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a cadeia de custódia no direito brasileiro
o
Direito (Direito e Desenvolvimento) pela Universidade Federal do Ceará (2003). Investigador
çã
do Centro de Investigação de Direito Penal e Ciências Criminais da Faculdade de Direito de
la
Lisboa (CIDPCC). Investigador da Fundação de Ciência e tecnologia de Portugal. Especialista
em Direito Processual Penal pela Unifor e especialista em Ciências Jurídico-Criminais pela
u
Universidade de Lisboa. Atualmente é professor de processo penal da Escola Superior da
ic
Magistratura do Estado do Ceará e do Ministério Público do Estado do Ceará, professor em
ve
diversas instituições de ensino públicas e privadas. Atualmente exerce o cargo de Promotor
de Justiça, tendo sido assessor do Procurador-Geral de Justiça por dois biênios.
a ionilton@uol.com.br
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esumo: Além de outros temas, uma grande ino- bstract: In addition to other topics, a major in-
–
vação que chegou ao processo penal, por meio da novation that arrived in the criminal process,
o
Lei 13.964/2019, foi a chamada de cadeia de custó- through Law 13,964/2019, was the so-called
iv
dia, sendo uma série de procedimentos que visam chain of custody, being a series of procedures
us
a garantia da prova no procedimento. A cadeia de that aim to guarantee evidence in the procedure.
custódia é certamente um instituto importante no The chain of custody is certainly an important in-
cl
contexto das provas, que tem a função primordial stitute in the context of evidence, which has the
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de preservar os vestígios deixados pelo crime, ou primary function of preserving the traces left by
seja, o chamado corpo de delito. Ela tem por fi- the crime, that is, the so-called corpus delicti. Its
nalidade a garantia de verificação da cronologia purpose is to guarantee the verification of the ex-
so
existencial da prova, desde o momento em que um istential chronology of the evidence, from the mo-
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vestígio é reconhecido como prova potencial até ment a trace is recognized as potential evidence
o momento em que este é descartado. A cadeia de until the moment it is discarded. The chain of cus-
custódia age como sendo um garantidor de vali- tody acts as a guarantor of the validity of a giv-
dade de uma determinada prova, trazendo, em se- en piece of evidence, bringing into legal form the
de legal os meios (procedimentos) fundamentais fundamental means (procedures) that aim to con-
que visam transmitir a forma como determinada vey the way in which a given piece of evidence
prova deve ser extraída e mantida para análise. should be extracted and maintained for analysis.
São diversos momentos, etapas ou passagens de There are several moments, stages or passages of
atos de preservação da prova, que visa estabelecer evidence preservation acts, which aim to estab-
a segurança jurídica necessária para os operado- lish the necessary legal certainty for legal oper-
res do direito. Certamente, a cadeia de custódia ators. Certainly, the chain of custody becomes a
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ale, Ionilton Pereira do. Da cadeia de custódia no direito brasileiro.
Revista dos Tribunais. vol. 1058. ano 112. p. 219-235. São Paulo: Ed. RT, dezembro 2023.
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vem a ser um instrumento utilíssimo tanto para a very useful instrument for both the prosecution
acusação como para a defesa, visto que o contra- and the defense, since the adversarial process and
ditório e o devido processo legal, deverão estar em due legal process must be in line with technical,
consonância com a perícia técnica, cientifica, que scientific expertise, which can rarely be put under
raramente poderá ser posta sub examen. examination.
Palavras-chave: Cadeia de custódia – Perícia Keywords: Chain of custody – Technical exper-
técnica – Corpo de delito – Vestígios – Reconhe- tise – Body of crime – Trace elements – Recogni-
cimento – Isolamento – Armazenamento – Fixa- tion – Isolation – Storage – Fixation – Collect.
ção – Coleta.
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Sumário: 1. Introdução a cadeia de custódia. 2. Da central de custódia. 3. Elementos da ca-
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deia de custódia. 3.1. Do início da cadeia de custódia. 3.2. Das etapas da cadeia de custódia.
3.2.1. Do reconhecimento. 3.2.2. Do isolamento. 3.2.3. Da fixação. 3.2.4. Da coleta. 3.2.5. Do
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acondicionamento. 3.2.6. Do transporte. 3.2.7. Do recebimento. 3.2.8. Do processamento.
ic
3.2.9. Do armazenamento. 3.2.10. Do descarte. 4. Da coleta dos vestígios. 5. Bibliografia.
ve
1. Introdução a cadeia de custódia a
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ricos”, quase sempre em situação de oposição dicotômica, “pares” que são relegados a um
plano de coadjuvantes das explicações esvaziam a pretensão de enquadramento jurídico,
pr
Observa-se que toda mudança tecnológica profunda determina uma mudança social
o
cessidades, interesses e conflitos sociais. Face a isso, os recentes avanços nas técnicas repro-
us
ressignificar o material.2
O termo Cadeia de custódia consiste, em termos gerais, em um mecanismo garantidor
so
caso investigado, sem que haja lugar para qualquer tipo de adulteração. Funciona, pois, co-
mo a documentação formal de um procedimento destinado a manter e documentar a his-
tória cronológica de uma evidência, evitando-se, assim, eventuais interferências internas e
externas capazes de colocar em dúvida o resultado da atividade probatória, assegurando, as-
sim, o rastreamento da evidência desde o local do crime até o Tribunal. Fundamenta-se no
1. PRADO, Geraldo. A cadeia de custódia da prova no processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Marcial Pons. 2021.
p. 63.
2. RODRIGUES, Benjamin V Silva. Da prova penal. Coimbra: Coimbra Ed., 2009. t. I, p. 40.
ale, Ionilton Pereira do. Da cadeia de custódia no direito brasileiro.
Revista dos Tribunais. vol. 1058. ano 112. p. 219-235. São Paulo: Ed. RT, dezembro 2023.
Processo Penal 221
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Perceba-se que a instituição da cadeia de custódia, conquanto regrada, agora, de forma
bem mais pormenorizada, não constitui qualquer novidade no direito brasileiro. Isto por-
la
que, embora de forma esparsa, tanto no âmbito do Código de Processo Penal como da le-
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gislação complementar, são encontrados dispositivos que regulamentam a manutenção e a
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documentação da cronologia que deve conduzir à produção da prova pericial. Isso, aliás, fi-
ve
ca bem claro no art. 6º do CPP, quando dispõe que, logo que tiver conhecimento da prática
de uma infração penal, a autoridade policial deverá preservar (isolar) o local para que nada
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se altere até a chegada dos peritos (inc. I), procedendo, na sequência, tão logo houver a libe-
a
ração pelos peritos, a apreensão dos objetos que tiverem relação com o fato (inc. II) e a co-
id
leta de todas as provas que servirem para a sua elucidação (inc. III). Já o art. 170 do mesmo
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diploma diz que, nas perícias em laboratório, os peritos guardarão material suficiente para
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a eventualidade de novo exame. Ora, dessas previsões infere-se, de modo muito claro, o ob-
pr
jetivo do legislador de preservação (e vem dessa ideia a palavra custódia) das fases que com-
põem a cadeia probatória.5
–
fecção do exame de corpo de delito ou perícia com conteúdo não correspondentes à reali-
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dade do ocorrido. Tal fato poderá levar o juiz a erro. Ainda que se valha do sistema do livre
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convencimento motivado, se o juiz togado formar sua convicção por meio de exame ou pe-
rícia elaborado com elementos informativos não correspondentes à fonte, poderá o juiz ser
cl
induzido a proferir uma decisão ou sentença injusta. No campo da cadeia de custódia das
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provas, Geraldo Prado “nos traz como exigência dos princípios da mesmidade e da descon-
fiança”6. Por mesmidade, em similaridade à forma empregada na língua espanhola, que não
so
3. LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2020. p. 717.
4. STJ, HC 653.515/RJ (2021/0083108-7), rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 23.11.2021, 6ª T., DJe 01.02.2022.
5. AVENA, Norberto. Processo penal. 12. ed. São Paulo: Método, 2021. p. 1044-1045.
6. PRADO, Geraldo. Op. cit., p. 94.
7. LOPES JÚNIOR, Aury.VDireito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva. 2020. p. 414.
2. Da central de custódia
Determina a lei que todas as unidades de perícia deverão ter uma central de custódia
destinada à guarda e ao controle dos vestígios. A central poderá ser compartilhada entre
as diferentes unidades de perícia e recomenda-se que sua gestão seja vinculada diretamen-
te ao órgão central de perícia. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central
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de custódia destinada à guarda e ao controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada
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diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal (art. 158-E do CPP).
Essa central de custódia é quem doravante fica encarregada da realização dos exames
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periciais, sendo a medida da reserva do possível que cada comarca tenha uma central de
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custódia, para o reconhecimento, o isolamento, a fixação, a coleta, o acondicionamento, o
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transporte, o recebimento, o processamento, o armazenamento e o descarte dos elementos
ve
sensíveis do crime (vestígios).
Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas, consig-
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nando-se informações sobre a ocorrência/inquérito que a eles se relacionam. Por evidente,
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deve o Perito Geral nomear um funcionário ou perito que, ao receber os vestígios de um cor-
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po de delito, deverá fazer o devido protocolo e controlar a entrada e a saída desses elementos
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Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas
pr
e deverá ser registrada data e hora do acesso. De idêntica forma, quando da tramitação do
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Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferên-
cl
“o cálculo hash e à criação de cópia lógica e cópia espelho são providencias de caráter técnico
imprescindíveis para assegurar a integridade e garantir a autenticidade do elemento proba-
tório apreendido.”8
Para a obtenção de uma molécula de DNA é necessária uma extração adequada do mate-
rial genético, para garantir uma amostra na quantidade e qualidade adequadas, outro fator
importante para a qualidade do DNA é a estocagem do DNA extraído, especialmente ao que
V p. 193.
8. PRADO, Geraldo. Op. cit.,
se refere à temperatura em que ele permanecerá estocado, pois sua estocagem em tempera-
tura inadequada pode causar sua degradação.9
Finalmente, para maior autenticidade dos vestígios, todas as pessoas que tiverem aces-
so ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a ho-
ra do acesso.
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tódia”, como sendo: “o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e docu-
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mentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para
rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.”
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A cadeia de custódia, como o próprio nome indica, é o caminho, o iter por onde perpas-
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sam os vestígios do crime. O legislador nomeou esse caminho “história cronológica do vestí-
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gio coletados em locais e vítimas do crime”. Pegando de empréstimo um crime de homicídio,
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o vestígio é o próprio corpo da vítima, a sede de suas lesões, a maneira como o corpo foi en-
contrado (se em decúbito dorsal, amarrado, cravejado de balas etc.), a existência ou não de
lesões de defesa e assim por diante.
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Importante esclarecer que a cadeia de custódia não está só restrita ao âmbito pericial,
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mas envolve desde a delegacia policial, quando apreende algum objeto matéria que possa
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estar relacionado a alguma ocorrência, deve também já no seu recebimento ou achado pro-
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ceder com os cuidados da aplicação da cadeia de custódia. E essas preocupações vão além da
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polícia e da perícia, estendendo-se aos momentos de trâmites desses objetos da fase do pro-
cesso criminal, tanto no Ministério Público quanto na própria justiça. Os procedimentos da
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O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com proce-
dimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. (art. 158-A,
ex
§ 1º, do CPP).
so
Existem infrações que não deixam vestígios (delicta facti transeuntis), como nos crimes
contra a honra praticada oralmente, no desacato etc. Mas, por outro lado, existem as infra-
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ções que deixam vestígios materiais (delicta facti permanentis), como o homicídio, o estu-
pro, a falsificação etc. Nesse caso, é necessária a realização de um exame de corpo de delito,
ou seja, a comprovação dos vestígios materiais deixados.11
9. COELHO, E. G. A. et al. Comparação entre métodos de estocagem de DNA extraído de amostras de sangue,
sêmen e pelos e entre técnicas de extração. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec, Minas Gerais, v. 56, n. 1, p. 111-115,
2004.
10. PRADO, Geraldo. Op. cit., p. 158.
11. CAPEZ, Fernando. Curso V de processo penal. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
ale, Ionilton Pereira do. Da cadeia de custódia no direito brasileiro.
Revista dos Tribunais. vol. 1058. ano 112. p. 219-235. São Paulo: Ed. RT, dezembro 2023.
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Todo crime deixa de uma forma ou outra, vestígios. Até mesmo os crimes contra a hon-
ra, os chamados crimes de palavra deixam vestígios, por exemplo, a ofensa gravada, a amea-
ça feita em forma de cartazes escritos e assim por diante. Dessa forma, podemos dividir os
vestígios, conforme as pistas deixadas, em materiais (rastro permanente) e imateriais (ras-
tro passageiro). Os crimes de vestígios materiais devem ser demonstrados judicialmente
por meio da perícia (exame de corpo de delito). Os delitos de vestígios imateriais devem ser
evidenciados em juízo por todos os demais meios de provas admitidos (testemunhas, docu-
mentos, buscas etc.).12
Dentro do cenário da academia brasileira, nos são apresentadas três classificações dos
vestígios: quanto ao modo de produção, quanto à percepção e quanto à durabilidade. Quan-
o
to ao modo de produção, os vestígios podem ser propositais (aqueles deliberadamente
çã
deixados no local, como uma falsa carta de suicídio) ou acidentais (aqueles produzidos invo-
la
luntariamente pelo agente, como pegadas, impressões digitais, pelos); quanto à percepção,
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os vestígios podem ser visíveis (aqueles que podem ser captados diretamente pelo sentidos
ic
humanos e sem o auxílio de qualquer artifício ou aparelho, como manchas aparentes de san-
ve
gue) ou latentes (aqueles que reclamam a utilização de técnicas ou aparelhos especiais pa-
ra poderem ser observados, como a maioria das impressões digitais). Por fim, os vestígios
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podem ser classificados quanto à durabilidade, como perenes (aqueles que não desparecem
com o tempo), persistentes (aqueles que não reclamam a ação imediata do perito porque
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permaneceram indeléveis por um tempo mais longo) ou fugazes (aqueles que desaparecem
id
A lei traz uma inovação, declarando que vestígio é todo objeto ou material bruto, visível
ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. O vestígio, portan-
pr
to, é um objeto (a faca usada o homicídio, o artificio usado no crime de estelionato, a arma
–
utilizada no crime de roubo e assim por diante). Material bruto, significa material solido,
como uma pedra ou uma arma branca ou de fogo; latente tem dois significados, tanto pode
o
ser aquilo que é oculto14 como aquilo que é imediato ou próximo. Os dois significados têm
iv
aplicação no conceito de material latente. Pode ser um veneno ministrado de forma sub-
us
-reptícia, como o fuzil que foi disparado à queima-roupa. Visível é tudo aquilo que pode
cl
ser visto sem maiores esforços, por exemplo, os Cds ou Dvds falsificados no crime contra a
propriedade imaterial; constatado é tudo aquilo que foi apurado, certificado, investigado,
ex
procurado, sondado e finalmente recolhido é o objeto ou material que foi colhido, buscado,
apanhado. O importante é que o objeto ou material seja ligado, tenha um liame, um nexo
so
O Brasil, infelizmente não tem uma cultura de preservação do local do crime. Não raro,
os próprios policiais que atendem um chamado acerca de um crime cometido maculam o lo-
cal do crime que deveria ser por eles mesmos preservados. Caso essa maculação do local do
12. NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. p. 135.
13. DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcântara. Exame e levantamento técnico pericial de locais de interesse à
justiça criminal: abordagem descritiva e crítica. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Direito, Universi-
dade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: [https://bit.ly/31QyImG]. Acesso em: 12.02.2022.
V Renato Brasileiro. Op. cit., nota 138.
14. No sentido do texto, LIMA,
crime tenha sido feita pelo próprio acusado, de molde a esconder os vestígios (o que aconte-
ce de forma quase sistemática), teremos o crime do art. 347 do CP brasileiro, cuja rubrica é
denominada de fraude processual, cuja redação e a seguinte:
o
Temos ainda o conceito de vestígios permanentes, que se dá com os chamados crimes
çã
permanentes, como o sequestro, o cárcere privado, a redução análoga a de escravo, posse de
la
armas de fogo, receptação, tráficos de drogas e outros cuja consumação se prolonga com o
u
tempo. Nesses casos os vestígios se prologam enquanto durar o crime ou não cessar a ativi-
ic
dade criminosa.
ve
Muito a propósito confira trechos da decisão contra o parlamentar Daniel Silveira, preso
por ordem do Ministro Alexandre de Moraes:
a
a
“As condutas criminosas do parlamentar configuram flagrante delito, pois na verifica-se,
id
de maneira clara e evidente, a perpetuação dos delitos acima mencionados, uma vez que
o referido vídeo permanece disponível e acessível a todos os usuários da rede mundial de
b
computadores, sendo que até o momento, apenas em um canal que fora disponibilizado,
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o vídeo já conta com mais de 55 mil acessos. Relembre-se que, considera-se em flagrante
pr
delito aquele que está cometendo a ação penal, ou ainda acabou de cometê-la. Na presente
hipótese, verifica-se que o parlamentar DANIEL SILVEIRA, ao postar e permitir a divul-
–
gação do referido vídeo, que repiso, permanece disponível nas redes sociais, encontra-se
o
Digno de registro que a suprema corte havia mudado a jurisprudência acerca do crime
cl
permanente, pouco tempo atrás, com o tema 280, que transcrevemos a seguir no que tange
ex
Dito isso, não é a primeira vez que a atual composição do Supremo Tribunal Federal,
muda a sua jurisprudência (stare decisis) da noite para o dia, como foi o caso da prisão em
segunda instância, em que os nobres ministros, em várias ocasiões, mudaram seu entendi-
o
mento causando intensa insegurança jurídica. No HC 68.726, julgado em 28.06.1991, já sob
çã
o império da Constituição Federal, em decisão unânime, o Pleno do Supremo Tribunal Fe-
deral decidiu que a ordem de prisão decorrente de sentença condenatória confirmada pela
la
segunda instância não colidia com a garantia constitucional da presunção de não culpabili-
u
dade. Contudo, em 05.02.2009, com a composição plenária significativamente alterada em
ic
relação à que participou do julgamento do HC 68.726, o STF promoveu a primeira mutação
ve
constitucional quanto ao alcance da garantia da presunção de não culpabilidade prevista no
art. 5º, LVII, da CF, assentando uma interpretação diametralmente oposta à anteriormente
a
fixada. No julgamento do HC 84.078 (BRASIL, 2010), o Pleno do STF, por maioria de 7 votos
a 4, suplantou o entendimento consolidado no HC 68.726. A Corte asseverou que a execu-
a
id
trânsito em julgado.17
pr
Os tribunais têm entendimento no sentido que a não preservação do local do crime não
é caso de nulidade, salvo se causar prejuízos para acusação ou defesa.18 Ademais, não há que
–
se falar em nulidade do feito se o laudo pericial foi realizado de forma meticulosa, descreven-
do de maneira suficiente o local dos fatos e o modo com o corpo da vítima foi encontrado.
o
iv
Tendo em vista que os elementos carreados aos autos demonstram que a Polícia foi a primei-
ra a chegar ao local dos fatos, preservando, assim, a cena do crime até a chegada da perícia
us
técnica, não há que se cogitar em nulidade do feito sob tal argumento.19 A ausência de pre-
cl
servação do local do crime que não inviabiliza o exame pericial é insuficiente para afastar a
ex
16. STJ, AgRg no RE nos EDcl no AgRg no RHC 116792/SP (2019/0243066-2), rel. Min. Jorge Mussi, 13.10.2020,
Corte Especial, DJe 21.10.2020.
17. Disponível em: [www12.senado.leg.br/ril/edicoes/55/217/ril_v55_n217_p135.pdf]. Acesso em: 09.02.2022.
18. TJMG, Recurso em Sentido Estrito 10878190015155001/Camanducaia, rel. Jaubert Carneiro Jaques,
j. 02.02.2021, 6ª Câmara Criminal, DJ 05.02.2021.
19. TJMG, Recurso em Sentido Estrito 10514120053251001/Pitangui, rel. Marcílio Eustáquio Santos,
j. 09.03.2017, 7ª Câmara Criminal, DJ 17.03.2017.
V
20. TJSC, APR 00247084620168240023/Capital, rel. Sérgio Rizelo, j. 05.11.2019, 2ª Câm. Criminal.
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çã
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3.2. Das etapas da cadeia de custódia
u
3.2.1. Do reconhecimento
ic
ve
A primeira etapa da cadeia de custódia é o reconhecimento, que é o ato de distinguir um
elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial. Aqui o perito age de
a
forma semelhante ao juiz ao valorar a prova, ou seja, deve distinguir o que é ou não elemento
a
potencial para a produção da prova pericial. É o caso de um homicídio, cuja única prova é o
id
exame de DNA. O assassino teve o cuidado de apagar todos os vestígios do crime, deixando
b
na cena do crime uma bituca ou guimba de cigarro que posteriormente foi extraído o DNA.
oi
Ou ainda como no caso de alguns homicídios através de veneno encontrado na vítima, que
pr
3.2.2. Do isolamento
o
iv
O isolamento é o ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar
us
o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime. Uma vez realizado
esse isolamento, é proibida a entrada de pessoas estranhas aos encarregados da perícia, as-
cl
sim como a remoção do local ou desfazimento da cena do crime antes da liberação por par-
ex
te do perito responsável. Antes disso, tal remoção ou desfazimento pode implicar na prática
de fraude processual (art. 158-C, § 2º, CPP).23 Aplica-se aqui, por evidente, as considerações
so
3.2.3. Da fixação
Fixação, vem a ser a descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de
crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por
fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial pro-
duzido pelo perito responsável pelo atendimento. A fixação é muito utilizada nos procedi-
mentos do Tribunal do Júri, tendo em vista a regra descrita o art. 165 do CPP24. Regra geral,
as lesões encontradas no cadáver são feitas por meio de exames, provas fotográficas, esque-
mas ou desenhos, devidamente rubricados, como complemento do exame necroscópico ou
cadavérico. Também é comum a fixação os casos de laudos relativos a homicídios culposos,
o
tendo em vista que os peritos descrevem a dinâmica do acidente.
çã
la
3.2.4. Da coleta
u
Coleta é o ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando
ic
suas características e natureza. A coleta faz parte da documentação da história cronológi-
ve
ca do elemento probatório, a demonstrar que muito provavelmente foi garantido o manda-
do jurídico de garantia e autenticidade da prova; não configura um simples relato temporal,
a
mas em atenção à complexidade do elemento probatório cumpre funções relevantes, uma
a
vez que deve descrever: a) os protocolos de coleta /extração do dado ou elemento probató-
id
rio, de sorte a comprovar que não houve supressão, inclusão ou alteração de elementos que
b
Observe-se que o art. 158-C, declara que a coleta dos vestígios deverá ser realizada preferen-
pr
cialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custó-
dia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares. A observância
–
da cadeia de custódia de prova é imprescindível para que haja o respeito ao devido processo
legal.26 Como a lei processual penal se aplica de forma irretroativa (salvo, o caso das normas
o
mistas), não há que se falar em perda de uma chance probatória, em razão da não juntada da
iv
gravação original das câmeras de segurança da rua onde se deram os fatos, se o álibi defensi-
us
vo não possui lastro probatório suficiente a garantir verossimilhança ao alegado. Não é pos-
cl
sível falar-se em quebra da cadeia de custódia por inobservância de dispositivos legais que
ex
3.2.5. Do acondicionamento
U
24. Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo
do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.
25. PRADO, Geraldo. Op. cit., p. 168. Mesmidade significa: qualidade daquilo ou daquele que é o mesmo que
outro.
26. STJ, RHC 104.176/RJ (2018/0270095-7), rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 04.05.2021, 6ª T., DJe 14.05.2021.
V
27. TJMG, HC 10000211120696000, rel. Flávio Leite, j. 31.08.2021, 1ª Câmara Criminal, DJ 01.09.2021.
biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a co-
leta e o acondicionamento (art. 158-B, V, do CPP).
O art. 158-D do CPP determina algumas regras para o acondicionamento: o recipiente
que irá acondicionar o vestígio deve ser determinado pela natureza do material; além disso,
todos devem ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a
inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. Ademais, o recipiente deve
preservar as características do vestígio, de sorte que impeça qualquer contaminação e va-
zamento, bem como ter grau de resistência e espaço para registro de informações sobre seu
conteúdo.
o
De acordo com o art. 158-D, §§ 1º a 5º, o recipiente destinado ao acondicionamento do
çã
vestígio (um envelope, um frasco, um invólucro imune a variações de temperatura etc.) será
determinado segundo a natureza do material, que deverá ser adequado à preservação de suas
la
características, ter grau e resistência adequado e espaço para registro de informações sobre
u
seu conteúdo, além de ser protegido de contaminação e vazamento. Depois de acomodado
ic
o material, deve o recipiente ser selado com lacre, com numeração individualizada, de mo-
ve
do a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte, que é a etapa
seguinte da cadeia de custódia. Veja-se que a abertura do recipiente apenas poderá ser rea-
a
lizada pelo perito que procederá à sua análise e, motivadamente, por pessoa autorizada por
a
quem tenha autoridade para esse fim (o próprio perito, sob sua responsabilidade; o juiz, se
id
provocado para tanto etc.). Outro detalhe importante é o de que, após cada rompimento de
b
tivo responsável, a data, o local e a finalidade da violação. Uma vez realizado o rompimen-
pr
to, o recipiente violado e o respectivo lacre deverão ser acondicionados no interior de outro
recipiente, observando ele as mesmas restrições do anterior e contendo os mesmos dados.28
–
violação da cadeia de custódia, e não o contrário. Ainda nesse caso hipotético, com base na
“lei” imaginada, se o funcionário viesse a justificar o acondicionamento do vestígio em um
cl
recipiente impróprio, a cadeia de custódia do vestígio não teria sido implementada, o elo do
ex
3.2.6. Do transporte
O transporte dos vestígios do crime é definido pela lei, como o “ato de transferir o vestí-
gio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, tem-
peratura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características originais,
bem como o controle de sua posse” (art. 158-B, VI, do CPP).
o
çã
rial. Deve-se evitar o manuseio desnecessário, como troca de recipientes ou embalagens. No
exemplo citado, o cadáver será transportado em caminhão do Instituto Médico Legal, com
la
condições adequadas para sua preservação.31
u
ic
3.2.7. Do recebimento
ve
O recebimento é o ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser docu-
a
mentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade
a
de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, có-
id
Como toda a parte destinada as etapas da cadeia de custódia são normas explicativas por
pr
ser colocadas a parte como um adendo à lei, mas o legislador ordinário achou por bem nor-
o
matizá-los, o que andou muito bem por sinal. Depois da coleta, e caso os vestígios precisem
iv
serem transportados, deve-se observar por parte do(s) perito(s) uma série de procedimen-
us
porte e identificação dos vestígios, o que significa que nada impede que o perito geral ou o
ex
perito diretor da Central da cadeia de custódia possa implementar outros diversos (sem ol-
vidar, contudo, o que está descrito na lei), para assegurar a fidedignidade das informações.
so
Observe-se que, segundo a lei, o perito deve estar no lugar onde os vestígios estão. No caso
de um crime de homicídio, por exemplo, o cadáver deve ser transportado com o nome do
U
local que ocorreu o homicídio, o nome de quem transportou o cadáver para exame e assim
por diante.
Dessa forma, além do número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacio-
nada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, na-
tureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu,
pode o responsável pela cadeia de custódia também implementar outros protocolos aná-
logos ao que a lei já dispõe, por exemplo, especificar o invólucro em que os vestígios estão
acondicionados. Por exemplo os vestígios de DNA em conformidade com o direito compa-
rado são constituídos, introduzidos e conservados em ficheiros de dados automatizados de
dados pessoais e amostras de voluntários e suspeitos para comprovação, por exemplo.32 Ou-
tro exemplo fornecido pela doutrina supranacional é o caso de vestígios de impressões di-
gitais e provas genéticas33, que em sua segunda modalidade (de identificação criminal) diz
respeito à obrigatoriedade da coleta de material genético para cadastro geral de condenados
em crimes praticados com violência grave contra a pessoa ou por quaisquer dos crimes pre-
vistos no art. 1º da Lei dos Crimes Hediondos (Lei 8.072/1990), consoante se vê da norma
o
contida no art. 9º-A da Lei de Execuções Penais (Lei 7.210/1984), com a nova redação con-
çã
ferida pela Lei 13.964/2019.34
u la
3.2.8. Do processamento
ic
ve
O processamento vem a ser o exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo
com a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de
a
se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito.
a
O processamento vem a ser o exame pericial em si. Segundo se infere, é nesse momento
id
em que o perito faz ou executa o exame pericial, por exemplo, os vestígios de pólvora no exa-
b
A perícia é adequada à natureza dos vestígios. Caso seja de natureza biológica, é realizada o
próprio laboratório da perícia forense. Em cada Estado Brasileiro existem setores especia-
–
lizados em perícia. Nas perícias de local de crime busca-se coletar o máximo de vestígios
o
iv
us
32. RODRIGUES, Benjamin Silva. Op. cit., p. 350. A Lei portuguesa 5/2008 estabelece em seu art. 26: 1 – Os
perfis de ADN e os correspondentes dados pessoais: a) Quando integrados no ficheiro previsto na alínea a)
cl
do n.º 1 do artigo 15.º, são conservados por tempo ilimitado, salvo se, por meio de requerimento escrito, o
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c) Quando integrados no ficheiro previsto na alínea c) do n.º 1 do artigo 15.º, são conservados até que haja
identificação, caso em que são eliminados mediante despacho do magistrado titular do processo, ou até ser
U
solicitada pelos parentes a eliminação do perfil de que sejam titulares, mediante requerimento escrito.
33. Art. 5º da Lei 12.037/2009: A identificação criminal incluirá o processo datiloscópico e o fotográfico, que
serão juntados aos autos da comunicação da prisão em flagrante, ou do inquérito policial ou outra forma de
investigação. Parágrafo único. Na hipótese do inciso IV do art. 3º, a identificação criminal poderá incluir a
coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético.
34. OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 25. ed. São Paulo: Método. 2021. p. 506. Cf: Art. 9º-A.
O condenado por crime doloso praticado com violência grave contra a pessoa, bem como por crime contra
a vida, contra a liberdade sexual ou por crime sexual contra vulnerável, será submetido, obrigatoriamente,
à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA (ácido desoxirribonucleico), por técnica ade-
quada e indolor, por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional. (Redação dada pela Lei 13.964, de
2019). V
ale, Ionilton Pereira do. Da cadeia de custódia no direito brasileiro.
Revista dos Tribunais. vol. 1058. ano 112. p. 219-235. São Paulo: Ed. RT, dezembro 2023.
232 Revista dos Tribunais • RT 1058 • Dezembro de 2023
possíveis para que se tenha uma prova material irrefutável. E nas ocorrências que envolvem
uso de arma de fogo é comum encontrar vestígios bem peculiares, tais como cápsulas defla-
gradas, estojos e projéteis, que são fragmentos de munições utilizadas em disparos de arma
de fogo. O exame de balística deve ser realizado através de máquinas e técnicas adequadas e
consiste em atestar se determinado projétil saiu de uma arma específica ou se as cápsulas de
munições pertencem à mesma arma.
3.2.9. Do armazenamento
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O armazenamento vem a ser o procedimento referente à guarda, em condições adequa-
çã
das, do material a ser processado, guardado para realização de contra perícia35, descartado
ou transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente.
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O art. 158-D e seus parágrafos estabelecem que o recipiente para acondicionamento do
u
vestígio será determinado pela natureza do material. Portanto, a depender do material é que
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teremos a guarda em recipientes próprios.
ve
A Portaria 82 de 16.07.2014 da SNSP – Secretaria Nacional de Segurança Pública, regu-
lamentou a cadeia de custódia em âmbito nacional. a
Dessa forma, o recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela
a
id
natureza do material, podendo ser utilizados: sacos plásticos, envelopes, frascos e caixas
descartáveis ou caixas térmicas, entre outros. Todos os recipientes deverão ser selados com
b
e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo. Todos os vestígios coletados de-
verão ser registrados individualmente em formulário próprio, no qual deverão constar, no
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3.2.10. Do descarte
U
35. CONTRAPERÍCIA é a nova perícia realizada em material depositado em local seguro e isento que já te-
ve parte anteriormente examinada, originando prova que está sendo contestada. Por seu turno, a CON-
TRAPROVA: é o resultado da contraperícia. Disponível em: [https://diariodasleis.com.br/legislacao/
federal/227818-cadeia-de-custudia-de-vestugios-estabelece-as-diretrizes-sobre-os-procedimentos-a-se-
V
rem-observados-no-tocante-u-cadeia-de-custudia-de-vestugios.html]. Acesso em: 16.02.2022.
etapa da fase relativa à etapa da cadeia de custódia e consequência natural do fato dos vestí-
gios não mais interessar ao processo penal. Trata-se de procedimento referente à liberação
do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização ju-
dicial. (Anexo I, letra i da Portaria 82/2014).
É o caso do tráfico de drogas, que, consoante a lei especial (art. 50, § 4º, da Lei 11.343/2006)
que determina que a destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competen-
te no prazo de 15 (quinze) dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária.
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A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará
o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a
la
realização de exames complementares (art. 158-C do CPP).
u
A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará
ic
o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a
ve
realização de exames complementares.
Observe-se que a lei fala que a coleta dos vestígios será realizada preferencialmente por
a
perito oficial, o que dá margem para interpretação, ante os termos do art. 158-C do CPP, de
a
que não seja, obrigatoriamente, realizada por perito oficial, podendo ser por 2 (duas) pes-
id
entre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.36 Além disso,
oi
todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de for-
pr
zamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre seu
o
conteúdo. O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motiva-
iv
de a substância entorpecente haver sido entregue para perícia sem o necessário lacre. Isso
ex
porque, ao contrário do que ocorre com a prisão preventiva, por exemplo – que tem nature-
za rebus sic standibus, isto é, que se caracteriza pelo dinamismo existente na situação de fa-
so
to que justifica a medida constritiva, a qual deve submeter-se sempre a constante avaliação
U
do magistrado –, o caso dos autos traz hipótese em que houve uma desconformidade entre
o procedimento usado na coleta e no acondicionamento de determinadas substâncias su-
postamente apreendidas com o paciente e o modelo previsto no Código de Processo Penal,
fenômeno processual, esse, produzido ainda na fase inquisitorial, que se tornou estático e
não modificável e, mais do que isso, que subsidiou a própria comprovação da materialidade
e da autoria delitivas.37
36. TJSC, RSE 00023211120198240030, rel. Sidney Eloy Dalabrida, j. 09.12.2021, 4ª Câm. Criminal.
37. STJ, HC 653.515/RJ, rel.VMin. Rogerio Schietti Cruz, j. 23.11.2021, 6ª T., DJe 01.02.2022.
Todos os vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados co-
mo descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal respon-
sável por detalhar a forma do seu cumprimento.
A autenticação de uma prova é um dos métodos que assegura ser o item apresentado
como aquilo que se afirma ele ser denominado pela doutrina de princípio da mesmidade.38
A lei é peremptória ao afirmar que “É proibida a entrada em locais isolados bem como a
remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito res-
ponsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização.”
o
5. Bibliografia
çã
la
AVENA, Norberto. Processo penal. 12. ed. São Paulo: Método, 2021.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
u
ic
COELHO, E. G. A. et al. Comparação entre métodos de estocagem de DNA extraído de amostras de
sangue, sêmen e pelos e entre técnicas de extração. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec, Minas Gerais,
ve
v. 56, n. 1, p. 111-115, 2004.
DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcântara. Exame e levantamento técnico pericial de locais de inte-
a
resse à justiça criminal: abordagem descritiva e crítica. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de
a
Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: [https://bit.ly/31QyImG].
id
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
pr
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 25. ed. São Paulo: Método. 2021.
–
PRADO, Geraldo. A cadeia de custódia da prova no processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Marcial
Pons, 2021.
o
38. STJ, HC 653.515/RJ, rel.VMin. Rogerio Schietti Cruz, j. 23.11.2021, 6ª T., DJe 01.02.2022.
PESQUISAS DO EDITORIAL
área do direito: Penal
o
cadeia de custódia digital, de Carlos Hélder C. Furtado Mendes – RBCCrim 161/131-161;
çã
• Garantias constitucionais na produção probatória e o descaso com a cadeia de custódia, de Alen-
la
car Frederico Margraf e Natália Mendes Pesch – RDCI 106/225-246;
u
• Investigações corporativas e aproveitamento da prova no processo penal: o problema da quebra
ic
da cadeia de custódia, de Douglas Rodrigues da Silva – RDPec 9/53-82; e
ve
• Prova penal: da semiótica à importância da cadeia de custódia, de Ana Luisa Zago de Moraes –
RBCCrim 132/117-138.
a
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oi
pr
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