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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ

CAMPUS CLÓVIS MOURA

NOME: AMANDA IAMARA DE SOUSA DA SILVA

GEOGRAFIA BLOCO – I PROFESSOR: JOÃO PAULO CENTELHAS

DISCIPLINA: EPISTEMOLOGIA DA GEOGRAFIA

RESENHA

SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da crítica da Geografia a uma


Geografia Crítica. 6ª edição. São Paulo: Edusp, 2004.

Influenciado pelos ideais de Karl Marx, Milton Santos nos anos 70 através de sua
obra “Por uma Geografia Nova” dá inicio ao movimento da chamada Geografia
Crítica ou Marxista fornecendo uma visão problematizadora do espaço através de
sua análise crítica. Servindo-se da Concepção Materialista, Milton estrutura seu
pensamento abordando o modo de produção do espaço através do trabalho e das
relações sociais, destacando o papel do homem em seu meio, posicionando o
espaço como resultado das ações humanas, um produto sócio-histórico, meio e
condição das práticas sociais.

Diante disso, se contrapondo às abordagens tradicionais positivistas que serviram


de base para o pensamento geográfico e suas abordagens até então, que
negligenciavam as relações de classe e de controle estatal no ordenamento espacial
da sociedade, “Por uma Geografia Nova” introduz uma maneira inédita de pensar o
espaço e o homem.

As partes analisadas que serviram para compor esta resenha são referentes aos
capítulos 16, 17 e 18, respectivamente, que em conjunto possuem 57 páginas. Os
capítulos são subdivididos em tópicos para uma melhor assimilação do conteúdo. O
foco narrativo da obra é dirigido para graduandos em geografia, pois, dialoga com
disciplinas de cunho epistemológico e histórico do pensamento geográfico.

No capitulo “Estado e Espaço: O Estado - Nação como Unidade Geográfica de


Estudo’’, Milton trabalha a partir da concepção de uma sociedade mundial que fez
resultar em um espaço total onde o domínio ou soberania desse espaço é exercido
pelos Estados - Nação que são os curiosamente influenciados pelos denominados
países desenvolvidos, sobretudo por conta do poderio tecnológico.

Para desenvolver seu raciocínio, Milton aborda as novas funções do Estado


destacando os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Para isso,
primeiramente é denominada a noção de estado vigente pré e pós-tecnologia,
grandemente impulsionada pelo desenvolvimento capitalista, fez com que o conceito
se alterasse, pois o novo status de estado é aquele em que suas práticas e políticas
sejam direcionadas, sobretudo, a interesses econômicos mundiais. Isso, segundo
Milton:

“É um grande problema, pois resulta em desconhecimento das


verdadeiras riquezas nacionais pela maior parte dos países, o
papel das minorias no interior de cada nação; insatisfação
crescente das populações, principalmente das populações
pobres” (SANTOS, 2004, p. 221).

A partir disto, Milton irá destacar o papel do Estado em nações desenvolvidas e


subdesenvolvidas adiante se pode perceber que a influência das soberanias
nacionais ou Estados-Nações exercem sobre os países que são dependentes
(geralmente os subdesenvolvidos) se tornam evidentes através das práticas do
Estado em seus subespaços e em suas transformações espaciais.

Destaque para o papel do Estado para com a nação que com o novo modelo de
relações internacionais se torna o único mediador possível que pode criar meios
para possíveis melhorias acerca da sociedade e o seu desenvolvimento, o que
Milton designa de novos velhos problemas agravados, pois está apenas na mão do
Estado o futuro da nação que controla se tornando o responsável pelas
consequências de sua cumplicidade ou de sua resistência em relação aos interesses
do sistema capitalista mundial, transformações espaciais e atuação nos subespaço.
A ideia que é proposta é o contraste entre as relações que os Estados
desenvolvidos e subdesenvolvidos estabelecem. O primeiro geralmente com “mais
recursos” de acordo com o sistema capitalista se mostra como única alternativa de
crescimento frente aos subdesenvolvidos que em vez de investir em suas riquezas,
potenciais e valor juntamente com sua população, se coloca em uma posição que
sempre irá depender dos “soberanos” que vista a princípio como uma boa
alternativa, pode colaborar para agravar suas deficiências e submissão, e nem
sempre com as melhores condições para a população podendo agravar os seus
problemas, enquanto os desenvolvidos se beneficiam ainda mais da situação de
submissão destes.

O que se denota que enquanto exerce o seu desenvolvimento aumentando suas


relações externas, é também levado a se adaptar ás exigências que nascem de
suas relações internas, a nação a qual governa.

A defesa dos Estados – Nações serem uma unidade geográfica de estudo a que
Milton se refere, é o modo de como estes se torna coercitivo em nações buscam de
sair do seu estado de “fragilidade” tanto em suas relações econômicas como a
presença de multinacionais, que levam a sua nação de origem para adentrar a
nação refletindo também as práticas da população que tem o seu futuro incerto
definido pela dependência de outrem, e o esforço de seu trabalho entregue para
alimentar a riqueza de terceiros fomentando em impactos no espaço
correspondente, o que Milton traz em sua obra como uma dialética entre o macro
espaço, o Estado e o microespaço.

No capítulo “As Noções de Totalidade, de Formação Social e a Renovação da


Geografia” é abordado acerca das categorias e o método de analise do espaço
criticando veementemente os métodos adotados na práxis da ciência geográfica em
definir critérios de análise inadequados não levando em consideração o movimento
histórico das sociedades. Partindo desse pressuposto, Milton ao decorrer do capítulo
irá discernir as noções de Totalidade, Formação – Sociais e a importância destas
significações em suas individualidades, como também em sua interdependência
para o exercício de uma geografia mais justa.

A princípio, aborda-se a duração das categorias de análise e a utilização destas


em momentos adequados. Quanto às formações socioeconômicas é sugerido que
esta seria mais bem utilizada quando os países forem dotados de autonomia externa
e interna.

Após essa alfinetada, Milton aborda a questão do estado se tornar com o sistema
capitalista uma necessidade por conta de atribuir ás formações sociais instituições
necessárias a vida dos indivíduos, se colocando como essencial na vida destes por
definir as leis, regras, desenvolvimento, geração de empregos, qualidade de vida,
etc.

Porém, com o mesmo viés capitalista de economia mundial, e a imposição de


totalização do espaço ou mundo mundializado, através das práticas dos estados no
âmbito de suas relações internacionais em busca de um melhor desenvolvimento,
como abordado no capítulo anterior, a presença de produtos de outros países em
sua nação - a exemplo de multinacionais que faz com que sejam submissos em
relação ao país a que recorrem como menciona Milton em sua obra-, fazendo valer a
lei do mais forte, do país que tiver mais poderio.

No entanto, para uma melhor compreensão melhor da totalidade de maneira que


esta atenda interesses que possam servir para a real compreensão e utilização sem
mascaramento da realidade do panorama da realidade, a real formação social.
Diante disso, Milton explicita que a analise desta seja feita de modo que a geografia
se ocupe da totalidade social levando em contas os aspectos da vida social que são
importantes considerando que estes variam no decorrer do tempo.

Para isso os critérios de analise deverão ser encarados como variáveis, porém,
não da maneira que são encaradas do que Milton se refere em sua obra a enfoques
“espacialistas” tradicionais á geografia que fragmentam a realidade resultando em
uma analise que dista da concretude.

Isso se faz importante que as formações sociais sejam levadas em consideração


segundo a sua realidade histórica, pois assim a geografia considerando a sociedade
em sua inteireza esta não corre o risco de negligenciar os valores próprios ás
sociedade, e segundo o mesmo cita em sua obra “não estamos interessados nas
configurações espaciais por si mesmas”.

O que faz denotar que através desta reforma nos métodos e pensamento resultar
em uma Geografia que não se ocupe no espaço em si mesmo, não o distanciado
das práticas sociais que nele existe e que de certa forma o molda, levando a uma
melhor compreensão do espaço, da sociedade e da totalidade, pois ao encarar as
premissas do movimento histórico, temos assim, variáveis denominadas por Milton
como fixa e móvel. Fixa por conta de a história ser inerente a todos os indivíduos,
sociedades, e territórios, porém do mesmo modo a história é móvel, pois se
movimenta de modo diferente aos indivíduos, sociedades e territórios.

Diante disso, Milton nos faz refletir de que a formação social como um critério de
analise espacial se faz necessário para se fazer um estudo mais justo a respeito do
espaço territorial, como também do espaço total, já que ambos coexistem.

Para tanto é desenvolvido também no capítulo a noção de Formação Social e de


sociedade global para não serem confundida sendo a primeira algo individual a um
elemento que faz parte da sociedade global, que é a totalidade social coerente em
existência, a realidade e, diante disso posicionar a sociedade não apenas como
agente transformador do espaço, mas também, como um dos seus resultados,
assim fomentando a uma renovação na geografia abrangendo o seu pensamento e
o seu método de analise como também na utilidade desse estudo para com a
realidade de um dado lugar.

No capítulo “A noção de Tempo nos Estudos Geográficos”, Milton aborda a


dimensão temporal como uma variável importante para a compreensão da realidade
em seu âmbito de formação social espacial e também para a correta senão, perfeita
compreensão da Totalidade. Vemos, no entanto que este enfoque fora durante muito
tempo ou, negligenciada se referindo a geógrafos clássicos como Richard
Hartshorne ou, utilizado de modo incorreto, insuficiente e deixado de lado.

Para mudar este paradigma, Milton no decorrer do capítulo de modo analítico,


aborda os motivos desta variável não ter vingado na ciência geográfica de modo
eficiente e aponta os caminhos que devem ser seguidos através da reflexão para
que esta seja um fator importante para a compreensão da realidade total.

A princípio é destacado o negligenciamento da dimensão temporal que os


geógrafos adotara para a compreensão do espaço trata-se de um “preconceito”,
como Milton destaca neste capítulo, semelhante ao que Marshall exercera na
construção de seu sistema econômico ao negligenciar a dimensão espacial.
Isso resultou na Geografia, abordagem temporal na geografia histórica e
respectiva que se assemelha a um terreno de eleição que consiste mais em uma
apresentação de problemas e em relações espaço-tempo estabelecidas em teorias
difusionistas concebidas através da dedução que não vingaram devido à realidade
funcionar de outra maneira.

Ao abordar a teoria da Difusão de Inovações, Milton ao reconhecer que esta


servira para formular e renovar teorias espaciais aponta que esta não vingara por
confusões e também por faltar base na realidade objetiva. A realidade objetiva a
qual Milton se refere é por conta da teoria deduzir a uma igualdade de condições
entre lugares e pessoas, como também uma ordem temporal rígida que difere da
realidade como já refletido no capítulo anterior, ser errôneo, pois cada lugar tem sua
história, sua especificidade.

Através destas proposições, Milton coloca que a ciência geográfica encare o


tempo como uma variável e não como uma quantificação rígida e imutável, mas de
existência, pois o espaço social não pode ser explicado sem o tempo social, de
maneira que o tempo também não se limite a concepção kantiana de experiência
nem tampouco simples relações entre objetos e eventos.

Diante ao que fora colocado, é chegado às premissas necessárias para que a


analise de produção do espaço seja feita de maneira coerente através da concepção
de tempo inerente a cada lugar, o tempo real, concreto, dotado de características e
suas particularidades que fazem com que seja único para aquela variável, para
aquele lugar sendo necessário também reconhecer que, mediante as
especificidades, mediante a necessidade também de compreensão do espaço total,
o tempo seja periodizado fazendo assim com que reconheçamos o valor relativo de
cada lugar e que este está sempre mudando no decorrer da história que cada
espaço tem a sua individualidade.

Com isso percebe-se que apenas a contextualização de um dado evento em um


tempo histórico não é suficiente por ter um enfoque restritivo suprimindo a
significação da própria variável no decorrer do tempo. Ao se levar em consideração
o tempo histórico na transformação das variáveis, vemos que estas em cada período
histórico respectivo se alteram de tal modo fomentando o valor de uma variável que
poderá futuramente alterar toda a significação de um sistema, uma forma.
Acerca disso, Milton afirma se refere ao espaço como a acumulação desigual de
tempos por conta de deixar resíduos e estes resíduos se interagirem formando
novos sistemas e formas, uma superposição de traços. Porém Milton também se
refere no tocante aos espaços virgens que são influenciados de maneira externa e
toma como exemplo a modernização dos lugares.

A essa influência externa de lugares virgens, Milton se refere aos impactos


modernizadores que tem em sua maioria o viés dominador de quem o transforma.
Com isso ele coloca a questão da hierarquização do espaço trazendo uma questão
metodológica da geografia para uma questão atual, dos países desenvolvidos e
subdesenvolvidos, colonizados e colonizadores, porém sempre deixando explicito
que mesmo com influencias externas o espaço ainda continuará tendo em si a sua
especificidade por conta do próprio espaço receptor ser seletivo e as influencias
adquiridas não se manifestarem no mesmo tempo, o que também reforça a unidade
de cada subespaço, pois também há um tempo espacial de cada lugar.

Desse modo é possível reconhecermos a especificidade de cada lugar o que


difere da noção de totalidade ou de integração, porém é despertado que justamente
por conta destas diferenças não apenas de elementos inerentes ao espaço, como
também o tempo, as formações sociais e também a formação do espaço.

Em protesto aos métodos tradicionalistas neopositivistas que influenciaram o


arcabouço teórico na ciência geográfica e que cada vez vinha tomando mais força
com a Geografia Teorética – Quantitativa com seu surgimento na década de 50 e
evolução no decorrer dos anos. Milton Santos em “Por uma Geografia Nova”,
inaugurando um movimento crítico a geografia, o cumpre trazendo em seu discurso
uma efetiva renovação na Geografia como proposta no seu título, ineditismo tanto
em seus métodos como na forma de pensar quando posiciona a geografia para além
do estudo de diferenciação de áreas, quantificação das variáveis ou mesmo
puramente a descrição da superfície terrestre.

Sua proposta envolvendo os movimentos históricos como também a sociedade


as posicionando como variáveis de moldura e produto do espaço e coexistentes ,
faz com que a geografia ganhe uma significação para além da concepção
enfadonha, simplória restrita e isenta como (LACOSTE 1988) menciona servindo
tanto para a compreensão do espaço, como a sua evolução e relação com o homem
e suas práticas seja de modo microespacial, como macroespacial.

A leitura que nos convida a fazer constantes reflexões a respeito dos métodos
adotados com os seus erros e acertos faz com que acompanhemos o raciocínio do
autor de modo fluído.

Por uma Geografia Nova é uma obra da qual marca a história da ciência
geográfica por quebrar um paradigma de pensamento provocando reflexões a
ciência geográfica como também a relação do homem com o seu espaço.

REFERÊNCIAS:

LACOSTE, Yves. A geografia – isso serve, em primeiro lugar para fazer guerra.
Tradução Maria Cecília França – Campinas, SP: Papirus, 1988.

SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: da crítica da Geografia a uma Geografia
Crítica. 6ª edição. São Paulo: Edusp, 2004.

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