, desde que respeitados
VO

os parâmetros, limites e diretrizes impostos pelos estudos doutrinários.


Nesse cenário, Daniel Amorim Assumpção Neves leciona que a redação constatada
no artigo 139, inciso IV, do CPC/2015, permite a ampla e irrestrita aplicação do princí-
pio da “atipicidade dos meios executivos” a qualquer espécie de execução, asseverando,
ainda, a possibilidade de serem aplicadas astreintes (multa pecuniária diária) na obriga-
DO

ção de pagar quantia certa.44


Indo mais além, Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga e Ra-
fael Alexandria de Oliveira, tratam o dispositivo em comento como uma cláusula geral45,
SE

41. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 72-73.
42. MINAMI, Marcos Youji. Da vedação ao non factibile: uma introdução às medidas executivas atípi-
N

cas. 2. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 195.


43. Sobre o tema Marcos Youji Minami foi enfático ao dizer que houve uma generalização das medidas de
efetivação, relatando que “[...] a localização do preceito na Parte Geral do CPC/2015 traduz a ideia de
AD

sua aplicação em quaisquer procedimentos do código – inclusive nas execuções fundadas em títulos
executivos extrajudiciais”. (MINAMI, Marcos Youji. Da vedação ao non factibile: uma introdução às
medidas executivas atípicas. 2. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 198).
44. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil: volume único. 10. ed. rev.
ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 1075.
O

45. Para fins didáticos, os referidos autores entendem que a cláusula geral é “uma espécie de texto
normativo, cujo antecedente (hipótese fática) é composto por termos vagos e o consequente

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 191

assim como os artigos 297 e 536, § 1º, ambos do CPC/2015 e, portanto, reforçando o poder
criativo da atividade jurisdicional com vistas a efetivar a tutela jurisdicional do credor.46
O
Não obstante, a própria localização do comando normativo na Parte Geral do
CPC/2015 evidencia a ideia de ser uma cláusula geral processual executiva.47 Recorda-se
que o mesmo acontece com as tutelas provisórias, especialmente aos requisitos dispos-
EX
tos no artigo 300 do CPC/2015, que devido a sua localização podem ser utilizadas em
variados procedimentos especiais, por exemplo, nas ações provisórias de posse nova (ar-
tigo 562 do CPC/2015).
À vista disso, embora a redação final do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015 possua al-
CL
gumas incongruências, ao localizar-se na Parte Geral do Código de Processo Civil e es-
tender seus efeitos às obrigações pecuniárias, postou-se como cláusula geral executiva
com o fito de auxiliar o magistrado a prestar a atividade satisfativa nos moldes do arti-
go 4º do CPC/2015.
U
Dessa feita, no capítulo a seguir passa-se ao enfrentamento do objeto central deste
trabalho, reunindo e analisando alguns dos parâmetros, limites e diretrizes da doutrina
SI
especializada, a fim de contribuir os critérios de aplicação das medidas executivas atípi-
cas para não incorrer em arbitrariedades ao devedor e ao mesmo tempo efetivar a tutela
jurisdicional do credor.
VO

4. Dos parâmetros, limites e diretrizes propostos pelos estudos


doutrinários quanto à aplicação das medidas executivas atípicas na
execução de prestação pecuniária ou quantia certa
DO

A definição dos critérios a serem aplicados pelo juiz envolvendo as medidas executi-
vas atípicas não é tarefa fácil de maneira que o tema vem ganhando muito espaço nos últi-
mos anos, seja na seara acadêmica, seja no âmbito jurisprudencial. No entanto, não será
SE

(efeito jurídico) é indeterminado. Há, portanto, uma indeterminação legislativa em ambos os


extremos da estrutura lógica normativa”. (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da;
BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil: execução.
9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, p. 104). No mesmo encalço, Marcus Vinícius Motter
Borges aduz que o dispositivo do art. 139, inciso IV, do CPC/2015, confere “límpida conotação de
N

vagueza à norma, sem a predeterminação dos efeitos jurídicos que serão gerados. Existe um âma-
go, uma indeterminação legislativa acarretando ampla extensão no campo semântico”. (BORGES,
Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâmetros para a
AD

aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 91).
46. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Curso de direito processual civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPo-
divm, p. 104-106.
47. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
O

metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 77-78.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
192 Revista de Processo 2022 • RePro 327

objeto central do presente estudo tecer uma análise pormenorizada de qual das medidas
atípicas é que poderão ser aplicadas, mas tão somente apurar os parâmetros, os limites e
O
as diretrizes, isto é, os critérios que os estudos doutrinários propuseram a fim de efetivar a
tutela jurisdicional do credor, sem, contudo, violar os direitos fundamentais do devedor.
Desde já, salienta-se que não há unicidade nos termos atribuídos para definir os crité-
EX
rios de aplicação, uma vez que o ramo doutrinário tem aderido às expressões como parâ-
metros, diretrizes, limites, standards, entre outros, porém, todos eles dotados da mesma
finalidade.
Nesse sentido, diante da inviabilidade de esgotar todos os critérios levantados, este
CL
trabalho levou em conta, especialmente, os seguintes meios de controle: (a) subsidia-
riedade ou esgotamento dos meios atípicos; (b) necessidade do requerimento da par-
te; (c) prescindibilidade da relação de causalidade entre a aplicação da medida atípica e
a imediata satisfação patrimonial; (d) observância das máximas parciais da adequação,
U
necessidade e proporcionalidade em sentido estrito, além da obediência aos princípios
do contraditório e da motivação da decisão judicial; (e) aplicação das medidas atípicas
SI
em títulos executivos extrajudiciais; (f) destaque aos princípios específicos da execução,
especialmente os princípios da menor onerosidade da execução e da patrimonialidade;
(g) e, por fim, os critérios estabelecidos pelo Superior Tribunal de Justiça.
VO

4.1. A subsidiariedade das medidas executivas atípicas ou prévio esgotamento dos


meios típicos
Um dos principais critérios (e mais discutidos) quanto ao tema em questão se revela
na natureza subsidiária dos meios atípicos, ou seja, a necessidade de ter que esgotar a via
DO

executiva típica antes de incidir às hipóteses não previstas em lei.


Sob este enquadro, Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga
e Rafael Alexandria de Oliveira argumentam que se deve observar primeiramente a tipi-
cidade executiva, aplicando-se subsidiariamente as medidas atípicas, visto a exposição
detalhada do CPC/2015, em mais de cem artigos, acerca do procedimento de pagamento
SE

de quantia certa.48
No mesmo sentido se posiciona Marcus Vinícius Motter Borges ao revelar a neces-
sidade do esgotamento das tentativas de penhora e expropriação, além de outros meios
típicos de coerção, tendo em vista que o sistema brasileiro de execução pecuniária é pri-
N

mordialmente típico.49 Indo mais além, o respectivo autor atribui a natureza subsidiária
AD

48. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Curso de direito processual civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPo-
divm, p. 108.
49. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
O

metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 358.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 193

como requisito de validade para as execuções pecuniárias, em virtude da estrita legalida-


de no sentido de que “o ordenamento processual executivo prevê um caminho típico e
O
primário para as execuções pecuniárias”.50
Por sua vez, Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero
dispõem de modo contrário, ou seja, pela prescindibilidade da observância da subsi-
EX
diariedade atípica. Isso porque a lógica da tipicidade como regra foi rescindida com a
previsão do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015 e, consequentemente, possibilitando
ao magistrado impor meios de indução ou sub-rogação que entender mais adequado
para a satisfação do crédito.51
CL
Da mesma forma, Maurício Pereira Doutor refuta a ideia de que é necessário utilizar
primeiramente a via típica quando haveria regras disciplinando pormenorizadamente
a execução por quantia, vez que a execução necessita ser efetiva, sendo este o princípio
articulador de todo o sistema, no fito de que a execução é realizada no interesse do exe-
U
quente. Por isso que a atipicidade dos meios executivos não prejudica a ordem de execu-
ção, já que é interesse do credor em ver seu crédito satisfeito.52
SI
Além do mais, em certos casos, as medidas típicas podem se tornar insuficientes,
como, por exemplo, em determinada tutela de urgência antecipada se revelarem mal-
sucedidas. Enfim, lança-se como outro argumento para defender a desnecessidade da
VO

subsidiariedade, o fato do custo da execução por expropriação, isto é, na execução dire-


ta, os custos imediatos são mais significativos.53
Tamanho o debate aclarado ainda na época que marca o início da vigência do
CPC/2015, é que surgiu a primeira manifestação sobre o controle do uso das medidas
atípicas consignada pelo enunciado 12 do Fórum Permanente de Processualistas Civis
DO

(FPPC), a qual determina que:

“A aplicação das medidas atípicas sub-rogatórias e coercitivas é cabível em qualquer


obrigação no cumprimento de sentença ou execução de título executivo extrajudicial.
SE

50. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâmetros
para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 359.
51. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de pro-
cesso civil (recurso eletrônico): tutela dos direitos mediante procedimento comum. 3. ed. São
N

Paulo: Ed. RT, 2017. v. 2.


52. DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: diretrizes e
AD

limites de aplicação. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universi-


dade Federal do Estado do Paraná, Curitiba, 2019. p. 89-95.
53. O autor na sua tese de mestrado ainda argumenta que “Não haveria sentido em que, prolatada
a sentença condenatória, tivesse o réu de percorrer novamente a via típica para a satisfação do
seu crédito, embora antes evidenciada a sua incapacidade para a tutela do direito. (DOUTOR,
O

Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: diretrizes e limites de
aplicação. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal
do Estado do Paraná, Curitiba, 2019. p. 93).

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
194 Revista de Processo 2022 • RePro 327

Essas medidas, contudo, serão aplicadas de forma subsidiária às medidas tipificadas,


com observação do contraditório, ainda que diferido, e por meio de decisão à luz do
O
art. 489, § 1º, I e II”.

Em razão do exposto, entende-se que as medidas executivas atípicas devem seguir


EX
com o critério da subsidiariedade. Malgrado parcela doutrinária defender a desnecessi-
dade do respectivo parâmetro, a disposição do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015, nor-
teia a observância primária da via típica. Possibilitar o uso desenfreado das medidas
executivas atípicas aos magistrados é banalizar os critérios de aplicação e incorrer em ar-
CL
bitrariedades insustentáveis pela ordem constitucional. Por outro lado, registra-se que,
se justificado expressamente por parte do exequente e houver prova de que determinada
medida atípica poderá ser mais eficiente e menos gravosa, é possível cogitar de uma ex-
cepcional inversão do procedimento.
U
Por isso, denota-se a preferência legislativa pela tipicidade na via executiva, consig-
nada pela penhora, expropriação e outros meios coercitivos previstos em lei, que quando
SI
esgotados, passa-se a possibilidade da utilização de meios coercitivos atípicos, desde que
respeitados outros critérios, tais como, a máxima da proporcionalidade e suas parciais, o
contraditório e a motivação da decisão judicial.
VO

4.2. A necessidade do requerimento da parte


Há divergência doutrinária a respeito do requerimento da parte em paralelo com a
atuação oficiosa do juiz. Entretanto, mostra-se correto o entendimento da necessidade
DO

da parte processual realizar o pedido expresso.


A corrente doutrinária que preza pela atuação do magistrado, independente da ma-
nifestação do credor argumenta, em síntese, de três formas: (a) o desenvolvimento do
processo executivo pelo impulso oficial54; (b) o poder-dever do juiz em agir de ofício de-
corrente da localização topográfica do artigo 139, inciso IV, do CPC/201555; (c) e o fa-
to do magistrado não condicionar a medida atípica com o conteúdo do requerimento.56
SE

Todavia, no que concerne à primeira justificativa, ainda que lance mão do artigo 2º
do CPC/2015 para possibilitar a atuação oficiosa, esta é insuficiente. Basta pensar que a
N

54. GRECO, Leonardo. Coações indiretas na execução pecuniária. In: DIDIER JR., Fredie (Coord.
Geral); TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji (Org.). Grandes temas do novo CPC: medi-
AD

das executivas atípicas. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 412.


55. ARAÚJO, Luciano Vianna. A atipicidade dos meios executivos na obrigação de pagar quantia
certa. Revista de Processo, São Paulo, v. 42, n. 270, 2017. Disponível em: [https://juslaboris.tst.
jus.br/handle/20.500.12178/113368]. Acesso em: 16.08.2021.
56. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael
O

Alexandria de. Curso de direito processual civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Jus­
Podivm, p. 122.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 195

instauração da execução é marcada pela aplicação do princípio do dispositivo, conforme


se denota pelos artigos 513, § 1º, e 798, ambos do CPC/2015.57
O
Do mesmo modo, a localização do artigo 139, inciso IV, na Parte Geral do CPC/2015,
não confere margem para possibilitar o exercício ex officio. Isto porque, o inciso IV, quan-
do comparado aos demais nove incisos do mesmo artigo 139, possui nítido caráter de ex-
EX
cepcionalidade, em virtude da primazia da natureza subsidiária que permeia o ensejo dos
meios atípicos, conforme analisado anteriormente.58
Enfim, embora o magistrado não esteja adstrito ao conteúdo do pedido, tal regra não
se aplica ao critério ora examinado, dado a disposição do artigo 141 do CPC/2015. Obvia-
CL
mente, há exceções, e elas serão mais bem analisadas no item 4.3. Por ora, “se o juiz está
adstrito ao pedido imediato, consistente no meio executório pleiteado pelo exequente, a
cumulação de novo meio executório (pedido imediato) somente será possível mediante
requerimento do próprio solicitante”.59
U
No mais, ressalta-se que a atipicidade executiva apenas é regra nas obrigações de fa-
zer capitaneadas pelo artigo 536 do CPC/2015, envolvendo títulos executivos judiciais,
SI
ensejando, portanto, a atuação oficiosa do magistrado em decorrência da previsão legal.
Nas demais obrigações, especialmente a pecuniária, não há espaço para valer-se das me-
didas atípicas sem o expresso requerimento, dado que nessas situações estar-se-á diante
VO

da subsidiariedade atípica executiva.60

57. Daniel Amorim Assumpção Neves disserta que no “sistema dispositivo puro o juiz passa a ter uma
participação condicionada à vontade das partes, que definem não só a existência e extensão do
DO

processo – cabendo ao interessado a sua propositura e definição dos elementos objetivos e subje-
tivos –, como também o seu desenvolvimento, que dependerá de provocação para que consiga”.
(NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil: volume único. 10. ed. rev.
ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 183). No caso do sistema brasileiro, o sistema é misto,
isto é, coparticipam o princípio dispositivo e o inquisitivo.
58. “Em que pese o inciso IV estar no mesmo catálogo dos outros poderes-deveres do juízo, para fins
SE

de oficiosidade não é possível equiparar o poder do juiz de aplicar as coerções atípicas em execu-
ções de pagar com os demais poderes previstos no rol do artigo 139. Naquele caso, o exercício do
poder conduz a uma excepcionalidade; nestes, às regras gerais do sistema.” (BORGES, Marcus Vi-
nícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâmetros para a aplicação
do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 258).
N

59. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 255.
AD

60. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâme-
tros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. Em
sentido contrário defende Maurício Pereira Doutor, ao evidenciar que nas decisões que impõe or-
dem de pagamento, preponderantemente indutiva, não há necessidade de requerimento da parte
(DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: diretrizes
O

e limites de aplicação. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universi-


dade Federal do Estado do Paraná, Curitiba, 2019. p. 96-98).

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
196 Revista de Processo 2022 • RePro 327

4.3. A prescindibilidade entre o meio atípico escolhido e a satisfação patrimonial


O
Tratando especificamente da correlação entre a medida executiva atípica escolhida
pelo magistrado com a consequente satisfação patrimonial formulado pelo pedido do su-
jeito, parte-se da ideia de que é prescindível. Ainda que haja parcela doutrinária susten-
EX
tando a necessidade de correlação como ponto fulcral para o alcance do objetivo61, o juiz
não fica adstrito à satisfação direta do crédito.62
Não se confunde pedido mediato com pedido imediato. No primeiro caso, estar-se-
-á diante do famigerado bem da vida, daquilo que se pretende, ao passo que no segundo
CL
caso tratar-se-á da providência jurisdicional, ou seja, da providência executiva.63 O que é
prescindível é a relação entre a medida executiva atípica e o pedido imediato formulado
pela parte, podendo optar o magistrado por aquele que condiz à efetivação da satisfação
do credor e, por consequência, afastar a regra da congruência.
U
Conquanto a finalidade das medidas executivas atípicas sejam despertar no devedor
a ação para satisfazer o crédito, ao contrário da promoção da satisfação direta do crédi-
SI
to, é prescindível a noção de pertinência instrumental entre o meio atípico e a prestação
creditícia.64 Recorda-se, à título de comparação, a respeito das obrigações alimentares,
na qual não há relação alguma entre o dever de prestar alimentos e a prisão do respectivo
VO
devedor, uma vez que a caracterização de tal hipótese piora ainda mais a possibilidade de
obter o crédito em específico.

61. Defendem a necessidade da correlação: GRECO, Leonardo. Coações indiretas na execução pe-
cuniária. In: DIDIER JR., Fredie (Coord. Geral); TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji
DO

(Org.). Grandes temas do novo CPC: medidas executivas atípicas. Salvador: JusPodivm, 2018.
p. 408-409; RODRIGUES, Marcelo Abelha. O que fazer quando o executado é um “cafajeste”?
Apreensão de Passaporte? Da carteira de motorista? Migalhas, 2016. Disponível em: [migalhas.
uol.com.br/depeso/245946/o-que-fazer-quando-o-executado-e-um--cafajeste---apreensao-de-
-passaporte--da-carteira-de-motorista]. Acesso em: 03.11.2020; e PITTA, Fernanda Pagotto Go-
mes. Por uma teoria das medidas executivas atípicas – limites para a concessão. In: DIDIER JR.,
SE

Fredie (Coord. Geral); TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji (Org.). Grandes temas do
novo CPC: medidas executivas atípicas. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 693.
62. Por sua vez, são contrários a estrita pertinência do meio atípico e satisfação do crédito: BORGES,
Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâmetros para a
aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 277; DOU-
N

TOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: diretrizes e limi-
tes de aplicação. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
Federal do Estado do Paraná, Curitiba, 2019. p. 98-100; e DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo
AD

Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual
civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, p. 121-124.
63. DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte
geral e processo de conhecimento. 21. ed. Salvador: JusPodivm, 2019. p. 661.
64. DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: diretrizes e
O

limites de aplicação. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universi-


dade Federal do Estado do Paraná, Curitiba, 2019.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 197

Entretanto, figura-se razoável que ao menos a medida executiva atípica cumpra com as
máximas parciais da adequação, da necessidade e da proporcionalidade em sentido estrito.
O
4.4. Observância à máxima da proporcionalidade e aos princípios do contraditório e
da motivação judicial
EX
Já foi ligeiramente aventado por este trabalho no que toca à aplicação da máxima da
proporcionalidade, entretanto, reserva-se este breve item ao estudo de mais considera-
ções acerca deste critério.
CL
Nesse ponto, entende-se que a máxima da proporcionalidade como mecanismo de
sopesamento de princípios, de maneira que estes “são mandamentos de otimização em
face das possibilidades jurídicas e fáticas”.65 Portanto, na concepção de Robert Alexy,
apesar da proporcionalidade ser usualmente denominada de princípio, o correto se-
U
ria tratar como máxima, desdobrando-se em três parciais, quais sejam: (a) adequação;
(b) necessidade; e (c) proporcionalidade em sentido estrito, com o objetivo de apurar se
SI
estas foram realmente satisfeitas ou não a partir da técnica da ponderação.
Desse modo, diz que o meio (ou medida) é adequado quando puder atingir a sua
finalidade, independentemente da relação imediata entre o meio e o fim colimado.66
VO

Nesse sentido, arremata-se ao critério da não correlação entre a medida e a satisfação


patrimonial.
Por seu turno, dos meios adequados escolhidos, será necessário aquele que “intervir
de modo menos intenso67“, isto é, não atinja tantos direitos fundamentais ou ao menos
não provoque tamanhos prejuízos.68
DO

Enfim, a máxima parcial da proporcionalidade em sentido estrito permite verificar


todos os interesses postos na execução, isto é, tanto os prejuízos que a escolha do meio
atípico colocará ao executado, quanto os prejuízos ao exequente em caso de não escolha
da medida, devendo, portanto, sopesar qual deles irá prevalecer.69
SE

65. ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malhei-
ros, 2008. p. 117.
66. MINAMI, Marcos Youji. Da vedação ao non factibile: uma introdução às medidas executivas atípi-
N

cas. p. 232.
67. ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malhei-
ros, 2008. p. 590.
AD

68. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 333.
69. MINAMI, Marcos Youji. Da vedação ao non factibile: uma introdução às medidas executivas atípi-
cas. p. 233; e BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniá-
O

rias: parâmetros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
2019. p. 335-336.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
198 Revista de Processo 2022 • RePro 327

Para ilustrar o tema ora debatido, destaca-se no caso em concreto a apreensão da CNH
como medida executiva atípica escolhida em determinada execução de obrigação pecu-
O
niária. Caso ela se mostre apta a contribuir com a efetivação do direito de crédito, ela é
adequada. Em seguida, não existindo outros meios que demonstrem a mesma eficiência,
a medida atípica é necessária. Por fim, apurando que os interesses do exequente preva-
EX
lecem sobre o executado, tal medida é proporcional em sentido estrito. Por outro lado,
demonstrando-se que o executado é motorista e necessite da CNH, haveria maior pre-
juízo ao executado do que ao exequente e, portanto, inviável a aplicação da medida de
apreensão da CNH.70
CL
Adiante, existe unanimidade em relação ao exercício do contraditório para a aplica-
ção da medida executiva atípica, todavia, essa unanimidade perde efeito quando se discu-
te se o contraditório deve ser prévio ou diferido.71 De antemão, sugere-se que na melhor
das hipóteses o contraditório seja prévio, porém, em determinadas situações de urgên-
U
cia é possível a adoção do contraditório diferido. O exercício anterior do contraditório
coaduna com o parâmetro ou diretriz da subsidiariedade, possibilitando ao executado a
SI
comprovação para o não cumprimento da decisão, mediante justa causa, respeitando o
artigo 9º, caput, do CPC/2015. Em seguida, na linha de Marcus Vinícius Motter Borges,
adota-se a concepção de que o contraditório diferido somente seria possível quando pre-
VO
sentes os critérios da tutela provisória de urgência.72
Do mesmo modo, a partir do controle do exercício do contraditório, revela-se impres-
cindível que todas as decisões judiciais sejam devidamente fundamentadas, reconhecen-
do ou não a presença dos critérios aqui estabelecidos, uma vez a consagração do princípio
constitucional da motivação judicial expresso pelo artigo 93, inciso IX, da Constituição
DO

Federal de 1988.

70. DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: diretrizes e
limites de aplicação. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universi-
SE

dade Federal do Estado do Paraná, Curitiba, 2019. p. 45-46.


71. Concluem pela necessidade do contraditório: DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro
da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil: exe-
cução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, p. 121; BORGES, Marcus Vinícius Motter.
Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâmetros para a aplicação do art. 139, IV
N

do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 264-265; MINAMI, Marcos Youji. Da
vedação ao non factibile: uma introdução às medidas executivas atípicas. p. 223-224. GRECO, Leo-
nardo. Coações indiretas na execução pecuniária. In: DIDIER JR., Fredie (Coord. Geral); TALA-
AD

MINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji (Org.). Grandes temas do novo CPC: medidas executivas
atípicas. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 410. A distinção se faz no sentido de que Fredie Didier Jr.
e outros, avançam no sentido de que o contraditório é diferido, ao passo que para Marcus Vinicius
Motter Borges o contraditório deve ser preferencialmente prévio.
72. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
O

metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 272-273.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 199

Assim sendo, é patente a unicidade da doutrina em reconhecer a presença dos prin-


cípios do contraditório e da motivação judicial quando debate-se a aplicação dos meios
O
executivos atípicos.

4.5. Aplicação das medidas executivas atípicas nos títulos executivos extrajudiciais
EX
Outro critério debatido pela corrente processualista se direciona à possibilidade de uti-
lizar as medidas executivas atípicas nos títulos executivos extrajudiciais. Autores como
Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, consideram que nos
CL
títulos executivos extrajudiciais, como “os documentos que baseiam a execução não têm
origem na atividade jurisdicional do Estado, é razoável que se limitem as técnicas postas à
disposição do credor, a fim de evitar injustas incursões sobre a esfera do executado”.73
Igualmente sustenta Maurício Pereira Doutor, ao negar a possibilidade de utilizar os
U
meios atípicos executivos na execução de títulos extrajudicial.
A um, porque esses títulos se originam em relações não tão equilibradas, vez que predo-
SI
minam nos polos ativos as instituições financeiras, as grandes corporações e os poderes pú-
blicos, vindo a sugerir que o juiz sabatine o título “antes de autorizar que o credor recorra a
medidas executivas restritivas de direitos não previstas tipicamente”.74 A dois, por conta do
VO
cunho probabilístico, ou seja, em relação ao fato de que os títulos executivos judicial e ex-
trajudicial são originados por lógicas diversas, sendo que no primeiro existem garantias de
diálogo, participação e influência na decisão, ao passo que no segundo o título se corporifi-
ca pela certeza e justeza. A três, assevera que apesar do artigo 139, inciso IV, estar localizado
na Parte Geral do CPC/2015, não existe ordem judicial na execução fundada em título ex-
trajudicial apto a justificar a aplicabilidade das medidas executivas atípicas.75
DO

Todavia, incumbe mencionar que os títulos executivos extrajudiciais são corporifi-


cados sem a participação direta do judiciário, razão pela qual o legislativo não fica con-
dicionado ao segundo plano. Basta pensar que inexiste a possibilidade de se criar título
executivo extrajudicial por negócio jurídico processual.76 Recorda-se que o artigo 784
do CPC/2015 traz os requisitos que formam o título executivo, isto é, certeza, liquidez e
SE

73. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Pro-
cesso Civil (recurso eletrônico): tutela dos direitos mediante procedimento comum. 3. ed. São
N

Paulo: Ed. RT, 2017. v. 2.


74. DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: diretrizes e
limites de aplicação. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universi-
AD

dade Federal do Estado do Paraná, Curitiba, 2019. p. 86.


75. DOUTOR, Maurício Pereira. Medidas executivas atípicas na execução por quantia certa: diretrizes e
limites de aplicação. 161 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universi-
dade Federal do Estado do Paraná, Curitiba, 2019. p. 87-89.
76. “A imposição legal possui tanta força quanto a ordem judicial. A diferença é que a última palavra é
O

dada pelo judiciário. isso não significa que o judiciário possui mais força que o legislador.” (MINAMI,
Marcos Youji. Da vedação ao non factibile: uma introdução às medidas executivas atípicas. p. 252).

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
200 Revista de Processo 2022 • RePro 327

exigibilidade, tornando-se prescindível a ordem judicial para “qualificar” qualquer uso


dos meios atípicos.
O
Nessa linha, postular pelo emprego das medidas executivas atípicas somente nos títu-
los executivos judiciais, conduziria a uma diferenciação despropositada entre os procedi-
mentos executivos, ensejando um “tratamento não isonômico entre credores portadores
EX
de títulos de diferentes espécies”.77
Ainda assim, o enunciado 12 do FPPC possibilitou que nos títulos executivos extra-
judiciais o executado sofra com as restrições das medidas atípicas, desde que obviamente
haja observância dos demais critérios analisados.
CL
4.6. Destaque aos princípios específicos da execução: menor onerosidade da
execução e patrimonialidade
U
Embora os princípios específicos da execução não tenham o devido destaque quando
o assunto se concentra na apresentação dos critérios de aplicação das medidas atípicas,
SI
imperioso demonstrar a sua relevância na discussão, vez que contribuem para a escorrei-
ta decisão que trata sobre o tema.
O princípio da menor onerosidade da execução está elencado expressamente no
VO
caput do artigo 805 do CPC/2015, a qual legisla que: “quando por vários meios o exe-
quente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravo-
so para o executado”.
Cuida-se de um princípio que protege o devedor das arbitrariedades do exequente.
Contudo, isso não significa que o devedor possa furtar-se a cumprir com a prestação sa-
DO

tisfativa, ou seja, o artigo 805 do CPC/2015 não autoriza que o devedor altere o resultado
da atividade executiva.78
Na mesma linha, o “estrito respeito ao princípio da menor onerosidade não pode sacri-
ficar a efetividade da tutela executiva”79, pois, se de um lado existe a proteção do devedor,
do outro há o interesse da atividade satisfativa do credor, de maneira que caberá ao juiz
ponderar pela utilização da razoabilidade e proporcionalidade, com o intuito de chegar
SE

ao resultado mais equilibrado possível.80


N

77. BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias: parâ-
metros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
p. 221.
AD

78. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Curso de direito processual civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Jus­
Podivm, p. 80-82.
79. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil: volume único. 10. ed. rev.
ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 1069.
O

80. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil: volume único. 10. ed. rev.
ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 1070.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 201

Assim sendo, quando da aplicação das medidas executivas atípicas, entende-se que
o referido princípio merece guarida e necessita ser observado pelo magistrado a fim de
O
ponderar se a medida atípica utilizada não venha a onerar por demasiado o devedor. Ade-
mais, se em qualquer momento o executado indicar medida executiva menos onerosa,
esta deve preponderar sobre aquela aplicada pelo magistrado (parágrafo único do arti-
EX
go 805 do CPC/2015).81
Por seu turno, o artigo 789 do CPC/2015 dispõe que “o devedor responde com todos
os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restri-
ções estabelecidas em lei”.
CL
Percebe-se, claramente, a normatização do princípio da patrimonialidade ou da
realidade da execução a qual o executado responde pelo adimplemento de sua obri-
gação apenas com seus bens.82 Todavia, isto nem sempre foi assim, pois a concepção
humanística do executado responder tão somente com o seu patrimônio é própria do
U
direito moderno.
Isto porque, no direito romano – especialmente entre o período da legis actiones até
SI
o século II a.C. – a figura do devedor sofria de atrocidades as quais não perpassam pelos
valores atuais vigentes na sociedade ocidental, tendo em vista que os romanos não distin-
guiam a execução pessoal da execução real, havendo vínculo estritamente pessoal com o
VO

credor no caso do devedor não cumprir com sua obrigação.83


Apesar da nítida e necessária evolução da execução pessoal para a patrimonial, o or-
denamento jurídico brasileiro ainda admite, em caráter excepcional, que o devedor ve-
nha a responder com sua obrigação de forma não patrimonial, isto é, com seu próprio
corpo: é o caso da prisão civil por dívida de prestação alimentícia84 (artigo 528, §§ 3º e
DO

4º, do CPC/2015).
Entretanto, tal medida se coaduna com a execução indireta (meio de coerção) do que
propriamente uma execução de natureza não patrimonial ou pessoal, já que o seu propó-
sito é de realizar a pressão psicológica.85
SE

81. Apesar de tal princípio não ser suficientemente trabalhado pela doutrina com parâmetro, limite
ou diretriz no que tange à aplicação das medidas atípicas executivas, é salutar que a preocupação
do legislador em normatizar tal comando normativo deve ser preservada e atendida pelo juiz no
N

momento em que for dosar à espécie de medida atípica adequada ao caso, para que não abuse do
direito do devedor (mais detalhes acerca dos parâmetros, limites e diretrizes para aplicação das
medidas atípicas executivas, ver item 4.7).
AD

82. BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. v. 3. E-book.
83. DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 31-32.
84. O Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento (Súmula Vinculante 25) de que não é pos-
sível realizar a prisão civil de depositário infiel, acolhendo os tratados internacionais ratificados
O

pela República Federativa do Brasil a qual proíbem a execução pessoal em tal modalidade (Con-
venção Americana sobre Direitos Humanos e Pacto de San José da Costa Rica).

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
202 Revista de Processo 2022 • RePro 327

Desse modo, insurge-se a respeito da possibilidade de utilizar a prisão civil como medi-
85

da executiva atípica que pudesse ser utilizada em outras obrigações, isto é, aquelas não re-
O
lacionadas ao débito alimentar? A resposta não é tão simples e divide opiniões doutrinárias.
Se posicionando de forma contrária a possibilidade de utilização da prisão civil como
medida de coerção, Eduardo Talamini revela que a exceção do artigo 5º, inciso LXVII,
EX
da Constituição Federal de 1988, apenas se configura na hipótese de descumprimento
de ordem judicial que trata de inadimplemento de prestação alimentícia, não podendo a
prisão civil ser utilizada em outras obrigações.86
Em adverso, se posicionam Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sar-
CL
no Braga e Rafael Alexandria de Oliveira, ao asseverarem que é possível utilizar a prisão
civil como medida de coerção atípica, em caráter excepcional, desde que: (a) a tutela ju-
risdicional seja mais relevante do que a liberdade pessoal do devedor; (b) o juiz motive
sua decisão; (c) a prisão civil seja utilizada em último caso; (d) e o magistrado confira o
U
contraditório e estipule o prazo de duração da prisão.87
À vista disso, apesar de parcela da doutrina compreender ser possível a prisão civil do
SI
devedor de execução não alimentar, tal medida deve ser evitada e em raros casos, utiliza-
da quando a atividade do exequente demonstrar ser mais expressiva que a liberdade pes-
soal do executado, a qual em um caso concreto, mostra-se de dificílima caracterização.
VO
Salienta-se que a temática da prisão civil é ampla e merece uma análise própria e por-
menorizada, o que escaparia ao encontro do objeto deste presente trabalho, entretanto,
ainda que ligeira a análise realizada, serve de importância para lançar os princípios da
menor onerosidade da execução e da patrimonialidade como indicadores limitantes para
aplicação de medidas executivas atípicas.
DO

4.7. Dos critérios fixados pelo Superior Tribunal de Justiça


Na data de 24 de abril de 2019 a Ministra Nancy Andrighi do STJ exarou o Resp
1.782.418/RJ88 e o Resp 1.788.950/MT89, com o viés de disciplinar o controle da a­ plicação
SE

85. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil: volume único. 10. ed. rev.
ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 1052. No mesmo sentido aduz Marcus Vinicius Rios
Gonçalves ao dizer que “não se admite mais a coerção física, e a pessoa do devedor é intangível, à
exceção do alimentante. Não constituem violação ao princípio da patrimonialidade as medidas de
N

pressão psicológica (por exemplo, multas diárias), para cumprimento da obrigação, pois elas tam-
bém repercutirão sobre a esfera patrimonial e não pessoal do indivíduo”. (GONÇALVES, Marcus
Vinicius Rios. Curso de direito processual civil. 13. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. v. 3. p. 36).
AD

86. TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer e sua extensão aos deveres de
entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A; CDC, art. 84). 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2003. p. 302-304.
87. DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Jus-
Podivm, p. 133-135.
O

88. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.782.418/RJ (2018/0313595-7). Recorrente: João Morais
de Oliveira e Elaine Chagas de Oliveira. Recorrido: Rafael Ferreira Martins e Silva. Relator: Min. Nancy

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 203

das medidas executivas atípicas a respeito de insurgência recursal que discutia a suspen-
são da CNH e a retenção do passaporte do devedor.
O
89

Nesses julgados ficaram consignados que a busca pela efetividade jurisdicional não
pode desrespeitar os ditames constitucionais, sendo cabível o uso dos meios executivos
atípicos, desde que verificado a
EX
“existência de indícios de que o devedor possua patrimônio expropriável, tais medidas
sejam adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que contenha fundamenta-
ção adequada às especificidades da hipótese concreta, com observância do contraditó-
CL
rio substancial e do postulado da proporcionalidade.”90

Posteriormente, o Superior Tribunal Justiça ainda reforçou que a decisão que aplica
as medidas executivas atípicas deve sujeitar-se ao critério do contraditório.91
U
Diante disso, apura-se que os parâmetros, limites e diretrizes propostos pelo Tribu-
nal Superior não escapam daquilo que foi analisado envolvendo o estudo preliminar da
SI
doutrina. Critérios como decisão judicial devidamente fundamentada e oportunidade ao
exercício do contraditório decorrem da observância aos ditames constitucionais.
No que toca à máxima da proporcionalidade, o magistrado deverá resguardar-se pela
VO
técnica da ponderação, cuja realização se faz por meio de dois requisitos: (a) aplicação
das medidas executivas atípicas em caso de indícios de ocultação patrimonial; (b) e aca-
tamento do esgotamento da via típica previamente estabelecida.92
DO

Andrighi. Julgamento: 23/04/2019. Órgão Julgador: Terceira Turma. Publicação: 26/04/2019. Dis-
ponível em: [scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201803135957&dt_
publicacao=26/04/2019]. Acesso em: 21.08.2021.
89. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.788.950/MT (2018/0343835-5). Recorrente: Ely Es-
teves Capistrano Martins. Recorrido: Fernando Emilio da Silva Bardi. Relator: Min. Nancy Andrighi.
Julgamento: 23/04/2019. Órgão Julgador: Terceira Turma. Publicação: DJE 26/04/2019. Disponível
SE

em: [scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201803438355&dt_publi-
cacao=26/04/2019]. Acesso em: 21.08.2021.
90. Recurso especial 1.782.418/RJ e Recurso especial 1.788.950/MT, rel. Min. Nancy Andrighi, Brasí-
lia, 23.04.2019. Publicado em 26.04.2019.
91. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgInt no REsp 1.785.726/DF (2018/0127612-7), Agravan-
N

te: Giampiero Rosmo, Agravados: Lucas Meireles Lima e outros, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
j. 19.08.2019, Órgão Julgador: 3ª T., Publicação: 22.08.2019. Disponível em: [scon.stj.jus.br/
SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201801276127&dt_publicacao=22/08/2019].
AD

Acesso em: 21.08.2021.


92. GUIMARÃES, Mariana Furtado. Medidas executivas atípicas e parâmetros de aplicabilidade:
diretrizes do STJ. Conjur, 2020. Disponível em: [www.conjur.com.br/2020-dez-11/mariana-gui-
maraes-medidas-executivas-atipicas]. Acesso em: 21.08.2021. Na mesma direção: ALMEIDA,
Eduardo Vieira de; VAUGHN, Gustavo Favero. Medidas executivas atípicas e o entendimento do
O

STJ. Migalhas, 2020. Disponível em: [www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-superiores/318956/


medidas-executivas-atipicas-e-o-entendimento-do-stj]. Acesso em: 21.08.2021.

Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US
204 Revista de Processo 2022 • RePro 327

No mais, é imperioso trazer o entendimento do Superior Tribunal de Justiça sobre


O
os critérios de controle dos meios atípicos, dado a importância jurisprudencial do tema,
buscando sua unicidade e, consequentemente, a efetivação jurisdicional.

5. Considerações finais
EX
Por meio do presente trabalho, buscou-se estampar os principais parâmetros, limites,
diretrizes e critérios para a aplicação das medidas executivas atípicas em obrigações pe-
cuniárias, propostos pela doutrina processualística civilista, destacando-se aqueles crité-
CL
rios com amplo alcance de debate e que direcionam à efetivação jurisdicional.
De início, uma vez adotado o método lógico-dedutivo, procurou-se trabalhar o aspec-
to constitucional dos meios executivos atípicos, filiando-se a corrente que preza por sua
U
constitucionalidade, tendo em vista se tratar de cláusulas gerais executivas, isto é, con-
ceitos indeterminados que ao mesmo tempo não violam direitos fundamentais do deve-
dor, mas tão somente ampliam a possibilidade da efetivação jurisdicional.
SI
Em seguida, o presente trabalho ocupou-se de traçar um breve comparativo a respeito
do tratamento das medidas executivas atípicas no CPC/1973, considerando as reformas
VO
legislativas de 1994 a 2005, lançando o artigo 139, inciso IV, do CPC/2015, como meca-
nismo de ampliação dos poderes do magistrado para efetivar a satisfação creditícia e, con-
sequentemente, jurisdicional, nos moldes do artigo 4º do CPC/2015.
Posteriormente, ao adentrar nos parâmetros, limites, diretrizes e critérios expostos
pelos estudos doutrinário, levantou-se seis critérios daqueles que mais são destacados,
DO

concluindo que a busca da efetivação jurisdicional, quando envolta pela aplicação das
medidas executivas atípicas nas obrigações pecuniárias, deve respeitar: (a) o esgotamen-
to da via típica; (b) o expresso requerimento do credor; (c) a desnecessidade de correla-
ção entre a medida atípica e a satisfação patrimonial; (d) a caracterização das máximas
parciais da proporcionalidade, além dos princípios do contraditório (ainda que diferido)
e da motivação judicial; (e) como também dar atenção especial aos princípios específicos
SE

da execução, tais quais o da menor onerosidade da execução e da patrimonialidade; (f) e,


ainda, sendo possível, utilizar-se nos títulos executivos extrajudiciais.
Da mesma maneira, os critérios apresentados foram analisados pelo Superior Tribu-
nal de Justiça, a qual segue com os mesmos meios de controle (apenas o destaque para a
N

necessidade de demonstrar a ocultação patrimonial do devedor), quando se reserva à in-


cidência do artigo 139, inciso IV, do CPC/2015.
AD

Desta sorte, considerando que o CPC/2015 elasteceu os poderes de efetivação do ma-


gistrado, é necessário ter um cuidado primordial na aplicação das medidas executivas
atípicas, para que não haja o indevido incurso nos limites constitucionais da esfera pro-
tetiva do devedor, mas que, ao mesmo tempo, venham a promover a satisfação do crédito
O

e, por consequência, tenha-se o descongestionamento dos processos executivos perpe-


trados na Justiça brasileira.
Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
Revista de Processo. vol. 327. ano 47. p. 177-209. São Paulo: Ed. RT, maio 2022.
US Tutela Executiva 205

Mais uma vez, incumbe salientar que o presente trabalho realizou um recorte daque-
les critérios que, de certo modo, provocam maiores debates nas correntes processualísti-
O
cas, servindo tão apenas como ponto de partida de orientação ao magistrado, assim como
para evitar que eventuais direitos fundamentais do devedor venham a ser transgredidos.
EX
6. Referências
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Malheiros, 2008.
CL
ALMEIDA, Eduardo Vieira de; VAUGHN, Gustavo Favero. Medidas executivas atípicas e o
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BORGES, Marcus Vinícius Motter. Medidas coercitivas atípicas nas execuções pecuniárias:
parâmetros para a aplicação do art. 139, IV do CPC/2015. São Paulo: Thomson Reuters
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BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdi-
cional executiva. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. v. 3. E-book.
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CÂMARA, Alexandre Freitas. O princípio da patrimonialidade da execução e os meios


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do Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade Paraíso do Ceará, v. 2, n. 1,
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DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil,
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DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA,
Rafael Alexandria de. Curso de Direito Processual Civil: execução. 9. ed. rev. ampl. e
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regra do art. 139, IV, do CPC/2015. Revista de Processo, São Paulo, v. 286, p. 299-324,
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O

FERREIRA, Gabriela Macedo. Poder geral de efetivação: em defesa da constitucionalidade


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Pugliese, William Soares; Oliveira, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
critérios de aplicação nas obrigações pecuniárias.
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FÓRUM PERMANENTE DE PROCESSUALISTAS CIVIS (FPPC). Enunciado 12:
(arts. 139, IV, 523, 536 e 771) A aplicação das medidas atípicas sub-rogatórias e coer-
EX
citivas é cabível em qualquer obrigação no cumprimento de sentença ou execução de
título executivo extrajudicial. Essas medidas, contudo, serão aplicadas de forma sub-
sidiária às medidas tipificadas, com observação do contraditório, ainda que diferido,
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PESQUISAS DO EDITORIAL
U
Áreas do direito: Processual; Civil
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Veja também Doutrinas relacionadas ao tema
• Considerações acerca das medidas executivas atípicas do CPC/2015 e sua incidência na jurispru-
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dência dos tribunais superiores, de Danilo Scramin Alves e Rogerio Mollica – RePro 311/111-132;
• Medidas executivas atípicas no Código de Processo Civil brasileiro, de Arlete Inês Aurelli –
RePro 307/99-121; e
• Medidas executivas atípicas que beneficiam o devedor: um estudo a partir da execução de ali-
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puGLiese, William Soares; oLiVeirA, Vinicius Souza de. Medidas executivas atípicas: análise dos
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