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A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS DIANTE DA SISTEM ÁTICA DO CPC/2015
RESUM O
Est e t rabalho analisa a const rução do procediment o
do processo nos Tribunais, com a análise do rit o propost o
pelos art s. 929 at é 946 do Código de Processo Civil, com o
det alhament o das diversas inovações, t ais como: a nova
d eci são m o n o cr át i ca; a si st em at i zação d o p r i n cíp i o à
primazia ao mérit o; a const rução colegiada da vot ação; a
manif est ação de of ício; a t écnica de julgament o não unâ-
nime, dent re out ros pont os e inovações t razidas pelo novo
ordenament o processual.
ABSTRACT
This paper examines t he const ruct ion of t he procedure
of t he process in t he Court s, w it h t he analysis of t he proposed
rit e by Art icles 929 t o 946 of t he Code of Civil Procedure,
Int rodução
Os Tr i b u n ai s t êm u m a p r o ced i m en t al i d ad e d i ver sa d a
t ramit ação dos processos em primeiro grau, com diret rizes pró-
prias, compet ências específ icas e at os processuais próprias. Dian-
t e disso, há uma const rução da ordem dos processos nos Tribu-
nais pelo próprio ordenament o processual.
No CPC/2015, o legislador organizou a sist emát ica procedi-
ment al no âmbit o dos Tribunais de uma maneira mais prát ica,
t razendo-a para moment o ant erior ao capít ulo dos recursos, t ant o
a t eoria geral quant o as suas espécies, deixando a visão do pro-
cesso nos Tribunais de modo sequencial, pormenorizando, de
f orma clara, o f uncionament o dos Tribunais, para, soment e após,
explicar o f uncionament o de cada recurso.
Desse modo, há uma part e do ordenament o processual –
art s. 929 at é 946 do CPC – que cuida da procediment alidade dos
processos nos Tribunais, com delineament o de diret rizes para a
const rução de um t râmit e geral nesse âmbit o de compet ência
jurisdicional.
Diant e disso, est e est udo t em o objet o de delinear o t râmit e
procediment al nos Tribunais, com o det alhament o do t râmit e
que cada recurso, remessa necessária ou ação de compet ência
originária percorre no t ranscorrer processual nesse grau de juris-
dição, dada a exist ência de diversas inovações e adapt abilida-
des para um novo ordenament o processual.
O int uit o é o devido ent endiment o da t ramit ação procedi-
ment al no âmbit o dos Tribunais, a const rução da colegialidade,
a vot ação de cada membro, as peculiaridades dest a jurisdição,
em regra, revisional, com o ent endiment o dif erencial sobre o
procediment o em primeira inst ância.
1
Há uma dif erença ent re processo e procediment o e esse capít ulo é mais
at inent e a procediment o. Sobre a conceit uação de procediment o: “ O pro-
cediment o é ent endido como uma sucessão de at os int erligados de ma-
neira lógica e consequencial visando a obt enção de um objet ivo f inal.
Cost uma-se dizer que o procediment o é a ext eriorização do processo, seu
aspect o visível, considerando-se que a noção de processo é t eleológica,
volt ada para a f inalidade de exercício da f unção jurisdicional no caso
concret o, enquant o a noção de procediment o é f ormal, signif icando essa
su cessão d e at o s co m u m o b j et i vo f i n al .” NEVES, Dan i el A m o r i m
Assumpção. M anual de direit o processual civil. Volume único. Salva-
dor: JusPodivm, 2016, p. 196.
2
“ Em out ras palavras, a compet ência f uncional e mat erial dos órgãos in-
t ernos dos t ribunais deve ser def inida em seus regiment os int ernos. A
compet ência mat erial e f uncional do t ribunal é est abelecida pela legisla-
ção (em sent ido amplo); o regiment o int erno dist ribui essa compet ência
do t ribunal int ernament e. O regiment o int erno dos t ribunais é norma
O primeiro at ende a crit érios objet ivos, com sort eio para a
esco l h a d o ó r g ão e d o r el at o r, co n t em p l an d o t am b ém a
alt ernat ividade5, não possibilit ando nenhum órgão ou relat or
f icar com excesso de demandas dist ribuídas, t ant o quant o ao
inverso, sort eando de modo a equacionar a divisão ent re os di-
f erent es órgãos. A out ra maneira de dist ribuição é a prevenção,
conf orme o art . 930, parágraf o único, que ocorre quando o re-
curso a ser dist ribuído é oriundo de um processo sobre o qual já
t eve recurso ant erior prot ocolado naquele Tribunal, ou ent ão
em processo conexo 6, t ornando necessária a dist ribuição dirigida
para o ant igo relat or do recurso ant erior 7.
Esse parágraf o único do art . 930 inst it ui a visão de que a
prevenção será pelo prot ocolo de recurso ant erior, independen-
t ement e, do julgament o do recurso, o que muda a sua própria
co n cep ção . Se u m a ação t eve u m ag r avo d e i n st r u m en t o
prot ocolado, nem há necessidade de julgament o dest e para a
prevenção, bast a o simples prot ocolo, se houver, post eriormen-
t e, uma apelação, est a deve ser dist ribuída para o mesmo órgão
e relat or, just ament e pela exist ência da prevenção 8. O mesmo
ocorre quando houver processos conexos no Tribunal, em com-
pet ência originária.
Caso não ocorra a dist ribuição por prevenção, quando f or
hipót ese necessária, as part es devem suscit ar a incompet ência
d aq u el e ó r g ão p o r d i st r i b u i ção eq u i vo cad a, so b p en a d e
preclusão.
Independent ement e da maneira de dist ribuição realizada,
após o at o, est e deve ser publicado na imprensa of icial 9, para
f ins de cumpriment o do requisit o da publicidade e, t ambém, para
inf ormar as part es sobre a nova compet ência do seu processo,
cient if icando-os da localização f ísica de seu recurso ou, se com-
pet ência originária, de sua demanda.
Realizado o at o da dist ribuição e a sua devida publicação,
os aut os serão remet idos em conclusão ao relat or, para análise
sobre o caso, seja recursal ou compet ência originária.
8
“ O CPC 930 par. ún. Cont ém uma espécie de regra geral acerca da pre-
venção para o julgament o de recursos e out ros f eit os de compet ência
originária dos t ribunais, que acaba nort eando out ras regras específ icas a
esse respeit o e consist e no est abeleciment o da prevenção a part ir da
primeira verif icação do f eit o, ainda que superf icial, f eit a pelo relat or.”
NERY JR, Nelson; NERY, Rosa M aria de Andrade. Código de processo
civil com ent ado. 16. ed. São Paulo: Ed. RT, 2016, p. 1.975.
9
“ Feit a a dist ribuição, cumpre divulgá-la. Com isso, at ende-se ao princípio
da publicidade, possibilit ando que as part es, seus procuradores e out ros
int eressados possam conhecer o órgão julgador, o relat or” CUNHA, Leo-
nardo José Carneiro da; DIDIER JR., Fredie. Curso de direit o processual
civil. M eios de im pugnação às decisões judiciais e processo nos
t ribunais. 5. ed. Salvador: JusPodivm, 2012, p. 565.
import ant e que o relat or t enha crit érios mais objet ivos para o
julgament o. Ent ret ant o, o próprio t eor do art . 12 f oi alt erado
ant es da vigência do CPC/2015, com a inclusão da palavra “ pre-
f erencialment e” , o que, de cert o modo, carrega um ar de possi-
bilidade.
Como deve ser encarado esse “ pref erencialment e” inserido
na lei, alt erando o art . 12? Várias são as visões possíveis. A pri-
meira, como se não houvesse mais uma exigência, como uma
quase revogação da norma, recaindo em uma liberdade para
que o juízo julgue ou analise o processo ou recurso, sem essa
ordem cronológica, o que leva a uma espécie de desvalorização
do próprio inst it ut o. Uma visão int ermediária seria de Cunha,
com uma int erpret ação de que o pref erencialment e seria uma
espécie de sugest ão de gest ão de gabinet e, como uma f orma
que, possivelment e, seja ef icaz, mas que pode ser relat ivizada
por out ra maneira de gest ão 10. Cont udo, nessa visão, o juízo
deveria inf ormar o seu modelo e, na ausência de um, deveria
adot ar, pref erencialment e, a ordem cronológica.
A t erceira visão seria a de Teresa Arruda Alvim, que é diver-
sa e, t alvez, a mais corret a, diant e da norma original e a nova,
com a alt eração da Lei nº 13.256/2016. Nessa concepção, a alt e-
ração propost a pelo pref erencialment e seria soment e no aspec-
t o de excepcionalidade11, com a necessidade de que o juízo, ao
10
“ O disposit ivo est abelece um modo de gest aÞo pelo juiz. Ao juiz cabe
observar, pref erencialment e, a ordem cronoloìgica de conclusaÞo. Nada
impede, poreìm, que o juiz valha-se de out ros meios de gest aÞo, expressa
e previament e est abelecidos e anunciados. NaÞo est abelecido, nem anun-
ciado, expressa e previament e, out ro meio de gest aÞo, cabe-lhe, pref e-
rencialment e, decidir at endendo aÌ ordem cronoloìgica de conclusaÞo.”
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Coment ário ao art . 12. STRECK, Lenio.
Com ent ários ao código de processo civil, 11. ed. São Paulo: Saraiva,
2016, p. 60.
11
“ Dessa f orma, a menos que se apague o art . 12 do Novo Código de Pro-
cesso Civil, não há como af irmar-se que passará a inexist ir a necessidade
de se observar a ordem cronológica de conclusão para julgament o das
demandas, mesmo porque a list a f icará necessariament e disponível no
meio elet rônico para consult a pelas part es (art . 12, §1º). A sua pura
inobservância, sem mot ivação específ ica pelo juízo compet ent e, ensejará
mandado de segurança e medidas correcionais cabíveis. Conclusão: não
se desesperem. A regra f icou mais “ suave” , mas ainda exist e. As exce-
ções aument aram, mas isso não signif ica que o juiz passará a t er “ cart a
branca” para desobedecer a “ f ila cronológica das demandas.” Quant o à
recorribilidade, nada mudou, porque já não cabia recurso da decisão que
passa uma demanda mais recent e na f rent e de uma mais ant iga na f ila.
12
O STF já se manif est ou sobre o art . 932, parágraf o único e int erpret ou
como const it ucional nos limit es correcionais para vícios f ormais, sem a
possibilidade de vícios subjet ivos como uma f undament ação inadequada.
Julgament os dos ARE 953.221 – STF e ARE 956.66 – STF.
13
“ Est e parágraf o acaba por limit ar um dos males que assolam a just iça
brasileira de hoje, qual seja, a jurisprudência def ensiva, e passa a exigir
uma just iça cent rada na ót ica dos jurisdicionados, privilegiando os julga-
ment os de mérit o. Nest e sent ido, a f alt a de document ação, por si só, não
deve gerar o não conheciment o do recurso, mesmo quando a documen-
t ação seja considerada obrigat ória para o julgament o. É o caso do agravo
de inst rument o, que, na nova redação, prevê expressament e a observân-
cia do dever de auxílio, art . 1.017, § 3.º. Na f alt a de cópia de qualquer
peça ou no caso de algum out ro vício que compromet a a admissibilidade
do agravo de inst rument o, deve o relat or aplicar o art . 932, parágraf o
único, e permit ir que o vício seja sanado no prazo de cinco dias.” ZANETI
JR. Hermes. Coment ário ao art . 932. In: CABRAL, Ant ônio do Passo;
CRAM ER, Ronaldo (Coord.). Com ent ários ao novo Código de Proces-
so Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 1.359.
14
“ Negar seguiment o é uma locução de grande envergadura, abrangendo
hipót eses de recursos desmerecedores de conheciment o, porque lhes f alt a
algum pressupost o de admissibilidade, e recursos desmerecedores de
proviment o, porque desamparados pelo direit o, pela jurisprudência ou
pela prova. No art . 557, port ant o, negar seguiment o é impedir que o
recurso siga para câmara ou t urma, em t odas hipót eses nas quais ele seja
clarament e f adado ao insucesso (recursos manif est ament e inadmissíveis
ou inf undados).” DINAM ARCO, Cândido Rangel. A ref orm a da ref orm a.
São Paulo: M alheiros, 2002, p. 183.
hora que será realizada, com ant ecedência mínima de cinco dias
ent re a publicação e a sessão de julgament o, sob pena de nuli-
dade16.
29
Enunciado n. 61 da JDPC: Deve ser f ranqueado às part es sust ent ar oral-
ment e as suas razões, na f orma e pelo prazo previst o no art . 937, caput ,
do CPC, no agravo de inst rument o que impugne decisão de resolução
parcial de mérit o (art . 356, § 5º, do CPC).
30
Cunha ent ende que na remessa necessária seria possível a sust ent ação
oral, o que discordamos: “ A sust ent ação oral, como t ambém se viu, con-
cret iza os princípios do cont radit ório e da ampla def esa, sendo permit ida
para viabilizar o debat e no julgament o, com que se conf ere à part e mais
um meio para exercer seu direit o de inf luência, cont ribuindo com o con-
venciment o dos julgadores. A sust ent ação oral concret iza, igualment e, o
princípio da cooperação, inserindo a part e, por seu advogado, no debat e
a ser t ravado pelos membros do órgão julgador. Diant e dos princípios do
cont radit ório, da ampla def esa e da cooperação, deve-se, na dúvida, op-
t ar pela admissibilidade da sust ent ação oral. Por t udo isso, é possível
haver sust ent ação oral na remessa necessária.” CUNHA, Leonardo José
Carneiro da; DIDIER JR., Fredie. Curso de direit o processual civil. M ei-
os de im pugnação às decisões judiciais e processo nos t ribunais.
13 . ed. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 64.
31
Est at ut o da Advocacia e da OAB – EOAB – Art . 7°. São direit os do advoga-
do: (...) X - usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou t ribunal,
mediant e int ervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida
em relação a f at os, document os ou af irmações que inf luam no julgamen-
t o, bem como para replicar acusação ou censura que lhe f orem f eit as.
lembrança das caract eríst icas da espécie e, com isso, diminui a probabili-
dade de acert o na decisão” BARBOSA M OREIRA, José Carlos Barbosa.
Com ent ários ao código de processo civil. 16. ed. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2011, p. 650.
35
Enunciado n o 649 do FPPC: A ret omada do julgament o após devolução de
pedido de vist a depende de inclusão em nova paut a, a ser publicada com
ant ecedência mínima de cinco dias, ressalvada a hipót ese de o magist rado
que requereu a vist a declarar que levará o processo na sessão seguint e.
dispost o no art . 10, abrindo prazo para que as part es manif es-
t em sobre mat éria que ent ende pert inent e para o julgament o,
sit uação essa que, na prát ica, parece quase impossível, mas caso
não seja adapt ada e realizada, t odos os acórdãos ou decisões
monocrát icas, que assim procederem, serão passíveis de anula-
ção por inf ringirem o ref erido art igo.
A pergunt a evident e passa pela exist ência ou não de um
prejulgament o nest a sit uação, quando o juízo, de cert a manei-
ra, ent ender que t al mat éria é f undament al para chegar-se na
cognição ali apresent ada, abrindo prazo para as part es se mani-
f est arem.
No despacho em que o juízo det ermina que as part es anali-
sem t al mat éria, de cert o modo, há um indicat ivo do juízo de
que a mat éria pode inf luenciar o julgament o, evidenciando a
import ância daquele pont o para o julgament o, cabendo, ago-
ra, que cada qual, recorrent e ou recorrido, em suas devidas ma-
nif est ações, const ruam argument ações sobre aquela mat éria,
aderindo ou impugnando a sua aplicabilidade para aquela ques-
t ão, com o claro int uit o de inf luir na f ut ura decisão/vot o do
relat or.
Não há como o relat or suscit ar mat éria para f undament ar
seu vot o sem oport unizar as part es de se manif est ar sobre t al
pont o. Import ant e mudança na cult ura dos Tribunais. O int uit o
é visualizar o cont radit ório como direit o de inf luência38 no re-
sult ado do julgament o.
Out ro pont o import ant e, de visualização procediment al, pas-
sa por out ra sit uação, quando o relat or, em seu vot o, não f un-
38
O cont radit ório deve ser vist o como direit o de inf luência, Cabral delineia
bem essa visão, a qual deve ser preponderant e no processo civil como um
t odo, mas, de sobremaneira, no microssist ema de f ormação de prece-
dent es, com o direit o de qualquer part icipant e desse procediment o inf lu-
enciar na decisão ult erior f ormada como precedent e: “ E, como vist o, se o
processo é um dos cenários onde produz o Est ado decisões vinculat ivas,
podemos af irmar que os sujeit os processuais, at ravés de suas manif est a-
ções no curso do processo, exercem prof unda inf luência no exercício do
poder est at al. No âmbit o processual, a dinâmica do poder abrange a
prát ica da inf luência. Se apenas as decisões do magist rado são vinculat ivas
e imperat ivas – manif est ação de poder – os at os dos demais sujeit os
processuais incluem-se no espect ro maior de inf luir na decisão. (…) A
inf luência, como t emos sust ent ado, é ref lexiva: dif usa e mult idirecional,
part indo de t odos e absorvida por t odos.” CABRAL, Ant onio do Passo.
Cont radit ório como inf luência. Dicionário de Princípios Jurídicos. Orgs:
Flávio Galdino; Silvia Faber Torres; Ricardo Lobo Torres; Eduardo Takemi
Kat aoka. Rio de Janeiro: ELSEVIER – CAM PUS, 2011, p. 199.
39
Enunciado n. 60 da JDPC: É direit o das part es a manif est ação por escrit o,
no prazo de cinco dias, sobre f at o supervenient e ou quest ão de of ício na
hipót ese do art . 933, § 1º, do CPC, ressalvada a concordância expressa
com a f orma oral em sessão.
40
“ At ent e-se em que a ement a não é o acórdão, cujo t ext o prevalece sem-
pre sobre o dela, em caso de divergência. Também não const it ui seu rela-
t ório, f undament ação, ou disposit ivo, que devem const ar do próprio
acórdão, (...) A ement a dos acórdãos é muit o út il, num t empo em que
prolif era o armazenament o de dados, pois f acilit a a pesquisa na jurispru-
dência.” BERM UDES, Sérgio. A ref orm a do código de processo civil.
São Paulo: Saraiva, 1996, p. 126.
41
Sobre essa t écnica de julgament o, de modo aprof undado: DIAS, Francisco
Barros. Técnica de julgament o: criação do novo CPC (LGL\2015\1656)
(Subst it ut ivo dos Embargos Inf ringent es). Coleção Novo CPC - Dout ri-
n a Se l e ci o n a d a - v. 6 - Pr o ce sso n o s Tr i b u n a i s e M e i o s d e
Im pugnação às Decisões Judiciais. Orgs: DIDIER JR., Fredie; FREIRE,
Alexandre; M ACEDO, Lucas Buril de; PEIXOTO, Ravi. Salvador: JusPodivm,
2015; ARRUDA ALVIM , Teresa. Ampliação da colegialidade como t écnica
de julgament o. In: WAM BIER, Luiz Rodrigues; ARRUDA ALVIM , Teresa
(Coord.). Tem as essenciais do novo CPC: análise das principais alt e-
rações do sist em a processual civil brasileiro. São Paulo: Ed. RT, 2016;
LEM OS, Vinicius Silva. A t écnica de julgament o não unânime e as suas
implicações procediment ais. Revist a Brasileira de Direit o Processual.
Vol. 101, p. 300-320, Belo Horizont e: Fórum, 2018; KOZIKOSKI, S. M .;
PUGLIESE, W. S.. Considerações sobre a ampliação do quórum no julga-
ment o da apelação. Revist a de Processo. Vol. 276, Ano 43, p. 237-261,
São Paulo: Ed. RT, 2018.
42
“ A n o r m a f az u m a r el ei t u r a d a d i sci p l i n a d o s an t i g o s em b ar g o s
inf ringent es. Subst it uiu-se o que t radicionalment e era um recurso por
uma espeìcie de t eìcnica de julgament o que permit e ao int eressado t en-
t ar f azer prevalecer a t ese acolhida no vot o vencido. Preve-se uma mo-
dalidade de novo julgament o – ou prolongament o do julgament o ant eri-
or – na apelac’aÞo, ac’aÞo rescisoìria e agravo de inst rument o quando a
p r i m ei r a d eci saÞo f o r n aÞo u n an i m e, o b ser vad as as co n d i c’ o Þes
est abelecidas no caput e paraìgraf os.” RAM OS NETO, New t on Pereira.
Coment ário ao art . 942. STRECK, Lenio. Com ent ários ao código de pro-
cesso civil, 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 1.262.
ção 47, ent endo como corret o que na apelação houve uma ampli-
t ude maior, um aument o da sua possibilidade, t ot alment e de
modo diverso das out ras duas hipót eses. E qual o mot ivo dessa
regra diversa? Não há uma explicação para t al dist inção no
regrament o, t alvez seria pelo f at o de que a apelação t em uma
incidência maior e, assim, uma import ância t ambém de mesmo
modo; cont udo, parece muit o mais uma redação at écnica do que
uma real escolha do legislador.
No ent ant o, há de se seguir essa dualidade de regras48, uma
vez que há t al previsão no caput do art . 942 e, ainda, em uma
sit uação de um recurso que t enha soment e a divergência e não
f or ut ilizado esse sist ema de vot ação, pode conf igurar nulidade
por causa da não ut ilização, com event ual recurso para discut ir-
47
Nery Jr. e Nery ent endem pela manut enção sist êmica dos requisit os dos
embargos de divergência: “ A sent ença f undament ada no CPC 485 não
est á sujeit a a ele. M uit o embora o CPC 942 não consigne expressament e
essa exigência, como o f azia o CPC/1973 530, ela é dedut ível do cont ext o,
porquant o admit e a inst auração do procediment o em caso de agravo de
inst rument o, quando a decisão int erlocut ória houver parcialment e deci-
dido o mérit o e f or ref ormada.” NERY JR, Nelson; NERY, Rosa M aria de
Andrade. Código de Processo Civil Com ent ado. 16. ed. São Paulo: Ed.
RT. 2016, p. 2.003.
48
Zanet i Jr. ent ende pela aplicação de duas regras, de acordo com os mol-
des que a lei implica: “ Na apelação a t écnica incide em t odas as hipót eses
(art . 942, caput ). No agravo de inst rument o incide em t odos os casos que
decidam o mérit o (art . 942, § 3.º, II), ou seja, mant ém-se a mesma linha
de ent endiment o que exist ia no Enunciado 255 da Súmula do STJ. Est e
deverá ser cancelado ou modif icado, uma vez que não há mais os agravos
ret idos, t ampouco os embargos inf ringent es, mas a lógica é a mesma. O
inciso exige, além da decisão do mérit o no agravo, que ocorra a ref orma
da decisão. Nest es t ermos adot a limit ação parecida com a previst a na
redação do art . 530, CPC/1973, após a ref orma da Lei 10.352 (“ Cabem
embargos inf ringent es quando o acórdão não unânime houver ref orma-
do, em grau de apelação, a sent ença de mérit o, ou houver julgado proce-
dent e ação rescisória.” ) (…) Caberá, ainda, a ut ilização da t écnica de
ampliação do julgament o colegiado quando na ação rescisória o result a-
do f or a rescisão da sent ença (art . 942, § 3.º, I). Nest es t ermos adot a
limit ação parecida com a previst a na redação do art . 530, CPC/1973, após
a ref orma da Lei 10.352, já t ranscrit o. Vimos que est a limit ação est á
present e em ambos incisos, ou seja, no agravo e na ação rescisória, mas
não est á present e no caput . Dist o result aram algumas perplexidades,
pois para a mesma t écnica f oram adot adas duas lógicas dist int as.” ZANETI
JR., Hermes. Coment ários ao art . 942. In: CABRAL, Ant ônio do Passo;
CRAM ER, Ronaldo (Coord.). Com ent ários ao novo Código de Proces-
so Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 1.352.
49
Nesse sent ido que já def iniu o STJ: (RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL.
CPC/2015, ART. 942. TÉCNICA DE AM PLIAÇÃO DE JULGAM ENTO. DECI-
SÕES COM M A IOR GRA U DE CORREÇÃ O E JUSTIÇA . ECONOM IA E
CELERIDADE. APELAÇÃO NÃO UNÂNIM E QUE REFORM A OU M ANTÉM A
SENTENÇA IM PUGNADA. EM PREGO AUTOM ÁTICO E OBRIGATÓRIO. (…)
3. Cont udo, dif erent ement e dos embargos inf ringent es do CPC/1973 -
que limit ava, no caso da apelação, a incidência do recurso aos julgamen-
t os que result assem em ref orma da sent ença de mérit o -, a t écnica de
julgament o previst a no CPC/2015 deverá ser ut ilizada quando o result a-
do da apelação f or não unânime, independent ement e de ser julgament o
que ref orma ou mant ém a sent ença impugnada. (...) STJ - REsp: 1733820
SC 2018/0077516-2, Relat or: M in. LUIS FELIPE SALOM ÃO, Dat a de Julga-
ment o: 02/10/2018, T4 - QUARTA TURM A)
50
Uma f alsa maioria é aquela em que a composição de um det erminado
órgão f racionário t em como maioria um ent endiment o que a conjunção
de t odos os órgãos de um Tribunal não t em. Um exemplo seria um Tribu-
nal que t em quinze membros que julgam a mesma mat éria, com um
ent endiment o de t reze que seriam pelo posicionament o A, já dois seriam
pelo B. Todavia, pode ocorrer de um colegiado ser f ormado por est es dois
membros que vot ariam B nessa mat éria, f ormando, naquela sit uação,
uma f alsa maioria.
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“ Há que se aceit ar, dest a f orma, que o sist ema recursal f oi conect ado
com out ras t écnicas de gerenciament o das demandas repet it ivas. Ist o
porque, além de est arem volt ados à sat isf ação do inconf ormismo da par-
t e que sucumbiu, os recursos at endem ainda uma f unção nomof ilácica,
garant indo a prot eção do direit o objet ivo e a int egridade dos preceden-
t es e julgados das Cort es Superiores” KOZIKOSKI, Sandro M arcelo. Sist e-
m a recursal no CPC/2015. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 28
Conclusão
Diant e da proposição do recort e dest e t rabalho, o est udo
present e delineou as diret rizes const rut ivas do novel ordenament o
processual para a t ramit ação procediment al dos recursos, remes-
sas necessárias e ações de compet ência originária, t omando como
base o sist ema recursal.
Dessa maneira, o sist ema preconizado pelo compreendido
ent re os art s. 929 e 946 t orna linear o modo como um processo
caminha na sua t ramit ação, desde o prot ocolo, regist ro e dist ri-
buição at é o seu julgament o.
As inovações são grandes nesse sist ema, como a remodelação
da decisão monocrát ica pelo relat or, com a inserção const rut iva do
art . 932 para delinear melhor as hipót eses de ut ilização do julga-
ment o unipessoal pelo relat or; a necessidade de int erligação do
princípio da primazia ao julgament o de mérit o e o cumpriment o
dos requisit os de admissibilidade recursal, com a possibilidade de
sanabilidade previst a no art . 932, parágraf o único; a organização
da suscit ação de f at o supervenient e ou mat éria of iciosa, nos mol-
des do art . 933, com a int erligação ao art . 10 e a ef et ividade de um
cont radit ório prevent ivo e inf luenciant e; o melhor desenho da sus-
t ent ação oral e a possibilidade dest a ser por videoconf erência, pela
dicção do art . 937; a inserção da t écnica de julgament o não unâni-
me para a apelação em geral e hipót eses do agravo de inst rumen-
t o e ação rescisória em Tribunal de segundo grau; a const rução
colet iva da vot ação e do acórdão, dent re out ras hipót eses.
Todos est es pont os enf rent ados diant e da sist emát ica do
CPC/2015 demonst ram um procediment al mais realíst ico ao cot i-
diano dos Tribunais e as inovações exist ent es, com um panora-
ma sobre os processos nesse grau de jurisdição.
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