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CONTENTS: 1 Introduction 2 Historical and introductory notions about the family 3 The joint
custody as a guarantee of rights between parents and sons 4 Conclusion 5 References.
ABSTRACT: The aim of this study is to analyze and discuss the joint custody as an
innovation of the 2002 Civil Code and as a result of renewed Family Law under the
influence of the Federal Constitution of 1988. Through the deductive reasoning, the
concept of family will be analyzed as an evolution in relation to the concept under
the Civil Code of 1916, considering in the meantime be the family the institution for
human development. In addition, it will also consider the importance of joint cus-
tody to parents and children lives, as well as the application of this model of custody
by Brazilian courts, demonstrating that joint custody is an effective mean to prevent
Parental Alienation, and that best serves the interests of the children by allowing
the harmonic living with parents after separation.
1 Introdução
Essa religião doméstica tinha como núcleo o culto aos mortos, que eram
os deuses “lares” protetores da família e só por ela poderiam ser adorados,
sendo representados pelo fogo sagrado, que existia em todas as casas. O
fogo sagrado era a providência da família, protegendo somente os seus.
Esse culto não era público, todas as cerimônias eram celebradas apenas
entre os familiares e possuía um caráter obrigatório além de secreto. Nin-
guém que não fosse da família podia presenciar tais ritos, nem tampouco
avistar o fogo sagrado. O primeiro filho era encarregado de continuar o
culto aos ancestrais; se deixasse de fazê-lo, traria, com sua conduta, infe-
licidade e morte para a família. Estabelecia-se, assim, um poderoso laço,
unindo todas as gerações de uma mesma família. [...] A religião doméstica
Nessa nova concepção, o ser humano passa a ser sujeito das relações privadas,
e não mais um ser preterido em relação aos bens patrimoniais: a dignidade da pes-
soa humana torna-se um valor moral basilar ao Estado e à sociedade. Ato contínuo,
diferentemente do que ocorria na legislação civil de 1916, a Constituição Federal
de 1988 “humanizou” a família: as entidades familiares formadas fora do casamento
passaram a ser reconhecidas e amparadas; os filhos passaram a ter direitos iguais
entre si; os pais passaram a ter direitos e obrigações iguais, no tocante à criação, à
proteção e ao sustento dos filhos.
O interesse da criança envolverá sempre o afeto a esta dedicado por seus pais
– entenda-se, o amor dispendido. Tal será a tônica da guarda e, notadamente, da
compartilhada – o que se discutirá a seguir.
Sérgio Eduardo Nick, citado por Grisard Filho (2009, p. 131), complementa:
Foi na França que surgiu a primeira lei, sobre guarda compartilhada que
harmonizou o Código Civil francês com a jurisprudência existente desde
1976. Chamada de “Lei Malhuert”. Na França, se o casal se separa, o exer-
cício da guarda tanto pode ser exclusivo a um dos pais, concedendo-se ao
outro o direito de visita, ou compartilhado por ambos. Sobre essa moda-
lidade (guarda conjunta), a nova lei veio para confirmar a jurisprudência,
fazendo da guarda compartilhada uma referência legal.
da adoção pelos pais desse modelo de guarda. A redução do convívio de pais e filhos
feita pelo juiz não é para prejudicar a aplicação e o objetivo da guarda, mas com o
intuito de chamar a atenção dos pais, posto não estarem conseguindo concretizar os
verdadeiros objetivos perseguidos pela guarda compartilhada.
Com efeito, situações de grave negligência emocional praticada por alguns pais,
ocorridas voluntária ou involuntariamente contra seus filhos – eis que um dos pais
pode envidar esforços para impedir a presença do outro na vida dos menores - , tra-
rão desastrosas consequências para a vida dos infantes. Destaca-se a Síndrome de
Alienação Parental (SAP), processo identificado pelo psiquiatra norte-americano Ri-
chard Gardner, em que o ex-cônjuge detentor da guarda, não satisfeito com a sepa-
ração, usa os filhos como “arma” para atingir o ex-parceiro: a criança é condicionada
a ter ódio do genitor que não detém a guarda, sem nenhuma justificativa além da
tão-só malquerença do genitor guardião que assim “programa” a criança.
Colcerniani (2008, p. 230) bem aponta:
Como se vê, a alienação parental pode levar a criança a odiar para sempre um
dos seus genitores, algumas vezes de forma irreversível. As consequências da SAP
na vida de uma criança envolvem incapacidade de adaptação em ambiente psicos-
social normal, transtornos de identidade e de imagem, sentimento de culpa (quando
adultos) e, não raras vezes, suicídio.
Objetivando reprimir tal conduta, a Lei no 12.318, de 26 de agosto de 2010,
conceituou em seu art. 2o a alienação parental1, considerando indevida qualquer in-
terferência na formação psicológica da criança ou adolescente no sentido de colocá-
-lo contra seu genitor. Dá-se destaque ao rol do mencionado artigo, de caráter me-
ramente exemplificativo: quem quer que exerça qualquer tipo de autoridade sobre
a criança ou adolescente – portanto, não só pai e mãe - e que se valha de tal para
tentar colocar o filho contra um dos genitores, terá a conduta caracterizada como
alienação parental e sofrerá as respectivas sanções legais, desde a advertência (art.
6o, I) até a declaração de suspensão da autoridade parental (art. 6o, VII), sem prejuízo
de outras sanções civis ou criminais.
Vê-se, portanto, que a guarda compartilhada é um instrumento que poderá im-
pedir ou reduzir o risco do surgimento da Síndrome da Alienação Parental, vez que
o papel dessa modalidade de guarda é justamente o de atribuir igualitária e equa-
nimemente os direitos e obrigações aos pais, ensejando assim maior intensidade
na presença e no convívio com os filhos. A democratização das responsabilidades e
prerrogativas parentais em que se constitui a guarda compartilhada proporciona a
manutenção dos laços de afetividade entre pais e filhos, diminuindo sobremaneira
os efeitos negativos que a separação dos pais causa aos filhos.
Assim, a guarda compartilhada consubstancia-se num eficaz meio de, o Estado,
a família e a sociedade, protegerem e assegurarem os direitos dos menores em
idade tenra. Não é demais lembrar que a guarda não é um direito dos pais, mas um
conjunto de atribuições a serem exercidas sempre no interesse do menor, conforme
1 Art. 2o: Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança
ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que
cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
A guarda dos filhos, mais do que direito dos pais, é dever. O Código Civil
enumera, entre os deveres de ambos os cônjuges, a guarda e educação dos
filhos. A guarda é dever, enquanto ela significa não só a presença física
dos pais, mas a presença na educação, na formação dos filhos. Isso impor-
ta, evidentemente, para a solução dos problemas concernentes aos filhos.
(BRASIL, 1967)
Neste modelo não se exige sequer que o guardião consulte o outro (pai ou
mãe) não guardião sobre as decisões importantes a tomar relativamente
ao menor. O não-guardião não pode nem direta e nem indiretamente par-
ticipar da educação dos filhos, nem goza de um direito a ser ouvido pelo
seu ex-cônjuge em relação às questões importantes da educação do menor.
Tal instituto não atende aos interesses do menor, que se torna um verdadeiro
“mochileiro” conforme esclarecem Tartuce e Simão (2008, p. 214):
4 Conclusão
É cediço que o Direito de Família trata de laços afetivos e emocionais, de cujo
desfecho dependerá o destino das pessoas. Nessa área, revestida por aspectos sub-
jetivos, o operador do Direito deve ter sensibilidade, despir-se do excesso de for-
malidades, buscar conceitos e colaboração nas demais áreas do conhecimento. Tal
profissional deve incentivar e orientar os pais, visando à melhor solução para man-
ter os laços parentais.
Por isso, o operador do universo jurídico, em especial o atuante na seara do Di-
reito de Família, deve conhecer e buscar compreender o real alcance e a dimensão
do instituto da guarda compartilhada. É necessário que entenda o verdadeiro espí-
rito da lei instituidora desse modelo de guarda, o qual, conforme explanado, busca
democratizar entre os pais separados o exercício do poder familiar, distribuindo,
entre ambos equanimemente, os direitos e obrigações advindos dos misteres de
assistência, criação e educação dos filhos menores.
Dessarte, a guarda compartilhada tem objetivos contrários aos demais mode-
los de guarda: nesse modelo, apesar da ruptura da sociedade conjugal, o poder
familiar continua sendo exercido por ambos os pais. Esse tipo de guarda tem se
mostrado uma inovação benéfica, pois obedece a todos os princípios do Direito de
Família, bem como aos mandamentos constitucionais, do Estatuto da Criança e do
Adolescente e das convenções e tratados internacionais sobre o direito da criança.
O advento da guarda compartilhada significou um avanço, por atender às rápidas
transformações nas relações sociais.
Não se deve esquecer, contudo, que, apesar de a finalidade do modelo de guar-
da compartilhada ser incentivar e auxiliar os pais a manterem inalterada a relação
parental com seus filhos – promovendo-se assim a igualdade parental na criação e
educação dos filhos –, deve-se sopesar as circunstâncias do caso concreto, pois ha-
verá situações em que a guarda compartilhada poderá não ser o modelo ideal. Con-
forme é ressabido, o que se deve priorizar é o interesse do menor, e não o dos pais.
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