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A Lei parte da premissa de que o crédito deve ser exercido/cobrado de forma SAUDÁVEL.
Afirma Pablo Stolze de Carlos Elias que este princípio é uma norma implícita na
Constituição e foi concretizado pela Lei do Superendividamento mediante alterações no
CDC e no Estatuto do Idoso. Consiste em promover o “crédito responsável”, ou seja, a
prática adotada por credores, por devedores e pelo Poder Público com vistas a evitar o
superendividamento1.
Superendividamento, por sua vez, é a situação de um indivíduo de boa-fé que não tem
condições de pagar suas dívidas sem comprometer o mínimo existencial.
Conforme o art. 54-A, §1º do CDC:
Art. 54-A, § 1º, CDC: Entende-se por superendividamento a
impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de boa-
fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e
vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da
regulamentação.
ATENÇÃO: A Lei aponta para consumidor “PESSOA NATURAL”. Assim, a lei não é
direcionada à pessoa jurídica, mas ao consumidor pessoa natural.
Conforme dispõe Carlos Elias, existem 2 técnicas de redação legislativa, sendo uma delas
a cláusula aberta e a outra o conceito jurídico indeterminado, tratando-se na prática de
abordagens que se baseiam em uma indefinição ou incerteza. A cláusula aberta é quando
a incerteza está no resultado e o conceito jurídico indeterminado tem a sua incerteza na
definição. O dispositivo estudado já é considerado autoaplicável pelo professor,
tratando-se de uma NORMA DE EFICÁCIA CONTIDA.
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OBS: O luxo é algo que vai além e foge do padrão médio de uma sociedade. Essa
referência apresenta variações entre diferentes ambientes sociais.
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Assim, com Pablo Stolze podemos dizer que sob o prisma do elemento finalístico, a
finalidade da lei é a de prevenir o superendividamento para resguardar o mínimo
existencial do cidadão. Esse entendimento guarda conexão com a Teoria do Estatuto
Jurídico do Patrimônio Mínimo (Luiz Edson Fachin).
OBS: É importante destacar que essa lei não é, na verdade, um conceito novo ou inédito
no mundo. Conforme aponta Carlos Elias, na verdade a legislação se inspira no direito
francês e no direito norte-americano. Por exemplo, a França possui a sua própria lei para
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A doutrina já ponta que as leis de organização judiciária estaduais devem criar varas
especializadas no superendividamento.
DICA:
Pode-se, para firmar uma ideia de mínimo existencial, conforme Pablo Stolze e Carlos
Elias, utilizar como bússola a jurisprudência que gira em torno do “bem de família”.
A lei não se direciona somente ao devedor ou ao credor, mas também ao poder público.
Alguns dispositivos do CDC que tratam do tema:
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo
o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios:
(...)
IX - fomento de ações direcionadas à educação financeira e
ambiental dos consumidores;
X - prevenção e tratamento do superendividamento como forma de
evitar a exclusão social do consumidor.
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Bem lembra Carlos Elias que dentro da estrutura administrativa do direito do consumidor
há o chamado Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, que é uma verdadeira
constelação de órgãos de todos os entes federativos e que também envolve a
participação de entidades da sociedade civil. Dentro desse sistema, há a Secretaria
Nacional do Consumidor, que é um órgão dentro do Ministério da Justiça de onde
precipitam as normas que regulamentam os PROCONs e os demais órgãos que atendem
ao consumidor.
Os PROCONs são considerados a “ponta da lança”, figuras de contato com o consumidor
e que seguem atos normativos que geralmente são baixados pelo Ministério da Justiça
por provocação da Secretaria Nacional do Consumidor. A lei dispõe uma liberdade
incrível para que a Secretaria elabore soluções diversas que possam ajudar os
consumidores, sendo várias as possibilidades de elaboração de políticas públicas nesse
sentido.
OBS: Uma observação importante é que para a lei o superendividado acaba se tornado
um excluído socialmente, dessa forma, a lei possui um escopo também inclusivo,
considerando que o consumidor será sempre por natureza, vulnerável.
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Aponta Pablo Stolze que a Lei se preocupa consideravelmente com a oferta do crédito
ao consumidor, uma vez que talvez a principal causa de superendividamento sejam
justamente os créditos e financiamentos concedidos.
Importante destacar que o inciso I foi vetado pelo presidente da República, mas tal veto
vem sofrendo críticas da doutrina. Segue as razões do veto presidencial:
"A propositura legislativa estabelece que seria vedado expressa ou implicitamente, na
oferta de crédito ao consumidor, publicitária ou não, fazer referência a crédito 'sem
juros', 'gratuito', 'sem acréscimo' ou com 'taxa zero' ou expressão de sentido ou
entendimento semelhante.
Entretanto, apesar da boa intenção do legislador, a propositura contrariaria o interesse
público ao tentar solucionar problema de publicidade enganosa ou abusiva com restrição
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ATENÇÃO: Pablo Stolze e Carlos Elias, no mencionado artigo publicado, defendem que
apesar do veto presidencial, a prática vedada no inciso pode ser considerada abusiva
com base em outros dispositivos do CDC.
Contratos coligados são aqueles que possuem uma capilaridade entre eles.
Com relação ao tema, existe um dispositivo que a lei do superendividamento inseriu no
CDC que diz respeito a contratos coligados ou conexos, prática comum inclusive ao
pequeno consumidor que, no intuito de adquirir um bem, entrega ao fornecedor parte
do valor total da compra enquanto “entrada” e financia o restante do montante devido
por meio de um contrato de financiamento (que muitas vezes é realizado pela própria
financeira do varejista).
Assim, temos: contrato de compra e venda + contrato de financiamento.
A Lei se preocupa com essas hipóteses. Conforme o art. 54-F do CDC:
Art. 54-F. São conexos, coligados ou interdependentes, entre outros,
o contrato principal de fornecimento de produto ou serviço e os
contratos acessórios de crédito que lhe garantam o financiamento
quando o fornecedor de crédito:
I – recorrer aos serviços do fornecedor de produto ou serviço para a
preparação ou a conclusão do contrato de crédito;
II – oferecer o crédito no local da atividade empresarial do
fornecedor de produto ou serviço financiado ou onde o contrato
principal for celebrado.
OBS: percebe-se que a redação do §4º, utilizando-se dos termos jurídicos adequados,
deixou claro que tal dispositivo abrange TODOS os fenômenos de desligamento
contratual.
ATENÇÃO: Esse dispositivo, conforme Carlos Elias e Pablo Stolze, não se restringe apenas
aos casos de superendividamento, uma vez que, como já dito, se destina a impedir que o
consumidor fique superendividado, ou seja, é uma norma preventiva.
"A propositura legislativa estabelece que seriam nulas de pleno direito as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de serviços e produtos que previssem a aplicação
de lei estrangeira que limitasse, total ou parcialmente, a proteção assegurada por este
Código.
Entretanto, apesar da boa intenção do legislador, a propositura contrariaria interesse
público tendo em vista que restringiria a competitividade, prejudicando o aumento de
produtividade do País, ao restringir de forma direta o conjunto de opções dos
consumidores brasileiros, especialmente quanto à prestação de serviços de empresas
domiciliadas no exterior a consumidores domiciliados no Brasil, o que implicaria restrição
de acesso a serviços e produtos internacionais. Em virtude de a oferta de serviços e de
produtos ser realizada em escala global, principalmente, por meio da internet, é
impraticável que empresas no exterior conheçam e se adequem às normas
consumeristas nacionais."
É importante perceber que quando se está diante de uma empresa estrangeira que
possua filial no Brasil, se uma eventual lei estrangeira prejudicasse o consumidor, então
prevaleceria o CDC.
Todavia, em um mundo globalizado, não seria possível submeter toda e qualquer
empresa ao CDC. Isso pode gerar uma situação em que integrantes do mercado viessem
deixar de vender para o Brasil.
Os professores Pablo Stolze e Carlos Elias concordam com as razões do veto. Assim
afirmam os professores:
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Bem lembra Pablo Stolze que, assim como para o empresário a lei de recuperação judicial
e falências consagrou um procedimento de recuperação, a lei do superendividamento
consagra o seu próprio procedimento de recuperação do superendividado.
OBS: Não se trata de procedimento de insolvência civil.
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Teremos uma petição inicial onde seguirá anexo um plano de pagamento indo para a
primeira fase, que é a CONCILIATÓRIA.
Frustrada a primeira fase, dá-se início à segunda (processo de revisão e integração dos
contratos e dívidas).