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Unidade 3

Direitos Humanos

Introdução
Neste material, falaremos dos direitos humanos. Trata-se da mais bela criação humana. A
preocupação com o outro deve ser algo importante. Podemos afirmar que os direitos humanos são
sim uma das mais importantes e belas construções da humanidade, um sistema capaz de dotar os
humanos de igualdade formal e material, juntamente com a ideia de constitucionalismo e dos
direitos fundamentais que estudamos anteriormente.

Que nos perdoem Picasso, Michelangelo, Shakespeare, Machado de Assis e tantos outros artistas
que criaram obras respeitadas por meio dos anos. A maior obra de arte da humanidade será
estudada nas próximas linhas, e é dever de todos conhecê-los e lutar para que esses direitos sejam
do conhecimento de todos, garantidos e exequíveis.

A Proteção à Pessoa Humana


O que podemos chamar de pessoa humana, o homem? Durante a história da humanidade, homem
era aquele que participava do ciclo social, e aquele de fora não era assim considerado. Tomemos,
por exemplo, o conhecimento global da era das tribos. Perceba que não estamos citando nenhum
documento histórico, mas a percepção de como deveria ser aquele período. O homem, o “cidadão”,
era aquele dado ao convívio social; o de fora era o bárbaro, o monstro, o destruidor. Era tudo,
menos homem.

A escravidão, outro exemplo tão próximo a nós, tornava objeto o outro. Não era homem o escravo;
era coisa, objeto, propriedade, bem. Repetimos: era tudo, menos homem. Agora, ressuscitam um
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conceito: homem de bem. Já utilizado em outros momentos históricos, assim, homem de bem é
homem. Já o marginal, marginalizado, o que vive à margem, não é homem, é bandido, é sujo, é mal,
e, portanto, pode ser descartado e a ele não devemos garantir nenhum direito. A-

Sob esses aspectos, voltamos a perguntar: o que é o homem? A pessoa humana? Comparato diz
que:

[...] foram necessários vinte e cinco séculos para que a primeira organização internacional a
englobar a quase totalidade dos povos da Terra proclamasse, na abertura de uma
Declaração Universal de Direitos Humanos, que “todos os homens nascem livres e iguais em
dignidade e direitos” (2019, p. 25).

E continua:

Ora, essa convicção de que todos os seres humanos têm direito a ser igualmente respeitados,
pelo simples fato de sua humanidade, nasce vinculada a uma instituição social de capital
importância: a lei escrita, como regra geral e uniforme, igualmente aplicável a todos os
indivíduos que vivem numa sociedade organizada (COMPARATO, 2019, p. 26).

Eis aí a importância do Constitucionalismo e das Constituições.

A Afirmação dos Direitos Humanos


Para afirmar a existência dos direitos humanos, é preciso antes afirmar a existência de uma
humanidade, unida por um vínculo complexo chamado existência. Descartes e seu “penso, logo
existo” nos ensina que existir não é uma tarefa de fácil compreensão. Se é difícil entender a
existência, talvez os aspectos que causam dor nos façam voltar à humanidade.

Imaginemos, portanto, que alguém amado é brutalmente assassinado. Crimes com grande
expressão de repulsa tendem a fazer com que nossa humanidade reaja, seja para proteger, seja para
atacar. Em que pese a morte de alguém amado nos fazer pensar em uma punição cruel para aquele
que cometeu o crime, o mesmo fato, vivido sob outra ótica, talvez a da mãe do assassino, faça-a
pensar que o filho deve sim ser punido, mas respeitando a dignidade de sua pessoa, enquanto
humano.

Podemos ir mais longe: o deus da guerra é o deus daquele que vence a guerra, o deus do perdedor é
subjugado. Logo, se eu acredito em Odin e parto ao ataque daqueles que acreditam em Baco,
saindo vencedor do embate, posso afirmar que Odin é o maior de todos os deuses, contudo a morte
que forcei aos que acreditavam em Baco pode ter sido deveras pesada e forçada. É preciso
compreender a humanidade daquele que vence e daquele que perde. Antes de lutadores,
vencedores e perdedores, somos simples e tão somente, humanos.

Para Comparato:

[...] a compreensão da dignidade suprema da pessoa humana e de seus direitos, no curso da


História, tem sido, em grande parte, o fruto da dor física e do sofrimento moral. A cada
grande surto de violência, os homens recuam, horrorizados, à vista da ignomínia que afinal
se abre claramente diante de seus olhos; e o remorso pelas torturas, pelas mutilações em
massa, pelos massacres coletivos e pelas explorações aviltantes faz nascer nas consciências,
agora purificadas, a exigência de novas regras de uma vida mais digna para todos (2017, p. A+
25).
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Portanto, as afirmações de direitos humanos conhecidas nasceram de momentos de embate
humano e da visão horrorizada que nos resta quando percebemos do que somos capazes.

03:43

A Declaração de Direitos do Homem e dos


Cidadãos
Os chamados “Direitos do Homem e do Cidadão” estão consagrados em um documento de
importante teor histórico, a “Déclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen”. O texto surgiu para
definir os direitos individuais e coletivos dos homens (termo aqui utilizado na acepção ampla,
indicando o homem como o ser humano, sem distinção de sexo). Teve inspiração nos pensamentos
iluministas e na Revolução Americana e foi votada no dia 2 de outubro de 1789. Há ainda uma
segunda versão dela, datada de 1973, originada de um processo revolucionário vivido pela França.

É importante lembrar que ela foi a base da famosa Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Como o objetivo desta unidade é conhecermos a base jurídica que fez com que houvesse a garantia
dos direitos aos homens (entendidos como um conjunto), o texto que analisaremos é aquele datado
de 1789. Seu objetivo, segundo Emerson Malheiro (2018, p. 8), era “[...] universalizar os princípios
de liberdade, igualdade e fraternidade”.
Ainda Malheiro diz:

Prega um Estado laico, o direito de associação política, o princípio da reserva legal, da


anterioridade e do estado de inocência, além da livre manifestação do pensamento.
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Igualmente, prevê em seu texto que a finalidade de toda associação política é a conservação
dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a
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propriedade, a segurança e a resistência à opressão (2018, p. 8).

Vamos analisar agora os artigos desta importante declaração.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789


É importante conhecer a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Para isso, nesta unidade,
conforme explicamos, partiremos da análise artigo por artigo, inserindo, além disso, muitos
conceitos importantes que estão contidos em cada texto.

O Art. 1º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


“Art. 1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem
fundamentar-se na utilidade comum.” (BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2019, on-
line).

Desse artigo podemos extrair a base de qualquer ordenamento jurídico baseado na garantia de
direitos: a igualdade. A ideia de igualdade apresentada no art. 1º é meramente formal. A igualdade
material só será conhecida em momento posterior da história da humanidade. Assim, esse
documento ainda admitia, por exemplo, a escravidão em colônias francesas.

Carlos Henrique Bezerra Leite nos lembra ainda que:

Na prática, dado o caráter nitidamente individualista da Declaração de Direitos do Homem


e do Cidadão, apenas os cidadãos franceses do sexo masculino, de cor (ou raça) branca e
proprietários passaram a ser os cidadãos ativos que desfrutaram do novo regime. As
mulheres, os negros, os operários e os grupos sociais vulneráveis foram excluídos da
declaração francesa (2014, p. 5).

Em síntese, a igualdade formal é tratar todos de maneira igual, sem quaisquer diferenciações. A
igualdade material buscará o “desigualar para igualar”, ou seja, se admite que as pessoas estão em
condições de diferenciação, e para as equiparar, por vezes, será preciso desigualar.
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Figura 3.1 - Pessoas de tamanhos diferentes tentam assistir o mesmo jogo


Fonte: Working... (s.d., on-line).

Na imagem anterior, há a demonstração da igualdade formal (primeiro quadro) e da igualdade


material (segundo quadro). Perceba que, no primeiro quadro, foi garantida a igualdade a todos.
Todos tiveram o direito de ter um caixote de madeira do mesmo tamanho. Era preciso um
tratamento diferente para que ambos pudessem assistir a partida de beisebol. No segundo quadro,
foram dados caixotes diferentes, e, dessa forma, todos puderam ter a mesma visão do jogo.

O Art. 2º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


“Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e
imprescritíveis do homem” (BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2019, on-line).

Percebe-se uma influência do jusnaturalismo na confecção do artigo segundo. Para os


jusnaturalistas, o direito é natural, ou seja, há uma ideia universal de quais sejam esses direitos
ainda que não positivados; eles estão no mundo das ideias esperando que alguém os alcance. Tais
direitos naturais seriam a liberdade, a propriedade, a segurança e, por fim, a resistência à opressão.

É importante destacar que estamos de frente ao que vimos na Unidade II, de forma materializada.
Os direitos de 1ª dimensão.

O Art. 3º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


“Art. 3.º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação,
nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente” (BIBLIOTECA
VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2019, on-line).

Esse artigo demonstra uma diferença para a obra que o inspirou. A titularidade do poder soberano,
diferente da contida no texto americano, é da nação (e não do povo). O foco desse modelo francês,
portanto, é a manutenção da nação.
O Art. 4º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
“Art. 4.º A Liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício
dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros
membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados A+
pela lei” (BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2019, on-line).

A limitação da liberdade, nos moldes do artigo, somente pode ocorrer quando for para assegurar A-
aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Aqui, já há algo que foi estudado na
Unidade II: a utilização dos direitos fundamentais também nas relações privadas. O ditado popular
“o meu direito começa onde o seu termina” também diz muito sobre esse artigo.

O Art. 5º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


“Art. 5.º A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não
pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene” (BIBLIOTECA
VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2019, on-line).

Eis aqui o chamado Princípio da Legalidade, disciplinado em diversas constituições, inclusive na


brasileira. Esse princípio tem uma dupla leitura no direito brasileiro. Diz para o cidadão que ele
pode fazer tudo o que não for proibido por lei, e ao Estado que só pode fazer aquilo que está
previsto em lei. Legalidade, portanto, está atrelada à existência de uma lei ou a não existência dela.

O Art. 6º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


Art. 6.º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer,
pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para
todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e
igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua
capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos
(BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2019, on-line).

No texto anterior: “[...] deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir [...]”, é
possível ver novamente a preocupação somente com a igualdade formal, e não com a igualdade
material. A preocupação de acesso aos cargos públicos sem distinção também servirá para o
combate ao nepotismo.

O Art. 7º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


Art. 7.º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e
de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou
mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado
ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado
de resistência (BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2019, on-line).

Neste artigo, está o chamado princípio do devido processo legal, que é a necessidade do
atendimento às formas prescritas por lei para que seja possível que a pessoa seja acusada, presa ou
detida. Destaca-se também que, ainda que arbitrária, o cidadão deve obedecer imediatamente para
não incorrer em resistência. Outro ponto importante é a preocupação com a vedação ao abuso do
poder, inclusive, podendo ser punidos os abusadores. Malheiro (2018, p. 8) lembra que, “[...] na
forma da Declaração, a sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua
administração”.

O Art. 8º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


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“Art. 8.º A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode
ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente
aplicada” (BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2019, on-line). A-

Apresenta o princípio da proporcionalidade das penas e o princípio da anterioridade. Pelo primeiro,


as penas devem ser proporcionais aos delitos, ou seja, não posso condenar à morte quem roubou,
por motivo de fome, uma maçã e deixar livre uma pessoa que matou três crianças atropeladas. A
cada um deve se dar a pena justa e proporcional. No segundo caso, não se pode punir alguém sem
que haja uma lei dizendo que aquilo é crime, tampouco posso elaborar uma norma tornando crime
algo para punir alguém que já cometeu a ação.

O Art. 9º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


“Art. 9.º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se se julgar
indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser
severamente reprimido pela lei” (BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS, 2019, on-line).

Prevê o princípio da presunção de inocência, consagrado também na Constituição brasileira de


1988 (BRASIL, 1988, on-line) e, novamente, a vedação ao abuso de poder.

O Art. 10 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


“Art. 10º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que
sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei” (BIBLIOTECA VIRTUAL DE
DIREITOS HUMANOS, 2019, on-line).

Consagra, além da liberdade de expressão, direito fundamental também garantido em nosso


ordenamento jurídico, a liberdade religiosa, contudo desde que não perturbe a ordem pública, ou
seja, ela não é absoluta.

Demais Artigos
Os demais artigos ainda tratam da liberdade de expressão, do monopólio estatal da força, do
pagamento de tributos, como dever e capacidade contributiva, do dever de verificar as contas
públicas, do dever de prestação de contas pelo agente público, da garantia dos direitos
fundamentais e separação dos poderes e dos direitos de propriedade (inviolável e sagrado), sem o
reconhecimento de sua função social ainda.

Como vimos, o documento francês foi um grande passo em direção ao que hoje conhecemos como
direitos humanos. Há um documento posterior, datado de 1948, que se tornou ainda mais
importante. Vamos ao seu estudo.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve uma preocupação pelo restabelecimento dos
direitos humanos, até então destroçados na guerra, que viu acontecer catástrofes, tendo seu ápice
na prática alemã de perseguição aos judeus, o chamado holocausto.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos nasce, portanto, após esse conturbado momento
vivido pela humanidade, provocado, na madrugada de 1º de setembro de 1939, pelo exército
alemão, que, sob as ordens de Adolf Hitler, atravessou a fronteira da Polônia.

É elaborada por diversos representantes de diferentes países, origens jurídicas e culturas buscando
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fazer constar em um único documento os desejos de toda a humanidade (um desejo, admitamos,
muito ousado), proclamada em 10 de dezembro de 1948 em assembleia na sede das Nações
Unidas. A-

Essa norma, conforme consta no site das Nações Unidas, ONU, já foi traduzida para mais de 500
idiomas diferentes, sendo, portanto, o documento mais traduzido no mundo. Além disso, serviu e
serve de inspiração para as constituições democráticas desde o seu nascimento.

FIQUE POR DENTRO
Vítimas Judias e o Holocausto

A política nazista de extermínio perpetrada na Europa e que culminou na morte de seis milhões
de judeus tornou-se, atualmente,tema célebre para diversas produções midiáticas. Diante dessa
presente demanda,a memória social sobre as vítimas judias da Segunda Guerra (1939-1945)
toma novos sentidos. Portanto, ao contrário do que vemos atualmente, o genocídio dos judeus na
Segunda Guerra era pouco explorado, pouco debatido e pouco noticiado.Longe de ser um pesado
arquivo morto, já acabado e definitivo, a memória se caracteriza por suas sucessivas
deformações, que a torna aberta à dialética do lembrar e do esquecer e vulnerável a
manipulações e apropriações (NORA, 1984).Nesse sentido, esse artigo busca mostrar a
cobertura jornalística do pós-guerra(1945), no jornal Folha da Manhã, e como estava sendo
construída uma memória social acerca das vítimas judias que diverge do que presenciamos hoje
como a memória do Holocausto. Fique por dentro no link a seguir.

http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/9o-encontro-2013/artigos/gt-historiografia-
da-midia/vitimas-judias-e-o-holocausto-um-trabalho-da-memoria

O tema holocausto, em que pese ser muito utilizado como argumento para encerrar qualquer
questão, não pode por isso ser esquecido. É preciso que essa memória se mantenha viva para que a
humanidade não corra o risco de vê-la se repetir.

Falando sobre a Declaração Universal dos Direitos do Homem, 1948


Ricardo Castilho, ao falar da Declaração Universal, afirma:

Trata-se, aqui, nada menos, do que da declaração que consolida a afirmação de uma ética
mundial para os valores relativos aos direitos humanos. Versando sobre direitos civis,
políticos, sociais, econômicos e culturais – num avanço considerável para a época –, logrou
enumerar definitivamente os direitos e liberdades fundamentais a que a Carta de São
Francisco apenas havia feito referência genérica. Foi aprovada pela Resolução 217 A (III) da
Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 10 de dezembro de 1948. Votaram a favor 40
países, contra 8 que se abstiveram (África do Sul, Arábia Saudita, Bielo-Rússia, Iugoslávia,
Polônia, Tchecoslováquia, Ucrânia e União Soviética). Nenhum país votou contra. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura, no seu art. I, que “todos os homens
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem A+
agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. No art. II, detalha-se essa
liberdade: Todo homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos A-
nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou
qualquer outra condição. Em outras palavras, o documento trata da chamada “cidadania
universal” e visa proteger os direitos de homens, mulheres e crianças de todo o mundo,
independentemente de raça, cor ou religião. Os seus 30 artigos discorrem sobre o direito à
alimentação, ao trabalho, à saúde e à educação – direitos econômicos, sociais e culturais –,
bem como o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, o direito de ir e vir, o direito de
liberdade de expressão e pensamento – além dos direitos políticos, entre tantos outros. A
Declaração coloca a dignidade da pessoa humana como núcleo de todos os direitos
humanos. Tendo sido aprovada como Resolução, não tomou a forma de um tratado
multilateral, o que deu margem a questionamentos sobre sua força vinculante, já que
Resolução não possui força de lei. Não temos qualquer receio em afirmar que a Declaração
tem força jurídica vinculante plena (2018, p. 141).

Sendo a dignidade da pessoa humana o núcleo de todos os direitos humanos, como afirmou
acertadamente Castilho, é importante entender do que ela se trata. Ela é “[...] o valor supremo que
agrega em torno de si a unanimidade dos demais direitos e garantias fundamentais do homem, [...]
corroborando para um imperativo de justiça social”, afirma Uadi Lammêgo Bulos (2002, p. 49-50), e
continua: “[...] sua observância é, pois, obrigatória para a interpretação de qualquer norma
constitucional, devido à força centrípeta que possui, atraindo em torno de si o conteúdo de todos
os direitos básicos e inalienáveis do homem”.

A respeito da dignidade da pessoa humana, diz Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira:

As pessoas são dotadas [...] de “razão e consciência” na consecução desses direitos,


afastando digressões e argumentações de cunho religioso ou metafísico. Aliás, eventual
fundamentação da existência dos direitos humanos a partir de uma entidade divina ou
metafísica dificultaria ou mesmo impediria o reconhecimento desses direitos como
universais em importantes regiões do planeta. Não obstante a importância de um ente
criador (Deus) nas religiões abraâmicas monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo),
outras de tronco oriental não concebem a figura de um demiurgo (criador), como o Budismo,
religião não teísta fortemente presente em países do sul asiático (Tailândia, Myanmar,
Vietnã, Sri Lanka, Laos, Camboja) e demais como China, Tibete,14 Butão, Nepal, Japão,
Coreia do Sul etc. No mesmo sentido o jainismo, religião de origem indiana, que não concebe
a figura de um criador. Já o hinduísmo, religião milenar, de intensa manifestação na Índia,
possui feições distintas do monoteísmo ocidental. Esses são apenas alguns exemplos da
opção desses direitos se assentarem na “razão e consciência”, sem que isso obste a pessoa de
professar livremente suas convicções religiosas e seus credos (2016, p. 91).
Sidney Guerra, a respeito da dignidade da pessoa humana e sua inserção do ordenamento jurídico
brasileiro, fruto da previsão da Declaração Universal, e da importância para o país, diz:

[...] a constitucionalização da dignidade da pessoa humana no ordenamento jurídico


brasileiro denota a importância que o princípio assume no âmbito nacional. Dentre suas A+

diversas funções, destacam-se as seguintes: a) reconhecer a pessoa como fundamento e fim


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do Estado; b) contribuir para a garantia da unidade da Constituição; c) impor limites à
atuação do poder público e à atuação dos cidadãos; d) promover os direitos fundamentais; e)
condicionar a atividade do intérprete; f) contribuir para a caracterização do mínimo
existencial. O reconhecimento da dignidade da pessoa como fundamento do Estado
brasileiro aponta para a grande valorização que nosso sistema atribui aos direitos humanos
(2017, p. 123).

A Declaração possui 30 artigos e, como vimos, comporta em seu conteúdo desde direito civis e
políticos, passando por direitos econômicos, culturais e sociais, chegando na universalidade,
interdependência e indivisibilidade dos direitos humanos.

A análise dos artigos proposta por Leonardo Caldeira Nemer Brant apresenta a seguinte conclusão:

Art. 3º: prevê o direito à vida, à liberdade e à segurança da pessoa.

Art. 4º: proíbe a escravidão e a servidão.

Art. 5º: proíbe a tortura e as penas cruéis desumanas ou degradantes.

Art. 6º: reconhece personalidade jurídica a todo ser humano.

Art. 7º: estabelece o direito a ser protegido por lei contra violações dos direitos fundamentais.

Art. 8º: reconhece o direito de recurso aos tribunais nacionais competentes.

Art. 9º: reconhece as garantias contra a detenção, a prisão e o exílio arbitrários.

Art. 10º: reconhece o direito a uma justiça independente e imparcial.

Art. 11: reconhece o direito à presunção de inocência e a não retroatividade da lei.

Art. 12: o direito à vida privada.

Art. 13: o direito de ir e vir e de escolher livremente o local de sua residência.

Art. 14: o direito de asilo.

Art. 15: o direito a uma nacionalidade.

Art. 16: reconhece a igualdade de direitos entre o homem e a mulher de acordo com o matrimônio
e a proteção especial à família.

Art. 17: o direito à propriedade individual e coletiva.

Art. 18: prevê a liberdade de pensamento, de consciência e de religião.

Art. 19: contempla a liberdade de opinião, de expressão e o livre acesso à informação.

Art. 20: a liberdade de reunião e associação pacífica.


Art. 21: o direito de participar do governo e de eleições periódicas e o direito de acesso ao serviço
público do país.

Art. 22: prevê o direito à segurança social em nível de vida digno.

Art. 23: o direito ao trabalho, à livre escolha, garantindo um salário igual por um trabalho A+
correspondente e garante ainda a liberdade sindical.
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Art. 24: o direito ao descanso e ao lazer no tempo livre.

Art. 25: o direito à saúde, ao bem-estar social, o tratamento especial à maternidade e às crianças.

Art. 26: o direito à educação.

Art. 27: o direito de fazer parte livremente da vida cultural e científica da comunidade, assim como
os direitos do autor.

Art. 28: o direito a uma ordem social e internacional na qual os direitos e liberdades proclamados
pela Declaração sejam plenamente efetivados.

Art. 29: no que se refere aos deveres da comunidade, reconhece os deveres e liberdades do outro,
cujo exercício deve se dar em observância e conformidade com os propósitos e princípios das
Nações Unidas.

Art. 30: nada na Declaração poderá ser interpretado no sentido de justificar atos tendentes à
supressão de qualquer dos direitos ou liberdades inscritos nesse documento.

A Declaração teve forte influência em todo o ordenamento jurídico mundial, e a maioria dos seus
artigos é vista nas constituições democráticas promulgadas após 1948.

Os Sistemas de Proteção dos Direitos Humanos


Os sistemas de proteção dos direitos humanos são divididos da seguinte forma:

a) O Sistema Global ou Sistema da ONU.

b) Os Sistemas Regionais: compostos pelos sistemas europeu, asiático, africano e interamericano.

O Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos


Como visto, o Sistema Internacional é aquele que tem como órgão máximo a Organização das
Nações Unidas. Vejamos o histórico desse sistema internacional. Em 1945, temos o nascimento das
Nações Unidas, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Observe no infográfico a seguir os
acontecimentos que se sucederam.
Acontecimentos
A+
Históricos
do Sistema A-

Internacional

E quais seriam os motivos para se internacionalizar os direitos humanos?

Os direitos humanos, diferentemente do direito ambiental, não é um tema internacional por si


mesmo. Questiona-se, então, qual a justificativa para a sua internacionalização. O que justifica a
internacionalização é o repúdio aos horrores da Segunda Guerra Mundial e as barbáries nazistas.
Outras explicações vão no sentido de que há Estados recém-independentes que não foram
sensibilizados. Os Estados reconhecem a internacionalização, ratificando tais pactos para que
demonstrem, pelo menos na retórica, que não compactuam com práticas violadoras. Dessa forma,
garante-se legitimidade no plano internacional.

Os Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos Humanos


Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a criação das Nações Unidas e da Declaração Universal
dos Direitos Humanos, o ato seguinte foi a regionalização dessa nova cultura de proteção.
Primeiramente, houve a criação do Sistema Europeu (antes da ONU), depois disso nasceu o sistema
interamericano e, por fim, o Sistema africano. O continente asiático ainda não possui um sistema.

O Sistema Europeu de Direitos Humanos


O primeiro e mais bem desenvolvido sistema surgiu na Europa, segundo Oliveira:

Insere-se no âmbito do Conselho da Europa, criado em maio de 1949 com o objetivo de


realizar uma união mais estreita entre os países europeus, a fim de salvaguardar e de
promover os ideais e os princípios que são o seu patrimônio comum e de favorecer o seu
progresso econômico e social, assim como o respeito pela democracia, pelos direitos
humanos e pelo Estado de direito. Em resposta às atrocidades da Segunda Guerra Mundial
em solo europeu, era necessário um documento que enunciasse os direitos e liberdades da
pessoa humana. Para tanto, em 4 de novembro de 1950 foi a aprovada a Convenção para a
Proteção dos Direitos dos Homens e das Liberdades Fundamentais, que inaugura o sistema
regional (2016, p. 136).

Proposta na Convenção Europeia de Direitos Humanos, enunciou direitos como: vida, proibição de
tortura, proibição de escravatura e trabalhos forçados, liberdade, segurança, expressão, reunião e
casamento, entre outros. Em síntese, direitos civis e políticos; os econômicos, sociais e culturais
foram previstos em outro documento, a Carta Social Europeia.
Sistema Regional Interamericano de Direitos Humanos
A respeito do Sistema Regional Interamericano ensina Oliveira:

Como organismo regional do pós-Segunda Guerra Mundial, a Organização dos Estados A+

Americanos (OEA) foi fundada em 1948, durante a Nona Conferência Internacional


A-
Americana, realizada em Bogotá (Colômbia), com a participação de 21 Estados, que
assinaram a Carta da OEA, que entrou em vigor em dezembro de 1951. A Carta da OEA
sofreu modificações, mediante protocolos, em quatro ocasiões: Buenos Aires, 1967;
Cartagena das Índias, 1985; Washington, 1992; Manágua, 1993. Além da Carta da OEA,
durante essa conferência foram aprovados também o Tratado Americano sobre Soluções
Pacíficas (Pacto de Bogotá) e a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. O
Pacto de Bogotá obriga que a solução das controvérsias internacionais entre os Estados
membros deve ser submetida aos processos de solução pacífica, conforme a Carta da OEA,
como a “negociação direta, os bons ofícios, a mediação, a investigação e conciliação, o
processo judicial, a arbitragem e os que sejam especialmente combinados, em qualquer
momento, pelas partes” (art. 25 da Carta da OEA). Já a Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem, adotada em 2 de maio de 1948, é a primeiro documento internacional
de direitos humanos na leitura contemporânea, e antecedeu em alguns meses a edição da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é de 10 de dezembro de 1948 (2016, p.
48).

A OEA é composta pela Assembleia Geral, Conselhos, Comissão Jurídica Interamericana, Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, Conferências Especializadas e Organismos Especializados,
entre outros. A Assembleia Geral é o órgão máximo da OEA.

A Proteção dos Direitos do Homem Americana abarca temas como: vida, segurança, integridade,
igualdade, liberdade religiosa, liberdade de investigação, opinião e difusão de pensamento,
proteção à honra, reputação pessoal, vida particular e familiar, proteção da família, residência e
trânsito, inviolabilidade do domicílio, saúde e bem-estar, educação, cultura, trabalho e descanso,
entre outros.

O Sistema Africano de Direitos Humanos


É o sistema mais recente de proteção aos direitos humanos. fruto da:

[...] Carta Africana de Direitos do Homem e dos Povos, também conhecida como Carta de
Banjul (Gâmbia), adotada pelos membros da Organização da Unidade Africana em 26 de
junho de 1981, em Nairóbi, no Quênia. Importante relacionar que a Organização da
Unidade Africana foi sucedida pela União Africana, criada em 2002, e se compõe de 54
países, sendo que o único país africano não integrante é o Reino de Marrocos. Na Carta
Africana insere-se ainda o Primeiro Protocolo à Carta Africana de Direitos dos Homens e dos
Povos, que instituiu o Tribunal Africano de Direitos Humanos e dos Povos, aprovado em
Sharm-el-Sheikh, no Egito, na data de 1 de julho de 2008 (OLIVEIRA, 2016, p. 141).

Ela tratou dos direitos civis, políticos, econômicos e culturais em seu texto. Ela reconhece:
[...] a princípio, que “Toda a pessoa tem direito ao gozo dos direitos e liberdades reconhecidos
e garantidos na presente Carta, sem nenhuma distinção, nomeadamente de raça, de etnia,
de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou de qualquer outra opinião, de
origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação” (art. 2º). A+
Assim como os sistemas congêneres (europeu e interamericano), assenta-se na igualdade e
não discriminação. Em seus artigos iniciais, a Carta Africana enuncia a inviolabilidade da A-

vida e como tal todo o ser humano tem o direito ao respeito da sua vida e à integridade física
e moral da sua pessoa, ninguém podendo ser arbitrariamente privado desse direito (art. 4º).
Em seguida, adentra no direito ao respeito da dignidade inerente à pessoa humana e ao
reconhecimento da sua personalidade jurídica, o que implica enunciar que “todas as formas
de exploração e de aviltamento do homem, nomeadamente a escravatura, o tráfico de
pessoas, a tortura física ou moral e as penas ou os tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes são interditas” (art. 5º). Essa é uma passagem particularmente significativa aos
africanos, que conviveram (e convivem) por séculos com inúmeras formas de exploração
(OLIVEIRA, 2016, p. 141).

Além disso, em seus artigos tratou da igualdade, liberdade, segurança, garantias judiciais,
associação, reunião, educação, cultura, propriedade, família e saúde, dentre outros temas.

Há ainda outros documentos, como a Carta Democrática Interamericana, que adotaram uma
cláusula democrática, que diz que:

[...] qualquer alteração ou ruptura inconstitucional da ordem democrática em um Estado do


Hemisfério constitui um obstáculo insuperável à participação do Governo do referido Estado
na Cúpula das Américas. Após esse encontro foi possível, assim, o estabelecimento da Carta
Democrática Interamericana (OLIVEIRA, 2016, p. 157).

Direitos Humanos e o Mercosul


Em março de 1991, foi criado, em Assunção, por meio de um tratado, o Mercado Comum do Sul,
Mercosul. Em 1994, foi aprovado o Protocolo Ouro Preto, que estabeleceu a estrutura dele. Seu
objetivo principal era a integração dos Estados-partes para a livre circulação de bens, serviços e
fatores produtivos.
REFLITA
Bons negócios não significam justiça social A+

Deyse Ventura e Marcos Rolim propõem em seu artigo “Direitos Humanos” o seguinte
A-
questionamento:

O simples aumento do volume dos “bons negócios” não seria capaz de


contrastar os agenciamentos que produzem a injustiça social e a violência
que marcam tão agudamente as nossas sociedades. É necessário, portanto,
que a integração seja orientada por objetivos de “vida boa”, o que pode ser
traduzido, da filosofia para a política, como uma exigência de programas
eficazes e metas claras para a garantia universal dos Direitos Humanos.
Por tudo isto, parece mais eficaz estruturar a abordagem dos Direitos
Humanos no MERCOSUL, não sob o prisma da integração econômica em
geral e de sua relação com a democracia, como se faz ordinariamente, mas a
partir das urgências sociais da região e, ademais, de modo pró-ativo,
recorrendo ao exemplo europeu apenas de maneira incidente. Para isso, um
enfoque não viciado pela formalidade, comprometido em combater a
irrelevância dos Direitos Humanos nas negociações deste jovem bloco latino-
americano, exigiria duas mudanças preliminares: primeiramente, a
dissolução dos feudos temáticos (1) e, ato contínuo, o surgimento, no cenário
político do MERCOSUL, da sociedade civil comprometida com os Direitos
Humanos como uma interlocutora privilegiada
Você concorda com eles? O Mercosul e os direitos humanos devem ser focados não na relação
comercial entre países, mas nas mazelas sociais da região sul-americana? Reflita mais acessando
o texto a seguir.

http://www.dhnet.org.br/direitos/mercosul/a_pdf/rolim_dh_mercosul.pdf.

Contudo, a proteção aos direitos humanos não foi esquecida, e seu principal documento é o
Protocolo de Assunção sobre Compromisso com a Promoção e a Proteção dos Direitos Humanos
do Mercosul.

Segundo Oliveira,

O Protocolo de Assunção sobre Compromisso com a Promoção e a Proteção dos Direitos


Humanos do Mercosul foi assinado na cidade Assunção, Paraguai, em 20 de junho de 2005.
No processo de incorporação no ordenamento pátrio, o Congresso Nacional aprovou por
meio do Decreto Legislativo nº 592, de 27 de agosto de 2009, e o Governo brasileiro
depositou o instrumento de ratificação do referido Protocolo junto ao Governo do Paraguai,
depositário do referido ato, em 4 de março de 2010, entrando em vigor para o Brasil, no
plano jurídico externo, em 3 de abril de 2010; e finalmente a promulgação por meio do
Decreto nº 7.225, de 1º de julho de 2010. O Protocolo de Assunção é parte integrante do
Tratado de Assunção, que criou o Mercosul. [...] Para o Protocolo de Assunção dois são os
elementos para que avance a integração entre as partes no Mercosul: (a) instituições
democráticas e (b) a proteção aos direitos humanos e liberdades fundamentais. Em sua
redação, “a plena vigência das instituições democráticas e o respeito dos direitos humanos e
das liberdades fundamentais são condições essenciais para a vigência e evolução do
processo de integração entre as Partes (art. 1º)”. Para tanto, a cooperarão mútua é
necessária para a promoção e proteção efetiva dos direitos humanos e liberdades A+
fundamentais através dos mecanismos institucionais estabelecidos no Mercosul (art. 2º)
(2016, p. 67). A-

Recentemente, o Mercosul, que estava deixado de lado, fez uma aproximação com a União
Europeia, que poderia render bons frutos comerciais, contudo ainda há uma série de aprovações
que devem ser vencidas para a assinatura de um possível tratado de parceria entre esses dois
blocos.

O Tribunal de Nuremberg
O Tribunal de Nuremberg possui uma grande importância para os direitos humanos no âmbito
internacional. Como falamos aqui, a ONU nasceu em virtude do fim da Segunda Guerra Mundial,.
Para além disso, o mundo ficou horrorizado com tamanhas barbaridades realizadas durante a
guerra, em especial, pelo nazismo alemão.

SAIBA MAIS
“O Tribunal de Nuremberg e Polêmica das Sanções Adotadas”

Aborda a temática dos direitos humanos nas sanções aplicadas pelo Tribunal de Nuremberg, que
julgou alguns dos líderes nazistas devido às violações ocorridas durante a Segunda Guerra
Mundial. Ao se tratar do tribunal alemão, avalia-se a questão das violações dos direitos
fundamentais com a realização de um tribunal de exceção e ausência da escolha de advogados
pelos réus. As graves violações, no entanto, exigiam uma resposta, pois criminosos ficariam
impunes. O referido tribunal “ad hoc” serviu de base para a criação do Tribunal Penal
Internacional, com sede em Haia.  Para saber mais, acesse o link a seguir.

http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/nuremberg/trevizan_nuremberg_sancoes.pdf

Sempre que alguém se propõe a estudar, em especial o(a) aluno(a) das disciplinas jurídicas, como os
Direitos Humanos, a história da humanidade, o Tribunal de Nuremberg traz ao estudioso ideias
importantes para avançarmos como espécie. Ora, um tribunal criado para julgar os crimes de
guerra praticados pelo regime nazista é um tema muito essencial para o estudo. Não deixe de ler
artigos sobre o tema!

O tribunal funcionou por 135 dias e julgou 24 pessoas. A ideia era dar a eles um julgamento justo,
diferente daqueles com os quais julgaram. Os principais réus de Nuremberg foram Hermann
Görring, número 2 na hierarquia nazista, Albert Speer, ministro de armamentos do Reich, Rudolf
Hess e karl Dönitz.

A+

O Tribunal Penal Internacional A-

O Tribunal Penal Internacional (TPI) tem sede em haia (Países Baixos), e iniciou suas atividades em
2002. Regido pelo princípio da complementaridade,

[...] o Tribunal processa e julga indivíduos acusados de crimes de genocídio, crimes contra a
humanidade, crimes de guerra e, desde 17 de julho de 2018, crimes de agressão.
Diferentemente da Corte Internacional de Justiça, que examina litígios entre estados, o TPI
julga apenas indivíduos. A existência do Tribunal contribui para prevenir a ocorrência de
violações dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, além de coibir
ameaças contra a paz e a segurança internacionais. O TPI examina, atualmente, 21
situações, sendo 11 investigações (Uganda, República Democrática do Congo,
Darfur/Sudão, República Centro-Africana, Quênia, Líbia Côte d'Ivoire, Mali, República
Centro-Africana II, Geórgia e Burundi) e 10 exames preliminares (Afeganistão, Colômbia,
Guiné-Conacri, Iraque/Reino Unido, Nigéria, Palestina, Filipinas, Bangladesh/Myanmar,
Ucrânia e Venezuela). O Brasil depositou seu instrumento de ratificação do Estatuto de
Roma em 20 de julho de 2002. O tratado foi incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro
por meio do Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002. Atualmente, o Estatuto de Roma
conta com 122 estados partes – dos quais 33 são africanos; 28 latino-americanos e
caribenhos; 25 do grupo da Europa Ocidental e Outros; 18 da Europa do Leste e 18 da Ásia
e Pacífico. Todos os países da América do Sul são partes do Estatuto. A partir de 1º de junho
de 2019, a Malásia tornar-se-á o 123º estado parte. Como qualquer instrumento jurídico
internacional, o Estatuto de Roma é produto de seu tempo e é passível de ajustes para seu
aprimoramento. O Brasil tem exercido papel de liderança nas reuniões em que os estados
partes tratam de ajustes com vistas a promover maior aceitação e a consolidação do TPI – a
exemplo das discussões que levaram à adoção, em 2010, na Conferência de Revisão de
Campala (Uganda), das emendas relativas ao crime de agressão, que estabelecem as
condições para que o TPI possa exercer sua jurisdição sobre esse crime. O Brasil está
comprometido com o processo de ratificação dessas emendas, o qual se encontra em
andamento. A brasileira Sylvia Steiner integrou o corpo de juízes do TPI. Tendo cumprido
mandato até 2012, continuou a exercer suas funções até a conclusão de caso no qual
atuava. Hoje, ela é membra do Comitê Consultivo para Nomeações do TPI (BRASIL, 2019,
on-line).

O Tribunal Penal Internacional era um desejo antigo de juristas, filósofos e políticos, e a ideia era
um tribunal capaz de julgar crimes de comoção internacional, sem que fossem esquecidos os
princípios do Estado Democrático de Direito.
SAIBA MAIS
Os Direitos Humanos e o Tribunal Penal Internacional A+

Como resultado de um longo processo histórico de apreciação aos direitos humanos, o Tribunal
A-
Penal Internacional se estabelece como o primeiro órgão de jurisdição internacional de caráter
permanente com o objetivo de pôr fim à impunidade dos autores de crimes que afetam a
comunidade internacional em seu conjunto. O Tribunal decorre do desenvolvimento de uma
cidadania mundial em que todos os atores sociais devem zelar pela perpetuação da paz mundial e
reprimir os atos que ameacem perturbá-la. Esse estudo visa delinear o contexto de surgimento
do Tribunal Penal Internacional bem como seus princípios basilares e limites de jurisdição, e
pretende, ainda, analisar a sua contribuição para a efetivação dos direitos humanos. Para saber
mais, acesse o link a seguir.

https://juridicocerto.com/p/canedo-e-silva-adv/artigos/os-direitos-humanos-e-o-tribunal-penal-
internacional-3261

É importante destacar a importância do TPI para a concretização dos direitos humanos. Ora, se por
direitos humanos nós entendemos (e falamos isso durante todo esse trabalho) que são aqueles
destinados a toda a humanidade, nada mais justo que crimes que ofendam esses direitos em nível
internacional sejam assim julgados.

02:48
A+

INDICAÇÃO DE LEITURA
A-
Homo sacer: o poder soberano e a vida nua
Autor: Giorgio Agamben

Ano: 1995

Editora: UFMG

ISBN: 10:8570413076

Sinopse: Em seu livro, Giorgio Agamben propõe uma leitura reflexiva e, ao mesmo tempo,
instigante sobre a figura do homo sacer, usando-a para discutir o poder soberano na
sociedade moderna e contemporânea, utilizando o pensamento de Hannah Arendt, Karl
Schmitt, Alain Badiou, Emile Durkheim, Walter Benjamin e outros, mas com especial atenção
à obra de Michel Foucault. Trata dos paradoxos da sacralidade da vida humana, que é um
problema filosófico também ligado aos direitos humanos. O principal argumento vai de
encontro à proteção sacra da vida e a captura e a ameaça com a exceção. A arqueologia do
homo sacer remete à problemática da sacralidade da vida, que perpassa de muitas formas a
história da ética e da filosofia política ocidental. A formulação de alguns vestígios de sua
arqueologia nos possibilitará manter uma postura crítica com nosso presente, em especial na
relação que estabeleceu entre a vida humana e os dispositivos de poder.

Considerações Finais
Caro(a) estudante, finalizando esta unidade é hora de refletirmos. A importância da proteção aos
direitos humanos é a marca da sociedade moderna. Em que pesem as graves falhas nessa proteção,
avançamos nos últimos 70 anos de forma coesa e retilínea. Os seres humanos conseguiram chegar
ao status de iguais.

Não há mais o bárbaro, o objeto, o monstro à espreita. Há seres humanos, com suas idiossincrasias,
suas verdades, sua cultura e um mundo imenso que precisa tratar delas e fazer com que
funcionemos como cidadãos do mundo, e não apenas da nossa região geográfica. Os temores das
guerras, do próprio holocausto, ainda não abandonaram nossa espécie.

A proteção dos direitos humanos é o bastião para que não precisemos ver novamente do que
somos capazes para então pensarmos novamente em proteção.
Atividade
Fernando passeava por Paris quando se deparou com uma feira. Entre aquela grande quantidade produtos, verificou que A+
uma banca possuía diversas fotos de crianças em um catálogo. Ao perguntar para a vendedora se o produto que ela oferecia
eram fotos de meninas, ela riu e disse: “Eu vendo crianças!”. De posse do conhecimento de direitos humanos, responda: A-

É possível a venda de crianças, já que a França só protege os direitos do homem.

Só é possível a venda de crianças devidamente compradas de seus pais biológicos com a devida assinatura do Certificado de
Compra de Humanos.

Não é possível a venda de crianças brancas.

Caso Fernando decida comprar uma criança; ele deverá registrá-la como se filha sua fosse.

Os direitos humanos compreendem a toda espécie humana, não havendo distinção entre sexo, cor, gênero etc.

Atividade
“Todo camburão tem um pouco de navio negreiro.” A música da banda O Rappa faz alusão a dois componentes: um histórico
e outro atual. Com base nos direitos humanos, a música do Rappa diz respeito, respectivamente:

À violência do senhor de engenho e à escravidão.

À violência policial e à escravidão.

À escravidão não é considerada afronta aos direitos humanos, pois os negros naquele período não eram considerados
humanos.

Ao camburão, que é um carro da polícia para carregar potenciais bandidos. Não para defender direitos humanos.

Ao navio negreiro, que diz respeito aos bandidos que eram carregados nos seus porões iguais aos bandidos nos camburões.

Atividade
O Tribunal de Nuremberg foi instituído para julgar os crimes cometidos pelo Partido Nazista na Alemanha e em outros
países. Os crimes do nazismo contra os direitos humanos foram, além de outros:
O holocausto e a defesa da identidade americana.

As pesquisas com seres humanos vivos e a amizade com a Rússia.

A+
A forma correta de execução em períodos de guerra.

A-
Julgar os kamikazes japoneses pela destruição de armamento militar do Japão.

Crimes contra a humanidade (holocausto).

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