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DIREITOS HUMANOS

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CAPÍTULO 02 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS


DIREITOS HUMANOS

Tópicos do edital: Evolução histórica. Documentos históricos.

MÉTODO LDQ (LEITURA DIRECIONADA POR QUESTÕES)

Ao longo de mais de 15 anos lecionando Direitos Humanos, pude perceber que


algumas práticas facilitam o estudo e entendimento da matéria pelos alunos.

Sendo assim, desenvolvi um método para direcionar a leitura de cada tema.


Antes de todos os tópicos a serem estudados, colocarei questões abertas para
que você saiba o que é relevante e já fazer o estudo buscando essas respostas.
Você perceberá que obterá melhor desempenho e uma leitura mais eficaz.

Então, não deixe de seguir o método, ok? Leia as questões e, posteriormente,


faça o estudo do capítulo.

Espero que te ajude! Depois me conte o que achou. Boa leitura!

1. Explique como os documentos e filósofos da Antiguidade e do Cristianismo


contribuíram para a evolução dos direitos humanos.
2. Qual documento é considerado a certidão de nascimento dos direitos
humanos? Fale sobre as suas principais previsões.
3. Fale sobre os demais documentos ingleses de proteção de direitos humanos,
ressaltando suas características.
4. Explique os principais acontecimentos e documentos do século XVIII que
contribuíram para a afirmação histórica dos direitos humanos.
5. Fale sobre as semelhanças e diferenças entre os movimentos e os documentos
franceses e norte-americanos, no século XVIII.

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6. Fale sobre a contribuição trazida pelas Constituições Mexicana (1917) e Alemã


(1919), para a proteção dos direitos humanos.
7. Fale sobre o documento que inaugura o chamado Direito Humanitário.
8. Explique a importância da OIT na proteção dos direitos humanos.
9. Quando ocorre, de fato, o processo de internacionalização dos direitos
humanos?
10. Fale sobre a proteção ao meio ambiente no cenário internacional. Explique em
que consiste o “greening”.

Agora, vamos à leitura!

Considerando que a VUNESP cobra muito esse tópico, para estudá-lo de forma
completa, combinei a doutrina de André de Carvalho Ramos com a de Fábio
Konder Comparato (A afirmação histórica dos direitos humanos), que é a
maior referência sobre o tema. Assim, temos um estudo objetivo, mas, ao mesmo
tempo, com o aprofundamento necessário para que estejam preparados para
todas as etapas da prova.

Ao final do capítulo, coloco uma tabela para ajudar na sistematização e


memorização do conteúdo.

Tenha boa vontade e disciplina para aprender essa parte do conteúdo. Vai te
trazer uma base incrível para compreender várias coisas. Abra o seu coração e
vamos caminhar pela afirmação histórica dos direitos humanos...

Antes de iniciarmos, é importante ressaltar que a VUNESP costuma diferenciar


os marcos históricos dos documentos históricos e essa é uma grande pegadinha
em questões.

Vamos nos lembrar que marcos históricos são acontecimento de grande


importância, que trouxeram mudanças para a sociedade, seja na esfera política,
econômica, social, jurídica ou religiosa. Nesse sentido, pensando no estudo dos
direitos humanos, temos, por exemplo, a Revolução Francesa, o Iluminismo, a
Segunda Guerra Mundial etc.

Esses marcos históricos podem originar documentos históricos, também


relevantes no estudo dos direitos humanos. Temos, por exemplo, a Declaração
de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, em decorrência da Revolução
Francesa. Portanto, é de fundamental importância fazer essa diferenciação nas
questões, ok?

1. A fase pré-Estado Constitucional (essa fase não costuma ser cobrada


pela VUNESP, mas é importante ter uma noção)
Obs.: Fábio Konder Comparato inicia a matéria lá em Adão e Eva
(literalmente). Acho desnecessário para fins de concurso. Então, ressalto alguns
tópicos da Antiguidade e partimos para os documentos ingleses.

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Importante ressaltar que o processo de universalização e sistematização


dos direitos humanos foi efetivado no pós Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, os direitos humanos, se pensados como direitos naturais, existem
desde sempre, são inerentes ao homem.
Alguns valores como justiça, igualdade e liberdade, estão presentes em
várias culturas, desde momentos remotos. Por isso, estudamos as
contribuições dessas civilizações para a afirmação histórica desses dos nossos
direitos e para o surgimento de sistemas internacionais de proteção de direitos
humanos, como temos atualmente.
Como bem observa ACR, “não se pode medir épocas distantes da história
da humanidade com a régua do presente. Deve-se evitar o anacronismo, pelo
qual são utilizados conceitos de uma época para avaliar ou julgar fatos de outra.
Essas diversas fases conviveram, em sua época respectiva, com institutos ou
posicionamentos que hoje são repudiados, como a escravidão, a perseguição
religiosa, a exclusão de minorias, a submissão da mulher, a discriminação contra
as pessoas com deficiências de todos os tipos, a autocracia e outras formas de
organização do poder e da sociedade ofensivas ao entendimento atual da
proteção dos direitos humanos.”
Esse estudo deve ser feito com cautela, sem perder de vista o contexto
histórico dos textos normativos, tradições religiosas e teorias filosóficas. Feitas
todas essas advertências, vamos começar.

1.1Antiguidade Oriental
Na Antiguidade Oriental, que é o período compreendido entre os séculos VIII
a II a.C., temos o primeiro passo na afirmação dos direitos humanos. Nessa
época, tivemos a adoção de códigos de comportamentos de vários filósofos
influentes até os dias atuais: Zaratustra (Pérsia), Buda (Índia), Confúcio
(China) e Dêutero-Isaías (Israel).
Sob o ponto de vista normativo, houve, no Antigo Egito, o reconhecimento de
direitos individuais na codificação de Menes (3100-2850 a.C.) Na Suméria
antiga, o Código de Hammurabi (1792-1750 a.C.) , na Babilônia, com esboço
dos direitos dos indivíduos (em especial direito à vida, propriedade e honra) e
consolidação de costumes, com extensão da lei a todos os súditos do Império.
Nos chama a atenção nesse Código a Lei de Talião, que pregava a reciprocidade
no trato das ofensas (“olho por olho, dente por dente”). Vejamos um trecho do
documento:

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“Olho por olho, dente por dente. Trata-se de justiça sem


piedade. Se um homem tira um olho de um patrício, também
seu olho será tirado; se ele quebrou o osso de um patrício,
seu braço será quebrado. As classes inferiores da sociedade
merecem compensações: se ele tirou o olho ou quebrou o
osso de um plebeu, ele deverá pagar uma mina de prata, se
foi de um escravo, pagará metade de seu preço”. Código de
Hamurabi

Na região da Suméria e Pérsia, foi editada uma Declaração de boa governança


de Ciro II, no século VI a.C. (Cilindro de Ciro), que seguia uma tradição
mesopotâmica de autoelogio dos governantes ao seu modo de reger a vida
social. É mencionado por alguns como um precursor da “carta de declaração de
direitos humanos”, embora muitos considerem tal interpretação como equivocada.
Confúcio (séculos VI e V a.C.), na China, lançou as bases para sua filosofia,
com ênfase na defesa do amor aos indivíduos. Já o Budismo, introduziu um
código de conduta pelo qual se prega o bem comum e uma sociedade pacífica,
sem prejuízo a qualquer ser humano. No Islamismo, temos a prescrição da
fraternidade e solidariedade dos vulneráveis.

1.2 Antiguidade Clássica (Grécia e Roma)


Temos uma importante influência da Grécia no fortalecimento dos direitos
humanos. A democracia ateniense trouxe a consolidação dos direitos políticos,
com a participação política dos cidadãos (muitos ainda eram excluídos), mas,
foi um início relevante. O chamado Século de Péricles (século V a.C.) testou a
democracia direta em Atenas, com a participação dos cidadãos (homens) da
pólis grega nas principais escolhas da comunidade.
Platão, na obra A República (400 a.C.), defendeu a igualdade e a noção do
bem comum. Aristóteles, na obra Ética a Nicômaco, salientou a importância do
agir com justiça para o bem de todos, mesmo em face de leis injustas. A
Antiguidade grega também estimulou a ideia de superioridade normativa de
determinadas normas, mesmo diante do poder estatal (nesse sentido, a famosa
peça de Sófocles, Antígona).
Na citação de André de Carvalho Ramos, a peça retrata “Antígona, a
protagonista, e sua luta para enterrar seu irmão Polinice, mesmo contra ordem do
tirano da cidade, Creonte, que havia promulgado uma lei proibindo que aqueles
que atentassem contra a lei da cidade fossem enterrados. Para Antígona, não se
pode cumprir as leis humanas que se chocarem com as leis divinas. O
confronto de visões entre Antígona e Creonte é um dos pontos altos da peça.
Uma das ideias centrais dos direitos humanos, já encontrada nessa obra de

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Sófocles, é a superioridade de determinadas regras de conduta, em especial


contra a tirania e injustiça.”

Os gregos foram os primeiros a organizarem o que podemos chamar de


legislação social. A organização da pólis (cidade-estado), principalmente de
Atenas, possibilitou a discussão de questões relacionadas aos direitos
humanos pelos pensadores gregos e houve um grande avanço nessa época.
Era o início da democracia.

Entretanto, defendia-se a escravidão, excluíam-se da participação política as


mulheres, os escravos e os estrangeiros. A igualdade era relativa. Atualmente,
não se pode falar em democracia se não se buscar a efetivação da igualdade real
entre os cidadãos. Mas, nos atentemos ao pensamento da época, bem
representado na seguinte passagem escrita por Aristóteles:
“Alguns pretendem que o poder do senhor é contra a natureza, que se um é
escravo e o outro é livre, é porque a lei o quer, que pela natureza não há
nenhuma diferença entre eles e que a servidão é obra não da justiça, mas da
violência. A família, para ser completa, deve compor-se de escravos e de
indivíduos livres. Com efeito, a propriedade é uma parte integrante da
família, pois sem os objetos de necessidade é impossível viver e viver bem.
Não se saberia pois conceber lar sem certos instrumentos. Ora, entre os
instrumentos, uns são inanimados, outros vivos... O escravo é um
instrumento vivo. Se cada instrumento pudesse, por uma ordem dada ou
pressentida, executar por si mesmo o seu trabalho (...) então os chefes de família
dispensariam os escravos... O escravo é uma propriedade que vive, um
instrumento que é homem. Há homens assim feitos por natureza? Existem
homens inferiores, tanto quanto a alma é superior ao corpo, e o homem ao bruto;
o emprego das forças é o melhor partido a esperar do seu ser: são escravos por
natureza... útil ao próprio escravo, a escravidão é justa (...). Todos aqueles que
nada têm de melhor para nos oferecer que o uso do seu corpo e de seus
membros são condenados pela natureza à escravidão”. Aristóteles, in A
Política

Em Roma, inicialmente, não era diferente. Aceitavam-se como legítimas as


desigualdades. Após várias lutas sociais ocorridas em Roma, notou-se uma
modificação da legislação, buscando maior igualdade e respeito pelos
direitos dos cidadãos. Era o que os romanos chamavam de Ius Civile e Ius
Naturale, ou seja, Direito Civil e Direito Natural.
A sua grande contribuição para o desenvolvimento dos direitos humanos foi a
sedimentação do princípio da legalidade. A Lei das Doze Tábuas, que
estipulou a lex scripta como regente das condutas, promoveu a vedação ao
arbítrio. Ademais, o direito romano consagrou vários direitos como liberdade,
propriedade, personalidade jurídica e igualdade entre as pessoas, em
especial através do jus gentium (direito aplicados a todos, romanos ou não).

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Ideologicamente, Marcos Túlio Cícero defende a razão reta (recta ratio),


salientando, na República, que a verdadeira lei é a lei da razão, inviolável
mesmo em face da vontade do poder. Ainda no seu De Legibus (Sobre as leis,
52 a.C.), Cícero sustentou que, apesar das diferenças (raças, religiões e
opiniões), os homens podem permanecer unidos caso adotem o “viver reto”, que
evitaria causar o mal a outros.
Com o surgimento do cristianismo e da justiça social, ocorreram alterações na
sociedade. Roma, não podendo com o poderio da filosofia cristã, acaba adotando
o cristianismo como religião oficial do império. A classe dominante romana se
sente ameaçada pelas ideias cristãs, ocorrendo uma deturpação do Cristianismo
para adequá-lo aos interesses da sociedade romana. Três princípios jurídicos
passaram a sintetizar o Direito Privado Romano (atribuídos a Ulpiano):
✓ Viver honestamente
✓ Não lesar a outrem
✓ Dar a cada um o que é seu.

1.3 As influências do Cristianismo


Podemos destacar, entre os hebreus, os cinco livros de Moisés (Torah)
pregam solidariedade e preocupação com o bem-estar de todos (1800-1500
a.C.). No Antigo Testamento, a passagem do Êxodo demonstra a necessidade
de respeito a todos, principalmente aos vulneráveis: “Não afligirás o estrangeiro
nem o oprimirás, pois vós mesmos fostes estrangeiros no país do Egito. Não
afligireis a nenhuma viúva ou órfão. Se o afligires e ele clamar a mim escutarei o
seu clamor; minha ira se ascenderá e vos farei perecer pela espada: vossas
mulheres ficarão viúvas e vossos filhos, órfãos” (Êxodo, 22: 20-26).
No Livro dos Provérbios (25: 21-22) do Antigo Testamento, está previsto que
“Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber: assim
amontoas brasas sobre sua cabeça, e Javé te recompensará.”
Vários trechos da Bíblia, no Novo Testamento, pregam a igualdade e a
solidariedade com o semelhante. Podemos citar a passagem de Paulo, na
Epístola aos Gálatas, segundo a qual: “Não há judeu nem grego; não escravo
nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois em Cristo Jesus”
(III, 28).
O imperador romano Justiniano, no século VI, mandou reunir e reestruturar toda
a legislação romana publicando o Corpus Iuris Civilis (Corpo de Direito Civil).
Ocorreram profundas alterações com as invasões bárbaras e a queda do Império
Romano, surgindo uma nova ordem econômica, política e social. Consolidava-se
o poder da Igreja Católica e surgia uma nova moral. O Cristianismo era a
maior força moral e a base mais forte do Direito.
Também os filósofos católicos devem ser mencionados, como Santo
Agostinho e São Tomás de Aquino.

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São Tomás de Aquino, na Suma Teológica (1273), defendeu a igualdade


dos seres humanos e a aplicação justa da lei. O justo é aquilo que
corresponde a cada ser humano na ordem social, o que reverberará no futuro, em
especial na busca da justiça social constante dos diplomas de direitos
humanos.
Os pensadores cristãos unificaram o Direito Romano e a moral bíblica, criando
o Direito Canônico. A partir de então, tem-se a definição de Direito Natural como
um conjunto de princípios e valores universais, eternos e imutáveis inerentes à
natureza humana. Este Direito, que não foi criado pela sociedade ou pelo Estado,
é preexistente e espontâneo.
Alguns autores acreditam que o Direito Natural é uma espécie de Justiça
superior, que designa o que é bom e o que é justo através dos tempos. Citando
uma passagem de São Paulo que simboliza bem a ideia de Direito Natural:
“quando os gentios, que não têm lei, cumprem naturalmente o que a lei
manda, embora não tenham lei, servem de lei a si mesmos; mostram que a
lei está escrita em seus corações.”
Por outro lado, o Direito Positivo é o conjunto de normas impostas pelo
Estado em uma sociedade, em determinada época, inclusive com poder de
sanção e força coercitiva. É o Direito vigente e eficaz de uma dada sociedade, é a
própria legislação positiva. O Direito Positivo, que se identifica com o
ordenamento jurídico, determina o direito como fato e não como valor, como
acontece no Direito Natural. O Direito Natural é, de certa forma, uma referência
que permite analisar o Direito Positivo sob o critério da justiça. Apesar de
antagônicos, os dois conceitos se complementam e são imprescindíveis
para a efetivação da justiça em uma sociedade.

Sabemos que, apesar de defender a igualdade espiritual, o cristianismo


conviveu, no passado, com desigualdades jurídicas inconcebíveis sob o ponto
de vista da proteção dos direitos humanos. Entretanto, não se pode negar a sua
contribuição para a afirmação histórica de tais direitos.
Como esclarece Benjamin Constant, a “liberdade dos antigos” era composta
pela possibilidade de participar da vida social na cidade. Já a “liberdade dos
modernos” (referindo-se aos iluministas, no século XVIII e pensadores do século
XIX) entendiam a liberdade como sendo a possibilidade de atuar sem amarras
na vida privada. A visão de liberdade dos antigos resultou na ausência da
discussão sobre a limitação do poder estatal, o que só viria a ser feito na Idade
Moderna.
Como as normas que organizam o Estado pré-Constitucional não asseguravam
ao indivíduo direitos de contenção ao poder estatal, parte da doutrina afirma que
não há normas de proteção dos direitos humanos nesta época. Contudo, a crítica
não afasta a valiosa contribuição das culturas antigas na afirmação dos
direitos humanos, através de costumes e instituições sociais que valorizam
e respeitam valores como a igualdade a justiça.

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2. Documentos ingleses

2.1 Idade Média: Magna Carta


Na Idade Média, tínhamos o poder ilimitado dos governantes, baseado na
vontade divina. Mesmo nessa época, surgem os primeiros movimentos de
reivindicação da liberdade a determinados estamentos, como a Declaração das
Cortes de Leão, na Península Ibérica, em 1188 e a Magna Carta Inglesa, de
1215.
A Declaração de Leão era uma manifestação que consagrou a luta dos
senhores feudais contra a centralização e o nascimento futuro do Estado
Nacional.
A Inglaterra é considerada o berço dos direitos humanos. Muitos autores
consideram que a Magna Carta foi a certidão de nascimento dos direitos
humanos. Entretanto, cabe lembrar que não se dirigia a todos os indivíduos
da sociedade, mas, apenas aos homens livres.
A Magna Carta foi imposta ao Rei João Sem Terra, pelos barões ingleses,
entre 12 e 19 de junho de 1215, iniciando a história dos direitos humanos. Foi
redigida em latim. Seu nome completo era Carta Magna das Liberdades ou
Concórdia entre o rei João e os Barões para outorga das liberdades da
igreja e do reino inglês. Composta de um preâmbulo e 63 cláusulas. Foi
confirmada, sem alterações por sete sucessores de João-Sem-Terra.
Naquele momento, em toda a Europa, inicia-se uma tendência de
centralização do poder. O suserano que se destacava entre os outros,
provavelmente, seria o rei. Fábio Konder Comparato, citando Phillipe de
Beaumanoir, sobre o direito costumeiro da baronia de Beuvauis, em obra famosa
do século XI, diz: “cada barão é soberano em sua baronia”, mas, “o rei é
soberano sobre todos”.
Os senhores feudais se manifestavam contra a tendência de instituição de um
poder real soberano, em declarações e petições sucessivas, sendo a primeira
delas a declaração das cortes de Leão, na Espanha, datada de 1188. O Rei João
Sem-Terra passou a cobrar mais impostos dos barões para fortalecer sua
campanha bélica. Em troca, os barões passaram a exigir que o rei
reconhecesse formalmente os seus direitos, através da Magna Carta.
Nessa época, a sociedade europeia era composta, basicamente, de três
estamentos: nobreza, clero e povo. Os dois primeiros tinham privilégios
hereditários, e o terceiro apenas o estado de liberdade. No topo, estava a
soberania espiritual, depois a função militar, e, por último, os responsáveis por
produzir a riqueza e cultivar a terra. Além desses estamentos, existia a condição
servil.
Dois movimentos de transformação ocorreram no final da Idade Média: a
revitalização das cidades, com a formação dos burgos, e o movimento

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monástico, especialmente com a expansão e formação da ordem beneditina


(século VI).
As famosas regras de São Bento (orar e trabalhar), promoveram a
valorização ético- religiosa do trabalho e a racionalização da cultura da terra, com
a criação de várias técnicas de melhor aproveitamento dos recursos naturais. Os
monastérios beneditinos promoveram grande avanço técnico na lavoura e na
pecuária. Iniciou-se um movimento chamado de Revolução Agrícola europeia,
que abriria caminho para a Revolução Industrial do século XVIII.
Nos monastérios, houve a convivência e união dos três estamentos da
sociedade (nobreza, clero e povo). A partir do século XI, assiste-se à
revitalização das cidades, a criação dos burgos e o surgimento de uma nova
classe social: os burgueses. Dentre eles, a sociedade não estava dividida em
estamentos, mas sim de acordo com a riqueza mercantil. Surgem os ricos
comerciantes e os pobres empregados, regidos por um direito uniforme,
independente da classe social. A estrutura estamental é abolida formalmente
com a Revolução Francesa, como veremos adiante.
A Magna Carta, de 1215, consistia em disposições que protegiam os barões
ingleses contra os abusos do Rei João Sem-Terra. Apesar de não ser um
documento de caráter universal, porque voltada apenas à proteção da nobreza
inglesa, trazia a ideia de governo representativo e vários direitos que seriam,
séculos depois, universalizados, como por exemplo, o devido processo legal, a
limitação do poder de tributar e do confisco, o Tribunal do Júri, o princípio
da legalidade, o acesso à justiça e a proporcionalidade entre delito e pena.
Na lição de Comparato, a Magna Carta constitui uma convenção entre o rei e
os barões feudais, pela qual se lhes reconheciam privilégios especiais,
gerando uma limitação do poder soberano. O documento deixa claro, pela
primeira vez na história política medieval, que o rei se encontra vinculado pelas
próprias leis que edita.
No início, serviu para reforçar o regime feudal, mas, a longo prazo, representou
sua destruição. Reconhecia que os direitos do clero e da nobreza existiam de forma
independente do consentimento do monarca. Daí o fundamento da democracia
moderna (não aquela presenciada na Grécia, em que a participação popular era
direta): o poder dos governantes passa a ser limitado não só por normas
superiores fundadas no costume ou na religião, mas também pelos direitos
subjetivos dos governados.

Encontramos no texto disposições importantes para a civilização moderna e


outras sem importância, de sentido puramente local ou conjuntural. Vejamos as
principais disposições da Magna Carta:

✓ Cláusula 1 - prevê liberdades eclesiásticas, com a livre designação de


bispos, abades e outras autoridades, sem necessidade de confirmação
pelo rei, sinalizando a futura separação entre Estado e Igreja.

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✓ Cláusulas 12 e 14 que afirmam que o poder tributário deve ser


consentido pelos súditos (no taxation whitout representation), o que está
na origem do moderno sistema parlamentar de governo.
✓ Cláusulas 16 e 23, que representam o início do fim das relações servis,
com leis objetivas nas relações de trabalho, e a previsão do princípio,
segundo o qual, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.
✓ Cláusulas 17 e 40, reconhecem que o monarca não é dono da justiça e
que esta é de interesse público. O rei tem o poder-dever de fazer justiça,
quando solicitado pelos seus súditos.
✓ Cláusulas 20 e 21, lançam as bases do Tribunal do Júri e do princípio
da proporcionalidade entre o delito e a pena.
✓ Cláusulas 30 e 31 estabeleciam limites à possibilidade de confiscar a
propriedade privada pelo soberano e seus oficiais.
✓ Cláusula 39, considerada o coração da Magna Carta. Os homens
livres devem ser julgados pelos seus pares, de acordo com a lei da terra.
É a essência do processo do devido processo legal (due process of law).
✓ Cláusulas 41 e 42, reconhecem o direito de sair e entrar no país e de
livre locomoção dentro de suas fronteiras, a qualquer pessoa em geral e
aos comerciantes em particular.
✓ Cláusula 45 lança as bases de uma administração pública autônoma e
regular.
✓ Cláusula 60, estende a todos os senhores feudais as mesmas
limitações de poder previstas para os súditos, acarretando a superação
do regime feudal.
✓ Cláusula 61 prevê o esboço de um mecanismo de responsabilidade do
rei perante os seus súditos, dando início à abolição do regime
monárquico.

2.2 Idade Moderna: Petition of Rights, Habeas Corpus Act e Bill of Rights

Com o Renascimento e a Reforma Protestante, a crise da Idade Média deu


lugar ao surgimento dos Estados Nacionais absolutistas, com centralização
do poder na figura do rei. Com o fim da sociedade estamental, surge a
igualdade de todos submetidos ao poder absoluto do rei. Entretanto, essa
igualdade não protegeu os súditos da opressão e violência. O maior exemplo
foi o extermínio de milhões de indígenas nas Américas, apenas algumas décadas
depois da chegada de Cristóvão Colombo na Ilha de São Domingo (1492).
Existiram grandes defensores dos direitos dos indígenas, como o Frei
Bartolomeu de Las Casas. Las Casas condenou o genocídio dos indígenas
afirmando que “Os índios são nossos irmãos, pelos quais Cristo deu sua vida. Por
que os perseguimos sem que tenham merecido tal coisa, com desumana
crueldade? O passado, e o que deixou de ser feito, não tem remédio; seja
atribuído à nossa fraqueza sempre que for feita a restituição dos bens impiamente
arrebatados”. Também Francisco de Vitória, um dos fundadores do direito
internacional moderno, reconheceu a humanidade dos povos autóctones das

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Américas, bem como sustentou a aplicação, em igualdade, do direito


internacional na sua relação com os espanhóis.
No século XVII, houve o questionamento do Estado Absolutista, em
especial na Inglaterra. A busca pela limitação do poder é consagrada na Petition
of Rights, de 1628. Através de tal documento, os barões ingleses, representados
pelo Parlamento, afirmam que o rei tem o dever de não cobrar impostos sem a
autorização do Parlamento (no taxation without representation), bem como se
reafirma o devido processo legal, que seria implementado posteriormente.
O Habeas Corpus Act, de 1679 regulamenta a proteção judicial dos que
foram presos injustamente. Trazia no seu texto a previsão do dever de entrega
do “mandado de captura” ao preso ou seu representante, sinalizando mais um
avanço para banir as detenções arbitrárias (ainda hoje um dos grandes problemas
mundiais de violação de direitos humanos).
O habeas corpus era um instrumento que já existia na Inglaterra, mesmo antes
da Magna Carta, como mandado judicial (writ) para os casos de prisão arbitrária.
Entretanto, a eficácia desse remédio constitucional era reduzida porque não
existiam regras processuais adequadas à sua aplicação.
Assim, essa Lei de 1679, designada como uma “lei para melhor garantir a
liberdade de súdito e para prevenção das prisões no ultramar”, veio
confirmar a verdade de uma regra inglesa segundo a qual, são as garantias
processuais que criam o direito, e não o contrário. Da mesma forma que
ocorria no direito romano, também considerado prático, o direito inglês não
concebe um direito sem uma ação judicial própria para a sua defesa. Se essa
ação for criada, a criação dos direitos subjetivos estará garantida.
Já no direito de família europeia continental, ao qual se filiaram as legislações
latino-americanas, prevalece a ideia contrária: os direitos subjetivos são o
principal e as ações judiciais são acessórias.
Tais previsões decorrem da diferença de concepções dos grandes sistemas
jurídicos europeus. O direito inglês, que, assim como o direito romano, tinha
características de pragmatismo, ou seja, era mais prático, criado por
advogados, juízes, aplicadores do direito. Já no direito da Europa
Continental, os sistemas jurídicos, especialmente depois da fundação da
Universidade de Bolonha, no século XI, foram criados por estudiosos,
jurisconsultos, professores. Assim, têm um caráter mais abstrato e
sistemático que o direito inglês.
Com relação aos direitos humanos, essas duas correntes originaram duas
linhas tradicionais distintas: a inglesa e a francesa. Os ingleses acreditavam que
a proteção mais eficaz dos direitos humanos se dava através das garantias
judiciais, em detrimento das declarações de direitos. Já para os franceses, as
declarações de direitos são muito importantes e têm grande força política,
além de realizarem a função de mudança de mentalidade da sociedade.

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A importância da Lei de Habeas Corpus, reside no fato de que essa garantia


judicial, que tinha a finalidade de proteger a liberdade de locomoção, foi a fonte
de outras garantias que vieram posteriormente, para a proteção de outras
liberdades fundamentais.
Surgiram na América Latina o mandado de segurança e o juicio de amparo,
que têm a mesma característica do habeas corpus: são ordens judiciais dirigidas
a qualquer autoridade pública acusada de violar direitos líquidos e certos (ou seja,
direitos cuja existência o autor pode demonstrar desde o início do processo,
através de prova pré-constituída).
O dispositivo nuclear do habeas corpus do direito inglês não foi reproduzido
pelas legislações estranhas ao mundo anglo-saxônico: a ordem para que a
autoridade que detenha o paciente o apresente incontinente em juízo (habeas
corpus ad subjiciendum). Entretanto, o instituto passou a ser utilizado não só nos
casos de prisão efetiva, mas também nos casos de ameaça de simples
constrangimento à liberdade de ir e vir.
Obs.: atualmente, a ideia central do habeas corpus inglês, guarda semelhanças
com a nossa audiência de custódia, recém garantida no ordenamento brasileiro,
com o intuito de efetivar previsões constantes de tratados internacionais ratificados
pelo Brasil, a exemplo do Pacto de San Jose da Costa Rica.

Outro documento muito relevante é a Declaração de Direitos (Bill of Rights),


de 1689. No Século XVII, existiram na Inglaterra muitas guerras e rebeliões civis,
especialmente por motivos religiosos. Em 1689, ocorre a famosa Revolução
Gloriosa (Glorious Revolution).
O Parlamento inglês (maioria protestante), após cortar relações com Jaime II
(rei católico da dinastia dos Stuart) e com a fuga deste rei para a França (Jaime II
foi acusado de dois crimes perante a Câmara dos Comuns: o de tentar abolir a
Constituição, e assim, romper o contrato original entre o rei e o povo, e o de violar
as leis fundamentais), declarou vago o trono inglês e convidou um príncipe
holandês, Guilherme de Orange, a assumir o trono, junto com sua mulher, Maria
de Stuart, filha mais velha de Jaime II, que professava a religião protestante.
Estes novos soberanos aceitaram, em sua integralidade, uma Declaração
de Direitos (Bill of Rights), votada pelo Parlamento, que passou a constituir
uma das leis fundamentais daquele país.
O Bill of Rights reduziu definitivamente o poder dos reis ingleses. Do seu
texto consta, basicamente, a afirmação da vontade da lei sobre a vontade
absolutista do rei. Estabelece que o rei não pode suspender ou executar leis,
sem o consentimento do parlamento; que devem ser livres as eleições de
membros do Parlamento; e que a liberdade de expressão e debates ou
procedimentos do Parlamento não podem ser impedidos ou questionados em
qualquer tribunal ou local fora do Parlamento.

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Como ressalta Comparato, o documento foi criado cem anos antes da


Revolução Francesa, pôs fim ao regime da monarquia absoluta, no qual todo
poder emana do rei e em seu nome é exercido. A partir deste documento,
algumas prerrogativas, como o poder de legislar e criar tributos, deixam de ser
poder do monarca e passam a ser de competência reservada do Parlamento.
Com isso, surge a preocupação de oferecer garantias especiais às eleições e
ao exercício das funções parlamentares, para assegurar a liberdade desse órgão
político diante do chefe de Estado. Esse documento representou a
institucionalização da separação de Poderes, que seria proposta por
Montesquieu meio século depois.
Ainda que não tenha sido uma declaração de direitos nos moldes daquelas que
surgiriam posteriormente, nos Estados Unidos e na França, o Bill of Rights, com
a divisão dos poderes, criava uma garantia institucional. Ou seja, surgia
uma forma de organização do Estado que tinha por objetivo, em última
análise, proteger os direitos fundamentais da pessoa humana.
Ainda hoje, o Bill of Rights é considerado um dos mais importantes textos
constitucionais do Reino Unido. As modificações trazidas pelo documento
também foram importantes porque promoveram uma revolução política que iria
criar condições para a Revolução Industrial no século seguinte.
Mas, o essencial do documento foi a instituição da separação dos Poderes,
declarando que o Parlamento é o órgão responsável por defender os súditos
perante o rei. E ainda, o Billl of Rights fortaleceu a instituição do júri e
reafirmou alguns direitos fundamentais dos cidadãos que são reproduzidos
pelas Constituições modernas, como o direito de petição (art. 5.º, inciso XXXIV,
CRFB/88) e a proibição de penas cruéis (art. 5.º, inciso XLVII, CRFB/88).
Vejamos alguns direitos previstos no Bill of Rights:
“Art. 1.º - O pretendido direito de suspender as leis pela autoridade real sem o
consentimento do Parlamento é contrário às leis.
(...)
Art. 3.º - O imposto em dinheiro para uso da Coroa, sob pretexto de prerrogativas
reais, sem que haja concordância por parte do Parlamento, é contrário às leis.
(...)
Art. 5.º - É um direito dos súditos apresentar petições ao rei; todo aprisionamento
e toda perseguição por esse motivo são contrários às leis.
(...)
Art. 7.º - As eleições dos deputados para o Parlamento serão livres.”

Em 1701, é aprovado o Act of Settlement, que reafirma o poder do


Parlamento, fixando a linha de sucessão da coroa inglesa (os católicos foram
excluídos, exigindo-se dos reis britânicos o vínculo com a Igreja Anglicana) e
impedindo a volta da tirania dos monarcas, reafirmando o poder do Parlamento e
a necessidade de respeito da vontade da lei.

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3. Pensadores Iluministas (e seus precursores)


Apesar de a Inglaterra ser considerada o berço do pensamento democrático
moderno, foi na França que as ideais sobre direitos humanos floresceram mais
rapidamente, através de um movimento intelectual conhecido como
Iluminismo (do alemão, Aufklarung).
Esse movimento condenava o poder absoluto dos reis, a intolerância religiosa,
a política mercantilista e as desigualdades sociais. O ideal do pensamento
iluminista era expresso no seu lema: liberdade, igualdade e fraternidade.
Muitos filósofos iluministas (ou seus precursores) se destacaram neste período
por suas ideias inovadoras. Vejamos alguns deles.
No campo da política, Thomas Hobbes, na sua obra Leviatã, de 1651,
defendeu que o primeiro direito do ser humano consistia no direito de usar seu
próprio poder livremente, para preservação de sua vida. O texto fala
claramente do direito do ser humano, pleno somente no estado de natureza, no
qual está livre de restrições e não se submete a qualquer poder.
Entretanto, Hobbes conclui que para sobreviver ao estado de natureza, no qual
todos estão em confronto (o homem é o lobo do próprio homem), o ser
humano renuncia à sua liberdade inicial e se submete ao poder estatal (o
Leviatã). A necessidade do Estado se justifica para garantir segurança aos
indivíduos. Firma-se uma espécie de contrato entre o homem e o Estado, temos
a antítese dos direitos humanos, que é o Estado que tudo pode. Os indivíduos
não possuiriam qualquer proteção contra o poder do Estado. Com essa
teoria contratualista de base absolutista, Hobbes se distancia da proteção dos
direitos humanos.
Hugo Grócio, um dos pais fundadores do Direito Internacional, na sua obra Da
Guerra e da Paz, de 1625, defendeu a existência de um direito natural de
cunho racionalista. As normas decorrem de princípios inerentes ao ser humano.
Em pleno século XVII, afirmou: “Deus está morto”. Assim, tivemos mais uma
contribuição de cunho jusnaturalista para o reconhecimento dos direitos humanos.
John Locke, por sua vez, defendeu o direito dos indivíduos mesmo contra o
Estado. Em sua obra Tratado sobre o Governo Civil, de 1689, prevê que o
objetivo do Estado deve ser a preservação dos direitos individuais, logo, o
poder não pode ser ilimitado, como defendia Hobbes. Afirmava que o grande
objetivo das sociedades políticas é a preservação do direito à vida, à liberdade e à
propriedade. Logo, o governo não pode ser arbitrário, deve ser limitado pela
supremacia do bem público. Temos aqui o início da teoria de separação dos
poderes, tendo as ideias de Locke influenciado a implantação do Estado
Constitucional, baseado na separação dos poderes e direitos individuais, em
vários países.
O pensamento de Locke serve de inspiração para outros pensadores, como
Jean-Jacques Rousseau, que em sua obra Do Contrato Social, de 1762, afirma
que existe um pacto entre os homens, livres e iguais, que estruturam o

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Estado para zelar pelo bem-estar da maioria. A liberdade e a igualdade são


inerentes ao ser humano. Não é possível renunciar à liberdade nem à
igualdade, assim não é admissível um governo arbitrário. Os governos devem
representar a vontade da maioria, respeitando os valores da vontade geral em
face de violações de direitos oriundas de paixões de momento da maioria.
Defende a teoria contratualista de base democrática.
Rousseau está inserido no movimento do Iluminismo, assim como Voltaire,
Diderot e D´Alembert.
Voltaire foi um pensador que se opôs à intolerância religiosa e à
intolerância de opinião existentes à época. Demonstra, na maioria dos seus
textos, a preocupação da defesa da liberdade, sobretudo do pensar,
criticando a censura, como observamos na seguinte frase, escrita por Evelyn
Beatrice Hall como tentativa de descrever o espírito de Voltaire: "Posso não
concordar com nenhuma palavra do que você disse, mas defenderei até a
morte o seu direito de dizê-lo".
Na área do direito penal, tivemos a grande contribuição de Cesare Beccaria,
que em sua obra Dos Delitos e das Penas, em 1766, defendeu a existência de
limites para o jus puniendi estatal, que persistem até os dias atuais.
Immanuel Kant, na obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes, de
1785, afirma que a dignidade é um valor intrínseco a todo ser racional, que
não tem equivalente. As coisas têm preço, as pessoas têm dignidade. O
homem é um fim em si mesmo. O pensamento de Kant será retomado no
estudo contemporâneo dos direitos humanos, em especial para justificar a
indisponibilidade dos mesmos e a proibição de tratamento do homem como
objeto.
Devemos ressaltar, no entanto, que apesar de defenderem os direitos
humanos, o Iluminismo tinha por objetivo consolidar os interesses da
burguesia. Assim, o povo (o chamado terceiro estado) ainda tinha seus direitos
limitados. Quando se falava em liberdade, igualdade e fraternidade, tinha-se em
mente a defesa de tais direitos para os patrões. Merecem destaque, nesta época,
a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos da América. A
seguir, breve análise de tais movimentos e os dos documentos que originaram.

4. O Constitucionalismo liberal e as declarações de direitos

4.1 Declaração de Independência e a Constituição dos Estados Unidos da


América do Norte

As revoluções liberais (inglesa, americana e francesa) marcaram a primeira


afirmação histórica dos direitos humanos.

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A Revolução Inglesa, mais precoce, teve como marcos a Petition of Rights,


em 1628, que garantiu liberdades individuais e o Bill of Rights, de 1689, que
consagrou a supremacia do Parlamento e o império da lei.
A Revolução Americana retrata o processo de independência das colônias
britânicas, com a Declaração de Independência, em 1776 (escrita em grande
parte por Thomas Jefferson) e a Constituição norte-americana, de 1787 (em
1791, o texto constitucional recebe 10 emendas que introduzem um rol de direitos
fundamentais).
Antes mesmo da Declaração de Independência, cabe destacar a Declaração
do Bom Povo da Virgínia, em 1776, que conferiu aos direitos humanos um viés
jusnaturalista, alegando, por exemplo, que “todos os homens são, por
natureza, igualmente livres e independentes”.
A independência das treze colônias britânicas da América do Norte, em 1776,
reunidas inicialmente sob a forma de uma confederação e constituídas em
seguida em Estado Federativo, após o Congresso de Filadélfia, em 1787,
representou a inauguração da democracia moderna com a limitação de poderes
governamentais e o respeito aos direitos humanos.
A identidade cultural dos povos das treze colônias era muito próxima e bem
diferente daquela que vigorava na sociedade européia. A população era
composta, em sua maioria, pela burguesia e a sociedade não era estamental,
como ocorria na Europa. Assim, a sociedade era formada por cidadãos livres,
iguais perante a lei, que apenas eram diferentes em decorrência de possuírem
maior riqueza material.
Entretanto, nas colônias do Sul, existia a escravidão negra. Tal fato gerou
muitas discórdias entre colônias do norte e do sul e culminou com a guerra de
Secessão norte-americana, trazendo, até hoje, consequências desastrosas do
chamado apartheid.
Apesar de privilegiarem o princípio da igualdade jurídica, existiam
desigualdades entre os cidadãos-norte americanos. Desenvolveu-se uma
economia capitalista e alguns cidadãos acumularam grandes fortunas.
Em pouco mais de dois séculos, os Estados Unidos da América se
transformaram em uma das maiores potências capitalistas do mundo.
Desenvolveu-se o culto e a paixão pelo lucro, o espírito empresarial, além de
outras duas características bem marcantes:
1) a defesa das liberdades individuais;
2) submissão dos poderes governamentais ao consentimento popular (início
da idéia de sufrágio universal).
A característica mais importante da Declaração de Independência dos EUA, de
1776, reside no fato de ser ela o primeiro documento a afirmar os princípios
democráticos na história política moderna. Surge o princípio da nova
legitimidade política: a soberania popular. “Uma nação só está legitimada a

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auto-afirmar sua independência, porque o povo que a constitui detém o


poder político supremo.”
O texto previa o direito de revolução dos povos, previstos por John Locke,
segundo o qual o povo podia alterar ou abolir toda forma de governo que fosse
contrária aos fins naturais da vida em sociedade.
Foram reconhecidos direitos inalienáveis de todos os homens, “entre os
quais a vida, a liberdade e a busca da felicidade”. Esse conceito de felicidade,
próximo ao previsto por Aristóteles, estava ligado à necessidade de uma vida
política bem organizada, para que o homem pudesse desfrutar da felicidade.
O acesso aos bens primários, condições de vida adequada, devem ser garantidos
pelo Estado.
Obs.: Essa ideia já foi defendida no Brasil, pela famosa PEC da Felicidade, de
autoria do então senador, Cristovam Buarque, que preconizava a inclusão, no art.
6.º da CRFB/88, do direito à felicidade. Conforme o autor, a concretização dos
direitos sociais ali previstos é essencial à nossa busca pela felicidade.
A Declaração de Independência dos EUA é o primeiro documento político
que reconhece a soberania popular e a existência de direitos inerentes a
todo ser humano, independentemente das diferenças de sexo, raça, religião,
cultura ou posição social. Na Europa, tal previsão surge com a Revolução
Francesa, em 1789.
Interessante notar, entretanto, que os EUA não admitiam o terceiro
elemento da Revolução Francesa: a fraternidade ou solidariedade. Isso
porque a sociedade era extremamente individualista. Assim, os direitos individuais
tiveram grande acolhida entre os norte-americanos, que, entretanto, não os
desenvolveram sob a perspectiva da efetividade social com o advento do Estado
Social.
Vejamos um trecho da Declaração de Independência:

“[...] Consideramos as seguintes verdades como auto-evidentes, a saber, que


todos os homens são criaturas iguais, dotados pelo seu Criador de certos
direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a busca da
felicidade, e os governos foram estabelecidos pelos homens para garantir esses
direitos, e seu justo poder emana do consentimento daqueles que são

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governados. Todas as vezes que uma forma de governo se torna destruidora


destes objetivos, o povo tem o direito de mudá-lo ou aboli-lo e estabelecer
um novo governo, fundado nos princípios e organizado na forma que lhe
parecerem mais convenientes à sua segurança e à sua felicidade. Na realidade, a
prudência recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito tempo
por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado
que os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são
suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram.
Mas quando uma longa série de abusos e usurpações, perseguindo
invariavelmente o mesmo objeto, indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo
absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais governos e
instituir novos Guardiães para sua futura segurança. Tal tem sido o sofrimento
paciente destas colônias e tal agora a necessidade que as força a alterar os
sistemas anteriores de governo. A história do atual Rei da Grã-Bretanha compõe-
se de repetidas injúrias e usurpações, tendo todos por objetivo direto o
estabelecimento da tirania absoluta sobre estes Estados. Para prová-lo,
permitam-nos submeter os fatos a um mundo cândido."

Uma declaração de direitos fundamentais do cidadão só foi inserida na


Constituição norte-americana em 1791 (Atenção! Essa informação já foi objeto
de questão em prova). Inicialmente, foram 12 emendas, sendo que duas não
foram aprovadas: a que fixava o número de deputados em relação ao colégio
eleitoral e a que regulava a remuneração dos parlamentares.

O Bill of Rights norte-americano, como são chamadas tradicionalmente as dez


primeiras emendas à Constituição, têm um estilo mais técnico que a Declaração
de Direitos da Virgínia. As emendas resguardam direitos à liberdade de
palavra, de imprensa e de religião, direito de portar armas, de ser julgado
pelo tribunal do júri e direitos de titularidade coletiva.

A abolição da escravatura não vinha prevista em nenhuma emenda. Apenas


em 1868, com a promulgação da 14ª emenda, a situação foi corrigida. Ainda
assim, uma interpretação seletiva da emenda permitiu, por um tempo, a
manutenção da escravidão em alguns estados federados norte-americanos.

O mais importante dos direitos fundamentais nos EUA, continua sendo,


inegavelmente o respeito ao “due process of law” (devido processo legal), tanto
em sua versão formal quanto material (respeito aos direitos fundamentais).
Atualmente, o texto, vigente em sua versão original, conta com 27 emendas.

4.2 Revolução Francesa e Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Também a Revolução Francesa foi um grande marco na proteção dos direitos


humanos.

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A palavra revolução foi utilizada na França, em 1789, com sentido


completamente diferente do que vinha sendo utilizado até então. Revolução era
utilizada no sentido de significar o retorno à origem, restauração dos antigos
costumes e liberdades. Na França, o termo foi utilizado para indicar uma
renovação completa, não só de um regime político, mas de toda a estrutura
social, “para induzir uma sociedade sem precedentes históricos”.
Victorine de Chastenay afirmou: “Sim, a Revolução. A palavra foi consagrada
naquele dia, e essa palavra, que supunha uma ordem inteiramente nova,
uma refusão completa, uma criação total, acelerou o movimento das coisas
e não deixou subsistir mais nenhum ponto de apoio.”
Houve, inclusive, um grande movimento de destruição de monumentos
históricos e obras de arte em toda a França. Segundo os revolucionários,
esses bens não teriam nenhum valor cultural. Os franceses tinham a convicção
de que, assim como Jesus Cristo, criariam um mundo completamente novo.
E assim, alteraram até mesmo o calendário cristão. O novo calendário começou
em 22 de setembro de 1792, dia seguinte ao início do trabalho da Convenção, a
nova Assembléia Constituinte. Inauguraram também um novo sistema métrico,
que passaria a ser utilizado no mundo inteiro.
A Revolução queria destruir voluntariamente um regime antigo.
Tocqueville considerou a revolução francesa mais próxima dos movimentos
religiosos do que das revoluções políticas, devido ao seu caráter universalizante.
Em pouco tempo, o espírito da Revolução Francesa foi difundido por todo o
mundo (Europa, Índia, América, com a Inconfidência Mineira e a Baiana, e Ásia
Menor).
A Revolução Francesa pregou o fim das desigualdades entre indivíduos e
grupos sociais. Da tríade liberdade, igualdade e fraternidade, a igualdade foi o
ponto central do movimento. A fraternidade seria a virtude necessária para a
abolição de todos os privilégios. Tinham como principal objetivo a supressão
das desigualdades estamentais e não a consagração das liberdades
individuais tão almejada pelos norte-americanos. Assim, a ideia de separação
dos poderes, apesar de prevista no art. 16 da Declaração, foi rapidamente
esquecida pelos franceses.
As mulheres também passaram a reivindicar igualdade de direitos,
representadas, principalmente pela figura de Olympe de Gouges, que redigiu e
publicou a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, com base na
Declaração de 1789. Olympe de Gouges exerceu seu direito de subir em um
cadafalso quando foi fazer a defesa de Luis XVI.
Os franceses pregavam a guerra de libertação dos povos contra as
opressões internas e externas. “A França oferece fraternidade e auxílio a todos
os povos que queiram reconquistar a liberdade.” Ao contrário dos EUA, houve
uma grande necessidade de desforra contra a humilhação das desigualdades.

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As declarações francesas foram tão importantes quanto as cartas de


direito norte-americanas para a afirmação dos direitos humanos ao longo da
história. Apesar de os franceses não se preocuparem com as garantias
processuais de efetivação do direito, acreditavam que os direitos vivem, em
última análise, na consciência humana. Assim, são sentidos no meio social
como exigências impostergáveis. Mesmo hoje, sabemos que os direitos humanos
existem e são vigentes, independentemente de sua consagração através de
textos constitucionais, quando adquirem o status de direitos fundamentais.
Naquela época, existiam na França três grandes classes sociais: clero, nobreza
e burguesia (povo). Essa última, chamada por Sieyès de Terceiro Estado, era a
que sustentava os privilégios da nobreza e do clero.
Como as classes eram muito desiguais, questionava-se como representá-las
perante o poder. Como atribuir a elas a soberania popular? O meio
encontrado foi o da manifestação do Poder Constituinte através de uma
Assembléia Nacional formada por deputados eleitos igualmente. Assim, a
burguesia, em maior número, exercia efetivamente o poder, em nome de todos os
cidadãos.
A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789 (primeiro
documento de vocação universal, serviu como alicerce para a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, em 1948), consagra os valores de liberdade,
igualdade e fraternidade, com clara influência jusnaturalista. São apenas
dezessete artigos, os quais foram, posteriormente, adotados como preâmbulo da
Constituição Francesa de 1791.
A Declaração contempla várias ideias como: soberania popular, sistema de
governo representativo, igualdade de todos perante a lei, presunção de
inocência, direito à propriedade, à segurança, liberdade de consciência, de
opinião, de pensamento, bem como o dever do Estado Constitucional de
garantir os direitos humanos.
Na visão de Comparato, a Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789,
representou o fim do Antigo Regime. Tinha
caráter universal, abstrato, generalizante. O
objetivo não era de fazer uma declaração de
direitos para os homens franceses, mas, para
os homens em geral.

Segundo Duquesnoy: “Uma declaração deve ser de todos os tempos e de


todos os povos; as circunstâncias mudam, mas ela deve ser invariável em meio
às revoluções. É preciso distinguir as leis e os direitos: as leis são análogas aos
costumes, sofrem o influxo do caráter nacional; os direitos são sempre os
mesmos.”

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Foi o primeiro elemento constitucional do novo regime político. O fato de


mencionar homem e cidadão se relaciona com o caráter universal e nacional da
declaração. No campo penal fixou-se o princípio de que não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena que não seja fixada em lei (art. 8.º). Duas
preocupações da burguesia foram atendidas: a garantia da propriedade privada
contra expropriações abusivas e a estrita legalidade na criação e cobrança
de tributos. Seguem as previsões da Declaração:
Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais
só podem fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos
naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a
propriedade a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação.
Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não
emane expressamente.
Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo.
Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão
aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos
direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.
Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é
vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o
que ela não ordene.
Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de
concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela
deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os
cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades,
lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção
que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos
determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que
solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser
punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve
obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.
Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias
e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada
antes do delito e legalmente aplicada.
Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se
julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua
pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.
Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões
religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública
estabelecida pela lei.
Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos
direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir

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livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos


previstos na lei.
Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força
pública. Esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade
particular daqueles a quem é confiada.
Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas de
administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida
entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus
representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la
livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a
cobrança e a duração.
Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua
administração.
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos
nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela
pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente
comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização.

Lynn Hunt ressalta a influência da Declaração de Direitos do Homem e do


Cidadão, de 1789, na elaboração da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, de 1948. A autora destaca a semelhança do artigo 1.º, dos dois
textos, que se referem à liberdade, igualdade e universalidade. Embora existam
diferenças na linguagem, “o eco entre os dois documentos é inequívoco”, nas
palavras de Lynn Hunt.
A primeira Constituição Francesa, a de 1791, consagrou a perda dos
direitos absolutos do monarca francês, com a implementação da monarquia
constitucional e previsão do voto (apesar de censitário).
A Declaração de Direitos foi colocada como preâmbulo da Constituição de
1791. Essa Constituição reafirmou o caráter anti-aristocrático e antifeudal do
novo regime político e promoveu a nacionalização de bens, anteriormente
pertencentes a eclesiásticos ou a congregações religiosas.
Reconheceu-se, pela primeira vez na história, a existência de direitos
humanos de caráter social, como, por exemplo, a assistência pública para
ajudar as crianças abandonadas e os enfermos pobres e a obrigação de
fornecer trabalho aos pobres desempregados.
Surge a primeira noção do controle judicial da constitucionalidade. “O
Poder Legislativo não poderá fazer lei alguma que prejudique ou impeça o
exercício dos direitos naturais e civis, consignados no presente título e garantidos
pela Constituição.”
Depois de uma quebra do regime anterior, com a queda da monarquia, a
Assembleia Legislativa convocou nova Assembleia Constituinte, chamada de

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Convenção. Já na eleição para a Assembleia, ficou patente o espírito


democrático: aboliu-se o sufrágio censitário. Foi instituído o regime
republicano e propagada a afirmação que “não pode existir Constituição que
não seja aceita pelo seu povo”.
Em 1793, surge nova Constituição. De modo geral, esse texto limitou-se a
enfatizar o conteúdo das declarações anteriores. Foram poucas as inovações:
a) reconhecimento de que a soberania política pertence ao povo

b) proclamação de que “a lei deve proteger a liberdade pública e individual


contra a opressão dos que governam”.

c) a afirmação de que a insurreição do povo contra os governantes que


violam os seus direitos é “o mais sagrado dos direitos e o mais
indispensável dos deveres”.

A Constituição de 1793 não chegou a ser aplicada. Foi instituído um governo


provisório, chamado de governo republicano. Existiam duas comissões de
deputados. Uma delas, liderada por Robespierre, instaurou uma ditadura, no
período que ficou conhecido como período do terror.

Após o golpe de Estado que resultou na prisão, julgamento e imediata


execução de Robespierre, houve uma mudança de orientação política. Os
conservadores (girondinos) assumiram o poder. A burguesia percebeu a
necessidade de votar uma nova Constituição. Assim, a nova Carta constitucional
foi promulgada em 22 de agosto de 1795, utilizando a expressão “universalidade
dos cidadãos”, ao invés de soberania popular.

Com a Constituição de 1795, é reforçado o mecanismo de separação e


controle dos poderes proposto por Montesquieu. Essa Constituição contém uma
declaração de direitos e uma de deveres dos cidadãos, suscitando muitas
críticas. Representou um retrocesso em direitos fundamentais e garantias sociais,
que foram desconsideradas. Ademais, consistiu na consagração constitucional
explícita da ordem privatista burguesa e do sistema capitalista de produção.

5. Documentos do século XIX


ACR não menciona em seu livro esses documentos. Entretanto, pela sua
relevante temática, trataremos de dois documentos do século XIX, relacionados
ao Direito Humanitário e ao combate ao tráfico de escravos, conforme previsto na
obra de Comparato.

5.1 A Convenção de Genebra de 1864


Esta Convenção inaugurou o chamado direito humanitário internacional. É o
conjunto de leis e costumes da guerra, visando a minorar o sofrimento de
soldados doentes e feridos, bem como de populações civis atingidas por um

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conflito bélico. Esta Convenção, que é a primeira introdução dos direitos


humanos na esfera internacional, foi assinada apenas por potências europeias.
O direito da guerra e da paz, sistematizado por Hugo Grócio, foi bipartido em
direito preventivo da guerra (ius ad bellum) e direito da situação ou estado
de guerra (ius in bello), destinado a regular as ações das potências
combatentes.
A Comissão que esteve na origem da Convenção de 1864, transformou-se em
1880 na Comissão Internacional da Cruz Vermelha, mundialmente
reconhecida.
Entretanto, o conceito de guerra justa foi restringido pela Carta de São
Francisco da ONU. A guerra passou a ser vista como meio antijurídico de
solução de conflitos, quaisquer que sejam as razões de seu
desencadeamento. Assim, o direito de guerra não podia ser regulamentado pelo
direito, por ser, ele mesmo, ilícito. Por isso, essas regras não fariam sentido, já
que o Direito não pode regulamentar a prática de um crime.
Apesar de tal argumento parecer óbvio, não pode ser aceito na prática. Se a
guerra, por si mesma, constitui um crime, nada impede que, no seu desenrolar,
outros crimes sejam praticados pelas partes beligerantes. A violação dos
princípios e normas do direito humanitário pode representar um crime de guerra.
Os princípios gerais do direito humanitário foram reconhecidos pela Corte
Internacional de Justiça, em 1986, no julgamento do Caso Nicarágua x Estados
Unidos.
A Convenção foi revista na primeira metade do século XX para que seus
princípios fossem estendidos aos conflitos marítimos (Convenção de Haia, de
1907) e aos prisioneiros de guerra (Convenção de Genebra, 1929). Em 1925,
outra Convenção de Genebra proibiu a utilização de gases asfixiantes ou
tóxicos, bem como de armas bacteriológicas, durante a guerra. Atualmente,
temos um conjunto de quatro convenções (Convenções de Genebra) sobre
soldados feridos e prisioneiros de guerra e proteção da população civil em caso
de guerra.

5.2 O Ato Geral da Conferência de Bruxelas de 1890 (sobre a repressão ao


tráfico de escravos africanos)

O tráfico de escravos africanos teve início no século IX, com os muçulmanos, e


expandiu-se com a fixação dos entrepostos portugueses na África, no século XV.

Cabe ressaltar, entretanto, as diferenças entre a escravidão muçulmana,


que atingia negros e brancos e tinha caráter, sobretudo, doméstico; e a
escravidão europeia. Para os europeus, a escravidão se restringiu à
população negra e tinha objetivos de exploração capitalista. Foi o maior
sistema de escravidão organizado em toda a história.

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A escravidão praticada no continente americano se destacava pelo seu caráter


empresarial. Calcula-se que foram transportados de 12 a 13 milhões de
escravos africanos para as Américas. O Brasil teria recebido cerca de 3,5
milhões e meio de escravos. Essa sangria humana foi a principal causa da
fragilidade do continente africano.

A repressão ao tráfico somente teve início no século XIX. Merecem destaque


os tratados de Paris (1814-1815) e o Congresso de Viena (1815), que
reconheciam que o tráfico de escravos violava princípios de justiça e humanidade.

O Brasil assinou com a Inglaterra uma Convenção, em 1826, estabelecendo


que, o tráfico, após três anos da troca de ratificações, seria considerado pirataria.
Devido ao descumprimento sucessivo por parte do Brasil, a Inglaterra votou, em
1845, o Bill Aberdeen. Tal ato autorizava os cruzadores ingleses a aprisionar
navios negreiros brasileiros e submetê-los a julgamento perante as cortes do
Almirantado. Em 1850, a Assembleia Geral do Rio de Janeiro votou a lei Eusébio
de Queiroz proibindo o tráfico negreiro e estabelecendo severas punições.

Finalmente, uma série de convenções culminou na assinatura do Ato Geral da


Conferência de Bruxelas, de 1890, subscrita por 17 Estados e prevendo, pela
primeira vez, no âmbito internacional, repressões ao tráfico de escravos.
Entretanto, tal acordo admitia a continuidade da escravidão doméstica nos
países signatários onde ela já existia.

Apesar de ter sido um grande avanço na proteção


internacional dos direitos humanos, essa Conferência foi
realizada tarde demais, quando o tráfico já era reduzido numa
escala mundial.

6. A fase do utilitarismo, do socialismo e o constitucionalismo social

6.1 Os utilitaristas
O utilitarismo é uma teoria consagrada por Jeremy Bentham e John Stuart
Mill no final do século XVIII e início do século XIX, segundo a qual os
cidadãos cumprem leis e compromissos para obter vantagens futuras
(utilidades) para si e para a sociedade.
Bentham critica a ideia de um contrato social baseado no Direito Natural
(como defendido por Hobbes e Rousseau). Na visão de Bentham, os cidadãos
cumprem as regras com vistas a obter vantagens e utilidades. Consagrou-se,
então, o utilitarismo, defendido principalmente por Stuart Mill, em sua obra
Utilitarismo, de 1983.

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Na área dos direitos humanos, o utilitarismo clássico sustenta que um ato


deve ser avaliado como reprovável ou não de acordo com suas
consequências e não conforme o reconhecimento de direitos. Se o resultado
gerar a felicidade do maior número possível de pessoas, o ato pode ser
justificável. Entretanto, a felicidade individual não deve ser sacrificada em prol da
felicidade geral. Busca-se uma maximização das consequências positivas de
uma conduta.
Como destaca ACR, “a crítica ao utilitarismo em geral recai sobre a
impossibilidade de uso dos indivíduos (e seus direitos) como instrumentos
de maximização da felicidade da maioria. Ademais, há os riscos de se optar
por uma ação que beneficie muitos e viole direitos fundamentais de poucos.”
Os franceses, ainda no século XVIII, defendiam a ampliação do rol de direitos
da Declaração Francesa para abarcar os direitos sociais (como saúde, educação
e assistência social).
No século XIX, vários movimentos socialistas na Europa, atacaram o modo
capitalista de produção e ganharam apoio popular. Tivemos alguns
expoentes, como Proudhon, socialista francês, que em sua obra O que é a
propriedade, em 1840, fez forte apelo à rejeição do direito de propriedade
privada, considerada por ele um “roubo”.
Karl Marx, na obra A questão judaica, em 1843, questionou os fundamentos
liberais da Declaração Francesa, de 1789, defendendo que o homem não é um
ser isolado das engrenagens sociais. Não seria possível defender direitos
individuais em uma realidade na qual os trabalhadores eram duramente
explorados.
Em 1848, Marx e Engels publicam O Manifesto do Partido Comunista,
defendendo novas formas de organização social, de modo a atingir o
comunismo, no qual seria dado a cada um segundo a sua necessidade e
exigido de cada um segundo a sua possibilidade.
As teses socialistas também atingiram a igualdade de gênero. August Bebel
defendeu a independência social e econômica da mulher na nova sociedade
socialista, na sua obra A mulher e o socialismo, de 1883.
No plano político, houve várias revoluções, com destaque para a Revolução
Russa, de 1917, que estimulou novos avanços na defesa da igualdade e justiça
social.
Houve também a introdução dos direitos sociais (para assegurar condições
materiais mínimas de existência) em várias Constituições, consideradas pioneiras
nesse aspecto: Constituição do México (1917), Constituição de Weimar (1919)
e Constituição Brasileira (1934).
No plano internacional, é criada a Organização Internacional do Trabalho
(OIT), em 1919, no fim da Primeira Guerra, pelo Tratado de Versalhes, voltada à
melhoria das condições dos trabalhadores.

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6.2 Constituição Mexicana de 1917 (Constituição de Querétaro)


A Constituição Política dos Estados Unidos Mexicanos foi promulgada em 05
de fevereiro de 1917. Sofreu forte influência da doutrina anarcossindicalista,
difundida na Europa no século XIX, especialmente das ideias de Mikhail Bakunin
que muito influenciaram Ricardo Flores Magón.
Ricardo Flores liderava um grupo mexicano chamado Regeneración, que
pregava a proibição de reeleição do presidente Porfirio Diaz (que havia governado
de 1876 a 1911 em reeleições sucessivas); o estabelecimento de garantias
para as liberdades individuais e políticas; a quebra do poderio da Igreja
Católica; a expansão do sistema de educação pública; a reforma agrária e a
proteção do trabalho assalariado.
Foi a primeira a conferir a qualidade de direitos fundamentais aos direitos
trabalhistas, ao lado das liberdades individuais e garantias políticas. Esse
caráter social dos direitos humanos só seria reconhecido na Europa após a
Primeira Guerra Mundial. E em alguns países, como Estados Unidos, existe
grande resistência, ainda hoje, de aceitar e efetivar essa dimensão dos direitos.
Assim, essa Constituição inspirou outros documentos, como a Constituição de
Weimar e várias convenções internacionais.
Entre a Constituição Mexicana e a de Weimar, tivemos um acontecimento
importante no século XX. Foi adotada a Declaração dos Direitos do Povo
Trabalhador e Explorado, no III Congresso Pan-Russo dos Sovietes, de
Deputados Operários, Soldados e Camponeses, reunidos em Moscou, em 1918.
No documento são adotadas várias medidas constantes da Constituição
Mexicana.
A Constituição de 1917 não faz exclusões sociais próprias do marxismo. O
povo mexicano não é reduzido apenas à classe trabalhadora, como
propunha a teoria marxista. Entretanto, nem todos os direitos trabalhistas
consagrados nesta Constituição podem ser considerados direitos humanos.
Esses direitos, numa sociedade largamente agrícola, interessavam a uma parcela
ínfima da população e não se aplicavam às pequenas e médias empresas
urbanas.
A maior importância da Constituição mexicana foi a de estabelecer a
desmercantilização do trabalho, em reação à lei da oferta e da procura do
sistema capitalista. Firmou o princípio da igualdade substancial de posição
jurídica entre trabalhadores e empresários na relação contratual de trabalho e
criou a responsabilidade dos empregadores por acidentes de trabalho. Enfim,
deslegitimou as práticas de exploração mercantil da pessoa humana e lançou as
bases para o Estado Social de Direito.
Aboliu o caráter absoluto e privado da propriedade privada, estabelecendo
que tal propriedade deve ser utilizada sempre visando ao bem público e ao

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interesse do povo. Criou o fundamento jurídico da reforma agrária, a primeira a


se realizar no continente latino-americano.

6.3 Constituição Alemã de 1919 (Constituição de Weimar)

A Constituição da cidade de Weimar, na Saxônia, surgiu como produto da


Primeira Guerra (1914-1918) e instituiu a primeira república alemã.
Apesar de ter sido uma constituição bem elaborada e votada, ou seja, legítima,
sua aceitação pela sociedade ficou prejudicada em decorrência do momento
histórico. Após 7 meses, apenas, do fim da guerra, a coletividade não teve
tempo de amadurecer as novas ideias democráticas. Assim, o texto
apresentava ambiguidades e imprecisões. Por exemplo, já na abertura da
Constituição, declara-se que o império alemão é uma República (como um
Império pode ser uma República?)
A Alemanha foi condenada, pelo Congresso de Versalhes, a pagar pesadas
indenizações de guerra. Com isso, gerou-se uma crise econômica que impediu o
desenvolvimento financeiro da República Alemã. Em poucas semanas a
República de Weimar foi destruída pela barbárie nazista em 1933.
A Constituição influenciou a evolução das instituições políticas em todo o
Ocidente. Desenvolveu a proposta de democracia social traçada pela
Constituição mexicana. Essas duas constituições serviram de inspiração para os
dois pactos internacionais de direitos humanos (1966) da Organização das
Nações Unidas (ONU).
A Constituição tem duas partes: a primeira apresenta a estrutura e
organização do Estado, e a segunda, apresenta a declaração dos direitos e
deveres fundamentais, incluindo os novos direitos de conteúdo social.
Os direitos sociais requerem uma atitude positiva do Estado, requerem a
efetivação por meio de políticas públicas. O Estado passa a intervir no mercado e
na vida social (Estado prestador).
Deve ser ressaltado que, diferenças e desigualdades não são equivalentes.
As diferenças têm caráter cultural ou são biológicas e devem ser
respeitadas e protegidas. As desigualdades são criações arbitrárias, e para
que se obedeça ao princípio da isonomia, devem ser eliminadas.
Estabeleceu a regra da igualdade jurídica entre marido e mulher e
equiparou os filhos ilegítimos aos havidos durante o casamento. Organizou
as bases da democracia social pelas disposições sobre educação pública e
direito trabalhista. Reforça a função social da propriedade ao dispor que “a
propriedade obriga”, e prevê que o Estado tem o dever de estabelecer a
política do pleno emprego.
A participação dos empregados e empregadores na regulação estatal da
economia, previstas no texto da Constituição, foi utilizada pelo movimento

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fascista, que as deformou, criando a organização corporativa da economia, sob a


dominação do partido único.

7. Documentos do início do Século XX


Trago ainda dois documentos destacados por Comparato, do início do século
XX, pela importância de suas temáticas. Vejamos.

7.1 Convenção de Genebra Sobre a Escravatura, 1926


Foi aprovada em 25 de setembro de 1926, pela Assembleia da Liga das
Nações, com o objetivo de “completar e desenvolver a obra realizada pelo Ato de
Bruxelas” e efetivar o combate ao tráfico de escravos e à escravidão no mundo
inteiro.
Esta Convenção não alcançou seus objetivos, porque, os países se obrigam
a impedir e reprimir o tráfico, por um lado, mas, por outro, afirmam que a
abolição completa só se verificará “progressivamente e assim que
possível”. Ou seja, na prática, tal dispositivo não significava obrigação alguma.
Em relação ao trabalho forçado ou obrigatório, a situação permaneceu
praticamente a mesma. A abolição do trabalho forçado só veio a ser prevista pela
Convenção n.º 29, adotada em Genebra, em 1930, por ocasião da 14ª
Conferência Internacional do Trabalho.
Em 1953, um protocolo da ONU emendou a Convenção de 1926 para
adequá-la ao quadro jurídico da ONU e da Corte Internacional de Justiça. Em
1957, a 40.ª Conferência Internacional do Trabalho aprovou a Convenção n.º 105
que editou novas normas sobre trabalho forçado.

7.2 Convenção de Genebra Relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de


Guerra, 1929
Essa Convenção, assinada em 27 de julho de 1929, desenvolveu o conjunto
das normas de proteção aos prisioneiros de guerra, assentadas na
Convenção de 1864 e na Convenção de Haia de 1907 (sobre os prisioneiros de
guerra marítima).
É um documento normativo extenso e minucioso, com noventa e sete
artigos e um anexo, que regula a captura, o cativeiro, a organização dos campos
de prisioneiros; o trabalho dos prisioneiros de guerra, suas relações com o mundo
exterior, bem como entre si e as autoridades; o fim do cativeiro; os escritórios de
ajuda e informação; e a aplicação de suas disposições ao pessoal civil que
acompanha as forças armadas sem delas fazer parte, como jornalistas,
fornecedores de alimentos etc.

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8. Internacionalização dos Direitos Humanos


Por fim, temos a fase de Internacionalização dos Direitos Humanos, com
importantes antecedentes e o auge no pós-Segunda Guerra Mundial, com a
elaboração da Carta de São Francisco, em 1945, tratado que cria da
Organização das Nações Unidas (ONU).
Em 1948, a ONU proclama a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
documento que simboliza, com os Pactos Internacionais, 1966, o processo de
internacionalização dos direitos humanos em escala global. Devido à sua
importância, o tema será tratado em um capítulo próprio.
Obs.: Vou adicionar aqui alguns temas, tratados por Comparato em sua obra,
para que vocês saibam da existência de tais documentos. Como são temas
atuais, achei importante mencionar, ok?

9. Textos internacionais relacionados aos direitos de 3.ª geração

9.1 Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural,


1972

Foi o primeiro tratado internacional que reconheceu a existência de um


“direito da humanidade”, referindo-se a bens que pertencem a todos e não
podem ser apropriados por ninguém. Temos aqui a proteção de direitos difusos,
de 3.ª geração.

Os artigos 1.º e 2.º definem patrimônio cultural e natural. São valores


culturais a serem preservados, criados pelo homem ou inerentes à natureza, que
merecem proteção pela sua importância científica ou estética. Também em 1972,
terá início, a Convenção de Estocolmo, a proteção internacional do meio
ambiente.

A crítica feita por Comparato se refere à ausência, no texto do tratado, da


proteção de pinturas e esculturas depositadas em museus, bem como das
bibliotecas. São bens que merecem tal proteção. Ressalta ainda a necessidade
de criminalizar atos de furto, roubo e receptação como crimes contra a
humanidade, com sanções adequadas e competência de qualquer Estado-parte
para processar e punir os responsáveis.

9.2 Convenção sobre o Direito do Mar, 1982

A Convenção sobre o Direito do Mar (Convenção de Montego Bay),


assinada em 10 de dezembro de 1982, em Montego Bay, na Jamaica, resguarda
os direitos fundamentais da humanidade sobre os mares e oceanos. De um lado,
regula a exploração e aproveitamento dos fundos marinhos e oceânicos e

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seu subsolo, traçando os limites da jurisdição de cada país. De outro lado,


trata da conservação dos recursos vivos e da proteção e preservação do meio
marinho.

Fábio Konder Comparato a destaca como um quarto estágio na titularidade


subjetiva dos direitos humanos: passamos da proteção dos indivíduos (direitos
civis e políticos) à dos grupos sociais vulneráveis (direitos sociais, econômicos e
culturais), avançando para a proteção dos povos, e, por fim, trazendo direitos
fundamentais de toda a humanidade. É o tratado mais longo do direito
internacional, com 319 artigos e 8 anexos.

O texto reconhece o leito do mar, os fundos marinhos e seu subsolo, além


dos limites da jurisdição nacional, como patrimônio da humanidade (art.
136). A convenção denota uma perspectiva solidária, aos resguardar interesses
e necessidades dos países em desenvolvimento, dos países costeiros e sem
litoral, além de considerar, em especial, os interesses de países
subdesenvolvidos.

Com a Convenção, surge uma organização mundial de exploração econômica


de recursos naturais, em benefício de toda a humanidade, contrariando a lógica
da exploração capitalista e impedindo a apropriação de tais recursos por
algum Estado em particular.

Foi o primeiro documento internacional a reconhecer, como principal


fator de produção dos tempos modernos, a tecnologia. O saber tecnológico,
que representa o grande capital, está concentrado em grandes empresas
transnacionais, com sede em países desenvolvidos. Por esse motivo, alguns
países se recusaram a assinar a Convenção, a exemplo dos Estados Unidos. O
texto apenas entra em vigor em 16 de novembro de 1994.

Com a saída dos países socialistas da Europa Oriental, que desequilibrou a


composição do Conselho, órgão executivo da Autoridade (ver artigos 161 e 162),
decidiu-se aprovar um Acordo relativo à aplicação da Parte XI da Convenção.
Esse acordo entrou em vigor em 28 de julho de 1996 e mudou a composição
original do Conselho, por causa do desaparecimento dos Estados comunistas da
Europa Oriental.

O Acordo prevê, em seu artigo 2.º, que as suas normas e a Parte XI da


Convenção devem ser interpretadas e aplicadas em conjunto, como um só e
mesmo instrumento. Entretanto, se houver incompatibilidade, devem prevalecer
as disposições do Acordo.

Consta também do Acordo um Anexo, que prevê redução de custos e


regras sobre como deve ocorrer a exploração dos recursos dos fundos
marinhos. Trata ainda da transferência de recursos, infelizmente, com normas de
aparência, que inviabilizam sua aquisição por países em desenvolvimento e

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tornando sem sentido a previsão segundo a qual: “em regra geral, os Estados-
partes esforçam-se para promover a cooperação científica e técnica internacional,
no tocante às atividades desenvolvidas na Zona, seja entre as partes
interessadas, seja pela colaboração dos programas de formação, de assistência
técnica e de cooperação científica em matéria de ciências e técnicas marinhas e
no campo da proteção e da preservação do meio marinho.”

9.3 Convenções sobre Proteção do Meio Ambiente, 1992

Como visto, a preocupação internacional com a proteção do meio


ambiente se inicia em 1972, com a Conferência de Estocolmo. Após vinte
anos, também no âmbito da ONU, surgem duas novas Convenções
Internacionais: Convenção sobre a Diversidade Biológica, que entrou em vigor
no cenário internacional em 29 de dezembro de 1993 (no Brasil, promulgada pelo
Decreto n. 2519, de 16 de março de 1998), e a Convenção-Quadro sobre
Mudança do Clima, que passou a vigorar em 21 de março de 1994 (no Brasil,
promulgada pelo Decreto n. 2652, de 1.º de julho de 1998).

As duas Convenções se valem do princípio da solidariedade, tanto presente


quanto futura, ou seja, solidariedade entre todas as nações, povos e grupos
humanos das presentes e futuras gerações. Para tanto, é necessário cuidar do
meio ambiente desde agora, buscando superar as atuais condições de
degradação ambiental em todo o mundo.

Existe um dever universal de desenvolvimento sustentável, que deve ser


garantido, não só pelo Estado, mas por todos os países, de forma universal. A
Comissão Mundial sobre o Desenvolvimento Econômico, da ONU, no relatório
elaborado em 1987, chamado Nosso Futuro Comum, definiu o desenvolvimento
sustentável como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do
presente, sem comprometer as aptidões das futuras gerações e satisfazer
suas próprias necessidades.” O grande desafio consiste em harmonizar as
necessidades com as limitações impostas para se preservar o meio ambiente.

Como ressalta Comparato, não existe uma instância supranacional para limitar
a soberania dos Estados e punir os responsáveis, o que dificulta a implementação
de um sistema internacional eficaz de proteção do meio ambiente. Daí a
necessidade de se incluir os atos degradação significativa do meio ambiente no
rol dos crimes contra a humanidade.

Enfrentamos sérios problemas advindos do desenvolvimento, do sistema


capitalista de produção, por exemplo:

✓ Aquecimento global (agravado pela industrialização acelerada de


China e Índia, no final do século XX. Estima-se que a temperatura média
da Terra irá aumentar de 1,4°C a 5,8°C até o final do século XXI);

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✓ Centrais nucleares (já tivemos três graves acidentes: Three Mile Island,
nos EUA, em 1979; Chernobyl, na ex-URSS, em 1986 e Fukushima, no
Japão, em 2011). Ademais, ainda não temos solução para o estoque de
material radioativo não mais utilizável, de modo a evitar a difusão
radioativa.

Na visão de Comparato, “o respeito à biodiversidade representa o fundamento


biológico do direito à diferença, em matéria de gênero, etnia ou tradição cultural. A
humanidade se fortalece pela preservação das diferenças naturais e culturais, e
se enfraquece com a instituição de desigualdades sociais, isto é, de situações de
dominação de uns sobre outros, fundadas na pretensa superioridade universal de
um sexo, de uma raça, ou de uma cultura.”

Importante ainda ressaltar que, nenhuma espécie de ser vivo pode ser
monopolizada ou apropriada por ninguém. O genoma de qualquer espécie
biológica é um patrimônio universal. Já enfrentamos as graves consequências
econômicas do reconhecimento da propriedade industrial sobre organismos
geneticamente modificados, que gera danos aos agricultores e consumidores, em
benefício de grandes empresas produtoras.

Temos sempre que ter em mente a afirmação de Kant, segundo a qual, o


homem é um fim em si mesmo, não pode ser usado como meio ou
instrumento para nada. As ações de preservação ambiental devem girar em
torno do ser humano. O homem é o ponto culminante da evolução biológica. Na
visão de Comparato, a UNESCO se equivocou ao aprovar, em 1978, a
Declaração dos Direitos do Animal. A expressão deveria ser vista como um dever
da humanidade de preservar a biodiversidade, e não ser interpretada de forma
literal.

A Convenção sobre Diversidade Biológica inclui a biodiversidade no


desenvolvimento sustentável da humanidade, reconhecendo em seu
preâmbulo que, o desenvolvimento econômico e social e a erradicação da
pobreza são prioridades absolutas dos países em desenvolvimento e que a
mulher tem papel fundamental na conservação e na utilização sustentável da
diversidade biológica.

Infelizmente, como foi aprovada sob a influência da ideologia neoliberal, a


Convenção não prevê mecanismos de preservação da biodiversidade no
plano supranacional, estabelecendo como princípio a soberania dos Estados
para explorar os recursos biológicos existentes em seu território, conforme
suas próprias políticas ambientais. A consequência é a submissão dos países
fracos ao poderio de empresas transnacionais.

Essa previsão excluiu a ideia de um direito fundamental da humanidade a esse


patrimônio nacional, admitindo a possibilidade de propriedade intelectual desses
recursos, diretamente ou por meio de sua utilização tecnológica.

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A exigência de cooperação técnica e científica e do apoio financeiro,


previstos nos artigos 18 e 20, respectivamente, não são capazes de superar as
desigualdades tecnológicas entre países desenvolvidos e
subdesenvolvidos. Ressalte-se ainda que, a Convenção não tratou dos
produtos transgênicos ou organismos geneticamente modificados, em clara
violação ao princípio da precaução: compete aos produtores, e não aos
consumidores ou autoridades públicas, provar a que que os organismos
geneticamente modificados são inofensivos. Sendo assim, a proteção normativa
da biodiversidade é incompleta.

A Convenção contém, além do texto principal, dois anexos. O primeiro se


refere à identificação e à supervisão dos ecossistemas e habitat, bem como
de espécies e comunidades que estejam sendo ameaçadas. O segundo
anexo regula a arbitragem de controvérsias entre os Estados-partes na
Convenção.

A Conferência do Rio de Janeiro aprovou, além da Convenção sobre a


Diversidade Biológica, uma Declaração sobre o Desenvolvimento Sustentável
e um programa de ação para os anos seguintes, chamado de Agenda 21.

Na Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima, aprovada em Nova Iorque,


no mesmo, 1992, temos como objetivo final alcançar a estabilização das
concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera num nível que impeça
uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. Segundo a
Convenção, “esse nível deverá ser alcançado num prazo suficiente que permita
aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à mudança do clima, que assegure
que a produção de alimentos não seja ameaçada e que permita ao
desenvolvimento econômico prosseguir de maneira sustentável.”

A Convenção estabelece como órgão supremo a Conferência das Partes, que


realiza exame regular sobre a implementação do texto e dos instrumentos
jurídicos a serem adotados. A Conferência das Partes entrou em vigor em 1994 e
realiza reuniões anuais dos Estados-partes.

Um protocolo foi assinado em Quioto, no Japão, em 1998, com previsão


de redução percentual na emissão de gases na atmosfera, variável nas
diferentes regiões do mundo e considerando os padrões de poluição de
1990. Esse protocolo só entrou em vigor em 2005, estabelecendo um programa
para a progressiva redução na emissão de gases de efeito estufa até 2012. Os
Estados Unidos se recusaram a aderir ao protocolo, assim como já tinham se
recusado a assinar a Convenção sobre a Diversidade Biológica. De acordo com
Comparato, 191 países haviam assinado e ratificado o Protocolo de Quioto, em
setembro de 2011.

Em junho de 2012, foi realizada, no Rio de Janeiro, a Conferência Rio+20.


O relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, elaborado a

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cada 5 anos, advertiu que, dos 90 objetivos definidos como prioritários para a
preservação ecológica, menos da metade tinha alcançado algum progresso, 24
não apresentaram melhora alguma e 8 registraram uma situação degradada. A
Conferência se encerrou com um relatório final que não apresentava
compromissos sérios dos Estados para preservação da vida no planeta, gerando
grande frustração.

Os principais emissores de gases de efeito estufa, Estados Unidos e China,


decidiram celebrar um acordo bilateral para reduzir essa emissão, em novembro
de 2014. Entretanto, não existe um órgão supranacional que possa fiscalizar o
cumprimento desses acordos e sabemos que países desenvolvidos não vão abrir
mão dos seus interesses em prol do bem-estar, ou mesmo da sobrevivência da
humanidade. Nas palavras de Comparato, “o egoísmo institucionalizado tem
instintos suicidas”.

Destaco agora uma importante e recente notícia da ONU acerca do meio


ambiente:

O Conselho de Direitos Humanos da ONU reconheceu no dia 08 de Outubro de


2021, pela primeira vez, que ter o meio ambiente limpo, saudável e sustentável é
um direito humano. O texto, proposto pela Costa Rica, Maldivas, Marrocos,
Eslovênia e Suíça, passou com 43 votos a favor e com 4 abstenções da Rússia,
Índia, China e Japão.

Com a decisão, o Conselho pediu aos Estados em todo mundo que trabalhem
em conjunto e com outros parceiros para implementar esse novo direito
reconhecido.

Ao mesmo tempo, por meio de uma segunda resolução (48/14), o Conselho


também aumentou o seu foco no impacto da mudança climática nos direitos
humanos ao estabelecer um relator especial dedicado a essa questão específica.

A deliberação veio semanas antes da Conferência da ONU sobre Mudanças


Climáticas, a COP 26, que vai acontecer no começo de novembro de 2021, em
Glasgow, na Escócia.

Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/150667-meio-ambiente-saudavel-e-declarado-
direito-humano-por-conselho-da-onu

* O que é a COP 26?

A COP é a abreviatura de Conferência das Partes da Convenção Quadro


das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que é um evento
que acontece anualmente, mas foi adiado no ano passado por causa da
pandemia.

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Os líderes mundiais comparecem, mas muitas das discussões acontecem


entre ministros e outras autoridades de alto nível que trabalham com questões
climáticas. O 26 significa que esta é a 26ª reunião do grupo.

As conferências são eventos massivos com muitas reuniões paralelas que


atraem pessoas do setor empresarial, empresas de combustíveis fósseis,
ativistas do clima e outros grupos com interesse na crise climática. Alguns
deles são bem-sucedidos — o Acordo de Paris foi firmado durante a COP21,
por exemplo — e alguns são dolorosamente improdutivos.

Mais de 190 países assinaram o Acordo de Paris após a reunião da COP 21,
em 2015, para limitar o aumento das temperaturas globais abaixo de 2 graus
Celsius dos níveis pré-industriais, mas de preferência para 1,5 graus.

Meio grau pode não parecer uma grande diferença, mas os cientistas dizem
que qualquer aquecimento adicional além de 1,5 grau irá desencadear eventos
extremos climáticos mais intensos e frequentes.

Por exemplo, limitar o aquecimento a 1,5 graus em vez de 2 graus pode


resultar em cerca de 420 milhões de pessoas a menos sendo expostas a ondas
de calor extremas, de acordo com a ONU.

Os cientistas vêem 2 graus como um limite crítico onde o clima extremo


transformaria algumas das áreas mais densamente povoadas do mundo em
desertos inabitáveis ou as inundaria com água do mar.

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/saiba-o-que-sera-a-cop-26-e-
os-principais-temas-polemicos-em-discussao/

Cabe ressaltar que o direito ao meio ambiente sadio, apesar de não estar em
nenhum tratado do sistema global, já está previsto em documentos dos
sistemas regionais de proteção de direitos humanos, como por exemplo, no
artigo 24 da Carta Africana e no artigo 11 do Protocolo de San Salvador.
Apesar de não estar expressamente previsto na Convenção Europeia, o direito é
considerado requisito fundamental para o exercício de outros direitos, pela Corte
Europeia de Direitos Humanos.

Nota-se, no cenário internacional, um fenômeno conhecido como greening, ou


esverdeamento, do direito internacional, reforçando-se a preocupação da
proteção do meio ambiente sadio na jurisprudência das Cortes
Internacionais.

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Tabela-resumo

Evolução dos Direitos Humanos e Documentos Históricos

Está aí a tabelinha que vocês tanto pedem, com os documentos e marcos


históricos mais relevantes. Espero que ajude!

✓ Período compreendido entre os séculos VIII


Antiguidade Oriental a II a.C.: primeiro passo na afirmação dos direitos
humanos. Adoção de códigos de comportamentos de
vários filósofos influentes até os dias atuais
(Zaratustra, Buda, Confúcio)
✓ Antigo Egito: reconhecimento de direitos
individuais na codificação de Menes (3100-2850 a.C.)
✓ Suméria antiga: Código de Hammurabi
(1792-1750 a.C.) , na Babilônia, com esboço dos
direitos dos indivíduos e consolidação de costumes.
✓ Suméria e Pérsia: Declaração de boa
governança de Ciro II, no século VI a.C. (Cilindro de
Ciro).
✓ China: Confúcio (séculos VI e V a.C.)
lançou as bases para sua filosofia, com ênfase na
defesa do amor aos indivíduos.
✓ Budismo: introdução de um código de
conduta pelo qual se prega o bem comum e uma
sociedade pacífica, sem prejuízo a qualquer ser
humano.
✓ Islamismo: prescrição da fraternidade e
solidariedade dos vulneráveis.
Grécia ✓ Consolidação dos direitos políticos com a
participação política dos cidadãos (muitos eram
excluídos)
✓ Platão, na obra A República (400 a.C.),
defendeu a igualdade e a noção do bem comum.
✓ Aristóteles, na obra Ética a Nicômaco,
salientou a importância do agir com justiça para o
bem de todos, mesmo em face de leis injustas.
✓ Ideia de superioridade normativa de
determinadas normas, mesmo diante do poder
estatal.
Roma ✓ Sedimentação do princípio da legalidade
✓ Reconhecimento de direitos como
liberdade, propriedade, personalidade jurídica e
igualdade entre as pessoas, em especial através do
jus gentium (direito aplicados a todos, romanos ou

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não)
Influências do ✓ Cinco livros de Moisés (Torah): apregoam
Cristianismo solidariedade e preocupação com o bem-estar de
todos (1800-1500 a.C.)
✓ Antigo Testamento: necessidade de
respeito a todos, em especial aos vulneráveis.
✓ Novo Testamento: vários textos da Bíblia
pregam a igualdade e solidariedade com o
semelhante.
✓ Filósofos católicos: Santo Agostinho e São
Tomás de Aquino.
Idade Média e Idade ✓ Poder ilimitado dos governantes,
Moderna baseado na vontade divina.
✓ Primeiros movimentos de reivindicação da
liberdade a determinados estamentos, como a
Declaração das Cortes de Leão, na Península
Ibérica, em 1188 e a Magna Carta Inglesa, de 1215
(devido processo legal, limitação do poder de
tributar e do confisco, Tribunal do Júri, princípio
da legalidade).
✓ Renascimento e Reforma Protestante: crise
da Idade Médio e surgimentos dos Estados Nacionais
absolutistas, com centralização do poder na figura do
rei
✓ Século XVII: questionamento do Estado
Absolutista, em especial na Inglaterra. A busca pela
limitação do poder é consagrada na Petition of
Rights, de 1628. O Habeas Corpus Act, de 1679
regulamenta a proteção judicial dos que foram presos
injustamente.
✓ Após a Revolução Gloriosa, é editado o Bill
of Rights, em 1689, reduzindo definitivamente o
poder dos reis ingleses.
✓ Em 1701, é aprovado o Act of Settlement,
que reafirma o poder do Parlamento, fixando a linha
de sucessão da coroa inglesa (os católicos foram
excluídos) e impedindo a volta da tirania dos
monarcas.
Pensadores ✓ Thomas Hobbes (Leviatã, 1651): direitos
Iluministas do ser humano no estado de natureza. Necessidade
do Estado para garantir segurança aos indivíduos
(que se submetem ao seu poder). Teoria
contratualista de base absolutista.
✓ Hugo Grócio (Da Guerra e da Paz, 1625):
defendeu a existência de um direito natural de cunha
racionalista. As normas decorrem de princípios
inerentes ao ser humano. (“Deus está morto”).

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✓ John Locke (Tratado sobre o Governo


Civil, 1689): O objetivo do Estado deve ser a
preservação dos direitos individuais, logo, o poder
não pode ser ilimitado (início da teoria de separação
dos poderes).
✓ Jean-Jacques Rousseau (Do Contrato
Social, 1762): existe um pacto entre os homens,
livres e iguais, que estruturam o Estado para zelar
pelo bem-estar da maioria. Teoria contratualista de
base democrática.
✓ Cesare Beccaria (Dos Delitos e das Penas,
1766) – existência de limites para o jus puniendi
estatal, que persistem até os dias atuais.
✓ Kant (Fundamentação da Metafísica dos
Costumes, 1785): a dignidade é um valor intrínseco a
todo ser racional, que não tem equivalente. As coisas
têm preço, as pessoas têm dignidade. O homem é
um fim em si mesmo.
Constitucionalismo ✓ As revoluções liberais (inglesa, americana e
liberal e declarações francesa) marcaram a primeira afirmação histórica
de direitos dos direitos humanos.
✓ Revolução Inglesa: teve como marcos a
Petition of Rights, em 1628, que garantiu liberdades
individuais e o Bill of Rights, de 1689, que consagrou
a supremacia do Parlamento e o império da lei.
✓ Revolução Americana: retrata o processo
de independência das colônias britânicas, com a
Declaração de Independência, em 1776 e a
Constituição norte-americana, de 1787 (em 1791, o
texto constitucional recebe 10 emendas que
introduzem um rol de direitos fundamentais).
✓ Revolução Francesa: Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789
(primeiro documento de vocação universal, serviu
como alicerce para a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, em 1948), que consagra os
valores de liberdade, igualdade e fraternidade.
Projeto de Declaração dos Direitos da Mulher e da
Cidadã, em 1791, proposto por Olympe de Gouges,
reivindicando a igualdade de gêneros. Constituição
Francesa de 1791, consagrando a perda dos direitos
absolutos do monarca francês, com a implementação
da monarquia constitucional e previsão do voto
(apesar de censitário).
Constitucionalismo ✓ Os franceses, ainda no século XVIII,
social e defendiam a ampliação do rol de direitos da
internacionalização Declaração Francesa para abarcar os direitos sociais
dos Direitos Humanos (como saúde, educação e assistência social).

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✓ Vários movimentos socialistas na Europa,


no século XIX, atacaram o modo capitalista de
produção e ganharam apoio popular. Expoentes:
Proudhon, Karl Marx, Engels, August Bebel.
✓ Revolução Russa, 1917: estimulou novos
avanços na defesa da igualdade e justiça social.
✓ Introdução dos direitos sociais (para
assegurar condições materiais mínimas de
existência) em várias Constituições: Constituição do
México (1917), Constituição de Weimar (1919) e
Constituição Brasileira (1934).
✓ No plano internacional, é criada a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), em
1919, pelo Tratado de Versalhes, voltada à melhoria
das condições dos trabalhadores.
✓ Pós-Segunda Guerra Mundial: Carta de São
Francisco, 1945, com a criação da Organização das
Nações Unidas (ONU). A ONU proclama a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, em
1948.

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Aulas complementares

Tenho aulas, no meu canal do YouTube, que podem te ajudar no estudo do tema.
Confira lá e aproveite para se inscrever no canal:

https://youtu.be/vj96FgTipks
https://youtu.be/W-NfDnQNqsY

Dicas de filmes:

1. Robin Hood, 2010 (veja no link abaixo o trecho em que o personagem


menciona as ideias da Magna Carta)

https://youtu.be/YJAF8FmpZIU

2. O Nome da Rosa, 1986 (veja o trailer)

https://youtu.be/7-yYJgpQ-CE

3. O Patriota (2000)

https://youtu.be/tKDFYXL13MU

Revisões
Sugiro uma média de seis revisões do tema. Marque aqui para ter controle de
quantas já realizou!
Outra sugestão é que utilize o que está em negrito ou em destaque na apostila,
e as próprias questões da LDQ, para direcionar sua revisão.

1.ª 4.ª
2.ª 5.ª
3.ª 6.ª

Questões para treinar

1. (2013/VUNESP/PCSP/Investigador de Polícia) Dentre os documentos


reconhecidos internacionalmente e que limitaram o poder do governante em
relação aos direitos do homem, encontra-se o mais remoto e pioneiro antecedente

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que submetia o Rei a um corpo escrito de normas, procurava afastar a


arbitrariedade na cobrança de impostos e implementava um julgamento justo aos
homens.
Esse importante documento histórico dos direitos humanos denomina-se
a) Talmude.
b) Magna Carta da Inglaterra.
c) Alcorão.
d) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França.
e) Bill of Rights.

2. (2014/VUNESP/PCSP/Escrivão de Polícia) Documento histórico relevante na


evolução dos direitos humanos, elaborado no século XIII, que regulava várias
matérias, de sentido puramente local ou conjuntural, ao lado de outras que
constituem as primeiras fundações da civilização moderna, que considera que o
rei se encontra vinculado pelas próprias leis que edita e que traz a essência do
princípio do devido processo legal em seu texto.
Tal descrição se refere à:
a) Lei de Habeas Corpus (ou Habeas Corpus Act).
b) Declaração de Direitos da Inglaterra (ou Bill of Rights).
c) Declaração de Independência dos Estados Unidos da América.
d) Magna Carta (ou Magna Charta Libertatum).
e) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

3. (2018/VUNESP/PCSP/Delegado de Polícia) Esse documento histórico de


remota conquista dos direitos humanos foi editado com o escopo de assegurar a
Supremacia do Parlamento sobre a vontade do Rei, controlando e reduzindo os
abusos cometidos pela nobreza em relação aos seus súditos, em especial
declarando, dentre outras conquistas, o direito de petição, eleições livres e a
proibição de fianças exorbitantes e de penas severas:
a) Petition of Rights, de 1628.
b) Habeas Corpus Act, de 1679.
c) The Bill of Rights, de 1689.
d) Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.
e) Magna Carta, de 1215.

4. (2013/VUNESP/PCSP/Agente de Polícia) Assinale a alternativa que indica o


movimento que tornou mundialmente conhecidos os ideais representativos dos
direitos humanos reconhecidos e representados pela liberdade, igualdade e
fraternidade.
a) Independência dos Estados Unidos da América.
b) Revolução Francesa.
c) Cristianismo.
d) Catolicismo.
e) Iluminismo.

5. (2013/VUNESP/PCSP/Auxiliar de Papiloscopista Policial) Em 1791, foi editada


a Constituição Francesa. O papel do Estado nessa época era, sobretudo, proteger
o(a) _________. Contudo, aos poucos, foi-se evidenciando a necessidade de o
Estado intervir para garantir a igualdade material entre os indivíduos. Em meados

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do século XIX, iniciaram-se os(as)___________. Após os efeitos desastrosos da


Primeira Guerra Mundial, o Estado passou a intervir na ordem econômica e social.
As Constituições de vários países foram reeditadas para passar a contemplar,
dentre outros, os direitos dos_____________. Assinale a alternativa que
completa, correta e respectivamente, as lacunas do texto.
a) direito do trabalho … ideias iluministas … cidadãos
b) solidariedade … movimentos liberais … indivíduos
c) liberdade … movimentos comunistas … trabalhadores
d) igualdade formal … movimentos liberais … cidadãos
e) igualdade … movimentos comunistas … governantes

6. (2014/VUNESP/PCSP/Auxiliar de Necropsia) Considerando a evolução


histórica e cronológica dos direitos humanos em âmbito internacional, pode-se
afirmar que existiram três marcos históricos fundamentais. São eles:
a) o jusnaturalismo, a promulgação da Constituição dos Estados Unidos da
América e a independência do Brasil.
b) a queda do Império Romano, a queda da Bastilha, na França, e a criação da
Organização das Nações Unidas.
c) o Iluminismo, a Revolução Francesa e o término da Segunda Guerra Mundial.
d) o totalitarismo, a queda de Hitler e a Promulgação da Constituição Brasileira de
1988.
e) a criação da Igreja Católica, o constitucionalismo e o fim da Primeira Guerra
Mundial.

7. (2018/VUNESP/PCSP/Delegado de Polícia) No tocante à temática dos direitos


humanos, considerando seu surgimento e sua evolução histórica, assinale a
alternativa que contempla correta e cronologicamente seus marcos históricos
fundamentais.
a) O iluminismo, o constitucionalismo e o socialismo.
b) O cristianismo, o socialismo e o constitucionalismo.
c) A Magna Carta, a Constituição Alemã de Weimar e a Declaração de
Independência dos Estados Unidos da América.
d) A Magna Carta, a queda da Bastilha na França e a criação da Organização das
Nações Unidas.
e) O iluminismo, a Revolução Francesa e o fim da Segunda Guerra Mundial.

8. (2014/VUNESP/PCSP/Delegado de Polícia) Considerando a sua evolução


histórica, bem como o sistema internacional de proteção dos direitos humanos,
assinale a alternativa correta.
a) No sistema processual de proteção dos direitos humanos, as pessoas físicas
são titulares de direitos perante os órgãos de supervisão internacional, mas
carecem de capacidade processual nesse sistema.
b) No campo dos direitos humanos, desde a Declaração Universal de 1948,
verifica-se a coexistência de diversos instrumentos de proteção estabelecendo
regras de efeitos e conteúdo essencialmente formais.
c) A resolução de conflitos nos casos concretos de violações de direitos humanos
é tema de interesse exclusivamente nacional dos Estados.

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d) Os tratados podem agir como normas de direito interno, desde que ratificados e
incorporados, podendo influenciar a alteração, ou criação, de regulamentação
nacional específica.
e) A partir de 1950, depois de estabelecida uma unidade conceitual dos direitos
humanos, sua proteção internacional viu-se em acentuado declínio.

9. (2014/VUNESP/PCSP/Investigador de Polícia) O ano de 1948 representou um


marco histórico mundial no tocante aos direitos humanos, pois foi nesse ano que:
a) foi criada a Corte Internacional dos Direitos Humanos.
b) aconteceu a Independência dos Estados Unidos da América
c) eclodiu a Revolução Francesa, trazendo os ideais de liberdade, igualdade e
fraternidade
d) foi outorgada a Carta Magna na Inglaterra
e) foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

10. (2008/VUNESP/DPEMS/Defensor Público) Quando se fala em Direitos


Humanos, considerando sua historicidade, é correto dizer que
a) somente passam a existir com as Declarações de Direitos elaboradas a partir
da Revolução Gloriosa Inglesa de 1688.
b) foram estabelecidos, pela primeira vez, por meio da Carta Magna de 1215, que
é a expressão maior da proteção dos Direitos do Homem em âmbito universal.
c) a concepção contemporânea de Direitos Humanos foi introduzida, em 1789,
pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, fruto da Revolução
Francesa.
d) a internacionalização dos Direitos Humanos surge a partir do Pós-Guerra,
como resposta às atrocidades cometidas durante o nazismo.

11. (2018/FCC/DPE-RS/Defensor Público) De acordo com a historiadora


americana Lynn Hunt, os direitos permanecem sujeitos a discussão porque a
nossa percepção de quem tem direitos e do que são esses direitos muda
constantemente. A revolução dos direitos humanos é, por definição, contínua (A
Invenção dos Direitos Humanos; uma história. São Paulo: Companhia das Letras,
2009, p. 270). Em relação à evolução histórica do regime internacional de
proteção dos direitos humanos, considere as assertivas abaixo.
I. A Magna Carta (1215) contribuiu para a afirmação de que todo poder político
deve ser legalmente limitado.
II. O Habeas Corpus Act (1679) criou regras processuais para o habeas corpus e
robusteceu a já conhecida garantia.
III. Na Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776) percebe-se que
a dignidade da pessoa humana exige a existência de condições políticas para sua
efetivação.
IV. O processo de universalização, sistematização e internacionalização da
proteção dos direitos humanos intensificou-se após o término da 2ª Guerra
Mundial.
Está correto o que consta de:
a) I, II, III e IV.
b) I, II e III, apenas.
c) I, III e IV, apenas.

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d) II, III e IV, apenas.


e) I e IV, apenas.

12. (2016/FCC/DPE-BA/Defensor Público) Com relação à origem histórica dos


direitos humanos, um grande número de documentos e veículos normativos
podem ser mencionados, dentre eles é correto afirmar que cada um dos
documentos abaixo mencionados está relacionado com um direito humano
específico, com exceção de:
a) Declaração de Direitos do Estado da Virgínia, 1776, que disciplinou os direitos
trabalhistas e previdenciários como direitos sociais.
b) Declaração de Direitos (Bill of Rights), 1689, que previu a separação de
poderes e o direito de petição.
c) Convenção de Genebra, 1864, que teve relevante destaque no tratamento do
direito humanitário.
d) Constituição de Weimar, 1919, que trouxe a igualdade jurídica entre marido e
mulher, equiparou os filhos legítimos aos ilegítimos com relação à política
social do Estado.
e) Constituição Mexicana, 1917, que expandiu o sistema de educação pública,
deu base à reforma agrária e protegeu o trabalhador assalariado.

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GABARITO

1. B 7. E
2. D 8. D
3. C 9. E
4. B 10. D
5. C 11. A
6. C 12. A

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