Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 Considerações introdutórias
Examinaremos no presente artigo algumas questões que envolvem a atu-
ação executiva na regulação de atividades econômicas e serviços públicos, sob
uma ótica evolutiva, bem como o papel do Poder Judiciário no controle das
escolhas regulatórias.1
A análise parte da legalidade e da chamada “crise da lei”. Isso porque a lei
surgiu como elemento concretizador da vontade geral, sob a concepção rousseau-
niana. Editada sob o manto da volonté generale, seria válida independentemente
de seu conteúdo, pois, justamente por ser fruto da vontade de cada cidadão, e
1
O tema foi explorado, com maior profundidade, na seguinte obra: GUERRA, Sérgio. Discricionariedade, regu-
lação e reflexividade: uma nova teoria sobre as escolhas administrativas. 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2015.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
2
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. Justicia y seguridad jurídica en un mundo de leyes desbocadas. Madrid:
Civitas, 2000, p. 25.
3
VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Delegação Legislativa – A Legislação por Associações. RDP, n. 92, out./dez.
1989.
4
PALMA FERNÁNDEZ, José Luis. La seguridad jurídica ante la abundancia de normas. Madrid: Centro de Estu-
dos Políticos y Constitucionales, 1997, p. 14.
5
Id. Ibid., p. 14 e 49.
6
PALMA FERNÁNDEZ, José Luis. La seguridad jurídica ante la abundancia de normas. Madrid: Centro de Estu-
dos Políticos y Constitucionales, 1997, p. 29.
7
Bermejo Vera comenta este aspecto em cotejo com a segurança jurídica: “Una cierta indeterminación o
incompletud de las leyes, pese al principio de reserva legal, no puede ser entendida como contraria a la
seguridad jurídica. Como es obvio, las leyes no pueden agotar la regulación de una materia o cuestión.
Utilizando el punto de partida o contenido principal del derecho o del deber configurado por las leyes,
las normas secundarias precisan aquellos contenidos, ganando en determinación, cuando las descripciones
genéricas o la utilización de conceptos jurídicos indeterminados se precisan en las disposiciones de
desarollo. Esto ocurre, por ejemplo, en leyes como las de protección de los consumidores, donde se alude
frecuentemente o se utilizan conceptos como ‘peligros’, ‘riesgos’, ‘normal utilización’, u otros similares, con
los que no puede dicirse que se atente a los principios de seguridad jurídica – ni tampoco al de reserva de
ley – que son fundamentales en la interpretación del ordenamiento jurídico y en la garantía de los derechos
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
Tudo isso contribuiu para ampliar, a cada dia, os espaços para as escolhas
administrativas e, em igual ou maior escala, trazer imprevisibilidade e conse-
quente insegurança jurídica.
A exemplo do que ocorreu com a legalidade, a normatização pelo Executivo
trouxe outros desafios para a concretização da justiça, notadamente ao propiciar
amplo espaço para escolhas discricionárias. Primeiro, pela silenciosa restrição de
acesso à elaboração da norma construída no âmbito do Executivo “em gabinetes
fechados e sem publicidade alguma, libertos de qualquer fiscalização ou controle
cívicos” (BERMEJO VERA, José. El declive de la seguridad jurídica en el ordenamiento plural. Madrid: Civitas,
2005, p. 124).
8
VENANCIO FILHO, Alberto. A intervenção do estado no domínio econômico. Ed. fac-similar. Rio de Janeiro:
Renovar, 1998, p. 8.
9
VELLOSO. Op. cit., p. 151.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
10
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. “Poder” regulamentar ante o princípio da legalidade. Revista Trimestral
de Direito Público, São Paulo, v. 4, p. 71-78, 1993, p. 74.
11
A advertência é feita por PALMA FERNÁNDEZ. Op. cit., p.47: “La elaboración de las normas, incluso las que
se alejan de los sectores especializados y se adentran en el terreno de la generalidad de los ciudadanos,
comienza a estar presidida por un afán de alcanzar ámbitos sectoriales de élite jurídica, perdiendo la noción
de que existe un colectivo no especializado (por supuesto, el más numeroso) sobre el que se proyectan los
efectos y que no tiene obligación de profundizar en terminología o denominaciones propias de experto
conecedor del Derecho”.
12
Conforme voto do Ministro Teori Zavascki no RCL 4.335/AC: “Nesse ponto, o Brasil está acompanhando um
movimento semelhante ao que também ocorre em diversos outros países que adotam o sistema da civil law,
que vêm se aproximando, paulatinamente, do que se poderia denominar de cultura do stare decisis, própria
do sistema da common law. A doutrina tem registrado esse fenômeno, que ocorre não apenas em relação
ao controle de constitucionalidade, mas também nas demais áreas de intervenção dos tribunais superiores, a
significar que a aproximação entre os dois grandes sistemas de direito (civil law e common law) é fenômeno
em vias de franca generalização”.
13
Anthony Giddens aborda o tema nos seguintes termos: “Hoje em dia, as ações cotidianas de um indivíduo
produzem consequências globais. [...] Esta extraordinária – e acelerada – relação entre as decisões do dia a
dia e os resultados globais, juntamente com seu reverso, a influência das ordens globais sobre a vida indi-
vidual, compõem o principal tema da nova agenda” (GIDDENS, Anthony. Op. cit., p. 75). Bauman associa
o tema à difícil renúncia à segurança: “Segurança e confiança são coisas a que não se pode renunciar facil-
mente. Na medida em que dependem da postura ‘ordinária’, espera-se que os membros do grupo interior
defendam zelosamente o caráter inegociável, imutável, absoluto mesmo de sua visão de mundo feita de
conhecimento partilhado e graduado. Enquanto o defenderem com sucesso, ficarão efetivamente vaciona-
dos contra os horrores da existência ambivalente” (BAUMAN, Zigmunt. Modernidade e ambivalência. Trad.
Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999, p. 86).
14
A multilateralidade, na lição de Vasco Manuel da Silva, surge como a característica mais marcante da
Administração do Estado pós-social. As escolhas administrativas, típicas da Administração prospectiva ou
prefigurativa, não dizem respeito a um relacionamento meramente bilateral entre os privados e os órgãos
decisores; correspondem, antes, a um relacionamento multipolar uma vez que produzem efeitos susceptíveis
de afetar um grande número de sujeitos (SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira da. Em busca do acto
administrativo perdido. Coimbra: Almedina, 2003, p. 130).
15
BAUMAN, Zygmunt. Op. cit., p. 227.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
16
Diogo de Figueiredo Moreira Neto adverte que o recurso a outras fontes normativas decorre, também, da
“pletórica produção legislativa dos Estados, que vem assumindo proporções avassaladoras e inquietantes,
abalando a certeza e segurança jurídica das sociedades complexas que emergiram com a Era da Informação”
(MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito regulatório: a alternativa participativa e flexível para a admi-
nistração pública de relações setoriais complexas no estado democrático. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p.
124 – grifo nosso).
17
A expressão é de Diogo de Figueiredo Moreira Neto. Regulática é a aceitação de espaços de autonomia
de vontade coletiva, geralmente recobertos, nas sociedades organizadas, pelas entidades intermédias. É
a substituição de um direito fundamentalmente imperativo por um direito também consensual, que pres-
cinde da necessidade de definições políticas e de emprego imediato de coerção (MOREIRA NETO, Diogo de
Figueiredo. A globalização e o direito administrativo. In: MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo (Coord.). Uma
avaliação das tendências contemporâneas do direito administrativo. Rio de Janeiro: Renovar: 2003, p. 561).
18
Diogo de Figueiredo Moreira Neto destaca essa questão do ponto de vista da eficiência, legitimidade e
justificação das decisões das agências reguladoras: “Nesse novo cenário, como os obrigatórios fundamentos da
decisão administrativa já não mais se reduziam à eficácia e à legalidade, ambas características necessariamente
presentes na democracia formal e na ação pública burocrática tradicional, mas, além delas, se ampliavam,
como se expôs, à eficiência e à legitimidade, como expressões da democracia material e da ação pública
voltada a resultados, passou-se a exigir, em acréscimo, a justificação das decisões, principalmente daquelas
que viessem a ser tomadas no desempenho das sensíveis funções administrativas em que se faz necessário
precisar conceitos indeterminados ou realizar escolhas discricionárias” (MOREIRA NETO, 2003, p. 100).
19
GUERRA, Sérgio. Discricionariedade, regulação e reflexividade: uma nova teoria sobre as escolhas adminis-
trativas. 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2015. Cumpre assinalar que o que designamos, nesta obra, como
sendo “reflexividade administrativa” está em perfeita consonância com outra nova teoria de direito adminis-
trativo, estruturada por Juarez Freitas em 2011 como sendo a sustentabilidade regulatória (FREITAS. Juarez.
Sustentabilidade: direito ao futuro. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012).
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
20
Bauman adverte que o relacionamento do indivíduo com a natureza e a sociedade é efetivamente mediado
pelas competências especializadas e a tecnologia que as serve. Os técnicos são aqueles que possuem essa
competência e administram suas técnicas que comandam as atividades vitais. A técnica, produzida e con-
trolada pelo especialista, constituiu o verdadeiro ambiente da vida individual. Nesse ambiente surgem em
grande parte a ambivalência e a insegurança e, com elas, grande parte dos perigos percebidos” (BAUMAN,
1999, p. 225 – grifo nosso).
21
“Estamos todos presos às experiências do cotidiano, cujos resultados, em um sentido genérico, são tão aber-
tos quanto aqueles que afetam a humanidade como um todo. As experiências do cotidiano refletem o papel
da tradição – em constante mutação – e, como também ocorre no plano global, devem ser consideradas no
contexto do deslocamento e da reapropriação de especialidades, sob o impacto da invasão dos sistemas abs-
tratos. A tecnologia, no significado geral da ‘técnica’, desempenha aqui o papel principal, tanto na forma de
tecnologia material quanto da especializada expertise social” (GIDDENS, Anthony. 1997, p. 77 – grifo nosso).
22
STIGLER, George J. A teoria da regulação econômica. In: MATTOS, Paulo (Coord.). Regulação econômica e
democracia: o debate norte-americano. São Paulo: Editora 34, 2004, p. 23.
23
Identificando esse dilema como a “luta entre o novo e o velho”, Almiro do Couto e Silva denota que o futuro
não pode ser um perpétuo prisioneiro do passado, nem pode a segurança jurídica se transformar em valor
absoluto, capaz de petrificar a ordem jurídica, imobilizando o Estado e impedindo-o de realizar as mudanças
que o interesse público estaria a reclamar. Por outro lado – assevera o jurista gaúcho – ao se esperar uma
linha de coerência administrativa não é igualmente admissível que o Estado seja autorizado, em todas as
circunstâncias, a adotar novas providências em contradição com as que foram por ele próprio impostas,
surpreendendo os que acreditaram nos atos do Poder Público (SILVA, Almiro do Couto e. 2004, p. 13).
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
24
Torres (2005, p. 176).
25
Id. Ibid.
26
Nesse sentido, ver BECK, Ulrich. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In:
BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem
social moderna. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Unesp, 1997, p. 11.
27
Id. Ibid., p. 16.
28
Torres (2005, p. 177). Prossegue o autor: “Da ambivalência e do caráter paradoxal da sociedade de risco
decorre a modificação do próprio conceito de segurança, em crescente contraste com o de insegurança”
(TORRES, 2005, p. 177 – grifo nosso).
29
A inclusão da sociedade de riscos como nova categoria da sociedade atual mereceu críticas de autores, em
que se destaca DE GIORGI, Raffaele. Direito, democracia e risco: vínculos com o futuro. Vários tradutores.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998, p. 196-197.
30
Beck (1997), p. 17.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
31
Id. Ibid., p. 23.
32
GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós. Trad. Maria Luiza X.
de A. Borges. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 24.
33
LUHMANN, Niklas. Sociologia del rischio. Trad. Giancarlo Corsi. Milano: Bruno Mondadori, 1996, p. 31-32.
34
Bauman (1999, p. 113).
35
BAUMAN, Zigmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Trad. Mauro Gama e Cláudia Martinelli Gama. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 36.
36
SIMON, William H. A prática da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 67.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
37
Patrícia Baptista aponta que não obstante a boa-fé tutele o valor ético da confiança, os princípios da boa-fé
e da proteção da confiança legítima não são equivalentes idênticos nem sinônimos. Para ela o princípio da
proteção da confiança legítima, por incorporar os valores de previsibilidade e estabilidade oriundos da ideia
de segurança jurídica, confere ao administrado um raio de proteção mais amplo que o princípio da boa-fé.
Ademais disso, sustenta que o exame da boa-fé do administrado é uma condição da incidência da proteção
da confiança legítima (BAPTISTA, Patrícia Ferreira. Segurança jurídica e proteção da confiança legítima no
direito administrativo: análise sistemática e critérios de aplicação no direito administrativo brasileiro. 2006.
374 p. Tese (Doutorado em Direito do Estado) – Universidade de São Paulo, p. 141).
38
GONZÁLES PÉREZ, Jesús. El principio general de la buena fe en el derecho administrativo. 3. ed. Madrid:
Civitas, 1999, p. 53.
39
Na advertência de Beck (1997, p. 24).
40
Grau (2002, p. 47).
41
BAUMAN, Zigmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Trad. Plínio Dentzien. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003, p. 69.
42
LAUBADÈRE, André de. Direito público económico. Trad. Maria Teresa Costa. Coimbra: Ed. Almedina, 1985,
p. 114.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
43
Peres Luño (1994, p. 13).
44
Peres Luño (1994, p. 13).
45
Moreira Neto (2003, p. 101).
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
46
Baptista (2006, p. 50).
47
Torres (2005, p. 52).
48
Peres Luño (1994, p. 37-38).
49
Id. Ibid., p. 96.
50
Silva (2003, p. 207).
51
Baptista (2006, p. 50).
52
Bermejo Vera (2005, p. 43).
53
Silva (2003, p. 17).
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
54
Baptista (2006, p. 18).
55
Baptista (2006, p. 21-22): “Não se perca de vista, porém, que o ideal de um direito seguro não pode ser
mais do que isso: um ideal. É necessário e desejável aumentar a segurança do direito – i.e., a estabilidade, a
acessibilidade e a previsibilidade das normas e das decisões –, mas não se conseguirá jamais eliminar todas
as imprecisões e indefinições. Afinal, trata-se de normas que são feitas e aplicadas por seres humanos”.
56
Baptista (2006, p. 99).
57
Moreira Neto (2003, p. 102).
58
Moreira Neto (2003, p. 102).
59
SEABRA FAGUNDES, Miguel. O controle dos atos administrativos pelo poder judiciário. 4. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1967, p. 150.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
60
Silva (2003, p. 301 ss).
61
Nos moldes identificados por Baptista (2006, p. 128-129).
62
MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. A nova regulação estatal e as agências independentes. In: SUNDFELD,
Carlos Ari (Org.). Direito administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 96.
63
Silva (2003, p. 461).
64
Baptista (2006, p. 328).
65
OTERO, Paulo. Legalidade e administração pública: o sentido da vinculação administrativa à juridicidade.
Coimbra: Almedina, 2003. p 764 e ss.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
66
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Teoria das autolimitações administrativas: atos próprios, confiança legítima e
contradição entre órgãos administrativos. Revista de Direito do Estado, Rio de Janeiro, n. 4, out./dez. 2006,
p. 231-244.
67
Cf. SANTAMARIA PASTOR, Juan A. La administración como poder regulador. In: SÁINZ, F. Estudios para la
reforma de la administración pública. Madrid: Inap, 2004, p. 398 ss.
68
“Art. 212. Os Poderes Executivos federal, estaduais e municipais expedirão, por decreto, dentro de 90
(noventa) dias da entrada em vigor desta Lei, a consolidação, em texto único, da legislação vigente, relativa
a cada um dos tributos, repetindo-se esta providência até o dia 31 de janeiro de cada ano” (BRASIL. Lei nº
5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de
direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios).
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
6 Conclusão
Na fase por que passa a sociedade, não se encontra a utilidade para a
certeza e segurança. A compreensão do Estado de risco como aspecto nuclear na
organização da sociedade contemporânea comete a uma dinâmica peculiar que
submete o direito administrativo a um novo papel, a uma transformação.
A regulação estatal de atividades econômicas, nesse contexto, cumpre uma
função essencial na prevenção e composição das antinomias surgidas pela ambi-
valência e aporias surgidas com a tecnicidade e a complexidade das relações
sociais.
A conclusão a que se chega é a de que a configuração da segurança jurí-
dica nas relações contemporâneas entre a Administração Pública reguladora
descentralizada e o agente regulado que desenvolve atividade econômica é um
tema pouco explorado em nossa doutrina.
Observou-se que a ideia de segurança jurídica enfrenta uma “crise de iden-
tidade” neste início de século. No campo da regulação de atividades econômicas
pelo Estado, a “crise” advém do fato de que a estrutura normativa regulatória
deve ser estruturada de forma diversa do conceito legalitário formal.
As políticas nacionais típicas do Estado pós-moderno se apresentam, na
prática, mediante a edição de diversas normas gerais com conceitos jurídicos
indeterminados, que, logicamente, não conseguem tudo prever para nortear a
atuação dos agentes públicos reguladores nem tampouco dos agentes regulados.
Concluiu-se que, em algumas regras editadas pelos reguladores, não se
pode pensar em simplesmente executar o que está indicado na lei, produzida
no âmbito do Parlamento. Nas questões difíceis (hard cases) submetidas à esco-
lha regulatória, as normas têm linhas mestras da política econômica e social,
fazendo com que tenha de haver uma liberdade ao administrador público na
hora de executar reflexivamente os comandos gerais da norma, dependendo
(i) dos dados empíricos decorrentes das técnicas disponíveis e testadas, (ii) da
circunstância fática em que a norma está sendo aplicada e (iii) dos impactos
prospectivos multilaterais decorrentes do ato.
Diante dessas considerações, o ponto agudo identificado conduziu a busca
de meios para compatibilizar a premissa basilar do valor “segurança jurídica”
na regulação de atividades econômicas, decorrente do Estado Democrático de
Direito, com outros valores, outros princípios e outras regras.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
Society of risks and uncertainities: the judicial control over the regulatory
choices
Abstract: In this article we will examine some issues regarding the
executive role in the regulation of economic activities and public services,
since an evolutionary perspective, and the role of the Judiciary in control
of regulatory choices. The analysis of the legality and of the “crisis of the
law”, once that law came as a concretizing element of the general will, in
Rousseau’s conception. Edited under the cloak of volonté generale, it would
be valid regardless of its content, therefore, precisely because it is fruit of
the will of each citizen, and to the extent that no one is unjust to himself, it
could ever prove to be unfair.
Keywords: Law of the Regulation. Regulatory choices. Risk society.
Referências
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Teoria das autolimitações administrativas: atos próprios,
confiança legítima e contradição entre órgãos administrativos. Revista de Direito do Estado,
Rio de Janeiro, n. 4, out./dez. 2006.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. “Poder” regulamentar ante o princípio da lega-
lidade. Revista Trimestral de Direito Público, São Paulo, v. 4, p. 71-78, 1993.
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016
Int. Públ. – IP, Belo Horizonte, ano 18, n. 95, p. 155-174, jan./fev. 2016