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Letras Musicais

Organizado por Josias Francisco


Atenção!
Este e-book foi organizado por Josias Francisco.

Para o efeito, o e-book se fez com o consentimento de Flagelo Urbano, o único legítimo dono das músicas
transcritas aqui, pois a mesma foi feita com o intuito de apenas ver que uma múscia bem escrita, também pode
ser lida e, com isso, ter uma visão mais clarificada dos ideais ouvidos “na voz do poeta sem poesia certa”, o
“louco por opção” que abdica do seu tempo tentando despertar mentes não loucas e fazer ver que a “melhor
loucura é a razão”, incentivando assim a busca infinita pelo saber...

Assim sendo, é explicitamente proibida a comercialização e o uso ilícito deste documento, pois todas a letras
aqui transcritas estão protegidas legalmente pelos direitos do referido Autor.

Para mais informações do organizador desse documento, envie um email para:


josiasfrancisco1996@gmail.com

Desejamos a você uma ótima leitura!


Letras Musicais

Flagelo Urbano
Sambala
“O Rei De Medina”

Organizado por Josias Francisco


Letras Musicais de Flagelo Urbano

2020, by Josias Francisco

1ª Edição: Luanda, 2020


Letras das músicas: Flagelo Urbano
E-mail do organizador: josaisfrancisco1996@gmail.com
“A voz que brota da alma
do poeta sem poesia certa”
- Flagelo Urbano -
Demo Sem Cracia (liberdade may be tomorrow)
ENTRE O TEMPO E A MEMÓRIA...................2 part. MC K....................................................... 31
Manifesto ........................................................... 3
O Betão (armado) part. Edú ZP ........................ 32
Mude a Cara da Tua Cara ................................... 4
Força Cósmica ................................................. 33
Destino (fado) .................................................... 5
DO SIÃO À MEDINA ....................................... 34
Louco Por Opção (o elogio da loucura) .............. 6
O Rosto Materno (dos Deuses)......................... 35
Música Alternativa ............................................. 7
Oralitura .......................................................... 36
São Paulo de Loanda (porquê nos tens como
enteados) ............................................................ 8 Sêmen Instável (das revoluções) ...................... 37

Pangeia (alicerces de uma vida).......................... 9 Possibilidades (Mudanças São) Part. Bob Marley
........................................................................ 38
Beef part. Edu ZP ............................................ 10
Crepúsculos dos Ídolos Part. Célsio Mambo .... 39
A Enseada ........................................................ 11
Em Vão (o que trazes no olhar) ........................ 40
Universo Infinito part. Tião MC ....................... 12
Aquele Que Escolhe Part. Lóro Mance............. 41
Estado de Emergenncia part. Guilhotina Verbal 13
Maré (alta ou baixa) Part. Bob Marley ............. 42
Quando o Inverno Chegar ................................ 14
OUTRAS MÚSICAS ......................................... 43
Apenas Ser ....................................................... 15
Primeiro Compromisso .................................... 44
Mente Aberta, Nova Era part. Keita Mayanda .. 16
Mestres da Humanidade ................................... 45
O ERMO ............................................................ 17
Mestre Mudo (amor chinês) ............................. 46
Griot (mestre da literatura oral) part. Eduardo
Apartheid Social .............................................. 47
Sidhartha .......................................................... 18
O Ermo (Via-Láctea)........................................ 19 Mr. Brent (petróleo bruto) part. Sayda.............. 48

Escritores da Liberdade part. Leonardo Wawuti20 Nasci Póstumo ................................................. 49

Clonagem Sociológica (rebelião antropológica) 21 Nostalgia ......................................................... 50

Gigantes de Papel............................................. 22 Infinito ............................................................. 51

Sílaba Silenciosa .............................................. 23 Poetar .............................................................. 52

Contra Capa part. Ikonoklasta .......................... 24


Flagelados do Vento Santo II part. Neydh
Barbante........................................................... 25
Plano Alto ........................................................ 26
Ainda te Procuro .............................................. 27
Saída Fugaz part. Célsio Mambo ...................... 28
Iluminismo (O Século das Luzes) part. Khospe
Letra ................................................................ 29
Tabú part. Da Bullz .......................................... 30
ENTRE O TEMPO E A MEMÓRIA
Manifesto

Verso

Yeah, manifesto do Flagelo comunista... Na sensação de estarmos amarrados dentro de nós mesmos,
indefesos
Fechem as rádios, fechem os jornais e a televisão Podemos ir a qualquer lado, mas ainda assim continuamos
Privatizem a democracia e a liberdade de opinião presos

Coarctam os nossos direitos pisem nos decretos À informação, que vem decapitada, mutilada, aleijada,
Promulguem leis pronto a vestir se acharem certos censurada, sem nada
As panelas que permanecem no fogo a cozinhar nada
Excluam-nos, construam muros e muralhas
Protejam vossos bens com homens e metralhas Silenciem o pensamento daqueles que vivem calados de boca
aberta
Partam as nossas casas e em seu lugar edifiquem condomínios Calem o barulho surdo do nosso grito mudo, talvez a hora seja
Para esfregar nas nossas caras o vosso domínio esta

Intimidem-nos, unifiquem o nosso pensamento Enquanto andamos sem pernas e de braços atados
Façam-nos uma lavagem cerebral enquanto é tempo Há um milhão de moradias devidas ao eleitorado

Enquanto gritamos com a boca fechada Ergam barricadas, deixam-nos sem saída
Nos manifestamos nos cadeirões das nossas casas Pisem sobre o nosso espírito, leiloem essas vidas

Domestiquem a justiça, façam obras de cosmética Encarcerem nossa inteligência, exilem as alegrias
Finjam que exercem com nobreza a função etílica Sepultem a liberdade do poeta sem poesia

Promovam banquetes, dancem sobre as mesas e mandem-se Que não mais vê seres humanos, apenas vultos
rosas Acabados de emergir do sepulcro
E promovam na TV a fútil realidade cor de rosa
Encham barris de fino, façam maratonas e vivam a vida à
Bebam champanhe, comam caviar e durmam sossegados grande
Falem de negócios e negoceiem essa geração de formatados Mumifiquem-nos aos poucos, deixem-nos exangues
Programados, alienados, uniformizados, robotizados
Deixem os mares sem peixes, florestas sem árvores, os rios
Que não vê, que não ouve, que não fala envenenados, deixem-nos sem nome
Que não sente, não quer mais sentir com medo da bala Aí sim entenderão então que o dinheiro não se come

Essa geração que tem sede, que tem fome, que tem pena, que - O carma da humanidade é agir!
tem raiva, mas não sabe de quê Mesmo quando estamos de mãos atadas... mesmo quando
Vive acorrentada sem sequer saber por quê estamos parados... quando estamos sentados... quando
dormimos os sonos dos marajás... quando olhamos impávidas,
Essa geração de autômatos, descendentes de nenhures serenamente para o sofrimento dos outros... ainda assim
Herdeira de um país alienado algures estamos em ação!

Silenciem-nos, queimem o nosso microfone


Se somos miseráveis deixem-nos morrer à fome

Impeçam-nos de criar, de erguer a cabeça


Para que não possamos mostrar ao mundo que a gente também
pensa

3
Mude a Cara da Tua Cara

1.Verso 2. Verso

Mude a cara do mundo Essas mãos estendidas dependem da tua mudança, irmão
Mude a cara da tua cara, mude tudo Observa o olhar dessa criança então
Mude, mas não para de mudar Ela espera que tu mudes com certeza
O sentimento profundo que habita em algum lugar Para ter a certeza de que com certeza vai ter pão à mesa
Do coração desse mundo
E que a casa onde guarda os farrapos da vida
Mude agora ou nunca mais E pedaços da sua infância não será demolida
Ofereça guerra ou paz Por essas mãos que já não têm mãos pra medir
Sanidade ou loucura Os milhares de litros de lágrimas que escorrem
Mas mude, mude porque essa é altura Do olhar de quem observa com tristeza a cair
Os últimos pedaços da sua mísera existência que correm
De olhar para cara do mundo
Desse mundo Entre os escombros de uma indigência como oferta
Que olha para tua cara cada vez mais cara Por ter conseguido viver com menos de um dólar por dia,
E que apesar de tudo espera de ti uma atitude rara quanta indigência
Quão indigência é esta
Com vista a mudar a cara da tua cara Desse olhar que habita, mas já sem cidadania
Essa cara que apresentas ao mundo
Esse mundo sem mundo, mas que possui uma cara É preciso mudar a cara que faz a cara da sociedade
Jogado a um abandono profundo É preciso dar pão para acabar com esta mendicidade

Mude, meu irmão É preciso fazer o povo se rever nela


Porque quando a gente muda, o mundo muda com a gente Mas é preciso ainda que não falte funge na panela
A gente muda o mundo com a mudança da mente Para que jovens desempregados não se tornem canhões
É preciso mudar, minha gente Apontados para inocentes quando tudo vale por alguns tostões
É preciso mudar... urgente!
A sociedade se torna criminosa e o homem delinquente
Refrão Não tem nada a perder
Porque tu, tu, não sabes o que é viver
É preciso mudar Sem o mínimo, acredite
É preciso amar
Porque o brilho em cada olhar Que o pobre não é livre
Só depende da força de quem quer mudar Não entende o valor da liberdade
Porque mesmo sem grilhões
Até que o sol brilhe acendamos juntos velas na escuridão Continua prezo à caridade
Para iluminar cada abraço dado ao irmão
É preciso mudar
Mudar a cara da cidade
É preciso mudar
É preciso mudar a verdade

Refrão

É preciso mudar
É preciso amar
Porque o brilho em cada olhar
Só depende da força de quem quer mudar

Até que o sol brilhe acendamos juntos velas na escuridão


Para iluminar cada abraço dado ao irmão... 2X

4
Destino (fado)

1.Verso 2.Verso

Quando te achei caminhavas pelo Rossio Vem sentar-te comigo à beira do rio que eu vejo,
Num inverno violento e sombrio E despreocupadamente contemplemos o Tejo
Sob gotas de chuva insistias na caminhada Traga a tua guitarra e venha vestido de luto
Para um lugar distante que não te apontava à nada Para representar esse cântico por que eu tanto luto

Não caminhaste, foste encaminhado Fale da tua história


Pelas cordas que denunciam as vozes do fado Conta-me sobre os teus amores
Procuravas nas entranhas de Lisboa E a glória
O choro dessa guitarra que ao longe soa Que eternizam as tuas dores

Foste ao Bairro Alto e numa canoa venceste o Tejo Diga-me o porquê da tua origem obscura
No chão da Rua Augusta reflectia-se o teu desejo Procuro os teus ancestrais nas noites mais escuras
Porcuraste nas artérias de Almada O mistério que envolve os teus temas
Os olhares já velhos e cansados não te diziam nada As lágrimas que caem da guitarra quando declamas os teus
poemas
Reviraste a zona de Sintra e paraste em Queluz
Interceptando quem te pudesse dar uma luz Fale comigo agora
Que te pudesse conduzir ao velho bairro da Alfama Conta-me as aventuras de outrora
Para enfim encontrar este som porque a muito clamas Como quando te deitavas nos braços da imensa popularidade
Quando corrias sem preocupação sobre as mãos dessa cidade
E entender o fadista que sangra o sofrimento
A tragédia, o destino a saudade de passados tempos Essa cidade de poetas e exploradores
A adolescência, o amor perdido e a melancolia Exímios escritores e talantosos descobridores
Depositadas nestes cânticos que permanecem na Moraria Os séculos não te enterraram porque és cultural
Fazes parte de um povo que tem um som magistral
Coro
(Meu Fado - Mariza) Coro
(Meu Fado - Mariza)
(O meu fado, meu fado, meu fado, meu fado, meu fado)
Eu te procuro tanto como nunca antes procurei (O meu fado, meu fado, meu fado, meu fado, meu fado)
Sonho dia e noite com o momento em que não te encontrei Eu te procuro tanto como nunca antes procurei
Sonho dia e noite com o momento em que não te encontrei
(O meu fado, meu fado, meu fado, meu fado, meu fado)
Percebo-te, sinto algures a tua presença (O meu fado, meu fado, meu fado, meu fado, meu fado)
És tu quem bombea o sangue que jorra da guitarra portugesa. Percebo-te, sinto algures a tua presença
És tu quem bombea o sangue que jorra da guitarra portugesa
(O meu fado, meu fado, meu fado, meu fado, meu fado)
És o amor da Mariza, Camané e Carlos do Carmo (O meu fado, meu fado, meu fado, meu fado, meu fado)
Nas noites mais sombrias é por ti que eu clamo És o amor da Mariza, Camané e Carlos do Carmo
Nas noites mais sombrias é por ti que eu clamo

5
Louco Por Opção (o elogio da loucura)

1.Verso 2.Verso

(Dizem que sou louco) Percebo a minha loucura, recebo-a tal como ela vem
Convivo com ela e aceito o que ela tem
Sou louco, sim sou! Pra mim talvez essa seja a razão da minha loucura
Talvez pensas que seja estupidez Acreditar que essa sociedade um dia desses terá a cura
Mas para mim é um prazer ser louco,
Num país que não merece a minha lucidez Ser louco é uma forma de ser normal
Prefiro ser louco, um demente por opção Pois o mundo é dos loucos, se não sabes afinal
Que escolheu a demência do que ser são É daqueles que não temem consequências quando a luta é pela
Como essa geração verdade
Que prefere ganhar o mundo do que ter mais sabedoria Não são todos que preferem renunciar a sua sanidade
Alienar a sua identidade e deitar fogo à livraria
Deixe que eu seja louco e me perca entre os labirintos
Sou louco, sim, sou! E por que não? Dessa cidade manchada
Ao menos tenho consciência da minha loucura Rica por todo lado, mas que não me oferece nada
Vocês pensam que não são Deixe que eu vagueie e recolha no lixo
Por isso mesmo jamais procuram a cura O conhecimento necessário para o meu ofício
Ser louco é um privilégio, meu irmão...
Deixe que eu surte e consiga ser livre
Quando os dias passam e nada há de novo Do que ser são e presenciar este embuste que quer que me
Quando a arte de governar só serve para repartir o povo prive
Em 2, 3, 4, 5, 6, 7, ah, sei lá De usar arte da escrita como arma
E deixar que poucos se encontrem no topo da cadeia alimentar Para me opor aos que se opõem à minha oposição à fama

Eu prefiro ser louco e cantar a minha canção Eu não sou um louco, eu fui enlouquecido
Do que ser são e ceder à pressão Eu não sou revoltado, eu sou incompreendido
De quem não tem a mínima noção Que luta contra tudo e todos para ser o que é de verdade
De que antes do Tchilar ou Flash há o coração Nessa sociedade à toa que me leva à insanidade
Esse coração que bate 100 vezes por minutos
E encontra na música a linguagem do mundo Que me força ser igual a todos
Não tem a ver com sucesso, o sucesso não me diz nada Para que desse modo eu possa ser normal
O que eu busco é mais profundo, irmão Que ironia...
Muitas pessoas têm sucesso e uma vida abastada, Fernando Pessoa uma vez disse
Mas vivem como defuntos, então Que se o coração pensasse, pararia.
Quem disse isso não fui eu
O seu nome era Bob Marley, viveu uma vida linda e morreu Refrão
Mas tal como eu não sei, ele não sabia o seu nome ainda,
então apenas viveu... Sou louco por opção
A demência me convida e me chama à inovação
Refrão Sou louco e a vossa loucura é a razão
Da razão porque encontrei na loucura a minha salvação
Sou louco por opção
A demência me convida e me chama à inovação Sou louco por opção
Sou louco e a vossa loucura é a razão
A demência me convida e me chama à inovação
Da razão porque encontrei na loucura a minha salvação
Sou louco e hei de buscar na loucura a solução
Sou louco por opção E por que não
A demência me convida e me chama à inovação Encontrar nela a minha salvação?
Sou louco e hei de buscar na loucura a solução
E por que não
Encontrar nela a minha salvação?

6
Música Alternativa

1.Verso 2.Verso

Das mãos do poeta Fazer música alternativa é um presente


Dessas mãos esvaídas em prantos Pra quem caminha entre cegos e formatados
Quae seguram com firmeza a caneta Numa sociedade cada vez mais ausente
Para chorar em forma de canto Formada por jovens completamente alienados

O desencanto pelas vozes que entoam cantigas obsoletas Eu busco a arte, e tu


O artístico Sei que preferes as noites, a mulherada e o kumbu
O poético Se o som que tu fazes vem do coração
Na verdade, um mundo à parte Ou então é pressão da tua gravadora
De quem faz música, mas não faz arte Que deseja te transformar em 50 Cent logo agora

Com visão dinheirista, vejo a fama em teus versos Prostitui a tua música enquanto a minha vai à escola
Ontem buscavas a luz e com a ponta de uma caneta afundavas Eu tenho planos pra ela, não a deixo cheirar cola
o universo
A tua música toca na rádio, mas não no coração
Espero em ti a mudanças que desejas no mundo Daquele que busca paz e consolo no refrão
Ou seja, o mundo que desejas mudar De uma vida dedicada a batida
Procure lá bem no fundo A escolha dos instrumentos que fazem o ponto de partida
Porque lá bem no fundo ainda existe um lugar
Para uma caminhada em direção à revolução
Onde a música se transforma Que não será vista em nenhum canal da tua televisão
Onde a voz e a sonoridade dão forma E veja se és o reflexo da tua música
A uma nova forma de fazer música Se ela entretém mais e menos educa

Busca o alternativo É por isso que das mãos do poeta


Como forma de continuares vivo Dessas mãos negras esvaídas em prantos
Caem lágrimas que se transformam em cânticos
Para não morreres aos poucos como um covarde
Em busca de fama sobre as ruínas da cidade Refrão

Refrão Eu sei
Que o rap alternativo nunca foi a tua lei
Eu sei Os teus CD’s, os artistas que mais gostas
Que o rap alternativo nunca foi a tua lei O Elinga Teatro ou Carl Max, em quem tu apostas?
Os teus CD’s, os artistas que mais gostas
O Elinga Teatro ou Carl Max, em quem tu apostas? Eu sei
Que o rap alternativo nunca foi a tua lei
Eu sei As calças grandes, chapéu ao contrário
Que o rap alternativo nunca foi a tua lei Flagelo Urbano ou aquele otário? 2X
As calças grandes, chapéu ao contrário
Flagelo Urbano ou aquele otário?

7
São Paulo de Loanda (porquê nos tens como enteados)

1.Verso 2.Verso

A verdade e o futuro Oh Lua, oh Luanda,


O passado e o presente, o quadro é escuro Oh terra de reis, príncipes e rainhas
E ofusca os gritos de liberdade Oh terra fértil em gente mesquinha
A liberdade refém dos corredores da cidade Que prefere renunciar a lógica e as evidências
E acreditar em juízes sem jurisprudência
A cidade amada
São Paulo de Loanda Por que te afastas quanto mais me aproximo?
Por que não és capaz de me oferecer mais nada? Por que me largas lá do cimo?
Mostra o teu domínio Dos montes da decadência maior
Por que preferes o silêncio ante o declínio? Ante o olhar impávido da matriz superior

E te agarras à pretensa magnanimidade Caminha comigo e ensina-me sobre o nacionalismo


Disfarçando as assimetrias entre o musseque e a cidade Diga-me o porquê renunciaste ao socialismo
É por isso que renuncio, sigo pelas montanhas Ao poder do povo, se o povo tem o poder a flor da pele
Em busca dos valores que já não enxergo em tuas entranhas Se a soberania reside nele

Criaste condomínios, edifícios de alto padrão e torres Ensina-me sobre a liberdade e o seu valor
imponentes Para que eu não renuncie e procure outro amor
Almejas arranhar os céus ante a miséria dessa gente E caminhe sem olhar pra trás em direção ao breu
Que a muito atingiu o zero e hoje renuncia Em busca da paz que essa paz nunca me deu
A essa vida sem alegria
Oh Luanda, é por ti que eu clamo
Oh, terra da Kianda, oh terra prometida, por que me tens por Quando a caneta sangra é por ti que declamo
enteado Esses versos, que para mais ninguém os escrevi
Sare as minhas feridas e traga-me para o teu lado Porque o que sinto por ti por mais ninguém senti

Festeja comigo e beba da minha caneca Oh Kianda, é para ti que eu declamo


Ofereça-me do teu pão quando em mim se abater a seca Quando as lágrimas caem é para ti que clamo
Quando as chuvas de novembro cobrarem suas oferendas Por esse povo que se encontra em pedaços
Venha chorar comigo sobre o frio da minha tenda Que de ti nada mais quer senão um pequeno abraço

Para que entendas que renunciei Refrão


Não por já não ter forças pra lutar
Mas sim por já estar cansado de chorar Fui eu quem renunciou
Já estar cansado de chorar... Fui eu quem renunciou
Fui eu quem renunciou
Então, eu renuncio... eu renuncio... Fui eu quem renunciou
A vida... 2X
Refrão
E agora, viveis, cantais chorais
Fui eu quem renunciou E agora, casai-vos, matai-vos e embriagai-vos
Fui eu quem renunciou E agora, dais esmolas aos pobres
Fui eu quem renunciou Renuncio-me a atingir o zero...
Fui eu quem renunciou
A vida...

8
Pangeia (alicerces de uma vida)

1.Verso Refrão

O beat é do Boni e os versos são do Flagelo “(Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente)
Somos underground desde a idade do gelo Reunidos na acrópole, em meca ou medina
Quando poucos seres vivos caminhavam sobre a pangeia (Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente)
Nós já cá estivemos a uma década e meia O rap uni nações sem olhar pra cor da retina
(Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente)
Desde o cume dos Himalaias às cordilheiras dos Andes Começamos na foz do Kwanza e navegamos sobre o Ganges
Começamos na foz do Kwanza e navegamos sobre o Ganges Navegamos sobre o Ganges”
Encriptamos versos e escondemo-nos em grutas
Apenas os decifram as mentes mais astutas 3.Verso

Zodíaco, seguimos a trajetória do sol Do cimo dos Urais cuspimos a nossa ira
Codificamos a poesia e tocamos apenas em dó Contra falsos escribas que empenharam sua consciência em
Agasalhados com vinis e alimentados com a mpc troca do oura e da mirra
Desliga o canal 2, não somos artistas pra Tchizé Mas nós não, somos donos e senhores da nossa era
Desde o núcleo, manto até a litosfera
Abraçamos o anonimato para sermos mais visíveis
A nossa música é transumana, imprevisível Não somos mercenários de opinião,
Não fazemos broxes à mídia, não bajulamos Não negociamos a nossa consciência, Simão
Cagamos para o dia a dia, não nos entregamos, então... Caminhamos a mais de 5 mil metros de profundidade
Para preservar os originais dos escritos da verdade
Refrão
Guardiões do templo sagrado do som alternativo
“(Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente)
Morremos por esse bumbo e por essa tarola
O beat é do Boni e os versos são do Flagelo
(Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente) Mesmo quando MC’s de 99 não mantêm o ideal vivo
Somos underground desde a idade do gelo
(Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente) Budistas, hindus, muçulmanos e judeus
Encriptamos versos e escondemo-nos em grutas Protestantes, católicos, metodistas e ateus
Apenas os decifram as mentes mais astutas” Reunidos na Acrópole, em Meca ou Medina
O rap uni nações sem olhar pra cor da retina
2.Verso

Diretamente do Zoo ou se quiserem de Medina Vivemos cada hora, cada minuto, cada segundo
O sagrado coração d’arte não se encontra em qualquer esquina Cada décimos, cada centésimo, cada milésimo de segundo
Devoramos a cabala e buscamos a luz divina Para transformar as lágrimas dos mais pequenos no mundo
Não é pela fama, pela fama o Boni não prima Yeah, ainda que torças o nariz quando falamos a verdade
O presente não nos diz nada, olhamos pra prosperidade
Não somos circunstanciais, insisto Somente a verdade...
Não pensamos com a barriga como o Dr. João Pinto
Caminhar na contramão é a nossa faixa de rodagem Refrão
Não te metas entre nós se não decifrares esta mensagem
“(Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente)
Misantropia, reclusos de nós mesmos O beat é do Boni e os versos são do flagelo
Buscamos em Santo Antão a razão porque não querermos (Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente)
Caminhar entre juízes e advogados Somos underground desde a idade do gelo
Uns condenam inocentes, outros defendem o diabo (Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente)
Encriptamos versos e escondemo-nos em grutas
Por isso aquecemos versos e trabalhamo-los na forja O rap uni nações sem olhar pra cor da retina
Para lança-los como adagas a essa corja (Yeah, Boni na Diferencial Studio, som diferente)
De abutres, carniceiros voltados ao fracasso Desliga o canal 2 não somos artistas pra Tchizé”
Esquecidos de que a morte ainda é o maior carrasco

9
Beef part. Edu ZP

(Edu ZP – música toda)

1.Verso 2.Verso

Tenho observado e experimentando sabores e dissabores Dentre as mais variadas convivências desta vida
Nesta minha caminhada pelo Popula e arredores Vivi situações, cicatrizei feridas
Certezas que por vezes não são cumpridas Vi coisas que marcaram-me profundamente
E as verdades muitas vezes destruídas Coisas que com um pouco de esforço poderiam ser diferentes

Porque o trabalho dignifica o homem e o salário o seu esforço Vivenciei acontecimentos que deixaram-me de boca aberta
Mas esta realidade é jogada no calabouço Vi crianças com menos de 6 anos obrigadas a ser zungueiras
Hoje confirmei que a beleza está presente no olho de cada Vejo mulheres a perderem o amor próprio
homem Vi rapazes a usufruírem deste gozo
E a mesma desperta consoante o interesse de cada um
Vi ambulantes dispersos por causa da fiscalização
Esta teoria não poupa ninguém Zungueiras salvam negócios e abandonam o filho no chão
Conhecimento resultado da vivência subjetiva Vi assaltos bem na minha frente
O amor dificilmente é correspondido Vi atos de vandalismos, confronto entre delinquentes
E quando assim é, ele dura muito tempo
Vi amigos que caíram e não conseguiram levantar
Quase nunca se cumpre o espaço de tempo Vi pessoas que fracassaram e pararam de lutar
De corrida entre o nascimento e a morte sem sofrimento Vi idosos acusados de atos de feiticismo
Homens talentosos vivem ao relento Vejo diariamente a decadência do civismo

Os pais muitas das vezes acham-se donos da verdade Entre saúde e doença, decepções e alegria
Ocultando sem grandes motivos a nossa realidade E o que nós acumulamos na luta de todos os dias
Os políticos sempre vistos como mentirosos Mas basta querer pra mudarmos o quadro que aqui vigora
Chamados de gatunos e gananciosos Se a boa ação faz a mudança, a mudança começa agora

A verdade e experiência adquirida Assuma o teu erro, muda, pois você é capaz
Servem para ludibriar pessoas nesta vida A honra não está em nunca cair, mas levantar-se cada vez que
A paz no mundo inteiro será difícil se cai
Com o comportamento arrogante dos governantes, quase A honra não está em nunca cair, mas levantar-se cada vez que
impossível se cai

Mas uma coisa é certa, aprendemos com todos


Neste mundo atrofiados e de loucos - A intenção é mesmo essa, trocarmos experiências, o que eu
Numa sociedade que em momentos de alegria tem um circuito vivo, o que tu vives, o que nós vivemos..., o que se fez, o que
restrito é errado e o que pode ser mudado... paz e compreensão...!
E os de tristeza perguntamos a ausência, nada descrito, é uma
treta Refrão
Mas venho assistindo capítulos de gênero e trago na minha
letra São atitudes e comportamentos que vemos todos os dias
São desejos e aspirações daquilo que a gente queria
Refrão São as exposições sinceras de tudo o que a gente acredita
São tristezas e decepções da nossa experiência de vida
São atitudes e comportamentos que vemos todos os dias 2X
São desejos e aspirações daquilo que a gente queria
São as exposições sinceras de tudo o que a gente acredita
São tristezas e decepções da nossa experiência de vida
2X

10
A Enseada

1.Verso 2.Verso

Tudo parece acabado Olhares que se dizem tristes, tristeza em cada olhar
A estrada chega ao fim Sonhos que morrem tentando se concretizar
O coração se revela cada vez menos apertado Pessoas vêm, pessoas vão, pessoas também ficam
Que é muito bom nos sentirmos assim Nos corações de todos aqueles que delas não abdicam

Plantamos em cada canto um sorriso O que temos nós, simples pedaços de mortais?
Crescemos com a vida, com os velhos e os novos amigos Temos tudo e ao mesmo tempo nada
Um sentimento cada vez mais quente A vida num dia e a morte vagueando no vento
Apaga os espinhos ressentidos e olhares indiferentes que completa a madrugada

O ódio não aconselha o homem que quer estar sozinho O sorriso reciclado, a maresia traiçoeira
Quando tem que tomar decisões com água e conselho com o O que se quer eternizado
vinho A paixão desapaixonada pela frivolidade da nossa era
Há sempre asfalto depois do deserto
A malícia desculpada, Nem sempre o que mais desejamos temos por perto
Os corações que vivem de mesquinhas lembranças
O homem chega à conclusão que perdoar não vale nada A vida é efémera, o chamamento é inovação
E vê que todos os danos são caudados por mudanças Dos homens que um dia herdarão a terra,
A reencarnação
O falso orgulho, o preconceito e betão Da voz que veio para dar vida a mais uma era
Os sorrisos que se recebem quando fingimos que acenamos a
outra mão Refrão
Um olá, um adeus, irmão, como é que vai?
Então, em casa tá tudo bem com o pai? A tarde cai para deixar que se levante o dia
No silêncio húmido de cada madrugada
Palavras que mudam por completo o tom de qualquer voz O amanhã, o amanhã é só mais um novo dia
Quando mudamos de atitude em relação as coisas, as coisas Pra quem tem a vida de quem nessa vida não tem nada
mudam de atitude em relação a nós 3X
O valor de uma palavra amiga e um abraço sincero
Para quem se encontra no fim da linha, no seu desespero

Enfim... tudo nessa vida ingrata passa


O tempo não aprendeu a ter firmeza em nada
E a nossa vida, a nossa vida é tão escassa
Que por vezes foge completamente apressada

Refrão

A tarde cai para deixar que se levante o dia


No silêncio húmido de cada madrugada
O amanhã, o amanhã é só mais um novo dia
Pra quem tem a vida de quem nessa vida não tem nada
2X

11
Universo Infinito part. Tião MC

1.Verso Suporto apenas a minha


(Tião MC) E faço essa música

Música, universo infinito Tentando ocupar o meu lugar nesse universo infinito
O Silêncio, a dor o grito Onde me firmo e grito
A voz do poeta que retrata o cotidiano Com força
A alegria, a tristeza do negro, do pano Estou vivo...
Da viúva maltratada pelas lembranças dum passado sofrido
3.Verso
Música, o balancé que nos faz dançar (Flagelo Urbano)
O Som que nos ajuda a desanuviar
A melodia que soa da guitarra do Totó Não vou falar de ti, acho que já nos temos visto
O som estendido e o bemol no gospel do Dodó Lembro-me de ti, agora sei disto
Escrevi sobre ti a algures nas páginas de uma vida
Música, a defesa das liberdades fundamentais Dedicada ao microfone e a batida
O rap do MC K, a serenata, o som que nasce
De Keyta Mayanda, a tradição Tudo o que sei sobre ti já falei, cantei, fiz música
Divulgada por Bonga na reunião Dediquei-te as linhas da minha música única
Do kota Teta... O que queres que eu fale mais sobre ti, amiga?
Não quero ser repetitivo, não vou abordar coisa antiga!
Música, o soar das nossas marimbas
O batuque do Kiezos e dos Nogla Ritmos Gostaria de dizer coisas belas e novas
A liberdade que tenho de falar sobre o que me é íntimo Com um requinte na escrita e uma voz mais glamorosa
No espaço vasto e infinito Talvez dizer que sem ti eu não vivo
Eu não existo, eu não consigo
Repetimos as palavras e o assunto Sem ti eu sou um nada, mesmo num palacete sem ti sou sem
Mas renovamos sentimentos abrigo
É sempre novo o sentir
Nesse universo infinito ainda por se descobrir Falei de ti, oh música, no música é
Recordas? Tu soubeste impor-te
Música, M-U-S-I-C-A E abriste-me as portas todas
Pra viver e apreciar
Eu e o Boni desenhamos-te, demos-te vida
2.Verso Com apenas algumas semanas corrias solta pela avenida
(Tião MC) És das filhas mais querida, dos amores mais amado
Só não digo que és a preferida pra não ficar feio pro meu lado
Esta é a minha música e ponto final
Diferente e original Deixo-te estas linhas como recordação
Diferente pra quem ouve e sente Para que sempre te lembres da minha gratidão
E pra quem sente e não mente Por tudo o que fizeste e fazes na minha vida
Pra quem não mente Adeus, esta é a hora da partida
Sobre o que sente verdadeiramente

Esta é a minha música


O meu hip hop e nele faço o que gosto e que quero
E não preciso da vossa classificação
Por que todo sabe que número 1, 2 e 3 são
Vocês, é claro
Mas eu não suporto a vossa caridade e nela escarro

12
Estado de Emergenncia part. Guilhotina Verbal

(Guilhotina) “original é o poeta


Que é origem de si mesmo
O poder é passageiro Que numa sílaba é seta
Nem sempre cortar a meta significa chegar primeiro Noutro pasma o cataclismo
O tempo passa e a vida cada vez mais aperta Original é o poeta
Porque distribuição do bolo está a ser malfeita De origem clara e comum
Que sendo de toda a parte
Desculpem-me o desafio e a falta de respeito Não é de lugar nenhum
Devíamos ter em conta o pressuposto tradicional Original ainda é o poeta
Não precisamos simplesmente de homens formados Expulso do paraíso
Precisamos acima de tudo de homens capazes de fazer desta Por saber compreender
terra um bom lugar pra se viver O que é choro e sorrio”
Um só povo, uma só nação, ninguém nos pode deter José Carlos Ary dos Santos, poeta português

Mas o sistema sociopolítico transforma Angola num território Refrão


de tribalistas
Os nossos governantes são todos comissionistas Aqui... não dá pra ver o sol brilhar
O país tá na zunga, você nem sequer dá conta Aqui... não dá pra ter esperança por que o sol não vai brilhar
Depois de ouvires com atenção vais dizer que isto é afronta Porque o sol não quer brilhar
Nunca mais vai brilhar
O deputado que elegeste não vai te defender
Não há aliança entre a oposição e o poder (Guilhotina)

Os debates na assembleia muitas vezes não são francos O país está prestes a mergulhar num caos
Fala-se muito de números, mas de trabalho nem tanto O ministério da educação que tomar precaução
O povo está cansado, o povo não quer só a paz As universidades tão cheias de gente burra
Queremos liberdade, justiça e muito mais... O político mentiroso pensa que é gente nobre
As cadeias tão abarrotadas de gente pobre
Refrão
Precisamos pensar bem pra agir melhor
Aqui... não dá pra ver o sol brilhar Senão o país vai correr de mal a pior
Aqui... não dá pra ter esperança por que o sol não vai brilhar Gastamos bilhões de dólares pra construir estádios
Porque o sol não quer brilhar Enquanto a população vai morrendo aos bocados
Nunca mais vai brilhar
Marburgue, sida, malária
(Flagelo Urbano) Situação precária
Ninguém quer ser camponês, todos querem ser operários
Executivo ou bancário
Advogados sem paixão, juízes sem justiça
A lei favorece o pobre? Não, só gente rica! Cabe ao governo criar política de incentivo
Desgraçados sois vos doutorados em leis Uma vez alcançada a paz, erradicar a pobreza tem que ser
Traidores disfarçados, o que será de vocês nosso objetivo
Mas tem mais..., melhorar as urgências
Dispam-se das becas, deitem a vossa toga Enquanto isto não acontece, está decretado estado de
Assumam em público pra que campeonato a vossa equipa joga emergência
Soltem o senhor Ministro e aprisionem o João
Desviar dinheiro público é menos grave que roubar um pão Segurança social, bem-estar pra o povo
As riquezas do petróleo deviam ser revertidas em benefício do
Onde é que estará a justiça, eu nunca mais a vi povo
Se lhe encontrares amarre-a bem, porque faz muito tempo que Abre o olho...
ela já não passa por aqui
Ela foge o negro pobre sem dinheiro na mala
Refrão
Prefere a casa grande, já não quer saber da senzala
Aqui... não dá pra ver o sol brilhar
Convive com Altos Mandatários, Ministros e Generais
Aqui... não dá pra ter esperança por que o sol não vai brilhar
Deputados, Governadores e Multinacionais
Porque o sol não quer brilhar
Tem tudo o que precisa
Nunca mais vai brilhar
Se de ninguém recebesse daria a todos justiça
(2x)

13
Quando o Inverno Chegar

1.Verso 2.Verso

O amor que se perdeu Aguarde o inverno que eu prefiro o verão


Quando morreu o amor pelo amor no amor que você nunca O sol que queima o amor pela liberdade de expressão
viveu Aguarde o inverno que ainda assim prefiro o verão
As vozes que gritam no novembro da nossa união
O amor que você vive sem amar
O desejo, o carinho, o sorriso sem amor Frase de esperança afundam tendências
O discurso que você faz sem amar, é dor O homem fala, fala, mas não muda consciência
Que perdura no tempo De um povo que quer ser livre para amar
As juras de liberdade nada mais são que o vento Amar o homem no amor dado pela ciência
Que sopra no sopro do soprar dos tempos
De que o amor brota no coração de cada um, e nada mais
No avesso da democracia, no tempo em que o sol queima sem E que não se ama a justiça sem ser amante da paz
brilhar Não se é sem nunca ter sido
E o amor se esvai, esvai-se sem amar O amor nasce no coração e não no umbigo
A poesia vira prosa, a serpente rosa
E assim morremos com o nascer da aurora Aguarde o frio, que eu prefiro o calor
Na terra de São José, em Sodoma e Gomorra Das palavras do homem que ainda quer ser melhor
Que sabe o que é melhor, tem noção do que é melhor
Onde leões voam e pássaros rastejam
A monarquia se reveza e os jacobinos festejam Para o rebanho que pasta
Apompe circunstâncias sobre as azas do clero E que só água não basta
As massas aplaudem o seu próprio desespero É necessário sol que traz a luz
Que ilumina os corações dessas ovelhas
Não estejas junto a mim quando o inverno chegar Que caminham em direção a um pasto chamado Sinai
Não estejas, não, que eu não estarei lá
Eu não compactuo com a vossa forma masoquista de amar Pra receber de Deus a tábua
A tábua da liberdade, a liberdade justa
Sairei em busca da primavera, do outono, do verão A justiça que vem do Pai e não do homem que diz ser Ser de
Do pão, sei lá justiça
Apenas quero sair e não volto sem os encontrar
Vou em busca do sol que queima Não podes ser porque ela não está em ti
O amor que inspira, o poeta que acena Não sei por onde anda, também não a vi
Para o povo sem amor Procure dentro de ti
Porque não conheceu o amor de quem não nasceu para os
amar Há mais espaço para o amor do que aqui
Nessa terra chamada terra de ninguém
Não esperes por mim, não espere meu juvenal Onde leões voam e pássaros rastejam
Porque como vocês já acreditei em pai natal

Refrão Refrão

Esse amor que se perdeu Esse amor que se perdeu


Perdeu-se nas estradas da vida Perdeu-se nas estradas da vida
Em cada olhar que se vai, Em cada olhar que se vai,
Que se vai... Que se vai...

Esse amor que já morreu Esse amor que já morreu


Morreu o amor pela vida Morreu o amor pela vida
A vida que vem A vida que vem
Do amor do pai... Do amor do pai...

Esse amor que se perdeu Esse amor que se perdeu


Perdeu-se nas estradas da vida Perdeu-se nas estradas da vida
Em cada olhar que se vai, Em cada olhar que se vai,
Que se vai... Que se vai... 2X

14
Apenas Ser

Eu quero ser as Quedas de Kalandula


2x

1.Verso 2.Verso

Eu quero ser a palavra, o silêncio Quero ser a tua alegria, honestidade e sol
Queria um dia ser a voz, mas hoje sou o tempo Quando o cinismo e mentira te causarem dor
E abarco o universo em cada um dos meus versos Quero contigo chorar as lágrimas desse dia
Não quero ser panteísta Que descobrires que amaste mais do que devias
Somente ver Deus em tudo, tudo em Deus, sou deista
Quando o mundo te bater forte e a tua fé ruir
Eu quero ser o sonho que se realiza Achar que a saída é a morte e já não ter para onde ir
Porque se tem esperança Algures nesse mar e achar uma caravela
O sorriso do sol que brilha Que algum dia quiseste que te conduzisse pela
Pro velho e pra criança
Vontade de ser adulto
Quero ser um poema, uma partitura Sem saber que sê-lo jamais será o indulto
Uma poesia, não importa em que altura A redenção para uma vida que há muito
Quero ser a verdade da justiça ilegal Perdeu-se na vaidade e no falso impo
A prisão preventiva do homem enquadrado num artigo
inconstitucional De uma pretensa mudança que em nada
Se assemelha à vontade de ser a pessoa mais amada
Quero ser Malcolm, Gandhi ou Cheguevara Não tiveste a sorte de amar mais do que devias
Os ideais da liberdade que a liberdade jamais libertara A luz apagou-se quando quase vias
Nelson Mandela, Nkuame Nkruma, Keniata ou Cabral
Fazer sempre o bem, mas saber que é inevitável o caminho do O esplendor da ética do politicamente correto
mal Buscar em ti mesmo o ângulo certo

A sagrada esperança, o olhar seco Para observar a tua tragédia


A edificação do amor no legado de Agostinho Neto Pedaços de ti que caem a todo lado
A estrela que menos brilha Fragmentos de um passado
Nem sempre é a mais pequena Há muito incinerado

O caminho que se escolhe quando o objeto e o fim é liberdade Verdades que se negam quando acreditamos na eternidade
e a justiça social Das rosas que se abrem para a efêmera mocidade
A dignidade da vida humana
A melhor distribuição da riqueza nacional e não a fama Refrão

Porque eu não busco a fama Eu quero ser as Quedas de Kalandula


Não busco a fama... 5X

Refrão

Eu quero ser as Quedas de Kalandula


2X

15
Mente Aberta, Nova Era part. Keita Mayanda

1.Verso Surgiu do antigo um capitalismo ocidental a favor do


(Keita Mayanda) comunismo
Hoje a vida é muito rápida, muito mais dinâmica, não há
O mundo é mais techno, mais digital tempo para humanismo
O amor pede uma chance, mas poucos pensam em tal A social democracia, a utopia medieval
Uma chance para fazer milagres simples De que o homem é só, e só, somente só
Como dar pão às crianças que vivem indigentes Permanece na ilha dos Robson

O mundo é mais techno, mais digital Sobre a tutela de um pretenso neoliberalismo


Vive pelo petróleo com medo da guerra mundial Os mais fracos vêm-se nas mãos do neocolonialismo
Mas a guerra é matéria prima do primeiro mundo Assim o mundo é e será mais Bush e Saddam
Ajuda a conquistar mercados, sobre tudo A ciência de um lado e do outro a fé cristã

O capitalismo faz dinheiro com o rosto do Che Guevara Refrão


Ironia, o socialismo utópico é moda cara
O mundo é mais frio, mais impessoal Mente aberta
A televisão forma opinião nessa era digital São os direitos das gerações futuras
É a luta contra extinção de espécies da fauna e da flora
Minimizar custos, maximizar ganhos
A lógica do capital torna-nos estranhos Mente aberta
Bem-vindos ao admirável mundo novo É buscar o equilíbrio necessário
Democracia não significa governo do povo Entre a condição humana e o avanço tecnológico

O mundo se globaliza, mas cresce a periferia 3.Verso


O centro do poder refém da sua tirania (Flagelo Urbano)
O mundo é mais pequeno, visita-se num minuto
Do teu computador assistes a dor e ao luto Enquanto em África chove mais petróleo
América e os seus aliados garantem o seu monopólio
Refrão Uma corrida feroz nas armas de destruição humana
Enquanto ninguém conversa o mundo paga as favas
Mente aberta
O sonho que se realiza na esperança (Keita Mayanda)
O brilho no olhar inocente da inocência da criança
O Mundo é mais absurdo, cheios de contraste
Mente aberta Enquanto jorram lágrimas de fome temos bandeiras a meia
Estar aberta ao diálogo novamente haste
Saber que acima do mundo está o sermos gente O mais frio, mais impessoal
A minha voz espalha mensagem por via digital
2.Verso
(Flagelo Urbano) Refrão

O mundo é mais Bush e Saddam Mente aberta


Os velhos olhares se cruzam diante da esperança vã Mente aberta
O mundo hoje será mais Bush e Saddam Mente aberta
Se não morrermos e nascermos nas cinzas do amanhã Mente aberta

A ciência cresce, vem o mundo atrás


Mas a ciência não é tudo, tampouco a paz
A certeza no humanismo, na meritocracia
Nas verdades absolutas de quem acha que não vê na
democracia a tirania

Rompem-se as barreiras
Do oceano, dos céus e da terra
O conceito global de aldeia global
Se concretiza à medida que vemos no clipe do mal

16
O ERMO

17
Griot (mestre da literatura oral) part. Eduardo Sidhartha

1.Verso 2.Verso

Eu sou um griot, um mestre, um professor Como Toumani Diabité ou Baba Sissoko


Busco na literatura não escrita a essência daquilo que sou Viver da raiz dessa árvore é que faz cada um de nós um griot
Não ensino, (por quê?) sou ensinado Músicos e poetas, devotos do tronco do baobá a tempo inteiro
Pelos alunos que seguem as pisadas do chão desse passado A ausência de livros não impede que as palavras caminhem no
corpo do guerreiro
Um contador de história, habitante do deserto
Simbolismo dos valores morais sem lugar certo A conservação da palavra, da narração e do mito
Narrador por excelência, o homem relevante Ortografa na oralidade aquilo que se tem de mais bonito
Guardião do templo sagrado, eremita andante A sabedoria dos povos de boca aboca por gerações
Os griots são os tradutores, os guardiões
Contador de contos, personagem central
Depositário das histórias da África Ocidental Sem papel nem pena
Desde o Rei Sundiata Keita, o Soberano de Djené Conservam os nossos traços identitários deste então
Aos mestres Alfa Oularé e Mory Kanté na Guiné Quando não havia telefone, rádio, internet nem mesmo
televisão
A memória auditiva e visual dos povos à sul do Sahara Quando eram apenas os tambores que comunicavam e
Fundem-se no entoar dos cânticos ancestrais dos Bambara anunciavam
A palavra cantada antes do aparecimento da escrita A chegada dos mestres, o vínculo que ligada a tribo à sua
Tem a função de eternizar o embrião da memória coletiva tradição

Os tambores anunciam, entra o mestre Djimo Kouyaté A paixão biofílica


O livro aberto sobre o comércio escravista em Daomé A conservação dos usos e costumes pela oralidade
Nguni, Matabele, Malinke, Monomotapa e Mbenina É tão rica,
As lições de Sambala, o Rei de Medina Que ultrapassam os limites impostos pela visão da
humanidade
Refrão
O património intemporal
Eu sou o griot... É na tradição oral que se funda a identidade cultural
Do Mali, da Gâmbia e da Guiné Conservada no imaginário de toda comunidade
A soberania espiritual dos ancestrais de Daomé O ritual do contador de histórias
É uma autêntica viajem aos ancestrais da humanidade
Eu sou o griot...
O tocador dos tambores dos Bambara Tal como Diabité, um dos griots mais puros
Descendentes das tribos nómadas à sul do Sahara Ele é o passado, o presente, é também o futuro

Eu sou o griot... Refrão


Como os Mandingas da África Ocidental
Na poesia do griot Wolof do Senegal Eu sou o griot...
Do Mali, da Gâmbia e da Guiné
Eu sou griot... A soberania espiritual dos ancestrais de Daomé
Forjado sob o luar da noite mais deserta
Talvez um dia renegado como Salif Keita Eu sou o griot...
O tocador dos tambores dos Bambara
Descendentes das tribos nómadas à sul do Sahara

Eu sou o griot...
Como os Mandingas da África Ocidental
Na poesia do griot Wolof do Senegal

Eu sou griot...
Forjado sob o luar da noite mais deserta
Talvez um dia renegado como Salif Keita

18
O Ermo (Via-Láctea)

1.Verso 2.Verso

Quando não quero nada com a vida Quando não quero nada com a vida
Quando não me entrego Quando realmente nada quero
A um amor, num beco, numa esquina, numa avenida Quando as montanhas se tornam a única saída
Então me perco É sinal de que vem a primavera de que tanto espero
Busco-me a mim e é comigo que eu passo o tempo
O Ermo é o homem se negando á socialização
Abro então as janelas e deixo o vento testemunhar o meu Inferno é conviver com milhões e sentir-se na solidão
diálogo a sós Achar que se tem e que se está bem perto
As minhas interrogações retóricas depois De uma fonte jorrando água em pleno deserto

Depois de tudo, logo ao entardecer Como uma ave voando bem distante de si
Quando a brisa anuncia um novo amanhecer A realidade transforma o homem e este acaba assim
Caminho em direcção aos montes como um eremita Indecifrável como uma esfinge…
Como um velho que viveu o bastante para dizer que já em Um poeta errante que agora já não finge
nada acredita
Ser eco, quando devia ser a voz
No limiar do degredo, no standard da vida Convertida em pedras lançadas ao algoz
No olvidar das caminhadas pelas grutas sem saída
Dias sem aurora, a claridade que precede ao nascer do dia Pedaços de papéis que não aceitam a escrita
Tanta amargura, mas que vida sem sinfonia! Dos punhos que seguram a caneta desse eremita
Que busca os montes menos por vaidade e mais por gosto
Esse amor de que tanto mencionamos Assim fazem as pessoas que trazem a alma no rosto
Esse ódio de que tanto alimentamos
A sociedade despida
Quando estamos na objectiva Os olhares já sem vida
Quando damos connosco sem qualquer perspectiva O sorrisos forçados, os amigos das ocasiões
No espírito enriquecido, na firmeza do aço Os artistas apócrifos, as meninas sem ideias de olho nos
Nos corações apodrecidos pela ausência de um abraço... cifrões

É por tudo isso que eu busco as montanhas Vizinhos não se conhecem


Olho para cada olhar olhando de uma maneira estranha Apenas se cruzam nos corredores da vida
A sociedade é isso aí, longe de um arco-íris A importância do apelido
Seja onde fores, serás julgado por iris O declínio da sociedade, a ética perdida…

Mas só tu podes julgar a ti mesmo, Morreu a moral e com ela o bom senso
No final de tudo e em tudo que acreditas O conceito de amor ao próximo voa como incenso.
É por essas e outras que hoje sou um eremita Tudo por dinheiro é o que eu tenho visto
(A nota de 100 dólares tem mais seguidores que Cristo)
Refrão
Disto, eu não duvido meu irmão
Abraça as montanhas e viva como um monge O dinheiro governa tudo e transforma o homem num cão
Venha comigo aprender de nós mesmos Igrejas prometem cura e fortuna a otários
Enxergo-te a vocação ao longe Se quiseres o paraíso basta metade do teu salário
Não falta luz, clareza é o que mais temos. 2X
(Famílias que vão crescendo, vivendo, num autêntico quem
sabe, sabe...)
É por essas e outras que um dia abandono essa cidade
Abandono a cidade!

Refrão

Abraça as montanhas e viva como um monge


Venha comigo aprender de nós mesmos
Enxergo-te a vocação ao longe
Não falta luz,clareza é o que mais temos. 4X

19
Escritores da Liberdade part. Leonardo Wawuti

1.Verso 2.Verso

É zumbi, é Milton Nascimento, é Pelé O ritmo dos Ngola Ritmo, a sua rítmica
É o guerrilheiro do musseque em David Zé Lembra-me Lurdes Van-Dunem e a sua música
O Ouro Negro brotando de um duo bastante coeso
É Obama, é Fridolim, é Cartola
A exatidão das mãos que seguram a guitarra de Marito dos
Cantando os obstáculos superados por Mutola Kiezos

Sayovo mostrou que é preciso acreditar Palmas para a Belita, querida Belita Palma
Mesmo quando os espinhos nos impedem de caminhar Para ti Sofia trago comigo uma rosa
É Machado de Assis, Urbano de Castro, é Aretha Perfumada com a calma, a velha calma
As lágrimas dessa senzala com apenas um poeta Com a qual contratados enfrentavam as roças

Com a música lutamos, lutamos sem fuzis


Aimée Cesair, Amílcar Cabral, Kenneth Kaunda As balas derrubam corpos, mas nunca ideais
Libertar África do seu passado colonial era o sonho de Patrice Que sempre hão de se erguer pelos direitos civis
Lumumba Nas democracias alimentadas pelas multinacionais
Jomo Kenyatta, Nkwame Nkrumah e Leopold Sedar Senghor
Valorizar a identidade negra é o que de pan-africanismo a Ergam as baionetas, cometam atrocidades
gente mais herdou Mudem a constituição
Clonem as mentalidades
Queimem os livros, fechem as bibliotecas, privem-nos do pão
Porque ser África, ser o continente berço
Afinal, não somos sub-raça, faça o universo Controlem os jornais, as rádios e a televisão
Todo ouvir que temos uma história e um dia desses será Controlem a informação, então...
contada
Pelos punhos de uma geração muito mais interessada Se isso vos agrada,
Mas lembrem-se que nada
Impedirá a África de ser pra todo o sempre o berço da
Em ouvir os irmãos Rui e André Mingas ou Kafala humanidade, meus irmãos...
Traduzir em tristes melodias os gritos famintos dessa velha
bwala Refrão
Tony do Fumo, Teta Lando, teu assobio agora é meu
Assobio em tua homenagem quando choro as lágrimas dessas O dia que a África resolver viver
lágrimas que inundam o prato dessa África que ainda não O dia que ela resolver escolher
O dia que a África entender também
comeu
Que como ela não há mais ninguém
Descanse em paz lá no céu
Porque eu agora sei
Refrão O teu amor por mim
Porque eu agora sei
O dia que a África resolver viver Por que é que tu és assim...
O dia que ela resolver escolher
Se nada vai mudar o que passou
O dia que a África entender também
Eu quero ser e sempre estar aqui
Que como ela não há mais ninguém Plantar mais sonhos no meu coração
Eu quero ser a vida...
Porque eu agora sei
O teu amor por mim Sonhamos tal como Martin Luther King, resistimos tal como
Porque eu agora sei os Pantheras Negras, Huey Nilton, Mumia Abdul Jamal,
Nelson Mandela, Rodney King, Stivie Bicko, Marcus Garvey,
Por que é que tu és assim...
Bob Marley e Mirian Makeba, Assata, Jorge Bem, Lucky
Dube e Mano Brown, Kilombo dos Palmares, Sabotage e
James Brown, Liceu Vieira Dias, Tssesse Machinini, Paulo
Flores, 2 Pac, Mohamed Ali, Desmond Tuto.
É preciso liberdade para chegar à Paz
O Eremita Urbano continua firme e até mais.

20
Clonagem Sociológica (rebelião antropológica)

1.Verso 2.Verso

O pensar igual e agir como o outros O Sistema é isso aí longe de um arco-íris


Uniformizar o pensamento gera mais votos Seja aonde forem serás julgado por ires
Essa é a atracção fundamental na sociedade actual Por quebrares padrões, dogmas e preconceitos
Onde multiplicar cópias faz o padrão cultural Dar à sua existência um novo conceito

Do conformismo... Demarcar-se da prepotência, arrogância e servilismo


E da comunidade homogénea, inclinada ao seguidismo Lobotomia, falta de humanidade e sectarismo
Que anestesia a autonomia de que quem quer pensar sozinho Recusar a legitimidade da norma autoritária
A tirania da lei não é abrandada pela sua origem maioritária
Impede a discordância, encerra outras saídas…
Ideias opostas são ferozmente reprimidas Sou nobre de mais para que seja propriedade de alguém
Deus não formou o homem para este ser refém
Estimula-se a pedagogia do treinamento em massa Cansei de ser sujeito passivo, já me bastam os impostos
Na busca de identidade no discurso da farsa Quero ser activo nem que seja para mostrar o meu desgosto
Nas páginas dos manuais forjados pela história
Dos 30 anos de utopia na nossa memória. A sociedade não deseja pensadores, nem críticos
Convém educar seguidores, o sonho politico
O sistema programa o homem para servir seus interesses Para uma geração cujo futuro jaz morto no lixo
A independência daquele é uma enrascada para esse Que compõe o património dessa gente absorta no remisso
A emancipação é sepultada
Não tem qualquer piada Refrão

Promove-se o adesismo formatando o ser humano (Não pode ser...)


Tornando-o numa palmeira que vai com o vento num pano
Não opta, não escolhe, não lhe é dada outra saída Andar no mesmo trem a caminhar no mesmos passo
A não ser clonar o pensamento colectivo nessa medida Não dá, para partilhar o mesmo abraço

Ganhando como consequência fisionomia de massa (Não pode ser assim...)


Quem ousar caminhar na contra-mão é persona non grata
Ameaça às instituições, o bem-estar social e o capitalismo A ser uniforme, desprovido de qualquer valor
Assim a comunidade existente auto-reproduz-se adoptando o Não posso, Flagelo Urbano é unicolor
concordismo
(Não pode ser...)
Rebelião Antropológica
Sambala no discurso da lógica A andar de mãos dadas com pessoas sem noção
Que há muito renunciaram o poder da lógica e a razão
Refrão
(Não pode ser assim...)
(Não pode ser...)

Andar no mesmo trem a caminhar no mesmos passo


Não dá, para partilhar o mesmo abraço

(Não pode ser...)

A ser uniforme, desprovido de qualquer valor


Não posso, Flagelo Urbano é unicolor

(Não pode ser...)

A andar de mãos dadas com pessoas sem noção


Que há muito renunciaram o poder da lógica e a razão

(Não pode ser assim...)

21
Gigantes de Papel

1.Verso 2.Verso

O amor à camisola pela arte de que a saiba amar Hoje comercializados, Jay-Zizados,
A consciência revú de quem a faz pra mudar Fifticentizados, Joel Santanizados
O curso da história e a vida de um povo Frustrados e muito mais
Que traz no coração o desejo de ser feliz de novo Adjetivos qualificativos de que eu seja capaz

A transformação da realidade em poesia Para exprimir com tristeza a vossa falta de originalidade
O brotar de flores ali onde não havia Não passam de meras caixas de ressonância
O betão que enfim se quebra, jorra água no deserto, mais um Estruturas de betão armado impedindo a entrada da verdade
oásis
Dando passos tímidos na formação de novas bases A mim já não enganam, há muito deixei de ser criança
Meros detentores do rap, possuidores precários
Seguidores do movimento, vêm-se nela Armados em conscientes, mas não passam de salafrários
As rosas que brotaram no asfalto
Hoje tornam-se estrelas Dizem que somos rochas, não é? hhhhh
Ganham Marte, Saturno, Júpiter e Mercúrio Mas se esquecem que não existe rocha pra um artista
underground
Ganham a terra, Porque quando vocês comerciais andam todos nas nuvens
Ganham a atenção de que ontem os observava pela janela Nós artistas revolucionários nunca saímos do chão
E com esta vem o reconhecimento e consequentemente a fama Underground já é chão
Depois é questão de tempo pra já querer grana Ou que está abaixo do chão

O dinheiro muda o homem que ontem foi artista Somos rochas pela dureza e natureza das nossas rimas
Entre os dois a diferença é que o primeiro não tem ponto de Nunca sonhamos alto, por isso continuamos em cima
vista Somos amantes de sophia, escrevemos a liberdade
Vive pela fama e pelo que mais bate Colocamos a vida em risco a favor da verdade
A beleza poética esvai-se quando já não se faz arte
Tal como vocês, também queremos dinheiro
Quando se é pelo 50 Cent, Jay-Z e G-Unit Mas ao contrário de vocês, pra nós a arte está em primeiro
Quando tudo porquê se lutou acaba aqui... Privilegiamos a beleza poética, porque esta sim faz arte
Não escrevemos no vazio, a nossa busca é constante
Refrão
Refrão
No princípio...
Era o verbo, e o verbo era fazer No princípio...
O som que vinha da alma sem pensar em enriquecer Era o verbo, e o verbo era fazer
Fazíamos por amor, éramos verdadeiros artistas O som que vinha da alma sem pensar em enriquecer
Lutávamos antes pela beleza e a estética Fazíamos por amor, éramos verdadeiros artistas
Lutávamos antes pela beleza e a estética
No princípio...
Éramos nós mesmos, No princípio...
Carregávamos na alma o orgulho em sermos Éramos nós mesmos,
No princípio, eu sei, era assim Carregávamos na alma o orgulho em sermos
Eu vivia no hip hop e hip hop vivia em mim No princípio, eu sei, era assim
2X Eu vivia no hip hop e hip hop vivia em mim
2X

22
Sílaba Silenciosa

1.Verso 2.Verso

Do que me vale fugir? Mas do que me valerá fugir então?


Da morte, da dor, da fome, do perigo? Da morte, da dor, da fome do perigo?
Do que me valerá fugir meu amigo? Não há espaço para fuga não!
Jamais poderei fugir, porque me levo comigo. Quando a tua hipocrisia é o teu maior inimigo

Levo os sonhos adiados, esperanças dilaceradas Quando os ventos da mudança devastam as tuas certezas
Levo o suor de um povo que trabalha e não tem nada. E o impendem de enfrentar as armas, e dizer com firmeza
Levo a frustração, estou partindo agora Que já não mais sentarei à vossa mesa
Levo a tristeza de ter nascido num país, Para comer do vosso pão e beber da vossa água
onde a liberdade é defendida com discursos e atacada com Sem fingir que no lugar do coração carrego larvas
metralhadoras.
E uma tristeza que me devora por dentro
Levo a fome, levo a vergonha, levo a nudez Que transforma em utopia a honestidade e o bom senso
Levo a hipocrisia, levo também a estupidez A mísera existência do jovem e da criança
Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena Do mais velho já sem esperança
Embora o pão seja caro e a liberdade tão pequena
No planeta azul e no homem que o habita
Vou em busca da revolução como Nito Alves quis Na beleza da poesia e na ciência política
Conquistar a todos, Deixai-me partir e travar o meu combate
O direito não somente ao pão, Deixai que eu me entregue aos caprichos da arte
Mas à poesia, e então serei feliz
Vou em busca de uma saída
Quando fracos e desencorajados levantarem suas cabeças Que me conduza ao elixir de uma longa vida
E deixarem de acreditar na força dos seus opressores E me ensine a alquimia
Acreditar é muito mais simples do que pensar Para transformar lágrimas em oásis de liberdade
È por isso que existem mais crentes do que pensadores Para que com esta via
O crente apenas crê sem analizar Morra em mim o covarde

Estou partindo agora, seguindo as pegadas de um sonho sem A voz que se cala, os punhos sem manifesto
fim Com medo da bala que cala os gritos de protesto
Para um lugar distante chamado dentro de mim
Vou buscar a liberdade que o sonho humano alimenta Descobri que de nada me valerá fugir afinal
Não há ninguém que explique e ninguém que não o entenda Nem de quem ontem era consciente e hoje é comercial
As rosas mortas não impedem o chegar da primavera
Vou em busca, vou sair agora Quando se é um autêntico profeta pra a sua era
Não levo malas comigo
Apenas o sonho me aguarda lá fora Quando o silêncio, a indiferença e a passividade
Nada mais são senão o ópio da sociedade
Vou entender as flores, os pássaros a namorar Que emerge à margem da usura e do peculato
Vou ver o céu a falar a linguagem do mar Entre o luxo e a ostentação está a fronteira do asfalto
O ilhéu, a rosa, o silêncio cantar em prosa
Pareço fora de mim? Do do que me valerá fugir afinal?
Não, sou apenas uma sílaba silenciosa. Da morte, da dor, da fome, dos meus amigos?
De nada me valerá fugir, meu irmão
Refrão Já mais poderei fingir
Porque ainda me carrego comigo...
Eu sou os versos que compõe a poesia do poeta
A caneta que não que não se escreve quando a frase não é Refrão
certa
Eu sou os versos que compõe a poesia do poeta
Eu sou o sopro da mudança na luta fervorosa A caneta que não que não se escreve quando a frase não é
No fundo eu sou, uma silaba silenciosa certa
2X
Eu sou o sopro da mudança na luta fervorosa
No fundo eu sou, uma silaba silenciosa.

23
Contra Capa part. Ikonoklasta

(Brigadeiro Matafrakuxz / Ikonoklasta) De quem se vê na contra capa, na mão mais esquerda da


cidade
Alguém me disse que a miséria terá sempre de existir O lado mais fraco do progresso, na mendicidade
Mil têm de chorar para um poder sorrir Procurando deixar de ser eco e passear a ser voz
A nobreza necessita de vassalos para servir Dar um salto na vida já não depende de nós
E a extorsão é o que sempre nos permitir evoluir
Refrão
Na era do corre-corre já não há Robim dos Bosques
Hoje o pobre rouba pobre Tu tens o Hummer, as gajas
Não é sobrevivência do mais forte antes do wi com menos A massa, as casas
escrúpulos E ele nada, nem pão, nem luz, nem água
Que pisoteia e não acode o indigente moribundo Tens tudo que queres e ainda reclamas
E desdenhas todo aquele que nasceu sob a estrela errada
É incoerente e absurdo torturar e pedir paz
Estamos no escuro com fósforo e uma bilha de gás Mas um dia o vento muda e te sopra areia na cara
Como podemos esperar dos putos que não se tornem criminais E do teu estilo lustroso não sobra nada
Se não são gatunos que lhes roubam são os polícias e os As mauas, as manhas, as banhas, reparas
fiscais Que a vida é sempre ingrata para quem vive na contra capa

E eu com toda esta barriga vivo bem ou em agonia? (Flagelo Urbano)


Estranhas são as noções de qualidade de vida
Na contra capa da minha está Amontoado de pobres dependentes de gorjetas e da caridade
Acorrentado um contratado sonhando com a carta de alforria fingida
Do pretenso humanismo que dilacera a camada menos
Refrão esclarecida
Que vê na esmola doação
Tu tens o Hummer, as gajas Sem saber que é apenas obrigação
A massa, as casas
E ele nada, nem pão, nem luz, nem água De quem conduz o destino da pretensa nação
Tens tudo que queres e ainda reclamas E de um povo que a muito é paradoxo
E desdenhas todo aquele que nasceu sob a estrela errada Que pode ser conhecido e ao mesmo tempo estranho
Depende da ocasião
Mas um dia o vento muda e te sopra areia na cara Próximo ou distante, transparente ou opaco
E do teu estilo lustroso não sobra nada Pode ser homem e num instante ser cão
As mauas, as manhas, as banhas, reparas Canta e protesta em silêncio
Que a vida é sempre ingrata para quem vive na contra capa
É muito mais simples ouvir do que ver a realidade à tua volta
(Flagelo Urbano) Ouvir é realmente mais fácil do ver cada criança morta
Por falta de pão
Podemos ser flores e ainda assim ter espinhos Quando tu deitas pão
Ter milhões e morrermos sozinhos Sem ter consciência de que alguém
É muito mais fácil roubar dos pobres para viveres como um Alguém, alguém, esse alguém, esse alguém que é alguém
Rei Precisa da tua mão, estenda a mão, estende a mão...
Ser juiz dos outros porque não és tu o fora da Lei
Refrão
Podes ser a verdade na falta de justiça
A presunção de igualdade da lei omissa Tu tens o Hummer, as gajas
Falar em democracia porque não és tu o perseguido A massa, as casas
Por ter opinião contraria a do sistema instituído E ele nada, nem pão, nem luz, nem água
Tens tudo que queres e ainda reclamas
A discriminação só existe para quem e discriminado E desdenhas todo aquele que nasceu sob a estrela errada
Assim como a paz para quem convive com ela
A liberdade só faz sentido a quem pode ir a qualquer lado Mas um dia o vento muda e te sopra areia na cara
E não para o pobre cidadão que defeca numa cela E do teu estilo lustroso não sobra nada
As mauas, as manhas, as banhas, reparas
Sem a voz do povo não há democracia Que a vida é sempre ingrata para quem vive na contra capa
A liberdade de opinião se esvai no brotar da tirania 2X
Quando a midia se torna parte, juristas de ocasião
A ausência de imparcialidade devora a liberdade de opinião
24
Flagelados do Vento Santo II part. Neydh Barbante

1.Verso 2.Verso

A independência pariu um rato Pensas que não te conheço eu sei o teu segredo
Liberdades fundamentais só mesmo no quarto És a música e o caos, partilho do teu medo
Desilusão! O desespero e a miséria visceral em teus olhos
Mais vale sonhar com as Quedas de Kalandula, não é não No contrato social jogado num poço de petróleo
kapa?

Eu vejo essa mulher que se levanta Do que te serve a democracia, o direito ao voto e ao nome?
Quatro da manhã se não zungar não tem a janta Que sentido faz a independência para quem está com fome?
Criança faminta, barriga assustadora, semblante aparvalhado Não respondas minha mana, é uma interrogação retórica
O silêncio denuncia o olhar desesperado Tal como tu questiono mas ainda assim não encontrei lógica

“É lambula, lambula, minha senhora, arreiou”, o dia inteiro e Nos milhões oferecidos à menina Marginal
nada
Ante a desumana e indomável indigência nacional
Este é o grito da voz roca que irrompe pela madrugada
Pés descalços, rosto cabisbaixo, mas não perde a dignidade Testemunhamos a batalha que travas logo pela manhã
Faça chuva, faça sol pelas ruas da cidade Os teus sonhos mumificados pela esperança vã

Trás de tudo um pouco sem nunca se cansar Eu testifico a distância que percorres a pé, minha dona
Desde a fruta-pinha até ao abacate da cor da esperança que ela Dos confins da Boa Vista às zonas nobres de Talatona
teima em preservar Para acalentar a esperança já sem lágrimas nos olhos
O fiscal é carrasco, nunca cordial
Liberta a sua ira no ganha-pão dessa mamã E olvidar por alguns momentos a vida e seus abrolhos

Vítima da violência, marginalizada Mas quem não entenderia a tua indiferença em relação ao
A tentativa por uma vida melhor mostrou-se gorada sufrágio?
Ao gingar guerreiro e a bravura impressionante Acreditas que falo sobre a pressão de um ágio?
A imponência dos seus passos, ternura contagiante Continua na lida insana que eu por aqui rezo por ti
Escuta com atenção esse refrão que começa assim…
Vens do Uige, Malanje, Huambo ou Benguela
Vens do Bié, Lubango, Namibe ou Maquela
Vens de Angola, em qualquer dia em qualquer lugar Refrão
Por isso trabalha mana para não roubar
Trabalha só, trabalha,
Trabalha minha irmã, eu sei que não vais roubar... Ttrabalha minha mana para não roubar
(Eu te conheço minha mana…)
Refrão
Trabalha só, trabalha,
Trabalha só, trabalha, Quem tem moral para te acusar
Trabalha minha mana para não roubar (Este é o som desse candengue que te ama)
(Eu te conheço minha mana)
Trabalha só, trabalha…
Trabalha só, trabalha, (Trabalha irmã…)
Quem tem moral para te acusar?
Trabalha, tens que viver
(Este é o som desse candengue que te ama) (Seja forte nessa longa caminhada, irmã)

Trabalha só, trabalha… Trabalha só, trabalha,


(Trabalha, irmã) Olhe que os teus filhos têm que comer
(Do teu suor alimentas o amanhã)
Trabalha, tens que viver
(Seja forte nessa longa caminhada, irmã) “Taqui o sabão, sabonete, ovo e chouriço
Arreiô, arreiô, tem desconto
Trabalha só, trabalha, Taqui sabão, sabonete, ovo e chouriço
Arreiô, arreiô, tem desconto
Olhe que os teus filhos têm que comer
Num vais comprar...?”
(Do teu suor alimentas o amanhã)

25
Plano Alto

1.Verso 2.Verso

Plano alto… Sei que nova já não és, a estória magoa


Chamam-te Huambo, há muito que deixaste de ser Lisboa
Oh, Nova Lisboa, como estás? Do velho Albano Machado
Há quanto tempo não te vejo, De quem eu invejo tanto por estar sempre ao teu lado
Mas, perguntei ao Sr. Paulo Dias de Novaes
Quantos angolares custavam o teu beijo Com uma colher de prata tendo as estrelas como o céu
Para alimentar a esperança desse sonho que em mim
Vais fingir que não me reconheces? Não sei! desfaleceu
Esquivar o teu olhar e desejar não me ter visto, pensei Não me olhes desse jeito, sou teu filho, calma!
Que te lembravas, que ao menos recordavas que conservas o Partido para uma fé que alimenta essa alma
meu cordão
Neste solo fértil que é a pobreza do teu chão Oh, terra prometida como te tenho evitado!
Ao longo desses aniversários nunca festejados
Oh, Nova Lisboa, já foste mais boa Mas que dão amor a troco de nada, sem cobrar nada, sem nada
Já foste mais humilde e menos à toa cobrar
Já foste a minha lua e o meu sol Porque sabem que um amor condicional não é amor, é uma
Já foste o meu piano, a clave do meu sol, a nota em bemol condição para se amar
Cidade vida, minha vida, só agora eu percebi
Que essa tristeza que eu trago foi de vos que eu recebi Eu sei que vou voltar tal como um dia disse Teta
A questão é me esperar porque também sou um poeta
Oh, minha criancice, Em rumaria pelas rua da Kianda
Infância dos meus sonhos aconchegada no sossego da minha Itinerante dessa urbe desembarcada no nada
traquinice
Silêncio do meu grito nos mergulhos na lagoa Não sei quantas almas tenho em minha pessoa
Abandonados pelo som dessa bala que magoa Ao longo desses anos mudei tal como Fernando Pessoa
Navegar é preciso e eu naveguei rumei à norte
A bala dói, então tive que partir, bazei... Pelas águas irrequietas desse solo tão forte
Em busca de asilo, no caminho só Deus sabe o que eu passei
Só Deus sabe o que eu sei! Tudo quanto eu penso, tudo quanto eu sou
Lá no fundo eu nunca me ausentei… É um deserto imenso onde nem eu mesmo estou
Extensão parada, sem nada estar alí
Areia peneirada dessa vida que eu vivi

Se eu fosse tu, Fernando, também seria um trovador


Dessa pessoa em que te renovas quando não és um fingidor
Nos dias dos meus dias, nas noites mais noturnas daquele
inferno
O verão mais quente da minha vida foi num inverno

Quando percebi que toda beleza é passageira como o vento


Por mais que eu tente tudo muda sem nada mudar ao mesmo
tempo

26
Ainda te Procuro

1.Verso 2.Verso

Natural como só ela, dos pés à cabeça Aguerrida por excelência, minha mana
O seu gingar entre as vielas revela não ter pressa Como vou esquecer este coração mzuri sana?
Carapinha dura, descendente do Rei Moma Purificado nas águas do velho Chitutula, eu vi
Neta de Ekuikui, sapiência de um Soma Nvula weza kia mbejini

Olhar imponente, sorriso de um Sawalia Embora te procure nas bordas do Kunhonãma


Na encosta desse rio que a afeiçoa a Katyavala Sei onde estás, mas não atino ainda assim ndu ku kuama
Não é a Mbandi tampouco a Nhakatolo Levo-te comigo aonde quer que eu vá
Ainda que ambas tenham sido Mutudi Ua Ufolo Os anjos não morrem apenas mudam de lugar

Cristianizada pelo caudal do velho Kwanza Eterna nos meus ouvidos e da sua semente
Baila arrebatada pelo som da minha Dikanza Se o olhar é enganoso então a minha lágrima não mente
De tenra idade prometida ao Kutomboka Coração límpido brando em sua fala
A cerimónia está programada na senzala do Soba Loka Abnegada aos seus, tal como Maria de Magdala

Azulula epito ia kumbungueye Fiel companheira, confidente de Salomé


yulula epito yu utima liove se fosse no Bié Deixaste um mar de vazio sem ver o seu fruto crescer
O Rei Ndunduma mandou avisar Se existe outro plano, de certeza andarás por lá
Que a seguir ao refrão o Sambala vai entrar Perdão, mas o kota Rui Mingas agora vai cantar.

Refrão Refrão

Ohhh, ohh, ohh, ohh Ohhh, ohh, ohh, ohh


Ohhh, ohh, ohh, ohh Ohhh, ohh, ohh, ohh
Ohhh, ohh, ohh, ohh Ohhh, ohh, ohh, ohh

27
Saída Fugaz part. Célsio Mambo

1.Verso 2.Verso

De quem é a voz que chora no cimo de uma colina? Observador passivo, metamorfose ambulante
A quem pertence aquela voz tão pequenina? Olhar envenenado, semblante de um pequeno andante
Não tem rosto, muito menos identidade Traquinice contra o estado atual do estado da vida
Vive por si só ao sabor da avareza a humanidade Ressentimento de uma mãe que nunca se mostrou querida

De quem é o chafariz que jorra indigência? Lembranças pintam o retrato a preto e branco
Sorriso mórbido no limiar da indiferença? Olhar transparente transforma o espelho em prato
Corpo frágil, experiente nas andanças Luzes que se acendem, mas o escuro permanece
Silêncio que fala na voz que ainda nada disse, mas se cansa Não existe amor próprio quando o ódio prevalece

É como um cometa, pequeno dono do universo Filho do seu tempo na luta contra o que tem que ser
Apesar de tudo confia em Deus e como prova disso carrega Uma alma pequena que esconde o que o coração tem que
um terço esquecer
E uma fé que ilumina a sua alma De quem são as mãos que calmamente se estendem?
Um ombro amigo, um abraço, uma mão, uma cama Os melhores anos dessa vida que se perdem?

É filho do acaso das circunstancias da vida De quem é esse sorriso que fala alto?
Da falta de prudência da eterna burrice humana Que caminha pelos montes da fronteira do asfalto?
É rei de si mesmo, supremo filho do seu tempo, Olhando a ordem estabelecida para cada substância
Na frivolidade que caracteriza a vida urbana Tudo segundo uma sequência, uma ordem lógica

Mãos ao alto, acenando um lenço branco Uma interligação de forma metodológica


Na esperança de um sorriso que se mostre um falso amigo Num sorriso adulto que sequer teve infância
Não exige muito, também ninguém daria Carrega uma idade que se conta pelos dedos das mãos e mais
Apenas quer ver na vida da vida urbana algum sentido dois
Vive o agora, de que lhe vale o depois?
Nas mãos que se juntam, na força de irmandade
Na tomada de consciência de que é preciso alteridade Arrasta a vida na podridão da sua alegria
Rostos secos revolucionam o pensamento Não gosta do centro muito menos da periferia
O ódio se esvanece no amor que aos poucos pinta o tempo Vê no lenço branco uma saída fugaz
Quanto mais conhece os homens mais estima os animais
Refrão
(Célsio Mambo) Refrão
(Célsio Mambo)
Amanji angue Ukalile
Ukalile, Ukalile, amanji angue Amanji angue Ukalile
Amanji angue Ukalile Ukalile, Ukalile, amanji angue
Ukalile... 2X Amanji angue Ukalile
Ukalile... 4X

28
Iluminismo (O Século das Luzes) part. Khospe Letra

1.Verso Refrão

No país do Pai banana, da Titica e do Negrelha Eu não me acostumo...


Do Tchilar, do Laifar, Hora quente e da miséria O que será de nós? 4X
No pais do Ady Lima, do Kasta e do Coreon Du
3.Verso
E das divas dessa mocidade sem modelo de cota algum

No pais da fama fácil, revista caras e mais queridos Manter a clarividência nessa época em que se vive
Os braços que se levantam contra são os mais esquecidos Ter uma vida anónima, desbravar o homem livre
Descendentes desse olhar que arrepia caminho Nessa mesa de jogo em que as cartas estão marcadas
Com medo de perder o pão e comer em casa do vizinho A máquina está programada para que "revus" não ganhem
nada
Deserdados da economia, oscilados à sua sorte
Quem ousar dizer que dois mais dois são quatro será No país do Flagelo, do Leonardo e do Sidhartha
condenado a morte Matafrakuxz, Soba L, Negroyde e Warawuata
Testemunhos de vidas marcadas No país do Katro, do kota Seba e do Socola
Víctimas das parcerias público-privadas Das damas sem ideias com más ideias na sacola

Portadores de utopias, heróis triunfantes No país do Cotovelo, Tchuna baby e Dagadan


A razão é mais letal que duzentos mil tanques Da Cuca, Elit Model e da esperança vã
Pintores de ideias e não de discursos populistas Fiscais correm com os ambulantes das zonas urbanas
Elaborado pelo deputado cujo nome não está na nossa lista como se a beleza da cidade estivesse acima da dignidade
humana
Refrão
Manter a lucidez é preciso, mudar de postura
Sabedoria milenar, erudição contra natura
Eu não me acostumo...
O que será de nós? 4X Não somos artistas, somos intelectuais lusófonos sem fama
Não somos artistas, somos intelectuais lusófonos sem fama
2.Verso
Eu não sou nenhum jurista, sou um liricista sem grana
Não há nada mais irreversível do que a alma humana
No meio de tanto drama visualizo a fatalidade
Dos que desprezam o século dessas luzes que faltam na minha
Refrão
comunidade
Que observa serenamente o roubo doutrinário
Eu não me acostumo...
Arquitetado por acadêmicos pagos pelo erário
O que será de nós? 6X
Dos homens que não percebem que do conhecimento nasce o
combate
Do combate a arte, da arte a liberdade
Então, brota o líder no contexto da ruptura
E rebenta os grilhões seculares dessa escravatura

Que alimenta nossos corpos mas nos retira a mente


E impede que pensemos conscientemente
Que nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de pertencer a
si mesmo, acredita!
Ensine o homem a utilizar a razão e ele pensará por toda vida

E deixará de andar de costas viradas em relação a mim


E não mais arremessar versos entre os dentes como um
guaxinim
Braços que se cruzam não fazem mudanças
Mas se achas a educação cara, então experimente a ignorância

29
Tabú part. Da Bullz

(Flagelo Urbano)

Eu quero mudar de nação, também quero ser angolano De manter-se feito praga e reduzir o Uige a zero
Nasci e cresci em Angola, mas quero ser angolano, mano Pois tudo a nossa volta é um exagero
Quero mudar para esta banda que defende as liberdades Flagelo Urbano, essa angola que precisas eu preciso
fundamentais E enquanto bater o coração é preciso
Preocupada com o bem-estar de homens e animais
Manter acesa a fé que as cenas vão mudar
Quero ser cidadão deste país de quem ele fala com tanto E que esse canteiro de obras, manobras vão acabar
carinho Pês firmes nesse filme sem fim
O que devo fazer, meu mano, para ser angolano, me diz? Onde tudo se consome e consumimos, enfim...
Me diz, Da Bullz, que eu quero seguir o teu caminho
Refrão
Quero ser deste país que defende o homem em todos os
quadrantes Dá-me as pedras de Pungu-Andongu
Que discorda sem ser violentamente discordante Que eu serei o Rei do Reino do Kongo 2X
E protege a vida tal como as de Kamulingue e Cassule
Em que todos são iguais, quer seja do Norte ou do Sul O Morro do Moco me convida
Pra dançar o semba na Avenida 2X
E procura entender a verdadeira verdade dos outros
Sem perseguição, algema, repressão ou calabouços (Da Bullz)
Eu quero ser desse lugar de que sou sem nunca ser
Que sabe que o poder da ideia está acima da ideia de poder E assim a vida anda lenta, não alenta corações
E o corpo quase rebenta, não aguenta frustrações
Quero mudar para esta Angola e pedir nacionalidade Em cada passo uma incerteza, pois promessas só não
Aparecer na Caras e pensar que é a minha realidade contentam
Quero mudar para este país que erradicou a pobreza E os olhos vêm com tristeza o modo como tentam
Que procura levar conforto a todos com certeza
Bued kotas mudaram essa Angola nossa
E conduz à razão aos opositores através de debate Que outrora fora criança, mas agora é moça
E não corre com manifestantes que não fazem parte Ginga tanto porque sabe que tem
Um país preocupado com o bem-estar social O suficiente pra seguir em frente sem precisar de ajuda de
E não aquela Angola dos frustrados sem sucesso profissional ninguém
Quero ser angolano, Dbullz
(Flagelo Urbano)
Refrão
Tudo é humanidade e humanidade é sempre igual
Dá-me as pedras de Pungu-Andongu É naturalmente natural querer ser natural
Que eu serei o Rei do Reino do Kongo .2X Desse país que jorra justiça por todas as vias
E cuja luta diária é acabar com as assimetrias
O Morro do Moco me convida
Pra dançar o semba na avenida .2X Da Bullz, veja só esse inconformismo
Cansei de viver com fome e conforme o ismo
(Da Bullz) Vês o por que é que quero mudar de república?
A verdade é que não vejo o que é feito da Rés pública
É sempre a mesma correria, corre tio, corre tia
Todo dia porcaria faz o primo, faz a prima Refrão
E é sempre o mesmo clima aos olhos de quem sabe
Que essa Angola que almejamos é somente falsidade Dá-me as pedras de Pungu-Andongu
Que eu serei o Rei do Reino do Kongo 2X
Olha quanta falsidade no B.I! Olha para esse wi…
Corrupto que corruptamente faz corrupção sem fim O Morro do Moco me convida
Olha quanta festa mostra juventude está dormente Pra dançar o semba na avenida 2X
Quanta peça mostra como o estado mente

Chove kumbú e pouca finalidade


Porque a finalidade simplesmente não ajuda, vês?
É necessário muito jeito para dar um jeito a essa vida sem jeito
Que todos os anos dá um jeito
30
Demo Sem Cracia (liberdade may be tomorrow) part. MC K

1.Verso 2.Verso

Constituição Salazarista, leis draconianas A democracia anda armada com o dedo preso ao gatilho
Vítimas da impunidade reinante na guarda republicana Isaías Cassule não mais verá crescer seu filho
Vida minha, vida tua, porquê este mal querer? Frieza horripilante nos olhos do capanga
Quem ousa caminhar na contramão vira refeição pra jacaré Que sem pestanejar atira nas costas do mano Ganga

Alves Camulingue aprendeu que em democracia O Jacaré já não paga imposto, tem isenção tributária
Reivindicar os seus direitos é um atentado à soberania Por ter devorado o que restava da juventude contestatária
Eles temem os teus sonhos, perseguem-te em toda parte Silêncio e escuridão, discurso separatista
Tal qual dissidente do regime de Napoleão Bonaparte Protegido é o secretário da juventude maniqueísta

Analistas sem moral, políticos por um cheque Rumo todos temos, pode parecer que andamos à deriva
Belarmino, Luvualo e Malavoloneke Lutaremos até o fim, não vemos outra alternativa
Aprenderam a ser cortesãos da forma mais sombria Se não lutar pela terra e pelos sonhos que alimentamos
E que para ter um lugar ao sol tem que adular como o Garcia Senão um dia ainda pagamos pelo ar que respiramos

Déspotas esclarecidos ou monarcas iluminados? O país já não te pertence, é dos filhos do dono
Igreja instrumentalizada enquanto o clero é subornado Protegidos pela ordem que espancou o Luaty e o Carbono
É a ascensão do fascínio e o fim do governo do povo Que encarcerou Nito Alves depois de 77
O levantamento das armas em prol do estado novo Quando em 2013 contava com 17

Há mentira nas escolas, na família e no governo Luxo à custa de sangue e das lágrimas da nossa gente
Há mentira no discurso do deputado escondido no terno Que não vê no horizonte o que será daqui pra frente
Há violência no polícia que é suposto manter a ordem pública Nessa terra de milionários feitos à custa dos ovos
Há enfim mentira até no hino da Rés pública Botados pelas galinhas do galinheiro do nosso povo

Refrão Sonhamos com a liberdade em vossa hipocrisia


(MC K) Nascidos originais, duplicados pela ilusão de democracia
Lutamos com palavras, talvez seja uma luta vã
Liberdade maybe tomorrow Mas ainda assim lutamos, tão logo irrompe a manhã
Angola faz é só dum coro
Democracia é um balão de soro Refrão
Nós somos carnes do matadouro .2x (MC K)

Liberdade maybe tomorrow


Angola faz é só dum coro
Democracia é um balão de soro
Nós somos carnes do matadouro .2X

- Os vossos discursos são de paz, mas as atitudes são de guerra


Pensar de forma diferente em Angola é um crime com pena
capital

Antes escrevia, hoje só choro


Constituição é só dum coro
Deus está a ver tudo, por isso eu só oro
Nós somos carnes do matadouro

31
O Betão (armado) part. Edú ZP Refrão
A mandjangue, tiuka
(Flagelo Urbano) Mono otembo ikassi, okupita
Ndu kuvanjilia, oloneke viossi
De frente pra trás, irmão, tu caminhas
Quando a tua vontade de aprender e ouvir forem mesquinhas Eu ainda te procuro
Mentalidade de pedra e um ego de betão Eu te encontro nas estradas dessa vida... 2X
O teu pensar é medieval, precisas de educação
Infra homem, no ideal colonial (Flagelo Urbano)
Mediático nas palavras, sequela feudal
Sem opiniões próprias, baseado em livros e revistas Ahh, também não é bem assim
Discipulo na escuridão, autêntico seguidista Tens uma concepção demasiadamente errada de mim
Noção de vida quadrada, cérebro vazio Eu sei, eu vi, não vivo de verdades absolutas
O pretenso saber não se reflete nas águas do rio Nunca fui um sabichão, não tenho noção diminuta
O senso comum é o conhecimento da maioria Andas armado em moralista, conselheiro da cidade
As opiniões sem fundamentos acabam em falsas teorias Tenho a minha própria opinião, mas isso não significa
A rotura do homem e o poder do conhecimento maturidade?
As verdades que tu desprezas, fazes parte conjunto
E de tudo o que existe (Edú ZP)
És o tempo, a vida, quando descobriste
O gênio da lâmpada, no seu suposto ver o mundo Não sejas hipócrita, te conheço a muito tempo
O complexo de grandeza sufoca o saber profundo E tudo o que falei não é uma análise do memento
A presunção engenhosa amputa a autoeducação O diálogo pressupõe:
A falta de humildade aniquila a emancipação Eu falo, tu calas, tu falas, eu calo, mas assim nem sempre foi
Do homem e do artista (Xii, não digas isso, irmão) não digo isso?
A representação de si mesmo, a conquista O que eu estou a falar é uma questão de princípio
Quebremos o betão que secou a nossa mentalidade
Ninguém detém o monopólio da verdade (Flagelo Urbano)
Os punhos reproduzem o que a mente pensa
As palavras só manifestam pensamentos..., mas que atitude é Já me irritaste com esse sermão
essa? Defender as minhas convicções não faz de mim o betão
Quebremos o betão, vamos todos quebrar o betão Estou farto dessa conversa, é assim que vejo a vida
Vá lá passear pah, vais ter que engolir, não tens outra saída
Refrão
(Edú ZP)
A mandjangue, tiuka
Mono otembo ikassi, okupita Respeitar a opinião a opinião alheia, certa ou errada
Ndu kuvanjilia, oloneke viossi Saber ouvir até ao fim pra entender o que outro fala
Me irrita a presunção de achares que és perfeito
Eu ainda te procuro Essa ideia de que adivinhas pensamentos
Eu te encontro nas estradas dessa vida... 2X O que falo está errado já desde o início
E aí arrancas a palavra, teu comportamento típico
(Edú ZP)
(Flagelo Urbano)
Não, pra mim não é correto
Não adianta nada disso se tu só te achas certo Se achas que vou mudar, defecaste na ventoinha
Impões as tuas crenças, calonizas opiniões As tuas palavras bonitas não me mudam, irmão, a vida é
Discursas de peito alto mesmo sem teres noções minha
Não, é pura perda de tempo
A convicção vira arrogância quando ela é em exagero (Edú ZP)
E só desagradas, afastas os que te rodeiam
Que não se deixam secar do teu coração de cimento e areia A humildade é um exercício que se faz diariamente
És o mesmo, na família e no trabalho Espero que tu, contigo, reflitas profundamente
Como esperas que eu me dê se tu não te tens dado
Não, não vale a pena contar comigo Refrão
Pra servir de cobaia na plateia do seu circo A mandjangue, tiuka
Vá lá, fica lá com a razão Mono otembo ikassi, okupita
Alimenta o teu ego com os aplausos da multidão Ndu kuvanjilia, oloneke viossi
A crítica só é válida pra quem tiver aberto
Pra que falar, se nada te diz o meu silêncio? Eu ainda te procuro
Eu te encontro nas estradas dessa vida... 2X
32
Força Cósmica

1.Verso 2.Verso

Até que o sol brilhe acendamos todos juntos vela na escuridão Regimes corruptos servem o novo liberalismo
Para iluminar cada passo dada em direção Copiam lições da desigualdade nos manuais do capitalismo
À terra prometida Monopolizar mercados, dominar mentalidades
Porque esta aqui, irmão, já não é achada nem tida Quanto mais formatados menos revolucionários nas cidades

Por que tardas a chegar, por que demoras tanto? A TV não informa, as rádios muito menos
Será que te sentes feliz em ver tantos prantos? Quem com o jornal oficial se conforma, ainda ganha muito
Pratos vazios, panelas tristes, grelhando o vento menos
Olhares endurecidos alimentados no sofrimento Trabalhos paliativos mudam o rosto da cidade
Pintar o betão de verde dá o verde ao verde que falta nos
Por que tardas a chegar, oh, força cósmica? jardins da mocidade
Liberte a tua ira e devolva-nos a lógica
Ensina-nos a limpar as lágrimas de quem há muito chora A comunidade já não se revê nas instituições
A estender a mão pra dar um pão ao irmão sem mão que há A polícia não investiga apenas cuspe munições
muito nos implora Discurso demagógicos, promessas surreais
Legitimam o novo escravagismo nas multinacionais
No país de que somos, quase 14 milhões sem alegria
Porque a maioria caminha no limiar da disenteria Líderes africanos surdos quando o assunto é o Zimbábue
Numa economia que cresce apenas em alguns terrenos Acham que há uma mão divina no regime de Mugabe
Irrigadas com grandes festas e presentes pequenos Oposição marginalizada na democracia sem pai
O patrão da ditadura não poupou Morgan Tchivanjilai (?)
Por que tardas a chegar?
Mas por que tardas a chegar? Jovens instrumentalizados se tornar problema
Quando arremessados contra opositores do sistema
Por que tardas a chegar? O uso de festas e maratonas é o sudário
Mas por que tardas a chegar Pra queimar neurónios de potenciais reacionários

Refrão O coma social, a realidade cor de rosa


No país que mais se dança e menos pensa na desgraça nossa
África wé, mamá A especulação mobiliária atira o proletariado
África wé, Para uma vida digna de um verdadeiro seriado
África wé, mamá
África wé, Por que tardas a chegar, oh, força cósmica?
África wé Liberte a tua voz e devolva-nos a retórica
África wé, mamá Dá-nos luz pra buscar no discurso o caminho
África Pra terra que Jesus distribuiu o pão e vinho
África wé, mamá
África Pode crer, pode ser, pode crer que o tempo passa

Refrão

África wé, mamá


África wé,
África wé, mamá
África wé,
África wé
África wé, mamá
África
África wé, mamá
África
33
DO SIÃO À MEDINA

34
O Rosto Materno (dos Deuses)

1.Verso 2.Verso

Deste a tua vida e te entregaste por inteira O patriarcado patético e a discriminação sexista
Em prol da liberdade e dessa bandeira Determinados por uma sociedade hipócrita e machista
Que hoje lesma a meia haste Que te negou o direito ao voto e a autodeterminação
Para que já mais nos omitamos da razão por que ligaste Indicando-te o caminho da lavandaria e do fogão

Figura legendária como Assata e Joana D'arc Mas lutaste tal como a jovem Malala
Imortalizada nos ideais de justiça Rosa Parks Pelo direito de estar sentada numa sala de aula
Pela Independência como Maria Mambo Café E definir o teu norte, o caminho a dar à tua vida
Morrer pelo que se acredita é a melhor forma de viver E pregar o Deus semelhante transmitido por Kimpa Vita

Dont cry for me Argentina, cantou Evita Tu és o meu eu, és elas e o meu pequeno mundo
A voz que mais amou os miseráveis das avenidas És de esquerda, de direita, és humanista sobre tudo
Opressão dupla na sociedade atrasada Carregas no teu útero o sêmen instável da
Víctima do machismo e da dupla jornada revolução
E o optimismo reservado de Alexandra Simeão
Romper grilhões e preconceitos, o sonho de mais tarde
Na verdade que falou mais alto em Anita Garibaldi És a moradia dos meus sonhos, localmente universal
A arrogância dos homens despertou o bichinho revolucionário O que nos liga vai muito além do cordão umbilical
Que jazia adormecido em Olga Benário És Cleópatra, Nhakatolo ou Maria de Magdala
Seria errado dizer que foste tu quem Jesus mais amou? Fala!
Eventualmente desprezada pela história e seus males
Na luta clandestina, o vigor de Sita Valles Quão difícil foi lutar contra a estupidez
Nani dos Kilombos, a força que alimenta a quimera humana Pela conquista do direito a interrupção voluntária da gravidez
Continua esquecida nos anais da história africana E escolher o homem com quem partilhar os teus dias
E já não o casamento arranjado pelos interesses das famílias
Refrão
(Bob Marley) Heroína do seu tempo, tal como a rainha Nzinha
Vales muito mais do que cobras pela tua ginga
No, woman no cry... 6x Aliás, não tens preço, esquece!
A mulher que se vende sempre receberá sempre menos do que
merece

Refrão
(Bob Marley)

No, woman no cry... 6x

35
Oralitura

1.Verso 2.Verso

No horizonte o fogo anuncia a dança Criados no atabaque, batuque e kachilala


A chama que queima os andrágios das andanças Eterno na humanidade que se move na fala
Pés descalços, braços que se elevam nos céus E na importância vital do nós, na oralitura
Nesse chão costurado com o sangue dos meus O pensamento como meio para costurar a cultura

E então perdidos, mas achados no passado cantado Eu sou eu porque tu és, mas primeiro está a comunidade
Presente desse tempo e dos corpos marcados Nela se funda a construção da nossa identidade
No recife de coral da mais breve lembrança A mescla das almas nos tambores em ação
Silhuetas que serpenteiam a mais sensual das danças As mãos que batem as palmas no compassar da tradição

Chão de africano, do Djeli, artista do mundo Levaram as plantações e algodão lá no Sul


Contador das histórias do Mani Kongo e do Lûmbu Disfarçadas nas brincadeiras da capoeira e maracatu
O céu brilha reflexo do fogo mesmo quando O senhor de olhos verdes e sangue azul não via
O lamento irrompe no suor dos negros batucando Que o grito de liberdade no berimbau se escondia

Homens feitos, paridos na dikanza e no djembê Dançam as mulheres aprisionadas na sanzala


Negros da cor da Kissama, da Núbia e da Guiné Dançam as crianças, tudo o que viram é a bwala
Pulam a passos largos, dançam embriagados pelo som O chicote, o mingau, a plantação e a cozinha
Que se apodera da alma do jovem que executa o balafrom O capataz, o seu mestre, o tronco e a sinhá, sinhá

Cânticos da nossa grandeza, mistérios do Saara Retalhos de memória perdidos no canavial


Nossos ancestrais conheciam como ninguém as Anharas Deserdados da história roubados da ilha do sal
Vindos de toda parte, partidos da Matamba Na dança somos um pouco uns dos outros como tu
Imploram por Canhongó no ritual da minha Nganda Codificados na diversidade das línguas bantu
É preciso que se toque primeiro o agogô
Refrão
Refrão
Canto a minha memória
Canto a minha memória (Eritreia, Etiópia e Mali)
(Eritreia, Etiópia e Mali) Canto irmão
Canto irmão (Nigéria, Somália, Djibuti)
(Nigéria, Somália, Djibuti) Pois, na minha história
Pois, na minha história (Cabo Verde, Angola e Sudão)
(Cabo Verde, Angola e Sudão) Está a razão
Está a razão (Lesoto, Congo e Gabão)
(Lesoto, Congo e Gabão) Do meu passado
Do meu passado É pra lá onde eu vou
É pra lá onde eu vou Eu vou, eu vou, eu vou... 3x
Eu vou, eu vou, eu vou... 2x
(Eritréia, Etiópia e Mali
Nigéria, Somália, Djibuti
Cabo Verde, Angola e Sudão
Lesoto, Congo e Gabão
Quénia, Gana e Namíbia
Gâmbia, Egito e a Líbia
Zimbábue, Uganda e Tunísia
Tanzânia, Senegal e Argélia)

Kumoxi, kumoxi, kumoxi, etu vu la ma...


36
Sêmen Instável (das revoluções)

1.Verso 2.Verso

A revolução não será vista Controlar o pensamento, o consenso fabricado


Na TPA, TV Globo ou na revista Julgamentos mediáticos, magistrados influenciados
Dessas caras, embriagadas pelo prazer A produção ideológica da ilusão coletiva
De esfregar nos nossos rostos o quanto nos estão a f#der E o discurso manipulado na assembleia legislativa

Não será a Zimbo, TPA 2 ou o Jornal Diário Heróis são criados a medida do interesse das corporações
A noticiar o espasmo de saudosismo revolucionário Governos são derrubados com ajuda de rádios e televisões
Milhões em hasta pública, vozes sem consenso A ditadura da beleza cria o seu padrão
Pelo direito à humanidade, pão e bom senso Se não chegares próximo à anorexia, não

A revolução não será publicitada não Semeia-se o medo porque ontem a paz foi esquecida
Não terá a cobertura da tua programação O amor foi há muito desamparado e a manipulação defendida
Da máquina de propaganda que vende utopias A mentira anda tão difundida, tão pregada, tão lógica
Em apenas duas lições nos ensinam o preço da democracia Que a verdade um dia desses será presa por falsidade
ideológica
Ficar em frente à televisão em nada contribuirá
Para o dia da mudança que tão logo chegará Eles manipulam as imagens, tal como fazem com as leis
O reality que aliena, a novela que deturpa Encontram espaços e as interpretam como lhes convém
O telejornal que escamotei, mas de quem é a culpa? É preciso tomar partido e assumir a nossa condição
Aceitar a luta que mas faz sentido com a convicção
Esperados pela madrugada, mobilizados pelo ideal
De que perdemos tudo, quase tudo, menos a moral De que a revolução jamais será vista nessa TV
A razão de nossa luta, o passado da nossa gente Que nada mais divulga senão o modo artificial de se viver
Na aurora absoluta, pelo futuro da nossa semente Quem questiona? Ninguém. Acompanhamos a manada
Em direção aos homens do poder que já não nos dizem mais
A alvorada matara o tempo, o tempo nos sepultará nada
Quando os homens nos julgarem, a história nos absolverá
E verá que fomos poetas impregnados da fumaça Onde há falta de saber e de informação
Levantada pelos tambores clamando liberdade na praça Com certeza haverá espaço fecundo para manipulação
Ninguém está obrigado a nos ouvir, ouve quem quer
A revolução é nossa, mano, segue quem quiser

37
Possibilidades (Mudanças São) Part. Bob Marley

1. Verso 2.Verso

Foi dormindo o sono de um marajá Deixe que a verdade seja dita


Que descobri que se mudarmos já Pelo olhar desse jovem que acredita
Evitaremos que jovens sejam vítimas da fogueira sem chama Nesse mar morto que sempre esteve tão vivo
Herdeiros sem braços de um só braço e uma catana E que nada mais vê senão o lago entre nós perdido

Dispostos a dar respostas a perguntas É tempo de travessia, atrevêssemos os limites


Escondidas durante anos por uma pequena junta Impostos pela sujeição soberana das massas pelas elites
De homens sem nome que se arrogam do direito Não vivamos à esmo
De decidir quem dome na sarjeta e quem deve ter um teto Se não ousarmos ficaremos para sempre à margem de nós
mesmos
Oh, Sabiá, quanta falta me faz a tua alegria
Sem ti a minha trova é um oceano de melancolia No meio dessa gente fina do passado de agora
Eles mataram a nossa paz porque temem o nosso devaneio Legatária de um futuro distante, mas vivida outrora
A liberdade desencontrada entre os caminhos desse anseio Pessimistas por fatalidade
É um dever cívico acreditar que os governos têm aversão às
Temem a simples possibilidade liberdades
De reivindicarmos o que resta da nossa própria dignidade
Tal como a Sita, o Zé, o Pedro ou o Nito É esse o carma e a beleza da democracia
Banidos pela história na qual já não acredito Nenhuma ideia prevalecerá sem o apoio da maioria
E quem é esta quem decide o certo e o errado na sua essência,
Verdade é verdade, há má e há boa Mas esquecem que acima da maioria está a nossa consciência?
Ainda que as nossas lágrimas se confundam com a garoa
Abra-te à mudança e dê voz aos frustrados Mudanças são precisas, há má e há boas
Vítimas da falência do Sistema e do Estado Aquelas que nos transformam em outras pessoas
Dispostas a quebrar os grilhões dos que estão acorrentados
Refrão Vítimas das bolsas e da economia de mercado
(Bob Marley)
Refrão
Chances are we’re gonna leave now... 3x (Bob Marley)
Sorry for the victim now
Though my days are filled whith sorrow Chances are we’re gonna leave now... 3x
I see years of pride tomorrow... Sorry for the victim now
Though my days are filled whith sorrow
I see years of pride tomorrow...

38
Crepúsculos dos Ídolos Part. Célsio Mambo

1.Verso Refrão

Rosas decadentes, pétalas encharcadas Homens presos à nascença


Asfalto maculado pelas gotas laceradas Acreditam que ser livre é uma doença
O silêncio é profundo, orvalhos de madrugada O que acreditas não conheces, pensa
Um rio chamado tempo, uma razão agrilhoada O que conheces é ciência .2x

Tens em mim a tua nascente (eu sou crente) 3.Verso


De manhazinha és meu, de noite és de toda gente
Corres a montante, abres caminho entre os olhares Há muito mais de mim em ti, disso sei eu
Da alma desse povo que bem sabe contemplar Mesmo quando tudo se parece demasiadamente lógico e
plebeu
És órfão da tua correnteza (com certeza) Quero te tocar no gramofone todo dia
Queres namorar a garoa, mas já sem certeza Vê se não se esqueças que apesar da telefonia
Gentilmente afagas os cardumes que passeiam
Dando cor as águas desses mares que mareiam Somos monos, armados, amados ou não
Ligados eternamente pela agulha do vinil
Grande são os teus afluentes (minha gente) Concebidos, forjados do mesmo embrião
Eu sei o quão pequena são as tuas nascentes (no sol poente) Delicadamente embriagados pelo doce veneno juvenil
Todos te veneram obsequiosamente
És a vida dada graciosamente Sonhar mais um sonho mesmo que nada mais seja para sempre
Os caules desses frutos impedidos de ser sementes
Refrão Esculpir a liberdade encobriu a mania
De esquadrinhar os subterrâneos da nossa epifania
Homens presos à nascença
Acreditam que ser livre é uma doença Coerência de nós mesmos, qual sentido não se encontra
O que acreditas não conheces, pensa Estampado em cada olhar o preço da nossa escassez
O que conheces é ciência .2x Podemos ainda achar nessa montra
Que transaciona os retalhos da nossa morbidez
2.Verso
Refrão
O futuro já não é o que era
Tu queres paz, mas parece que eles procuram a guerra Homens presos à nascença
Antigamente linda, luzidia e aconchegante Acreditam que ser livre é uma doença
Havia muita gente ao redor e hoje nem um amante O que acreditas não conheces, pensa
O que conheces é ciência .2x
Pássaros criados em gaiolas de verdade
Acreditam que voar é uma enfermidade
Que mata o desassombro de quem vive aprisionado
À revolução de quintal e à oposição em privado

Que levantou o farol que lhe serviria como garantia


De que um dia viveu uma vida cheia de tão vazia
O medo roubou-lhe tudo, sobretudo a lucidez
Deixando-lhe as sombras das sobras da nossa escassez

Ser iguais de braços dados ou em ruínas


Ser mais que os traços rasos da dança clandestina
Crianças armadas, vítimas da paz do dia-a-dia
Perdidas em tudo, sobretudo essa fantasia

39
Em Vão (o que trazes no olhar)

1.Verso 2.Verso

O que trazes no olhar para esse olhar que te observa? Todas as cartas de amor, versos e poemas
O que trazes é pra ficar ou ainda levas? O coração desenhado no tronco com raiz pequena
Levas contigo pra bem distante de mim Diálogo de mim mesmo, absorto no remisso
As palavras que apenas dizes, mas não vem de ti A mágica das rosas que marcam o nosso compromisso

O que trazes no olhar desse olhar tão profundo? Andar atrás do vento, ser conivente com a vaidade
Poemas ou esperança para o brilhar do olhar do mundo? É preciso ter tempo para aceitar a falta de lealdade
O que trazes trará de volta o que jamais tivemos? Esperar em vão mumifica anseios
A utopia de uma paixão que nos conduziu à esmo? De transformar em pão a fome do nosso meio

Não, já não enxergo verdade em teu silêncio Estar sempre ausente na presença física
Prefiro que digas algo, é melhor que me enganar por dentro Aproximadamente distante quando não fica
Minta apenas, diz que carregas na mala a saudade Me entende desentendidamente
Da primavera da nossa breve mocidade Sabe que é a razão da minha absoluta mente

Sei que trazes pedra em vez de pão, Não é suposto esperar pela mágica do alquimista
Vinagre em vez de água Para ver brotar do chão o ideal socialista
Assuma que já não falas com o coração, O olhar mais distante a apaziguar este oceano
Porque o coração que não sente não conhece a mágoa Com a paciência paciente de um monge tibetano

Do que é partir e deixar um tsunami de solidão O teu amor não alimenta a fome de gangula
Um vazio preenchido pela busca da razão Combatente de agora, contemporâneo da chandula
Da ginguba com banana, do ovo com gindungo
Siga o teu caminho, regue as tuas plantas Que tarraxa a mboa Ana sob o efeito do kindungo
Talvez não sejas o destino desse verso que se canta
Siga o teu caminho, escreva um manifesto Esperar em vão por quê, se já não estás na moda
Mas antes leia esse alegrama que te presto Não é amor, é paixão ao estilo de Tamoda
A mim já não enganas, nem a gente generosa
Encontre a tua paz nas ruínas de ágora Que de tanto esperar já tem a esperança idosa
O mundo será dos poetas e das metáforas

40
Aquele Que Escolhe Part. Lóro Mance

1.Verso 2.Verso

Eu escolhi pensar e julgar por mim mesmo O estado de paranoia e a perseguição institucional
Ainda que tal me conduza às masmorras do inferno Claros antecedentes do totalitarismo atual
Que seja por isso considerado um erês, um problema A polícia que policia o pensamento e opinião
Vítima desse mecanismo impessoal chamado sistema O direito que dá o direito natural de fala ao cidadão

E das perseguições inquisitórias Pensar é perigoso, mas ainda assim prefiro arriscar
A congregação para a doutrina da fé fez história Transformar ideias e sentimentos em atitudes para mudar
Quase queimou Galileu no julgamento perverso A defesa da verdade é um ato revolucionário
Tudo porque ousou dizer que a terra não era o centro do Quando se faz parte de uma sociedade que nega o discurso
universo contrário

Nada mais torna o homem superior senão o pensamento É necessário ousar para reinventar a humanidade
Jordano Bruno esteve muito além do seu tempo O silêncio obsequioso era um atentado à dignidade
Desafiou as convenções e os perigos da sua era De muçulmanos, protestantes, bígamos e judeus
Ousou para reinventar a idade média e acabou lançado na Iluministas, homossexuais, negros e ateus
fogueira
O cárcere, a tortura, a fogueira e o auto de fé
O elefante é maior A humilhação em hasta pública, cumplicidade da Santa Sé
O cavalo é mais veloz e mais forte Em nome de Deus e do poder secular
A borboleta é mais bonita, meu amor Muitos perderam a vida pelo simples exercício do direito de
O mosquito é mais prolífico no sul ou no norte pensar

Que outro mérito tem o homem senão o poder da ideia Governos autoritários, tiranias modernas
Que o permite ver no horizonte o cálice da pana ceia Democracias do faz de conta, liberdades pequenas
A soberania do tecido ético e moral O descaso com a educação, a falta de oportunidades
Que acompanha o esqueleto intelectual O controle da vida do cidadão não conhece limite a sua
autoridade
Livros queimados, pensadores perseguidos
Académicos silenciados e poetas proibidos A inquisição inspira governos e modernas lideranças
Pintores excomungamos, filósofos proscritos A propaganda política e a vigilância das massas
Teólogos intimidados e artistas caídos Mas por que é tão perigoso dizer que o monarca vai num,
E poder deitar tranquilo sem temer por castigo algum?

41
Maré (alta ou baixa) Part. Bob Marley

1.Verso Tratado como um lixo de viagem


Abandonados pelas circunstâncias desse itinerário
Não te conheço, mas sei onde habitas És o herdeiro da tua própria pilhagem
Nunca nos vimos, mas sei que já não acreditas Do público nada mais senão passivo desse erário
Nas juras de campanha, promessas socialistas
No progresso que já não sustenta o discurso populista A ti resta curvar os joelhos e falar com um Deus
Que parece ter se esquecido há milénio dos seus
Não preciso conhecer, sei por onde andas
No acaso causado pelos infortúnios dessa banda Refrão
Que levantou muros e cercou os rios e a terra (Bob Marley)
Que te priva dos teus sonhos porque tem medo da guerra
In high seas or-a low seas
Pelo direito de sermos nós, filhos dessa região I’m gonna be your friend
Anterior ao estado de direito, donos desse chão I’m gonna be your friend
Que conserva o umbigo da nossa ancestralidade
E das lutas travadas pelo direito à humanidade In-a high tide our-a low tide
I’ll be by your side
Não te conheço, mas penso em ti todos os dias I’ll be by your side
Como serei eu feliz se não sinto em ti alegria?
És herdeiro desse olhar e passos cambaleantes 3.Verso
Em busca da dignidade na foz do viver errante
Eu serei teu amigo, estejas no mar ou em terra
Na foz do viver errante, eu estou contigo... Contarás sempre comigo na paz ou na guerra
O que nos uni é a poesia, a bondade e a dança
Refrão Mas os melhores do mundo são estas crianças
(Bob Marley)
Vítimas do petróleo, do cobre e diamantes
In high seas or-a low seas Dos parlamentos e das leis contra os emigrantes
I’m gonna be your friend Das multinacionais e do trabalho escravo
I’m gonna be your friend A revolução já não será com cravos

In-a high tide our-a low tide Será com microfone, o discurso e a caneta
I’ll be by your side Cantaremos demo-sem-cracia ao içar da bandeira preta
I’ll be by your side Que nos fará lembrar que um dia fomos inquilinos desse chão
Combatentes pelo direito à terra, ao nome e ao pão
2.Verso
Homens que deram a camisola ao estado que queria
Eles dizem que tu és livre, mas aprisionam-te pela necessidade O soldado que morre pela pátria sem saber o que pátria seria
A fome destrói qualquer anseio de liberdade Não te conheço, talvez nunca nos veremos
Sinto os teus passos, sei por onde caminhas A razão e a inquietação são tudo o que temos
Tudo o que te posso dar são essas linhas A razão e a inquietação são tudo o que temos...

Versos esculpidos pelas lágrimas dessa caneta Refrão


Embebida pelo sangue que corre nas veias do poeta (Bob Marley)
Tão completamente distante de ser um Orfeu In high seas or-a low seas
Demente pelas chagas infringidas aos seus I’m gonna be your friend
I’m gonna be your friend
Mas eu bem conheço-te, oh tribo de Judá
As marcas que carregas têm muito pra contar In-a high tide our-a low tide
Continuas sob domínio tal como há 500 anos I’ll be by your side
Só que hoje os senhores são os teus próprios manos I’ll be by your side
42
OUTRAS MÚSICAS
(SAMBALISMOS)
Primeiro Compromisso

1.Verso 2.Verso

Em nome da mudança, do autoconhecimento e da lógica Um ideal, uma força que me conduz pra frente
Saiu em busca do que não me ensinam Esqueço um pouco os sentimentos e utilizo mais a mente
Faço então algumas reflexões filosóficas Desbravo livros, me privo das tentações que andam por perto
Analiso o cotidiano que me sufoca A ignorância é um espectro
Decido pensar mais em mim e então saio da toca
Os cavalos nascem, mas os homens não nascem, formam-se
Tomo a primeira decisão O saber e cultura cultivam-se
Me apercebo de que autoconhecimento também é uma forma O que eu busco é formação, me conhecer um pouco por dentro
de revolução Pensar por mim mesmo, analisar criticamente as crises do
Entendo aos poucos ser escravo do que digo momento
A ser mais patriota, entender os outros e me preocupar mais
comigo Ter uma visão própria do mundo e da vida
Assumir as minhas palavras, por a pele em risco em defesa do
Sigo os rastos, um caminho que talvez me leve um pouco mais que se acredita
pra trás Não é loucura, é estar bem perto
Em busca de alguma coisa que me identifica nos arquivos dos É despertar cedo paras questões que se nos colocam em frente
meus ancestrais É ver a realidade de uma forma um pouco mais diferente
Entendo por mim mesmo sair da caverna, o urso também
iberna A democracia não se dá, conquista-se
A escuridão não amputou-me o pensamento e as pernas A liberdade nunca será dada voluntariamente pelo opressor
Afroex já disse: a voz do povo é a voz de Deus
É chegado o momento de assumirmos publicamente que Mas acho quem disse isso era ateu
precisamos mudar
É necessário pensar Porque esse povo não levanta o seu braço revolucionário
Ter uma atitude mais crítica perante a realidade E hoje temos uma oligarquia como corolário
Precisamos conhecimento de causa para exigirmos que o Precisamos urgentemente deixar de ser analfabetos
sistema faça alguma coisa para a nossa comunidade Lutar pelo que se acredita e deixar de comer restos

À luta, o conhecimento e determinação Acender a luz, que anda apagada


São três armas na mão pro caminho da revolução Deixar de ter as panelas no fogo e não cozinhar nada
O que eu não entendo consulto o dicionário O que vocês vêm e mim senão o reflexo da mudança
Descubro a primeira palavra e dou um grito revolucionário A voz que levanta os braços bem alto e quebras as correntes
da própria ignorância
Dou os primeiros passos pro caminho da mudança
Ouvi da boca do Mayanda que braços cruzados não alcançam Somos a esperança de nós mesmos
esperanças A paciência que um dia desses chegou aos extremos
O desejo de ver mudanças urgentemente
Leva-nos à adoção de um ideal revolucionário e uma atitude
bastante contundente

Em relação a muitos somos poucos, mas em relação a poucos


somos muitos
Que se negam diante da arma se manter omissos
Libertar os presos da caverna é o primeiro compromisso

44
Mestres da Humanidade

1.Verso 2.Verso

Ainda crio com os olhos secos de saudade Voltados ao esquecimento tal como os apócrifos
Ainda busco alcançar os Montes das Oliveiras A mensagem é melhor codificada em hieróglifos
Não me cansei de buscar a verdade Tal como os egípcios, maias e os hititas
Nem que para isso seja preciso abdicar da Primavera Daqui há milénios seremos achados em criptas

Tal como um monge budista ou discípulo de Dalai Lama Sumos sacerdotes, possuidores de conhecimento
Abdiquei da Revista Caras, do Hora Quente, e dos Flashes Teremos pensado muito além de nós
dessa fama Teremos sido maiores que o nosso tempo
Em troca de uma eternidade sob os meus pés Teremos vivido tal como os ascéticos na Índia
São 40 anos sob o deserto tal como Moisés Entregues a uma vida de racionalidade, uma vida linda

Filosofo e moralista tal como Confúcio Seguidores de Gandhi, o mestre da verdade


Busco o Kundaline ne no cume do Vesúvio Jesus Cristo, Confúcio, Sócrates, Buda
Caminho sob as montanhas meditando o Tao Senhores da humanidade
Traficando um exemplar do Livro Vermelho de Mao Ativistas da não violência

Sou vítima de mim mesmo do amor que cultivei Desobediência civil plena
O passado é um inferno crômico, eu sei O melhor governo é aquele que menos governa
Quanto mais me entrego mais me sinto desajustado Pensadores eruditos e doutorados em letras
Aos padrões da cidade que me tornam num expatriado Filósofos intelectuais reunidos em Meca

Refrão Em busca do conhecimento que transcende a matriz interior


Na crença de que o homem pode tornar esse mundo melhor
Eu te procuro e tu sabes muito bem
Dizer o que eu quero ouvir Na crença de que o homem pode tornar esse mundo melhor
Eu te ouço e tu sabes me fazer Eu acredito...
Entender o que aí vi
Refrão
É por isso que eu te quero
Quero sempre aqui, sempre aqui Eu te procuro e tu sabes muito bem
É por isso que te espero Dizer o que eu quero ouvir
Espero sempre aqui a sorrir Eu te ouço e tu sabes me fazer
Entender o que aí vi

É por isso que eu te quero


Quero sempre aqui, sempre aqui
É por isso que te espero
Espero sempre aqui a sorrir

Eu quero ser as Quedas de Kalandula

45
Mestre Mudo (amor chinês)

1.Verso 2.Verso

Livro meu, companheiro nas horas mais sombrias Palavras que descrevem as experiências de alguém
Quando estou contigo viajo em torno do encantado mundo da Testemunhos, lições de vida, que sem as quais não somos
sabedoria ninguém
Exercito instrução e o valor da liberdade Hoje tenho vivido com o muito do pouco que li
A satisfação do meu eu é baseada na busca pela verdade O saber não ocupa espaço, mas sei bem o bem que representa
pra mim
Equilíbrio e conquista, é poder para o povo negro
A mudança não pode ser brusca, Flagelo Urbano lança o repto Orientação e equilíbrio, uma imagem na porta
Viro cada folha, cada título Nada de epicurismo, ver a vida com uma serenidade histórica
Mergulho na leitura na viragem de mais um capítulo Uma página que se abre, uma lição na vida
Aprender com os erros de alguém, experiência adquirida
Compreendo as palavras escritas
Entendo o que está escrito Letras que não falam, mas que por vezes expressam melhor
Nem por um segundo fecho as vistas que a voz
Nada me interrompe, nem o zumbir dos mosquitos O que bem posso fazer hoje não deixo pra depois
Sigo com os olhos os trilhos que seguem as frases
Retenho na memória o que me orienta pro dia a dia Conhecimento traz luz e nos torna mais capazes
Vivo de experiências, sou aprendiz
Faço da sabedoria minha própria filosofia Senhores de nós mesmos, donos do que proferimos
Sentimento de pertença e das ideias que defendemos
Ter conhecimento é ter certeza de que Vemos os males e entendemo-los
A nossa pobre vida não está se passando em vão Mergulhamos facilmente na complexidade dos vocábulos
Nem toda casa sem luz está na escuridão
Ganhamos a noção do nós e do que está a nossa volta
Não luto pra ver o que se encontra vagamente distante Desvendamos mistérios da história do ontem, do hoje e das
Mas fazer o que se acha claramente ao meu alcance civilizações mais remotas
Porque cada trecho que se lê constitui uma leitura nova Pensar na vida como se fosse uma ampulheta
Para o homem que sabe ler cada página que desfolha Ver a cada dia o seu próprio dia, andar com calma pra se
alcançar a meta
É uma janela aberta para ver o sol nascer
Enfrento a vida e as noites frias Perder a vaidade, jamais viver na letargia
Porque é um companheiro meu nas horas mais sombrias Não se conformar em apenas viver no mundo
Por o mundo por si só não diz nada
Refrão Precisamos ver o mundo
E transformar pequenos sorrisos em Atlântida
Nas horas em que a vida perde algum sentido
É contigo que eu conto, meu mestre mudo, velho amigo Refrão
Os teus conselhos, as frases de apreço
Posso deixar-te alguns dias, mas jamais te esqueço... 2X Nas horas em que a vida perde algum sentido
É contigo que eu conto, meu mestre mudo, velho amigo
Os teus conselhos, as frases de apreço
Posso deixar-te alguns dias, mas jamais te esqueço... 3X

46
Apartheid Social

Bridge Viver no musseque é ser herói


Viver no musseque é ser herói
Viver no musseque é ser herói
Viver no musseque é ser herói 2.Verso
Viver no musseque é ser herói
Viver no musseque é ser herói Muito pouco para comer, quando bebem é para esquecer
Viver no musseque é ser herói, Quando não há muito que perder, então porque deixar de
Viver, viver, viver… beber?
Viver no musseque é ser herói Sem abrigo, sem papeis, sem poder, sem vez
Tem um bico num mês, e no outro talvez,
1.Verso
A dimensão do desencanto com o estado societário
Sem liberdade, sem justiça, sem pão, sem nome... Que prometeu-lhes dignidade com o mínimo do salário
Já não queremos soluços, solucione! A cidade é impessoal, e muito pouco propensa
Não temos pão, não temos cão, não temos chão nem cidade A dar abrigo na sua imensidade pouco imensa
E há cada vez menos pão na boca da verdade
Na pobreza do amor abunda o ódio e ressentimento
Caminhamos sem ida, sem regresso e sem noção No olhar caído desse corpo que busca consolo no cimento
Sem saída, sem verso, sem vida e sem nação Nos bairros lamacentos, só vejo caras vencidas
Tanta vida vale pouco, tanta vida vale nada Muitas almas errantes e expectativas sucumbidas
Tanto tanto é o desespero que nos vende a morte achada
O álcool aquece o corpo desse homem que mal suporta o frio
Não nos prende a mais nada, nem ao estado nem ao Direito Incapaz de dar pão ao filho vê seu futuro mais sombrio
A ética republicana e o Estado sem direitos Quanta saudade da infância trazida na sua algibeira…
Tanta riqueza pobre tanto pobre de tão rico É o paradoxo da soberania desse povo sem eira
Tanta a luta por lutar não sei se luto ou fico
Repouse sob tua indigência porque que é necessário….
Tantos miseráveis, só têm dinheiro afinal Não reclames, não chores, não questiones, oh revolucionário
Que os ajuda a edificar o apartheid social Nem do musseque, do teu bairro, da cidade ou do país
Eles não partilham o jardim, privatizam a posse coletiva Não lutes para seres rico tão pouco ser feliz
Dando-nos assim as amas para a revolta ativa
Da nação não esperes nada, se não te for dada a ingratidão
O Dragão do capitalismo e a fortaleza pós-moderna Que te jogou para bem longe do direito ao sonho e ao chão
Sociedade em fragmentos na sua grandeza tão pequena Se todos fossem iguais como eu, trovador desse poema
Sociologia da exclusão e marginalidade social A miséria seria muito menos que a menor parte de uma dezena
Que prega a acumulação primitiva do capital
Refrão
A relação de privilégios, e a arbitrariedade
Joga milhões de desafortunados para longe das cidades Viver no musseque é ser herói
Guetos na América, Favelas no Brasil Viver no musseque é ser herói
Musseques em Angola, problemas mil. Viver no musseque é ser herói
Viver no musseque é ser herói
Refrão
Viver no musseque é ser herói,
Viver no musseque é ser herói Eu sei que… viver no musseque é ser herói,
Viver no musseque é ser herói Viver no musseque é ser herói
Viver no musseque é ser herói Viver no musseque é ser herói... 2x
Viver no musseque é ser herói Viver, viver, viver …
Viver, viver, viver …
Viver no musseque é ser herói, Viver no musseque é ser herói 6x
Eu sei que…viver no musseque é ser herói,
47
Mr. Brent (petróleo bruto) part. Sayda

1.Verso 2.Verso

Disseram que eras robusto para o discurso oficial crer Ontem ortodoxo, hoje rezas na sinagoga
O Inglês viu o milagre da economia nacional acontecer A soberania do povo reside numa magoga
Santo amado ouro negro, filho de Poseidon e de Gaia Te voltaste contra os teus e tributas até a decência
A testemunha ocular da loucura secular dessa laia A fraca capacidade de manifestação de consciência

Deram-te um preço e uma estátua alta na cidade Eliminaste a concorrência com pressões inflacionistas
A centralidade é o adágio do que vales de verdade Num modelo de gestão clientelar e protecionista
Contigo criaram-se oligarcas (Quia) O controlo corporativo do mercado e a inflação
A Rés pública ficou de cócoras para o monarca (Quia) São armas apontadas para o nguimbo da população

Que reparte prantos e quimeras douradas Ó Mr Brent, hoje caminhas cambaleante


Deu o paraíso para poucos e para muitos a calçada Buscando resguardo e sustento à montante
Viciados em divisas, petro-dependentes Lembras com tristeza os dias de glória
Arquitetos de uma economia que só diversifica gentes Em que lutavam para te ter pelos valores mais altos da história

Mas aonde é que estará, o relatório sobre o excedente? Tiveste mais-valias, deste ao soberano o nome de fundo
Da idade da bonança, e da subida do Mr. Brent? Para dar legalidade política ao rebento segundo
Idos até novembro, foi quando se revelou Afinal não eras tão robusto, “qual quê robustez?!”
Que levantando o sofá com cuidado acharíamos o pó Saiba que mentir sobre o estado da economia é estupidez

É esse o caminho para a servidão, a ruina e a tragédia Diziam que eras sólido como os pilares do legislativo
Quando vemos que última fase dos regimes é a comédia Que anda mais morto do que vivo
O Rei foi apanhado sem calças e com cofres vazios Mr. Brent! porquê que és tão fútil e despesista?
Tudo porque decidiu dissipar em solo luzidio És o responsável por essa classe de elitistas

Hoje as lágrimas são rios que tingem o leite derramado Que crucificou o Espirito Santo e disse “amém irmãos”
Daqueles que se negam a tirar uma lição no passado E quer que a fatura saia dos bolsos da população
Vi-te em alta, muito acima dos 100, vês E agora quem nos vai curar da doença holandesa?
Como cada cão um dia desses terá a sua vez? Cujas consequências se vão refletir na nossa mesa?

Refrão Refrão

Quero saber o que foi feito do dinheiro que estava aí? Quero saber o que foi feito do dinheiro que estava aí?
Eu não sei, eu não sei, eu não sei... 2X Eu não sei, eu não sei, eu não sei... 2X

48
Nasci Póstumo

1.Verso Conheço a minha sina


Algum dia cantarão hinos em meu nome nas ruas de Medina
Nasci póstumo e vive canonizado Santificado contra mentira do milénio
A loucura é o preço a pagar quando se é delicadamente mal- A razão e a inquietação são tudo o que tenho
educado
Deus está morto ou fui eu quem morreu?! Refrão
Quando o amor fecundo entendeu expulsar-me do seu céu
A vida, não é só de desvantagem
Inspirado do nada e da eterna mesquinhes humilde malandragem
Não obstante ser piada não suporto estupidez (Sabotage) 2X
Tão pouco me agradam esses novos seguidores
Não percebem as minhas rimas e afirmam serem meus 3.Verso
admiradores
Dissertem-me e sequestrem meus ideais
Eremita no sentido de ser pensador tenso A eternidade é o galardão de quem sabe que não sabe nada
Antropossemia, o significado do homem por extenso mas há mais
Semeio a liberdade para não gotejar hipocrisia Distribuam meus espólios
Semblante de madrugada, já não enxergo sábios à luz do dia E joguem-me na fogueira santa o meu velho porto folho

Busco a clave holística da orquestração planetária Ofereçam por 30 moedas de prata a minha túnica
Para tocar o sino da fé que transmite a luz necessária E partilham o que restar e o resto da minha música
Roubaste-me a solidão sem me oferecer verdadeira Avaliado sobre o critério meramente tecnológicos
companheira Seduzido pelo mercado que lhe escancara horizonte mágicos
Que declamasse os versos quando estivéssemos nas trincheiras
Visionário como Parmênides e seguro
Refrão Completo por toda parte, dissidente do Jardim de Epicuro
Esguio como um guerreiro Samurai e a sua adaga
A vida, não é só de desvantagem A cúpula ilícita com a música comercial é a nossa praga
humilde malandragem
(Sabotage) 2X Eu sou Flagelo Urbano, nunca me exonerei do meu carma
Sociólogo sem diploma, míope contra fama
2. Estrofe Se me vires a andar no escuro com uma lanterna não te
espantes, irmão
As conversões são cárceres que aprisionam a liberdade Estou à procura do substituto de Platão
Quando nossos ideais sustentam o centro da nossa gravidade
É pela vontade de ser eu mesmo que me encerro Refrão
Porque aprendi desde sempre que sem a música a vida seria
um erro A vida, não é só de desvantagem
Humilde malandragem
Escolhi o exílio voluntário entre as montanhas geladas (Sabotage) 4X
Do que ser um parente distante que deambula nas calçadas
Quanto mais me elevo, menor pareço aos olhos de quem não
sabe voar
A clausura é o castigo de quem veio à vida pra questionar

Perdidamente apaixonado pela estrela d’alva


Quando abismo espreita é apenas ela é que me salva
Apavora-me a ideia de que um dia me possam considerar
Santo
E lutem desesperadamente pela posse do meu manto

49
Nostalgia

1.Verso E que não vê a hora do telefone fixo chamar


E voltar a escutar a voz do homem que lhe está cortejar
É tudo muito azul, mas profundamente cinzento As músicas são incríveis, ainda falam de afeto
É lindo demais e eu já não aguento Hoje eu só queria ter-te aqui por perto
Eu já não aguento essa distância tão vizinha
Apesar de ter alguém ao lado sinto-me tão sozinha Refrão

Só tu tens, só tu podes, só tu consegues, só tu dás Por que você me deixa tão solta
Namoras com a tua imagem moço amas-te demais Por que você não cola em mim
Mas eu só queria uma flor do jardim lá da praça Estou me sentindo muito sozinha
Uma singela serenata, um abraço dado de graça É que um carinho às vezes faz bem

Ainda sonho com a carta de amor em papel quadriculado Por que você me esquece e some
Escrita pelo próprio punho e entregue num envelope E se eu me interessar por alguém
perfumado Se ele de repente me ganha (me ganha)
Andar de mãos dadas, me deixar perder na ingenuidade É que um carinho às vezes faz bem...
Vês o olhar de felicidade que me deste
3.Verso
Sonho com o beijo tímido do cavalheiro enamorado
Uma rosa, um bilhetinho no momento menos esperado Ontem ficava-se a namorar, hoje namora-se ficando
Ouvir músicas incríveis que falam de afeto O conceito de relacionamento vai se degradando
Eu só queria ter-te aqui por perto Conhecer bem a pessoa com quem se está atrapalha
Quando o que mais importa são os zeros na conta bancária
Refrão
Já não há conquista, querem as coisas de mão beijada
Por que você me deixa tão solta Os sentimentos somem à medida que a conta fica esvaziada
Por que você não cola em mim O amor já não se constrói, compra-se com dinheiro vivo
Estou me sentindo muito sozinha Ganha a competição quem demostrar maior poder aquisitivo
É que um carinho às vezes faz bem
Por que você me esquece e some Querem um casamento fácil e feliz caído do céu
E se eu me interessar por alguém Mas esquecem que que para ter um casamento pronto tem que
Se ele de repente me ganha (me ganha) aprontar o seu...
É que um carinho às vezes faz bem... O amor já não é fogo que arde sem se ver, isso já era!
Seria sacrilégio falar em amor de cabana na nossa era
2.Verso
Antes vendia-se o corpo nas tabernas da cidade
O namoro no portão, o pai que vigia Hoje vende-se a alma, a moral, o amor e a dignidade
O irmão que controla a mana mais velha via Meu amor da rua 11, quanta saudade!
O elogia que não se espera, o sorriso que legitima Eu só queria ter um amor de verdade.
O beijo roubado da pureza dessa menina
Refrão
Que sonha um dia se casar de véu e grinalda
Que sabe que até à noite de núpcias o noivo não verá nada Por que você me deixa tão solta
Olhares inebriados, coração a andar a mil por horas Por que você não cola em mim
O assobio das 19 (mas por que tanta demora?) Estou me sentindo muito sozinha
É que um carinho às vezes faz bem
O primeiro amor, o primeiro toque, a primeira saída, o
primeiro selinho Por que você me esquece e some
Namorar na sala, nada de estarem ali sozinhos E se eu me interessar por alguém
A cara de boba e a admiração que vem do nada Se ele de repente me ganha (me ganha)
Revela que essa jovem está completamente apaixonada É que um carinho às vezes faz bem...
50
Infinito

1.Verso 2.Verso

Acordei com uma vontade infinita O Prazer da ausência, tão próximo estaria
De me acabar da forma mais bonita Se eu não existisse, que falta faria?
Me atirar do nada e embater contra lugar nenhum Qual herança, qual estória, qual legado?
Flutuar no horizonte e ser o único de um... Qual infante entenderia que amanhã serei passado!

Hoje estou assim, Sem arvore plantada, sem livro sem atrium
Com vontade de mim mesmo, o meu melhor amigo O sonho de uma existência era apenas o sagrado
Há muito tempo não me vejo, nunca mais estive comigo Imigrante de mim mesmo, perdido em solo pátrio
Já não não me procuro, eu sei, ando muito ausente O sonho de uma vida era somente ouvir o meu fado
Menticídio, pelas razões dessa gente
A vida já não sabe a nada, sabe um pouco mais
Acordei com uma vontade tão bonita Na prisão do livro arbítrio encontrei a minha laje
De mergulhar fundo, no vazio da vida Não é o valor da liberdade, mas está no preço
E despertar num Ermo solitário Que colocas sobre a mesa para de mim ter um verso
Andar de les-a-les pelas veredas do calvário
Alma assimétrica, na cidade inóspita
Gerúndio de mim próprio a dança da sarjeta Perdido entre a métrica dessa atitude indómita
Em troca de algumas moedas para também ser um profeta Um dia me completo, voltarei a ser grama
Lalipo família, Xaleno Kia Mbote Perdido no futuro tal como Mário Quintana.
É para lá aonde eu vou, ao encontro da noite
Refrão
Refrão
A Tragédia de um homem é perder a lucidez
A Tragédia de um homem é perder a lucidez No futuro a utopia, no presente a estupidez... 2x
No futuro a utopia, no presente a estupidez... 2x

51
Poetar

1.Verso 2.Verso

Escreva-me um verso, Escreva-me um poema,


Um poema de embalar Ainda que seja só,
Só quero um soneto, Pra dizer que nada mais existe
Não tens de rimar E que tudo acabou.

Escreva qualquer coisa, Componha um terceto


Mas que seja poesia E o entregue ao Guaxinim
Que de noite reluz Pois só ele saberá a dor
E de manhã é outro dia De doer de tanto ser assim

Escreva-me um poema, Foram-se as quimeras,


Não te olvides desse jeito Mal vês que existo
Na contra capa da saudade Eu sei chorar, eu sei sofrer,
Vive esse sujeito Apenas isto

Tão pobre de poeta, Um vagabundo suplicando


Todo morto de tão vivo Por alguma utopia
Toda vida na ampulheta, A mentira dá o conforto,
Carente de substantivo A verdade sempre agonia

Escreva-me um poema, Escreva-me um poema,


Sem nome como eu Se calhar não granjeio
Escreva no mar, O lugar que um dia ocupei
Na terra ou no céu Em teus anseios

Dá-me os teus versos O silêncio barulhento,


E eu me entrego por inteiro Os gritos taciturnos,
Na metade do meu todo As falas sem acento
Para ti eu serei o primeiro Do passado sem rumo

Sabes bem que finjo, Quero-te numa trova,


Ser poeta de fantasia Numa balada sem destino
A diligência do abismo Quero-te sem métrica
É a minha pradaria Na imperfeição do divino

Basta-me um poema, Poetisa inacabada,


Uma estrofe, um verso Acabada de tão perfeita
Contento-me com as folhas secas Quero-te sem gerúndio
Que caiem do teu universo Sob as asas de uma borboleta

Refrão Refrão

Escreva-me um poema Escreva-me um poema


Oh, bela flor Oh, bela flor
Escreva-me um poema Escreva-me um poema
Pro teu amor... 2x Pro teu amor... 2x

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