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A EXECUÇÃO DAS DECISÕES DOS TRIBUNAIS DE CONTAS: A

OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA


COMO CONDIÇÃO DE EFICÁCIA PARA OS TÍTULOS
EXECUTIVOS. O PROBLEMA DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS
PROCESSUAIS AOS INTERESSADOS

* Edgard Távora de Sousa


*João de Deus Moreira Calheiros Júnior

Trabalho proposto para apresenração no XX


Congresso dos Tribunais de Contas do Brasil, a ser
realizado em Fortaleza-CE. em novembro de 1999.

ÍNDICE INTRODUÇÃO

Introdução O Tribunal de Contas é o órgão que realiza


o comrole externo da adminjstração pública. auxi-
1. O Processo Administrativo e a Doutrina liando nesse mister. como prega nossa Lei Maior. o
Poder Legislativo)O. No desempenho de suas fun-
2. Princípios Norteadores do Processo Adminis- ções c como resultado de suas deliberações, as Cor-
trativo tes de Contas se pronunciam através de pareceres
prévios, acórdãos e decisões. os quais assumirão a
3. A Importância do Processo Administrativo no natureza de título executivo quando imputarem
Âmbito dos Tribunais de Contas débito ou multa, conforme determinado no artigo
71, § 3° da Constituição Federal. Todavia. a suces-
4. A Eficácia das Decisões dos Tribunais de são de atos necessária para a deliberação final deve
Contas e os Princípios do Devido Processo Le- ser formalizada obedecendo sempre as regras cons-
gal, do Contraditório e Ampla Defesa titucionais exlgjdas para o processo administrativo
derivadas do princípio do devido processo legal,
S. A Comunicação Válida e Oportuna. Condição cujos mandamentos hão de ser obedecidos quando
Necessária para o Exercício do Contraditório e da constinução e tramitação dos processos de
Ampla Defesa prestações de contas dos administradores públicos
protocolizados no âmbito dessas lnstituições
S.J Meios de Comunicação
5.2 Oportunidade da Comunicação Destarte, alguns princípios devem ser res-
5.3 Sujeito da Comunicação peitados. a fim de que seus processos não sejam
contarmnados por vícios de forma e suas decisões.
6. Conclusões conseqüentemente. não se Lomem passíveis de nu-
lidade pelo controle judicial exercido pelo Poder
Bibliografia Judiciário. Dentre eles, tema deste trabalho. en-

" Regisue-~e a exi,tência de polêrruca~ discu.~sõe.., a respeito do renno mLriliar prc~ente no texto con.,utucional Todavta. não faz
pane do escopo deste trabalho a discus,ão sobre o tema.

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contra-se o princípio do contraditório e da ampla Demonstrar-se-á, ainda, como vem sendo
defesa, garantidos explicitamente pela Constituição procedida a comunicação dos atos processuais aos
Federal. em seu artigo 5°, inciso LV. Trata-se. por- admirustradores acusados pelo TCE-PE, bem como
tanto, de direilo fundamental. deftnido pelo Cons- o momento e a forma que se pensam ideais para a
tituinte como cláusula pé1rea. comunicação desses atos à parte interessada no
processo; processo este que instrumentaliza a
A condição primeira que possibilita ao acu- elaboração das dec.isões no âmbito de todos os
sado ou interessado exercer seu direito ao contradi- Tribunais de Contas do Brasil. Por fim, procurar-
tório e a ampla defesa é o conhecimento tempestivo se-á identificar o(s) sujeito(s) das comunicações
das ações ilegais que lhe são imputadas e das provas ora em debate.
que contra ele foram produzidas, permitindo-lhe.
assim. apresentar sua defesa c contraditar os fatos. Advirta-se da dificuldade na elaboração das
pesquisas referentes à regulamentação do processo
O procedimento que oferece a oportunidade administrativo no Colendo Tribunal de Contas de
da defesa e viabiliza a concretização do contraditório Pernambuco, haja vista o ainda incipiente nível de
é, pois, realizado através da comunicação que a Cor- normatização da matéria. A fim de suprir as Jacu-
te de Contas faz ao acusado ou interessado. Essa nas que se apresentaram, foram utilizado os ensi-
comunicação se operacionaliza através de três figu- namentos da doutrina pátri:t processual-adminis-
ras jurídicas: citação, intimação e notificação. trativa e processual- civil, bem como o regrameoto
contido no Código de Processo Civil (CPC). Acres-
A questão da comunicação dos atos proces- cente-se que a situação encontrada no TCE-PE se
suais ganha relevância quando a jurisprudência estende por outras Cortes de Contas. conforme se
assente em nossos Tribunais Judiciais emende que depreende das pesquisas realizadas nos seus regu-
o cerceamento de defesa nos processos adminis- lamentos.
trativos acarreta vício de nulidade dos seus julga-
dos. Sendo assim, é fundamental que o Tribunal de
Conras realize a comunicação dos atos processuais 1. O PROCESSO ADMINISTRATIVO E A
aos acusados ou interessados no momento opor- DOUTRINA
tuno e na forma prescrita em lei, sob pena de pos-
teriorn1ente vir a ter os julgados declarados nulos
na via judicial, prejudicando irremediavelmente a Para a professora Odete MedauarY a pro-
execução de suas decisões. cessualidade está presente em vários âmbitos da
experiência jurídica e apresenta um núcleo de ele-
O presente trabalho procurará explorar esta mentos comuns. quais sejam:
questão, vital para a eficácia das decisões da ex-
celsa Corte de Contas. Inicialmente será visto no a) A processualidade exprime o "vir a ser" de um
que consiste o processo admütistrativo à luz da fenômeno; há um período de dinâmica, em que
doutrina e a sua importância no âmbito dos Trjbu- atuações evoluem.
nais de Contas (TCE).
b) Os vários pontos no tempo significam aros e
A seguir, será demonstrada a vinculação da atuações que se sucedem uns aos outros, num
eficácia das decisões das Cortes de Contas com os encadeamento em que o momento precedente
princípios do devido processo legal. do contra- impulsiona o subseqüente até a meta final. Para
ditório e ampla defesa, retratando-se. novamente, a que o encadeamento se efetue, o Direito prevê
posição da doutrina fixadora da dimensão dos deveres e ônus para quem está legitimado a
pilares e dos contornos desses princípios. atuar no momento posterior. Desse modo, nem

" MEDAUAR, Odete. Direi/o Admiui~tratn•o Modemo.1'cd .. Revi~w dos Tribunah, pp.180 e 181.

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toda sucessão de atos para chegar a um resul- A renomada professora ainda esclarece o
tado final se apresenta como processualidade: significado do processo. "implica, além do vfnculo
esta é tlgma ma h. cspecítica que a soma de atos. enrre atos, vtnculos jurídicos emre os sujeitos.
englobando direitos. de1•eres, poderes, faculdades,
c) O encadeamento sucessivo dos atos ocorre não na relação processual. Processo implico. sobre-
como algo eventual ou meramente lícito, mas wdo, awação dos sujt•itos sob plisma comra-
como algo juridic<u11ente necessário e obriga- dit6rio. "'·
tório.
Para o saudo~o professor Hely Lopes Meí-
d) A figura jurídica do processo é distinta da fi- relles. '·processo é o conjunto de O/OS coordenados
gura do ato. mas ambas guardam correlação para a obtenção de ded:-;cio sobre uma COJ11TO-
como instrumentalidade da primeira em relação vérsia no âmbito judicial 011 administrativo"l'.
ao segundo.
A professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro
e) O cs4uema processual abrange, na sua sene, dá a lição de que ··a e.\pres.wio processo adminis-
todos os atos que. de modo mediato ou ime- lrati\•o, na lin~uagem correme. é utilizada em
diato, ~.ão tcleologicamente vinculados à elabo- sentidos diferentes:
ração do ato final. Embora dotados de vida pró-
pria, O!. atos dn série processual encontram sua l. num primeiro sentido, designa o COJ{ÍW ilO de
razão tle ser na decisão linal. No entanto. esse papéis e doctmlellfos organi:,ados numa pasta e
vínculo teleológico a um resultado unitário não referentes a 11111 dado assunw de interesse do
elimina a relevância dos atos parciais. sobre- funcionário ou da administração;
tudo no tocante à garantia de direitos e ao seu 2. é ainda usado como siniinímo de processo
papel de oferecer condições para urna decisão disciplinar. pelo qual se apuram as infrações
correta. administrativas e se punem os infratores; nesse
sentido é empregado no arrigo 41, -~ r. da
t) O esquema processual compõe-se de atividades Consriwiçiio Federal, quando di:, que o ser-
provindas de muitas pessoas física'>. quer sejam l•idor público estâ1•el só perderá o cargo em
ou não representantes de órgãos da entidade que virtude de fentença judicial transitada em
emite o ato final. Quando determina a atuação julgado 011 mediame processo administrativo
mediante esquema processual. o ordenamento em que lhe çejtl asse~urada ampla defesa;
esrá exigindo a coadjuvação de muitas pessoas 3. em sentido mais cmtplo. designa o conjunto de
ou órgãos. de acordo com pautas preordenadas aros coordenados paro a solução de uma
juridicamente. O ato resultante da cooperação conrrovérsia no âmbito adminisrrativn;
de várias pessoas é imputado ao ente estatal que 4. como nem todo processo administrativo en-
o emite. ·vo/ve commvérsio, wmbém se pode falar em
smtido ainda mais amplo. de modo a abranger
g) Os sujcitol-. que exercem atividades no esquema a série de cuos preptlratórios de uma decisão
proccs1-ual estão interligados por direitos, deve- final da Administraçilo.'''•
re~. ônus. podere!.. faculdades; essa complexa
ligação entre o:. sujeitos compõe-se. então, de Entende Marcelo H arger'~ . que a impor-
posições jurídicas ativas e passivas de cada um tância do processo administrativo sobressai-se
deles. quanto aos seguimes aspectos:

Ob. cu .. r tst
MEtRELLES. Hdy U>J~' l>ut·•to \clmm~<lralim Brasileiro. 20"ed. 1\latheiro~. p. 586.
~ PIETRO. \larí3 Syl\ 13 ZancUa D1. Dm·ito 1\dmim\tratim. IO"cd.• ALfa,. pp. 406 c 407
HARGt.R. Mar.;ehl I lm{Hirltincia do Prtx:elm rl.lmtm~lratn•n.

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a) possibilidade de controle da atividade da admi- 6. Aproximação entre Administração e cidadãos
nistração pelos particulares e pelo Judiciário; -Mediante a colaboração individual ou coletiva
b) permite uma administração mais clarividente; de sujeitos no processo administrativo realiza-se
c) resguarda os administrados contra atitudes arbi- a aproximação entre Administração e cidadãos.
trárias por parte do Poder Público; Rompe-se com a idéia de Administração contra-
d) legitima a atividade administrativa. posta à sociedade. O processo administrativo
I Odete Medauar"' apresenta as seguintes fi -
instrumentaliza as exigências pluralistas do con-
texto sociopolítico do fim do século XX e a de-
nalidades do processo administrativo: manda de democracia na atuação administrativa.

1. Garan tia - na função garantista, o processo 7. Sistematização de atuações administrativas -


administrativo vem finalizando a garantia jurí- O processo instiruido impücn organização ra-
dica dos administrados. pois rutela direitos que o cional da edjção de muitos atos administrativos.
ato administrativo pode afetar. No esquema pro- Sistematizam-se. desse modo. várias aúvidades.
cessual o cidadão não encontra ante si uma Representa meio de simplificar práticas, pois
Administração livre, e sim uma Administração não se pode pedir a cada servidor que invente. a
disciplinada na sua atuação. cada questão que surge, todas as medidas que
devam ser adotadas. Para o administrado, per-
2. Melhor conteúdo das decisões - No processo mite o conhecimento do modo de exercício de
administrativo os interessados são ouvidos, funções administrativas, em contraste com fun-
apresentam argumentos e provas. oferecem in- ções não processualizadas, cujo modo de exer-
formações. Contribuem, para a determinação do cício dificilmente se dá a conhecer.
fato ou da simação objeto do processo.
8. Facilitar o controle da Administração -A co-
3. Legitimação do poder - Os dados do problema laboração dos sujeitos e o conhecimento do mo-
que emergem no processo pemlitem saber se a do de atuaçã<> administrativa, decorrentes do es-
solução é correta ou aceitável e se o poder foi quema processual, facilitam o controle por parte
exercido de acordo com as finalidades para as da sociedade, do Poder Judiciário e de todos os
quais foi atribuído. outros entes que fiscalizam a Administração.

4. Correto desempenho da função - O processo


administraúvo, ensejando o afloramento de 2. PRINCÍPI OS NORTEADORES DO
vários interesses, posições juridicas, argumen- PROCESSO ADMINISTRATIVO
tos, provas. dados técnicos. obriga a conside-
ração dos Lntercsses e direitos co-presentes em
certa situação. Muitas vezes o desempenho in- Os princípios são regras que orientam toda a
correto da função provém do insuficiente co- estruturação do sistema jurídico. Por isso o apli-
nhecime nto ou consideração dos dados da cador jurídico deve sempre lê-los em consideração
questão. para extrair o conteúdo exato de determinado re-
grarneoto legaL
5. Justiça na Administração - O processo admi-
nistrativo direciona-se à realização da j usliça "Existem alguns princípios comuns aos pro-
não só pelo contraditório e ampla defesa vistos cessos administrativo e judicial e que constituem
do ângulo do indivíduo, mas também por pro- objeto de estudo da teoria gemi do processo: wis
piciar o sopesamento dos vários interesses são os princípios d.a publicidade. dt1 ampla defesa,
envolvidos numa situação. do contraditório, do impulso oficial, da obediência

" MEDAUAR. Odete. Direiro Administrativo Moderno. 2'ed., Revista dos Tribunai~. pp. 182- 184.

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à forma e aos procedimemos estabelecidos em lei. sanar nulidades ou para esmsar o cumprimento da
E existem owros princípios que são próprios do lei. Visa a impedir que minúcias e ponnenores não
direito administrativo, como o da oficialidade. o da essenciais afastem a compreensão da ~·erdodeira
gratuidade. o do aripicidade:·•· finalidade da antação. " Jt

Principio da Publicidade - É previsto expres- Princípio d a Gr a tuidade - Pelo fato de a Admi-


samente no an. 37. da Constituiçiio Federal. A nistração compor uma das panes do processo, não
atividade que a Administração exerce é pública. se justifica a mesma onerosidade existente no
Por isso. os processos que eJn desenvolve devem processo judjcial.
ser plenamente acessíveis aos interessados. Esse
direito só pode ser resrri11gido por razões de segu- Princípio da Atipicidade- No direito administra-
rança da sociedade e do EMado ou quando a defesa tivo são mui1o poucas as infraçôei> descritas em lei.
da intimidade ou o interesse !\Ocial o exigirem. a maior parte fica sujeita à di~cricionariedade da
autoridade que vai enquadrar o ilícito que muitas
P rin cípio da Oficialidad e - Assegura a possibi- vezes encontra-se previsto de modo indefinido na
lidade de instauração do processo por iniciativa da legislação esmturária. Por isso. a motivação do ato
Adminis1raçi'ío. como lambém a possibilidade de administrativo pela autoridade julgadora é de vital
impulsionar o processo. adotando as medidas ne- importância para demonstrar o correto enquadra-
cessárias a sua instrução. Esse princípio autoriza a mento da f:tlta e a dosagem adequada da pena.
Adminisrração a requerer diligências, investigar
fatos que toma conhecimemo no curso do processo, Prind pio da Pluralida de d e Instâncias- Decorre
solicitar pareceres, laudos. infonnações. rever os do poder de autotutela que tem a Administração
próprios atos e praticar tudo que for necessário para para rever os próprios atos. quando ilegais, incon-
a consecução do interesse público. venientes ou inoportunos. Por c-;tc princípio. o
administrado que se sentir lesado em razão de deci-
Princípio da Obediência à Forma c aos Procedi- são administrativa, pode interpor recurso hierár-
mentos - Em relação a este costuma-se fal<u- em Prin- quico até chegar à autoridade máxima da organi-
cípio do Informalismo ou do Fonna.lismo Moderado. zação. Também quanto a este princfpio existe dife-
Este não significa ausência de fom1a; "o pmcesso rença de aplicação no processo civil e no processo
administrativo éfomzal no sentido de que deve serre- administrativo: neste último é possível, ao con-
dtddo a escrito e conter dncumemadn tudo aquilo trário daquele: a) alegar em instância superior o
que nwrre 110 seu desem·ol\·imellfo; é infrmual no que não foi argüido de inicio: b) reexaminar a
semitlo de que não está sujeito afimnas 1igidas."" A matéria de fato: c) produzir novas provas. Só não
nece~sidade de m:úor foonalismo existe no~ processos há a polisibilidade de instâncias quando a decisão já
que envolvem interesses dos particulares. como é o partiu da autoridade máxima. hipótese em que
c~o do~ processos de licitação. disciplinar, lributárlo e caberá apenas pedido de reconsideração; se não
o~ realiz~1do. pelo Tribunal de Contas no exercício de alemlido só restará recorrer ao judiciário.
suas competências constitucionnis. "Evidewe que
exigências decorremes do comradit6rio e da ampla Princípio da Economia Processual - Devem ser
defesa. tais como pra:o paro alegaçiie.~. notificação evitados os fonnalismos excessivos que emperram
dM sttjeilos. mori1•ação, 11ão podem ser consideradas a máquina administrativa. Desse princípio decorre
'ftligrrmo.r ou fommlidade~ dispens6veü. como por outro. que é o do aproveitamento dos atos proces-
l't!"'..J!S é invocado ao se pretender ocultar razões suais. que admi1c o saneamento do processo quando
pessoais subjacemes; ponamn. o princípio do liC tratar de nulidade sanável. cuJa inobservância não
fonnalismo moderado niio hó ele ser chamado para prejudique a Administração ou o Adrninisrrado.

PTETRO, MariaS) Iviu 7..anclla Di. f)m•ito Arlministrari\'(). HJ-'cd. Athll>. p.409.
PIE'TRO. l\1art:l SylvJU Zuncllu DI. Direito Ailmim.umtil'(). l!>'ed•.At lns. p, 111
MCDAUAR. Odete. Dm!it<• AtlmilliStrtlln·n Mml<•nm. 2•ed.. Revbtil do~ Tribumu~. p.I9L

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Principio da Ampla Defesa e do Contraclitório- responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos
Será explorado mais adiante. de forma mais apro- da administração direta e indireta. incluídas as
rundada, já que constitui o eixo principal do pre- fundações e sociedade insúruídas e mantidas pelo
sente t.rabalho. Poder Público e as comas daqueles que derem
causa a perda. extravio ou outra irregularidade de
Além de todos os princípios elencados po- que resulte prejuízo ao erário; apreciam para fins
demos cilar também os princípios da lealdade e de registro a legalidade dos atos de admissão de
boa-fé e da verdade real ou material. pessoal: realizam inspeções e auditorias de
natureza contábil. financeira. orçamentária. opera-
O princfpio da lealdade e boa-fé prescreve cional e patrimonial: aplicam aos responsáveis, em
que a Administração deve agir de maneira honesta. caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de
sincera. ficando proibidos os comportamentos astu- contas, as sanções previstas em lei: assinam prazo
ciosos. ardilosos. Dessn forma. pnra que tal prin- para que o órgão ou enlidade adote as providências
dpio não vcnhu a ser violado e. conseqüentemente. necessárias ao exato cumprimento da lei, se
o cont.raditório não sejn cerceado, todos os atos de verificada ilegalidade; sustam, se não atendidos, a
instrução processual devem constar dos autos. execução do ato impugnado; representam ao Poder
competente sobre irregularidade ou abusos apura-
O princfpio dn verdade material ou verdade dos.
real detennina que a Administração deve buscar
sempre a verdade substancial tendo em conta a Para que esse mister surta o efeito pretendido
realização do interesse público. No âmbito do Tri- peJo legislador, as Cortes de Comas, como já visto,
bunal de Contas, em face da existência desse prin- emitem pareceres prévios, concedem regisrros,
cípio. entendo que a defesa oferecida intempesli- proferem decisões e acórdflos. Estes, na verdade, são
vamente, desde que seja feita antes do julgamento atos finais resultantes de todo um processo anterior. O
ou mesmo oralmente na audiência de julgamento, processo é imponante paro que o Tribunal apure a
deve ser considerada. Se for necessário para melhor questão. colha provas e forme seu convencimento.
análist: da defesa intempestiva. o processo pode ser "Nem wdos os aros administraTivo~ são editados de
retirado de pauta ou solicitada vista dos autos. imediato pelos agemes adminisrrari,·os. Em muitos
casos, o ordenamento impõe a precedência de uma
série encadeada de fases. cujo mamemo final é a
3- A IMPORTÂNCIA DOS PROCESSOS edição de um ato administrativo. Assim, alguns aros
ADMINISTRATIVOS NO ÂMBITO DOS são emiJidos como resultado de um processo adminis-
T IUBUNAIS DE CONTAS rrariro."40

A Constituição Cidadã incumbiu o Tribunal 4. A EFICÁCIA DAS DE CISÕES DOS


de Contas de realizar a fiscalização contábil, finan- TRIBUNAIS DE CO NTAS E OS PRINCÍPIOS
ceira. orçamentária, operacional e patrimonial da DO DEVIDO PROCESSO LE GAL, DO
Ac!mjnlstrnção Pública direta c indireta. quanro à CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA
legalidade. legitimidade, economicidade, aplicação
das subvenções e renúncia de receitas.
Em breve sú1tese evolutiva podemos dizer
Sendo assim. os Tribunais de Contas dos que a cláusula do devido processo legal (o con-
Estados apreciam anualmente as comas prestadas ceito. não a expressão) teve suas raízes fincadas na
peJos seu!> governadores mediante parecer prévio; Magna Carta inglesn de 1215 de João Sem Terra. A
julgam as conta!> dos administradores e demais locução que hoje é consagrada. due process of law.

• MEDA UAR. Odo:1c /Jm•tto Admini.urmil•o Modenro. 2'ed..Revl\la tJo, Tribunac.. p. l79.

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somente foi utilizada em lei inglesa de 135-l, depois Para Odete Medauar. "em essência o con-
acolhida pela Constituição dos Estados Unidos traditório significa o faculdade de manifestar o
(1791 ). ao dizer que nenhuma pessoa pode ser pri- pr6pno ponto de visw ou argumentos próprios,
vada da vida. liberdade e propriedade sem o devido tmre fatos, documentos 011 ponw,, de I'Ísta apre-
processo legal. çenrados por omrem.'· 1 Cândido Dinamarco sin-
letiza o contraditório como sendo " infonnm;ão ne-
No momento arual. a expressão significa "o cessária e reação possn•eT',...
conjumo de garamias constitucionais que de 1m1
lado asseguram àç parte:. o exerdcio de suas facul- A professora Odete Medauar" desdobra o
dades e poderes processuais e, de owm. são indis- principio do contraditório em 1rês direitos: a) infor-
pensáveis cw correto exercício da jurüdição".'1 mação geral, h) ouvida dos SUJeitos ou audiência
da!t partes e r) motivação.
A Constiruição de 1988 consagra o prin-
cípio no an. 5°. inc.LlV. /11 verbis: ··ninguém será lnfomwção geral - ~1gniGca o direito, atribuído
privado da liberdade ou de seus bens sem l) devido aos sujeitos e à própria administração. de obter co-
processo legal''. nhecimento adequado dos fatos que estão na base
da formação do processo e de todos os demais
"O prindpio caracreri::.a-sc pela sua excessiva documentos, provas e dados que vieram à luz no
abrangência. As inferências que dele• se podem tirar curso do processo. Daí resultam exigências impos-
são, 110 fundo, ilimiwdas. Algumas delas 1•êm desdo- tas à Administração no tocante à comunicação. aos
bradas no própria Consrituição como direitos alllô- sujeitos. de elementos do processo em todos os
nomos uos parágrafos ~>ubseqiiNHes. São exemplos se\.!5 rnomcmos.
que aparecem 110 mesmo a11. 5°: o direito de petição
aos Poderes Públicos (XXXN;, a não-exclusão da OU\ida dos sujeitos ou a udjência das partes -
apreciação elo Poder Judiciário de /estio ou ameaça con~istiria
na pos<:ibiJidade de rnanifel'tar o próprio
de lesão (XXXV), o jui::. IU/Illraf (XXXVll). Assim ponto de vista -;obre fato:.. documenlo~. interpre-
rambém o cmuradirârw e a ampla defesa, com os tações e argumento~ apresentado' pela Administra-
meios e recursos a ela ineremes, rêm assef?urados em ção e por outros sujeitos. Aí \C incluem o direito
rodos os proctssns. inclusive administrmims, desde paritário de propor provas. o dtreito de vê-las rea-
que neles llajo OC'IL~atfn~ vu liliRmlles (LV}:·~- lizada.s e apreciada.s e o tlireito a um pr.u.o 1.uficiente
para o preparo de observações a serem contrapostas.
É certo que em face tia abrangência do prin- Motivação - a oportunidade de reagir ante a infor-
cípio do devido processo legal, esre compona uma mação não cxbtiriu se não fosse pussíveJ verificar se
série de fomnlinções. No entanto. para efeito do pre- a autoridade administrariva efetivamente tomou co--
sente estudo faz-se necessária que sejam focaclos os nhecimenlo e sopesou as manifestações dos sujeitos.
princípios do contraditório e da ampla defesa.
··o prindpio do commdirórm. que é ine-
A Con~tlluiçãoredeml de 1988. no artigo reme tU> dirl'itn dt> defeso, é demrrenre úa hilare-
5°, previu o princípio do co01raditório e da ampla ralidade do proresso: quando 11ma das partes
defesa mesmo nos processo~ administrativos. In alega algun1rJ misa. luí de ser Olll'ida wmbém a
Verbis: ''LV - um, litigantes, em processo judicial outra, dando-se-l/te nportrmidade de resposta.
ou adminbtrativo e aos acusados em geral são as- O princípio do comradirório supr}e o conhe-
segurados o comraditóno e ampla defesa. com os cimemo dos mos pmcessuais peln acusado e o seu
meios e recursos a ela inert!ntcs." direito de rl•sposw ou de reação. Ele exige: 1) noti-

' CINTRA. GRI 'OVFR F DI\;A:>1ARCO. Antr.m,1 Carlos de Arniijo. Ada Pcll~grini c Cànditlo R. l ct>na Geral do Proce~~.
Matheam\. 13• ed .. 1997. p.l(!.
" GROTI1. DmorJ AdetaJdc: Mu~n• !>evado Proces.c> Lt.-gal cu Prt><."<!dimemo Adnum,lro.~li'O
' MEDAUAR. OdClt:. Dm.:atn AdmnuMrnuw Mudemo. p. lt\7.
" DINAMARCO. Cãndado R. Fundamenta~ do Procc!>.'ll Ci,il Moderno. 2.cd. p.9J
-' MEDAUAR, Odete Dul!ito Adnuni.'>tr.ttiV<> Moderno. pp.l~7 e ISS.

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ficação dos atos processuais à parte interessada; 2) ciário. No âmbito do processo administrativo que
possibilidade de exame das provas constantes do se desenvolve no Tribunal de Contas, o direito ao
processo; 3) direito de assistir à inquirição de teste- contraditório e à ampla defesa também deve ser
rmmhas; e 4) direito de apresemar defesa escrita. ''J6 igualmente respeitado, sob pena de declaração da
nulidade de suas decisões.
"O c:omradit6rio se insere no contexto da
ampla defesa, a ponto de quase com ela confundir- A respeito da revisibilidade das decisões do
se, considerando-se que não há como uma defesa Tribunal de Contas. o Supremo Tribunal Federal.
não ser contraditória.'''' registra firme jurisprudência, no sentido de que o
julgamento das contas de responsáveis por haveres
Em artigo de autoria de Osvaldo Rodrigues públicos é de competêncta exclusiva das Cortes de
de Souza. auditor-substituto de conselheiro do Contas. salvo nulidade por irregularidade formal
Tribunal de Contas do Distrito Federal, apresen- grave (MS no 6.960.1959). ou manifesta ilegalidade
tado em congresso dos tribunais, refere-se ao en- (MS n" 7 .280.1960). Nestes casos o Poder Judi-
tendimento do Procurador da República Gilmar ciário pode rever as decisões da Corte de Contas
Ferreira Mendes acerca do principio do contradi- para declarar sua nulidade.
tório: "/Jaseando-se em doutrina alemã. considera,
em abordagem clara e convincente, que esse pre- Vale a pena mencionar a decisão proferida
ceito contém os seguintes direitos: a) direito de pela jufza de Direito Maria Fernanda de Toledo
infomwçiio. a obrigar o órgão julgador a ter de in- Rodovalho Podval, da 9• Vara da Fazenda Pública
formar à parte contrária dos atos praticados no de São Paulo (Autos n° 1.217/95) na ação declara-
processo e sobre os elementos dele constantes; b) tória ajuizada visando à nulidade da decisão do
direito de manifestação, que assegura ao defen- Tribunal de Contas do Município de São Paulo que.
dente imeressado a possibilidade de manifestar-se ao rejeitar as contas municipais do exercício de
oralmente ou por escrito sobre os elementos fá ricos 1991, relativas à gestão da prefeita Luiza Erundina.
e jurfdicos eristentes 110 processo; c) direito de ver determinou a responsabilidade do ordenador da
seus argumentos co11siderados, que exige do despesa resultante da contratação de serviços de
julgador capacidade. apreensão e imparcialidade pareceres.
(isenção de ã11imo) na comemplação das ra:.ões A sentença julgou nula a decisão do Tribu-
oferecidas.··· nal de Contas que responsabilizou o autor pelas
É através da manifestação da pane interes- despesas com contratação de pareceristas, consi-
::.ada, dos elementos colacionados ao processo. que derando o parecer do Tribunal de Contas formal-
··a defesa ganha um caráter necessariamente mente irregular, por configurar-se violação ao prin-
comraditório. É pela afirmação e negação suces- cípio do contraditório. posto que o acusado não
sivas que a verdade irá exsurgindo nos autos. Nada havia sido cientificado da acusação.
poderá ter l'nlor inquestionável ou irrebatível. A
tudo terá de ser asse~:urado o direito do réu de Diante do exposto, conclui-se que as deci-
contraditar, contradizer. contraproduzír e até sões do Tribunal de Contas só terão sua eficácia
mesmo de contra-agir processualmeme":'" garantida se no processo administrativo que a origi-
nou tiver sido assegurado o direito ao contraditório
O processo administrativo sem oportuni- e a ampla defesa pois se assim não ocorrer o
dade de defesa ou com defesa cerceada é nulo. indivíduo prejudicado pode socorrer-se do Poder
segundo reiteradas manifestações do Poder Judi- Judiciário para declarar a nulidade daquela decisão.

* PlETRO. \1ana S) l\'ta Zanell;t Di Direito Adnúnisr:mti\'o. I O"ed. A tia:.. pAI:!


··GUIMARÃES. Edgar Antomo Chiurano. O Principio Con~útucional do Contrnd116no e da Ampla Dcfc~:1 na' Licitações.
"SOUZA. O"aldo Rodnguc\ de. O Ex~n:ício Constitucional d3 Ampla Defc,a e o Conuadllóno no Trihun:~l de Conta\, An:lli. do
Congresso do~ Tnbuna.J\ do.: Conta~ do Brnsil. 1993. São Luís. p. 253.
" BASTOS. Ccbo Rtbeim Cur:.<> de Direito Constirucional. Sar.th:a. São Paulo. IS' cd .. 1997. p.226.

57
S.A COMUNICAÇÃO VÁLIDA E comunicação dos atos processuais é problemática
OPORTUNA. CONDIÇÃO NECESSÁRIA O problema existe, principalmente. pela precarie-
PARA O EXERCÍCIO DO dade da regulamentação de diversos institutos
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA processuais no âmbito destas Cortes e também pelo
desconhecimento ou má formação no que diz
respeito aos princípios que norteiam o processo
Neste item serão tratados pontos impor- administrativo. bem como relativamente a algumas
tantes ligados à questão da comunicação dos atos regras de hermenêutica jurídica.
processuais. Em primeiro lugar falaremos do meio
pelo qual se deve dar a comunicação. Depois será a Tal fato cnseja dúvidas quer por parte da-
vez de discutir em que oportunidades devem ser queles que fazem a Cone de Contas quer. de outro
feitas as comunicações dos atos processuais nos lado. pelos que são chamados a responder por
diversos processos que tramitam nos Tribunais de alguma irregularidade. As dúvidas em relação a
Contas estaduais. partindo do exemplo do Estado comunicação proce~sual residem principalmente
de Pernambuco. flpós o que será hora de verificar nos aspectos de como c quando fazê-la. Na solução
quem deve receber a comunicação. Por fim. cabe destas dúvidas iremos daqui por diante empreender
tratar do momento em que se considera o interes- nossos esforço!\.
sado notificado ou citado, uma vez que este mo-
mento é importante para a contagem dos prazos de A primeint regra que alguém que pretenda
pronunciamcmo do interessado nos autos. ser aplicador do direito não deve olvidar é que o
direito deve ser visto como um sistema perfeito. De
logo, enrende-se que se uma norma contiver uma
5.1 MEIOS DE COMUNl CAÇÃO lacuna, haverá de cxisür outra norma ou princípio
no sistema que servirá para o julgador subsidiaria-
mente aplicar na solução da questão. O nome desse
Como foi visto. o processo no Tribunal de instiruto que o aplicador jurídico se vale para suprir
Contas não prescinde do respeito aos princípios do a lacuna da lei é integração. Daí porque existe o
devido processo legal, contraditório e ampla de- princípio jurídico da proibição do "nonliquet". Por
fesa. A efetivação do contraditório e da ampla ele o juiz não pode deixar de sentenciar alegando
defesa depende da comunicação dos atos proces- ausência ou obscuridade da lei haja vista que o
suais ao interessado ou acusado. Só assim. to- direito é um sistema perfeito.
mando conhecimento. poderá opor resi tência. No processo adnúnistrativo. caso do TCE,
"O procedimento se desenvolve sob o signo quando a regulamentação não é completa buscam-se
da publicidade e do contraditório. Não há surpresa no processo civil as regras para solução tia questão. No
para as partes nem para terceiros que eventual- ca~o prático a questão não é de liio fácil solução
mente tenllm11 que prestar colaboração à soluçiio po(que, além de procurar as regras no processo civil,
da lide ou que renlwm que suportar conseqiiências há a necessidade de se ve ri ficar se estas são com-
dela. patíveis com os princípios que norteiam o direito
Há. por isso, um sistema de comunicação administrativo c conseqüentemente o processo admi-
dos aros processuais, pelo qual o juízo põe os nistrt~úvo. jó que este é visto como um capítulo da-
imeressc1dos a par de tudo o que ocorre no proces- quele. não possuindo o grau de autonomia de outros
so e os conl'oca a praticar. nos prazos devidos, os direitos processuais como o civil. penal e até mesmo o
atos que lhes compete.'' ~' trabalhista

No Tribunal de Contas de Pernambuco e, ao Os ato:- de comunicação processual, de


que parece. em todos ou quase todos os Tribunais acordo com o Código de 1939. classificavam-se em
de Contas estaduab ou municipais. a questão da citações. notificações e intimações. O Código de

" THEODORO JÚNIOR. Humbcno. Curso de Direito Processual Civil. \OI.I . 19" cd..forcnsc. p 249.

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Processo Civil vigente acabou com a distinção bém pelo TCE. No caso de Pernambuco. assim já
entre notificação e intimação. Hoje. no proce- se procede. No entanto, entendemos que é possível
dimento ordinário só existe a citação e a intimação. outra forma de comunicação, antes de se recorrer à
publicação de edital.
De acordo com o Código de Processo Civil
a citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu Estamos falando agora da possibilidade de
ou o interessado. a fim de se defender. Já a inti- designação de servidor do Tribunal de Contas para
mação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos dar diretamente ciência ao responsável ou interes-
atos e termos do processo, para que se faça ou sado. Embora a Lei Orgânica e o Regimento Inter-
deixe de fazer a lguma coisa. no não prevejam tal hipótese. vislumbramos.
mesmo na ausência de disposição expressa sobre o
A Lei Orgânica do Tribunal de Contas do assunto, que é possível a realização da comuni-
Estado de Pernambuco não prevê a figura da cação pelo servidor, desde que determinada pelo
intimação mas sim a notificação. A questão é Plenário, qualquer das Câmaras ou pelo Relator.
tãosomente do "nomen juris", a natureza jurídica
dos dois institutos é a mesma. No que pertinc à O Regimento Interno do Tribunal de Contas
forma de comunicação da citação e da notificação da União já previu tal hipótese em seu art. 164, inc.
não há nenhuma distinção no âmbito do TCE-PE. 1, o q11al dispõe que a citação e a notificação serão
Logo, o que for dito para uma serve para outra e feitas mediante ciência do responsável ou do
vice-versa. interessado, efetivada por intermédio de servidor
designado. quando assim determinar o Plenário.
A respeito das comunicações dos atos qualquer das Câmaras ou o Relator.
processuais o art. 28 da Lei Orgânica do TCE-PE,
no seu inciso 1, dispõe tão-somente que os prazos Ora, o que impediria o servidor de assim
contam-se da data do recebimento da comunicação proceder? Nada. Estaria ele cumprindo uma deter-
pelo responsável ou interessado. Não há previsão minação do Tribunal. exercitando o seu dever, as-
de como será feita essa comunicação. se através de sim como o faz quando científica algum agente
servidor ou pelo correio com aviso de recepção. Só público dos documentos que deve apresentar para
no inciso TI deste mesmo dispositivo é que há que possa ser realizada a auditoria.
previsão do uso do Diário OliciaJ do Estado nos
casos em que o interessado não for localizado. No caso tlu citação e também da notificação.
Apesar de a Lei Orgânica não mencionar como o sentido teleológico da lei. o fim a que ela se
deve ser feita a comunicação, na prática ela é feita presta. é que o acusado tome ciência dos atos
pelo correio mediante aviso de recepção. Aliás, processuais. O próprio comparecimento espontâ-
essa é a regra utilizada pelo nosso Código de Pro- neo do réu supre a falta de citação. Logo. não há
cesso Civil. nenhum óbice quanto à possibilidade de designa-
ção de servidor para realizar a comunicação dos
A Lei n° 8.710/93 alterou a regra básica de atos processuais.
citação até então presente no processo civil
brasileiro. Anteriormente utilizava-se a citação por O único problema com relação ti designação
oficial de justiça (mandado); após a mudança. a de servidor é o custo com deslocamento e diárias
regra é a citação pelo correio (CPC 222.). A exce- que toma esse tipo de citação muito mais onerosa.
ção reside nas hipóteses previstas nos incisos do Sendo assim. só deve ser admitida em casos ex-
CP C 222. bem como quando a citação postal restar cepcionais sob pena de violação do princípio da
frustrada. economicidade e da economia processual.

Entendemos, com base no uso subsidiário O artigo 28, inc.ll, da Lei Orgânica do TCE-
do CPC, haja vista a lacuna na lei, que a regra da PE prevê a citação ou notificação por edital quando
comunicação pelos correios deve ser seguida tam- o responsável ou interessado não for localizado.

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Não nos parece. todavia, que a norma retro diga identifique o receptor ou sem que este corresponda
respeito a qualquer hipótese em que o interessado ao acusado ou interessado e se o réu não compa-
não seja localizado. A norma é por certo imprecisa. recer ao processo, a Cone de Contas deverá tomar
a precaução de designar servidor para realizar a
Valendo-nos subsidiariamente do art. 231, comunicação antes de efetivá-la por edital. Se
roc.ll, do Código de Processo Civil. podemos con- assim não agir corre o risco futuro de o acusado
cluir que o réu só deve ser citado por edital quando alegar cerceamento de defesa. já que possuía
não for localizado por ser ignorado, incerto ou uomicnio certo e de fácil acesso.
inacessível o lugar em que se encontrar.
No caso de endereço incorreto o TCE deve
Alguns problemas pcrsi~ún1o: I - quando o procurar se informar melhor. Se descobrir o en-
AR(aviso de recepção) for as)inado sem que se dereço correto deve expedir nova citação. Caso
consiga identificar o receptor ou quando este não contrário. só resta o recurso da publicação de
corresponder ao acusado ou interessado; 2 - o edital.
endereço estava incorreto; 3 - o AR não foi jwnado ao
processo: e 4 - o acusado recusou-se a assinar o AR. Quando o AR for extraviado. nova citação
deve ser realizada se o réu não comparecer espon-
Em todos os casos, o simples compa- taneamente aos autos. O motivo é simples: pode ter
recimento espontâneo do réu já supre a citação havido extravio da citação. Por fim, bá o caso em
(CPC, art. 214. § l"). seja para apresentar a sua que o acusado pode se recusar a assinar o AR.
defesa ou para pedir prorrogação do prazo para o Nesta hipótese. deve ser designado servidor para
fazer. No Tribunal de Contas do Estado de PE. à cientificá-lo. Se este não obtiver êxito pela mesma
guisa de exemplo, são comuns os deferimentos de raL.ão antenor. deverá certificar o fato e a citação
sucessivos pedidos de prorrogação. Entendem então será feita através da publicação de edital.
alguns Conselheiros relatores de agir assim preo-
cupados com a possibilidade de futura alegação de Em relação às formalidade~ que a publi-
cerceamento de defesa. cação por edital deve possuir não há nenhuma
P ennissa vênia, não se deve entender assim. previsão legal sobre as mesmas. As forma lidades
O pedido de prorrogação de prazo para defesa já previstas no CPC. nesse ca~o. não são cabíveis
caracteriza que o réu tomou conhecimenro dos fa- subsidiariamente. Enxerga-se. assim. espaço para o
tos que lhe são imputados e que, portanto. en- predomínio do princípio do informalismo que.
contra-se suprida a citação. Os prazos para apre- nesse caso. deve prevalecer, posto que rarnbém
sentação da defesa são estabelecidos em lei. a norteia a formalização de processos no âmbito da
prorrogação destes só deve se dar quando devida- administração pública. Tal p rincíp io não significa
mente motivada e comprovados os argumentos. a ausência de fonnas e sim a existência de
Não se procedendo assim. restará violado o prin- formas ma is bra ndas. No entanto. seria razoável -
cípio da celeridade processual e prejudicado o e responderia ao princípio da publicidade - caso o
interesse público que pretende uma Cone de Con- TCE afixasse em sua sede cópia dos editais de
tas ágil, no sentido de proporcionttr respostas citação ou notificação.
rápidas à sociedade.

Em relação à prorrogação de prazo. há que 5.2 OPORTUNIDADE D A COMUNICAÇÃO


se deferir o pedido quando o AR não tiver sido
entregue diretamente ao acusado ou interessado.
pois nesse caso a pessoa que recebeu pode ter Talvct a mais delicada fase do processo
passado alguns dias ames de entregar a citação ao rtdminbtrntivo. em face dos aos praL.Os constilucio-
acusado. nai::. imposlOl> aos Tribunais de Contas relativamen-
te ao julgamento das contas sob sua apreciação.
Quando o AR for assinauo sem que se Mais ainda, os custos envolvidos aumentam de

60
forma diretamente proporcional ao tempo Se houver pedido nesse sentido, essa opommi-
despendido na finalização do processo. Essa ::.ação se tomo obrigat6rio. em face do enfocado
preocupação decorre do dever imposto às Cortes de dispositivo do magno texto. "" .(grifos no original)
Contas. enquanto órgãos da administmção pública.
de obediência aos princípios da economicidade e Mormente importante falar-se das fases
da economia processual. internas do processo, quando são apreciadas as
defesas prévias. No Tribu nal de Contas de Pernam-
Todavia, a observâncin <tos principias supra- buco. durante um determinado período. as apre-
referidos não pode macuJar o princípio do contra- ciações das defesas dos acusados - realizadas ainda
ditório e ampla defesa. posto que, como já vimos, como instrução processual - não constavam dos
colocar-se-ia em risco a eficácia do decisum. que autos do processo. Isto porque não se queria dilatar
poderia vir a ser derrubado pelo Judiciário em os pmzos de tramitação dos mesmos, no sentido de
ações movidas pelos envolvidos em falc:ltruas se rc1.pcitar os princípios da economia e da cele-
comprovadas. por um insanável vício de forma: o ridade processuais, uma vez que, JUntada aos autos
cerceamemo de defesa. a apreciação, emeodia-se que se estaria obrigado a
nova comunicação.
A dlficoldatle reside. então, em identificar o
momento oportwto da comunicação. encontrando o Todavia. verificou-se que. em assim pro-
ponto de equilíbrio onde os princípios citados for- cedendo. arriscar-se-ia o Tribunal a ferir de morte o
mariam entre si uma equação perfeita. Nesse sen- princípio da lealdade e boa-fé. Diante da possibi-
tido, diz Osvaldo Rodriguc~ de Souza: "o garamio lidade. evoluiu-se. As peças apreciativas, quando
de ampla defesa e o conrraditório pn!l•istos no solicitadas pelo Relator. são agora juntadas aos
inciso LV do art. 5" da Constituição Federal obrigo autos dos processos, rest.ando obrigatória nova
o Tribunal de Comas (... ) a respeitá-los. ele modo comunicação tão-somente quando do surgimento
adequado. em grande pane de stws atividades de fato novo e estranho aos autos originais contra
instiwcionais. em especial 110 julgamemo de os quais o interessado não se tenha ainda manifes-
tomadas e prestações de contos. quando da decisâo tado, respeitando-se, então, todos o. princípios até
re.wltar impilfaçào de débito mt (cumulmivame11te aqui debatidos.
ou não) a aplicação de ,\'OIIÇão pecuniária ou de
qualquer muro tipo. (, .. ) Noutros eventos proce-
dimentais. (... ) de cujo decisum decorrer o im- 5.3. SUJEITO DA COMUNI CAÇÃO
posição dt> penalidade. por igual está a Cone de
Contas obrigada a ob.sen·ar adequadameme o
princípio do contraditónn. assegurado pela Carta Outra grande questão que envolve o pro-
Magna Federal" Acrescenta "Nas atividades em blema da eticácia da decisão dos Tribunais de
que o Colegiado de Comas exerce mero controle de Contas decorrente da problemática da comunicação
legalidade de atos de gestão administrmiva, espe- é quem deve ser comunicado sobre as ilega-
cificamente os de admis.süo de pessonl e o~~ de lidades apuradas p elos auditores. Observa-se,
concessão de aposemadorit1s. reformas e pensões, por demais, uma tendência em simpllflcar os pro-
em relação aos quais mlo cabe falar em desem- cedimentos, comunlcanuo-se apenas o ordenador
penho de função jurisdicional. pelo que as ponas de despesa identificado.
do Jlldiciário estarão aberws sem qualquer res-
trição àqueles que se selllil't!m prejudicados em Ora, é sabido que a admini~tração, por mais
seus imeresses, é de todo recomendável o exercício centralizada que seja. encontra-se estruturada hie-
do direito ele defesa, pelos imeressados, sempre rarquicamente. lsto quer dizer que existem cargos
que da decisão possa ad1•ir restrição a benefício com sua~ respectivas atribuições. É o caso, por
que fites tenl10 sido deferido pela Adminislrat;ãn. exemplo, das comissões de licitações, os tesou-

" SOUZA, O~w~ldo Rodrlgue$ d~. O Bx•·n:ício Consútucional tln Arnplu D.:fcsa c o C'onrr.1ditório m> Tribunal do Contas. Allllis Ú!>
Congresso dos Tribuntli.; de Cuntrts do Btu5il, 1993. S5o LUJ~. pp. 263-26~.

61
reiros. os contadores, etc. Esses profissionais pos- preensão de tais peculiaridades. O processo admi-
suem responsabilidade sobre suas funções. Por- nistrativo, diferentemente do penal e civil, que há
tanto, devem também ser convocados aos autos a tanto tempo vêm sendo estudados, não possui ainda
fim de esclarecerem irregularidades apontadas con- uma doutrina capaz de determinar sua c.odificação.
tra atos advindos de suas re!>pectivas áreas Dessa forma, justifica-se a diversidade de proce-
dimentos adotados pelos órgãos que dele se
Fala-se aqui. como não poderiü deixar de utilizam, mormente os T1ibunais aqui em questão.
ser. de responsàhilidade ju rídica. A questão da
comunicação se apresenta posterionnente ao pro- Ressaltou-se o respeito que as Corres de
blema da responsabilização, constituindo-se fun- Contas devem Ler relativamente à correta fomlali-
damentnllmportância para a definição de quem se zação de seus processos administrativos. em face
deve com unicar. Como se sabe, é assunto largo. de um dos direitos fundamentais insculpidos na
extenso, que extrapola os limites do Direito Admi- Carta Magna, qual seja. o princípio do contraditó-
nistrativo. avançando sobre o campo do Direito rio e da ampla defesa. apresentando ainda proposta
Civil e Penal. Estas, pois. as três instâncias da para uma comunicação eficaz dos atos decorrentes
responsabilização jurídica. Muito embora a compe- de sua HÇão fiscalizadora.
tência deliberativa dos Tribunais esteja adstrita ao
ãmbito adminü;trativo. os ilícitos cometidos pelos Outros princípios, constitucionais ou infra-
administradores numa determinada i11stância po- constitucionais. obviamente. deverão ser observa-
dem detem1imu ilicitos também em outras ins- dos para que o processo administrarivo dos Tribu-
tâncias. Este fato exige de seus auditores e julga- nais de Contas possam oferecer garantia de eficácia
dores a identificação precisa dos responsáveis em às suas decisões. Vários aspectos relativos à
todas elas. a fim de viabilizar uma comunicação questão da execução das decisões dos Tribunais
efetiva de suas deliberações como também pennitir podem e devem ser examinados, como é o caso da
a atuação integrada com os demais órgãos de competência dos Ministérios Públicos Especiais, os
controle. evitamlo, por úJlimo, futuras alegações de quais poderiam desempenhar papel fundamental no
cerceamento de defesa por pane daqueles que por acompanhamento das execuçõe.~ desses rítu los,
ventura deixem de ser chamados aos autos. hoje levado"' cabo pelas procuradorias estaduais e
municipais.
Depreende-se do antedormente exposto, Outra possibilidade - ou medida -que, acre-
que se está, mais uma vez, frente a frente com o dita-se. poderia vir a ser imp011ante na batalha pel.a
tema da eficácia das decisões das Cortes de Contas. eficácia das decisões aqui tão debatidas, seria. a evoJu-
Desta feita. pelo fato de constituir-se relevante ção das auditorias. Hoje predominantemente a poste-
necessidade a correta e perfeita responl'abilização riori, poderiam passar para uma auditoria concomi-
dos envolvidos nos ilícitos detectados pela sua ação rame, onde se objetivariam. além do acompanhamento
fiscalizatória. Isto posto, defende-se aqui que a da execução orçament{uia e fmancei.rn das entidades, o
comunicação não se deve restringir ao ordenador acompanhamento das decisões que imputaram débitos
de despesas, ma!; a todos que. direta ou indire- aos seus respectivos ·gestores.
tamente. derem causa ao ilícito comprovado. Eotret3llto. a opÇão aqui adotada foi de
enfocar um aspecto que se acredit~l anterior ao
problema da execução propriamente dita das deci-
7 - CONCLUSÕES sões. Se os princípios básicos defendidos pela dou-
trina como vitais para a observância de princípios
fundamentais não forem atendidos. é muito certo
É grande a dificuldade que se encontra que rodo o esforço e custo despendidos em meses
quando se busca estudar o processo administrativo de exausLivo trabalbo não iTão produzir os resul-
no âmbito dos Tribunais de Contas. A própria tados esperados pela sociedade que. em última e
natureza peculiar deste tipo de processo. em si principal instância. é o usuário financiador dos ser-
mesm11. revela-se importante barreira pan1 a com- viços prestados peJos Tribunais de Contas.

62
Escolheu-se, como objeto de estudo, a co- DINAMARCO, Cândido R .. Fundamentos do
municação aos acusados ou interessados nos Processo Civil Moderno. 2".ed ..
processos admi.nistrativos dos Tribunais de Contas, GROITI, Dinorá Adelaide Musetti. Devido Pro-
imposta pelo principio do contraditório e ampla cesso Legal e o Procedimen(o Administrativo.
defesa. Isto porque se verifica a grande dificuldade Boletim de Direito Administrativo. Janeiro/99.
enfrentada pelas Cortes de Contas no sentido de GUIMARÃES, Edgar Antonio Chiuvatto. O
darem conhecimento aos acusados, dos atos pre- Princfpio Constitucional do Contraditório e da
sentes nos processos por elas formalizados, seja Ampla Defesa nas Licitações. Boletim de Di-
por carência normativa ou mesmo financeira. reito Administrativo. Junho/98.
Por fim e como principal objetivo, procu- HARGER, Marcelo. A Importância do Processo
rou-se apresentar um modelo de comunicação Administrativo. Boletim de Direito Admi.nis-
(citação, intimação ou notificação) válido e opor- Lrativo. Maio/99
tuno que, acredita-se, venha a contribuir para mini- MEDAUAR. Odete. Direito Administrativo Mo-
mizar um problema real e comum enfrentado pelas demo. Revista dos Tribunais. 2•ed..
Cortes de Contas de todo o Brasil que é a eficácia MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo
na execução de suas decisões. Brasileiro. Malheiros. 20"ed..
A proposta aqui apresentada constituiu-se PIETRO, Maria Sylvia ZaneUa Di. Direito Admi-
na desjgnação de servidor quando não surtir efeito nistrativo. Atlas. lO''ed ..
a comunicação pelos Co.rreios e que deve ser pro- SOUZA, Osvaldo Rodrigues de. O Exercício Cons-
cedida sempre que fato novo modifique instrução titucional da Ampla Defesa e o Contraditório
já presente nos autos originais. Por fim, há de ser no Tribunal de Comas, Anais do Congresso dos
apurada a responsabilizaçâo de todos aqueles que- Tribunais de Contas do Brasil. 1993, São Luís.
ordenadores de despesas ou não - tenham con- THEODORO JÚNIOR. Humberto. Curso de Di-
tribuído p;i.ra a ilicitude comprovada. reito Processual Civil. Ed.Forense.l9"ed ..

BIDLIOGRAFIA
* Edgar Távora
- Bacharel em Administração e Auditor dns
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Contas Públicas do TCE/PE.
Constitucional. Ed. Saraiva. São Paulo, ts• ed..
CINTRA, GRlNOVER E DINAMARCO, Antônio
Carlos de Araújo, Ada Pellegrini e Cândido * João de Deus Moreira Calheiros,
R .. Teoria Geral do Processo. Ed. Malheiros. Bacharel em Direito e Administração e Auditor
13• ed .. das Contas Públicas do TCEIPE,.

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