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PARTE 1

ARTIGOS
A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

A ordem dos processos nos Tribunais


diante da sistemática do CPC/2015
Vinicius Silva Lemos
Advogado em Rondônia
Dout or em Processo Civil pela UNICAP
M est re em Sociologia e Direit o pela UFF
Especialist a em Processo Civil pela FARO
Prof essor de Processo Civil da FARO e na UNIRON
Pós-dout orando em Processo Civil pela UERJ
President e do Inst it ut o de Direit o Processual
de Rondônia – IDPR
M embro da Associação Nort e-Nordest e de Prof essores
de Processo – ANNEP
M embro do Inst it ut o Brasileiro de
Direit o Processual – IBDP
M embro do Cent ro de Est udos Avançados
em Processo – CEAPRO
M embro da Academia Brasileira de
Direit o Processual Civil – ABDPC
M embro da Associação Brasileira de
Direit o Processual – ABDPRO

RESUM O
Est e t rabalho analisa a const rução do procediment o
do processo nos Tribunais, com a análise do rit o propost o
pelos art s. 929 at é 946 do Código de Processo Civil, com o
det alhament o das diversas inovações, t ais como: a nova
d eci são m o n o cr át i ca; a si st em at i zação d o p r i n cíp i o à
primazia ao mérit o; a const rução colegiada da vot ação; a
manif est ação de of ício; a t écnica de julgament o não unâ-
nime, dent re out ros pont os e inovações t razidas pelo novo
ordenament o processual.

Palavras-chave: Processos nos Tribunais. Procediment o.


Colegialidade. Ordem.

ABSTRACT
This paper examines t he const ruct ion of t he procedure
of t he process in t he Court s, w it h t he analysis of t he proposed
rit e by Art icles 929 t o 946 of t he Code of Civil Procedure,

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 15


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

w it h t he det ailing of t he various innovat ions, such as: t he


new singular decision; t he syst emat izat ion of t he principle
of t he primacy t o merit ; t he const ruct ion collegially t he vot e;
t he manif est at ion of of f ice; t he t echnique of judgment not
unanimous; among ot her point s and innovat ions brought
by t he new rules of procedure.

Keyw o r d s: Pr o ceed i n g s i n t h e Co u r t s. Pr o ced u r e.


Collegialit y. Order.

Int rodução
Os Tr i b u n ai s t êm u m a p r o ced i m en t al i d ad e d i ver sa d a
t ramit ação dos processos em primeiro grau, com diret rizes pró-
prias, compet ências específ icas e at os processuais próprias. Dian-
t e disso, há uma const rução da ordem dos processos nos Tribu-
nais pelo próprio ordenament o processual.
No CPC/2015, o legislador organizou a sist emát ica procedi-
ment al no âmbit o dos Tribunais de uma maneira mais prát ica,
t razendo-a para moment o ant erior ao capít ulo dos recursos, t ant o
a t eoria geral quant o as suas espécies, deixando a visão do pro-
cesso nos Tribunais de modo sequencial, pormenorizando, de
f orma clara, o f uncionament o dos Tribunais, para, soment e após,
explicar o f uncionament o de cada recurso.
Desse modo, há uma part e do ordenament o processual –
art s. 929 at é 946 do CPC – que cuida da procediment alidade dos
processos nos Tribunais, com delineament o de diret rizes para a
const rução de um t râmit e geral nesse âmbit o de compet ência
jurisdicional.
Diant e disso, est e est udo t em o objet o de delinear o t râmit e
procediment al nos Tribunais, com o det alhament o do t râmit e
que cada recurso, remessa necessária ou ação de compet ência
originária percorre no t ranscorrer processual nesse grau de juris-
dição, dada a exist ência de diversas inovações e adapt abilida-
des para um novo ordenament o processual.
O int uit o é o devido ent endiment o da t ramit ação procedi-
ment al no âmbit o dos Tribunais, a const rução da colegialidade,
a vot ação de cada membro, as peculiaridades dest a jurisdição,
em regra, revisional, com o ent endiment o dif erencial sobre o
procediment o em primeira inst ância.

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A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

1 Dos processos nos Tribunais e a t ram it ação procedim ent al


A legislação sobre a ordem do processo nos Tribunais de-
monst ra um sist ema de organização procediment al no âmbit o
dos Tribunais, t raçando uma linha sequencial de at os durant e a
est adia daquela demanda naquele grau de jurisdição, com a
disposição nos art s. 929 at é 946 do CPC.
As normas ali exist ent es guardam as devidas especif icações
procediment ais1, permeando as disposições sobre o julgament o
r ecu r sal em seu s d et al h es, d esd e o r eceb i m en t o d a p eça
impugnat iva, com a remessa aos Tribunais para o devido juízo,
seja via compet ência recursal ou originária, bem como desdo-
brament os incident ais possíveis nesse âmbit o. Não serão somen-
t e esses art igos que t erão a disposição sobre a ordem dos proces-
sos nos Tribunais, uma vez que as disposições present es no CPC/
2015 não são exaurient es, procediment alment e.
Desse modo, os próprios Tribunais deverão, mediant e seus
próprios regiment os, const ruir junt o à norma processual, uma
regulament ação mais complet a, at inent e à sua própria realida-
de e composição. A Const it uição Federal já def ine essa compe-
t ência dos Tribunais no art . 96, I, mediant e a necessidade de
elaborarem seus próprios regiment os, coadunando com os dit a-
mes const it ucionais e do próprio ordenament o processual.
Se essa part e do CPC/2015 regulament a os t râmit es gerais
nos Tribunais, cada qual, pelos seus regiment os, criará as com-
pet ências específ icas, mediant e as suas próprias caract eríst icas e,
adapt ando as quest ões de prot ocolo, recebiment os e dist ribui-
ção para a própria realidade local 2.

1
Há uma dif erença ent re processo e procediment o e esse capít ulo é mais
at inent e a procediment o. Sobre a conceit uação de procediment o: “ O pro-
cediment o é ent endido como uma sucessão de at os int erligados de ma-
neira lógica e consequencial visando a obt enção de um objet ivo f inal.
Cost uma-se dizer que o procediment o é a ext eriorização do processo, seu
aspect o visível, considerando-se que a noção de processo é t eleológica,
volt ada para a f inalidade de exercício da f unção jurisdicional no caso
concret o, enquant o a noção de procediment o é f ormal, signif icando essa
su cessão d e at o s co m u m o b j et i vo f i n al .” NEVES, Dan i el A m o r i m
Assumpção. M anual de direit o processual civil. Volume único. Salva-
dor: JusPodivm, 2016, p. 196.
2
“ Em out ras palavras, a compet ência f uncional e mat erial dos órgãos in-
t ernos dos t ribunais deve ser def inida em seus regiment os int ernos. A
compet ência mat erial e f uncional do t ribunal é est abelecida pela legisla-
ção (em sent ido amplo); o regiment o int erno dist ribui essa compet ência
do t ribunal int ernament e. O regiment o int erno dos t ribunais é norma

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Ou seja, a ordem dos processos nos Tribunais deve ser enca-


rada por t ais art igos e as regras exist ent es naquele próprio Tri-
bunal, as quais devem ser congruent es com o CPC/2015, em uma
visão de complement aridade.

1.1 A che ga da do proce sso no Tribuna l: prot ocolo, re gist ro e


dist ribuição
O processo, ao chegar ao Tribunal, deve ser regist rado no
prot ocolo, com a sua devida dist ribuição imediat a3, const ando
no regist ro do dia, de acordo com o art . 929, independent e-
ment e de ser recurso ou processo originário com pet ição inicial.
O int uit o do prot ocolo e regist ro é a verif icação do início – em
compet ência originária – ou da t ransf erência – em recursos – da
compet ência àquele Tribunal, a part ir daquele moment o. Reali-
zado o at o do prot ocolo e regist ro, será f eit a a dist ribuição do
processo a um dos órgãos f racionários especializados, de acordo
com as regras const ant es no regiment o int erno daquele Tribu-
nal, seguindo o dispost o no art . 930.
O at o de dist ribuição pode ser realizado de duas maneiras:
por sort eio ou por prevenção 4.

geral, que dispõe sobre o f uncionament o e a compet ência de seus órgãos


int ernos, t rat ando, ademais, de regras relat ivas a regist ro, dist ribuição,
prevenção, conexão e out ras t ambém relacionadas ao f uncionament o e
à compet ência do t ribunal.” CUNHA, Leonardo José Carneiro da; DIDIER
JR., Fredie. Curso de direit o processual civil. M eios de im pugnação
às decisões judiciais e processo nos t ribunais. 13. ed. Salvador:
JusPodivm, 2016, p. 34.
3
“ A dist ribuição é a escolha, dent re t odos os magist rados compet ent es,
daquele que vai ser o relat or do recurso” . BUENO, Cassio Scarpinella.
Curso sist em at izado de direit o processual civil, 5: recursos, pro-
cessos e incident es nos t ribunais, sucedâneos recursais: t écnicas
de cont role das decisões judiciais. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 99.
4
Sobre prevenção recursal em ent endiment o do STJ já no CPC/2015, sobre
a necessidade de conf iguração dos element os da prevenção, como a co-
nexão para que o recurso seja dist ribuído desse modo: PROCESSUAL CI-
VIL. ADM INISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CÓDI-
GO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. AUSÊNCIA DE CONE-
XÃO ENTRE AS AÇÕES DE DESAPROPRIAÇÃO E DE USUCAPIÃO. OBJETOS
DIVERSOS. REVISÃO. IM POSSIBILIDADE. SÚM ULA N. 7/STJ. INCIDÊNCIA.
ARGUM ENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACA-
DA. I - Consoant e o decidido pelo Plenário dest a Cort e na sessão realiza-
da em 09.03.2016, o regime recursal será det erminado pela dat a da pu-
blicação do proviment o jurisdicional impugnado. Assim sendo, in casu,
aplica-se o Código de Processo Civil de 2015. II - In casu, rever o ent endi-

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A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

O primeiro at ende a crit érios objet ivos, com sort eio para a
esco l h a d o ó r g ão e d o r el at o r, co n t em p l an d o t am b ém a
alt ernat ividade5, não possibilit ando nenhum órgão ou relat or
f icar com excesso de demandas dist ribuídas, t ant o quant o ao
inverso, sort eando de modo a equacionar a divisão ent re os di-
f erent es órgãos. A out ra maneira de dist ribuição é a prevenção,
conf orme o art . 930, parágraf o único, que ocorre quando o re-
curso a ser dist ribuído é oriundo de um processo sobre o qual já
t eve recurso ant erior prot ocolado naquele Tribunal, ou ent ão
em processo conexo 6, t ornando necessária a dist ribuição dirigida
para o ant igo relat or do recurso ant erior 7.
Esse parágraf o único do art . 930 inst it ui a visão de que a
prevenção será pelo prot ocolo de recurso ant erior, independen-
t ement e, do julgament o do recurso, o que muda a sua própria
co n cep ção . Se u m a ação t eve u m ag r avo d e i n st r u m en t o
prot ocolado, nem há necessidade de julgament o dest e para a
prevenção, bast a o simples prot ocolo, se houver, post eriormen-

ment o do Tribunal de origem, que consignou est arem ausent es os ele-


ment os conf iguradores da conexão ent re ações, demandaria necessário
revolviment o de mat éria f át ica, o que é inviável em sede de recurso
especial, à luz do óbice cont ido na Súmula n. 7/STJ. III - O Agravant e não
apresent a, no agravo, argument os suf icient es para desconst it uir a deci-
são recorrida. IV - Agravo Int erno improvido (AgInt no REsp. 1.496.382/
PE, Rel. M in. REGINA HELENA COSTA, DJe 21.02.2017).
5
“ A alt ernat ividade da dist ribuição assegura a isonomia, devendo-se a ela
dar publicidade (cf . art . 930, caput ; v. t ambém coment ário ao art . 285 do
CPC/2015). De acordo com o art . 930 do CPC/2015, a dist ribuição se reali-
zará por sort eio elet rônico. As regras regiment ais devem considerar es-
ses princípios. Não observadas as disposições regiment ais ref erent es à
dist ribuição, considera-se violado, t ambém, o art . 930 do CPC/2015: “ Da
leit ura do art . 548 do CPC [de 1973, correspondent e ao art . 930 do CPC/
2015] abst rai-se que a dist ribuição dos processos deve at ender f ielment e
ao preceit uado nas normas regiment ais dos t ribunais. Logo, qualquer
desrespeit o a essas normas conf igura-se violação a esse disposit ivo le-
g al ” (STJ, REsp 598.111/A M , Rel . M i n i st r o Jo sé Del g ad o , 1.ª T., j .
06.05.2004).” M EDINA, José M iguel Garcia. Novo código de processo
civil com ent ado. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2015, p. 828.
6
Sobre os processos conexos segue-se a mesma lógica da modif icação de
compet ência por conexão em primeiro grau, nos moldes dos art s. 54 e 55
do CPC/2015.
7
“ Em segundo grau, a prevenção se dá geralment e pelo conheciment o de
um incident e ou impugnação, sendo cert o que a t urma julgadora que
conhecer de um recurso acerca de det erminada demanda at rairá, para
julgament o, out ros que sejam event ualment e int erpost os no mesmo pro-
cesso.” TUCCI, José Rogério Cruz e. A causa pet endi no processo civil.
2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2001, p. 220.

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t e, uma apelação, est a deve ser dist ribuída para o mesmo órgão
e relat or, just ament e pela exist ência da prevenção 8. O mesmo
ocorre quando houver processos conexos no Tribunal, em com-
pet ência originária.
Caso não ocorra a dist ribuição por prevenção, quando f or
hipót ese necessária, as part es devem suscit ar a incompet ência
d aq u el e ó r g ão p o r d i st r i b u i ção eq u i vo cad a, so b p en a d e
preclusão.
Independent ement e da maneira de dist ribuição realizada,
após o at o, est e deve ser publicado na imprensa of icial 9, para
f ins de cumpriment o do requisit o da publicidade e, t ambém, para
inf ormar as part es sobre a nova compet ência do seu processo,
cient if icando-os da localização f ísica de seu recurso ou, se com-
pet ência originária, de sua demanda.
Realizado o at o da dist ribuição e a sua devida publicação,
os aut os serão remet idos em conclusão ao relat or, para análise
sobre o caso, seja recursal ou compet ência originária.

1.2 Do proce ssa m e nt o pe ra nt e o órgã o f ra cioná rio


De acordo com o art . 931, realizada a dist ribuição, o proces-
so é direcionado ao relat or, para a devida análise no prazo de
30 dias, elaborando seu vot o sobre o caso, com a devolução do
processo para a secret aria/depart ament o do colegiado, com o
relat ório pront o. Um t ant o ut ópico o CPC/2015 em mant er o pra-
zo para o julgament o dos recursos, ainda mais um prazo bem
exíguo. Ent ret ant o, a lei est abelece um padrão, que, adapt ado
à vida real, sof rerá mudanças para o cot idiano jurídico f orense,
não sof rendo sanções para t ais at rasos pelo mot ivo de excesso
de t rabalho e acúmulo de processos.

8
“ O CPC 930 par. ún. Cont ém uma espécie de regra geral acerca da pre-
venção para o julgament o de recursos e out ros f eit os de compet ência
originária dos t ribunais, que acaba nort eando out ras regras específ icas a
esse respeit o e consist e no est abeleciment o da prevenção a part ir da
primeira verif icação do f eit o, ainda que superf icial, f eit a pelo relat or.”
NERY JR, Nelson; NERY, Rosa M aria de Andrade. Código de processo
civil com ent ado. 16. ed. São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 1.975.
9
“ Feit a a dist ribuição, cumpre divulgá-la. Com isso, at ende-se ao princípio
da publicidade, possibilit ando que as part es, seus procuradores e out ros
int eressados possam conhecer o órgão julgador, o relat or” CUNHA, Leo-
nardo José Carneiro da; DIDIER JR., Fredie. Curso de direit o processual
civil. M eios de im pugnação às decisões judiciais e processo nos
t ribunais. 5. ed. Salvador: JusPodivm, 2012, p. 565.

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A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

O relat ório é uma exposição dos pont os cont rovert idos da


demanda, desde o últ imo relat ório – da decisão impugnada –
at é o moment o, com o int uit o de que “ os demais component es
do grupo que irão julgar o recurso possam t er uma ref erência
quando passarem ao est udo da causa” (NERY JR; NERY, 2016, p.
1.976).

1.2.1 Da orde m cronológica de julga m e nt o pe ra nt e o Tribuna l


Nesse moment o, com a conclusão para a análise do recurso
pelo relat or que a ordem cronológica, previst a no art . 12, t em
validade. M esmo com a dicção do ref erido art igo ref erir-se so-
bre “ a conclusão para o acórdão” , não há como seguir com
lit eralidade essa disposição, por ausência de conclusão para t al
desiderat o. O acórdão, como vimos, é const ruído a part ir do jul-
gament o realizado de maneira colegiada, sem uma conclusão
para t ant o e, sim, uma inclusão na paut a de julgament o.
Seria corret o o ent endiment o dessa conclusão que o art . 12
est abelece como a inclusão na paut a? Não é o pont o corret o,
uma vez que a paut a segue uma ordem própria, conf orme vere-
mos post eriorment e. Dessa maneira, qual seria a ordem cronoló-
gica propost a pelo CPC/2015, no t ocant e ao grau recursal? Nes-
se caso, a opção da cont agem pela ordem cronológica deve ser
da conclusão ao relat or, no moment o da remessa para a análise,
preparação do relat ório e seu vot o.
Esse é a única maneira possível para t ermos o cumpriment o
do que o art . 12 est abelece. Dessa f orma, quando o processo f or
direcionado para o gabinet e do relat or, com a est ipulação de pra-
zo de 30 dias para a análise recursal, como preconizado pelo art .
931, esse será o marco para a cont agem da ordem cronológica.
A part ir da remessa ao gabinet e do relat or que se deve im-
port ar com o cumpriment o da ordem cronológica para a análise
de cada processo, de modo a cada gabinet e t er o seu próprio
r i t m o , n o s m o l d es d e cad a exp ed i en t e d e cad a j u l g ad o r –
desembargador ou minist ro. Não há como imaginar que a or-
dem cronológica, no âmbit o dos Tribunais, envolve mais do que
um julgador, pelo f at o de que o cont role imaginado na int en-
ção da norma passa por sist emat izar crit érios para cada julgador
prof erir a análise e o julgament o e nunca uma int erligação en-
t r e d i ver so s j u l g ad o r es, o q u e i n vi ab i l i zar i a a p r ó p r i a
aplicabilidade da norma.
Com a visão e def inição que a ordem cronológica, nesse
moment o processual, nasce com a conclusão previst a no art . 931,

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import ant e que o relat or t enha crit érios mais objet ivos para o
julgament o. Ent ret ant o, o próprio t eor do art . 12 f oi alt erado
ant es da vigência do CPC/2015, com a inclusão da palavra “ pre-
f erencialment e” , o que, de cert o modo, carrega um ar de possi-
bilidade.
Como deve ser encarado esse “ pref erencialment e” inserido
na lei, alt erando o art . 12? Várias são as visões possíveis. A pri-
meira, como se não houvesse mais uma exigência, como uma
quase revogação da norma, recaindo em uma liberdade para
que o juízo julgue ou analise o processo ou recurso, sem essa
ordem cronológica, o que leva a uma espécie de desvalorização
do próprio inst it ut o. Uma visão int ermediária seria de Cunha,
com uma int erpret ação de que o pref erencialment e seria uma
espécie de sugest ão de gest ão de gabinet e, como uma f orma
que, possivelment e, seja ef icaz, mas que pode ser relat ivizada
por out ra maneira de gest ão 10. Cont udo, nessa visão, o juízo
deveria inf ormar o seu modelo e, na ausência de um, deveria
adot ar, pref erencialment e, a ordem cronológica.
A t erceira visão seria a de Teresa Arruda Alvim, que é diver-
sa e, t alvez, a mais corret a, diant e da norma original e a nova,
com a alt eração da Lei nº 13.256/2016. Nessa concepção, a alt e-
ração propost a pelo pref erencialment e seria soment e no aspec-
t o de excepcionalidade11, com a necessidade de que o juízo, ao

10
“ O disposit ivo est abelece um modo de gest aÞo pelo juiz. Ao juiz cabe
observar, pref erencialment e, a ordem cronoloìgica de conclusaÞo. Nada
impede, poreìm, que o juiz valha-se de out ros meios de gest aÞo, expressa
e previament e est abelecidos e anunciados. NaÞo est abelecido, nem anun-
ciado, expressa e previament e, out ro meio de gest aÞo, cabe-lhe, pref e-
rencialment e, decidir at endendo aÌ ordem cronoloìgica de conclusaÞo.”
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Coment ário ao art . 12. STRECK, Lenio.
Com ent ários ao código de processo civil, 11. ed. São Paulo: Saraiva,
2016, p. 60.
11
“ Dessa f orma, a menos que se apague o art . 12 do Novo Código de Pro-
cesso Civil, não há como af irmar-se que passará a inexist ir a necessidade
de se observar a ordem cronológica de conclusão para julgament o das
demandas, mesmo porque a list a f icará necessariament e disponível no
meio elet rônico para consult a pelas part es (art . 12, §1º). A sua pura
inobservância, sem mot ivação específ ica pelo juízo compet ent e, ensejará
mandado de segurança e medidas correcionais cabíveis. Conclusão: não
se desesperem. A regra f icou mais “ suave” , mas ainda exist e. As exce-
ções aument aram, mas isso não signif ica que o juiz passará a t er “ cart a
branca” para desobedecer a “ f ila cronológica das demandas.” Quant o à
recorribilidade, nada mudou, porque já não cabia recurso da decisão que
passa uma demanda mais recent e na f rent e de uma mais ant iga na f ila.

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julgar f ora da cronologia, deva mot ivar t al at it ude, como um


poder de relat ivização, mas com o ônus da explicação sobre a
pref erência dada, sem poder, de modo arbit rário, ut ilizar-se desse
pref erencialment e.
São visões dif erent es da mesma norma, t udo por cont a da
alt eração legislat iva. De cert a maneira, essa alt eração realizada
no art . 12 quase que o revoga, dada a incert eza t razida para o
t ext o legal, sem a def inição de sua caract eríst ica. Houve a manu-
t enção do art igo, soment e com a inclusão de uma palavra mais,
cont udo, ampliando o seu próprio sent ido, com um alt o grau
de f alibilidade da norma.
No ent ant o, com a manut enção do art igo, há a necessidade
de exist ir uma list a de processos, o que persist e, mesmo com a
alt eração realizada, na obrigação de que cada gabinet e, de cada
relat or, o que não deixa de criar e possibilit ar um cont role social
sobre a gest ão de gabinet e, uma vez que as part es poderão,
mediant e a list a, est udar os crit érios ut ilizados por julgador, rea-
lizando, de cert a maneira, uma pressão sobre o mét odo ut iliza-
do e, ainda, por qual mot ivo não ut iliza a ordem cronológica.
Para a prolação de decisão monocrát ica, o relat or não t em
nenhum a necessi dade de at er -se ao ar t . 12, um a vez que a
lit eralidade do t ext o soment e incumbe t al obrigação para a
prolação de sent enças e acórdão, ent endo, ent ão, que essa es-
pécie decisória pelo relat or pode ser gerida de modo diverso.

1.2.2 A a ná lise pre lim ina r e a s prov idê ncia s pe lo re la t or: a


possibilida de de sa na bilida de re cursa l
Com a chegada do processo no gabinet e, o relat or verif ica-
rá o art . 932, aquele que delimit a suas incumbências para esse
moment o. A regra para o julgament o em um Tribunal – via re-
curso ou compet ência originária – é buscar a colegialidade das
decisões, porém, ant es de remet er o processo para o colegiado,
o relat or deve verif icar a exist ência de algum vício no processo
ou no recurso, o qual, em caso posit ivo, deve int imar a part e
responsável para sanar o vício ou complement ar o recurso.
Como vist o, mediant e a exist ência macro do princípio da
primazia ao julgament o de mérit o, houve uma relat ivização da
E a mencionada alt eração legislat iva nada alt era em relação a isso. Con-
t inuará cabendo mandado de segurança cont ra o at o judicial.” ARRUDA
ALVIM , Teresa. Ordem cronológica – pref erencialm ent e. <ht t p://
w w w .m i g al h as.co m .b r /En t en d en d o Di r ei t o /110,M I238018,51045-
Ordem+cronologica+Pref erencialment e>.

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inadmissibilidade, permit indo, em caso de possibilidade de cor-


reção, a devida sanabilidade, nos moldes do parágraf o único
do art . 932, concedendo a chance do aproveit ament o do recur-
so, para o julgament o de mérit o, mesmo que, embrionariament e,
cont ivesse um equívoco processual. No CPC/73, essa f lexibilização
d a ad m i ssi b i l i d ad e so m en t e er a r esp al d ad a p ar a a co m p l e-
ment ação das cust as recursais; já no CPC/2015, a relat ivização
t erá amplit ude enorme12, ampliada para t odos os vícios f ormais
passíveis de correção 13.
O relat or, port ant o, deve int imar o recorrent e para que reali-
ze, dent ro do prazo de cinco dias, a correção do vício. O dever de
prevenção present e no julgament o recursal, cont udo, com o t rans-
curso do prazo sem a sanabilidade e, consequent ement e, o vício
persist indo, o relat or julga, monocrat icament e, pela inadmis-
sibilidade, com base no art . 932, III.
Ult rapassada a análise sobre a exist ência de vícios no recur-
so, o relat or, em caso de out ros requeriment os das part es, deci-
de sobre possíveis incident es processuais, como produção de pro-
vas, f at os supervenient es, t ut elas provisórias, dent re out ras pos-
síveis espécies decisórias. Na ausência de pedidos incident ais ou
depois das decisões sobre est es, o relat or analisa a possibilidade
ou não de julgament o monocrát ico do recurso ou do processo,
seja t erminat ivo ou def init ivo.
Na hipót ese negat iva, o relat or remet e o processo para a
secret aria, requerendo a inclusão do mesmo na paut a de julga-
ment o, com o encargo do president e do órgão f racionário para

12
O STF já se manif est ou sobre o art . 932, parágraf o único e int erpret ou
como const it ucional nos limit es correcionais para vícios f ormais, sem a
possibilidade de vícios subjet ivos como uma f undament ação inadequada.
Julgament os dos ARE 953.221 – STF e ARE 956.66 – STF.
13
“ Est e parágraf o acaba por limit ar um dos males que assolam a just iça
brasileira de hoje, qual seja, a jurisprudência def ensiva, e passa a exigir
uma just iça cent rada na ót ica dos jurisdicionados, privilegiando os julga-
ment os de mérit o. Nest e sent ido, a f alt a de document ação, por si só, não
deve gerar o não conheciment o do recurso, mesmo quando a documen-
t ação seja considerada obrigat ória para o julgament o. É o caso do agravo
de inst rument o, que, na nova redação, prevê expressament e a observân-
cia do dever de auxílio, art . 1.017, § 3.º. Na f alt a de cópia de qualquer
peça ou no caso de algum out ro vício que compromet a a admissibilidade
do agravo de inst rument o, deve o relat or aplicar o art . 932, parágraf o
único, e permit ir que o vício seja sanado no prazo de cinco dias.” ZANETI
JR. Hermes. Coment ário ao art . 932. In: CABRAL, Ant ônio do Passo;
CRAM ER, Ronaldo (Coord.). Com ent ários ao novo Código de Proces-
so Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 1.359.

24 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

a def inição da inclusão em det erminada dat a da sessão de jul-


gament o.

1.2.3 Do julga m e nt o m onocrá t ico


O art . 93214, em seus incisos, versa sobre as hipót eses do jul-
gament o monocrát ico a ser realizado pelo relat or. Como ant eri-
orment e dit o, há o poder de não conhecer do recurso, ut ilizan-
do para t al at it ude o inciso III e, por out ro lado, se f or o caso,
post eriorment e, no t ocant e à análise do mérit o da mat éria plei-
t eada e impugnada no recurso ou processo, t endo ult rapassado
a admissibilidade, conhecendo, port ant o, do recurso. Com isso,
são duas as hipót eses possíveis de result ado: negar proviment o
ao recurso, com base no inciso IV, ou dar proviment o ao recurso,
de acordo com o inciso V.
Realizada a análise de enquadrament o do processo sobre
os precedent es judiciais, não há f aculdade nem discricionarie-
dade do relat or e, sim, dever dest e em decidir monocrat icament e,
pelo mot ivo de ser desnecessária a remessa ao colegiado sobre
uma mat éria já pacif icada em Tribunais Superiores, com julga-
dos exist ent es e const ant es, mediant e as t écnicas de f ormação
de precedent es ou do próprio Tribunal local, caso seja ut ilizado
o IAC ou o IRDR. É um dever julgar monocrat icament e, uma in-
cumbência do relat or ao verif icar a exist ência de enquadrament o.
A decisão monocrát ica, como a sent ença, necessit a da f or-
malidade processual em sua const rução, cont endo relat ório, f un-
dament o e part e disposit iva, dispensando a ement a, por não ser
provenient e de um colegiado. No ent ant o, t rat ando-se de deci-
são realizada em carát er excepcional, pelo enquadrament o nas
p o ssi b i l i d ad es el en cad as co m o i n cu m b ên ci a m o n o cr át i ca d o
relat or, há a necessidade, dent ro da f undament ação, da apre-
sent ação do vínculo ent re o processo julgado e a relação com o
precedent e/ent endiment o aut orizant e da ut ilização do art . 932,
IV ou V. Não demonst rando o enquadrament o da sit uação ant e-

14
“ Negar seguiment o é uma locução de grande envergadura, abrangendo
hipót eses de recursos desmerecedores de conheciment o, porque lhes f alt a
algum pressupost o de admissibilidade, e recursos desmerecedores de
proviment o, porque desamparados pelo direit o, pela jurisprudência ou
pela prova. No art . 557, port ant o, negar seguiment o é impedir que o
recurso siga para câmara ou t urma, em t odas hipót eses nas quais ele seja
clarament e f adado ao insucesso (recursos manif est ament e inadmissíveis
ou inf undados).” DINAM ARCO, Cândido Rangel. A ref orm a da ref orm a.
São Paulo: M alheiros, 2002, p. 183.

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 25


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

cedent e ao caso a ser julgado, o relat or equivoca-se ao ut ilizar a


decisão monocrát ica. Em mesmo erro incorre o relat or quando
ut iliza de decisões persuasivas – do próprio órgão ou Tribunal –
sem o carát er vinculant e insert o nas hipót eses do art . 932.
Ao f azer a opção pela decisão monocrát ica, logicament e, o
recurso ou processo não será julgado pelo colegiado, criando
um impediment o processual pela exist ência dessa decisão. De
cert o modo, ao prof erir a decisão monocrát ica, est a t em o mes-
mo valor de um acórdão, caso não haja recurso, haja vist a que
será a represent ação do pronunciament o daquele Tribunal, ain-
da que seja realizado de modo unipessoal. Evident ement e, da-
quela decisão é passível recurso, com o int uit o de demonst rar os
equívocos na prolação da decisão e claro int uit o de f orçar a ida
ao órgão f racionário, demonst rando a não aplicabilidade corre-
t a do art . 932.

2 Rem essa ao colegiado para julgam ent o


Não vislumbrada a possibilidade do julgament o monocrá-
t ico, o relat or, após ef et uar a análise processual, com o relat ório
pront o, remet e o processo ao president e do órgão f racionado,
para inclusão em paut a de julgament o.
A escolha do dia para o julgament o f ica a cargo do próprio
president e daquele colegiado, com base no art . 934, sem a ne-
cessidade de obediência, da ordem cronológica, mas uma mera
organização ent re os processos de t odos os membros daquele
colegiado.
A const rução da paut a de julgament o considera as diret ri-
zes do art . 936 quando dispõe que, “ ressalvadas as pref erências
legais e regiment ais, os recursos, a remessa necessária e os pro-
cessos de compet ência originária serão julgados na seguint e or-
dem: I – aqueles nos quais houver sust ent ação oral, observada a
ordem dos requeriment os; II – os requeriment os de pref erência
apresent ados at é o início da sessão de julgament o; III – aqueles
cujo julgament o t enha iniciado em sessão ant erior; e IV – os de-
mais casos” .
Det erminada a dat a da sessão em que será realizado o jul-
gament o, necessariament e, deve-se proceder à publicação da list a
da paut a15, com as inf ormações do processo e do local, dat a e
15
Enunciado n.º 84 do FPPC: A ausência de publicação da paut a gera nulida-
de do acórdão que decidiu o recurso, ainda que não haja previsão de
sust ent ação oral, ressalvada, apenas, a hipót ese do §1º do art . 1.024, na
qual a publicação da paut a é dispensável.

26 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

hora que será realizada, com ant ecedência mínima de cinco dias
ent re a publicação e a sessão de julgament o, sob pena de nuli-
dade16.

2.1 Da se ssã o de julga m e nt o e a const ruçã o do julga m e nt o


colegiado
Na sessão de julgament o 17, o president e respeit ará a ordem
da paut a18, ressalvando pref erências como requeriment o de sus-
t ent ação oral, de pref erência ou, ainda, a exist ência de proces-
sos adiados de paut as ant eriores, coordenando os t rabalhos,
passando a palavra a cada juiz part icipant e, bem como compu-
t ando os vot os e result ados de cada processo e julgament o.
Sobre um processo em específ ico, ao chegar o moment o, a
palavra é dada ao relat or, que f ará a exposição do relat ório –
uma explicação dos at os ocorridos desde o últ imo relat ório exis-
t ent e no processo e alegações das part es at é o moment o do
julgament o. Nesse moment o, em caso de requeriment o, abrir-
se-á prazo para a sust ent ação oral, se houver requeriment o por
ambas as part es, primeiro, ent ão, ao recorrent e e depois para o
recorrido.
Após esse prazo, com ou sem a sust ent ação oral, o relat or,
caso não seja mat éria de necessidade de manif est ação do M inis-
t ério Público, ret oma a palavra para cont inuar o t rabalho, proce-
dendo à leit ura da f undament ação, delineando os mot ivos jurí-
dicos e f át icos (dependendo do recurso) que mot ivou a decisão.
16
Enunciado n.º 198 do FPPC: Ident if icada a ausência ou a irregularidade de
publicação da paut a, ant es de encerrado o julgament o, incumbe ao ór-
gão julgador det erminar sua correção, procedendo à nova publicação.
17
“ Abert a a sessão de julgament o, os recursos serão julgados de acordo com
as pref erências legais e regiment ais, a serem def inidas pelo president e da
sessão, que é o president e do órgão colegiado recursal.” BUENO, Cassio
Scarpinella. Curso sist em at izado de direit o processual civil, 5: recur-
sos, processos e incident es nos t ribunais, sucedâneos recursais: t éc-
nicas de cont role das decisões judiciais. São Paulo: Saraiva, 2008,
p. 107.
18
Ramos Net o ent ende que a paut a deve ser const ruída nos moldes do art .
12 e a ordem cronológica, f at o que não concordamos, pela inst it uição da
ordem soment e para a conclusão a cada relat or: “ A norma consagra de
maneira expressa a prioridade de julgament o dos pedidos de pref erencia
dent re aqueles incluiìdos na sessaÞo independent ement e de previsaÞo
em lei ou nos regiment os int ernos. A regra deve ser int erpret ada, poreìm,
em harmonia com o art . 12 do CPC.” RAM OS NETO, New t on Pereira.
Coment ário ao art . 936. STRECK, Lenio. Com ent ários ao código de
processo civil, 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 1.258.

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 27


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

O relat or é o único magist rado do colegiado que t em con-


t at o diret o com o processo, os demais não t erão acesso aos aut os
com proximidade idênt ica à do relat or, devendo est e, port ant o,
pormenorizar os f at os e f undament os de maneira a explanar para
os demais os det alhes, t ant o do processo, quant o das razões do
seu ent endiment o. O int uit o, além de f undament ar o seu vot o,
é preocupar-se com um melhor deslinde, não soment e do recur-
so, mas, t ambém, para os out ros magist rados t erem ciência da
sit uação processual, just ament e para est arem apt os a procede-
rem, cada qual, a seus vot os.
A manif est ação do relat or, com a explanação processual, f un-
dament ação e vot o, abre o julgament o e, geralment e, serve de
diret riz para a condução do colegiado.
Sobre a mat éria de julgament o, há uma ordem a ser segui-
da, primeiro a análise sobre a admissibilidade recursal e, se o
result ado f or posit ivo, passa-se para as quest ões preliminares, se
exist ent es, para, soment e após, julgar o mérit o recursal.
A quest ão preliminar é aquela que necessariament e deve
ser julgada de modo ant erior ao próprio mérit o da ação 19. No
caso recursal, mesmo que haja uma impugnação múlt ipla, com
diversos pont os mat eriais a serem decididos, há uma ordem de
análise. Se há uma alegação de error in procedendo e out ra de
error in judicando, evident ement e que a mat éria sobre um vício
processual é preliminar à alegação de um vício de julgament o,
com a necessidade de ser julgada ant es, at é por ser condicionant e
do julgament o post erior.
Se o julgament o de um argument o de exist ência de um ví-
cio f or pelo seu reconheciment o, o result ado pode ser a anula-
ção da decisão ou do processo, o que impossibilit a at é o prosse-
guiment o do julgament o para o pleit o de ref orma da decisão,
rest ando est a como prejudicada.
Essa ordem est á delineada no art . 938 imput ando a ant ece-
dência da preliminar ao mérit o 20. Ult rapassada a quest ão preli-
minar, com o julgament o dest a e o result ado pela rejeição, o
19
Sobre as quest ões preliminares: BARBOSA M OREIRA, José Carlos. Ques-
t ões prejudiciais e quest ões preliminares. Direit o processual civil (ensaios
e pareceres). Rio de Janeiro: Borsoi, 1971, p. 76.
20
A t erminologia preliminar e mérit o é equivocada como descrit a no art .
938, uma vez que as razões recursais podem ser em error in procedendo
ou error in judicando, ambas são insert as ao mérit o recursal, por mais
que a primeira não seja mérit o da ação. Logo, quando o art . 938 dispõe
que as preliminares serão julgadas em moment o ant erior ao mérit o há
uma razão, cont udo t ambém há uma conf usão sobre a conceit uação de
mérit o recursal. Um pedido de anulação da decisão é mérit o recursal,

28 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

mérit o deve ser julgado, com a possibilidade de os julgadores


vencidos ant eriorment e volt arem a vot ar na quest ão principal,
conf orme dicção do art . 939.
Ao encerrament o de cada pont o – admissibilidade, prelimi-
nares21 e mérit o –, o relat or passa a palavra para os demais mem-
bros. Cada qual deve se manif est ar, em cada moment o em que é
chamada a t al, seja para a admissibilidade, preliminares e o vot o
sobre o mérit o.
Ult rapassado cada pont o decisório, com a t ot alidade de
vot os dos membros, há a preclusão para o colegiado, na dicção
do art . 941, sem a possibilidade de alt eração do vot o de cada
membro, uma vez que a mat éria já se alt erou para out ro julga-
ment o, ainda que dent ro do mesmo recurso ou processo.
Sobre o mérit o, é import ant e delinear que a parcela da
impugnação que versar sobre error in judicando pode cont er
vários pedidos, dependendo da própria complexidade objet iva
da ação – pluralidade de pedidos ou part es22 – com a necessida-
de de que o vot o do relat or e, post eriorment e, de cada mem-
bro, no mérit o, enf rent e cada pedido que f or impugnado, cada
capít ulo recorrido.
Se uma ação t em dois pedidos – como dano moral e mat eri-
al, por exemplo – e o recurso impugna ambos, o relat or e os
demais membros devem enf rent ar cada um dos pont os impug-
nados, f ormando um capít ulo decisório recursal sobre um dos
pedidos da ação e do recurso. Cada um desses pedidos deve t er
um vot o específ ico, com um result ado igualment e específ ico.
Há uma ordem de manif est ação depois do relat or, primeiro será
o membro mais novo na hierarquia int erna do Tribunal at é o
mais ant igo.
Em t ermos de cont eúdo, esses poderão acompanhar o vot o
do relat or, seja acrescent ando f undament ação, se acharem ne-
cessário, ou simplesment e manif est ar-se pelo acompanhament o
de t odo o vot o, f undament o e posicionament o.
Em caso de divergência, aquele que primeiro opt ar por vo-
t ar de modo diverso t em o dever de f undament ar, demonst ran-

mas t ambém é preliminar a um pedido de ref orma da decisão, t ambém


mérit o recursal. Óbvia e logicament e que um pedido de anulação deve
ser julgado ant es de um pedido de ref orma, pelo f at o de que o primeiro
pode ser provido e não possibilit ar o julgament o do segundo.
21
Enunciado n.º 652 da FPPC: Cada quest ão preliminar suscit ada será obje-
t o de vot ação específ ica no julgament o.
22
Sobre a t eoria dos capít ulos da sent ença: DINAM ARCO, Cândido Rangel.
Capít ulos de sent ença. 3. ed. São Paulo: M alheiros, 2008.

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 29


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

do clarament e os mot ivos da divergência, da mesma f orma que


o relat or manif est ou-se por seu posicionament o. Essa divergên-
cia pode ser de maneira t ot al ou parcial, t ant o sobre pont os
ant eriores ao mérit o – admissibilidade e preliminares – quant o
sobre o mérit o, seja em t odos os pedidos recursais ou em apenas
alguns, necessit ando f undament ar soment e os pont os que vie-
ram a ser divergent es, podendo, se quiser, naquilo que conver-
gir, simplesment e acompanhar o relat or.
Quando a divergência se sobressair em relação ao vot o do
relat or quant o ao mérit o, em sua maioria, há a alt eração da relat oria
para o primeiro magist rado a abrir a divergência, passando a ser o
relat or do processo, seja para a elaboração do acórdão e at é para
f ins de prevenção. No ent ant o, import ant e dif erenciar as divergên-
cias, se est as f orem sobre a admissibilidade e as preliminares, mes-
mo com o relat or se posicionar e f or vencido, não impact a de modo
a mudar a relat oria, o que soment e ocorre quando, no mérit o,
houver a divergência como posiciona-ment o da maioria.
A complicação sobre a alt eração de relat or est á na diver-
gência parcial vencedora. Se parcela do recurso f oi julgada nos
t ermos do vot o do relat or e o rest ant e f oi julgado pela diver-
gência, há uma complicação sobre a alt eração ou não do relat or.
Essa quest ão soment e import a se f or divergência sobre o mérit o;
se f or sobre quest ões preliminares, mas no mérit o o vot o do
relat or f or sobressalent e, est e cont inua a ser relat or.
Em uma divergência parcial no mérit o, há a necessidade de
se verif icar o quant o do recurso se sobressaiu, com a manut en-
ção ou alt eração da relat oria dependendo dos pedidos julga-
dos. Se há uma sucumbência menor que a out ra, se o vot o do
relat or f oi o condut or da maior parcela vit oriosa, mant ém-se
como t al; de modo diverso, se f or condut or da menor parcela
vit oriosa, assume o prolat or do vot o divergent e.
Uma quest ão int eressant e surgida pela t eoria dos precedent es
est á na divergência de f undament ação. Uma possibilidade em que
os membros do colegiado julgarem de modo convergent e no re-
sult ado f inal, mas t erem chegado por const ruções de f undament a-
ção diversas, o que gera uma divergência na f undament ação. A
dúvida: se a f undament ação do vot o do relat or f or vencida, mes-
mo que no result ado seja vencedora, deve-se alt erar o relat or?
Cunha e Didier Jr. ent endem, acert adament e, que sim 23. Dessa ma-
23
“ Assim, é preciso que haja colheit a de vot os t ambém em relação ao f un-
dament o det erminant e adot ado pelo t ribunal. Cada julgador expõe a
sua conclusão e a sua f undament ação, mas a cont agem dos vot os deve

30 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

neira, se a conclusão do relat or f or a vencedora, mas o seu f unda-


ment o não, é necessária a alt eração da relat oria24.
Não bast a, port ant o, soment e que se colha o result ado da
vot ação, mas t ambém a f undament ação vencedora, dent ro dos
vot os vencedores. Nos Tribunais de segundo grau, nos julgamen-
t os de apelação e agravo de inst rument o, são comuns os acom-
panhament os in t ot um, seguindo o vot o do relat or como base
para a const rução do result ado e do f undament o vencedor. To-
davia, nos Tribunais Superiores, mesmo com o vot o do relat or
sendo vencedor e condut or, há uma normalidade em debat es
orais, mesmo que os vot os sejam convergent es no result ado, o
que seria mais f requent e essa divergência de f undament ação.

2.2 Da sust e nt a çã o ora l


As part es t êm direit o 25 de, perant e o órgão que realizar o
julgament o, manif est ar-se, sust ent ando as suas t eses de f orma
oral, seja pela part e recorrent e, suas razões recursais, ou pela
part e recorrida, suas cont rarrazões26.
Na sessão de julgament o, depois de f eit a a exposição da
causa com a leit ura do relat ório pelo relat or, moment o em que
o president e abre a palavra, sucessivament e, primeiro ao recor-
rent e e, após, ao recorrido, pelo prazo improrrogável de 15 mi-

iniciar-se pela conclusão; def inido o result ado do julgament o, passa-se à


def inição de qual é o seu f undament o det erminant e.” CUNHA, Leonardo
José Carneiro da; DIDIER JR., Fredie. Curso de direit o processual civil.
M eios de im pugnação às decisões judiciais e processo nos t ribu-
nais. 13. ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 45.
24
Enunciado n.º 653 da FPPC: Divergindo os julgadores quant o às razões de
decidir, mas convergindo na conclusão, caberá ao magist rado que primei-
ro deduziu o f undament o det erminant e vencedor redigir o acórdão.
25
Est at ut o da Advocacia e da OAB – EOAB – Art . 7°. São direit os do advoga-
do: (..) IX - sust ent ar oralment e as razões em qualquer recurso ou proces-
so, nas sessões de julgament o, após o vot o do relat or, em inst ância judici-
al ou administ rat iva, pelo prazo de quinze minut os, salvo se prazo maior
f or concedido..
26
“ Diant e da garant ia const it ucional do cont radit ório, permit e-se que, no
julgament o a ser prof erido pelo t ribunal, possam as part es sust ent ar
oralment e as razões de seus recursos, cont ribuindo para a ref lexão dos
julgadores, ao mesmo t empo em que t ent am convencê-los do acert o de
suas respect ivas t eses, com o que se cont ribui para uma decisão mais
aprimorada.” CUNHA, Leonardo José Carneiro da; DIDIER JR., Fredie. Curso
de direit o processual civil. M eios de impugnação às decisões judiciais e
processo nos t ribunais. 5ª. ed. Salvador: JusPodivm, 2012, p. 45.

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 31


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

nut os para cada qual, a f im de sust ent arem os seus posicionamen-


t os quant o ao recurso int erpost o.
O advogado da part e que deseja realizar a sust ent ação oral,
deve requerer at é o início da sessão para f azê-lo, bem como in-
dicar o processo da paut a, pedindo pref erência quant o aos de-
mais, pelo f at o da sust ent ação oral a ser f eit a.
Há, ainda, a inovação sobre a possibilidade de realização da
su st en t ação o r al p o r vi d eo co n f er ên ci a, q u an d o ad vo g ad o
domiciliado em cidade dif erent e do Tribunal, devendo, para t an-
t o, requerer com um dia de ant ecedência.
Uma evolução no t ocant e à inf ormát ica27.
Quais são os recursos que comport am a sust ent ação oral? O
art . 937 e seus incisos delimit am essas hipót eses cabíveis para t al
int ent o, o que demonst ra que não serão t odos os recursos que
permit em a sust ent ação oral, soment e os assim est ipulados, como:
no recurso de apelação; no recurso ordinário; no recurso especial;
no recurso ext raordinário; nos embargos de divergência; no agra-
vo int erno originário de recurso de apelação, de recurso ordiná-
rio, de recurso especial ou de recurso ext raordinário; no agravo
de inst rument o int erpost o cont ra decisões int erlocut órias que ver-
sem sobre t ut elas provisórias de urgência ou da evidência.
Exist em, t ambém, algumas hipót eses que não são recursos,
mas que permit em, de igual f orma, a sust ent ação oral, como na
ação rescisória, no mandado de segurança e na reclamação.
Em especial, há um recurso que não t em a previsão legal,
mas que, excepcionalment e, deve ser permit ida a sust ent ação
oral, o agravo de inst rument o que impugna uma decisão parcial
– mérit o ou sem mérit o – pelo f at o do cont eúdo mat erial daque-
le at o decisório t er densidade de sent ença, o que t ornaria esse
agravo 28 como um recurso subst it ut ivo da apelação, necessit an-
do das mesmas prerrogat ivas inerent es a ela29.
27
Sobre a possibilidade de videoconf erência, a 2ª. Câmara do TJ/RO publi-
cou sobre a necessidade de ut ilização da t oga em t al at o, mesmo pela via
virt ual: “ Ao t érmino dos processos, o Desembargador M arcos Alaor Diniz
Grangeia, President e da 2ª Câmara Cível, det erminou que o Depart a-
ment o alert e os advogados quant o ao uso de t oga quando das sust ent a-
ções orais por videoconf erência, nos t ermos do art . 57, § 2º, do RITJ/RO;
Port o Velho, 15 de março de 2017. Desembargador M arcos Alaor Diniz
Grangeia President e da 2ª Câmara Cível.”
28
Nesse sent ido: LEM OS, Vinicius Silva. O agravo de inst rument o cont ra
decisão parcial de mérit o. Revist a de Processo. Vol.v. 259, Ano 41, p. 275-
303, São Paulo: Ed. RT, 2016; OLIVEIRA, M IRANDA, Pedro M iranda de
Ol i vei r a. N o v í ssi m o si st e m a r e cu r sa l co n f o r m e o CPC/2 0 1 5 .
Florianópolis, Conceit o Edit orial, 2015, p. 142.

32 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

Na r em essa n ecessár i a, j u st am en t e p el a au sên ci a d e


recorribilidade, como uma t ransf erência para uma reanálise, como
vimos, não se permit e a sust ent ação oral 30.
Pert inent e à menção sobre a possibilidade de o advogado
de qualquer das part es, a qualquer moment o, suscit ar pedido
de manif est ação para esclareciment o de f at o 31. Para t ant o, não
há nenhuma necessidade de inscrição, t ampouco uma lógica para
t ant o, soment e com o acompanhament o do julgament o e a
suscit ação de que há, naquele moment o, um f at o a ser esclareci-
do ou uma quest ão de ordem a ser suscit ada.
Obviament e que o advogado deve t er o cuidado de não
ut ilizar desse expedient e para realizar uma sust ent ação oral,
com menção aos vot os ou pont os alheios ao que é possível es-
clarecer.

2.3 O pe dido de v ist a


O relat or t em um cont at o mais próximo com o processo, ci-
ent e de suas minuciosidades, seus det alhes processuais e, desse
modo, os demais magist rados não t êm esse cont at o, ainda mais
com o t érmino da f unção do revisor no CPC/2015. Na sessão de
julgament o, com a f unção de expor a causa aos demais, é inevi-

29
Enunciado n. 61 da JDPC: Deve ser f ranqueado às part es sust ent ar oral-
ment e as suas razões, na f orma e pelo prazo previst o no art . 937, caput ,
do CPC, no agravo de inst rument o que impugne decisão de resolução
parcial de mérit o (art . 356, § 5º, do CPC).
30
Cunha ent ende que na remessa necessária seria possível a sust ent ação
oral, o que discordamos: “ A sust ent ação oral, como t ambém se viu, con-
cret iza os princípios do cont radit ório e da ampla def esa, sendo permit ida
para viabilizar o debat e no julgament o, com que se conf ere à part e mais
um meio para exercer seu direit o de inf luência, cont ribuindo com o con-
venciment o dos julgadores. A sust ent ação oral concret iza, igualment e, o
princípio da cooperação, inserindo a part e, por seu advogado, no debat e
a ser t ravado pelos membros do órgão julgador. Diant e dos princípios do
cont radit ório, da ampla def esa e da cooperação, deve-se, na dúvida, op-
t ar pela admissibilidade da sust ent ação oral. Por t udo isso, é possível
haver sust ent ação oral na remessa necessária.” CUNHA, Leonardo José
Carneiro da; DIDIER JR., Fredie. Curso de direit o processual civil. M ei-
os de im pugnação às decisões judiciais e processo nos t ribunais.
13 . ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 64.
31
Est at ut o da Advocacia e da OAB – EOAB – Art . 7°. São direit os do advoga-
do: (...) X - usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou t ribunal,
mediant e int ervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida
em relação a f at os, document os ou af irmações que inf luam no julgamen-
t o, bem como para replicar acusação ou censura que lhe f orem f eit as.

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 33


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

t ável que, em alguns julgament os, um dos magist rados não se


sint a preparado para, naquele moment o, prof erir o seu juízo
sobre as quest ões expost as apenas com a leit ura do relat ório e
explicações dadas oralment e pelo relat or, durant e a sessão de
julgament o.
Desse modo, sem sent ir-se conf ort ável e preparado para pro-
f erir seu vot o, naquele moment o do julgament o, pode o julgador
pedir vist as do processo, na dicção do art . 940. A consequência
é, nesse moment o, a ret irada de paut a do processo, com a con-
cessão, para aquele julgador, que assim requereu, at é 10 dias
para reincluí-lo na paut a, t empo que se ent endeu como suf ici-
ent e para a análise mais apurada do processo 32. Qualquer dos
int egrant es do colegiado (com exceção do relat or, pelo f at o de
t er cont at o maior com o processo) t em uma oport unidade de
examinar mais minuciosament e o processo. Quando o relat or
verif ica que há necessidade de um aprof undament o ou mudan-
ça em seu julgament o, não seria bem um pedido de vist a, mas
uma ret irada de paut a, o que gera uma incongruência do pró-
prio art igo, uma vez que inclui o próprio relat or, cont udo, não
há sent ido para ser vist a.
O processo deve ser devolvido no prazo de dez dias33, com a
possibilidade de renovação do prazo a requeriment o do julgador
que requereu a vist a34. Em caso ext remo, se os aut os não f orem
32
“ est abelece o prazo de dez dias para exame dos aut os pelo julgador que
‘pede vist a’ para apreciação mais det ida da causa e, t ambém, que o julga-
ment o será ret omado, independent ement e de publicação de nova pau-
t a, na primeira sessão ordinária subsequent e à devolução dos aut os, ist o
é, t ão logo o magist rado sinalize que já f irmou seu ent endiment o sobre o
caso” . BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sist em at izado de direit o pro-
cessual civil, 5: recursos, processos e incident es nos t ribunais,
sucedâneos recursais: t écnicas de cont role das decisões judiciais.
São Paulo: Saraiva, 2008, p. 113.
33
No ent ant o, mesmo com a previsão legal exat a de 10 dias, o STJ ent en-
deu que o prazo razoável será de 60 dias: “ O Pleno do Superior Tribunal
de Just iça aprovou nest a quart a-f eira (17/12) nova regulament ação do
prazo para os pedidos de vist a de processos f ormulados por seus minis-
t ros. A part ir de agora, os minist ros que pedirem vist a t erão at é 60 dias,
prorrogáveis por mais 30, para rest it uir os aut os ao president e do
co l eg i ad o , d even d o o j u l g am en t o d o f ei t o p r o sseg u i r n a sessão
su b seq u en t e ao f i m d o p r azo , co m o u sem vo t o -vi st a” . h t t p ://
w w w.conjur.com.br/2015-abr-22/sist ema-alert ara-minist ro-st j-prazo-de-
volver-vist a
34
“ Os regiment os int ernos dos t ribunais devem est abelecer regras que
assegurem a observância do prazo: a demora em prof erir-se o vot o, após
o pedido de vist a, apaga ou enf raquece, nas ment es dos out ros juízes, a

34 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

devolvidos dent ro de t al prazo ou sem solicit ação de prorroga-


ção de prazo, o president e do colegiado os requisit ará para jul-
gament o do recurso na sessão ordinária subsequent e, com pu-
blicação da paut a em que f or incluído 35.
O processo desse vot o-vist a t em pref erência aos demais, con-
f orme dispost o no art . 936, III.

2.4 A suscit a çã o de f a t o supe rv e nie nt e ou f unda m e nt o


apreciável de of ício
Quando o relat or analisar um recurso, t ant o as razões quant o
as cont rarrazões, considerando t odos os f undament os – f át icos
ou jurídicos – ali const ant es, e convence-se em sua cognição, a
sua f undament ação deve ser mediant e a adesão aos argumen-
t o s exp o st o s p o r u m a d as p ar t es, sej a n o p r ó p r i o r ecu r so /
cont rarrazões. No ent ant o, conf orme a dicção do art . 1.013, t am-
bém há a possibilidade de o relat or manif est ar-se sobre ques-
t ões que f oram discut idas no processo e que não f oram solucio-
nadas, mesmo que não suscit ada pelas part es para o julgament o
recursal.
Ou seja, o art . 1.013 permit e uma análise de pont os que
deveriam ser objet o da decisão ant erior, mas que não f oram
enf rent ados; cont udo, esse disposit ivo ressalva que t ais pont os
soment e podem ser incluídos em julgament o recursal se f oram
objet o de discussão e cont radit ório no processo, ainda que não
est ejam no bojo da f undament ação recursal.
Essa manif est ação é pert inent e at é pelo ef eit o t ranslat ivo,
como vimos, at é pela cognoscialidade of iciosa sobre det ermina-
das mat érias. Todavia, cumpre ressalt ar que t al manif est ação,
mesmo que of iciosament e, deve ser soment e sobre pont os já dis-
cut idos pelas part es ant eriorment e.
M as, a dúvida que nasce é a seguint e: e se o relat or ent en-
der, após a análise das razões e cont rarrazões, que há det ermi-
nada mat éria que deve ser enf rent ada of iciosament e, porém não
houve discussão sobre est as no processo? Se o relat or ent ender

lembrança das caract eríst icas da espécie e, com isso, diminui a probabili-
dade de acert o na decisão” BARBOSA M OREIRA, José Carlos Barbosa.
Com ent ários ao código de processo civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2011, p. 650.
35
Enunciado n o 649 do FPPC: A ret omada do julgament o após devolução de
pedido de vist a depende de inclusão em nova paut a, a ser publicada com
ant ecedência mínima de cinco dias, ressalvada a hipót ese de o magist rado
que requereu a vist a declarar que levará o processo na sessão seguint e.

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 35


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

que, para dar ou negar proviment o ao recurso, necessit a en-


f rent ar mat érias que nem o recorrent e t ampouco o recorrido
suscit aram, nem na f ase de conheciment o em primeiro grau ou
na própria f ase recursal, deve, ent ão, expor a necessidade mat e-
rial de oport unizar a manif est ação sobre aquela mat éria, com a
consequent e abert ura de prazo para que as part es possam se
manif est ar sobre o que o relat or ent ende mat erialment e impor-
t ant e.
Essa sit uação é expost a pela conjunção do art . 1036-37 e a sua
própria aplicabilidade na f ase recursal, com a impossibilidade
de prolat ar-se uma decisão-surpresa, o que import a que os jul-
gament os recursais seguem a mesma regra, não sendo possível,
mediant e essa conjunção, imaginar que o relat or, em seu vot o,
f undará a sua decisão – f át ica ou mat erialment e – em f unda-
ment o que não f oi oport unizada a manif est ação das part es.
O art . 933 especif ica que, em uma conjunção com o art . 10,
regulament ando est a regra para o âmbit o dos Tribunais, “ se o
relat or const at ar a ocorrência de f at o supervenient e à decisão
recorrida ou a exist ência de quest ão apreciável de of ício ainda
não examinada que devam ser considerados no julgament o do
recurso, int imará as part es para que se manif est em no prazo de
5 (cinco) dias” .
A devida adapt ação à nova realidade t rará sit uações est ra-
nhas para a at uação em Tribunais, com o relat or, se cumprir o
36
“ A proibição de decisão surpresa e a at ribuição do dever de consult a ao
órgão julgador são concret izações do princípio do cont radit ório. O princí-
pio do cont radit ório garant e às part es o direit o de poder inf luenciar o
convenciment o do julgador. Se a decisão baseia-se em quest ão a respeit o
da qual não houve debat e, signif ica que a part e não pode inf luenciar o
convenciment o do juiz a respeit o dessa mesma quest ão.” DIDIER JR.,
Fredie. Coment ário ao art . 10. In: CABRAL, Ant ônio do Passo; CRAM ER,
Ronaldo (Coord.). Com ent ários ao novo Código de Processo Civil.
Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 37.
37
Em sent ido cont rário, os enunciados f oram pela ENFAM que t ent am mi-
norar o impact o do art . 10 no processo como um t odo, o que ent endemos
como equivocado:
Enunciado n.º 2 da ENFAM : Não of ende a regra do cont radit ório do art .
10 do CPC/2015, o pronunciament o jurisdicional que invoca princípio, quan-
do a regra jurídica aplicada já debat ida no curso do processo é emanação
daquele princípio.
Enunciado n.º 6 da ENFAM : Não const it ui julgament o surpresa o last reado
em f undament os jurídicos, ainda que diversos dos apresent ados pelas
part es, desde que embasados em provas submet idas ao cont radit ório.
Enunciado n.º 3 da ENFAM : É desnecessário ouvir as part es quando a
manif est ação não puder inf luenciar na solução da causa.

36 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

dispost o no art . 10, abrindo prazo para que as part es manif es-
t em sobre mat éria que ent ende pert inent e para o julgament o,
sit uação essa que, na prát ica, parece quase impossível, mas caso
não seja adapt ada e realizada, t odos os acórdãos ou decisões
monocrát icas, que assim procederem, serão passíveis de anula-
ção por inf ringirem o ref erido art igo.
A pergunt a evident e passa pela exist ência ou não de um
prejulgament o nest a sit uação, quando o juízo, de cert a manei-
ra, ent ender que t al mat éria é f undament al para chegar-se na
cognição ali apresent ada, abrindo prazo para as part es se mani-
f est arem.
No despacho em que o juízo det ermina que as part es anali-
sem t al mat éria, de cert o modo, há um indicat ivo do juízo de
que a mat éria pode inf luenciar o julgament o, evidenciando a
import ância daquele pont o para o julgament o, cabendo, ago-
ra, que cada qual, recorrent e ou recorrido, em suas devidas ma-
nif est ações, const ruam argument ações sobre aquela mat éria,
aderindo ou impugnando a sua aplicabilidade para aquela ques-
t ão, com o claro int uit o de inf luir na f ut ura decisão/vot o do
relat or.
Não há como o relat or suscit ar mat éria para f undament ar
seu vot o sem oport unizar as part es de se manif est ar sobre t al
pont o. Import ant e mudança na cult ura dos Tribunais. O int uit o
é visualizar o cont radit ório como direit o de inf luência38 no re-
sult ado do julgament o.
Out ro pont o import ant e, de visualização procediment al, pas-
sa por out ra sit uação, quando o relat or, em seu vot o, não f un-

38
O cont radit ório deve ser vist o como direit o de inf luência, Cabral delineia
bem essa visão, a qual deve ser preponderant e no processo civil como um
t odo, mas, de sobremaneira, no microssist ema de f ormação de prece-
dent es, com o direit o de qualquer part icipant e desse procediment o inf lu-
enciar na decisão ult erior f ormada como precedent e: “ E, como vist o, se o
processo é um dos cenários onde produz o Est ado decisões vinculat ivas,
podemos af irmar que os sujeit os processuais, at ravés de suas manif est a-
ções no curso do processo, exercem prof unda inf luência no exercício do
poder est at al. No âmbit o processual, a dinâmica do poder abrange a
prát ica da inf luência. Se apenas as decisões do magist rado são vinculat ivas
e imperat ivas – manif est ação de poder – os at os dos demais sujeit os
processuais incluem-se no espect ro maior de inf luir na decisão. (…) A
inf luência, como t emos sust ent ado, é ref lexiva: dif usa e mult idirecional,
part indo de t odos e absorvida por t odos.” CABRAL, Ant onio do Passo.
Cont radit ório como inf luência. Dicionário de Princípios Jurídicos. Orgs:
Flávio Galdino; Silvia Faber Torres; Ricardo Lobo Torres; Eduardo Takemi
Kat aoka. Rio de Janeiro: ELSEVIER – CAM PUS, 2011, p. 199.

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 37


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

dament a em argument os novos, soment e analisando aqueles que


f oram suscit ados pelas part es, seja na f ase recursal ou ant erior-
ment e.
Com a apresent ação pelo relat or do seu vot o ao colegiado,
co m a d evi d a ab er t u r a p ar a o d eb at e, se o u t r o j u l g ad o r –
desembargador ou minist ro, ao vot ar, apresent ar out ro f unda-
ment o, t ot alment e novo ao processo, sem as part es – recorrent e
ou recorrido – t erem se manif est ado sobre a quest ão, seja na
f ase r ecu r sal o u an t er i o r m en t e, d eve o p r esi d en t e d aq u el e
co l eg i ad o su sp en d er o j u l g am en t o d aq u el e r ecu r so p ar a
oport unizar as part es se manif est arem sobre a quest ão? A ques-
t ão é complexa e espinhosa, por ser uma novidade impact ant e
nos Tribunais, sobret udo sobre como os acórdãos devem ser
const ruídos e f undament ados nos vot os pelos colegiados.
Ent ret ant o, a respost a à quest ão deve ser posit iva, com a ne-
cessidade de suspensão do julgament o para a manif est ação das
part es, uma vez que exist e um novo f undament o suscit ado por
um julgador no meio do julgament o daquele recurso, não im-
p o r t an d o se a q u est ão é f át i ca o u j u r íd i ca, so m en t e co m a
pert inência da verif icação se as part es manif est aram-se ou não
sobre a mat éria ali levant ada, com duas alt ernat ivas: em caso ne-
gat ivo, sem a exist ência da manif est ação das part es, deve o presi-
dent e do colegiado suspender o julgament o, para que o relat or
int ime as part es para manif est ação sobre t al f undament o; em caso
posit ivo, com a verif icação de que as part es t iveram a oport unida-
de processual de manif est arem sobre t al mat éria – t endo cada qual
realizado ou não a manif est ação – o julgament o prossegue, com
a ressalva da necessidade da f undament ação sobre essa exist ên-
cia de manif est ação das part es sobre aquele pont o.
No âmbit o dos t ribunais, o art . 933, § 1° corrobora com essa
possibilidade imput ada pelo art . 10, já que se “ a const at ação
ocorrer durant e a sessão de julgament o, esse será imediat amen-
t e suspenso a f im de que as part es se manif est em especif icamen-
t e” . Parece quase que insano que um colegiado, ao f undamen-
t ar um acórdão em mat éria nova, por causa de um vot o de vogal
– desembargador ou minist ro – suspenda um julgament o para
ouvir as part es sobre t al f undament o 39. É novo, é dif erent e, mas
é essencial para que não haja nulidade sobre aquele pont o,

39
Enunciado n. 60 da JDPC: É direit o das part es a manif est ação por escrit o,
no prazo de cinco dias, sobre f at o supervenient e ou quest ão de of ício na
hipót ese do art . 933, § 1º, do CPC, ressalvada a concordância expressa
com a f orma oral em sessão.

38 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

conf orme preconiza o art . 10 em caso de exist ência de uma deci-


são-surpresa.
Se, durant e o julgament o recursal, os procuradores das par-
t es est iverem present es e surgir t al quest ão nova, f át ica ou jurí-
dica, exist ia a possibilidade de ali, durant e a sessão, abrir-se o
cont radit ório? Uma dúvida que Bueno responde, acert adamen-
t e, é que “ nada há que impeça, cont udo, que, present es os pro-
curadores, seja, na própria sessão, colhida a manif est ação, se
t odos est iverem de acordo com ist o, para que o julgament o seja
ret omado” (BUENO, 2015, p. 751). Essa visão é possível, cont udo
rara, t ant o de acont ecer dos procuradores de ambas as part es
est arem ali present es na sessão de julgament o recursal e, ainda,
se est iverem, concordarem em manif est arem naquele moment o;
se houver discordância, deve ser concedido o prazo de cinco dias,
est ipulado pelo próprio art . 933.
Se o recurso est iver com o det erminado julgador para a
prolação de vot o-vist a, conf orme já vimos, a dúvida paira se esse
vogal que pediu vist as, ao analisar a demanda, em seu conven-
ciment o ent ender que o f undament o – f át ico ou jurídico – não
f oi enf rent ado na demanda, t ampouco no recurso e necessit a
ser incluído no debat e, o que deve ser f eit o? Esse julgador vo-
gal, apesar de part icipar do julgament o, não t em vinculação
administ rat iva com o recurso, não podendo, ele mesmo, int imar
as part es para manif est arem, t endo, ent ão, de remet er para que
o relat or o f aça.
Com a det erminação de manif est ação em prazo para as par-
t es, t ranscorrendo est e, o relat or deve levar a quest ão para a
apreciação do colegiado.
Per t i n en t e é a d i f er en ci ação so b r e a q u est ão d e f at o
supervenient e dos f undament os apreciáveis de of ício, o que já
se t rat ou ant eriorment e.
As quest ões f át icas est ão at reladas aos juízos de primeiro
grau, com a const rução de uma f ase procediment al específ ica
para as provas e f at os. No ent ant o, é possível que, após a prolação
de uma decisão e com um recurso para ser julgado, ocorra um
f at o ou se descubra um f at o supervenient e at inent e àquele re-
curso a ser julgado. Est e deve ser considerado para o julgamen-
t o d o r ecu r so , co m a ap r eci ação d o co l eg i ad o so b r e a su a
pert inência, após enf rent ar a sua superveniência.
Um f at o supervenient e é um f at o que não exist ia ant es da
decisão ou um f at o que exist ia, porém sem conheciment o de sua
exist ência. Em ambas as hipót eses, de of ício ou a requeriment o, o
relat or pode enf rent ar t al f at o, dada a sua superveniência. O

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 39


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

mundo recursal e dos Tribunais, por mais f echados cognit ivament e


que sejam pela f undament ação recursal, deve considerar o f at o
supervenient e pelo seu carát er excepcional.
O art . 933 t orna-se f undament al para que esse enf rent a-
ment o pelo juízo sobre f at o supervenient e não seja surpresa para
as part es, com o prazo para a manif est ação.

2.5 A m odif ica çã o do v ot o


Após a prolação de cada vot o pelos magist rados, ao f inal, o
president e do colegiado realiza a cont agem dos vot os para a pro-
clamação do result ado. At é o moment o da proclamação, é possí-
vel a alt eração de vot o, qualquer que seja o magist rado, desde o
relat or, bem como os demais, ressalvando algum que já realizou
o vot o e f oi af ast ado ou subst it uído da f unção, não part icipando,
desse modo, daquele moment o da proclamação, de acordo com
a t écnica de modif icação nos moldes do § 1º do art . 941.
Com a proclamação do result ado, f inda-se o julgament o com
a prest ação jurisdicional de conheciment o pelo Tribunal dada
como encerrada.
Uma sit uação muit o comum e que deve ser considerada é a
impossibilidade de modif icação de vot o de membro do colegiado
que já prof eriu o vot o e não f az mais part e daquele colegiado
quando do prosseguiment o do julgament o. O art . 941, § 1º dis-
põe, em sua part e f inal, que a possibilidade de modif icação de
vot o não pode ocorrer quando o juiz f oi af ast ado ou subst it uído.
M uit o comum é a subst it uição dos membros por f érias, licença e
out ros mot ivos, com a convocação de out ros julgadores para ocu-
par o lugar durant e um período t emporal provisório. Em uma si-
t uação dest a, os juízes convocados vot am como qualquer out ro
membro do colegiado, e o seu vot o não pode ser revist o pelo juiz
t it ular, quando o período provisório cessar, impedindo qualquer
alt eração.
O mesmo ocorre quando há a aposent adoria ou o f alecimen-
t o de det erminado membro do colegiado, com os seus vot os em
julgament os ainda pendent es cont inuando a t er validade, com a
impossibilidade do novo membro em alt erar aquele vot o.

3 D o re sult a d o d o julg a m e nt o co le g ia d o : a co nst ruçã o d o


acórdão
Após a vot ação de t odos os membros do colegiado, chega-
se ao r esu l t ad o f i n al d o p r o cesso , o b t en d o -se, p el a si m p l es

40 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

somat ória dos vot os prof eridos, o julgament o do recurso ou do


processo, com hipót eses de result ado de julgament o por unani-
midade ou por maioria de vot os.
Se os vot os prolat ados ensejaram um result ado pelo não
conheciment o do recurso, o colegiado não deve mais enf rent ar
q u al q u er m at ér i a, p el o f at o d e q u e al g u m r eq u i si t o d e
admissibilidade impede o julgament o de mérit o recursal. Logo,
o result ado será pelo recurso não conhecido.
Em t ermos de f inalidade, o recurso enseja duas impugnabili-
dades: (i) error in procedendo; e (ii) error in judicando.
Em ambas as f inalidades, o result ado, processualment e, será
idênt ico: proviment o, parcial proviment o ou improviment o. No
ent ant o, o result ado prát ico desses será dif erent e, uma vez que
no error in procedendo proporciona a anulação; já o error in
judicando será pela ref orma da decisão ant erior.
Se o result ado f or pelo improviment o do recurso, qualquer
que seja a f inalidade – error in procedendo ou error in judicando
–, a decisão ant erior t em o seu cont eúdo mant ido, mesmo que
haja uma subst it uição dessa decisão pela nova decisão; ent re-
t ant o, o recurso não conseguiu nenhum êxit o para anular ou
ref ormar a decisão, mant endo-a, mat erialment e, int act a.
Se o Tribunal ent ender pela anulação da decisão ou do pro-
cesso, com o proviment o do recurso para t ant o, o impact o será a
reabert ura para uma nova decisão, seja para a remessa ao juízo
ant erior, seja pelo julgament o de mérit o pelo próprio Tribunal.
A decisão judicial ant erior já não exist e mais por causa do julga-
ment o e do result ado dest e pelo Tribunal.
Já se o error in judicando f or pelo proviment o recursal, há a
alt eração da decisão ant erior. Dessa maneira, o ef eit o subst it ut ivo
est á just ament e at relado a est e result ado, no condão dest e em
subst it uir a decisão recorrida nos limit es do que f oi recorrido, bem
como nos limit es do proviment o, se t ot al ou parcial.
Esse cont eúdo, qualquer que seja, do acórdão será o con-
dut or dos próximos passos processuais e o grau de inf luência da
decisão recursal na decisão ant erior.

3.1 A procla m a çã o do re sult a do


Encerrados os vot os de t odos os membros do colegiado, o
president e é responsável pela proclamação do result ado, con-
f orme o dispost o no art . 941.
Ant es de proclamar o result ado, o president e deve colher
cada vot o, de cada membro, sobre cada pont o decisório pert i-

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 41


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

nent e ao julgament o, o que não é at o f ácil, dependendo do


recurso, uma haja vist a que, no mínimo, t odo recurso t em a vo-
t ação de admissibilidade e mérit o, mas no mérit o pode cont er
preliminares e capít ulos do recurso, com um vot o para cada pont o
e a necessidade da proclamação do result ado específ ica sobre
cada um dos pont os.
O result ado pode ser simples, na conjunção ent re conheci-
d o e n ão co n h eci d o co m p r o vi d o , p ar ci al m en t e p r o vi d o o u
improvido, mas t ambém pode ser mais complexo, com diversos
proviment os, parciais proviment os ou improviment os. Cada ca-
pít ulo do recurso t erá o seu próprio result ado e deve ser consi-
derado no result ado e em sua proclamação de modo específ ico.
Logo, a colheit a dos vot os pelo president e é at o ant erior à
proclamação e base f ormada dest a.

3.2 La v ra t ura , publica çã o do a córdã o e a e m e nt a


Proclamando-se o result ado, a f ase a seguir passa a ser da
lavrat ura do acórdão, a t ransf ormação do julgament o em um do-
cument o para inserção dent ro do processo. A sessão de julgamen-
t o t em por princípio a oralidade, necessit ando a redução a t ermo
dos debat es e dos vot os ali cont idos, para se t ransf ormar em um
document o a ser anexado aos aut os de f orma f ísica quando assim
o processo f or e, de f orma elet rônica, quando sua f orma f or virt ual.
Em t odos os casos, o acórdão deve t er as mesmas f ormalida-
des de uma sent ença, conf orme o art . 489; no ent ant o, a part e
disposit iva será a junção dos vot os de cada julgador, de acordo
com o result ado daquela vot ação. Nessa visão, necessária a exis-
t ência de relat ório, f undament ação de t odos os posicionament os
e, clarament e, a conjunção dest es.
A f unção de lavrat ura do acórdão f ica a cargo do relat or,
ainda que seja o novo relat or pela modif icação da relat oria pela
divergência vencedora, mas sempre será a f igura do relat or.
Além dos vot os em sua int egralidade, o relat or deve at en-
t ar-se para que o acórdão cont enha a ement a. Est a seria o resu-
mo do seu julgament o 40, com as palavras-chave f undament ais

40
“ At ent e-se em que a ement a não é o acórdão, cujo t ext o prevalece sem-
pre sobre o dela, em caso de divergência. Também não const it ui seu rela-
t ório, f undament ação, ou disposit ivo, que devem const ar do próprio
acórdão, (...) A ement a dos acórdãos é muit o út il, num t empo em que
prolif era o armazenament o de dados, pois f acilit a a pesquisa na jurispru-
dência.” BERM UDES, Sérgio. A ref orm a do código de processo civil.
São Paulo: Saraiva, 1996, p. 126.

42 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

que permeiam o acórdão, bem como delinear, sint et icament e, a


relação ent re os f undament os e o result ado do que ali se jul-
gou. Deve, ainda, cont er as part es o result ado do recurso ou do
processo. M uit as vezes, a ement a é mais cit ada do que o acórdão
em si, sendo um resumo dest e e, por isso, o relat or deve t er o
máximo cuidado, não só na lavrat ura do acórdão, mas para que
a ement a seja uma pequena most ra do que realment e signif ica
o result ado do julgament o.
Com o acórdão lavrado e pront o, o relat or deve remet ê-lo
para a publicação em dez dias no órgão of icial. Em caso excepci-
onal, quando não houver a publicação no prazo de 30 dias, as
not as t aquigráf icas servirão como acórdão, lavrado por essa
excepcionalidade pelo president e do órgão f racionário.
Publicado o acórdão, o julgament o do recurso, remessa neces-
sária ou compet ência originária encerra-se complet ament e, t ornan-
do perf eit o enquant o at o judicial, com o início do prazo para a
int erposição dos próximos recursos cabíveis, se f or o caso. Para f ins
de publicação, geralment e publica-se soment e a ement a com o
result ado, equivalendo, para t ant o, como o próprio acórdão.
Se a publicação cont iver equívocos, como a ausência de
ement a ou erros, pode ser sanada com a correção do vício, o
que não invalida o próprio julgament o.

3.3 Té cnica de julga m e nt o do a rt . 942: t é cnica de julga m e nt o


nã o unâ nim e
No CPC/2015, houve a inovação de não permit ir o result ado
da não unanimidade na apelação, conf orme o art . 94241. Nessa

41
Sobre essa t écnica de julgament o, de modo aprof undado: DIAS, Francisco
Barros. Técnica de julgament o: criação do novo CPC (LGL\2015\1656)
(Subst it ut ivo dos Embargos Inf ringent es). Coleção Novo CPC - Dout ri-
n a Se l e ci o n a d a - v. 6 - Pr o ce sso n o s Tr i b u n a i s e M e i o s d e
Im pugnação às Decisões Judiciais. Orgs: DIDIER JR., Fredie; FREIRE,
Alexandre; M ACEDO, Lucas Buril de; PEIXOTO, Ravi. Salvador: JusPodivm,
2015; ARRUDA ALVIM , Teresa. Ampliação da colegialidade como t écnica
de julgament o. In: WAM BIER, Luiz Rodrigues; ARRUDA ALVIM , Teresa
(Coord.). Tem as essenciais do novo CPC: análise das principais alt e-
rações do sist em a processual civil brasileiro. São Paulo: Ed. RT, 2016;
LEM OS, Vinicius Silva. A t écnica de julgament o não unânime e as suas
implicações procediment ais. Revist a Brasileira de Direit o Processual.
Vol. 101, p. 300-320, Belo Horizont e: Fórum, 2018; KOZIKOSKI, S. M .;
PUGLIESE, W. S.. Considerações sobre a ampliação do quórum no julga-
ment o da apelação. Revist a de Processo. Vol. 276, Ano 43, p. 237-261,
São Paulo: Ed. RT, 2018.

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 43


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

sit uação, com a vot ação t erminando com um vot o divergent e,


há a necessidade de convocar novos julgadores a part icipar do
julgament o. Essa quant idade de julgadores deve ser em núme-
ro possível para revert er a demanda em f avor da minoria, o que
leva, na hipót ese da apelação, à convocação de mais dois magis-
t rados, no mínimo.
Esses novos membros do colegiado, para esse julgament o,
podem ser aqueles que já est iverem present es na sessão, se f or o
caso de colegiado que t rabalhe com órgãos f racionários de cin-
co membros, mesmo que ainda em segundo grau. Por out ro lado,
se f or colegiado de soment e t rês membros, ocorrerá a suspensão
da sessão, com a convocação dos demais, mediant e o regiment o
int erno de cada Tribunal, com a consequência de adiament o da
resolução do recurso ou demanda para nova sessão de julga-
ment o.
Nesse pont o, essa t écnica de julgament o subst it uiu a espé-
cie recursal dos embargos inf ringent es42, deixando-o com um
procediment o de of ício. Não det ém carát er recursal, t ampouco
nat ureza jurídica nesse sent ido, soment e será uma t écnica apro-
priada para o julgament o não unânime. Não há, na suspensão
da sessão para aquele julgament o, uma decisão ainda, pelo f at o
de que o próprio julgament o f oi int errompido, inexist indo, na-
quele moment o, uma decisão e, consequent ement e, não há como
se imaginar ser um recurso. Out ro pont o dessa visão, um recurso
det ém a volunt ariedade, com a int erposição pela part e prejudi-
cada, f at o que não será idênt ico nessa t écnica, uma vez que,
necessariament e, se procederá ao novo julgament o aut omat ica-
ment e quando houver a incidência de t al sit uação.
Ent ret ant o, nessa t écnica não se repet iram os mesmos requi-
sit os exist ent es nos embargos inf ringent es, como no art . 530 do
CPC/73, onde, além da não unanimidade, era necessária a sen-
t ença de mérit o e a necessária ref orma da decisão. Na leit ura do
art . 942, bast a a exist ência da não unanimidade e, com isso, a

42
“ A n o r m a f az u m a r el ei t u r a d a d i sci p l i n a d o s an t i g o s em b ar g o s
inf ringent es. Subst it uiu-se o que t radicionalment e era um recurso por
uma espeìcie de t eìcnica de julgament o que permit e ao int eressado t en-
t ar f azer prevalecer a t ese acolhida no vot o vencido. Preve-se uma mo-
dalidade de novo julgament o – ou prolongament o do julgament o ant eri-
or – na apelac’aÞo, ac’aÞo rescisoìria e agravo de inst rument o quando a
p r i m ei r a d eci saÞo f o r n aÞo u n an i m e, o b ser vad as as co n d i c’ o Þes
est abelecidas no caput e paraìgraf os.” RAM OS NETO, New t on Pereira.
Coment ário ao art . 942. STRECK, Lenio. Com ent ários ao código de pro-
cesso civil, 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 1.262.

44 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

divergência f ormada incidirá na necessidade desse procedimen-


t o. Essa é a regra para a apelação 43.
A t écnica do art . 942 – ou t écnica de julgament o não unâni-
me44 – se est ende para a mesma sit uação na ação rescisória em
que se rescindiu a sent ença e no agravo de inst rument o que
julga part e do mérit o da demanda, ambos se t iverem t ambém
julgament os não unânimes. M as, nessas hipót eses, houve uma
curiosidade: além da não unanimidade, necessit a-se de mat éria
de mérit o, ref orma e divergência. A pergunt a f ica: duas regras
diversas ou um erro do legislador na apelação 45?
Freire ent ende que há soment e uma regra e que o sist ema
que subst it uiu os embargos inf ringent es necessit a de t odos os
requisit os: sent ença de mérit o, ref orma da decisão e divergên-
cia46. Todavia, creio que não t er como chegar nessa int erpret a-
43
“ na hipót ese da apelação duas grandes alt erações rest aram bem reveladas,
quais sejam: o acórdão ser por maioria confirmando ou reformando sentença,
o que nos embargos inf ringent es só é possível se f or ref ormando a sent ença.
A decisão pode t er decidido mérit o da causa ou não, dif erent ement e dos
embargos infringentes onde só é cabível quando julgado for sobre o mérito da
causa.” DIAS, Francisco Barros. Técnica de julgament o: criação do novo CPC
(subst it ut ivo dos embargos inf ringent es). Coleção Novo CPC - Dout rina
Selecionada - v.6 - Processo nos Tribunais e M eios de Im pugnação às
Decisões Judiciais. Orgs: DIDIER JR., Fredie; FREIRE, Alexandre; M ACEDO,
Lucas Buril de; PEIXOTO, Ravi. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 55.
44
Câmara adot a out ra nomenclat ura para essa t écnica: “ Nest e caso, apli-
ca-se uma t écnica de complement ação de julgament o regulada pelo art .
942.” CÂM ARA, Alexandre Freit as. O novo processo civil brasileiro.
2. ed. São Paulo: At las, 2016, p. 523.
45
“ Nesse caso, há duas possíveis int erpret ações. O legislador, por t er criado
uma t écnica de julgament o bem mais simples e inf ormal que a gerada
pelos embargos inf ringent es, t eria decidido conscient ement e alargar seu
cabiment o para qualquer julgament o por maioria de vot os na apelação.
Ou t eria sido uma omissão involunt ária do legislador, de f orma a ser cabí-
vel t al t écnica de julgament o soment e na apelação julgada por maioria de
vot os que ref orma a sent ença de mérit o. Acredit o mais na segunda hipó-
t ese, porque, se a pret ensão era ampliar o cabiment o, não t eria sent ido
cont inuar a limit á-lo à espécie de result ado na ação rescisória e no agravo
de inst rument o. Ainda assim, é t ema que gerará debat es, porque numa
int erpret ação lit eral qualquer julgament o por maioria de vot os na apela-
ção leva à aplicação do art . 942 do Novo CPC, enquant o numa int erpret a-
ção sist êmica, soment e na hipót ese de o julgament o ref ormar sent ença de
mérit o.” NEVES, Daniel Amorim Assumpção. M anual de direit o proces-
sual civil. Volume único. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 1.845.
46
FREIRE, Rodrigo da Cunha Lima. Falando de Processo - M esa Redonda
sobre Recursos com a part icipação de Rodrigo M azzei, Gilbert o
Bruschi, Rodrigo da Cunha Lim a Freire e Ant ônio Carvalho. <ht t ps://
w w w.yout ube.com/w at ch?v=CQvus7Brb_M >.

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 45


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

ção 47, ent endo como corret o que na apelação houve uma ampli-
t ude maior, um aument o da sua possibilidade, t ot alment e de
modo diverso das out ras duas hipót eses. E qual o mot ivo dessa
regra diversa? Não há uma explicação para t al dist inção no
regrament o, t alvez seria pelo f at o de que a apelação t em uma
incidência maior e, assim, uma import ância t ambém de mesmo
modo; cont udo, parece muit o mais uma redação at écnica do que
uma real escolha do legislador.
No ent ant o, há de se seguir essa dualidade de regras48, uma
vez que há t al previsão no caput do art . 942 e, ainda, em uma
sit uação de um recurso que t enha soment e a divergência e não
f or ut ilizado esse sist ema de vot ação, pode conf igurar nulidade
por causa da não ut ilização, com event ual recurso para discut ir-

47
Nery Jr. e Nery ent endem pela manut enção sist êmica dos requisit os dos
embargos de divergência: “ A sent ença f undament ada no CPC 485 não
est á sujeit a a ele. M uit o embora o CPC 942 não consigne expressament e
essa exigência, como o f azia o CPC/1973 530, ela é dedut ível do cont ext o,
porquant o admit e a inst auração do procediment o em caso de agravo de
inst rument o, quando a decisão int erlocut ória houver parcialment e deci-
dido o mérit o e f or ref ormada.” NERY JR, Nelson; NERY, Rosa M aria de
Andrade. Código de Processo Civil Com ent ado. 16. ed. São Paulo: Ed.
RT. 2016, p. 2.003.
48
Zanet i Jr. ent ende pela aplicação de duas regras, de acordo com os mol-
des que a lei implica: “ Na apelação a t écnica incide em t odas as hipót eses
(art . 942, caput ). No agravo de inst rument o incide em t odos os casos que
decidam o mérit o (art . 942, § 3.º, II), ou seja, mant ém-se a mesma linha
de ent endiment o que exist ia no Enunciado 255 da Súmula do STJ. Est e
deverá ser cancelado ou modif icado, uma vez que não há mais os agravos
ret idos, t ampouco os embargos inf ringent es, mas a lógica é a mesma. O
inciso exige, além da decisão do mérit o no agravo, que ocorra a ref orma
da decisão. Nest es t ermos adot a limit ação parecida com a previst a na
redação do art . 530, CPC/1973, após a ref orma da Lei 10.352 (“ Cabem
embargos inf ringent es quando o acórdão não unânime houver ref orma-
do, em grau de apelação, a sent ença de mérit o, ou houver julgado proce-
dent e ação rescisória.” ) (…) Caberá, ainda, a ut ilização da t écnica de
ampliação do julgament o colegiado quando na ação rescisória o result a-
do f or a rescisão da sent ença (art . 942, § 3.º, I). Nest es t ermos adot a
limit ação parecida com a previst a na redação do art . 530, CPC/1973, após
a ref orma da Lei 10.352, já t ranscrit o. Vimos que est a limit ação est á
present e em ambos incisos, ou seja, no agravo e na ação rescisória, mas
não est á present e no caput . Dist o result aram algumas perplexidades,
pois para a mesma t écnica f oram adot adas duas lógicas dist int as.” ZANETI
JR., Hermes. Coment ários ao art . 942. In: CABRAL, Ant ônio do Passo;
CRAM ER, Ronaldo (Coord.). Com ent ários ao novo Código de Proces-
so Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 1.352.

46 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015

se os moldes objet ivos da vot ação e, inf elizment e, a lei colocou


que na apelação soment e necessit a da não unanimidade49.
O int uit o dessa t écnica de julgament o não unânime est á
em propiciar um maior debat e sobre a f ormação de uma decisão
em que há not ória divergência em colegiados de soment e t rês
membros – aqueles que julgam apelações e agravos de inst ru-
ment o. A possibilidade de que uma f alsa maioria50 seja f ormada,
com uma composição daquele órgão f racionário que não repre-
sent a o posicionament o majorit ário do Tribunal, é dissipada com
essa t écnica, just ament e por possibilit ar a ampliação do colegiado
e, t ambém, de debat e.
Out ro int uit o é permit ir a melhor qualidade dos debat es
sobre mat érias que t êm divergência, dada a f unção nomof ilácica
dos Tribunais, ainda que sejam em grau revisional, com apela-
ções e agravos de inst rument o 51.

49
Nesse sent ido que já def iniu o STJ: (RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL.
CPC/2015, ART. 942. TÉCNICA DE AM PLIAÇÃO DE JULGAM ENTO. DECI-
SÕES COM M A IOR GRA U DE CORREÇÃ O E JUSTIÇA . ECONOM IA E
CELERIDADE. APELAÇÃO NÃO UNÂNIM E QUE REFORM A OU M ANTÉM A
SENTENÇA IM PUGNADA. EM PREGO AUTOM ÁTICO E OBRIGATÓRIO. (…)
3. Cont udo, dif erent ement e dos embargos inf ringent es do CPC/1973 -
que limit ava, no caso da apelação, a incidência do recurso aos julgamen-
t os que result assem em ref orma da sent ença de mérit o -, a t écnica de
julgament o previst a no CPC/2015 deverá ser ut ilizada quando o result a-
do da apelação f or não unânime, independent ement e de ser julgament o
que ref orma ou mant ém a sent ença impugnada. (...) STJ - REsp: 1733820
SC 2018/0077516-2, Relat or: M in. LUIS FELIPE SALOM ÃO, Dat a de Julga-
ment o: 02/10/2018, T4 - QUARTA TURM A)
50
Uma f alsa maioria é aquela em que a composição de um det erminado
órgão f racionário t em como maioria um ent endiment o que a conjunção
de t odos os órgãos de um Tribunal não t em. Um exemplo seria um Tribu-
nal que t em quinze membros que julgam a mesma mat éria, com um
ent endiment o de t reze que seriam pelo posicionament o A, já dois seriam
pelo B. Todavia, pode ocorrer de um colegiado ser f ormado por est es dois
membros que vot ariam B nessa mat éria, f ormando, naquela sit uação,
uma f alsa maioria.
51
“ Há que se aceit ar, dest a f orma, que o sist ema recursal f oi conect ado
com out ras t écnicas de gerenciament o das demandas repet it ivas. Ist o
porque, além de est arem volt ados à sat isf ação do inconf ormismo da par-
t e que sucumbiu, os recursos at endem ainda uma f unção nomof ilácica,
garant indo a prot eção do direit o objet ivo e a int egridade dos preceden-
t es e julgados das Cort es Superiores” KOZIKOSKI, Sandro M arcelo. Sist e-
m a recursal no CPC/2015. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 28

Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 47


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

Conclusão
Diant e da proposição do recort e dest e t rabalho, o est udo
present e delineou as diret rizes const rut ivas do novel ordenament o
processual para a t ramit ação procediment al dos recursos, remes-
sas necessárias e ações de compet ência originária, t omando como
base o sist ema recursal.
Dessa maneira, o sist ema preconizado pelo compreendido
ent re os art s. 929 e 946 t orna linear o modo como um processo
caminha na sua t ramit ação, desde o prot ocolo, regist ro e dist ri-
buição at é o seu julgament o.
As inovações são grandes nesse sist ema, como a remodelação
da decisão monocrát ica pelo relat or, com a inserção const rut iva do
art . 932 para delinear melhor as hipót eses de ut ilização do julga-
ment o unipessoal pelo relat or; a necessidade de int erligação do
princípio da primazia ao julgament o de mérit o e o cumpriment o
dos requisit os de admissibilidade recursal, com a possibilidade de
sanabilidade previst a no art . 932, parágraf o único; a organização
da suscit ação de f at o supervenient e ou mat éria of iciosa, nos mol-
des do art . 933, com a int erligação ao art . 10 e a ef et ividade de um
cont radit ório prevent ivo e inf luenciant e; o melhor desenho da sus-
t ent ação oral e a possibilidade dest a ser por videoconf erência, pela
dicção do art . 937; a inserção da t écnica de julgament o não unâni-
me para a apelação em geral e hipót eses do agravo de inst rumen-
t o e ação rescisória em Tribunal de segundo grau; a const rução
colet iva da vot ação e do acórdão, dent re out ras hipót eses.
Todos est es pont os enf rent ados diant e da sist emát ica do
CPC/2015 demonst ram um procediment al mais realíst ico ao cot i-
diano dos Tribunais e as inovações exist ent es, com um panora-
ma sobre os processos nesse grau de jurisdição.

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48 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20


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Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20 49


VINICIUS SILVA LEM OS A RTIGO

KOZIKOSKI, S. M .; PUGLIESE, W. OLIVEIRA, MIRANDA, Pedro Miranda


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NEVES, Daniel Amorim Assumpção.


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50 Revista de Direito da ADVOCEF – Ano XVI – N.º 30 – Nov 20

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